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quarta-feira, 27 de junho de 2018

DEVOCIONAL - 28 DE JUNHO DE 2018

Uma porta aberta no céu. (Ap 4.1)

Devemos lembrar-nos de que João, por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo, estava na ilha de Patmos — lugar solitário, pedregoso, inóspito. Contudo, no meio de tais circunstâncias, separado de todos os queridos de Éfeso, privado do culto com a Igreja, condenado à companhia de prisioneiros desagradáveis, foram-lhe concedidas estas visões. A ele, também, foi aberta uma porta.

Estamos lembrados de que Jacó, exilado da casa paterna, deitou-se num lugar deserto para dormir, e em seu sonho viu uma escada que ligava o céu à terra; escada em cujo topo estava Deus.


Não somente a estes homens, mas a muitos outros, as portas do céu têm sido abertas em circunstâncias que, aos olhos do mundo, pareciam as mais desfavoráveis para aquelas revelações.


Prisioneiros e cativos; pessoas confinadas a um leito de enfermidade; peregrinos solitários e errantes; mulheres impedidas de ir à casa do Senhor por causa das exigências do lar; e muitos outros nessas condições viram as portas do céu abrirem-se diante deles.

“...Quando Deus é tudo em tudo para nós, quando vivemos, nos movemos e existimos no Seu favor, a porta se abre para nós também.” 

domingo, 24 de junho de 2018

ESTUDO DOS LIVROS POÉTICOS

“ESTUDO DOS LIVROS POÉTICOS”

INTRODUÇÃO

OS ESCRITOS

Escritos, (Ketubim), é o nome chamado de modo genérico a terceira seção da Bíblia hebraica, posteriormente as duas primeiras conhecidas como da Lei e os Profetas. Essa terceira seção é formada por treze livros, a saber: Rute, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Ester, os considerados poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Lamentações de Jeremias e Daniel,  que é de evidente concepção profética e apocalíptica.

Os gêneros literários das obras que integram o grupo dos Escritos se acham misturados. O mesmo, em maior ou menor grau, ocorre também em outros livros da Bíblia. Recorde-se a esse respeito a forma poética de certas passagens dos Profetas (vide Is 40-55, jóia da poesia do Antigo Oriente) ou do Pentateuco (Gn 49.2-27; Ex 15.2 - 18.21).

Quanto às características da poesia hebraica, veremos na introdução aos Salmos.

II – Gêneros literários

Amalgamando temas e estilos, os Ketubim, isto é, os Escritos, dão um destacado lugar ao gênero sapiciencial (do latim sapientia, ou seja, sabedoria), especialmente por Jó, Provérbios, Eclesiastes, por alguns dos Salmos e por algumas passagens de outros livros.

A sabedoria a que esses Escritos didáticos fazem permanente referência, tentando inculcá-la em seus leitores, é de caráter eminentemente prático. Não se consiste em um apelo teórico ou numa exortação de se saber determinada maneira de viver, mas sim em um comportamento adequado a toda e qualquer uma das múltiplas circunstâncias da vida.

Assim como o bom artesão possui uma espécie de “sabedoria” que o capacita a esculpir em madeira, forjar metal, engastar pedras preciosas ou compor belas telas, (conforme Ex 35.31-35), também o “sábio”, segundo a perspectiva bíblica, possui a habilidade, a agudeza e as qualidades precisas, para enfrentar com êxito, as contingências da vida, quaisquer que sejam elas.

A sabedoria é, essencialmente, um dom de Deus desenvolvido prontamente pela experiência e pela reflexão.

Porque a experiência do cotidiano é também, por sua vez, fonte inesgotável de a sabedoria para aquele que anda com os olhos bem abertos e não se agrada da sua própria ignorância.

Por isso, o sábio observa a realidade, julga aquilo que vê e, finalmente, comunica aos seus discípulos aquilo que ele mesmo aprendeu primeiro do seu relacionamento pessoal com o mundo circundante.

Para transmitirem o seu ensinamento, os sábios recorrem frequentemente aos provérbios ou às reflexões que se acham nos “Ketubim”, sob duas diferentes formas:

a – admoestação;
b- a sentença.

A primeira é reconhecida pela frequência do uso do modo verbal imperativo, empregado para aconselhar os discípulos acerca do caminho que devem seguir (conforme Pv 19.18; 20.13; Ec 7.21).

A segunda, a sentença, consiste na breve descrição objetiva de uma realidade comprovável, de um fato sobre o qual não se pronuncia nenhuma espécie de juízo moral (conforme Jó 28.20; 37.24; Pv 10.12; 14.17; Ec 3.17; Ct 8.7).
Junto com essas fórmulas proverbiais, a Bíblia recolhe outros modelos didáticos utilizados pelos sábios para a transmissão dos seus conhecimentos:

a – o poema sapiencial (Pv 1 - 9)
b – o diálogo  (Jó 3 - 31);
c – a digressão no discurso (características de Eclesiastes);
d – alegorias (Pv 5.5 - 19);
e – a oração e o cântico de louvor (formas características dos Salmos).

III – Caráter e temas

Mediante a comunicação dos seus conhecimentos, da sua experiência e da sua fé em Deus, os sábios de Israel tencionam que os seus discípulos, a quem eles costumavam chamar de filhos (conforme Pv 1.8), aprendam a importância  de desenvolver determinados aspectos práticos da vida.

Entre esses aspectos, podemos citar o autodomínio, especialmente no falar (Jo 15.5; Pv 12.18 e 13.3), a dedicação ao trabalho (conforme Jó 1.10; Pv 12.24; Ec 2.22) e o exercício da humildade, que não é debilidade de caráter, mas antítese da arrogância e do excesso de confiança em si mesmo (Jó 26.12; Pv 15.33; 22.4).

Os sábios também valorizam altamente a amizade sincera (Jó 22.21; Pv 17.17; 18.24), ao passo que condenam a mentira e o falso testemunho (Jó 34.6; Pv 14.25; 19.5).

Além disso, exortam a preservar a fidelidade conjugal (Pv 5.15-20), a tratar generosamente os necessitados (Jó 29.12; 31.16-23; Pv 17.5; 19.17 ; Ec 5.8) e a praticar a justiça (conforme Pv 10.1; 21.3, 15, 21).

Característico da literatura sapiencial é o tema da justiça retribuidora. Conforme esta, Deus recompensa o justo de conduta e castiga o mau (conforme Jó 34.11, 33; Pv 11.31; 13.13), de quem são respectivamente figura o sábio e o néscio.

De modo semelhante, os discípulos que seguem os conselhos de seu mestre serão premiados com o dom da vida, enquanto que a necessidade de outros (não ainda a intelectual, mas a de uma conduta ética vituperável) lhes acarretará a morte.

Importantes são também, sobretudo em Jó e Eclesiastes, os aportes dos sábios ao problema sempre atual do sofrimento humano (Jó 11; 22.23-30; 36.7-14; Pv 02; Ec 3.16-18 conforme Rm 11.33; 1 Co 2.6-16) e da inevitabilidade da morte ( Jó 17.16; 20.11; 33.19-22; 34.10-30; Pv 18.21; 24.11-12  Ec 8.8).

IV – A Sabedoria

Nos escritos sapienciais, não só se escuta a voz dos sábios de Israel, mas também, às vezes, se deseja ouvir a dos sábios de outros povos (Pv 30.1; 31.1).

E, em certas ocasiões, inclusive a Sabedoria (personificada) fala e convida a todos a receberem o seu ensinamento, que é tesouro de valor incomparável (Pv 8.10-11).

Como uma diligente dona de casa, a Sabedoria preparou um banquete do qual deseja que todos participem (conforme Pv 9.1-6).

Em contraposição a ela, e também personificada, a Loucura tenta atrair com seduções e falsos encantos os ingênuos e os inexperientes (Pv 09.13-18).

Numa etapa posterior da sua história, o povo hebreu identificou a sabedoria com a lei (lit. “Instrução”) promulgada por Moisés no Monte Sinai.

Assim, Pv 1.7, estabelece que “o temor do Senhor é o principio do saber” (conforme Sl 111.10; Pv 9.10) e Jó 28.28 afirma que “o temor do Senhor é  a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento”, o que contém uma admoestação característica da lei mosaica e também de toda a Bíblia. 




Titulo: O livro de Jó ou Job

Autor: Desconhecido

Data: Incerta

Capítulos: 42

Versículos: 1070

Versículo-Chave; Jó 19.25-26

Tema: Por que o Justo Sofre?

Sumário

1 - Introdução

I - Caracterização Geral

1 – Outro Propósito

2 – Qualidades Estéticas

3 – Admiráveis Qualidades Intrínsecas


II - O Homem Jó e os fatos da historicidade do livro

III - Proveniência

IV - Data, Autoria e Integridade do Livro

1 – Data

2 – Autoria

3 – Integridade do Livro


V - Problema do Mal

VI - As Razões do sofrimento, Segundo o Livro de Jó

VII - Esboço do Conteúdo

VIII - Informações de suma importância

1 – Um livro distinto

2 – As profundezas da fé

3 – Mensagem principal

4 – Ateísmo

5 – O Deus de Satanás

6 – O testemunho de Jesus

7 – Teísmo

8 – Os livros poéticos


Livro de Jó

Introdução


O Livro de Jó nos reserva um estudo bastante interessante, uma vez que, se trata de um “poema dramático de uma história épica”, envolvendo procedimentos, costumes e estilo de vida da época patriarcal, evidenciando o questionamento dos amigos de Jó, do por que ele sofre, a onisciência, a onipotência e a onipresença de Deus que tem tudo sob o seu controle, além do seu aval à integridade moral e fidelidade do seu servo, apesar do mal que o afligia.

Entretanto, a classe científica de um considerado número de estudiosos, usa como artifício para contestar a veracidade dessa historicidade quanto a autoria, a data, além da própria existência de Jó, como pessoa, alegando que, as informações (da época, porque eram orais, e as atuais mais recentes apresentadas) e documentos que muitos eruditos e a tradição avalizam, ainda lhes são insuficientes e deixam dúvidas, inviabilizando-lhes  a credibilidade irrestrita.

É diante desses fatos que buscamos em alguns comentários científicos o que melhor se aproxima de uma realidade para formar nossa opinião.

I     - Caracterização Geral

Notemos que, no Livro de Jó, os episódios que são refletidos são da época dos patriarcas de Israel, e a Lei que Deus dera para Moisés ainda não havia sido promulgada.

A figura central do livro é Jó, é o próprio Jó, cujos estudiosos antigos e alguns modernos, entendam ser o livro de uma data muito antiga.

Entretanto, quase todos os cientistas modernos acreditam que, o homem chamado Jó foi real, vivendo nos tempos patriarcais dos hebreus e que a narrativa circulou em primeira mão tradicionalmente de forma oral até que foi reduzida à forma escrita, por volta do século V ou VI a.C.

 A data posterior do livro é defendida porque esse livro pertence a literatura de sabedoria da tradição judaica, sendo que, esta literatura é oriunda de um período posterior.

Outro fato é que possivelmente reflita uma enorme crise de fé criada na mente nacional judaica, em razão dos cativeiros assírio e babilônico.

Então, nessa visão, o Livro de Jó não seria uma simples peça pessoal nos mostrando os conflitos de um indivíduo isolado acerca do problema do mal, mas sim um tipo de busca dos judeus por uma resposta acerca das aflições que Israel sofreu como nação.

Os povos pagãos que sem nenhuma dúvida eram mais corruptos que os judeus, trouxeram imensos sofrimentos a sua nação, e isso gerou na antiga doutrina judaica, muito forte no Antigo Testamento, sua regularidade e previsibilidade da retribuição divina.

O homem que é sábio mantém a sua crença na retidão e na vindicação dada por Deus aos retos. (Jó 19)

A esperança da vindicação após a morte (uma resposta comum para o problema do mal) é visto em Jó 19.25-27.

Interessante que Jó, não encontrou em seus amigos, os consolo que no mínimo deles esperava, muito pelo contrário, por aqueles foi na verdade muitíssimo atormentado, uma vez que, não podiam notar outra coisa além de uma retribuição divina regular, precisa e previsível.

Entendiam que Jó, apesar da capa de justiça com que ele se vestia, tinha um merecido sofrimento.

Acreditam alguns eruditos que o editor ou editores de uma época posterior, tiveram problemas na coleta dos materiais, e fizeram adições, deixando ainda mais confuso o livro.

O capítulo 21, diferentemente dos capítulos 1 ao 19, retrata um Jó cético, que condenou a si mesmo e, então, foi levado a sabedoria divina no capítulo 28.

Após um discurso de despedida, que contém um juramento de liberação (capítulos 30 - 31), que seria, basicamente, um paralelo aos discursos dos capítulos 3 ao 19, quanto à atitude, aparece uma reprovação desnecessária por parte de Eliú (capítulos 32-37).

Então o próprio Deus força Jó a retratar-se (capítulos 38 - 39)

Assim, parecem ter havido consideráveis mudanças de atitude entre os capítulos 3 ao 19 e as porções seguintes do livro.

Alguns estudiosos supõem que isso reflita adições feitas posteriormente. Todavia, isso poderia ser reflexo apenas de um confuso arranjo e tratamento, por parte do autor sagrado que, ao abordar uma questão delicada, não se mostrou metódico o suficiente.

Essas presumíveis adições teriam sido: capítulos 28, 32 - 37 e 38 - 39.

Outros estudiosos ainda supõem que o prólogo (Jó 1 me 2) e o epílogo (Jó 42.7-17), tenham sido adições feitas ao corpo do original do livro.
Ainda outros eruditos, tem criticado a filosofia que transparece na obra, supondo que as tragédias gregas sejam superiores, pois, nessas tragédias, quando um homem sofre, nunca mais se recupera. E dizem que isso é mais realista diante da vida.

Mas Jó recuperou-se e prosperou mais do antes.

Todavia, a vida nos expõe casos de recuperação diante do sofrimento, mesmo nesta vida, não havendo nisto nada que possa ser considerado contrário a realidade.

Mediante essa recuperação de Jó, o autor sagrado estava dizendo que a providência divina é capaz de nos surpreender.

Em primeiro lugar, devido à razões desconhecidas, o homem sofre; e a única razão para isso é a inescrutável vontade de Deus.

Em segundo lugar, para a consternação daqueles que acreditavam que Jó era um homem iníquo, observa-se que ele, subitamente, voltou a prosperar materialmente.

E isto prova que a resposta simplista para o problema do sofrimento, de que este resulta de erros cometidos, nem sempre explica o que está acontecendo com os homens.

Por outro lado isto também prova que não podemos afirmar que Deus nunca abençoa os pecadores.

Assim, os eruditos que não apreciam a bela e surpreendente recuperação de Jó - como se isso fosse sempre contrário à experiência humana, o que já vimos não ser sempre assim – apegam-se a ideia de que o epílogo do livro foi uma adição posterior, com o intuito de vindicar, artificialmente, a causa de Jó, de tal modo que “tudo está bem com aquilo que termina bem”, o que, conforme sabemos, não corresponde à mensagem que o autor sagrado queria transmitir.

1 – Outro Propósito

O livro de Jó provê uma, ou várias respostas para o problema do mal, sobre o que trataremos especificamente  logo mais na quinto item deste estudo.

Não há que duvidar que esse é o principal problema ventilado no livro. Porém, em adição a isso, também é seguro que o autor sagrado estivesse sondando as profundezas da fé de um ser humano, mesmo diante do sofrimento moral e físico.

Todavia, isso constitui apenas uma das respostas possíveis para o problema do sofrimento.

Um indivíduo pode lançar-se nos braços da graça, do amor e do poder de Deus, sofrendo no escuro, escudado exclusivamente em sua fé.

De alguma maneira, em algum lugar, Deus está no seu trono, e tudo corre bem no mundo, a despeito de teimosas evidências humanas em contrário.

2 – Qualidade estética

Alfred, Lord Tennyson, que foi um poeta de grande envergadura, considerava o livro de Jó como “o maior poema dos tempos antigos e modernos”.

“Esteticamente falando, Jó é a produção literária suprema do gênio dos hebreus”.

3 – Admiráveis qualidades intrínsecas   

É de estranhar que um livro que nada exiba de caracteristicamente israelita, onde a lei mosaica nunca é promovida, tenha encontrado lugar seguro no cânon hebraico da Bíblia.

Essa posição do livro de Jó nunca foi seriamente desafiada.

Podemos apenas supor que a sua qualidade estética seja tão grande que ninguém jamais ousou desafiar seu direito ao rol dos livros divinamente inspirados.

O livro reflete uma experiência humana crítica, sendo uma busca por respostas para certas duras experiências humanas, pelas quais todos os povos se interessam.

II – O homem Jó e os fatos da historicidade do livro

O nome Jó significa “Objeto de Hostilidades”. Ele se tornou sinônimo de paciência e perseverança, e apesar dos esforços do Diabo de remover este excelente exemplo de integridade das páginas da história, a resposta é clara: “Jó foi um personagem real”.

Deus mencionou junto com Suas testemunhas Noé e Daniel, cuja existência foi aceita por Jesus (Ez 14.14, 20 comparando com Mt 24.15, 37).

A antiga nação hebréia encarava a Jó como pessoa real.

O escritor cristão Thiago menciona o exemplo de perseverança de Jó (Tg 5.11).

Somente um exemplo da vida real, e não um fictício, teria peso para convencer adoradores de Deus de que é possível manter a integridade sob todas as circunstâncias.

Ademais, a intensidade e o sentimento dos discursos registrados em Jó testificam a realidade da situação.

Jó viveu na cidade de Uz, uma cidade localizada segundo alguns geógrafos, no Norte da Arábia, perto da terra ocupada pelos Edomitas, e a leste da terra prometida à descendência de Abraão. Os sabeus ficavam ao sul, os caldeus, ao leste. (Jó 1.1, 3, 15, 17);

A data da provação daquele homem foi muito depois dos dias de Abraão. Foi num tempo em que não havia ninguém igual a (Jó) na terra, homem inculpe e reto (1.8).

Este parece ser o período transcorrido entre a morte de José, um homem de notável, e o tempo em que Moisés iniciou o seu proceder de integridade.

Jó se distinguia na adoração pura durante este período em que Israel estava contaminado com a adoração demoníaca do Egito.

Ademais, as práticas mencionadas no primeiro capitulo de Jó, e aceite de Deus a Jó como verdadeiro adorador, indicam os tempos patriarcais.

Entre outros fatores consideráveis, podem ser usados quanto à existência pessoal de Jó e a veracidade da historicidade do Livro os seguintes:

a - Que está provada a poderosa inspiração de Deus no escritor sagrado, haja visto a sua surpreendente harmonia com os fatos provados das ciências.

Havia um conceito no Egito daquela época de que a terra estava apoiada a um grande elefante. Porém, a Bíblia diz que "O norte estende sobre o vazio; e suspende a terra sobre o nada." (Jó 26.7)

b - O vigoroso estilo da poesia hebraica, empregado no livro de Jó, torna evidente que era composição original em hebraico.

Não poderia ter sido essa tradução de outro idioma como o árabe.

Os trechos em prosa tem mais semelhança com o Pentateuco do que com quaisquer outros escritos da Bíblia.

c - O escritor deve ter sido israelita, porque os judeus “foram incumbidos das proclamações sagradas de Deus”. (Rm 3.1-2)

d – De acordo com o The New Encyclopedia Britânica (a Nova enciclopédia Britânica), o livro de Jó é muitas vezes “contado entre as obras-primas da literatura mundial”. Entretanto, o livro é muito mais do que isso.

e – A Idade de Jó.

No início do livro de Jó, o achamos casado, com dez filhos adultos e com muitas posses.

Depois de suas experiências com sofrimento e os debates com seus amigos, ele ainda viveu 140 anos (42.16-17).

Ao todo, a vida de Jó certamente chegou aos 200 anos, e talvez até tenha ido muito além dessa idade.

Sabemos que os homens nos primeiros capítulos de Gênesis atingiam idades bem avançadas.

Depois do dilúvio, as idades começaram a diminuir.

Abraão viveu 175 anos, Isaque, 180, Jacó, 147, José, 110, etc...

Isto nos sugere que, de fato, Jó se encaixa na época dos patriarcas, durante ou antes de Abraão.  

III – Proveniência

Se o Livro não é uma obra histórica e, sim, uma novela filosófico-religiosa, uma parte da literatura de sabedoria judaica, então não importa muito a investigação acerca de onde o livro foi escrito.

Mas, se for uma obra histórica, então temos o informe, em Jó 1.3, de que o relato ocorreu no “Oriente”, com “o maior de todos os do Oriente”.

Mesmo nesse caso, porém, o autor sagrado, outro que não o próprio Jó, poderia ter escrito acerca de Jó, um homem do Oriente, sem que ele, o autor, residisse ali.

Apesar de não podermos determinar onde o livro foi escrito, pode ser que o forte caráter aramaico do livro indique que foi produzido em um centro aramaico de erudição.

Se o livro realmente deriva-se da época dos patriarcas (vide itens II e IV), então esse lugar poderia ter sido em algum ponto perto de Araam Naharaun (Araam dos Dois Rios), ao Norte da Mesopotâmia.

Nos fins dos segundo milênio a.C., tribos araméias deslocaram-se para o sul e se estabeleceram nas fronteiras da Babilônia e Palestina, continuando a controlar a rota de caravanas  que atravessavam a área de Cabur.

E foi então que Alepo e Damasco tornaram-se centro arameus.

O trecho de Jó 1.17 poderia indicar um tempo quando os caldeus ainda estavam vivendo como seminomades, isto é, antes de 1.000 a.C.

Mas, se o livro de Jó pertence a uma data comparativamente posterior, então todas as especulações dessa natureza tem pouco ou nenhum valor, no que diz respeito à proveniência desse livro.

Parece que Jó foi uma personagem histórica que passou por experiências incomuns.

Ele, talvez fosse um xeique que vivia próximo ao deserto da Arábia, em uma época similar à dos patriarcas hebreus.

“O autor do livro fez uso de licença poética e, assim, transformou a narrativa sobre os sofrimentos de Jó em um memorável drama”.

Jó é apresentado como um homem que vivia na terra de Uz  (Jó 1.1), que alguns estudiosos supõem que ficasse situada em algum ponto entre Damasco da  Síria, ao norte, e Edom ao sul, ou seja, nas estepes ao leste da Síria – Palestina.

Porém, mesmo que essa informação seja correta, isso não significa que o autor do livro resida ali.

A conclusão é que não dispomos de informação certa quanto a esse particular.
IV – Data, Autoria e Integridade do Livro

1 – A data

O livro é encaixado, bem claramente, dentro do período dos patriarcas hebreus.

Não há nenhuma menção à lei mosaica, como também coisa alguma distintamente judaica no livro.

Alguns eruditos supõem que houvesse uma tradição oral, que preservava a narrativa, fora de Israel, antes de ter sido posta em forma escrita, por algum israelita desconhecido.

A isso podem ter sido feitas adições, da parte de um editor ou editores posteriores, como um prólogo, alguns dos capítulos finais e o epílogo.

Se Jó foi uma figura histórica, então poderíamos datá-lo dentro dos limites amplos entre 2.000 a 1.000 a.C.

Várias descrições, como a longa vida de Jó, o fato de que suas riquezas eram aquilatadas sob a forma de gado, e que o relato parece refletir uma vida nômade (própria das tribos dos sabeus e dos caldeus), ajustam-se ao segundo milênio a.C., melhor que qualquer outra época posterior.

Isto faz de Jó um homem que viveu há muito tempo no passado, talvez até algum tempo antes de Abraão.

Por outro lado, visto que o livro faz parte da literatura de sabedoria dos judeus, muitos tem pensado que sua compilação pertence a um tempo muito posterior a isso.

As opiniões a respeito divergem muito uma das outras, indo desde o segundo milênio até o século IV a. C.

Encontraram-se fragmentos do livro de Jó entre os manuscritos do Mar Morto, o que elimina a data ultra posterior de 200 a.C., como alguns eruditos tem arriscado.
Todavia, esse livro poderia refletir especulações filosóficas, sobre o problema do mal, especificamente o porque dos sofrimentos de certos homens bons, que já pertence ao período pós-exílio dos judeus.

Os judeus então estavam meditando sobre como grandes tragédias podem sobrevir aos homens, conforme os próprios judeus tinham sofrido nas mãos dos assírios e babilônios.

Ideias comuns sobre como operam a divina providência e a retribuição, estavam sendo testadas pelos acontecimentos históricos, e o livro de Jó pode ter sido uma tentativa de se provar respostas para esse problema.

2 – Autoria

Em vista do ambiente patriarcal que transparece no livro, a tradição judaica piedosa trem pensado que Moisés foi o autor do Livro de Jó (Baba Bathra 14v ss), embora isso, segundo outros, esteja fora da realidade.

O próprio livro não nos fornece nenhuma indicação de que Jó tenha escrito qualquer porção da obra.

Então temos um autor desconhecido que viveu em um período desconhecido.

“A menção aos bandos de caldeus (Jó 1.17) e o uso da arcaica palavra qesitah (Jó 42.11) na versão portuguesa, dinheiro), apontam meramente, para a antiguidade da história e não para a sua presente escrita.”

Os eruditos modernos tem variado na data do livro, desde os dias de Salomão até cerca de 250 a.C., embora as datas mais populares variam de 600 a 400 a.C., apesar de haver uma tendência crescente em favor de datas posteriores.

Os argumentos com base no assunto, na linguagem e na teologia favorecem uma data até posterior à de Salomão, mas visto que o livro é “sui generis” dentro da literatura dos hebreus, que a linguagem empregada é tão distintiva (alguns eruditos chegam a pensar que se trata de uma tradução de um original aramaico, enquanto que outros consideram que seu autor teria vivido fora da Palestina), qualquer dogmatismo deriva-se de fatores subjetivos preconcebidos.

3 – Integridade

No item I – Caracterização Geral, apresentamos as razões pelas quais alguns eruditos duvidam que o livro inteiro tenha sido escrito por um único autor.

As porções atribuídas a algum autor-editor são o prólogo (capítulos 1 e 2), a descrição sobre o hipopótamo (40.10 – 41.25), os discursos de Eliú (32.1 – 37.24), capítulo 21, e o epílogo (42.7-17).

Alguns estudiosos dizem que os capítulos  28, 32-37 e 38-39 também são adições.

Porém, até onde podemos ver as coisas, as razões contra e a favor da autoria original dessas seções são puramente subjetivas, e nada de positivo pode ser provado.

É verdade que uma grandeza essencial de expressão poética percorre a obra inteira; mas, tanto pode ter havido um, como dois ou três poetas envolvidos.

Além disso, qualquer autor pode inserir material tomado por empréstimo e, nesses pontos, certa incongruência ou diferença de estilo pode ser observada, interrompendo a suavidade do fluxo da apresentação, sem que isso indique a contribuição feita por algum outro autor.

Segundo esses críticos, os discursos de Eliú são rejeitados como originais (Jó 32.1 – 37.34), porque ele não é mencionado no epílogo onde os amigos de Jó foram repreendidos.

Porém, se o epílogo foi acrescentado por algum autor posterior, por que ele omitiu esse nome?

Deveríamos supor que os discursos de Eliú tivessem sido incluídos no livro após a adição do epílogo?

Novamente entramos em um raciocínio meramente subjetivo não havendo como fazer nenhuma afirmação absoluta acerca do problema assim levantado.

E nem isso é necessário para crença na divina inspiração do livro.

Todos os livros da Bíblia contém seus elementos humanos, e nenhum deles foi escrito em um vácuo, para então ser hermeticamente fechado.

Os eruditos que fazem a fé depender dessas coisas enfatizam aqui que se reveste de pouca ou nenhuma importância, exceto que essas coisas, mui naturalmente, desempenham um papel legitimo na analise e na avaliação literárias.

V – O Problema do Mal

O livro de Jó é o único livro da Bíblia que aborda especificamente o problema do mal, ao mesmo tempo em que é um dos mais extensos escritos que tem sido preservado desde tempos antigos.

Alguns estudiosos negam que o tema principal do livro seja esse problema, preferindo sugerir que o livro realmente perscruta as profundezas da fé que um homem é capaz. De ter, diante de inexplicáveis sofrimentos. Porém, isso, por si mesmo faz parte do problema do mal. No que consiste o problema do mal.

Esse é o problema que consiste em explicar como é que pode haver tanta maldade no mundo.

Existe o mal natural: os acidentes, as inundações, os terremotos, os incêndios, as enfermidades e, acima de tudo, a morte, a qual parece ser o ponto culminante dos males naturais.

Existem males que não se derivam diretamente da vontade e dos atos maus dos homens.
Essas são coisas naturais que afligem todas as pessoas. Essas são “atos de Deus”, conforme alguns dizem.

Existe também o mal moral, males que se derivam diretamente da vontade e dos atos pervertidos e maldosos dos homens, como as guerras, as matanças, a desumanidade do homem contra o homem.

Essa questão toda envolve Deus: Se existe um Deus todo-sábio (que conhece até o futuro – onisciência), todo-poderoso (onipotente), e todo-amoroso (Misericórdia que dura para sempre), então por que há tanta maldade e sofrimento neste mundo?

Não podemos lançar a culpa de tudo na perversidade humana.

Jó ficou muito doente, e a sua carne, por assim dizer, desprendeu-se dos seus ossos. Isso foi uma enfermidade, parte dos males naturais.

Por que Deus permite o sofrimento? Por que o homem bom sofre? Por que os homens maus não são julgados? Por que razão os ímpios prosperam? Qual é o resultado final do sofrimento?  Haverá algum dia sem sofrimentos? Estas são perguntas que os homens costumam fazer perplexos.

Apesar de não haver respostas absolutas e perfeitas, nosso artigo sobre o problema do mal procura dar aos leitores as respostas que existem. Mas todas essas respostas funcionam melhor quando são outras pessoas que sofrem.

Quando temos de enfrentar alguma grande tragédia, então as respostas que existem não nos parecem muito boas.

VI – As razões do sofrimento, segundo o livro de Jó

Seja como for o livro de Jó procura nos fornecer algumas respostas para o problema do mal, senão vejamos:

1 – Os discursos dos amigos de Jó procuram nos fornecem a resposta padrão, que está sendo posta em dúvida, por este livro: Deus castiga os ímpios com o sofrimento.

Segundo os amigos de Jó, a retribuição divina é a grande resposta. Mas, apesar de haver nisso alguma razão, Jó nos é apresentado como um homem inocente das acusações que o acusavam, pelo que os seus sofrimentos não podiam ser atribuídos àquelas acusações.

Mesmo quando ele confessou ser um pecador, e declarou que se arrependia, não o fez a fim de explicar por que ele estava sofrendo, mas serviu apenas para mostrar que todos os homens, diante de Deus, devem assumir uma posição de humildade, como pecadores que são (Jó 42.6).

2 – Os discursos de Eliú salientaram o principio de que o sofrimento é uma disciplina para os justos, o que corresponde a um princípio verdadeiro, embora, por certo, não seja a resposta no caso especifico de Jó. (Jó 33.16-18; 27.30; 36.10-12)

3 – Jó 19.25-26 – Os remidos participam de uma gloriosa vida pós-túmulo, pelo que todos os sofrimentos terrenos e temporários são ali obliterados.

Essa é uma boa resposta padrão, sem dúvida, mas não é ainda o principal argumento do livro.

Seja como for essa resposta tenta por na correta perspectiva o problema do sofrimento humano.

Nós, como seres mortais, exageramos a importância das coisas temporais e transitórias desta vida.

Pode haver desígnio ou não nessas coisas; mas elas duram por algum tempo, e depois se acabam.

4 – Há profundezas da fé que os justos podem obter e que lhes conferem coragem para enfrentar seus sofrimentos, sem duvidarem da providência e dos desígnios de Deus.

Apesar disso também não são uma resposta definitiva para o problema. Isso é uma espécie de solução para problema daquele que está sofrendo no momento.

Um homem, mediante a sua fé, impõe-se à sua situação adversa, obtendo nisso razão para prosseguir, significado, desígnio e esperança.

5 – O texto sagrado declara que Deus atua em todo o universo, trazendo chuvas à terra onde nenhum homem existe (Jó 38.26), que Deus está cônscio do mal e dos sofrimentos (personificados nos monstros, hipopótamo e crocodilo. (Jó 40.15 – 41.34).

É óbvio que Deus cuida dos homens e observa os seus sofrimentos.

Apesar de, talvez, não sabermos qual a razão de nossos sofrimentos, pelo menos tomamos consciência da bondade e da providência permanente de Deus, o qual permite todas essas coisas, e assim podemos descansar no Senhor.

6 – A presença de Deus. – Essa é a resposta final e mais excelente do livro de Jó.

Poderíamos dizer: “Estive com o Senhor, e sei que não pode sobrevir ao homem, finalmente, um dano permanente”.

Essa é a resposta mística, a resposta que envolve a presença majestática e consoladora de Deus.

Na presença de Deus, talvez os nossos argumentos intelectuais não melhorem; mas a nossa fé em sua providência torna-se invencível.

Os místicos que tem experimentado a presença divina, tem chegado ao extremo de negar a existência do mal, exceto como um fator que envolve a ausência do bem, ou seja, aquilo que contrasta com o bem positivo.

Todos os atos de Deus estão encobertos dos olhares humanos, embora vejamos muitas luzes.

Há cores brilhantes e escuras formando um grande desenho, como um tapete.

As cores escuras fazem destacar a beleza das cores brilhantes; e, juntas, essas cores brilhantes e escuras, produzem uma beleza singular.

Alguns místicos afirmam que o mal e o sofrimento perfazem as cores escuras daquele simbólico tapete, e que, finalmente, tudo é bom, tudo é necessário; tudo faz parte da beleza de todas as coisas.

Na presença de Deus, pois sentimos isso, embora, talvez, nos faltem argumentos intelectuais para afirmar tal coisa de modo inteligente.

Na presença de Deus, pois, encontramos sua vontade inescrutável, e nos inclinamos, reverentes, sabendo que até o mal redundará em bem para nós, embora não saibamos dizer de que maneira.

Quando a alma comunga com Deus, ela sabe que Deus está no seu trono, e que tudo está bem no mundo.

Talvez não disponhamos de respostas intelectuais, mas podemos experimentar a presença daquele (Deus) que nos dá as respostas, e é em momentos como estes que sabemos que o Consumado Artista nunca cai em erros e equívocos.

O criador de todas as coisas indagou de Jó: “Acaso anularás tu, de fato, meu juízo? Ou me condenarás, para te justificares?” (Jó 40.8).

Jó não ficou satisfeito com as respostas que lhe foram dadas e, sim, com a comunhão imediata com o Ser divino.

Foi isso que levou Jó, a semelhança dos grandes profetas, a dizer: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42.5).

E todas as soluções possíveis para o mal que há neste mundo são encontradas em face dessa visão beatífica.

7 – O prólogo tem por finalidade dar-nos a resposta (ou, pelo menos, uma resposta) desde o começo.

Satanás, percebendo a prosperidade de Jó, e como Deus elogiou o seu servo fiel, pôs então em dúvida a lisura de Jó, propondo submeter a teste a autenticidade de sua bondade.

Jó seria bom por ser verdadeiramente justo, ou seria bom porque Deus o havia abençoado?

Em outras palavras, a sua bondade era autêntica justiça de alma, ou seria uma bondade egoísta, alicerçada sobre a prosperidade material?

Seguiu-se o terrível teste de Jó.

Se levarmos em conta isso, de forma literal, e não como um esquema literário para introduzir a narrativa, então, temos aí, um mui perturbador ensino de que os justos podem sofrer meramente porque os poderes malignos querem submetê-los a teste; e, mais perturbador ainda é o pensamento de que Deus coopera com para que os justos sejam submetidos a essas provas!

Portanto, é melhor compreendermos esse prólogo (provavelmente escrito por um autor diferente daquele que compôs o grande poema) como um artifício literário, e não como algo cuja intenção era mostrar que as Escrituras ensinam que os poderes malignos podem fazer uma espécie de barganha com Deus, com o resultado de que os justos acabam sofrendo injustamente.

VII – Esboço do Conteúdo

1 – Prólogo – O teste é proposto e aceito – capítulos 1 e 2

2 – Primeira série de discursos – O discurso de Jó e de seus 3 amigos – capítulos 3 – 4

      a – Jó seria culpado, pelo que estava sendo punido. Essa é a razão do sofrimento humano.

      b – Jó nega tal acusação

3     - Segunda série de discursos – Os 3 amigos molestos de Jó, discursam e recebem sua resposta – capítulos 15 – 21.
           
4     – Quarta série de discursos – Elifaz e Bildade apresentam novos argumentos e Jó lhes dá respostas – capítulos 22 – 23

5     – Discursos de Eliú – capítulos 32 – 37

              a – O propósito da aflição – capítulos 32 -33.
  
       b – Vindicação da pessoa de Deus – capítulo 34

              c – As vantagens da piedade – capítulo 35

      d – Deus é grande, e Jó é ignorante – capítulos 36 – 37

             e - Eliú faz a valiosa observação de que o sofrimento pode servir-nos de disciplina

            6 – Os discursos de Deus – capítulos 38 – 42.6
                     
Na presença de Deus, a solução deve ser sentida, mesmo quando não intelectualizada.

         a – Deus é todo-poderoso e majestático! Jó percebe sua pequenez e sente a vaidade de suas palavras – capítulos 38.1 – 40.5

          b – O poder de Deus contrasta com a fraqueza humana. Jó se arrepende e demonstra a humildade que cabe bem ao homem.

 A presença de Deus experimentada garante a solução final para o problema do mal capítulos 40.6 – 42.6

7 -  Epílogo – Os molestos consoladores de Jó são repreendidos.

Deus reverte a fortuna de Jó, e a paz e a abundância material substituem a enfermidade e a carência – capítulos 42.7-17.

VIII - Informações de suma importância

Assimilemos:

1 – Um livro distinto.

Jó é o único livro da Bíblia aborda o problema do mal.

Consiste virtualmente em um monólogo e em um manual sobre o assunto que é um dos mais difíceis problemas tanto para a teologia como para a filosofia. 
O problema do mal pergunta: “Por que os homens sofrem, e por que sofrem como sofrem?”

Os homens sofrem através do mal moral, isto é, da desumanidade do homem contra o homem. Eles sofrem através do mal natural, isto é, dos abusos da natureza, enfermidades, incêndios, inundações, terremotos, desastres naturais e, o campeão de todos os males, a morte.

O livro apresenta um caso notável de “sofrimento desmerecido”, cujas razões não podemos discernir.

É fácil explicar o sofrimento (pelo menos, é mais fácil), quando aplicamos a lei do carma, a lei da causa e efeito: os homens sofrem porque merecem sofrer, por causa de seus pecados, erros, lapsos e omissões.

Essas causas podem ser encontradas na vida presente, em algum estado preexistente (conforme acredita a igreja Cristã Oriental) e em vidas terrenas anteriores, se pensarmos que a reencarnação é uma doutrina valida (Hb 9.27 ao homem cabe morrer uma só vez).

Seja como for, podemos discernir causas: algum erro cometido leva os homens a sofrer com o mal.

Embora essa ideia, sem dúvida, esteja por trás de muitos casos de sofrimento, há outras considerações e mistérios envolvidos que nenhuma explicação pode resolver.

Nesse livro são oferecidas algumas respostas, porém, quando um determinado mal nos atinge, as respostas não são tão adequadas como quando atinge outra pessoa.

O livro de Jó é uma excelente peça poética e tem muitas características e qualidades que ultrapassa a simples consideração do problema do mal, que é o que tentamos destacar na introdução deste serviço.

2 - As profundezas da fé

Não podemos dizer que o livro de Jó resolve os problemas do mal. Ele apenas tenta fornecer algumas respostas. Sonda as profundezas da fé e acha ali alguma consolação, a despeito do sofrimento.

Jó encontrou, na presença de Deus, a resposta para o problema do mal, mas exatamente como, não sabe dizê-lo.

Portanto, restam mistérios, mas a investigação compensa e nos dá segurança, mesmo sem o conhecimento completo.

3 – Mensagem principal do livro

Embora o livro, de fato, proponha uma teodicéia (a defesa da bondade de Deus diante do sofrimento do homem), apresenta primeiramente o problema da existência ou da fé e da espiritualidade desinteressada.

Porventura um homem tem fé por razões egoístas? Porventura ele obtém em sua fé ganho material e espiritual, que o beneficie?  Haverá ele de servir a Deus e adorará ele a Deus, se as coisas sairem erradas e se suas orações não forem respondidas?

O autor sagrado traz o problema do mal no quadro, para testar a teoria da fé e da adoração desinteressada.

Quais são os motivos que levam um homem a viver piedosamente? Os homens são sempre egoístas? Porventura um homem adora a Deus somente por Ele ser Deus, sem considerar alguma vantagem pessoal através da fé?

“A questão do livro de Jó, não é uma teodicéia, mas uma adoração verdadeira” (Bernhard W. Anderson)

“A sugestão sutil de Satanás, de que a adoração é algo bastante egoísta, fere no âmago do homem sua relação com Deus”.

Mas o livro de Jó faz mais do que levantar a questão do sofrimento dos justos.

Através das palavras de Satanás, o livro também trata dos motivos para uma vida piedosa.

Porventura alguém servirá ao Senhor se não obtiver algum lucro pessoal com isso? A adoração é uma maneira de comprar uma recompensa celestial? É a piedade parte de um contrato mediante o qual um homem obtém lucro e afasta a tribulação? (Roy B. Zuck, comentando Jó 1.9).

4 – Ateísmo

A principal razão, (embora certamente não a única) pela qual os homens são ou se tornam ateus consiste no problema do sofrimento.

Eles calculam que um Deus como o alegado, que de seu trono não desconhece a existência do sofrimento observável no mundo todos os dias, na realidade não deve existir. Sua suposta bondade suprema entra em conflito com o que acontece às pessoas.

5     - O Deus de satanás, Jó 1.11

Embora não tenhamos encontrado fontes que deem embasamento ao que exporemos a seguir, porém, acreditamos ser aceitáveis.

O tipo de Deus inventado por Satanás demanda adoração sem importar como Ele age. Deus voluntarista do Judaísmo primitivo.

O voluntarismo supõe que a vontade de Deus seja dominante, em detrimento de qualquer consideração da bondade (conforme a compreendemos), ou mesmo das regras morais (conforme as entendemos).
Contra esse tipo de Deus, observamos que de acordo com as escrituras, Deus estabeleceu as regras e é a origem de toda a moralidade que tem sido imposta aos homens.

Se o homem abandonar o amor e voltar-se para o destruidor, então Ele não será mais o Deus das Escrituras, ou, pelo menos, o Deus do Novo Testamento.

6 - O testemunho de Jesus

Jesus falou em Deus como um pai. Disse Ele: “Qual dentre vós é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente?” Mt 7.9-10.

O Deus que dá uma pedra a um filho que lhe pede um pão, ou que sempre dá uma serpente quando filho lhe pede um peixe, não é o Deus retratado no Novo Testamento.

Se o homem orar e suas orações nunca forem respondidas, se a sua vida estiver em plena miséria, enfermidades, acidentes e morte de entes queridos, e se  dissermos que “Deus está fazendo isso”,  então ele pensa ter que abandonar aquele conceito de Deus (o Deus do voluntarismo).

Também não devemos estar interessados na adoção ao tipo de Deus que Satanás inventou.

Um filho tem o direito de pedir favores ao seu pai.

A lei do amor exige misericórdia e abundante reação.

Portanto, não existe algo como fé desinteressada, tanto que o nosso relacionamento com Deus é entre o filho e o Pai.

Naturalmente, existem pessoas espiritualmente egoístas, e nisso há abuso.

“Na linguagem poética do livro (de Jó), Deus está em operação no universo, a ponto de fazer chover sobre a terra, onde não há ninguém (Jó 38.26); e Ele estava consciente do mal (personificado pelos monstros como o hipopótamo e os animais orgulhosos) (Jó 40.15 – 41.34)

Ao mesmo tempo, Deus cuidava de Jó com tanto empenho que se revelou pessoalmente a ele, e com ele compartilhou a visão de suas responsabilidades cósmicas.

Um Deus que confessa sua preocupação com o homem é um Deus que está profundamente envolvido no destino humano.

Deus não é uma força passiva.

Na presença da santidade e do amor criativo, o homem virtuoso desiste de seu orgulho na adoração.

À sua maneira pessoal, o poeta transmitiu um ponto de vista do pecado que transcende a moralidade; e a consciência do pecado só é possível dentro do contexto da fé” (Oxford Annotated Bible, introdução) 

7 – Teismo

O citado anteriormente expressa com eloquência a natureza do teísmo.

Assim é que Deus criou, mas também se faz presente para intervir nos negócios dos homens: Ele recompensa, pune e guia.

Os homens são moralmente responsáveis diante de Deus.

8 – Os livros poéticos

O livro de Jó dá inicio a seção dos livros poéticos: Jó, Salmos, Eclesiastes, Cantares de Salomão e Lamentações.

Em sua forma poética, esses livros investigam a condição humana e relacionam os homens com Deus de maneiras múltiplas.

São livros de experiências humanas do povo de Deus sob as várias circunstâncias da vida terrena.

Essas experiências, à parte das meras circunstâncias externas, são operadas neles pelo Espírito...

Os livros poéticos são épicos, líricos e dramáticos, e suprem exemplos de expressão literária que não há igual na literatura não inspirada” (Scofield reference Bible, introdução).

9 – Principais Problemas do Livro; Dificuldades Teológicas.

O livro de Jó parece mais uma parábola, ou peça de teatro que tem o objetivo de apresentar uma determinada visão teológica do sofrimento, em contestação a uma visão tradicional, ou seja, da teologia da retribuição.

A religião oficial ensinava que, o que aqui se faz aqui se paga.

Logo, quem faz o bem recebe as bênçãos de Deus, quem faz o mal é punido.

Quando alguém é bem sucedido na vida e tem muitos bens, seria prova de que ele é justo?

Opostamente, a miséria, os desastres, as doenças e a pobreza seriam indícios de que seu portador seria um pecador.

Na época da redação ainda não é generalizada a fé numa vida após a morte, por isto, os judeus de então esperavam recompensa já aqui na terra para suas boas obras, pois legitimava o status quo, da sociedade que marginalizava o pobre, ou seja, os ricos e bem sucedidos eram vistos como os bons, os próximos de Deus e os pobres como pecadores que estavam pagando seus pecados.

Eles eram culpados de sua desgraça.

Os amigos de Jó achavam que havia culpa nele... havia pecado... por isso, estava sendo punido.

Ainda nos tempos de Jesus, os apóstolos pensavam que os ricos estivam mais perto de Deus.

Estranharam quando Jesus disse que dificilmente eles entrariam no Reino: “Então, quem pode ser salvo?” (Mc 10.26).

O livro de Jó quer nos mostrar que não é bem assim.

Jó é um homem justo que sofre e este justo questiona Deus, ou melhor, questiona a teologia que ensina tal coisa.

Questiona o Deus da religião oficial, ou dos dominantes.



Titulo: Livro de Salmos

Autores: Davi, Asafe, filhos de Cora, Etã e Moisés
Data: Quase todos escritos entre os séc. X a V a.C
Quantidade de Salmos: 150
Quantidade de versos: 2.461
Verso – chave: SL 01.01-02
Tema: Oração e Louvor

Introdução

O Livro de Salmos é uma coleção de poesias hebraica inspiradas, mostrando a adoração e descrevendo as experiências espirituais do povo judaico.

È uma parte íntima do Antigo Testamento, dando-nos uma revelação do coração do judeu santo e, percorrendo todas as escalas de suas experiências com Deus e a humanidade (cfme comentário do livro “Através da Bíblia” Livro por Livro, pág, 118).

Esses livros foram compostos por muitos autores, dos quais alguns são desconhecidos.

Logo, como em todos os livros da Bíblia, há divergências entre várias correntes científicas que questionam a veracidade das autorias, datas e historicidades; e outras que, como a tradição judaica, se arriscam e defendem uma posição formada.

Certas divergências até de certa forma incitam a esses estudiosos a se aprofundarem muito mais na pesquisa científica, ou seja, nos exames dos documentos e informações que deram embasamento ao livro, por exemplo, através da arqueologia, a fim de refletirmos sobre argumentos muito fortes e suficientes, levando-nos a resultados que não deixem evidência nenhuma para dúvidas.

Assim nós, como estudiosos, também tentaremos analisar as fontes que temos em mãos para entendermos esse livro.

O Pesquisador

I – O Titulo e Vários Nomes

O moderno título do livro de Salmos do Antigo Testamento vem do grego “Psalmós”, que aponta um cântico para ser cantado com acompanhamento de algum instrumento de cordas, como por exemplo, a Harpa.

O verbo em “Psallein” no grego significa “tanger”.

A Septuaginta (setenta sábios judeus, que traduziram o Antigo Testamento do aramaico para o grego), diz “Psalmoi”, como título do livro.

E é da Septuaginta que se deriva o nome do livro.

A Vulgata Latina, seguindo a Septuaginta diz, como título, “Líber Psalmorum”, do latim “Psalterium”, “um instrumento de cordas”.

2 – O titulo hebraico antigo do livro era “Tehillim”, significa “cânticos de louvores”.

Esse título refletia o principal conteúdo dessa coletânea em geral.

Mas vários outros vocábulos hebraicos introduzem salmos específicos, a saber:

a – Shir, “cântico” (29 salmos),
b – Mizmor, “melodia”, “salmo”, (57 salmos); essa palavra subentende o tanger de algum instrumento de cordas, pelo que é similar ao termo grego “psalmós”.

c - Sir Hammolot, “cântico dos degraus” (Sl 120 a 134), que eram cânticos entoados por peregrinos que subiam a Jerusalém para celebrar as festividades religiosas.
d – Miktam, cujo sentido exato se perdeu, embora haja nas composições envolvidas a ideia de lamentações e expiações (Sl 16, 56-40);
e – Maskil, “instrução”, que são salmos didáticos (Sl 74, 78-79);
f – Siggayon, também de significado duvidoso, mas talvez uma palavra relacionada ao termo hebraico “saga”, “dar uma guinada”, “girar”, referindo-se a um tipo de música agitada (Sl 7);
e – Tepilla, “oração”, referindo-se a uma composição poética entoada como uma oração ou uma petição (Sl 142);
f – Toda, “agradecimento”, Le annot, “aflição”;
g - Hazkir, “comemorar” ou “lembrança, como no caso um pecado cometido (Sl 38 e 70);

h – Yedutum, “confissão” (Sl 39, 62 e 77);
i – Lammed, “ensinar” (Sl 60);
j – Menasseah, “diretor musical” (55 salmos);
k – Yonat elem rehoqim, que diz respeito a alguma “pomba”, (deve estar em foco algum sacrifício);
l – Ayyelet hassahr, “corça do alvorecer” (estando em foco algum sacrifício);
m – Sosannim, “lírios”, (Sl 60, 65, e 69), talvez uma referência ao uso de flores em cortejos nos quais eram entoados salmos;
n – Neginot, uma referência a instrumentos musicais que sem dúvida acompanhavam o cântico de salmos (Sl 6, 54, 55 e 67).
o – Sela, “elevar”, talvez uma direção para que se elevasse a voz, em algum tipo de bênção ou vozes responsivas (39 salmos);
p – Nehilot, “flautas”, uma referência ao acompanhamento do cântico de salmos por meio desse instrumento de sopro.

A complexidade desses títulos reflete tanto a própria complexidade da coletânea quanto o seu variado uso em conexão com a devoção privada e com a adoração pública, especialmente aquele tipo que era acompanhado por música.

II – Caracterização geral

O livro de Salmos, tradicionalmente atribuído a Davi, é uma antologia de cânticos e poemas sagrados dos hebreus.

Aparece na terceira seção do antigo Testamento, chamada: “Os Escritos”. (no hebraico, Ketubim).

A palavra salmos é de origem grega e denota o som de algum instrumento de cordas, e em hebraico, tem o nome de Tehillim, cuja tradução significa “louvores”.

O tema dos salmos envolve não somente louvores ao Senhor (Deus), mas também alegrias e tristezas pessoais, redenção nacional, festividades e eventos históricos.

O seu fervor religioso e poder literário, vem conferindo a essa coletânea, uma profunda influência através dos séculos e não menos no mundo cristão.

Tem havido intensa disputa entre os eruditos acerca da antiguidade e autoria desses salmos, e acerca de sua conexão com o rei Davi.

Provavelmente foram compostos durante um período bíblico de mil anos, ou mesmo mais.

Dentro os 150 salmos, 73 tem no seu titulo as palavras “de Davi”; e muitos deles foram compostos na primeira pessoa do singular.

Alguns desses, ou porções dos mesmos, parecem ser de data posterior ao reinado de Davi.

Entretanto, o cotejo com outras peças poéticas religiosas do Oriente Próximo e Médio da mesma época geral sugere que alguns dos poemas atribuídos a Davi datam, realmente, do tempo dele.

É apenas natural a crença popular, atribuir ao rei de Israel, Davi, um poeta e músico e de intima comunhão com Deus, a atribuição à obra inteira, se não levarmos em conta o que pensam os especialistas.

Os salmos reverberam as mais profundas experiências e necessidades do coração humano, e assim exercem uma atração permanente sobre as pessoas de todas as religiões.

Incorporam o que havia de melhor nas formas poéticas dos hebreus, tendo-as desenvolvido, e eram acompanhados por um surpreendente desenvolvimento musical, com frequência usado para acompanhar a recitação dos salmos na adoração formal de Israel.

Tem-se tornado comum aos eruditos liberais aludirem aos salmos como “o hinário do segundo templo”, o que serve de uma boa descrição.

Contudo, não há nenhuma razão constrangedora que nos force a duvidar de que pelo menos muitos dos salmos, bem como a música que os acompanhava, já faziam parte da liturgia do primeiro templo de Jerusalém.

Damos, logo a seguir, ideias dos críticos e as refutações, quanto aos argumentos prós e os contra acerca da data e da compilação dessa coletânea de hinos e poemas.

Esse hinário do segundo templo contém muitos elementos antigos que correspondem ao que se conhece sobre a poesia antiga de outras culturas e não somente da cultura hebraica; e isso favorece a antiguidade pelo menos de uma parcela razoável da coletânea.

Seja como for, a fé religiosa viva resplandece através desses hinos e poemas.

O Saltério é hinário do antigo povo de Israel; e, posteriormente, veio a ser o livro veterotestamentário mais constantemente citado no Novo Testamento.

Os primeiros hinários cristãos, em vários idiomas, incorporaram muitos dos salmos, que então foram musicados.

Sob o primeiro ponto, temos dado indicações sobre os muitos tipos de salmos que compõem a coletânea e nos itens V e VI, ilustramos essa questão um pouco mais.

Os principais tipos de salmos são os de louvor, lamentação, confissão, júbilo, triunfo, agradecimento, salmos reais, imprecações contra os inimigos, história sagrada, sabedoria, liturgias e cânticos festivos.

O livro de Salmos reflete muitos aspectos da vida religiosa, da fé e das aspirações do antigo povo de Israel e é dotado de profunda beleza e percepção espiritual, o que tem feito do livro uma parte imortal da literatura religiosa.

III – Ideias dos críticos e refutações

Apesar de todos os homens louvarem os salmos, nem todos pensam que eles foram autenticamente compostos por Davi e produzidos naquele antigo período da história.

Talvez a maioria dos eruditos modernos veja os salmos como uma série de coletâneas que terminou unida em uma única grande coletânea, embora a totalidade tivesse sido composta e desenvolvida no processo de um longo tempo.

Alistamos os principais pontos de vista dos críticos, juntamente com as refutações às suas criticas:

1 – O uso do termo hebraico “le” levanta uma questão de interpretação.

Essa palavra pode significar “por”, envolvendo assim a ideia de autoria.

Porém, também pode ter o sentido de “pertencente a”, não requerendo assim a ideia de que determinados salmos foram compostos pelo indivíduo que aparece no titulo.

Onze salmos presumivelmente são atribuídos aos filhos de Core, mas essa palavra hebraica aparece nos títulos introdutórios.

No entanto, o trecho de II Cr 20.19 mostra-nos que esses homens formavam uma guilda de cantores do templo, após o exílio.

Não é provável que eles tenham, verdadeiramente, composto os salmos que lhes são atribuídos; antes, esse grupo de salmos foi selecionado por eles (provavelmente procedentes de diferentes autores), e os cantores os usavam em seu trabalho.

Resposta: Apesar de ser verdade que o vocábulo hebraico em questão pode envolver o sentido de “pertencente a”, e que de fato, em certos casos assim deve ser entendido, também é verdade que tal termo pode significar “por”, indicando a autoria.

E se havia uma guilda musical dos filhos de Core, que existiu depois do exílio babilônico, é também provável que essa guilda já existisse desde os tempos mais antigos e que os seus descendentes é que foram mencionados em II Cr.

A passagem de I Cr 6.31 fornece-nos os nomes daqueles que Davi nomeou para ocuparem-se da música sacra, e os filhos de Core estavam entre eles. Vejamos o vers. 38.

“Quando da reorganização instituída por Davi, os coatitas ocuparam certa variedade de ofícios, incluindo um papel na música executada no templo.”

2 – Os títulos dos Salmos não eram originais e sem dúvida contêm muitos desejos piedosos, não informações históricas autênticas.

Resposta: É verdade que as tradições tendem por adicionar toda espécie de material não histórico, mas também podemos estar tratando com anotações e observações verdadeiramente antigas dotadas der valor histórico, pelo menos no que se aplica à maioria dos salmos.

A baixa critica (estudo do texto dos manuscritos antigos) arma-nos de um constante testemunho em favor desses títulos.

Todavia, este último argumento não é muito definitivo, visto que, todos os manuscritos que temos dos Salmos são tão posteriores que se torna impossível fazer qualquer afirmação quanto ao valor histórico dos títulos, meramente por se encontrarem em todos os manuscritos conhecidos.

Todos os manuscritos conhecidos do Livro de Salmos são de data relativamente recente.

3 – Setenta e quatro dos salmos são atribuídos ao rei Davi, mas entre eles manifesta-se uma grande variedade de estilo, expressão e sintaxe, mostrando que dificilmente eles foram compostos por um único autor.

Resposta: esse tipo de argumento só pode ter peso se também for extremamente detalhado sobre quais problemas envolvidos.

Argumenta-se que são achados aramaismos nos salmos de Davi.

Os eruditos conservadores dizem que isso poderia ter ocorrido durante o processo de transmissão dos textos.

Questões assim só podem ser tentativamente resolvidas por eruditos no hebraico.

Entretanto, todos os autores são, parcialmente, compiladores, pelo que é possível que Davi, embora poeta de alto gabarito, algumas vezes tenha incorporado composições não de sua autoria, em seus poemas.

Além disso, é possível que vários dos chamados salmos de Davi não fossem de sua autoria, embora esse reparo não caiba a grande massa deles.
Salmos anônimos provavelmente também foram atribuídos a Davi, visto que ele foi o principal para a coletânea.

No Novo Testamento, certos salmos são atribuídos a Davi, embora os títulos do Antigo Testamento não digam tais coisas.

Não há necessidade de nos empenharmos pela autoria davídica desses salmos; mas precisamos  defender o conjunto de salmos de Davi.

Quanto às observações neotestamentárias (At 4.25; Hb 4.7).

O trecho de I Cr 16.8-36 contém porções dos Salmos 96, 105 e 106, e parece atribuí-los a Davi, ao passo que, no próprio livro de Salmos, eles figuram como anônimos.

E no tocante a Hb 4.7, alguns estudiosos argumentam que esse versículo não precisa ser interpretado com o sentido de que a autoria davídica esta em pauta, pois estariam em foco apenas as questões do uso de ideias e o cuidado na prestação de ações de graças.

04 – Muitas coletâneas, incorporadas naquilo que finalmente veio a ser o Saltério, provavelmente indicam um processo muito prolongado.

Assim, apesar de alguns dos salmos terem sido de autoria davídica, a maior parte não o é, e a compilação final ocorreu após o exílio babilônico.

Resposta: No primeiro item deste serviço (o Título e vários nomes), ficou demonstrado que, de fato, muitos dos títulos dos salmos sugerem fontes múltiplas, muito mais complexas do que se dizer que Davi e alguns outros, como Asafe, Salomão, os filhos de Core, etc... nos legaram os salmos.

Todos os bons hinários são como antologias de hinos adicionados através dos séculos.

Porém, o reconhecimento desse fato não anula a ideia de que Davi foi o principal e mais volumoso contribuinte, e que outros salmos, como os de Asafe, também pertencem, autenticamente, a época de Davi. (vejamos o item V, que diz respeito à complexidade de fontes que aparentemente estão por trás do livro de Salmos).

Parece que, precisamos admitir que o livro de Salmos recebeu contribuições da parte de muitos, ao longo de um prolongado tempo.

Contudo, isso não anula o antigo âmago do livro, especialmente aquela porção que pertence autenticamente a Davi.

5 – Os títulos davidicos relacionam os salmos a certos eventos da vida de Davi, mas a leitura desses salmos envolvidos revela-nos que o seu conteúdo nada tem a ver com o que aqueles títulos dizem.

Resposta: É admirável que as mesmas evidências possam ser interpretadas de modos diferentes, tudo dependendo de como os intérpretes queiram distorcer a questão.

Alguns eruditos liberais admitem nada menos de dezoito salmos como de autoria autêntica de Davi; mas outros eruditos não acham um único salmo que seja tão antigo que possa ser atribuído a Davi.

No item IV deste serviço (Autoria e Datas), apresentamos um estudo sobre esses salmos que parecem refletir circunstâncias verdadeiras da vida de Davi.

Consideramos isso adequado para demonstrar a presença de genuínos salmos davidicos no livro de Salmos, mesmo que isso não possa ser aplicado a todos os setenta e quatro salmos a ele atribuídos.

6 – Apesar de poder ser demonstrado que alguns dos salmos contém elementos antiquíssimos, que mostram afinidade com a poesia norte-cananéia (como aquela que foi encontrada  em Ras Shamra), ou com os antigos textos babilônicos. Pode-se interpretar melhor este ponto supondo-se que antigos elementos tivessem sido incorporados e não que todos os salmos fossem verdadeiramente antigos.

Por outro lado, pode-se mostrar que material literário semelhante aos salmos era bastante comum em tempos pré-exílicos, segundo se vê em Os 6.1-3. Is 2.2-4, 38.10-20; Je 14.7-9; Hb 3.1 ss; I Cr 16.8-36.

O mesmo sucedeu em tempos pós-exílicos, conforme se vê em Ed 9.5-15 fe Ne 9.6-39.

Com base nas evidências, podemos afirmar que essa forma de composição escrita era encontrada em várias colunas antigas, e isso cobrindo um período de tempo muito longo.

07. O guerreiro Davi poderia ter sido o autor desses monumentos de espiritualidade?

Infelizmente é verdade que, em muitas ocasiões, Davi agiu como um puro selvagem.

Mas ele viveu em tempos extremamente violentos, e precisou usar da violência a fim de sobreviver.

Ficamos desconsolados ao ler os relatos de matanças insensatas que ocorreram em seus dias.

Davi desejou construir o templo de Jerusalém; e o profeta Natã encorajou-o a fazê-lo.

Mas, pouco depois, o Espírito de Deus mostrou a Natã que Davi não era a pessoa indicada para a obra, devido a sua trajetória sanguinária.

E assim a tarefa foi transferida para Salomão, um dos filhos de Davi com Bate Seba.

O relato acha-se no capítulo 7 de II Samuel.

O trecho de I SM 27.8 registra o incrível incidente no qual Davi fez seus homens executaram todos os homens, mulheres, crianças e até animais, meramente a fim de engodarem a Aquis, fazendo-a pensar que era contra Judá que Davi tinha agido.

Isso Davi fez a fim de fortalecer sua posição diante daquele monarca pagão, quando exilado no território dele.

Davi queria que Aquis pensasse que a sua inimizade contra o povo israelita era tão grande que ele nunca mais seria uma ameaça para os vizinhos de Israel.

Ora, um homem assim tão brutal poderia ter composto uma poesia tão sublime?

Diante dessa indagação, relembramos a quem nos lê, de que os poemas homéricos, uma literatura de insuperável beleza técnica, foram escritos dentro do contexto de matanças e ameaças de morte.

Tem havido grandes poemas de fundo belicoso, com também soberba prosa.

De fato, as guerras têm inspirado muitas grandiosas peças de literatura, além das notáveis produções teatrais.

Também devemos considerar que Davi, embora tivesse vivido em tempos selvagens, também tinha outro lado de sua personalidade, o lado de uma profunda devoção ao Senhor.

Isso fica claro nos livros de I e II Samuel, I e II Reis, além de várias outras referencias a Davi, espalhadas pela Bíblia.

A habilidade de Davi como poeta e musico já era proverbial em sues próprios dias.

Os trechos de I Cr 6.31 ss. 16.8-36 fornecem-nos indicações a esse respeito.

Finalmente, cumpre-nos considerar a natureza do próprio ser humano, um misto de nobreza e vileza, em uma mesma criatura.

O cap. 7 da epístola aos romanos elabora esse ponto.

Até Adolfo Hitler gostava de cães!

A passagem de Amós 6.5 mostra qual era a reputação de Davi como músico e poeta (vejamos também II Sm 1.17 ss; 3.33 ss.), a qual continuou a ser notória mesmo séculos depois de sua morte.

A Bíblia chega a revelar que Davi inventou instrumentos musicais.

O cântico de Moisés (Ex. 15) e o cântico de Débora (Jz. 5), mostram que a poesia dos hebreus era muito antiga e muito bem desenvolvida.

Não há nenhuma razão para supormos que o templo de Jerusalém não contasse com a música e poesia dessa qualidade altamente desenvolvida.

Não há nenhuma dúvida razoável acerca do papel desempenhado por Davi em tudo isso, a despeito de sua natureza belicosa, e, às vezes, violenta.

8 – Pode-se explicar melhor os salmos como composições que giraram em torno de tempos pós-exílicos e isso por várias razões, algumas das quais foram descritas acima.

A música e a liturgia elaborada servem de outro fator de uma data posterior.

Porém, contra isso, além dos argumentos que já foram expostos, deveríamos observar que os Manuscritos do Mar Morto, já continham muito material proveniente dos salmos, e isso evidencia que os Salmos já haviam sido escritos em um período histórico anterior ao daquele em que foram produzidos os rolos do Mar Morto.

Todavia, essa resposta não nos faria retroceder até os dias de Davi, mas somente até um tempo anterior ao tempo dos Macabeus.

No entanto, o argumento é sugestivo, mesmo que não conclusivo.

9 – A esperança messiânica é por demais pronunciada no livro de Salmos para que essas composições sejam consideradas saídas da pena de Davi.

Historicamente, essa esperança ajusta-se melhor ao período dos Macabeus, sendo similar ao material dos livros pseudepígrafos, no tocante aos anseios dos judeus pelo aparecimento de um Libertador.

Uma posição mais radical é aquela que diz que nada semelhante ao Messias cristão está em foco, mas tão-somente a figura de um Rei Salvador, como aquela que foi concebida nos tempos dos Macabeus;

Resposta: Contra essa ideia, deve-se observar que desde tempos bem antigos na história de Israel esperava-se um Messias (Dt 18.15).

Isaías (750 a.C.) também reflete essa forte ênfase messiânica, conforme é claro para todos os que estudam a Bíblia, e isso certamente é anterior, e em muito, ao período pós-exilico.

Ademais, afirmar que os antigos hebreus não poderiam ter tido a esperança messiânica é apenas uma opinião subjetiva.  

Podemos opinar subjetivamente que os hebreus poderiam ter tido tal esperança.

Além disso, há indicações, extraídas da própria história da literatura bíblica, que mostram que o tipo de esperança messiânica davídica é mais antiga e que mostram esse tipo de esperança refletida nos livros psdeudepígrafos.

O fato é que o livro de I Enoque contém uma esperança messiânica  muito mais refinada e muito mais parecida com a do Novo Testamento do que aquela que transparece no Livro de Salmos, refletindo um estágio posterior desse ensino.

Pormenores a respeito da esperança messiânica no Livro de Salmos poderão ser vistos no item VII deste serviço.

Finalmente, no tocante a esta questão, precisamos relembrar dos itens incomuns e místicos que sempre acompanham as culturas humanas, antigas e modernas; o poder de curar e o de prever o futuro.

Visto que, o Messias brotou dentro o povo de Israel, não há nenhuma razão em supormos que a sua vinda não pudesse ter sido percebida com antecedência.

Mas o contra-argumento mais definitivo aqui é que o próprio Jesus Cristo ensinou a natureza messiânica dos Salmos; “...importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.” (Lc 24.44).

10 – A música e liturgia elaborada, refletida no Livro de Salmos, falam sobre uma época posterior a de Davi, ou seja, a época do segundo templo, terminado o exílio babilônico.

Resposta: Não há razão para crer que uma elaborada situação músico-liturgica não se caracterizava no primeiro templo.

O trecho de I Cr 6.31 ss. certamente ensina que, desde bem cedo, o aspecto musical de fé religiosa ocupava um largo espaço na religião dos hebreus.

As observações musicais, existentes nos títulos dos salmos, referem-se a três elementos: instrumentos musicais, melodias utilizadas, vozes e efeitos musicais.

Nada há nesses elementos que necessariamente pertença a tempos posteriores aos de Davi, embora, como é obvio e como ninguém pretende negar, tudo isso tenha sido sujeitado a um progressivo desenvolvimento e elaboração.

Nos tempos pós-exílicos havia guildas de músicos, como as dos filhos de Core (II Cr 20.19); mas esse trecho mostra que essa família formava uma antiga guilda musical, desde os tempos do primeiro templo de Jerusalém.

A - Observações gerais sobre o conflito: críticos versus conservadores.

Temos dado um sumário bastante detalhado do debate que ruge entre estas duas facções de estudiosos.

Opinamos que não há como solucionar todos os  problemas envolvidos, visto que cada teoria tem a sua contra teoria.

Parece-nos que a solução desses problemas só poderia partir de especialistas no idioma e na cultura dos hebreus, os quais, além disso, fossem técnicos no estudo dos próprios Salmos.

E isso, como é óbvio, esta acima da maioria dos eruditos do Antigo Testamento, para nada dizer sobre os leitores comuns.

Controvérsias dessa natureza têm alguns elementos positivos, especialmente se forçam pessoas interessadas a estudar os livros de Bíblia em profundidade.

Quanto ao seu lado negativo, essas controvérsias podem ser prejudiciais ao espírito da fé religiosa, dando maior ênfase à contenda do que à espiritualidade.

A fim de ilustrarmos essa declaração, podemos meditar sobre o fato de que uma de nossas fontes informativas (uma respeitável enciclopédia), ao mesmo tempo que dedica muito pouco espaço à mensagem e ao valor dos salmos como  uma coletânea  sagrada.

Certas pessoas (em sentido positivo ou em sentido negativo) gostam de debate, e acima de todas as coisas, elas debatem.

E óbvio que isso é um exagero, que só pode ser prejudicial para a espiritualidade.

Assim sendo, que debatamos, mas que o façamos sem hostilidade e exageros.

Quando o amor transforma-se em ódio teológico, então saiamos das questões.

IV – Autoria e Datas

Quanto à esta particularidade, precisamos depender essencialmente dos informes dados nos títulos de introdução aos Salmos.

Se dependermos somente desses títulos, obteremos o seguinte quadro de atribuições dos salmos: 74 a Davi (rei de Israel, músico e poeta); 2 a Salomão (rei de Israel e poeta), (72 e 127); 1 a um coatita, sábio, profeta e cantor do rei de nome Hemã, indicado por Davi para liderar o coro do Templo (I Cr 6.33; 15.19; 25.1, 5, 6), (Sl 88); 1 a um ezraita, sábio e cantor  chamado Etã  (Sl 89; quanto a I Rs 4.31); 01 a Moisés, Chefe e legislador de Israel, (Sl 90); 23 aos cantores leviticos de Asafe, lideres do culto no templo desde o tempo de Davi até a época de Esdras e Neemias (Sl 50;73-83); vários aos filhos de Core, entre os quais Salum, dirigentes de adoração em Israel (I Cr 9.19 ss) (Sl 42, 43, 44-49, 84, 85 e 87); os 49 salmos restantes são anônimos.

Os informes existentes nos Salmos subentendem que várias guildas musicais ou escreveram ou utilizaram os salmos.

Uma exposição mais completa estudaremos no item V desse serviço.

01 - Várias compilações e fontes informativas

Os eruditos conservadores contentam-se em confiar no valor histórico desses informes.

Já os eruditos liberais, por outra parte, tem achado pouco ou nenhum valor nessas informações.

R. R. Pfeiffer considera-os “totalmente irrelevantes”.

Mas se os estudiosos conservadores estão com a razão, então a maior parte dos salmos foi composta nos dias de Davi.

E, se os liberais estão certos, podemos pensar em um desenvolvimento gradual da coletânea, a começar por Davi, com uma compilação final nos tempos pós-exílicos.

No terceiro item deste serviço, ventilamos os argumentos e os contra argumentos que circundam a questão.

Não se pode duvidar que desde antes de Davi havia uma literatura similar à dos salmos, que tem paralelo em várias culturas da época.

Pensamos que nada de fatal pode ser dito acerca do possível valor dos pontos dos salmos, mesmo que não cheguemos a ponto de canonizar esses títulos juntamente com o texto, dependendo estupidamente de qualquer coisa que esses títulos digam.

Os argumentos que cercam a palavra hebraica le (“por” ou “pertencente a”) não podem anular a antiga autoria davídica. Mas, em alguns casos, podem apontar para os processos de seleção e compilação, e não exatamente autoria.

A baixa critica (que trata do texto dos manuscritos), favorece uma data definitiva, pois todos os manuscritos que chegaram até nós são de origem relativamente recente, e não se sabe quando foram acrescentadas as composições poéticas.

Podemos conjecturar com segurança, porém, que esses títulos são posteriores a época de Davi, embora possam estar alicerçados sobre sólidas tradições históricas.

Em caso negativo, precisamos depender do conteúdo dos salmos que refletem situações diversas na vida de Davi, e não dos títulos propriamente ditos.

Muitos eruditos conservadores tem preferido esse argumento, apresentando assim um caso que merece respeito.

02 – Salmos que parecem redefinir situações genuínas na vida de Davi

Quatorze salmos refletem motivos específicos de sua composição.

Ordem cronológica e não numérica:

Sl 59 – foi ocasionado pelo incidente registrado em I Sm 19.11, e projeta luz sobre o caráter de certos associados invejosos de Davi (Sl 59.12);

Sl 56 – mostra como o temor que Davi sentiu em Gate (vejamos I Sm 21.10), acabou transmutando-se em fé (Sl 56.12);

Sl 38 – ilumina as demonstrações de bondade subsequentes, da parte do Senhor Deus (Sl 38.6-8, cfme I Sm 21.13);

Sl 142 – à luz da perseguição descrita em seu sexto verso, sugere as experiências de Davi na caverna de Adulão (I Sm 22.1), e não em Em-Gedi (vejamos o Sl 57, mais abaixo);

Sl 52 – (verso 3) enfatiza a iniquidade de Saul, como superior de Doegue, que foi o carrasco executor dos sacerdotes (I Sm 22.9)

Sl 54 – (verso 3) impreca julgamento contra os zifeus (23.13);

Sl 57 – envolve a caverna de En-Gedi, quando Saul foi apanhado na própria armadilha que havia armado (Sl 57.6; cfm.I Sm 24.1);

Sl 7 - apresenta-se Cuxe, o caluniador benjamita (Sl 7.3), ao mesmo tempo em que o oitavo verso desse mesmo salmo corresponde a I Sm 24.11-12;

 Sl 18 – é repetido na integra em II Sm 22; cronologicamente, deveria ter sido posto em II Sm 7.1;

Sl 60 – (verso 10) ilumina a perigosa campanha militar contra os idumeus (vejamos |II Sm 3.13-14; I Cr 18.12), também referida em I Rs 11.15;

Sl 51 – elabora o pecado de Davi com Bate-Seba e contra Urias (II Sm 12.13-14);

Sl 3 – retrata (verso 5) a fé que Davi demonstrou ter, ao tempo da revolta de Absalão (II Sm 15.16);

Sl 63 – lança luz sobre a fuga de Davi para o Oriente nessa ocasião (II Sm 16.2), pois, em suas fugas anteriores, ele ainda não subira ao trono de Israel (Sl 63.11);

Sl 30 - alude ao pecado de orgulho de Davi, devido ao poder do seu exército (versos 5-6, cfm. FII Sm 24.2), antes da perturbação que perdurou pouco tempo (II Sm 24.13-17; I Cr 21.11-17).

A isso seguiu-se o seu arrependimento e a dedicação do altar e da casa (a área sagrada do templo: I Cr 22.1) de Yahweh.

Entre os Salmos restantes cujos títulos determinam a sua autoria, os vinte e três salmos compostos pelos cantores de Israel exibem panos de fundo inteiramente diferentes uns dos outros, visto que aqueles clãs levíticos continuaram em atividade durante e após os tempos do exílio babilônico. (Ed 2.41).

A maior parte desses 23 salmos pertence aos dias de Davi ou de Salomão.

Todavia, o Salmo 83 ajusta-se dentro do ministério do asafita, Jaaziel, ou seja, em torno de 852 a.C. (cfm. Os versos 5-8 com II Cr 20.1-2, 14), ao passo que os salmos 74, 79 e as estrofes finais dos salmos 88 e 89 foram compostos por descendentes de Asafe e de Core que, ao que tudo indica, sobreviveram a destruição de Jerusalém, em 588 a.C. (Sl 74.3, 8-9; 79.1; 89.44).

Entre os salmos sem títulos ou anônimos, alguns poucos são oriundos do tempo do exílio babilônico (Sl 137), do tempo do retorno dos judeus a Judá, em 537 a.C. (Sl 107.2-3 e 126.1), ou da reconstrução das muralhas, sob a liderança de Neemias, em 444 a.C. (Sl l47.13).

Outros salmos, que refletem momentos trágicos, facilmente poderiam estar vinculados às desordens provocadas pela revolta de Absalão, ou então a certas calamidades que se abateram sobre Davi (Sl  102.13, 22; 106.41-47).

R. Laird Harris recomenda que se use de grande cautela na critica a respeito das datas de determinados salmos, escrevendo: “É de regular interesse que as alusões históricas dos salmos não ultrapassam os tempos de Davi, excetuando o Sl 137, um salmo anônimo que versa sobre o cativeiro”.

Vários salmos dizem respeito, em termos gerais, aos tempos do cativeiro e as dificuldades enfrentadas em períodos de desolação do templo (por exemplo, Sl 80; 85 e 129).

Entretanto, essas são descrições poéticas bastante gerais, e não deveríamos esquecer que Jerusalém foi saqueada por mais de uma vez.

O próprio Davi enfrentou duas conspirações em seu palácio.

Nenhum dos salmos acima referidos são atribuídos a Davi, embora alguns deles pudessem ter sido compostos em seus dias, ou mais tarde.” (F.H. Henry, editor, The Biblical Expositor, II. Pág. 49) .

Após termos suprido tais informações, nem por isso temos demonstrado que todos os 74 salmos atribuídos a Davi foram, na realidade, escritos por ele.

Porém, temos motivos para crer que a contribuição de Davi foi real e vital.

A posição radical que diz que os Salmos, como uma coletânea, foram compostos em tempos pós-exílicos, pelo menos em sua maioria, não resiste a investigação.

Podemos concluir, portanto, que a maior parte dos salmos foi composta mais ou menos na época do primeiro templo de Jerusalém, ou seja, 1000 a.C., ou ligeiramente mais tarde.

V – Variedades de compilações e de fontes informativas.  

Já apresentamos o essencial desta questão, conforme aparecem diversos informes nos títulos de salmos, no segundo parágrafo do quarto item deste serviço.

Se esses títulos estão essencialmente corretos historicamente falando, então outras fontes informativas devem ser rebuscadas entre os quarenta e nove salmos anônimos.

Sempre que um título não for de caráter histórico, teremos o aumento no número de salmos anônimos;

Diversas coletâneas secundárias (envolvendo assim autores e datas diferentes), podem estar indicadas nos títulos hebraicos Shir, Miktan, Maskil, etc...

Uma de nossas fontes informativas conjectura que pode ter havido um mínimo de dez coletâneas menores de salmos, antes da compilação final do Saltério. 

Temos o Saltério Eloísta como exemplo de uma coletânea distinta.

Esses são salmos onde o nome divino predominante é Elohim. Trata-se dos Salmos 42 a 83.

Curiosamente, o Sl 53 é uma recensão Eloista do Sl 14; e o Sl 70, de Sl 40.13-17.

Além disso, temos os Cânticos dos Degraus, um grupo distinto de salmos (120 a 134) que, provavelmente, eram usados pelos peregrinos, quando subiam para celebrar as festividades religiosas em Jerusalém.

O trecho de Sl 135.21 tem uma doxologia que pode ter assinalado o fim de uma dessas coletâneas secundárias.

As doxologias finais do quarto livro podem ter encerrado originalmente uma pequena coletânea, que acabou fazendo parte do todo. (vejamos Sl 106.48).

As coletâneas secundárias refletem crescimento e a ideia de crescimento implica diferentes datas para diferentes segmentos do livro de Salmos.

VI – Conteúdo e tipos

A – Quatro tipos principais:

1 – Os Salmos de Davi

O livro I (Sl 1 – 41) é essencialmente atribuído a Davi, exceto o Sl 1, que é introdução a esse livro I, e o Sl 33, que não tem titulo.

Parece que foi Davi quem primeiro coligiu o primeiro grande bloco de material que, finalmente, veio a fazer parte da coletânea total no livro de Salmos.

O total de setenta e quatro salmos lhe são atribuídos; e, como é óbvio eles não ficam todos no livro I.

2 - Os Salmos de Salomão

Os livros II e III exibem um maior interesse nacional que o livro número I.

Esses livros incluem os Sl 42 ao 89.

O rei Salomão foi o responsável pela doxologia de 72.18-20, e pode ter sido o compilador (embora não o autor) do livro II.

Porém, os Sl 42 ao 49 são produção do clã cantante dos filhos de Core.

O Sl 50 é autoria de Asafe.

3 – Os Salmos Exílicos

O livro III contém os Sl 32, 52, 74,79 e 89, que aludem a história posterior de Israel, já distante do período de Davi, mencionando a destruição de Jerusalém, em 586 a.C., e certas condições próprias do exílio.

Porém, esse livro mostra certa variedade de composições, da parte de vários autores. De Davi (como Sl 86), de Asafe (Sl 73 – 83), dos filhos de Core (Sl 84,m  85 e 87).

04 – Os Salmos da restauração, pós-exílicos e macabeus.

Nestes salmos predomina o interesse litúrgico.

Os Salmos 107 e 127 devem ter provindo do tempo após o retorno dos exilados, 537 a.C., e talvez existissem em uma coletânea separada,  que foi então adicionada.

Um inspirado escriba pode ter trazido o livro V (Sl 107 – 150) à existência, unindo-o aos livros I – IV, ao adicionar a sua própria composição (Sl 146 – 150) como uma espécie de grande aleluia relativo ao Saltério inteiro.

E isso pode ter ocorrido em cerca de 444 a.C. (Sl 147.13), quando Esdras proclamou a renovação da adoração de Israel no segundo templo de Jerusalém.

Alguns estudiosos pensam que o próprio Esdras pode ter sido o responsável pela compilação final (Ed 7.10).

Outros eruditos tem pensado que o período dos Macabeus foi o tempo de produção de muitos salmos, a começar por 168 a.C.

Porém, naquele período, o aramaico já havia sobrepujado quase inteiramente o hebraico, e os salmos não foram compostos em aramaico.

Ademais, o material dos Manuscritos do Mar Morto contém os Salmos, fazendo a data de sua composição retroceder para antes do período dos Macabeus.

Por conseguinte, é improvável que um grande número de salmos se tenha originado no tempo dos Macabeus.

B – Os cinco livros:

O livro de Salmos divide-se em cinco livros, cada um dos quais termina como uma doxologia.

São os seguintes:
Livro I – (Sl 1 ao 41);
livro II – (Sl 42 ao 72);
livro III – (Sl 73ao 89 );
livro IV – (Sl 90 ao 106);
Livro V – (107 ao 150).

C – Temas principais

01 – O tema messiânico – preservamos este assunto para ser ventilado no item VIII deste serviço, onde ele será descrito pormenorizadamente.

02 – Louvor – Alguns exemplos são os Sl 47; 63; 104 e 145 a 150.

03 – Pedidos de benção e proteção – Sl 86; 91 e 102.

04 – Pedidos de intervenção divina – Sl 38 e 137.

05 – confissão de fé, especialmente no tocante aos poderes e ofícios do Senhor. Sl 33; 94; 97; 136 e 145.

06 –Penitência pelo pecado – Sl 06; 32; 38; 51; 102; 130 e 143.

07 – Intercessão em favor do rei, da nação, do povo etc... Sl 21;67; 89 e 122.

08 Imprecações – Queixas contra os adversários e o pedido para que Deus proteja, faça justiça e vingue. – Sl 35; 59 e 109.

09 – Sabedoria, homilias espirituais, com o oferecimento de instruções (salmos pedagógicos). Sl 37; 45; 49; 78; 104; 105 ao 107 e 122.

10 – O governo e a providência divina – como Deus trata com todas as classes de homens, incluindo os ímpios. Sl 16; 17; 49; 73 e 94.

11 – Exaltação a lei de Deus. – Sl 19 e 119.

12 – O reino milenar do Messias. -  Sl 72.

13 – Apreciação pela natureza. Temos  aqui um reflexo da bondade, da glória e da beleza de Deus. – Sl 19; 29; 33; 50; 65; 74; 75; 104; 147 e 148.

14 – Salmos históricos e nacionais, onde é elogiada a condição de Israel. – Sl 14; 44; 46 ao 48; 53; 66; 68; 74; 76; 78 ao 81; 83; 85; 87; 105; 108; 122 e 124 ao 129.

São passados em revista muitos incidentes da historia de Israel, e a providência divina é celebrada.

O futuro de Israel é projetado de forma esperançosa.

15 – A humilde natureza humana e suja grandeza. Sl 08; 31; 41; 78; 100; 103 – 104.

16 – A existência da alma e sua sobrevivência. Sl 16; 10; 11; 17.15; 31.05; 41.12; 49.09, 14-15.

Históricamente, essa crença entrou no judaísmo mediante os Salmos e os livros dos profetas, e mostra-se ausente no Pentateuco.

VII - A esperança Messiânica

No item X deste serviço, veremos uma lista completa de citações extraídas do livro de Salmos e contidas no Novo Testamento.

Muitas dessas citações são de natureza messiânica.

O próprio Senhor Jesus referiu-se aos Salmos, que prediziam a seu respeito (Lc 24.44).

Billy Graham chegou a asseverar que todos os Salmos são messiânicos.

Certamente isso é um exagero, mas o fato de que esse livro do Antigo Testamento foi o mais constantemente citado pelos autores do Novo Testamento mostra que ali o elemento messiânico certamente é fortíssimo.

Por esse motivo, destacamos essa questão do restante do conteúdo deste verbete, para efeito de ênfase.

01 – Sl 02.01-11 – O poderoso filho de Deus, exaltado pelo Pai contra os seus adversários, triunfa sobre tudo e todos.

Este trecho é citado em At 04.25-28; 13.33; Hb 01.13 e 05.05; onde recebe uma interpretação messiânica.

02 – Sl 8.4-8 – A exaltação do filho de Deus.

Todas as coisas foram postas abaixo dos seus pés, o que sob hipótese nenhuma pode aplicar-se a um mero ser humano.

Esta passagem é citada em Hb 2.5-10; I Co 15.27, dentro de contextos messiânicos.

03 – Sl 16.10 – A incorrupção do Filho de Deus em sua morte; sua divina e miraculosa preservação; sua segurança no Pai.

Este Salmo é citado em At 02.24-31 e 13.35-37, sendo aplicado à ressurreição de Cristo, bem como à sua autoridade e exaltação gerais.

Há seis salmos da Paixão: Sl 16; 22; 40; 69; 102 e 109.

04 – Sl 22 – Um dos salmos da paixão que fornecem detalhes sobre a crucificação e descrevem os sofrimentos do Messias.

Este salmo é citado em Mt 26.35-46; Jo 19.23-25 e Hb 2.12.

O Salmo 22.24 prediz a glorificação de Cristo; o v. 26 fala sobre a festa escatológica e o futuro trabalho de ensino do Messias (vs 22-23 e 25; Hb 2.12)

05 – O Sl 40.6-8 – A encarnação. A citação acha-se em Hb 10.5-10.

06 – Sl 46.06-07 – O trono eterno do Messias. Sua Natureza divina (v. 06) embora distinta do |Pai (v. 7). O trecho de Hb 1.8-9 cita esta passagem.

07 – Sl 79.25 – a maldição sobre Judas Iscariotes, citada em At 1.16-20.

08 – Sl 72.06-17 – O governo do Messias. Seu reino será eterno (v. 7); seu território será vastíssimo (v. 8); todos virão para adora-lo (vs. 09-11)

09 – Sl 89.3-4,  28-29,  34-36. O Messias como filho de Davi; sua descendência será eterna (vs. 4, 29, 36-37). Este salmo é citado em At 2.30.

10 – Sl 102.25-27. A eternidade do Filho-Messias. Uma invocação a Yahweh (vs. 1-22) e da El (v. 24) é aplicada a Jesus Cristo.

11 – Sl 109.6-19. Judas Iscariotes é amaldiçoado. O Messias teria muitos adversários, mas havia um maior que todos.

O plural aparece nos vs 4-5 e muda para o singular no v. 6, sendo reiniciado no v. 20. Este salmo é citado em at. 1.16-20.

12 – Sl 110.1-7 – A ascensão e o sacerdócio do Messias. Ele é o Senhor de Davi (v. 1), e é sacerdote eternamente (v. 4).

Este salmo é citado em Mt 22.43-45; At 2.33-35; Hb 1.11; 5.6-10; 6.20; 7.24.

13 – Sl 132.11-12 – Ele, o Filho de Davi, é a semente real e eterna. Este Salmo é citado em At 2.30.

14 – Oficio de Profeta, Sacerdote e Rei. Esses três ofícios, que o Messias ocupou-se, foi profecia antes mesmo do tempo de Davi.

O Messias é visto como profeta (Dt 18.15), como sacerdote (Lv 16.32) e como rei (Nm 24.17).

Ora, nos Salmos há indicações acerca de todos esses três ofícios.

Ele é profeta em Salmos 22.22-23, 25; Sl 23. Ele é sacerdote, divino e humano em Sl 110.2. Ele é rei em Sl 2; 06; 12; 24 e 72. Essas três ideias são combinadas em Sl 22.12 e 110.2.

VIII – Usos dos Salmos  

01 – Todos os estudiosos concordam que os Salmos eram hinários do segundo templo de Israel.

No entanto, essa restrição não é imperiosa.

O trecho de I Co 6.31 demonstra o uso de música elaborada no culto divino, nos próprios dias  de Davi.

Portanto, o uso litúrgico dos salmos foi importante desde o começo.

E isso teve prosseguimento na Igreja Cristã, onde muitos salmos foram musicados e usados no culto de adoração. Além disso, muitos versos, porções dos salmos ou ideias ali contidas foram incorporados nos hinos cristãos.

02 – Os Salmos prestam-se muito bem a devoções particulares, sendo extremamente ricos em conceitos espirituais, além de excelentes como consolo e inspiração para o louvor ao Senhor.

Muitos Salmos são obras-primas literárias em miniatura, conforme se vê nos Salmos 1; 2; 8; 19; 22; 23 e 91. Qualquer seleção será forçosamente defeituosa, mas essa seleção ilustra o ponto.

03 - Os salmos são uma Bíblia em miniatura dentro da Bíblia, conforme Martinho Lutero, o reformista, afirmou, repletos de ideias religiosas e de fervor.

Não foi por acidente que os autores do Novo Testamento citaram mais dos Salmos do que de qualquer outro livro do Antigo Testamento. (vejamos a 12° item deste serviço, para demonstração deste fato).

O próprio Senhor Jesus muito se utilizou dos Salmos. Ele e os seus discípulos entoaram o Hallel (SL 113 – 118), por ocasião da Última Ceia.

04 – Textos de prova acerca do messiado de Jesus são abundantes nos Salmos, conforme é demonstrado no item 7° deste serviço.

05 – Uso dos salmos em ocasiões especiais. – Os títulos dos salmos dizem-nos que muito deles eram usados em certas ocasiões, como o sábado, as festividades religiosas, etc...

Para exemplificar, o Sl 92 era usado no sábado, e talvez igualmente o Sl 136.

Os Sl 120 – 134 são conhecidos como “Salmos dos Degraus”, porquanto eram entoados pelos peregrinos quando subiam a Jerusalém, para celebrar; as principais festas dos Judeus.

Alguns eruditos pensam que vários salmos eram usados na festa anual de entronização de Yahweh, como Rei de Israel, um costume que tinha paralelos no paganismo. Os Salmos 47; 93; 95 – 99 são designados como tais.

E alguns estudiosos supõem que essa prática se alicerçasse sobre a festa do ano Novo na Babilônia, o Akitu, quando o deus Marduque era carregado pelas ruas da cidade de Babilônia.

Depois de um elaborado ritual, era-lhe conferido mais um ano de autoridade no país, como um rei divino.

Presumivelmente, as palavras de Sl 24.7-8: “Levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória... o Senhor poderoso nas batalhas”, refletem aquele costume, que teria sido copiado pelos israelitas.
 
Mas a maior parte dos eruditos conservadores assevera que salmos que supostamente aludem a essa festa podem ser explicados melhor de outras maneiras.

Talvez aquelas assertivas do Sl 24 reverberem o transporte da Arca da Aliança para Jerusalém.

Além disso, os salmos que exaltam ao Rei, de modo geral, fazem-no Rei sobre todas as coisas e sobre todos os povos, e não meramente sobre Israel. E isso pode ser um argumento contra a interpretação que fala em uma entronização especifica do Rei divino sobre a nação de Israel.

Essa universalidade pode ser vista em Salmos 93; 95-100.

Com base em raciocínios subjetivos, alguns eruditos opinam que Israel jamais haveria de emular uma festividade pagã, e argumentam que não há nenhuma evidência convincente e direta de que havia tal festividade em Israel. Outrossim, de que adiantaria ao homem entronizar a Deus?

Em sociedades idólatras, ideias assim podem parecer razoáveis; mas não nas comunidades onde Deus aparece como todo-poderoso e transcendental.

06 – Crítica de Forma: formas literárias.

Hermann Gunkel, em sua obra Awrewahlte Psalmen, 1905, procurou demonstrar, no livro de Salmos, cinco distintas formas literárias que, por sua vez, implicariam usos específicos dos Salmos.

Essas formas literárias seriam:

a - Hinos para cultos de adoração publica;

b – Lamentações e intercessões coletivas, em tempos de desastre nacional;

c – Salmos reais, cuja função prática era a de confirmar a autoridade do rei, como cabeça da teocracia em Israel;

d – Salmos de ação e graças;

e – Lamentações, intercessões e confissões individuais, além de pedidos para que fossem supridas necessidades pessoais.

Não parece haver nenhuma razão para duvidarmos da exatidão geral dessas observações.

Pois podemos estar certos de que havia um uso coletivo e comunal dos salmos, embora também houvesse um uso individual e privado.

07 – Magia contra encantamentos.

Alguns estudiosos tem sugerido que trechos do livro de Salmos, como 6.6-8; 64.2-4; 69; 91; 93.3-7 e 109, talvez fossem usados como fórmulas mágicas, para neutralizar as forças demoníacas. Isso poderia envolver uma prática coletiva e cultural, ou então uma prática individual. Argumentos em favor e contra essas práticas (mormente no caso do uso dos salmos), estão baseados em sentimentos e raciocínios subjetivos, porquanto é extremamente difícil determinar quanta verdade possa haver nesse parecer. Seja como for, sabemos que tais práticas eram e continuam sendo comuns em muitas culturas. Sempre haverá muitas forças malignas ao nosso redor, que precisarão ser exorcizadas.

IX – A poesia dos hebreus

Como é evidente, os Salmos são grande coletânea de composições poéticas da Bíblia. Quedamo-nos admirados diante da qualidade de muitas dessas antigas peças literárias, algumas das quais são obras-primas em miniatura. A poesia teve uma antiga e longa tradição na literatura dos hebreus.

X – Pontos de vista e ideias religiosas

01 – Apesar de os Salmos serem composições líricas, expressões emocionais e de fervor religioso, também transmitem muitos pensamentos, e, indiretamente, apresentam muitas doutrinas.

A teologia hebréia geral faz-se presente, com algumas adições, como a crença na existência da alma e sua sobrevivência diante da morte biológica, e um fortíssimo tema messiânico.

O estudo sobre os temas, no item 6° deste serviço, onde os principais temas são alistados, dá uma ideia sobre a multiplicidade de ideias apresentadas nesse livro da Bíblia.

02 – A existência da alma e sua sobrevivência diante da morte física foi uma doutrina que só passou a ser expressa mais tarde, no judaísmo. No Pentateuco, não há nenhuma referência clara e indisputável a esse fato. Muitas leis nunca são associadas a alguma recompensa ou punição pós-tumulo. Não faltamos com a verdade ao afirmar que a maior parte dos ensinamentos do judaísmo sobre essa questão foi tomada por empréstimo. Tendo começado a ser expressa nos Salmos e nos livros dos profetas, foi nos livros apócrifos e pseudoepígrafos, porém, que esse assunto encontrou  seu maior desenvolvimento, antes do começo do Novo Testamento. O relato sobre Saul e a feiticeira de En-Dor demonstra a crença na existência da alma no tempo de Davi. Vejamos I Sm 28.3. Quanto a interessante narração do encontro de Saul com o espírito de Samuel.

Indicações existentes no livro de Salmos, acerca da crença na existência da alma são: Sl 16.10-11; 17.15; 31.5; 41.12; 49.9, 14-15.

03 – Os salmos imprecatórios, de fervorosa invocação a Deus para que mate os inimigos, podem ser facilmente entendidos dentro do contexto histórico, quando o povo de Israel quase sempre via-se sob a ameaça de um  punhado de inimigos mortais; e o próprio rei Davi, como indivíduo, sempre teve de enfrentar tais dificuldades.

Naturalmente, a atitude desses salmos não é a mesma que a de Jesus, o qual exortou aos homens para que amassem seus inimigos.

As imprecações fazem parte da natureza humana, e não nos deveríamos nos surpreender em encontrá-las nas páginas da Bíblia. Porém, é ridículo defender a espiritualidade das imprecações propriamente ditas.

Muitos estudiosos conservadores tem tentado fazer precisamente isso.

Talvez o comentário de C. I. Scofield, em sua introdução ao livro de Salmos, seja o mais sugestivo que podemos encontrar: “Os Salmos imprecatórios são um grito dos oprimidos, em Israel, pedindo justiça, um clamor apropriado e correto da parte do povo terreno de Deus, e alicerçado sobre promessas distintas do pacto Abraâmico (Gn 15.18); porém, um clamor impróprio para a Igreja, um povo celeste que já tomou seu lugar junto com um rejeitado e crucificado Cristo (Lc 9.52-55)”. Exemplos de Salmos imprecatórios são os de números 35, 59 e 109.

04 - O ensino sob re o Messias, apesar de não tão avançado quanto no livro de I Enoque (se comparados aos conceitos que figuram no Novo Testamento), é surpreendentemente extenso.

Dedicamos o item 7° deste serviço a ao assunto.

05 – apesar de que muitos dos salmos foram designados para um uso litúrgico, neles aparecem muitas indicações de uma apropriada atitude individual espiritual, bem como da correta espiritualidade pessoal.

Quanto a esse aspecto, os salmos concordam, grosso modo, com os livros dos profetas (vejamos Sl 15.01; 19.14; 50.14,23; 51.165).

06 – Há uma exaltada doutrina de Deus nos salmos tão generalizada que aparece praticamente em todos os salmos.

07 – A importância da experiência religiosa pessoal é uma ênfase constante no livro de Salmos.

Deus é retratado como quem está a disposição dos seres humanos, refletindo assim o ensino do teísmo, e não do deísmo.

O teísmo ensina que Deus não somente criou, mas também permanece interessado na sua criação, intervindo, recompensando e castigando.

Mas o deismo alega que Deus, ou alguma força criadora, após ter criado tudo, abandonou o mundo, deixando-o a mercê de forças naturais. (Os epicureus, seita dos tempos de Paulo eram deístas).

08 – São ressaltados os deveres do homem para com Deus, como o arrependimento, a vida santificada, a adoração, o louvor, a obediência através do serviço e o amor ao próximo.

09 – A adoração pública é uma questão obviamente frisada no livro de Salmos, visto que, muitas dessas composições eram usadas exatamente nesse contexto.

Precisamos pesquisar pessoalmente as questões religiosas; mas também precisamos fazê-lo coletivamente.

A participação na adoração pública é encarecida em trechos como Sl 6.5; 20.3; 51.19; 66.13-15.

10 – A adoração não ritual não é desprezada, devendo fazer parte integrante da busca espiritual dos homens. (Sl 40.6 e 50.9)

XI – Canonicidade

Para os saduceus, somente o Pentateuco era considerado digno de ser chamado de escrituras Santas e autoritárias.

Já para os judeus palestinos, como era o caso dos fariseus, as três grandes; seções do livros sagrados aceitos eram: o Pentateuco, os Escritos (que incluíam os salmos) e os Profetas.

Na ordem da arrumação judaica, os Escritos formavam a terceira seção.

Entre os judeus da dispersão, vários livros apócrifos eram aceitos.

E não é inexato falar sobre o Cânon alexandrino.

Além disso, haviam as obras pseudoepígrafas, revestidas de prestigio suficiente para que muitas ideias ali contidas fossem aproveitadas pelos escritores do Novo Testamento, embora como uma coletânea, os livros pseudepígrafos nunca tivessem obtido condição canônica.

É que a canonicidade origina-se essencialmente, do valor interno de uma obra escrita, que se torna óbvio para todos quantos a lêem, além de originar-se na consagração da antiguidade, o que uma é uma espécie de processo histórico religioso, e, finalmente, de originar-se de pronunciamentos oficiais da parte de lideres religiosos, pronunciamentos esses que formam a base tradicional acerca dos livros sacros. Os estudiosos conservadores pensam que o poder e a presença do Espírito Santo estão envolvidos nesses vários aspectos da questão. Mas os eruditos liberais mais radicais são da opinião de que o processo inteiro depende da mera seleção natural (uma espécie de seleção do leitor, aplicada às questões religiosas); mas, assim pensando, esses eruditos olvidam-se totalmente do elemento sobrenatural e dos poderes divinos por trás desse processo.

Se a coletânea dos Salmos foi se formando através de um longo período de tempo, chegando a ser compilada somente após o cativeiro, então nenhuma canonização final poderia ter ocorrido até estar completa a coletânea.

Porém, as coletâneas preliminares (como aquelas de Davi, de outras antigas personagens e de clãs de músicos), tiveram suas próprias canonizações preliminares, o que explica a sua preocupação no decorrer de muitos séculos.

“No caso dos livros I, II e IV do Saltério, a canonização deve ter ocorrido com considerável presteza.

O Salmo 18 foi incluído dentro do livro canônico de Samuel, dentro de meio século após a morte de Davi... Os Salmos 96, 105 e 106 foram designados por Davi como um padrão para a adoração pública, bem no início de seu governo sobre todo Israel (ICr 16.7-36).

A designação de muitos outros salmos, para que os músicos os preparassem para a adoração prestada por Israel, serve de evidencia de uma similar canonização consciente dos poemas de Davi.

E o fato de que Davi e Salomão compilaram intencionalmente os livros I, II e IV, quando ainda viviam, fornece-nos testemunho extra do reconhecimento da autoridade espiritual pelo menos daqueles oitenta e nove salmos pelos contemporâneos desses dois monarcas.”

O livro II, portanto, que contém as porções pós-exílicas do livro de Salmos, foi acrescentado.

Talvez muitos dos salmos ali envolvidos fossem pré-exílicos e já fizessem parte da coletânea.

Há pouco ou mesmo nenhum testemunho externo quanto a aceitação canônica do Livro de Salmos, até o período intertestamentário. Somente então obtemos algumas declarações acerca do uso desses poemas.

Por exemplo, o trecho de II Macabeus 2.13 refere-se aos livros de Davi, juntamente com os escritos de outros reis e de profetas.

A passagem de Salmo 79.2 é citada como Escritura.

Os Salmos já faziam parte da versão da Septuaginta do século III a.C., o que significa que o recolhimento e a autoridade desses poemas devem ter sido cristalizados antes do preparo daquela versão.

O material das cavernas Qumran, do século II a.C., também exibe os Salmos, o que serve de outro índice da aceitação da coletânea desde tempos mais remotos do que alguns estudiosos tem pensado.

O rolo principal dos Salmos, encontrado na caverna II (além de cinco fragmentos), apresenta amplo material extraído dos livros IV e V dos Salmos.

Esse material, porém, apresenta alguma variação na ordem sucessiva dos salmos, sugerindo que houvesse certa fluidez no arranjo dos salmos, e que o livro de Salmos ainda não havia chegado a sua forma final, conforme o conhecemos atualmente.

Entretanto, alguns especialistas pensam que os salmos achados na caverna II formavam uma espécie de lecionário, e não uma completa coletânea dos salmos, em sua ordem normal. Porém, é impossível determinar a verdade por trás dessa questão. Seja como for, de acordo com o arranjo final dos escritos do Antigo Testamento, encontramos a Lei, os Profetas e os Escritos.

Josefo, o historiador, referiu-se ao Antigo Testamento, como uma coletânea de 22 livros: Pentateuco, 05; Profetas, 13; e os hinos de Deus e Conselhos dos Homens (Apion, 1.8), que incluíam os Salmos, Provérbios, Eclesiastes; e cânticos dos Cânticos.

Temos as próprias declarações canônicas do Senhor Jesus, em Mt 23.35 e Lc 24.44.

Os Salmos são o segundo livro mais volumoso da Bíblia, perdendo somente parta as profecias de Jeremias, mas o livro de Salmos é o mais constantemente citado no Novo Testamento.

É dificílimo pôr em dúvida sua posição no cânon da Bíblia e sua autoridade espiritual.

XII – Os Salmos no Novo Testamento

Os Salmos são citados no Novo testamento por cerca de 80 vezes, o que significa que, dentre todos os livros do antigo Testamento, esse foi o mais constantemente utilizado pelos autores neotestamentários.

Demos no item VII deste serviço uma interpretação messiânica. A muitas dessas citações.

Salmos                             Novo Testamento
      
2.1                                    At 4.25-26
2.7                                    At 13.33; Hb 1.5; 5.5
4.4                                    Ef 4.26
5.9                                    Rm 3.13
8.3 (LXX)                        Mt 21.16
8.4-6 (LXX)                     Hb 2.6-8
8.6                                    I Co 15.27
10.7                                  Rm 3.14
14.1-3                               Rm 3.10-12
16.8-11                             At 2.25-28
16.10                                At 2.31
16.10 (LXX)                    At 13.35
18.49                                Rm 15.9
19.4                                  Rm 10.18
22.1                                  Mt 27.46; 15.34
22.18                                Jo 19.24
22.22                                Hb 2.12
24.1                                  I Co 10.26
31.5                                  Lc 23.46
32.1-2                               Rm 4.7-8
34.12-16                           I Pe 3.10-12
35.12                                Jo 15.25
36.1                                  Rm 3.18
40.6-8                               Hb 10.5-7
41.9                                   Jo 13.18
44.22                                 Rm 8.36
45.6-7                                Hb 1.8-9
51.4                                   Rm 3.4
53.1-3                               Rm 3.10-12
68.18                                 Ef 4.8
69.4                                  Jo 15.25
69.9                                  Jo 2.17; Rm 15.3
69.22-23                           Rm 11.9-10
69.25                                Mt 1.20
78.2                                   Mt 13.35
78.24                                 Jo 6.31
82.6                                   Jo 10.34
89.20                                 At 13.22
91.11-12                           Mt 4.6; Lc 4.10-11
94.11                                 I Co 3.20
95.7-8                               Hb 3.15; 4.7
95.7-11                             Hb 3.7-11
95.11                                Hb 4.3-5
102.25-27                         Hb 1.10-12
104.4                                Hb 1.7
109.8                                At 1.20
110.1                           Mt 22.44; 26.64; Mc 12.36; 14.62; Mt 2.34-35;
                                          Hb 01.13
110.4                                 Hb 5.6, 10; 7.17, 21
112.9                                 II Co 9.9
116.10                               II Co 4.13
117.1                                 Rm 15.11
118.6                                 Hb 13.6
118.22                                    Lc 20.17; At 4.11; I Pe 2.7
118.22-23                        Mt 21.42; Mc 12.10-11
118.25-26                        Mt 21.9; Mc 11.9-10
118.26                        Jo 12.13; Mt 23.39; Lc 13.35; 19.38
132.11                             At 2.30
140.3                               Rm 3.13

XIII – Informes adicionais de suma importância

São de extrema valia ao que abaixo apresentamos, pois servem de conteúdo e vantagem que podemos extrair das passagens inspiradoras quando nos encontrarmos em devoções pessoais, ensinando lições e pregando a palavra de Deus.

01 – Os livros poéticos do antigo testamento

Os livros bíblicos que foram escritos em forma poética, e não em forma de prosa, são: Jó ou Job, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares de Salomão e Lamentações de Jeremias.

02 – Literatura de Sabedoria

No antigo testamento, os livros geralmente classificados como parte da literatura de Sabedoria (especialmente os Sl 19, 37, 104, 107, 147-148), Provérbios, Eclesiastes e Sabedoria de Salomão.

Nas páginas do Novo Testamento, a epistola de Thiago é a que mais se aproxima desse tipo de literatura religiosa.

03 – Título do Livro

As traduções modernas seguem o título da Septuaginta, que estampa a palavra salmos (psalmos), como tradução à palavra hebraica mizmor, a qual se refere a música executada mediante instrumentos de cordas em acompanhamento às recitações de 57 dos 150 Salmos. Por causa desse uso frequente, o livro todo finalmente veio a ser assim chamado na Septuaginta e, dali, nas traduções modernas.

O titulo hebraico do livro é Tehllin, “Cânticos de Louvores”.

04 – Salmos messiânicos

Certo famoso pregador afirmou que “todos os salmos são messiânicos”; ma isso por certo é um exagero.

Entretanto, há diversos salmos que são definidamente proféticos e messiânicos.

Os Salmos usualmente considerados messiânicos são: 2, 8.16, 22, 23, 24, 40, 41, 45, 68, 69, 72, 89, 102, 110 e 118.

Outros Salmos têm reflexos messiânicos.

05 – Salmos reais

Estão intimamente relacionados aos salmos messiânicos, e alguns deles realmente são também messiânicos, ao passo que outros apenas contêm alguns reflexos: salmos 2, 18, 20, 21, 45, 72, 89, 93, 96, 97, 98, 101, 110, 132 e 144.

06 – A fé e a vida religiosa.

Dentre todos os livros do antigo Testamento, Salmos é o que mais vividamente retrata a vida espiritual e a fé dos indivíduos em todas as circunstâncias, boas ou más, jubilosas e trágicas.

“A mais simples descrição dos cinco livros dos Salmos é que eles formam o livro das orações e dos louvores inspirados de Israel”.

São revelações da verdade, não de forma abstrata, mas em termos da experiência humana.

“As verdades assim reveladas estão carregadas de emoções, desejos e sofrimentos do povo de Deus, pelas circunstâncias através das quais esse povo passara”. (Scofield Reference Bible).

“O espírito vivo de qualquer religião brilha mais esplendoroso por meio de seus hinos”.

O Saltério é o hinário da Antiga Nação de Israel, compilado a partir de composições líricas mais antigas, para ser usado no templo de Zorobabel (Ed 5.2; Ag 1.14).

“A maioria dos Salmos provavelmente foi composta para acompanhar atos de adoração no templo de Jerusalém.” (Oxford annoted Bible, Introdução).

07 – Classificações dos Salmos

A – Lamentação, o maior grupo, com mais de 60 dos 150 Salmos;

B – Ações de graças e louvor, mais de 30;

C – Hinos, 18;

D – Salmos reais, 17;

E – Salmos messiânicos, 15;

F – Litúrgicos, 11;

G – De sabedoria, 11;

H – De história sagrada, 9;

I – De chamamento a adoração, 8;

J – De confiança, 5;

K – Cânticos de Sião, 3;

L – De louvor a lei, 3;

M – De proteção, 91 (outros exprimem sentimentos similares);

N – De tipos mistos, nos quais nenhum tema é dominante, mas vários temas se fazem presentes;

O – De oração pela vitória na batalha, Sl 20 e partes de muitos outros;

P – Didáticos, partes de muitos salmos, sendo o Sl 15 um bom exemplo;

Q – De doxologia, Sl 150, que encerra a coletânea.

Muitos salmos se identificam com mais de uma classificação, e há salmos que contém uma mistura de temas.

08 – Cinco livros

Em imitação ao Pentateuco, o saltério divide-se em 05 livros, cada qual com a sua própria doxologia.

09 – Salmos de Davi

Cerca de metade dos salmos é atribuída a Davi, embora essa cifra não seja exata.

Davi foi o grande cantor de Israel (II Sm 23.1).

10 – Subtítulos

Essas composições não pertencem originalmente aos autores dos salmos, mas foram adicionados muito tempo após as composições terem sido originalmente redigidas.

Tentam identificar os autores envolvidos e ligam certos salmos a circunstâncias históricas do antigo Testamento. Mas a maioria das identificações é mera conjectura. Ocasionalmente, contudo, alguma informação útil pode ser encontrada.

11 – Um monumento literário

Reconhece-se universalmente que o livro de Salmos é uma das mais refinadas composições poéticas de todos os tempos.

O fato de que o Novo Testamento cita o livro de Salmos mais do que qualquer outro livro do antigo Testamento serve de confirmação espiritual dessa avaliação.

12 – Salmos e versos

Há 150 salmos, num total de 2.461 versos.

Este livro, portanto, ocupa cerca da décima parte de todo o antigo Testamento.



Livro de Provérbios

Total de capítulos: 31
Total de versículos: 915
Autor: Salomão (tradição)
Data: 700 a 400 a.C
Sumário


I    -  Pano de fundo
II  -  Unidade do livro
III -  Autoria
IV  -  Data    
         A - seção I      
         B - seção II     
         C - seção III e IV     
         D - seção V

         E - seção VI, VII e VIII
V -  Lugar de origem e destinatários
VI – Propósito do livro VII – Canonicidade
VIII – Estado do texto
IX - Problemas especiais           
           A – A figura da sabedoria          
           B – relação entre provérbios e a
Sabedoria e Amenemope          
                 1 – O documento egípcio             
                 2 – Relações léxicas
X     - Conteúdo e esboço do livro
            A – O conteúdo
                   1 – Gênero literário
                   2 – Assunto

             B – Esboço

XI - Teologia do livro

XII - Informações de suma importância


I – Pano de fundo

Sem importar se a autoria salomônica é aceita ou não, pode-se facilmente concordar que o pano de fundo do livro de Provérbios parece ter sido a corte real em Jerusalém.

Embora a literatura de sabedoria, no antigo Oriente Próximo, seja anterior ao livro de Provérbios, por mais de 1000 anos, aquela forma particular de instruções, endereçadas ao “meu filho”, parece-se mais com certas obras literárias egípcias, como “As instruções de ptahotepe, As instruções de Mari-Ka-Ré; As instruções de amem-em-hete e As instruções de Ani.

O Casamento de Salomão com a filha do Faraó pode ter conduzido esse grande rei israelita a interessar-se por esse tipo de instrução.

Características literárias individuais, como a mashel, o padrão X, X+1 e os longos discursos encadeados encontram paralelos na literatura semítica anterior.

Assim sendo, o livro de Provérbios deve ter atraído os leitores já familiarizados com aquela forma literária.

Muitos críticos modernos tem negado aos hebreus uma mente verdadeiramente filosófica, a qual caracterizaria mais os gregos.

Assim, na opinião desses críticos, os israelitas prefeririam depender das diretas revelações dadas do Alto, em vez de ficarem pensando à moda dos filósofos gregos, que criavam sistemas com base em conceitos.

Essa critica, porém, leva em conta somente uma das facetas da mente dos hebreus.

Outra faceta dessa mesma mentalidade mostra-nos que o povo israelita, tal e qual e qualquer outro, sabia confiar nos méritos de uma filosofia humana autêntica.

A grande diferença, porém, é que os hebreus não apreciavam a filosofia especulativa, que fica a imaginar como os mundos e os seus problemas teriam sidos criados; antes, eles preferiam olhar para uma orientação prática na vida.

E isso faziam de maneira intuitiva e analógica, e não em resultado de raciocínios dialéticos.

Isto explica porque os hebreus davam a essa forma de pensamento o nome de “Sabedoria”, porquanto, na busca pela solução diante dos problemas morais do homem, diante da vida, eles demonstravam muito mais amor pela sabedoria prática do que pelas especulações filosóficas.

Em vista disso, o livro de Provérbios, começando com máximas isoladas acerca dos elementos básicos da conduta humana, revela, de muitas maneiras sugestivas que os seus autores (vejamos autoria na seção III), cada vez mais se aproximavam, em suas apresentações, de uma postura filosófica.

No mínimo pode-se afirmar que eles tinham uma filosofia em formação.

Esse desdobramento pode ser visto até mesmo na maneira como o vocábulo hebraico mashal foi sendo cada vez mais usado com maior amplitude de significação, ao que já tivemos ocasião de referir-nos.

A mashal, em seus primeiros usos, era de natureza antitética, contrastando dois aspectos da verdade, de tal modo que o pensamento ali mesmo se completava, nada mais restando ao autor senão passar para algum outro assunto.

Isso produzia o bom efeito de por em contraste os grandes antagonismo fundamentais da existência humana neste mundo: a retidão e a iniquidade; a obediência e o desregramento; a indústria e a preguiça; a prudência e a presunção, etc.. o que analisava, mediante contraste, a conduta do individuo e dos homens da sociedade.

Entretanto, a partir do momento em que começam a prevalecer as mashalim ilustrativas e sinônimas, o estudioso toma consciência da maior penetração e ampliação do alcance do pensamento, porquanto começam a aparecer distinções mais sutis e descobertas mais remotas, e as analogias que ali se vêem passam a exibir uma relação menos direta entre causas e efeitos.

E então, avançando ainda mais no livro de Provérbios, especialmente quando atinge a seção transcrita pelos “homens de Ezequias, rei de Judá” (capítulos 25 – 29), podemos notar que cada vez mais se usa do artifício literário dos paradoxos e dos dilemas.

Além disso, a mashal amplia-se, ultrapassando a mera comparação entre dois contrastes.

Tudo isto, apesar de não ser ainda uma filosofia autoconsciente, chega a ser um passo decisivo nessa direção.

Um pressuposto básico dos escritores do livro de Provérbios é que a sabedoria e a retidão são idênticas, e a iniquidade é uma espécie de insensatez.Isso é ponto tão pronunciado no livro que chega mesmo a ser axiomático (claro, óbvio), emprestando ao volume o seu colorido todo especial. Isso transparece logo no primeiro provérbio, após as considerações iniciais sobre o filho sábio.

Lemos ali: ”Os tesouros da impiedade nada aproveitam; mas a justiça livra da morte” (Pv 10.2).

Com base nesse pressuposto básico, vêm à tona outros princípios não menos axiomáticos: a fonte de uma vida caracterizada pela sabedoria é o temor a Yahweh; quem quiser ser sábio precisa ter uma mente disposta a aprender a instrução, e a atitude contraria é própria da perversidade; sábio é aquele que não se deixa impressionar pelas vantagens passageiras obtidas pelos ímpios, ao passo que o insensato não percebe as vantagens da verdadeira sabedoria, o temor ao Senhor.

Esses princípios são constantemente reiterados no livro de Provérbios, não de forma sistemática, mas iluminando numerosos aspectos e aplicações às questões práticas da vida.

O principio que mostra que as más obras trazem em si mesmas as sementes da destruição, ao passo que o bem arrasta após si as bênçãos divinas, é um dos conceitos fundamentais do qual emergiu toda a filosofia de sabedoria dos hebreus.

De fato, essa capacidade de mostrar sagacidade nos pensamentos e nos conselhos, reduzindo-os a máximas ou parábolas, foi sempre tão admirada entre os israelitas que, desde antes de Salomão, os seus possuidores tornavam-se lideres naturais, bem reputados na comunidade de Israel. (II Sm 14.2 e 20.16).

E quem demonstrou maior habilidade, quanto a isso, do que o próprio Salomão? Não somente casos difíceis lhe eram trazidos para solução (vejamos I Rs 3.16-18), como também lhe eram apresentadas questões complicadas, para que ele fornecesse resposta (Vejamos I Rs 10.1, 6-7).

Portanto, foi com base no reconhecimento de que há homens dotados de tremenda sagacidade mental, capazes de aplicar esta habilidade as questões práticas da vida, que surgiu a literatura da sabedoria, incluindo o livro de Provérbios.

II – Unidade do livro

Visto que o próprio livro declara que se trata de uma coletânea, a sua unidade não depende de sua autoria. Antes, essa unidade encontra-se na natureza geral do seu conteúdo, os provérbios, declarações sucintas ou um pouco mais longas que exibem profunda sabedoria prática, aplicável a conduta diária dos homens.

A obra pertence à categoria geral da literatura, exaltando as virtudes da sabedoria (sob a forma de retidão) e condenando os vícios da insensatez (sob a forma de falta de temor a Deus).

III – Autoria

Tradicionalmente, o volume maior do livro de Provérbios tem sido atribuído a Salomão, filho de Davi e rei de Israel (Pv 1.1; 10.1; 25.1). Entretanto, o próprio livro de Provérbios menciona dois outros autores, a saber: Agur (30.1) e Lemuel (31.1). Quanto a esta questão, existem duas posições extremadas a saber:
1 – Salomão escreveu o livro inteiro de Provérbios; ou 2 - Ele não teve nenhuma conexão direta com a obra (excetuando que ele é o “autor tradicional”  e é patrono da literatura de Sabedoria).

Um terceiro ponto de vista, que ocupa posição intermediária e esta mais em consonância com o próprio testemunho bíblico, é aquele que diz que Salomão foi o autor de maior parte do volume do livro de Provérbios, à qual foram acrescentadas as obras de outros autores.

Assim, é apenas uma meia verdade aquela que diz que o livro de Provérbios não teve “Pai”, segundo afirmam alguns estudiosos. Pois, apesar de as declarações de sabedoria geralmente se originarem entre pessoas do povo comum, alguém foi o primeiro individuo a fazer essas declarações em uma linguagem epigramática.

Essa ideia é confirmada por nada menos de três vezes no volume do livro. “Provérbios de Salomão filho de Davi, o rei de Israel, (1.1); Provérbios de Salomão... (10.1); que em nossa versão portuguesa aparece como título, o que é um erro, pois faz parte do texto sagrado); e também “São também estes provérbios de Salomão, os quais transcreveram os homens de Ezequias, rei de Judá”. (25.1)

Por que duvidar do próprio testemunho bíblico?

Todavia, essa última passagem citada indica que Salomão não reunira todos os seus provérbios, formando um único volume.

Antes, ele deixara muitos de seus provérbios dispersos, os quais os copistas de Ezequias coligiram.

Se juntarmos a isso as palavras de Agur e de Lemuel, teremos o que é hoje o nosso livro de Provérbios.

Uma tola objeção à autoria salomônica é aquela que assevera que Salomão não era praticante das virtudes inculcadas no livro de Provérbios; por exemplo, Pv 7.6-23, que alguns pensam não refletir a vida de Salomão, porque ele teria tido um imenso número de mulheres e concubinas (vejamos I Rs 11.3, que diz: “Tinha (Salomão), 700 mulheres, princesas, e 300 concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração”).

Tal objeção, entretanto, olvida-se de que uma coisa é escrever obras de sabedoria, e outra, inteiramente diferente; é viver de maneira sábia.

Um homem pode trair os próprios princípios!

A narrativa sobre a vida de Salomão em I Rs caps. 3, 4; 10 (vejamos especialmente I Rs 4.30-34 e II Cr 9.1-24), dá a entender a sabedoria e a versatilidade inigualáveis de Salomão, na composição de afirmações de sabedoria.

Por igual modo, a afirmação de que os subtítulos (vejamos 1.1; 10.1 e 25.1), seriam meramente honoríficos, não correspondendo à realidade da autoria salomônica, não faz justiça a Salomão.

Mesmo que os subtítulos em 1.1 e 10.1 mostrem que pessoas posteriores compilaram provérbios esparsos de Salomão, nem por isso se negaria realmente a autoria salomônica.
Os compiladores não foram os autores. Eles compilaram o que já existia, e o que já existia era saído da pena de Salomão. Além disso, o argumento que diz que as repetições, em duas seções diferentes do livro de Provérbios, ou mesmo em uma de suas seções, elimina uma única autoria, esquece o fato de que os autores muitas vezes repetem o que dizem, e que os editores ou compiladores tinham por costume reter passagens duplicadas, conforme se vê, por exemplo, nos casos de Sl 14.1 e 5.11.

A questão da autoria do trecho de Pv 22.17 – 24.34 está vinculada ao problema da relação entre essa seção e a obra “A Sabedoria de Amenemope”, o que é ventilado mais adiante.

Durante as discussões e controvérsias que houve entre os judeus do século I d.C, acerca do cânon do antigo Testamento, o livro de Provérbios foi classificado, juntamente com os livros de Eclesiastes e de Cantares de Salomão, como “salomonico”, conforme se aprende em Shabbat 30b.

O livro de Provérbios, conforme existe em nossos dias, deve ter tomado forma após os dias do rei Ezequias (vejamos Pv 25.1), isto é, após 687 a.C.

De fato, Fritsch (IB, 4° volume, pág. 775) pensa que a forma final pode ter sido alcançada somente por volta de 400 a.C.

Outros asseveram que a coletânea final (incluindo as palavras de Agur e de Lemuel) deve ter sido feita em algum tempo entre os dias do rei Ezequias e o começo do período pós-exílico, o que daria, mais ou menos, o mesmo resultado.

Alguns estudiosos modernos, de tendências liberais, observam que devem ser levadas em conta as “palavras dos sábios” referidas em Pv 22.17 e 24.23. Para eles, isso representa mais alguns autores, embora anônimos. Entretanto, não é absolutamente necessário aceitarmos esta opinião.

Salomão poderia estar meramente referindo-se a afirmações que antigos sábios haviam feito, mais ou menos de conhecimento geral em sua geração, às quais, agora, ele emprestava uma forma epigramática.

É muito melhor ficarmos com a ideia da autoria salomônica, claramente declarada no próprio livro de Provérbios por três vezes, conforme já tivemos ocasião de verificar, do que imaginar uma multiplicidade de autores, segundo o sabor da alta crítica, que sempre quer exibir erudição multiplicando autores e atribuindo aos livros da Bíblia uma data posterior a qual eles realmente pertencem.

IV – Data

Duas questões diferentes estão envolvidas no problema da data do livro de Provérbios, a saber:
a – a data em que cada seção do livro foi escrita (vejamos a seguir quanto às seções do livro);
b – e, então, a data em que foi feita a “coletânea” ou a “editoração”, das várias seções, a fim de formar um único volume (rolo), naquilo que hoje conhecemos como livro de Provérbios.

Os eruditos conservadores seguem o ponto de vista tradicional da autoria salomônica do livro inteiro, excetuando os capítulos 30 (Agur) e 31 (Lemuel).

Isto posto, eles datam o volume maior do livro como pertencentes ao século X a.C., provavelmente dos últimos anos do reinado de Salomão.

A coletânea das várias seções, por sua vez, é datada pelos mesmos estudiosos conservadores, entre 700 a.C. e 400 a.C.

A paz e a prosperidade que caracterizam o período de governo de Salomão ajustam-se bem ao desenvolvimento de uma sabedoria reflexiva e a produção de obras literárias desta natureza.

Vários especialistas observam que as trinta declarações dos sábios, em 22.17 – 24.22, contém similaridades  com as trintas  seções da “Sabedoria de Amenemope”, produzidas no Egito, e que eram mais ou menos contemporâneas a época de Salomão.

Por semelhante modo, a personificação da sabedoria, tão proeminente nos cap. 1 – 9 (vejamos 1.10; 3.15-18; 8.1-36), pode ser comparada com a personificação de ideias abstratas em escritos em egípcios e mesopotâmicos pertencentes ao segundo milênio a.C.

O papel desempenhado pelos “homens de Ezequias” (vejamos 25.1) indica que importantes seções do livro de Provérbios foram compiladas e editadas entre 715 e 687 a.C, um período de renovação espiritual  encabeçada por aquele monarca judeu. Ezequias demonstrou grande interesse pelos escritos de Davi e de Asafe (II Cr 29.30).

Talvez também tivesse sido nesse tempo que foram adicionadas as coleções de provérbios de Salomão as palavras de Agur (cap. 30); de Lemuel (cap. 31); bem como as palavras dos sábios (22.17 – 24.22; 24.23-34), embora seja perfeitamente possível que o trabalho de compilação se tenha completado após o reinado de Ezequias, conforme também já demos a entender anteriormente.

Os eruditos críticos, por sua vez, rejeitam a autoria salomônica, pelo que datam cada seção do livro de Provérbios separadamente, em geral em datas muito posteriores à data tradicional da escrita e compilação do livro. Isso, por sua vez, leva-os a datar a coletânea inteira no fim do período persa, ou mesmo do período grego. Porém, descobertas arqueológicas e filológicas recentes tem feito alguns desses eruditos abandonar uma data extremamente posterior, o que andava tão em voga na primeira metade do século XX.

Entre essas descobertas poderíamos citar o achado de declarações de sabedoria dos cananeus, bem como certos padrões linguísticos cananeus na literatura Ugarite.

O que é indiscutível é que o livro de Provérbios pode ser dividido em certas seções, conforme veremos abaixo:

Seção I

Esta seção tem sido datada como passagem relativamente posterior, porquanto supõe-se que foi escrita como uma espécie de introdução para o volume inteiro. Há quem pense que essa primeira seção seja pós-exílica, enquanto outros dizem que a personificação da sabedoria (vejamos o cap. 8) torna provável uma data dentro do séc. III  a.C. Porém, um terceiro grupo de estudiosos tem demonstrado que essa personificação, ou melhor, hipostatisação (da palavra grega hipostasis, que significa pessoa), é uma das características das religiões mesopotâmicas e egípcia.

A fórmula numérica de X, X + 1, encontra-se em Pv 6.16-19, ocorrendo também em textos ugaríticos (cfm. Gordon, Ugaritic Manual, págs. 34 e 201) do segundo milênio a.C.; Albright (Wisdom in Israel and in the Ancient Near East), pensa que essa seção é anterior aos Provérbios de Aicar, isto é, o séc. VII a.C. Fritsch segue a tendência  de dar uma data bem mais antiga á obra, ao afirmar que existem fortes influências ugaríticas e fenícias na primeira seção de Provérbios, e que os seus caps. 8 e 9 compõem “uma das porções mais antigas do livro”.

Um exemplo dessa influência ugarítica, que damos aqui como ilustração, é uso do termo Lahima, “comer”, que só pode ser encontrado por seis vezes no Antigo Testamento, quatro delas no livro de Provérbios.

Quando isso é combinado com a opinião de Scott (Anchor Bible, “Proverbs”, págs 9, 10), que disse  que os capítulos 1° ao 9° foram escritos como introdução a uma unidade já existente (isto é, os caps. 10 – 31), a mais antiga data provável para essa primeira seção faz com que uma data salomônica para as demais a ele atribuídas se torne bastante plausível. Entretanto, Scott considera que esta primeira seção do livro é um elemento posterior dentro do livro de Provérbios.

O longo discurso desta seção (em contraste com o estilo de aforismos do restante) encontra paralelos na antiga literatura de sabedoria egípcia e acádica.

Os aramaismos ali existentes, ao contrário do que antes alguns supunham, argumentam em favor de uma data mais antiga, e não, uma mais recente.

Seção II

Este segmento do livro de Provérbios é considerado salomônico pelos eruditos conservadores, como coletânea gradualmente feita, talvez com um núcleo salomônico, que teria atingido seu presente estado no séc. V ou no séc. IV a.C.

O escritor moderno, Paterson, considera que essa é a porção mais antiga do livro de Provérbios.

Seção III e IV

Estas seções estão envolvidas na questão da dívida literária a Sabedoria de Amenemope, que será discutida mais abaixo.

A ideia de que esta seção depende muito de uma obra egípcia possibilita uma data entre 1000 e 600 a.C., tudo estando na dependência da data da obra egípcia. Por isso mesmo, Paterson pensa que esta porção é pré-exílica, embora posterior a 700 a.C.

Seção V

De acordo com seu subtítulo, esta seção vem da época do rei Ezequias, porém, a autoria real pode ter pertencido ao séc. X a.C.

Seções VI, VII e VIII

Há uma diferença na colocação destas três seções do livro de Provérbios, entre a Septuaginta e o texto massorético. Por isso mesmo, Paterson pensa que, originalmente, cada uma dessas seções corresponde a antigas coletâneas separadas.

A base de alegadas artificialidades, ele as colocou em data posterior. No entanto, a forma acróstica de composição, que alguns eruditos modernos consideram artificialismo, era um método favorito de composição de poemas entre os antigos hebreus.

Scott afirma que os poemas acrósticos apareceram muito antes do exílio do séc. VI a.C. E, visto que a literatura de sabedoria transcendia às fronteiras nacionais, a história política internacional oferece-nos pouca ajuda para fixar alguma data para estas três seções do livro de Provérbios.

V – Lugar de Origem e destinatários

O livro de Provérbios provavelmente originou-se nos círculos palacianos de Jerusalém.

As porções salomônicas (excetuando a seção transcrita pelos “homens de Ezequias, rei de Judá”; vejamos capítulo 25.1), podem ter sido registradas pelos escribas desse monarca descendente de Salomão. À essas coletâneas de provérbios, pois, os escribas reais adicionaram as seções VI – VIII. O seu conteúdo indica que o livro de Provérbios tinha por intuito instruir os filhos das famílias nobres. Assim, embora estas instruções sejam endereçadas frequentemente a “meu filho”, estava em pauta uma audiência muito mais ampla. A sabedoria dos sábios destinava-se a “todos” (Paterson, pág. 54)

VI – O propósito do livro

O próprio livro de Provérbios assevera o seu propósito em Pv 1.2-4, ou seja, infundir sabedoria e discrição aos homens, especialmente no caso dos símplices, destituídos de experiência na vida.

Lemos no 4° verso “...para dar aos simples prudência, e aos  jovens conhecimento e bom siso”. É perfeitamente exequível que esse também tenha sido o propósito do livro inteiro: orientar os homens na conduta prática diária. Essa sabedoria, esse temor a Yahweh, é algo necessário para a formação de um caráter bem cultivado.

A coletânea dos provérbios, pois, serviria de livro de informações útil para estudos públicos ou privados.

Os provérbios inculcaram a moralidade pessoal, além de um direto “bom senso”.

Paterson conseguiu extrair bem o propósito do livro de Provérbios ao escrever o alvo desse livro é: “... diminuir o número dos tolos e aumentar o número dos sábios. (pág. 54)

Embora o livro de Provérbios seja uma obra de cunho eminentemente prático, ensinando como o homem deve viver diariamente, a sabedoria ali ensinada está solidamente escudada sobre o temor a Yahweh (vejamos, por exemplo, cap. 1.7, que declara: “O temor do Senhor é o principio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino”.

Por todo o volume, esse respeito ao Senhor é apresentado como a senda que leva a vida e a segurança (3.5; 9.10; 22.4).

No dizer de Pv 03.18, a sabedoria é: “...arvore de vida para os que a alcançam, e felizes são  todos os que a retém”.

VII – Canonicidade

  Na obra hebraica, Shabbat (30b), Provérbios é listado como um livro de canonicidade disputada, nos fins do séc. I d.C., juntamente com os livros de Eclesiastes e Cantares de Salomão. Mas a sua associação com outras obras reconhecidamente salomônicas, nessa afirmativa judaica, parece favorável ao argumento de que o livro era canônico, e assim era considerado.

Outro tanto se vê em M. Yadaim (3.5), onde diferentes opiniões aparecem no tocante à canonicidade  de Eclesiastes e Cantares de Salomão, mas não há nenhum debate no tocante ao livro de Provérbios.

A LXX e aversão portuguesa concordam em dispor juntos todos os três livros atribuídos a Salomão, ou seja, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão.

De acordo com o Talmude (Baba Bathra, 146), o livro de Provérbios aparece depois dos livros de Salmos e de Jó e, em conformidade com Berakoth (57b), deveria figurar entre os livros de Jó e de Salmos.

A ordem de colocação nas modernas Bíblias (como na nossa versão portuguesa) deve estar alicerçada sobre certa tradição rabínica, que dizia que Moisés escreveu o livro de Jó, Davi escreveu Salmos, e que Ezequias compilou os Provérbios (Baba Bathra. 14b-45ª)

O trecho de Tg. 4.6, ao citar Pv 3.34, faz de tal maneira que mostra que o livro de Provérbios era considerado canônico  no séc. I d.C.

Em adição a isso, é com frequência que o Novo Testamento se refere à seção do antigo Testamento que contém o livro de Provérbios, a saber, Kethubim, os “escritos”, tachando-os de “Escritura” (no grego, graphé).

A sua inclusão na Septuaginta certamente favorece a ideia de uma bem remota aceitação do livro de Provérbios como parte integrante das Santas Escrituras. 

VIII – Estado do texto.

O livro de Provérbios, em sua maior parte, acha-se escrito em hebraico claro, estilo clássico.

Entretanto, existem algumas poucas passagens difíceis no texto das seções principais. 

O erudito Fritsch lista como vocábulos que tem causado problemas para os tradutores os seguintes: Amon (Pv 8.30); Yathen (30.31); Hibbel (23.34); Manon (29.21); Àluqah (30.15); Zarzir e Álqum (30.31).

A maioria das propostas de emendas, com o intuito de solucionar problemas textuais, não passa de conjectura.

Descobertas linguísticas recentes demonstram o valor de esperar por maiores informações em vez de apelar para emendas conjecturadas.

A Septuaginta é uma tradução frouxa, quase uma paráfrase. Exibindo marcas do ponto de vista dos tradutores. Em certos lugares a tradução é inteiramente corrupta. Inclui quase cem duplicatas de palavra, frases, linha e versículos que aparecem somente  por uma vez, no texto massorético. Além disso, omite algumas seções e adiciona outras.

Na Septuaginta, o trecho de Pv 30.1-14 vem depois de 24.22 (segundo o texto hebraico), e então segue-se 24.23-24 (segundo o texto hebraico).

Então a Septuagintga tem Pv 30.15 – 31.9, e então os caps. 25 – 29 (segundo o texto hebraico) e, finalmente, 31.10-31.

Essas anomalias tem levado os estudiosos a acreditar que o texto continuava fluido ao tempo em que foi feita a tradução da Septuaginta.

IX – Problemas Especiais

Duas particularidades que merecem atenção especial são:
1 – A figura da sabedoria, no 8° cap. de Pv;
2 – A relação entre o livro de Provérbios  (22.17 – 24.34) e a obra egípcia Sabedoria de Amenemope.

Ambos os itens estão diretamente vinculados a abordagens críticas quanto a autoria e a data do livro de Provérbios, razão pela qual os ventilamos aqui.

A – A figura da Sabedoria

Apesar de a sabedoria ser exaltada como uma virtude, por toda a seção de abertura do livro de Pv, como também em outros segmentos do livro, é no seu 8° capítulo que encontramos o tratamento “sabedoria”,  como uma hipostatisação. Ao que tudo indica ali esse atributo divino aparece como um ser que mantém inter-relações com os homens.

Em Pv 1.20-33; 8.1-36; 9.1-6, 13, 18, a sabedoria aparece em oposição a uma personagem similar, embora contraria, “ Senhora Loucura”.

A sabedoria aparece como um profeta que prega pelas ruas (Je 11.6 e 17.19-20).

Não há nenhum traço de politeísmo no livro de Provérbios. Por conseguinte, qualquer tentativa de vincular o pano de fundo acerca de Salomão a Maát, Istar ou Siduri Sabatu, conforme fazem alguns, não é convincente nem tem base nos fatos.

A única questão que ainda resta ser ventilada é se a “Sabedoria” é uma verdadeira hipostatisação, isto é, um atributo ou atividade da deidade a qual foi conferida uma identidade pessoal.

Alguns estudiosos defendem que o oitavo capítulo de Provérbios simplesmente apresenta uma vívida personificação.

A intima correspondência entre as atividades da “Sabedoria”, no livro de Pv, e as atividades de Yahweh, no resto do Antigo Testamento, é algo deveras notável.

A sabedoria derrama o espírito (vejamos Pv 1.23, cfme. Is 44.3); Deus chama, Israel não responde (vejamos Pv. 1.24-26; Is 65.1, 2, 12, 13; 66.4); O Espírito de Deus  é a Sabedoria (vejamos Pv 8.14; Is 11.2); A sabedoria promove a justiça (Pv 8.15,16; cfme. Is 11.3, 5).

Da mesma maneira que a Sabedoria prepara o seu banquete (Pv 9.5, em oposição a mulher louca, que também tem o seu banquete, Pv 9.13-18), assim o faz Yahweh (Is 25.6; 55.1-3; 65.11-13).

Nos seus escritos, tanto o judaísmo posterior quanto o cristianismo referem-se ao papel desempenhado pela “Sabedoria” na criação – um desempenho que em muito se assemelha à sabedoria hipostatisada no livro de Provérbios.

O livro apócrifo Sabedoria de Salomão identifica a “Sabedoria” como “a modeladora de todas as coisas” (7.22), como “associada às obras (de Deus)” (Pv 8.4) e como “formadora de tudo quanto existe” (8.6).

Filo (de Sacerdota) afirma que a “Sabedoria” foi a fabricante do universo.

Alguns estudiosos procuram demonstrar a ligação entre o “Logos” do primeiro capítulo do evangelho de João, bem como a “Sofia” concebida pelos mestres gnósticos, com a Sabedoria”, hipostatisada do livro de Provérbios; porém, as conclusões desses eruditos não conseguem harmonizar-se entre si.

Se o erudito Scott (pgs. 71-72) está correto em sua vocalização da palavra hebraica ´Amon, para ´Omen (Pv 8.30), visto que ´Omen significa “artífice principal” ou então “criancinha”, segue-se que a “Sabedoria” é vista como aquela força hipostatizada que unifica todas as coisas (Eclesiástico 43.28; Sabedoria de Salomão 1.7; Cl 1.17 e Hb 1.3).

Embora alguns críticos tenham datado o livro de Provérbios como pertencente ao período helenista, em face da hipostatisação da sabedoria (sob alegação de que a tendência para as hipostatisações era forte durante o período de dominação grega), o fato é que há muitos paralelos entre o livro de Provérbios e o antigo mundo do Oriente Próximo, do segundo milênio a.C., ou mesmo antes. Entre esses paralelos, poderíamos citar os seguintes:
1 – a divindade egípcia de Mênfis, Ptá, teria criado as coisas com sua palavra e seu pensamento;
2 – em Tote de Hermapólis, a sabedoria divina e o deus criador aparecem personificados;
3 – a divindade suméria Ea-Enki fera chamada de “o verdadeiro conhecedor”;
4 – O deus babilônico Marduque, intitulado de “o mais sábio dos deuses”, teria conquistado Tiamate fé então criado a terra e o Homem;
5 – o altíssimo deus EI, do panteão ugarítico, é descrito como alguém cuja “sabedoria é eterna”.

Esses e outros exemplos hebraicos (vejamos Sl 74.13, 14; 82.1; Is 14.12-14; 27.1) demonstram claramente que, desde bem antes da época de Salomão, já se conhecia o artifício literário da hipostatisação.

Paterson fez um sumário da discussão da “Sabedoria”, afirmando que o trecho de Provérbios 8.22-23 é uma ousada confirmação e reafirmação da doutrina expressa em Gn 1.2.

Deus não criou um caos (cfme. Gn 1 e 2), e, sim, um “cosmos”, um todo organizado.

A sabedoria é a essência mesma do ser de Deus.

O universo não veio à existência por mero acaso, nem permanece existindo por suas próprias forças.

O mundo conta com uma teleologia, porquanto existe a teologia.

B – Relação entre Provérbios e a Sabedoria de Amenemope.

Desde que Adolph Erman ressaltou as similaridades existentes entre a Sabedoria de Amenemope e o livro de Provérbios (22.17 – 23.14), tem havido uma tendência geral para os estudiosos pensarem que essa passagem bíblica esta diretamente em divida com a aquela antiga obra de origem egípcia.

Todavia, os defensores da independência desse trecho bíblico de qualquer obra também aparecem em bom numero como E. Diroton, C. Fritsch e R.O. Kevin, para citar somente alguns.

Embora a preponderância da erudição encare o livro de Provérbios como se houvesse alguma dependência entre ele e a Sabedoria de Amenemope, há alguns argumentos sólidos suficientes para mostrar a inveracidade dessa dependência, conforme podem averiguar sérios estudiosos da Bíblia que queiram parar a fim de examinar todas as evidenciam disponíveis.

1 – O documento egípcio

Foi Sir E. Wallis Budge, no seu artigo Recuuil dÈtudes Egyptologigue... Champollion, em 1922, quem primeiro tornou conhecida a antiga obra egípcia Sabedoria de Amenemope.

Em 1923, ele publicou o texto completo da obra, com fotografias e uma tradução.

Outros eruditos trouxeram a público suas próprias traduções do original egípcio.

Mas foi Erman o primeiro a sugerir que as “excelentes cousas” a respeito das quais lemos em Provérbios 22.20 poderiam ser traduzidas por “trinta”, com base na divisão da Sabedoria de Amenemope em trinta capítulos.

Essa tradução envolvia uma modificação textual, uma nova vocalização de shalishim para sheloshim, no texto hebraico do livro de Provérbios.

E então Erman inferiu que o escritor teria, diante de si, os trinta capítulos da Sabedoria de Amenemope, tendo dali selecionado e incorporado trinta afirmações a seu próprio livro de sabedoria.

A verdade é que Oesterley e outros vêem pelo menos que 23 das 30 declarações daquela passagem do livro de Provérbios derivam da Sabedoria de Amenemope, Scott, por sua vez, afiançou que somente nove dessas declarações procedem daquela fonte.

Mas o preâmbulo do trecho  Pv 22.17-21 parece ser uma reformulação da conclusão da sabedoria de Amenemope.

Essa obra egípcia foi escrita por Amen-em-apete, egípcio nativo de Panápolis, em Acmim.

Ele era um supervisor de terras, evidentemente uma posição importante. Também foi um sábio e um escriba.

Devido a posição que ele ocupava, alguns estudiosos datam a sua obra como pertencente ao período pós-exílico de Judá (cfme. Esdras e Bem Siraque).

Entretanto, o gênero literário da sabedoria e a instituição dos escribas eram realidades bem-estabelecidas no antigo Oriente Próximo desde muito antes do tempo de Salomão.

A obra Sabedoria de Amenemope tem sido atribuídas diversas datas, desde cerca de 1300 a.C. (Plumley) ou 1200 a.C. (Allbright), até datas em torno do séc. VII a.C. (Griffith, Oesterley), ou do período persa-gregos (Lange).

A data mais antiga baseia-se em um ostracon que continha um extrato daquela obra egípcia.

Se isso for aceito, então torna-se quase uma certeza que o livro de Provérbios realmente tomou por empréstimo elementos do Sabedoria de Amenemope.

Existe mesmo a possibilidade de que aquele ostracon represente uma fonte informativa comum, usada tanto pelo livro de Provérbios quanto pela Sabedoria de Amenemope.

Seja como for, isso em anda afeta a inspiração do livro de Provérbios, porquanto o fenômeno da inspiração envolve até mesmo a seleção de material, como também a composição do material original.

2 – Relações léxicas

Vários estudos sobre a lexicografia de Sabedoria de Amenemope tendem a mostrar que seu vocabulário egípcio-semítico pertence ao estagio final do idioma egípcio.

Há indicações de que esse vocabulário da obra assemelha-se mais com a Septuaginta do que com o texto massorético.

Interessante é que, bem ora isso seja posto em dúvida por alguns eruditos, o uso de expressões idiomáticas semíticas no livro Sabedoria de Amenemope pode até mesmo mostrar que é essa obra egípcia que depende do livro de Provérbios, e não ao contrário, conforme dizem alguns estudiosos.

Assim é que, se o livro de Provérbios parece conter versículos espalhados por Sabedoria de Amenemope, essa obra egípcia parece conter versículos pelo livro de Provérbios.

Assim, os argumentos pró e contra parecem bem equilibrados. Também tem grandes possibilidades uma terceira posição, intermediaria, que diz que tanto a obra egípcia quanto o livro de Provérbios usaram antigas tradições orais comuns no antigo Oriente Próximo, ou mesmo algum apanhado dessas tradições, já sob forma escrita.

Também merece consideração a ideia de que a passagem do livro de Provérbios estava simplesmente usando “trinta capítulos” egípcios como modelo, e não como fonte informativa direta. E Scott exprime um ponto de vista parecido com isso.

X – Conteúdo e esboço do livro

O conteúdo do livro de Provérbios pode ser classificado em conformidade com quatro critérios: gênero literário, por assunto, por autoria e por motivos teológicos. Felizmente, as divisões feitas de acordo com os três primeiros critérios justapõem-se com facilidade, em quase todos os pontos.

A - Conteúdo

1 – Gêneros lieterários

As duas formas literárias que mais prevalecem no livro de Provérbios são:
1 – As declarações sucintas e expressivas usadas para transmitir sabedoria (os verdadeiros “provérbios”);
2 – Os longos discursos didáticos, do que são exemplos a primeira seção (caps. 1 – 9), e as seções 7ª e 8ª (caps 30 -31).

Praticamente todo o restante do livro cabe dentro da categoria dos “provérbios”

Pode-se definir um provérbio como “uma declaração breve e incisiva, de uso comum”.

Tipicamente, um provérbio é anônimo, tradicional o epigramático.

Conforme alguém já disse, um provérbio caracteriza-se por “sua brevidade, sentido e sal”. E conforme expressou com grande percepção Lord John Russel, um provérbio contém “a sabedoria de muitos e a argúcia de um só”.

Na segunda seção do livro de Provérbios há 375 dessas declarações. Dentre os 139 versículos dos capítulos 25 – 29, 128 são provérbios.

Com frequência, os provérbios assumem a forma de um símile gráfico (Capítulos 25 e 26).

Quase todo o livro de Provérbios, excetuando as seções primeira, sétima e oitava (1 – 9, 30, 31),  foi escrito formando duplas que se completam, ou dísticos.

Esse paralelismo – uma típica característica de poesia hebraica – ocorre com certa variedade de formas.

O chamado paralelismo sinônimo, em que a segunda linha reitera ou reforça a primeira, é a forma usualmente encontrada em Provérbios 16.10 – 22.15 (20.13).

O paralelismo antitético, em que a segunda linha expõe em contraste do que foi dito na primeira, ou uma reversão da ideia da primeira linha, é a forma de paralelismo usualmente encontrada nos capítulos 10 a 15 (Pv 15.1).

Ocasionalmente, vê-se no livro de Provérbios certa forma de paralelismo em que a segunda (ou terceira) linha adiciona algo ao pensamento expresso na primeira linha. Esse tipo de paralelismo sintético acha-se em 10.22.

Os capítulos 25 e 26 estão repletos desse tipo de paralelismo.

2 – Assunto

Três tipos latos de material são apresentados no livro de Provérbios, isto é:
a – instruções para que se abandone a insensatez e siga a sabedoria (capítulos 1 – 9);
b – exemplos específicos de conduta sábia ou de conduta insensata (as declarações gnômicas das seções II – V; capítulos 10 -29) e;
c – a vivida descrição acerca da mulher virtuosa (cap. 31; que talvez contrabalance o motivo do filho sábio, nos capítulos 1 - 9).

Em adição a isso, o conteúdo do livro de Provérbios pode ser  agrupado de acordo com os tópicos discutidos, como as declarações que versam sobre:
os males sociais  (22.28; 23.10; 30.14);
as obrigações sociais (15.6, 7, 17; 18.24; 22.24-25; 23.01-02; 27.06, 10);
a pobreza (17.5; 18.23; 19.4, 7, 17);
os cuidados com os pobres (14.31; 17.5, 19; 18.23; 19.7, 17; 21.13;  26.14-15);
as riquezas materiais como uma questão secundária (11.4; 15.16; 16.8,16; 19.1; 22.1), embora importante (10.22; 13.11; 19.4).

A vida domestica é um tipo frequente do livro (18.22; 21.9, 19; 27.15-16; 31.30), como também as relações entre pais e filhos (10.1; 17.21-25; 19.18,24; 22.24-25; 25.17).

O assunto da sabedoria já foi ventilado, anteriormente.

Em contraste com o sábio, encontramos o “louco”. Nada menos de quatro tipos de loucos podem ser discernidos no livro de Provérbios:

 a – O tolo símplice, que pode ser ensinado (Pv 1.4, 22; 7-8; 21.11); esse é o desmiolado;

b – O insensato empedernido (1.7; 10.23; 12.23; 17.10; 20.3; 27.22), que é um obstinado;

c - O tolo arrogante, que escarnece de todas as tentativas para iluminá-lo. Isso envolve uma atitude mental, e não tanto uma “incapacidade mental”, do que tal indivíduo se torna culpado (3.34; 21.24; 22.10; 29.8).

d – O louco brutal, morto para toda decência e boa ordem (17.21; 26.3; 30.22; Sl 14.1).

A conduta dos reis é um dos tópicos do livro (16.12-14; 19.6; 21.1; 25.5; 28.15; 29.14); O bom ânimo é encorajado (15.13-15; 17.22; 18.14); O uso da língua é discutido (10.20; 15.1; 16.28; 21.23; 26.4, 23); Também são mencionados outros hábitos ou características pessoais (11.22; 13.7; 22.3; 25.14; 26.12; 30.33). Finalmente são discutidos alguns aspectos do conceito da “vida”: sua fonte originária (10.11; 13.14; 14.27; 16.22); sua vereda (6.23; 10.17; 15.24); e também o conceito da vida propriamente dita (11.30; 12.28; 13.4-12).

B - Esboço

Quase todos os esboços que se tem traçado sobre o livro de Provérbios contém de quatro a dez seções principais.

As divisões naturais do livro, todavia, parecem indicar um esboço em oito pontos, com boa base na autoria provável e nos estágios da coleção de unidades separadas, posteriormente coligidas em um único rolo escrito em hebraico.

É o que podemos ver abaixo:

I - Instrução paterna: sabedoria versus insensatez (1 – 9)

II - Provérbios de Salomão: primeira coleção (10.1 – 22.16)

III - Palavra dos sábios: primeira coleção (27.17 – 24.22)

IV - Palavras dos sábios: segunda coleção (24.23-24)

V - Provérbios de Salomão: segunda coleção, feita pelos homens de Ezequias (caps. 25 – 29);

VI - Palavras de  Agur (Cap. 30)

VII - Palavras de Lemuel (31.1-9)

VIII – Esposa virtuosa (31.10-31)

Algumas dessas seções podem ser subdivididas.

Assim, para exemplificar, Scott vê 10 discursos de admoestação e dois poemas, além de algumas declarações gnômicas, na primeira seção, ao passo que Kitchen divide a mesma seção em catorze subdivisões.

Na segunda seção, a diferença no paralelismo entre os caps. 10 – 15 e 16.1 – 22.16, pode indicar uma divisão natural.

A segunda seção até Provérbios 23.14 parece estar intimamente relacionada a Sabedoria de Amenemope, enquanto o resto dessa seção não mostra tal relação, o que pode indicar outra divisão natural.

Na quinta seção, talvez se deva perceber uma diferença entre os caps. 25 – 27 (principalmente preceitos e símiles) e os capítulos 28-29 (principalmente declarações gnômicas, como em Provérbios 10.1 – 22.16).

Quase todas as declarações dísticas do livro de Provérbios encontram-se na segunda seção e em Provérbios 28 e 29.

Novamente, Scott subdividiu a sexta seção em um “dialogo com um cético” (presumivelmente Agur; 39.1-9) e “ provérbios numéricos e de advertência” (30.10-33), ao passo que Murphy divide essa seção após o versículo 14.

XI - A teologia do livro

Embora alguns estudiosos considerem o livro de Provérbios uma obra que ensina uma sabedoria secular e prática, um exame mais cuidadoso de seu conteúdo revela que este livro é exatamente teológico.

Assim, são ali salientados:
A soberania de Deus (16.4, 9; 19.21; 22.2);
A onisciência de Deus é claramente referida (15.3,11; 21.2);
Deus é apresentado com o criador de tudo (14.31; 17.5; 20.12);
Deus governa a ordem moral do universo (10.27, 29; 12.2);
As ações dos homens são aquilatadas por Deus (15.11; 16.2; 17.3; 20.27);
Até mesmo neste nosso lado da existência a virtude é recompensada (11.4;12.11; 14.23; 17.13; 22.4);
O juízo moral é mais importante ainda do que a prudência (17.23).

O povo hebreu não dispunha de um termo genérico para a ideia de “religião”.

Não obstante, o livro de Provérbios demonstra  esta ideia por intermédio da expressão “o temor do Senhor” (Pv 1.7; 9.10; 15.33; 16.6; 22.4), como também por meio daquela outra expressão que se acha nos livros dos profetas “o conhecimento de Deus” (vejamos por exemplo: Is 11.2; 53.11; Os 4.1; 6.6).

Essas duas ideias aparecem como um paralelo sinônimo, em Provérbios 2.5 e 9.10.

Interessante é observar que o livro de Provérbios ignora quase completamente o templo de Jerusalém e o culto religioso ali efetuado (o que serve de fortíssimo argumento contra uma autoria posterior do livro), excetuando algumas alusões bastante indiretas (Provérbios 3.9-10).

De fato, trechos de Provérbios, como 16.6 e 21.3, até parecem negar a necessidade dos sacrifícios levíticos (15.8 e 21.27).

O que se destaca no livro de Provérbios é o caráter vital da verdade  (28.4 e 29.18).

Citamos a última dessas referências: “Não havendo profecia o povo se corrompe; mas o que guarda a lei esse é feliz”.
Embora o vocábulo “aliança” só ocorra em Provérbios por uma única vez (2.16-17), não há que duvidar que esse conceito se faz presente no livro.

A confiança, base de todo o relacionamento de pacto, é um sine qua non (Pv 3.5, 7; 22.19; 29.25).

Deus é mencionado, na maioria das vezes, por Seu nome do pacto, isto é, Yahweh (nada menos de oitenta e sete vezes). Também é evidente a relação entre pai e filho, que tanto caracteriza a ideia de aliança (Os 11.1), conforme se vê em Provérbios 3.12. “Porque Deus repreende a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem”.

Um ponto que não pode ser esquecido, neste nosso estudo, foi a marca deixada pelo livro de Provérbios e seus conceitos no Novo Testamento.

Isso se faz sentir por meio de várias citações e alusões, conforme se vê nas duas listas abaixo, que servem apenas de exemplos:

A – Citações

3.7a (Rm 7.16); 3.11-12 (Hb 12.5-6); 3.34 (Tg 4.6; I Pe 5.5b); 4.26 (Hb 12.13a); 10.12 (Tg 5.20); 25.21-22 (Rm 12.20); 26.11 (II Pe 2.22).

B – Alusões

2.4 (Cl 2.3); 3.1-4 (Lc 2.52); 12.7 (Mt 7.24, 27).

Se consideramos que o livro de Provérbios é um extenso comentário sobre a lei do amor, então é certo que este livro canônico tem ajudado a pavimentar o caminho para Aquele que era tanto o Amor quanto a Sabedoria encarnados, o Senhor Jesus Cristo.

Se perguntássemos por que motivo a ultima seção deste livro termina com um hino de elogio a mulher virtuosa (Pv 31.10-31), a resposta seria que a esposa de nobre caráter  forma um arcabouço literário justamente com os discursos de introdução ao livro, nos quais a Sabedoria  é personificada como uma mulher.

Na vida diária nenhum paralelo mais feliz poderia ser encontrado como a personificação da sabedoria do que a de uma esposa de bom caráter.

Por conseguinte, o livro de Provérbios começa e se encerra com chave de ouro.

XII – Informações de suma importância

“O livro de Provérbios pertence a Literatura de Sabedoria de Israel.”

Esse é o gênero literário a que também pertencem os livros de Jó, Eclesiastes e alguns dos Salmos (exemplos: 1; 19; 37; 49; 73; 112; 119; 127; 128 e 133), no Antigo Testamento, e os livros apócrifos de Sabedoria de Salomão e Eclesiástico. E também o livro Pirke Aboth do Judaísmo posterior.

Tudo isso faz parte do grande corpo de literatura de sabedoria que existia por todo o Oriente Próximo e Médio nos tempos antigos”. (Charles Fritsch)

“O livro de Provérbios é um compêndio de instruções morais e religiosas, conforme dadas a juventude judaica por sábios profissionais no período pós-exílico. Inclui material muito mais antigo da longa tradição de treinamento na sabedoria considerada necessária para a boa vida... recompensas e punições seguem esta vida; seu apelo era as lições dadas pela experiência, e não tanto pela revelação divina: uma breve, mas significativa exploração da natureza da sabedoria e do relacionamento entre a sabedoria e Deus” (Osford annoted Bible, introdução).

Uma divisão em quatro livros:

Livro I: 1.1 – 9.18 – que contém dezesseis discursos extensos de admoestações, advertências e instruções, incluindo dos poemas que personificam a sabedoria (1.20-33 e 8.1-36).

Livro II – 10.1 – 22.16, intitulado Provérbios de Salomão, pleno de máximas expressivas sob a forma de linhas poéticas paralelas que tratam das virtudes, dos vícios e de suas consequências.

Livro III – 22.17 – 24.22, que são as admoestações de um professor à seu aluno (chamado de seu filho).

A principal ideia é o treinamento pela responsabilidade.

Em cada seção demos uma introdução mais completa dos livros.

Livro IV – 25.1 – 29 – 27, também chamado Provérbios de Salomão e com tipos similares de material, conforme se vê no livro II.

Quanto ao restante do livro, temos uma série de apêndices, que identificaremos conforme chegamos a eles.

Esses trechos são 30.1-9; 30.10-33; 31.10-31.

A passagem de 24.23-34 é considerada o primeiro desses apêndices.

Se isso é verdade, então temos cinco apêndices no total.

Sob a seção VII da Introdução, damos outro arranjo de materiais que incorporam o arranjo aqui apresentado.



Titulo: Eclesiastes

Capítulos: 12
Versículos: 222
Autor: Salomão (tradição)
Data: 950 a.C.
Versículo Chave: 1.2

Sumário


I - Caracterização Geral
II – Autor
        A – Em favor de Salomão como autor d livro
        B – Contra Salomão como autor do livro
III – Integridade

IV – Inspiração histórica da obra
V – Data
VI – Canonicidade
VII – Uso e atitudes cristãs
VIII – Conteúdo
IX – Informações adicionais de sumas importâncias

I – Caracterização Geral

Este livro representa um tipo pessimista de literatura de sabedoria oriental, que mistura declarações otimistas que sugerem que um segundo autor pudesse ter estado envolvido, ou que um compilador posterior misturou os sentimentos expressos por dois autores diferentes.

O titulo, no hebraico Qoheleth, que significa “Pregador ou Orador da Assembléia”, foi traduzido para Eclesiastes, no grego (Septuaginta), de onde deriva o titulo em português.

A base do vocábulo hebraico temos os substantivo “kahal”, que significa “Assembléia”. Presumivelmente, foi o próprio Salomão quem convocou a assembléia para entregar seus discursos de grande sabedoria.

Este livro contém uma coleção um tanto frouxa de material, sendo difícil estabelecer um estrito esboço do seu conteúdo.

O trecho de Ec 9.17 – 10.20 poderia ser incluído no livro de Provérbios.

Algumas porções apresentam o autor refletindo sobre suas próprias experiências ou admoestando outras pessoas, em vez de dirigir um discurso formal a algum tipo de assembléia.

A integridade do livro é difícil de ser defendida.

Quanto à peças literárias, este vocábulo aponta para o conceito de que o livro foi produzido essencialmente por um único autor; e que existe até hoje conforme foi originalmente escrito.

II – Autor

Precisamos lembrar que, nos tempos antigos, atribuir um livro a um autor famoso era considerado uma honra prestada a esse autor, especialmente se algumas de suas ideias estivessem sendo perpetuadas. Porém, muitas obras antigas eram atribuídas a pessoas bem conhecidas com o propósito próprio de promover certas ideias ou filosofias e com a esperança de que o nome vinculado ao livro ajudasse em sua distribuição. Os antigos simplesmente não pensavam como nós, no que concerne a essas práticas. Portanto, a afirmação de que certa pessoa é declarada autora de um antigo livro não garante que assim realmente tenha sucedido.

Um exemplo notório dessa atividade aparece nos livros chamados pseudepígrafos, uma coleção que tem vários nomes de profetas do antigo testamento ou lideres espirituais, como se eles fossem seus autores, embora a realidade tivesse sido outra.

É significativo que Manuscritos do Mar Morto incluam partes de vários destes livros, mostrando que as pessoas, bem ao lado da entrada de Jerusalém, consideravam como escritos sagrados.

Não nos deveria surpreender, portanto, que alguns poucos livros canônicos da Bíblia, no antigo Testamento, tenham a eles nomes vinculados como autores, embora a realidade fosse outra.

O trecho de Eclesiastes 1.1 atribuí o livro a Salomão, mas Lutero negava a veracidade dessa afirmativa. De modo geral os eruditos liberais concordam com a avaliação de Lutero, e é seguro dizer que muitos intérpretes conservadores também o fazem. Unger afirma que poucos estudiosos conservadores de nossos dias continuam defendendo a tese de que Salomão foi o autor do livro.

A – Em favor de Salomão como autor do livro

Temos a considerar os pontos seguintes:

1 – Eclesiastes 1.1 atribui a Salomão a autoria do livro e 1.12-13, quase certamente o faz.

2 – A sabedoria de Salomão é refletida em vários textos, com declarações que mostram Salomão a falar. Eclesiastes 1.16; 2.3-6  e 2.7-8

3 – O trecho de Eclesiastes 9.17 – 10.20 – contém muitos provérbios, o que sugere que o autor do livro de Provérbios (Salomão) também foi o autor de Eclesiastes.

4 – O caráter ímpar da linguagem e do estilo do livro parecem separá-lo das obras do período pós-exilíco, conforme alguns acreditam ser sua data. Isso poderia ser explicado como o desenvolvimento, por parte de Salomão, de uma espécie de gênero de linguagem e expressão literária.

Há alguma similaridade com os escritos cananeus e fenícios antigos, o que sugere que Salomão poderia ter tirado proveito dessa literatura, com adaptações próprias.

M.J. Dahood, em seu artigo “influência Cananeu-Fenícia no Qoheleth”, Bíblia, 33, 1952, defende essa comparação.

Ele examinou inscrições e escritos que datam do séc. XIV a. C., os tabletes de Ugarite, o Corpus Inscriptionum e inscrições fenícias e púnicas.

Tentou defender sua teoria com base em fatores como a ortografia fenícia, a inflexão dos pronomes e das partículas, a sintaxe e empréstimos léxicos, termos especiais referentes a itens comerciais e um vocabulário comercial.
Os trechos de I Reis 9.26-28 e 10.28-29 mostram que Salomão pode ter tido contato com a língua fenícia, tendo usado termos e expressões comerciais e estilos literários empregados pelos fenícios.

B – Contra Salomão como autor do livro     

Têm sido sugeridos os seguintes argumentos:

1 – Coisa alguma é mais clara, nos documentos antigos, do que o fato de que as declarações que afirmam autoria com frequência são espúrias.

2 – O autor sagrado pode ter sido um admirador de Salomão e de sua sabedoria, pelo que incluiu referências pessoais a ele, bem como, circunstâncias de sua vida, embora esse autor não fosse o próprio Salomão.

O que nos admira é que não existam ainda mais livros atribuídos a Salomão.

O livro apócrifo, Sabedoria de Salomão, é outro exemplo do nome desse monarca judeu sendo usado para dar prestígio a um livro.

3 – Um autor posterior poderia ter imitado os Provérbios de Salomão, tendo incluído no livro (Eclesiastes 9.17 – 10.20), uma breve compilação, chegando a tomar por empréstimo certos pensamentos, sem que ele mesmo fosse Salomão.

4 – Os argumentos de natureza linguística poderiam provar uma data antiga para o livro de Eclesiastes, mas também demonstrariam que o autor dificilmente poderia ter sido o mesmo autor do livro de Provérbios.

Ademais, um autor antigo, que tivesse escrito em um estilo bastante distinto, poderia ter tomado por empréstimo alguns elementos fenícios, sem que tivesse alguma conexão pessoal com Salomão.

De fato, a verdadeira natureza distintiva deste livro parece militar mais contra Salomão, como seu autor, do que em favor dele, a menos que, suponhamos que ele conseguisse escrever de duas maneiras inteiramente diferentes, quando passava de um livro para o outro, algo que sabemos ser contrário ao que conhecemos a respeito dos autores e seus livros.

A linguagem e o estilo literário são as impressões digitais dos autores, o que não se modifica facilmente de um livro para o outro senão a custa dos mais ingentes esforços. Exemplos históricos disso são dificílimos de achar.

5 – Certas idéias são contrárias a afirmação de que Salomão escreveu o livro de Eclesiastes.

Alguns eruditos simplesmente não podem entender como um homem com a sabedoria de Salomão, com uma postura judaica ortodoxa, poderia ter escrito um livro tão pessimista quanto Eclesiastes.

Paralelos egípcios e babilônicos demonstram que tal livro poderia ter sido escrito na época de Salomão, mas é inteiramente possível que aquilo que achamos neste livro sejam invasões do pensamento helenista cético.

De fato, o propósito do livro de Eclesiastes foi demonstrar que “tudo é vaidade” ou “inutilidade”; que não existem valores permanentes, e que um jovem deveria cuidar para não desfrutar o máximo de sua vida (hedonismo). (Vejamos Ec 1.2; 3.13 ss; 11.9 – 12.8).

O jovem que fizer isso terá pairando sobre sua cabeça o juízo divino, outro elemento da tese de que tudo é vaidade.

 “Faze o que bem entenderes; mas sabe que terás de pagar por isso”. Esse é um conselho muito difícil de seguir

É possível que Salomão, no declínio e na apostasia que caracterizaram sua idade avançada, na verdade, tenha caído nesse tipo de armadilha; e, nesse caso, isso poderia refletir a autoria de Salomão.
6 – Alguns linguistas detectam no livro de Eclesiastes um hebraico posterior, bastante diferente do hebraico da época de Salomão e mais próprio dos tempos helenistas.

7 – O pregador mostrou ser muito mais um filósofo e suas atitudes foram bastante similares às atitudes dos filósofos epicureus gregos, após o período da guerra do Peloponeso (404 a.C.).

A atitude negativa dos gregos contra a religião judaica reflete-se em livros como I Macabeus e o livro da Sabedoria, e o autor do livro de Eclesiastes, parece ser reflexo similar.

O autor sagrado teria chegado ao mesmo tipo de conclusões a que se chegaram seus vizinhos pagãos.

O livro, pois, representa uma espécie de meio caminho na direção do paganismo, embora com o desejo de manter a posição da antiga fé.

Por esse motivo, a lei continua sendo um elemento importante, e até mesmo o dever do homem (Ec 12.13), mas ela não conseguiu impedir que o autor sagrado chegasse a conclusões tão pessimistas.

8 – Finalmente, há a questão da canonicidade (vide seção Canonicidade).

Os próprios judeus não sabiam ao certo o que fazer como livro de Eclesiastes.

Se eles tinham certeza de que Salomão era o seu autor, não é provável que tivessem precisado de tanto tempo para incluí-lo no cânon do Antigo Testamento.

A canonicidade do livro é algo que continuava sendo disputado nas escolas judaicas dos dias de Jesus Cristo.

Após o exame das evidências disponíveis, parece que a autoria salomônica repousa mais sobre o desejo  de conservar a tradição do que sobre a consideração dos fatos envolvidos.

As evidências inclinam-se em favor de uma produção helenista, e não de uma produção que antecede a quase 1.000 a.C.

III – Integridade

Alguns eruditos argumentam em favor de dois autores distintos que teriam estado envolvidos na escrita de Eclesiastes, em vista de contradições nele encontradas.

Outros estudiosos, porém, supõem que isso possa ser explicado pela atividade de algum editor.

Há tentativas para atribuir ao Koheleth dois, três ou mais autores; mas as evidências em favor dessa forma de atividade estão longe de serem convincentes.

Por outra parte, é patente que algum editor procurou corrigir a incredulidade expressa pelo autor.

Esse autor tem sido chamado de “o maior herege da antiga literatura hebréia”, e algumas de suas declarações deixam consternados os eruditos da Bíblia, desde que o livro de Eclesiastes foi escrito

Para começar, sua filosofia básica de que tudo é vaidade (Ec 1.2) é uma atitude pessimista que não concorda com o pensamento comum dos hebreus.

O seu hedonismo (Ec 2.24 ss; 1.19 – 12.8), dificilmente concorda com a ética dos hebreus.

Uma mesma sorte atinge o sábio e o insensato (Ec 2.12-17), de acordo com ele, o que é contrário a essência da teologia hebréia.

Ele chega mesmo ao extremo de dizer “Pelo que aborreci a vida... sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento”. (Ec 1.17-18)

O sábio morre como o insensato, e ambos acabam no esquecimento (Ec 2.16-17).
Ele também nega a imortalidade da alma, pois o destino do homem seria o mesmo que o destino de um animal irracional – o espírito do primeiro subiria (para alguma outra forma de vida), ao passo que o espírito do segundo desceria, presumivelmente para ser esquecido – o que aparece sob a forma de uma indagação.

O autor demonstra esperança, mas não exibe muita fé.

Contudo o trecho de Eclesiastes 12.7 afirma categoricamente que “o espírito volta a Deus”.

A maioria dos eruditos pensa que em tudo isso há a obra de um editor, ou de um segundo autor, que procurou suavizar o ceticismo do autor original. Ou o autor original, ao chegar ao final do livro, apesar do seu desespero, resolveu deixar a sua sorte nas mãos de Deus e manifestou-se a favor da imortalidade como um meio de reverter o dilema humano?

Quase todos os estudiosos acreditam que o trecho de Eclesiastes 12.9-14, consiste em adições editoriais.

De fato, foi escrito na terceira pessoa do singular; Ele fala sobre o pregador como uma pessoa diferente dele mesmo.

Outras provas de que houve um  editor ou um segundo autor encontram-se em Eclesiastes 2.26, onde se faz clara distinção entre o sábio e o insensato. Ali lê-se que ao homem bom são conferidos sabedoria, conhecimento e alegria, ao passo que o ímpio é coberto de vexames.

Isso suaviza um tanto a filosofia do corpo: “Tudo é vaidade”.

O trecho de Eclesiastes 3.17 parece ser outra adição, visto que o autor apela para  o julgamento divino como meio de estabelecer diferença entre o homem bom e o mau.

O trecho Eclesiastes 12.12 provavelmente constitui uma crítica ao autor original, por parte do editor, louvando as declarações do homem sábio, que aparece como um Pastor (vs. 11), e adverte contra passar daí, o que, como é evidente, ele pensava que o autor fizera em seu pessimismo.

No ersículo 14, ele apela novamente para o juízo divino e indica que este é importante, apesar das declarações pessimistas do autor, pois seremos julgados de acordo com aquilo que tivermos praticado.

De fato, a passagem de Eclesiastes 12.9-14 é uma espécie de adição, onde são acrescidos valores e limitações ao livro, segundo o espírito de ortodoxia.

Se algum editor esteve atarefado nisso, é provável que o tenha feito mediante declarações mais otimistas e ortodoxas.

A – Em favor da integridade do livro

Alguns estudiosos pensam que as declarações contraditórias podem ser explicadas mediante suposição de que um único autor ficou divagando em seus pensamentos, defendendo ora uma posição ora outra, mostrando-se assim auto-contraditório, e isto sem se importar em procurar harmonizar ideias mais pessimistas com ideias mais otimistas.

Além disso, muitos pensam ser estranho que um editor tentasse salvar uma obra herética, cuja publicação só servia para prejudicar o judaísmo em sua corrente central.

A primeira dessas sugestões é possível.

Nós mesmos falamos nesses termos, algumas vezes; a segunda dessas sugestões constitui uma boa resposta, até onde podemos ver as coisas.

Qualquer pessoa que raciocine sobre o livro, apesar de seu pessimismo, fica impressionada pelo fato de que ele lê uma excelente peça literária.

Suas declarações são sucintas e precisas, curiosas, às vezes, dotadas de penetrante discernimento.

Há muitas boas citações, que são frequentemente ouvidas, extraídas desse livro.
Um editor qualquer, fascinado pela beleza do livro, contentar-se-ia em procurar corrigir alguns pontos falhos, em vez de descartá-lo inteiramente.

Sua excelência como peça literária é tão inequívoca que aqueles que finalmente fixaram o cânon hebreu (embora ortodoxo) não puderam deixar de incluí-lo, embora a questão há séculos viesse sendo debatida entre os judeus.

Nossa conclusão a respeito é que temos apenas um autor principal do Eclesiastes, que um editor posterior procurou tirar as arestas da obra original, e que o trecho de Eclesiastes l1.9-14 é sua nota de rodapé, como uma conclusão sobre a obra do autor.

Mas exatamente quanto material foi adicionado, é algo que terá de permanecer em dúvida.

IV – Inspiração histórica da obra

Se procurarmos entender o espírito deste livro, descobriremos que o autor era um filósofo que, embora judeu, havia sido influenciado pela pessimista filosofia dos gregos, especialmente da variedade epicuréia.

Os epicureus sentiam fortemente a inutilidade das coisas, objetando as ameaças de deuses imaginários, que receberiam homens que já teriam vivido de um modo miserável, para fazê-los sentirem-se mais miseráveis ainda, com seus múltiplos e horrendos julgamentos.

Eles preferiam o esquecimento à imortalidade, como maneira de pôr fim a tanto sofrimento; e reduziam os poderes divinos à entidades deístas.

Se eles realmente existissem, então não teriam interesse nem pelo homem bom nem pelo homem mau.

Devemos lembrar que nem todos os judeus retiveram sua fé ortodoxa em face de inimigos que avançaram destruindo e dispersando, e assim expunham filosofias que podem ter sido consideradas uma avaliação mais justa da vida do que a avaliação apresentada pelo judaísmo embora essas outras filosofias fossem mais pessimistas.

Se o livro de Eclesiastes foi escrito em torno de 225 a.C, então consiste em uma espécie de reafirmação daquilo que restou da fé judaica, visando algumas pessoas, fora da corrente principal do judaísmo, mas que continuavam judias.

Muitos judeus haviam começado a duvidar da doutrina dos galardões divinos em favor dos piedosos e dos julgamentos divinos contra os iníquos.

Eles chegavam a sentir que, afinal de contas, há distinções fundamentais entre uns e outros.

Nesta vida a tragédia desaba sobre uns e sobre todos, igualmente; agora ambos vivem na inutilidade; e ambos entraram no esquecimento, após a morte física.

Não obstante, o autor sagrado exibe saudável respeito pela lei de Deus.

Ele não se bandeara inteiramente para o pensamento pagão. (Vejamos o quinto capítulo do livro do início ao fim.)

Esse foi o alimento que o editor enfatizou, em sua conclusão (Ec 12.13, 14).

V – Data

Se partirmos do pressuposto de que os argumentos em favor de Salomão como autor do livro de Eclesiaste são fortes, então teremos de pensar que a data de sua composição gira em torno de 950 a.C.

Impressiona-nos o caráter impar da linguagem usada e suas afinidades com as expressões fenícias, mesmo que não aceitemos Salomão como autor do livro. E podemos supor que este livro seja bastante antigo, se é que sofreu a influência fenícia. Mas se ficarmos impressionados pela similaridade de ideias com certas ideias helenistas, então devamos  pensar numa data de composição em torno de 225 a.C.

A maneira como os próprios judeus disputaram sobre o livro, tendo-o incluído no seu cânon sagrado somente após muita relutância a despeito de ele próprio reivindicar haver sido escrito por Salomão, pesa em favor da data posterior.

VI – Canonicidade

Quando foi definido o Cânon da Bíblia hebraica, por ocasião do concilio de Jamnia, em cera de 90 d.C, muitos judeus opuseram-se ao livro de Eclesiastes, alegando que ele não era digno de se posicionar entre os Escritos Sagrados. E mesmo mais tarde, quando o livro já estava fisicamente presente na coletânea sagrada, supostamente investido de autoridade, muitos rabinos continuaram opondo-se a ele.

Quando um judeu piedoso segurava algum livro sagrado, lavava as mãos em seguida, em demonstração de respeito. Mas muitos deles, após manusearem o livro de Eclesiastes, não pensavam que essa providência seria necessária, por não considerarem o livro uma obra inspirada. Seria apenas uma habilidosa peça filosófica, e não um dom do Espirito. Vejamos Mishinah, Yadaim 3.5. Jerônimo, tão tarde quanto 389 d.C., conhecia judeus que se sentiam insatisfeitos com a inclusão do livro de Eclesiastes entre as Escrituras do Antigo Testamento. Não obstante, o livro tem encontrado um uso devido no seio do judaísmo.

O livro de Eclesiastes é lido no terceiro dia dos Sukkoth (Tabernáculos), a tradicional festa da colheita entre os hebreus, com o propósito de lembrar aos homens a natureza transitória desta vida, e como uma advertência contra a cobiça pelas riquezas e vantagens materiais, além de servir para reiterar o importantíssimo princípio da necessidade de obedecer à lei de Deus como o maior e mais solene dos deveres humanos.

VII – Uso e atitudes cristãs

Os eruditos liberais não podem perceber o motivo para tantos debates.

O livro volta-se contra certas crenças ortodoxas. E daí?

Há pontos bons no texto: o livro exibe bons discernimentos; confere-nos uma melhor compreensão sobre certos desenvolvimentos do judaísmo... De que mais precisaríamos? E os conservadores, que tem que defender a ideia da inspiração a qualquer custo, para todos os livros do cânon, são forçados a acomodar-se  ao livro, provendo razões pelas quais o Espírito Santo teria achado apropriado incluí-lo no Cânon. As respostas sobre essas questões são similares àquelas que acabo de frisar acerca do cânon.

O livro diz algumas coisas boas sobre a natureza transitória da vida humana, sobre as vaidades das coisas e atividades terrenas, e contém alguns versículos que servem de excelentes citações.

Mas o que dizer sobre a sua falta de ortodoxia?

Um diretor de uma escola teológica, questionado via telefone a respeito do Livro de Eclesiastes, ouviu do seu interlocutor a seguinte pergunta: “Como é que declarações daquela ordem podem ter penetrado na Bíblia?”

Esse diretor replicando disse quer o Espírito deixou que esse livro fizesse parte da Bíblia, a fim de mostrar-nos o que o homem natural pensa e como ele chega a conclusões negativas, enquanto não recebeu ainda a fé apropriada.

Em outras palavras, o livro, em sua porção não ortodoxa, serviria como uma espécie de exemplo ao contrário, mostrando-nos coisas que devem ser evitadas, que precisam ser observadas e repelidas.

Esse tipo de raciocínio parece atrativo para a mente ortodoxa. E não digo que é uma posição inútil, embora, de certa, maneira seja uma resposta superficial.

C. I. Scofield, em sua Bíblia anotada, diz in loc., afirmando a posição conservadora da melhor maneira possível: “Este é o livro do homem debaixo do Sol, que raciocina sobre a vida; é o melhor que o homem pode fazer com o conhecimento de que existe um Deus que é Santo, e que ele levará tudo a juízo”.

As demais expressões-chaves são debaixo do Sol, percebi e disse em meu coração.

A inspiração mostrou acuradamente o que sucede, mas a conclusão e o raciocínio, afinal, são do homem.

Sua conclusão de que tudo é vaidade, em face do julgamento, pelo que o homem não deve consagrar sua vida as coisas terrenas, certamente é verdadeira; mas a conclusão (12.13)  é legal, o melhor a que o homem pode chegar, á parte da redenção, sem antecipar o evangelho.”

Esta é uma boa declaração, mas mesmo assim continua sendo curioso que um livro herético encontrasse caminho até o canon do Antigo Testamento, por causa de seu estranho encanto.

Não há explicação que possa alterar a estranheza desse acontecimento.

VIII – Conteúdo

A discussão anterior nos provê a natureza essencial do conteúdo do livro de Eclesiastes.

Damos a seguir um esboço acompanhando as ideias bem gerais:

I – A vaidade de todas as coisas (1.1-13);

II – Demonstração da tese básica da vaidade (1.4 – 3);

1 – Todas as coisas na vida são transitórias (1.4-11);

2 – O mal provado por seus resultados (1-12-18);

3 – Há inutilidade no lucro, no trabalho e nos prazeres (2.1-26);

4 – A morte mostra que tudo é inútil (3.1-22).

III - Um desenvolvimento mais detalhado do tema (4.1 - 12-8).

1 – As injustiças da vida mostram a inutilidade das coisas (4.1-16);

2 – As riquezas para nada servem (5.1-20);

3 – A brevidade e futilidade da vida do homem provam a inutilidade das coisas (6.1-12);
4 – A inescrutável providência divina prova a inutilidade das coisas (6.1-12);

5 – As desordens e frustrações da vida ilustram a vaidade (10.1-20);

6 – Jovens e idosos demonstram a inutilidade das coisas (11.1 – 12.8).

IV – Conclusão (12.9-14)

O dever inteiro do homem: guardar a lei na esperança de receber um bom julgamento divino.   

IX – Informações adicionais de suma importância

Apresentamos uma introdução no presente serviço de estudo, de maneira que a Introdução é suficientemente longa para dar as informações e compreensões úteis, mas não tão longa a ponto de desanimar o estudioso.

Este livro apresenta alguns problemas distintos, principalmente suas varias posições não-ortodoxas, que tem levado muitos eruditos a indagar por qual motivo um livro como o de Eclesiastes foi incluído no cânon.

Como é usual, alguns estudiosos conservadores negam que existam problemas reais, mas isso apenas demonstra a atitude de quem quer “conforto a qualquer preço, nem que seja a custa da honestidade”, que permeia o fundamentalismo extremo.

Naturalmente, há problemas de pontos de vista conflitantes, dentro do mesmo livro, e posições não-ortodoxas que um rabino médio teria aprovado.

Mas esses são “problemas engraçados”, que nos dão oportunidade de investigar, usando a mente e testando nossas ideias.

Em vez de tentar omitir-nos, destaquemos as palavras de Erasmo de Roterdã, quanto à necessidade e ao direito de fazermos livres investigações.

Todos compartilhamos da liberdade de expressão no mundo político, mas qual mundo é mais fechado e qual desfruta de menos liberdade de expressão que algumas instituições religiosas?

Portanto, enquanto pensamos que a falta de liberdade de expressão “lá fora” é uma afronta à liberdade dos direitos humanos, alguns estudiosos supõem que a liberdade de expressão, no seio da Igreja, seja, uma afronta contra a ordem correta das coisas. Aqueles que não se ajustam a isso são submetidos a um programa de perseguição.

Nosso objetivo neste mundo não consiste em nos conformarmos, mas sim em crescer em conhecimento e na sabedoria. Portanto lancemo-nos a discussão, sem rancor e sem ódio.

Muitas reflexões deste livro são as de um filósofo, e não tanto as crenças e os ensinamentos morais de um rabino hebreu.

O autor evita a insistência sobre a revelação para a resolução de problemas.

Pelo contrário, ele se mostra interessado nas condições e na investigação, naquilo que via e observava, nas conclusões a que tinha chegado, no conhecimento que continuava buscando.

Deus, para ele, como para muitos filósofos, é um originador inescrutável das coisas, bem como determinador da sorte humana.

Quanto ao lado pessimista, ele sentia que o caráter humano e as realizações não faziam a diferença na sorte que eventualmente o atingiria.

Quanto ao lado otimista, o espírito humano retornaria para Deus (Ec 12.7).

Não obstante, no inicio do livro, não há atitude de retorno, e o destino humano é idêntico ao dos animais: o nada. (Ec 3.18-20).

Para muitos eruditos, tais declarações contraditórias indicam dois autores, e não um único, que mudou de atitude mental conforme foi avançando.

De modo geral, os livros do Antigo Testamento são marcados pelo otimismo, mas certas partes caem no mais profundo pessimismo, cuja primeira definição é: “a própria vida é um mal”.

1 - Literatura da sabedoria

O livro de Eclesiastes assume seu lugar paralelamente à literatura de sabedoria, embora, em muitas instâncias, trate-se de um reflexo dos pontos de vista pessimista dessa forma de literatura.

Se a questão da data é controvertida, o tom racionalista do livro e suas reverberações das filosofias gregas apontam para uma data em torno do séc. III a.C., mas é bom verificar a discussão na seção V do serviço ora estudado.

“A inclusão, na Bíblia, de uma obra que varia tanto com seu ensino dominante, causa perplexidade.”

“Pode ser explicada por sua associação tradicional com Salomão, seu patrocínio por homens sábios e influentes, bem como pela inclusão de um pós-escrito ortodoxo (Ec 12.9 - 4), que exibe a posição religiosa à luz da qual o livro deve ser entendido”. (Oxford annotated Bible, na introdução ao livro).

Tendo-se afirmado isso, outra coisa precisa ser dita: trata-se de um livro encantador e bem escrito (embora nenhuma tentativa tenha sido feita para conseguir uma estrutura formal), pleno de declarações concentradas, que atraem nossa atenção (embora algumas sejam bastante pessimistas e céticas).

Em outras palavras, o tratado era simplesmente bom demais, considerado como um todo, para ser deixado de lado.

Esse tratado oferece, para teólogos e filósofos, boa chance de exercerem sua capacidade de discussão, argumentação e debate.

Pode-se deduzir que o autor sacro, depois de muita pesquisa, veio a advogar o niilismo como filosofia de vida.

Vejamos os comentários de Eclesiastes 2.25, que chegam a essa tentativa de conclusão.

2 – O uso da filosofia

O pregador (segundo a palavra hebraica correspondente) foi na realidade um filósofo.

Era um hebreu que abordava a filosofia com alguma habilidade; no entanto, seu pessimismo explica as continuas conclusões negativas apresentadas.

É necessário saber algo sobre filosofia, para entender este livro.

Ao longo do caminho, seria conveniente consultas a Enciclopédias quanto aos artigos indicados, para compreendermos o que o escritor sagrado estava tentando dizer.



     
Titulo: Cantares de Salomão

Autor: Salomão (tradição)
Data: 970 a 930 a.C
Capítulos: 8
Versículos: 117
Vers. chave: Ct 8.7


Sumário
Introdução
I - Pano de fundo
II - Autoria
III - Data
IV - Unidade do livro
V - Lugar de origem
VI - Destino
VII - Motivo de sua escrita
VIII - Propósito do livro
IX - Canonicidade
X - Estado atual do texto
XI - Conteúdo e esboço
XII - Interpretação da sua mensagem
XIII - Teologia do livro
XIV - Informações de suma importância

INTRODUÇÃO

No hebraico , Shir hashirim, na Septuaginta, Ásma ou Ásma asmaton. E na Vulgata Latina, Canticum canticorum.

Dentro da Bíblia hebraica, este livro é o primeiro dos cinco rolos (no hebraico, Megilloth), que eram lidos quando das festas religiosas judaicas.

Geralmente tem o nome de Cântico dos Cânticos nas diversas versões, mas a nossa versão portuguesa prefere “Cantares de Salomão”.

A forma hebraica, Shir hashirim, é a forma superlativa (Ct. 1.1), que significa “o mais excelente dos cânticos”.

Dentro das tradições judaicas, os cantares eram lidos por ocasião da páscoa, para os judeus, a mais importante das festas religiosas.

I – Pano de fundo

Os que pensam que Cantares de Salomão é obra de autoria de Salomão, rei de Israel, vêem o princÍpio da monarquia israelita como o pano de fundo da obra.

O tom pastoril de seu quadro poético sugere um longo período de paz em Israel, naquele período que os historiadores têm chamado de “época áurea” da cultura dos hebreus, as monarquias de Davi e Salomão.

Acresça-se a isso que o livro de Cantares contém numerosas referências a animais e plantas exóticas, tudo o que nos faz lembrar da fama de Salomão nos campos  da biologia e da botânica. Isso nos leva de novo ao período inicial da monarquia hebréia.

As diversas alusões geográficas existentes no livro parecem indicar uma fase da história dos hebreus em que o reino ainda não havia sido dividido em dois: reino do norte, Israel, e o reino do Sul, Judá.

Assim, o livro fala sobre lugares nortistas como o Líbano (ct 3.9; 11, 15), o monte Hermon (4.8),Tirza (6.4), Damasco (7.4) e o Carmelo (7.5), como se formassem um único reino, juntamente com Jerusalém e as terras em redor.

Todavia, isso poderia significar apenas que os arroubos poéticos do autor não eram considerações puramente locais, conforme alguns estudiosos tem salientado.

Seja como for, o livro mostra claramente que o autor estava familiarizado com a geografia de toda a região da Síria-Palestina, desde as montanhas do Líbano até Em-Gedi, perto do Mar Morto (Ct 1.14).

Mas, apesar de o livro mencionar produtos exóticos do Extremo Oriente, não há nenhuma indicação de que o material tenha sido escrito fora da Palestina, ou com um pano de fundo estritamente palestino.

II – Autoria

Quase todos os eruditos modernos rejeitam a autoria de Cantares por parte de Salomão.

Esses preferem ver no livro uma coletânea de cânticos que celebrariam o amor pré-marital e marital.

Seja-nos permitido observar que dificilmente esse tema teria tornado o livro aceitável aos judeus, para ser incluído no cânon sagrado, pelo que se trata de uma opinião muito duvidosa.

Além disso, dizem alguns que a única prova de que o livro teria sido escrito por
Salomão é o titulo, ou a introdução editorial, conforme alguns eruditos o tem descrito, porquanto a forma mais completa do pronome relativo só é usada em Ct 1.1: “Cântico dos cânticos de Salomão”.

Um ponto técnico gramatical no hebraico é que há nisso uma construção ambígua, pois a partícula atributiva poderia significar “para”, “cerca” ou “segundo”, ou então poderia aludir a autoria direta de Salomão. No entanto, o nome do famoso monarca hebreu, Salomão, aparece por seis vezes no texto do livro (Ct 1.5; 3.7, 9, 11 e 8.11-12).

E o último trecho, Ct. 8.11-12, refere-se de passagem às riquezas materiais desse rei.

No terceiro capítulo, Salomão é mencionado três ocasiões diversas, em conexão com um elaborado cortejo, onde devemos ver a personagem histórica chamada Salomão.

As alusões ao rei também são, geralmente, associados a Salomão. (Ct 1.4,12 e 7.5)

Todavia, embora o grande rei hebreu seja a figura central de certos poemas (entre os quais, se destaca o de Ct 3.6-11) na verdade ele nunca aparece como aquele que fala, e por esse motivo, certos estudiosos pensam que, pelo menos, alguns dos poemas foram escritos sobre Salomão, e não diretamente por ele.   

Os argumentos em favor de uma autoria que não a de Salomão, geralmente, também relatam uma data posterior para o livro, e isso sobre as bases linguísticas.

Para exemplificar isso, há quarenta e nove vocábulos hebraicos que só ocorrem no livro de Cantares, em todo o Antigo Testamento; e alguns desses são de natureza botânica.

Também há palavras e frases que parecem refletir o aramaico usado em certas composições pré-exílicas, sem falarmos em palavras que parecem terem sido tomadas por empréstimo do persa e do grego.

Tudo isso pode ser naturalmente explicado pelo fato de que o vocabulário de um livro qualquer depende muito do assunto que estiver sendo tratado ali.

Não admira, pois, que haja tantas palavras técnicas que se referem à zoologia e à botânica nesse livro, que não se acham em outros livros do Antigo Testamento.

Quanto a outros vocábulos, também não é difícil justificá-los. Assim como no caso do nome da especiaria que era importada do Oriente,  o “cinamomo” (Ct 4.14), temos um termo importado.

O comércio entre a Índia e a Mesopotâmia já estava bem firmado desde o terceiro milênio a.C., como também o comercio com o Egito. Isso quer dizer que, na época de Salomão, havia uma longa tradição de contatos comerciais com o Extremo Oriente. Por essa razão é que os nomes de certos produtos e substâncias, mencionados no livro, tem paralelos obviamente sânscritos.

Poderíamos citar os casos do “nardo” (no sânscritos, naladu – Ct 1.12; 4.13-14) e a “púrpura” (no sânscrito, regaman – Ct 3.10 e 7.5).  

E alguns eruditos pensam que a palavra hebraica para “palanquim” (Ct 3.9) não veio através do grego, conforme muitos acreditam, mas derivou-se diretamente do termo sânscrito paryanka.

Quanto àpresença de alguns termos aramaicos no livro, isso nada significa, porquanto,  há vários outros livros do Antigo Testamento e até o Novo Testamento, que contém termos aramaicos, sem que isso altere em coisa alguma as questões da data ou da autoria desses livros. Ademais, o aramaico era língua gêmea do hebraico, mas que, desde o segundo milênio a.C., pelo menos, vinha sendo falada na Assíria e em outros lugares a leste da Palestina. Portanto, nada existe na linguagem em que foi escrito o livro de Cantares que requeira uma data posterior para a sua composição.

Concluímos, pois, que devemos aceitar a autoria salomônica que, tradicionalmente, tem sido dada a esse livro.

III - Data

Os críticos que atribuem um dos poemas do livro de Cantares a Salomão naturalmente datam-no de seu reinado, admitindo que o restante do livro foi coligido por ele. (970-930 a.C.)

E a menção a Tirza (Ct 6.4), como se fosse a contraparte nortista de Jerusalém, aponta para uma data comparativamente antiga da composição, ou pelo menos, daquela porção do livro.

Antes do governo de Onri (885/884 - 874/873 a.C.), Tirza fora a principal cidade do reino do Norte; mas, quando Onri subiu ao trono de Israel, então estabeleceu Samaria como sua capital, tendo construído ali um esplêndido palácio real, além de numerosos outros edifícios e de ter fortalecido muito a cidade.

Portanto, se Tirza aparece em Cantares, como a principal cidade da porção norte do país, assim como Jerusalém era a principal cidade da porção sul, então a seção poética envolvida bem pode ser datada no século X a.C.

IV – Unidade do livro

Talvez o livro seja uma coletânea de vários poemas que cantam o amor rústico, interiorano, de origem incerta. Nesse caso, Salomão teria sido o compilador e editor que deu um burilado geral ao livro. Mas o fez de tal modo que o livro estampa sinais bem claros de unidade de estilo e de tema geral.

Em face do que parece ser a unidade mais central da obra, a saber, o tema da riqueza do amor humano, parece que as tentativas de fragmentação do livro, que alguns críticos têm sugerido, são forçadas e artificiais. Portanto, devemos pensar que, da pena de Salomão, o livro de Cantares saiu como uma única obra literária.

V – Lugar de origem

Se o livro foi, realmente, composto por Salomão, então, o lugar de origem da obra deve ter sido a corte real, em Jerusalém.

O trecho de I Rs 4.32 fala sobre as habilidades literárias de Salomão.

Todavia, os críticos que, não aceitam a autoria salomônica tem pensado que, pelo menos, alguns dos poemas constantes no livro de Cantares, foram escritos no reino norte, quando da monarquia dividida. Porém, todos os argumentos nesse sentido já foram respondidos. No entanto, se estão certos, os estudiosos ao pensarem, que o livro de Cantares, nada tem que ver com Salomão, como seu autor, então, a passagem do livro que gira, em torno de Ct 6.4 pode ter sido escrita em Samaria ou nas proximidades.

É mister, contudo,  deixar claro que toda a opinião acerca do lugar de origem do livro, precisa ser alicerçada sobre pura especulação, posto que não há indicações no livro que nos permitam precisar o local exato, dentro da Palestina, onde a obra poderia ter sido preparada. Por exemplo, não há provincialismos perceptíveis.

VI – Destino

A maneira como interpretamos o material do livro de cantares também determina os possíveis destinatários da obra. Não parece que o autor sagrado tenha visado outra gente além dos próprios israelitas.

Se os poemas foram compostos apenas para exaltar o amor humano, sem suas várias facetas, então, não é provável que os destinatários tenham sido pessoas fora do povo do pacto com Deus, o povo de Israel. Um costume surgiu posteriormente entre os árabes, de recitar poemas eróticos, conhecido entre os árabes por “Wasfs”, diante de um noivo e sua noiva, pouco antes da cerimônia do casamento.

Por essa razão, alguns eruditos tem pensado que o livro de Cantares serviria a um propósito similar, em Israel.

Contudo, não podemos depender de um costume árabe para explicar a finalidade de uma composição escrita em Israel, cuja mentalidade sobre questões morais era tão diferente.

Dificilmente um wasf seria aceito entre os livros canônicos.

VII – Motivo de sua escrita

Não se sabe dizer o que teria motivado um autor sagrado a compor o livro de Cantares.

Se o livro é apenas uma antologia de poemas líricos, que exaltam o amor físico, de proveniência salomônica em geral, então, poderia ter sido motivado por um ou mais dos numerosos casamentos desse monarca hebreu.

Mas, se o livro consiste em uma coletânea de cânticos nupciais de várias regiões do reino hebreu, então algum editor desconhecido apenas quis preservar para a posteridade esses poemas líricos.

A própria subjetividade do processo de produção do livro, visto que no livro nada se lê que nos esclareça a respeito, inevitavelmente, faz com que a questão seja nebulosa para nós.

VIII – Propósito do livro

Muitos expositores tem sentido grades dificuldades para justificar inclusão do livro de Cantares de Salomão no cânon das Escrituras Sagradas. Parte dessa dificuldade se deve ao seu flagrante erotismo. Por outro lado, o livro é um longo mashal ou provérbio, ilustrando a riqueza e a beleza do amor físico humano; e, como tal, faz parte firme da tradição gnômica da literatura de sabedoria dos hebreus.

Devemo-nos lembrar de que esse material originou-se no Oriente Próximo, onde imperavam diferentes atitudes quanto a certos pontos de moral.

Deve-se observar que somente pessoas de classes abastadas poderiam dar-se ao luxo de empregar as substâncias exóticas e caríssimas, mencionadas nesses poemas. Tais pessoas, em contradição com as classes populares, estavam acostumadas a considerar o sexo em termos não tanto ascéticos, como uma questão não embaraçosa. Todavia, talvez essas pessoas e esses poemas se excedam um tanto, em relação com aquilo que nós estamos acostumados. Porém, o livro escolhe um curso que é um meio-termo entre a perversão, ou, pelo menos, o excesso sexual, por um lado, e a negação rígida e emocional das necessidades físicas, por outro lado, descendo até momentos da maior intimidade física entre um homem e uma mulher que se amam.

No dizer de E. J. Young, talvez tudo isso reflita um amor mais puro que o nosso; ou então nós comentamos uma atitude não tão vitoriana quanto a nossa.

IX – Canonicidade

A julgar pelas fontes rabínicas, é claro que o livro de Cantares de Salomão não obteve inclusão no cânon das Escrituras Hebraicas.

 O Talmude chega a atribuir essa composição escrita a Ezequias e seu grupo de escribas, uma opinião que pode estar alicerçada sobre as atividades do grupo que, aparentemente, editou outros materiais escritos de Salomão (cfme. Baba Bathra 15ª e Pv 25.1).

A Mishnah (Yadaim 3.5) indica que o livro de Cantares não foi aceito no cânon senão com alguma disputa no tempo do suposto concílio de Jamnia (cerca de 95 d.C.).

Após pareceres favoráveis e desfavoráveis quanto a inclusão do livro no cânon sagrado do Antigo Testamento, foi o rabino “Aqiba” quem comentou: “...todos os Escritos são santos, mas o Cântico é o santo dos santos”. Porém, bastaria isso para mostrar-nos que havia muitas dúvidas se o livro deveria ser incluído ou não no cânon. E toda a oposição a sua inclusão devia-se a natureza erótica do conteúdo da obra.

De fato, quando da inclusão do livro no cânon, houve também a cautela de ser proibido o uso de qualquer porção sua em banquetes e reuniões semelhantes, a fim de que não houvessem abusos que envolvessem um livro considerado canônico.

A solução para esse aspecto erótico do livro consistiu em interpretá-lo, não em sentido literal, mas como uma alegoria.

Essa interpretação tem prevalecido tanto entre os judeus como no cristianismo em geral.

X – Estado atual do texto

As obscuridades do livro de Cantares parecem ser mais devido à presença de um número incomum de palavras raras, ou devido à natureza do assunto tratado, do que a algum manuseio por parte de escribas.

Visto que a Septuaginta e o Siríaco Peshitta seguem bem de perto o texto massorético, essas versões não nos ajudam em coisa alguma a determinarmos melhor o sentido exato de certas palavras existentes no texto de Cantares.

Além de consideráveis dificuldades de tradução em trechos como Ct 6.12 e 7.9, também não se sabe o sentido de quatro palavras hebraicas diferentes, ali existentes, em Ct 1.17; 4.4; 5.14 e 7.6.

E o complicado simbolismo empregado no livro aumenta mais ainda as dificuldades de tradução.

XI – Conteúdo e esboço

Não é fácil apresentar uma analise do livro de Cantares à maneira convencional, por causa do fato de que todos os diálogos são muito entretecidos e difíceis de deslindar.

Há diálogos (por exemplo, Ct 1.9 ss) e solilóquios (por exemplo, 2.8 – 3.5), e as palavras passam de uma personagem para outra com tanta frequência que é impossível identificar precisamente essas personagens.

As “filhas de Jerusalém” são mencionadas durante a exposição (Ct 1.5; 2.7; 3.5, etc...), e a elas são atribuídas certas respostas, no dialogo. (por exemplo, Ct 1.8; 6.1 etc...)

Uma situação similar ocorre no caso dos habitantes de Sulém (Ct 8.5) e os de Jerusalém. (Ct 3.6-11)

Entretanto, em termos gerais poderíamos esboçar o conteúdo do livro de Cantares como segue:

01 – A noiva exprime seu anelo pelo noivo, e canta seus louvores (1.1 – 2.7);

02 – Aprofundando-se a afeição mútua entre eles, a noiva continua a elogiar seu amado, usando símbolos da natureza (2.8 – 3.5);

03 – Louvores ao rei Salomão, à noiva e aos desposórios (3.6 – 5.1);

04 – O noivo ausenta-se por algum tempo, durante o qual a noiva anela pela volta do noivo e continua a elogiá-lo (5.2 – 6.9);

05 – Uma série de passagens descritivas sobre a beleza física da noiva (6.10 – 8.4);

06 – Conclusão, que aborda a permanência do verdadeiro amor (8.5-14).

XII – Interpretação da sua mensagem

Nenhum livro do Antigo Testamento tem sido interpretado de tantas maneiras diferentes como o livro Cantares de Salomão.

Isso se deve ao fato de que não há no livro nenhum tema especificamente religioso e central.

Quatro abordagens principais devemos destacar aqui: a interpretação alegórica, a interpretação cúltica, a interpretação dramática e a interpretação lírica.

A interpretação alegórica foi adotada pelos rabinos e pelos pais da igreja como a única maneira de resolver os problemas associados a aceitação do livro no cânon das Escrituras; essa é a interpretação até hoje favorecida pela igreja Católica Romana e pelos comentadores judeus ortodoxos.

Para esses últimos, Deus seria o grande amante dos poemas, e Israel seria a noiva, que receberia as demonstrações das misericórdias divinas. Nas mãos dos cristãos, porém, houve alguma modificação, pois a noiva passou a ser a Igreja Cristã. e fato, isso transparece em certos trechos do Novo Testamento, como, por exemplo, Jo 3.29, Ef 5.22-23, Ap 18.23 e 22.17.

Foi Orígenes quem desenvolveu a interpretação alegórica clássica, sendo seguido por Jerônimo, Atanásio, Agostinho e muitos outros.

No entanto, a maioria dos expositores cristãos tem evitado os problemas que surgem quando se expande o livro de Cantares em termos da história da Igreja Cristã.

Uma variante dessa interpretação, postulada por alguns escritores patrísticos, é a que se diz que o livro reflete a relação de Deus e a alma individual.

Essa variante também foi iniciada por Orígenes, tendo sido adotada por alguns dos pais da Igreja e por certos escritores medievais.

Ambrósio e alguns comentadores católicos romanos, mui caracteristicamente, tem identificado a noiva como a Virgem Maria, ao passo que Martinho Lutero opinava que a noiva nada mais seria do que o reino salomônico personificado.

E alguns intérpretes identificam variadamente a noiva como se ela representasse em um trecho ou em outro, Israel, a Igreja Cristã, A Virgem Maria e o crente individual. Porém, a própria subjetividade da interpretação alegórica contribui para desacreditá-la. Apesar disso, a interpretação alegórica do livro de Cantares é a que tem predominado no pensamento protestante, pelo menos até recentemente.

A interpretação cúltica tem sido, por alguns estudiosos, a luz das liturgias do Oriente Próximo que comemoravam a morte e a ressurreição de alguma divindade. Segundo esse ponto de vista, o amante do livro de Cantares seria um deus que morrerá e ressuscitará ao passo que sua noiva seria sua irmã ou sua mãe, que se lamentava por sua morte e saíra freneticamente atrás de seus restos mortais.

Algo similar teria acontecido a Baal e Anate, dos cananeus, a Tamuz e a Israel, dos babilônicos, e a Osíris e Isis, dos egípcios. E os idealizadores dessa ideia dizem que o que servia para comprovar isso era que o livro era usado por ocasião de uma festividade religiosa dos judeus. Mas, além de quatro outras composições canônicas serem usualmente empregadas em festividades religiosas dos judeus, não há nenhum indício de que Israel jamais tivesse qualquer cerimônia que se assemelhasse a isso.

A abordagem dramática de Cantares de Salomão surgiu quando começou a declinar o interesse pela interpretação alegórica, no começo do séc. XIX. Todavia, também podemos atribuir a Orígenes a ideia inicial, que foi reiterada nos escritos de Milton.

A partir de 1800 desenvolveram-se duas formas dessa interpretação.

A primeira delas, exposta por F. Delitzch, que pensava que o livro cantava duas personagens principais, Salomão e uma donzela interiorana descrita como sulamita (Ct 6.13).

O livro contaria como Salomão a encontrou em suas rústicas cercanias e a trouxe para Jerusalém, onde, desposando-se com ela, aprendeu a amá-la com mais do que um puro amor carnal.

A outra forma dessa interpretação dramática foi proposta por Ewald, que, além de Salomão e da jovem Sulamita, introduziu na narrativa uma suposta terceira personagem, um pastor que seria o amante da jovem.

E ela, levada para a capital pelo rei, lembrava-se apaixonadamente do rapaz, elogiando as suas qualidades, até que Salomão permitiu a volta dela para o rapaz.

Essa teoria, conhecida como “a hipótese do pastor...”, tornou-se, geralmente, aceita entre os estudiosos liberais.

A principal dificuldade da posição de Ewald, contudo, é que não há nenhuma evidência textual em favor da existência de um suposto pastor. Que seria uma das personagens centrais do livro.

Além disso, ele supõe que tenha havido grande resistência da parte da jovem quanto à conquista amorosa, ao passo que a narrativa bíblica mostra, precisamente, o contrário. Acresça-se a isso que Ewald dá a impressão de que o rei que queria seduzí-la à força, transformando Salomão em um vilão, e não no herói da história.

Por esses e outros motivos, tal interpretação esta inteiramente desacreditada.

A quarta interpretação principal do livro de Cantares é a da abordagem lírica. Esta pensa somente que o livro consiste em uma coletânea de poemas líricos, sem nenhuma conexão com a festa de casamento ou ocasiões festivas especiais.

Se essa interpretação tão simples tem alguma vantagem a seu favor, é somente porque evita as dificuldades inerentes às três outras principais interpretações.

Também poderia falar sobre a interpretação chamada típica, favorecida por certos eruditos conservadores.

Ela tem a vantagem de preservar o sentido óbvio dos poemas, ao mesmo tempo em que percebe um sentido espiritual e, portanto, mais elevado do que uma mensagem puramente sensual ou erótica.

De conformidade com essa interpretação, o livro de Cantares refletia o puro amor espiritual que se verifica entre Cristo e os seus seguidores.

Também haveriam ideias paralelas na Bíblia, conforme se vê em trechos como Os 1- 3; Ez 16.6 ss. e Ef  5.22 ss. E o uso que Cristo fez da narrativa sobre Jonas (Mt 12.40), bem como a alusão a serpente de metal, levantada no deserto (Jo 3.14), são aduzidas compatíveis com esse método geral de interpretação.

O conteúdo do livro de Cantares revela uma atitude para com a natureza que raramente se encontra em outros trechos do Antigo Testamento.

Os hebreus, geralmente, concebiam a natureza como algo que revelava o esplendor e a majestade de Deus, pois ele controlaria totalmente essas forças naturais, segundo o seu querer. Mas, no livro de Cantares, os ciclos da natureza correspondem aos sentimentos dos amantes. Talvez isso se deva ao fato de que esse livro tenha incluído noções poéticas puramente folclóricas.

O fato é que o amado chega ao campo no instante em que os poderes vitais da terra estavam novamente se manifestando. (Ct 2.8-17; 7.11-13)

Se esses poemas realmente tinham alguma conexão com cerimôniais nupciais, então a habilidade das personagens das festas poderia ser comparada a capacidade profissional das lamentadoras, que, em Je 9.17, são descritas como “mulheres hábeis”.

E visto que o livro de Cantares esteve associado a autoria salomônica desde o começo, a relação entre essa composição e a epítome de sabedoria de Israel parecia confirmar sua posição entre as obras de literatura de sabedoria de Israel.

Todavia, quando a autoria salomônica foi posta em dúvida, então essa coleção de poemas foi relegada a outros gêneros literários.

Visto que, o material de Cantares é essencialmente poético, por isso mesmo há nele características próprias de outras composições poéticas do Antigo Testamento. Essas características incluem itens como sinônimos, paralelismos, sintéticos e antitéticos, acentos ritmicos que salientam pontos importantes.

XIII – Teologia do livro

O livro de Cantares ocupa uma posição sui generis no cânon do antigo Testamento, devido ao fato de não conter nenhuma teologia explicita.

Os estudiosos que crêem que temos ali somente uma coleção de cânticos líricos ou folclóricos vêem nisso uma confirmação para a sua opinião.

Portanto, somente através de interferências podemos determinar a posição teológica do livro; e, quando é encarado por esse ângulo, o livro de Cantares ajusta-se às mil maravilhas à tradição hebréia do monoteísmo.

Porquanto não há ali nenhum traço das influências mágicas ou das crenças politeístas que se acham, por exemplo, em cânticos de amor similares, provenientes do Egito.

O amado só suspirava pela sua amada exaltando assim o ideal da monogamia.

Incidentalmente, isso parece contradizer a autoria salomônica, visto que o terceiro rei de Israel foi homem com muitíssimas mulheres e concubinas. (I Rs 11.3-8).

Embora as imagens poéticas sejam quase totalmente estranhas para o gosto moderno, a composição nunca se torna obscena, mesmo de acordo com os padrões da civilização ocidental.

De fato, o livro reflete os cânones tradicionais da moralidade sexual que fazem parte da legislação mosaica, e jamais tolera qualquer coisa que poderia ser descrita como baixa ou imoral.

O livro também reflete as tradições expressas em Gn 2.24, que mantém que, no casamento, institui-se uma unidade psicofísica entre o marido e a sua mulher.

E toda a discussão sobre as emoções dos dois amantes é mantida em um elevado nível de sensibilidade e moralidade. Portanto, a pureza e a beleza do amor humano físico, como um Dom divino, é o amor dominante do livro.

O relacionamento natural entre um homem e sua esposa que se amam aponta no livro para a riqueza do amor humano, um pequeno exemplo do muito mais amplo, profundo e puro amor de Deus que lhe pertencem.

XIV – Informações de suma importância

Sumário dos itens de interesses:

1 – O livro de Cantares contém cerca de 25 poemas líricos (em alguns casos, fragmentos apenas), tratando dos temas do namoro, casamento e talvez  considerados apropriados para serem recitados nos casamentos. (Je 33.11);

2 – A poesia não é melindrosa ou vitoriana, e é tão abertamente sensual que foi “suavizada” em algumas traduções modernas.

Os hebreus não eram um povo melindroso, mas amantes da música, da dança, do vinho e do sexo.

A atitude sexual dos hebreus, entretanto, não era promiscua, já que buscavam o ideal: um homem = uma mulher. O tratamento, contudo, era bastante sensual.

3 – Em certos lugares, os poemas são altamente eróticos, sensuais, mas ainda assim graciosos.

Há poucas alusões aos mitos antigos de deuses e deusas dos quais parecia depender a fertilidade da natureza. Contudo, essas alusões não nos envolvem em problemas teológicos como o politeísmo ou monoteísmo.

Não temos aqui, portanto, um livro teológico.

4 - O livro mostra-se compacto, passando de um poema para o próximo, em uma espécie de continuação de temas, em vez de compor uma rígida estrutura literária.

5 – O livro de Cantares não tem franco conteúdo religioso.

Tal conteúdo é insuflado mediante interpretações simbólicas, alegóricas e místicas por parte de autores judeus posteriores e cristãos.

Precisamos assumir simbolismos místicos para que este livro se torne uma obra de caráter religioso, mas há dúvidas de que essa tenha sido a intenção do autor original.

6 – A inclusão do livro no cânon veterotestamentário deveu-se aos rabinos, os quais devem ter pensado que o livro deveria ser encarado tal como o livro de Oséias, uma espécie de parábola na qual o Senhor aparece como o Esposo, e Israel como a Esposa.

Os autores cristãos seguiram essa orientação, vendo Cristo como o Marido, e a igreja, como a mulher. (Os 2.16-19 quanto a primeira ideia, e Ap 21.2,9, quanto a segunda.)

7 – A forma presente do livro de Cantares data de cerca do século III a.C, embora contenha materiais muito mais antigos.

O livro é atribuído a Salomão, provavelmente por convenção literária. Abordamos essa questão na seção II do estudo acima.

8 – Uma grande variedade de interpretações tem sido dada ao livro, pelo modo alegórico de interpretação, e examinamos essa questão na seção XII no estudo supra. 

 O conteúdo altamente erótico do livro tem dado certo alivio aos meninos e rapazinhos das escolas dominicais, os quais, enfadados com as lições recebidas, podem voltar-se para o livro de Cantares com excitação. E não poucos desses adolescentes também reavivam os tempos de sermão na igreja, com a mesma duvidosa atividade!




Titulo: Lamentações

Autor: Jeremias (tradição)
Data: Depois de 586 e antes de 538 a.C.
Capítulos: 5
Versículos: 154
Versículo-chave: Lm 1.1
    
Sumário

I      - Caracterização
II     - Nome do livro
III - Autoria e data
IV - Propósitos e teologia do livro
V - Estilo literário
VI - Conteúdo
VII - Informações de suma importância
VIII – Julgamentos severos que Israel (Judá) deve sofrer paralelos entre lamentações e deuteronômio           

I – Caracterização geral

Este livro faz parte da terceira divisão do cânon do Antigo Testamento hebraico, que os judeus chamavam de “Escritos” ou “Rolos”.

O livro de Lamentações consiste em cinco poemas que correspondem ao que, modernamente, chamamos de “capítulos”.

Esses poemas foram escritos segundo a métrica “Kina”, ou de “lamentação”.

Provavelmente, o livro foi escrito no séc. V a.C., provocado pela grande calamidade que se abateu sobre Jerusalém, com o consequente cativeiro babilônico.

Esses poemas foram compostos na própria cidade de Jerusalém, ou, então, já na Babilônia.

Os primeiros quatro poemas são acrósticos alfabéticos, o que significa que cada grupo de versículos começa por uma letra diferente do alfabeto hebraico, que consistia em vinte e duas letras.

A quinta estância tem o mesmo número de versículos que o alfabeto hebraico.

Todos esses poemas foram compostos ou adaptados para a sua recitação pública em dias de jejum e lamentação (Je 2.15-17; Sf 7.2, 3), notadamente no nono dia de Abe (agosto), que comemorava especificamente o desastre babilônico.

O primeiro, o segundo e o quarto poemas foram compostos como lamentações fúnebres.

Jerusalém é apresentada como o falecido.

O terceiro poema foi composto no estilo de uma lamentação individual, com a característica usual de que uma figura masculina (e não feminina) é que personifica o povo ou a própria cidade.

O quinto poema consiste em uma lamentação coletiva.

Esse poema faz lembrar as liturgias usadas em tempo de tristezas nacionais, conforme se vê nos Sl 74 e 79.

O tema comum de todos os cinco poemas é a agonia da nação judaica e o aparente abandono de Sião por parte de Deus, bem como a esperança de que Deus ainda haveria de restaurar uma nação humilhada e arrependida.

Antigas tradições tem atribuído esse livro ao profeta Jeremias, porém muitos eruditos modernos encontram razões para duvidar dessa opinião.

O próprio livro é anônimo, pelo que aquilo que cremos sobre sua autoria depende de nossa confiança ou desconfiança nessa tradição, bem como de outras evidências que pesam sobre a questão.

Vejamos a terceira seção neste estudo, quanto à discussão a respeito.

II – Nome do livro

No hebraico, este livro chama-se Ekah, “como”, a primeira palavra do livro, no original hebraico. Mas também tem o titulo de qinah, “lamentação”. Naturalmente, isso alude ao caráter de deploração do livro inteiro.

Conforme disse certo autor, “...cada letra foi escrita com uma lagrima; cada palavra com o pulsar de um coração partido”.

O titulo do livro, na Septuaginta, é “Cânticos fúnebres”. O titulo do livro nas modernas línguas européias – como em português – vem da Vulgata Latina, com base no vocábulo latino lamentum, “clamor”, “choro”, “lamentação”.

Na Vulgata Latina, o titulo especifico é “Lamentationes”.

III – Autoria e data

A tradição que atribui o livro Lamentações a Jeremias é antiquíssima.

O trecho de II Cr 35.25, embora não faça alusão às lamentações que compõem o livro, mostra-nos que Jeremias compôs esse tipo de material literário.

Alguns eruditos percebem a dicção de Jeremias no livro, mas outros pensam que o estilo é bastante parecido com o dos capítulos 40 a 66 do livro de Isaias, o que já aponta para outro autor.

O trecho de Lm 3.48-51 parece similar as expressões de Je 7.16; 11.14; 14.11-17 e 15.11.

Alguns sentem o espírito de Jeremias no livro, o mesmo temperamento sensível, uma profunda simpatia para com as tristezas de Israel, e as mesmas emoções soltas a respeito do desastre provocado pela invasão dos babilônicos.

Contra a autoria de Jeremias, temos os seguintes argumentos:

1 – Os paralelos listados anteriormente, entre Lm 3.48-51 e certos trechos do livro de Jeremias, certamente indicam a narrativa feita por uma testemunha ocular sobre aquilo que os babilônicos fizeram contra o povo de Israel.

Contudo, essa testemunha ocular não precisa ser identificada obrigatoriamente com Jeremias, porquanto o autor do livro pode ter sido outra testemunha daqueles fatos.

2 - O quinto poema reflete uma espécie de lassitude induzida por anos de ocupação estrangeira, o que é contrário ao que sabemos sobre história envolvida.

Jeremias permaneceu apenas algumas semanas na Palestina, após a captura de Jerusalém.

3 – O argumento literário – Os extensos escritos de Jeremias (no livro que sabemos ser de sua autoria) não apelaram para a poesia, e muito menos para a forma especifica de poemas acrósticos.

4 – O argumento histórico – Em tempos posteriores, muitos oráculos foram coligidos em nome de Jeremias, quando, como é óbvio, esses escritos não foram de sua autoria.

Os poemas do livro de lamentações poderiam estar entre esses oráculos.

Se realmente eram de sua lavra, por que motivo Jeremias não os identificou como seus? E por que motivo não foram incluídos como parte de suas profecias?

No livro de Jeremias, o autor identificou-se claramente. (Je 1.1)

5 – Diferenças de Pontos de Vista. – As declarações de Lm 2.9; 4.17 e 5.7, de acordo com certos estudiosos, diferem dos pontos de vista da profecia de Jeremias. Porém, muitos outros estudiosos vêem nisso mera avaliação subjetiva e, portanto, sem grande valor.

06 – O argumento Linguístico – O estilo, o vocabulário e a dicção dos livros de Jeremias e de Lamentações são por demais diferentes para que se suponha que um mesmo autor tenha escrito ambas as obras.

Contra esse argumento, alegam outros que a poesia, naturalmente, difere da prosa em que são escritos os oráculos e as advertências proféticas.

Todavia, grandes trechos do livro de Jeremias consistem em poemas, embora nossa versão portuguesa oculte isso, imprimindo o livro como se tudo fosse prosa. Mas, vejamos por exemplo, a Revised Standard Version. Muitos escritores em prosa, ocasionalmente, escrevem em poesia, o que requer estilo, dicção e vocabulário diferentes.

Conclusão: Não há como fazer uma declaração firme sobre a questão.

O livro de Lamentações não indica quem foi o seu autor; a obra é anônima.

Data – No livro não há nenhuma menção a reconstrução do templo de Jerusalém, que ocorreu em 538 a.C.

No entanto, o livro foi escrito, sem a menor sombra de dúvida, por uma testemunha ocular da invasão de Jerusalém pelos babilônios e do subsequente exílio de Judá.

Por conseguinte, deve ter sido escrito em algum tempo depois de 586 a.C, mas antes de 538 a.C.

IV - Propósitos e Teologia do livro

1 – A justiça de Deus é celebrada e os efeitos ruinosos do pecado são lamentados.

Um homem espiritual contemplou o que acontecera a um povo rebelde, que não quisera dar ouvidos às advertências do Senhor, e que, por isso, recebeu tão grande castigo nacional. Tudo aquilo ocorrera por motivo de desobediência e insensibilidade espiritual. A calamidade foi tão grande que fez uma nação chegar ao fim.

O santuário, que fora estabelecido em honra a Yaweah, bem como a teocracia (embora muito modificada pela monarquia) foram aniquilados pelos pagãos.

O poeta, pois, celebrou a retidão e a justiça de Deus, porquanto, afinal, o que acontecera fora justo.

A nação de Judá foi convocada ao arrependimento, visto que o mesmo poder que produziu a destruição com igual facilidade poderia produzir a restauração.

A profunda iniquidade da nação de Judá é lamentada no livro, mas reconhece-se também que a graça de Deus é suficientemente ampla para reverter qualquer situação, e o autor sagrado contemplava, ansioso essa bendita possibilidade.

Em suma, o propósito do livro é celebrar a justiça de Deus, lamentar a iniqidade do povo de Judá e suas horrendas consequências e, então, conclamar ao arrependimento, em face da possibilidade de restauração.

2 – Aplicação Cristológica – Alguns interpretes evangélicos vêem no livro de Lamentações um lamento pela alma de Jesus, diante da ira de Deus que sobre Ele se descarregou, quando Cristo levou sobre si o pecado do mundo.

3 – A trágica reversão -  Havia em Israel uma tradição que falava sobre a suposta inviolabilidade de Sião (Sl 46.6-8; 48-2-9; 76.2-7), o que aparece como uma ideia com a qual o autor do livro de Lamentações estava familiarizado (Lm 3.34 e 5.9). Entretanto, o autor sagrado mostrou que nenhuma coisa boa necessariamente perdura para sempre.

Reversões trágicas podem destruir até mesmo as melhores e mais excelentes coisas, se permitirmos que o pecado venha maculá-la.

4 – Confirmação do ponto de vista Deuteronômico da história - O autor de Deuteronômio sustenta, como uma de suas teses primárias, que Israel ia bem enquanto obedecia a Deus, mas caia em ruína quando se mostrava rebelde.

Embora, por certo, essa seja uma perspectiva simplista da história, não é um fator que deva ser ignorado.

Esse tema também pode ser encontrado em outros livros do antigo testamento, além de Deuteronômio,  Lamentações é um dos livros que promovem essa tese.

5 -  A esperança nunca morre no coração humano -  Grandes tragédias sobrevêm  às pessoas insensatas.

Mas essas mesmas pessoas, se agirem sabiamente, poderão contemplar a concretização de suas esperanças de melhoria, quando seu triste estado for revertido pela misericórdia divina.

V – Estilo literário

Vimos o estilo descrito na primeira seção - caracterização geral – nesse estudo.

VI – Conteúdo

1 – As lamentáveis condições de Jerusalém (cap. 1);

2 – Manifestação da ira de Deus (cap. 2);

3 – Reconhecimento da justiça de Deus (cap. 3);

4 – Reconhecimento da fidelidade de Deus (cap. 4);

5 – Confiança na fidelidade de Deus (Cap. 5).


VII – Informações de suma importância

O estudo do livro de lamentações, que contém apenas 154 versículos, envolveu em cada seção uma análise de modo bastante completo.

Este é um dos livros mais tristes já escritos, que aplica habilidosa poesia para expressar as mais profundas emoções humanas.

Trata-se de uma série de poemas que lamentam a desolação de Jerusalém e os sofrimentos do povo, depois dos ataques, do cerco e do cativeiro subsequente do povo de Israel, efetuado pelo exercito babilônico.

O templo de Jerusalém foi incendiado em cerca de 587-586 a.C, pelo que o autor escreveu algum tempo depois disso.

O capítulo 5 do livro revela a autoria do poema, bastante tempo depois, mas antes que o decreto de Ciro permitiu que um pequeno remanescente de judeus retornasse a Jerusalém para reconstruir a cidade e, assim, iniciar um Novo Dia.

Os primeiros quatro capítulos seguem acrósticos alfabéticos (os vers. começam com as sucessivas 22 letras do alfabeto hebraico).

O capíulo 5 também tem 22 versículos, mas não escritos segundo esse estilo, que provavelmente requer um arranjo um tanto artificial que impede o livre fluxo do pensamento. Esse capítulo provê uma apta conclusão, sendo provável que o autor estivesse cansado de apegar-se ao estilo acróstico.

O livro era usado nas recitações em dias de jejum e lamentação, tanto públicas quanto particulares. (Je 2.25-17; Zc 7.2-3)

Os capítulos 1, 2 e 4 assumem a forma de lamentações fúnebres da cidade morta.

A elegia capengante da métrica 3.2 (três toques seguidos por dois toques) pode ser reconhecida até nas traduções...

No cap. 3, a tristeza do povo desolado e o reflexo sobre o significado do desastre são expressos por um indivíduo.

O capítulo 5, em forma e linguagem, relembra as liturgias usadas em tempos de tribulação nacional, como se vê nos Sl 74 e 79.

O tema comum e a esperança de que Deus ainda restauraria um povo arrependido e humilhado percorre o livro inteiro. (Osford Annotated Bible, Introdução ao livro).

“O livro de Lamentações é um pós-escrito de lamentação ao livro de Jeremias.

Mediante o uso de cinco cânticos fúnebres, o autor sagrado se entristeceu pela sorte de Jerusalém, por causa de seu pecado”. (Charles H. Dyer, in loc).

“O livro, naturalmente, é mais que uma poesia fúnebre muito bem expressa.”

Antes, é uma lição moral que afirma que a vida é mais do que “comer, beber e divertir-se”.

E também uma inquirição séria que procura obedecer às regras divinas.

Ensina-nos, supremamente, as consequências de semear uma má conduta, pois o que uma pessoa faz certamente é colher o que semeou. (Gl 6.7-8)


VIII – Julgamentos divinos que Israel (Judá) deve sofrer paralelos entre lamentações e Deuteronômio.

Essência dos julgamentos
Lm
Dt
Judá (Israel) espalhado entre as nações não encontrará paz e nem segurança
1.3
28.65
Judá (Israel) será escravo de forças estrangeiras e a cauda das nações
1.5
28.44
Seus filhos e filhas serão cativos em nações pagãs
1.5
28.32
Em fraqueza fugirão ante o perseguidor e serão absolutamente derrotados. As defesas falharão e os soldados fugirão em sete direções em total confusão
1.6
28.25
Os homens e as mulheres jovens serão levados e feitos escravos. Os pais os perderão para sempre
1.18
28.41
O povo de Judá (Israel) será assunto de canções zombadoras e objeto de escárnio e desprezo
2.15
28.37
Mães, no seu desespero, comerão os próprios filhos para não morrer de fome. O pecado, especialmente o da idolatria, cobrará um alto preço em sofrimento.
2.20
28.53
Jovens e velhos morrerão juntos na poeira das ruas. O inimigo não respeitará idade nem sexo
2.21
28.50
Mães, com as próprias mãos, cozinharão seus filhos. As mais gentis esconderão seus filhos para comê-los depois do ataque do inimigo. As esposas não mais respeitarão seus maridos, mas se tornarão animais selvagens.
4.10
28.56-57
A herança de Israel, dada no Pacto abraâmico, passará às mãos dos estrangeiros selvagens. O judeu construirá uma casa, mas nunca morará nela. As propriedades ficarão a disposição dos invasores.
5.2
28.30
Perseguidos, os judeus não encontrarão paz no exílio. A espada os seguirá até lá e continuará a matança. O pecado cobrará um alto preço dos desobedientes.
5.5
28.65
Os sofrimentos no exílio serão variados e severos. A fome fará a pele dos cativos queimar como se estivesse sujeita a um forno.
5.10
28.28
Mulheres casadas e virgens serão estupradas nas ruas de Sião. Uma mulher prometida a um judeu nunca se tornará esposa dele, mas cairá vítima de um soldado impiedoso.
5.11
28.30
Os velhos não serão respeitados nem receberão misericórdia. Cairão vitimas das mesmas brutalidades.
5.12
28.50
O Monte Sião ficará uma pilha de entulho e animais selvagens farão dele seu lugar de assombração. Os muitos e radicais pecados de Judá (Israel) exigirão castigos múltiplos e radicais, servindo de agentes de restauração para o fragmento que sobreviver.
5.18
28.26

Conclusão

Embora as fontes que consultamos para organizar este serviço, gozem de respeitada credibilidade entre os estudiosos das Sagradas Escrituras, percebemos que, o assunto historicidade, autoria, datas e tantos outros tópicos, ainda serão objetos de muita disputa para emissão de uma opinião mais próxima da realidade.

É muito provável que, ao não termos a oportunidade de manusear e estudar os documentos e instrumentos que as nossas fontes tiveram, deixamos em caráter cientifico, de concordar, discordar total ou parcialmente, ou ainda, descobrir valores não antes percebidos que, poderiam trazer à tona novos conceitos.

A Bíblia, embora algumas correntes não considerem, é um livro científico.

A arqueologia nas terras bíblicas tem extraído do solo, cidades, objetos, como construções, jarros, talheres, tabuinhas, etc... que  revelam traços e costumes de reis e povos, que estão registrados na Bíblia.

Cada dia tem havido novidades na ciência e novos conceitos vão surgindo.

Se fossemos nos deixar levar pela fé que professamos com toda a certeza os resultados que hoje obtivemos seriam outros.

Como teólogos, estudiosos das coisas bíblicas, devemos entender que tanto a Bíblia como a Ciência podem perfeitamente andarem juntas.

Jesus disse: “Não há nada que esteja encoberto que um dia não venha à tona”.    

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Bibliografia dos Livros Poéticos

Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo
R. N. Champlim ph D

Bíblia de estudo pentecostal
Revista corrigida Ed. 1995 – Jose Ferreira de Almeida

Comentário bíblico expositivo
Geográfica Editora
Warren W. Wiershe







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Pr. Nelson Martins Filho
Meus agradecimentos ao Mestre/Pastor Nelson Martins Filho, que compilou toda a matéria presente nesse estudo.