Titulo: O livro de Jó
ou Job
Autor: Desconhecido
Data: Incerta
Capítulos: 42
Versículos: 1070
Versículo-Chave; Jó
19.25-26
Tema: Por que o Justo
Sofre?
Sumário
1 - Introdução
I - Caracterização
Geral
1 – Outro
Propósito
2 –
Qualidades Estéticas
3 –
Admiráveis Qualidades Intrínsecas
II - O Homem Jó e os
fatos da historicidade do livro
III - Proveniência
IV - Data, Autoria e
Integridade do Livro
1 – Data
2 – Autoria
3 –
Integridade do Livro
V - Problema do Mal
VI - As Razões do
sofrimento, Segundo o Livro de Jó
VII - Esboço do
Conteúdo
VIII - Informações de
suma importância
1 – Um livro distinto
2 – As profundezas da
fé
3 – Mensagem
principal
4 – Ateísmo
5 – O Deus de Satanás
6 – O testemunho de
Jesus
7 – Teísmo
8 – Os livros
poéticos
Livro de Jó
Introdução
O Livro de Jó nos reserva
um estudo bastante interessante, uma vez que, se trata de um “poema dramático
de uma história épica”, envolvendo procedimentos, costumes e estilo de vida da
época patriarcal, evidenciando o questionamento dos amigos de Jó, do por que
ele sofre, a onisciência, a onipotência e a onipresença de Deus que tem tudo
sob o seu controle, além do seu aval à integridade moral e fidelidade do seu
servo, apesar do mal que o afligia.
Entretanto, a classe científica de um considerado número de estudiosos, usa como artifício para
contestar a veracidade dessa historicidade quanto a autoria, a data, além da
própria existência de Jó, como pessoa, alegando que, as informações (da época,
porque eram orais, e as atuais mais recentes apresentadas) e documentos que
muitos eruditos e a tradição avalizam, ainda lhes são insuficientes e deixam dúvidas,
inviabilizando-lhes a credibilidade
irrestrita.
É diante desses fatos que
buscamos em alguns comentários científicos o que melhor se aproxima de uma
realidade para formar nossa opinião.
I - Caracterização
Geral
Notemos que, no Livro de
Jó, os episódios que são refletidos são da época dos patriarcas de Israel, e a
Lei que Deus dera para Moisés ainda não havia sido promulgada.
A figura central do livro
é Jó, é o próprio Jó, cujos estudiosos antigos e alguns modernos, entendam ser
o livro de uma data muito antiga.
Entretanto, quase todos
os cientistas modernos acreditam que, o homem chamado Jó foi real, vivendo nos
tempos patriarcais dos hebreus e que a narrativa circulou em primeira mão
tradicionalmente de forma oral até que foi reduzida à forma escrita, por volta
do século V ou VI a.C.
A data posterior do livro é defendida porque
esse livro pertence a literatura de sabedoria da tradição judaica, sendo que,
esta literatura é oriunda de um período posterior.
Outro fato é que possivelmente
reflita uma enorme crise de fé criada na mente nacional judaica, em razão dos
cativeiros assírio e babilônico.
Então, nessa visão, o
Livro de Jó não seria uma simples peça pessoal nos mostrando os conflitos de um
indivíduo isolado acerca do problema do mal, mas sim um tipo de busca dos
judeus por uma resposta acerca das aflições que Israel sofreu como nação.
Os povos pagãos que sem
nenhuma dúvida eram mais corruptos que os judeus, trouxeram imensos sofrimentos
a sua nação, e isso gerou na antiga doutrina judaica, muito forte no Antigo
Testamento, sua regularidade e previsibilidade da retribuição divina.
O homem que é sábio
mantém a sua crença na retidão e na vindicação dada por Deus aos retos. (Jó 19)
A esperança da vindicação
após a morte (uma resposta comum para o problema do mal) é visto em Jó
19.25-27.
Interessante que Jó, não
encontrou em seus amigos, os consolo que no mínimo deles esperava, muito pelo
contrário, por aqueles foi na verdade muitíssimo atormentado, uma vez que, não
podiam notar outra coisa além de uma retribuição divina regular, precisa e
previsível.
Entendiam que Jó, apesar
da capa de justiça com que ele se vestia, tinha um merecido sofrimento.
Acreditam alguns eruditos
que o editor ou editores de uma época posterior, tiveram problemas na coleta
dos materiais, e fizeram adições, deixando ainda mais confuso o livro.
O capítulo 21, diferentemente
dos capítulos 1 ao 19, retrata um Jó cético, que condenou a si mesmo e, então, foi
levado a sabedoria divina no capítulo 28.
Após um discurso de
despedida, que contém um juramento de liberação (capítulos 30 - 31), que seria, basicamente,
um paralelo aos discursos dos capítulos 3 ao 19, quanto à atitude, aparece uma
reprovação desnecessária por parte de Eliú (capítulos 32-37).
Então o próprio Deus
força Jó a retratar-se (capítulos 38 - 39)
Assim, parecem ter havido
consideráveis mudanças de atitude entre os capítulos 3 ao 19 e as porções seguintes
do livro.
Alguns estudiosos supõem
que isso reflita adições feitas posteriormente. Todavia, isso poderia ser
reflexo apenas de um confuso arranjo e tratamento, por parte do autor sagrado
que, ao abordar uma questão delicada, não se mostrou metódico o suficiente.
Essas presumíveis adições
teriam sido: capítulos 28, 32 - 37 e 38 - 39.
Outros estudiosos ainda
supõem que o prólogo (Jó 1 me 2) e o epílogo (Jó 42.7-17), tenham sido adições
feitas ao corpo do original do livro.
Ainda outros eruditos, tem
criticado a filosofia que transparece na obra, supondo que as tragédias gregas
sejam superiores, pois, nessas tragédias, quando um homem sofre, nunca mais se
recupera. E dizem que isso é mais realista diante da vida.
Mas Jó recuperou-se e
prosperou mais do antes.
Todavia, a vida nos expõe
casos de recuperação diante do sofrimento, mesmo nesta vida, não havendo nisto
nada que possa ser considerado contrário a realidade.
Mediante essa recuperação
de Jó, o autor sagrado estava dizendo que a providência divina é capaz de nos
surpreender.
Em primeiro lugar, devido
à razões desconhecidas, o homem sofre; e a única razão para isso é a
inescrutável vontade de Deus.
Em segundo lugar, para a
consternação daqueles que acreditavam que Jó era um homem iníquo, observa-se
que ele, subitamente, voltou a prosperar materialmente.
E isto prova que a
resposta simplista para o problema do sofrimento, de que este resulta de erros
cometidos, nem sempre explica o que está acontecendo com os homens.
Por outro lado isto também
prova que não podemos afirmar que Deus nunca abençoa os pecadores.
Assim, os eruditos que
não apreciam a bela e surpreendente recuperação de Jó - como se isso fosse
sempre contrário à experiência humana, o que já vimos não ser sempre assim –
apegam-se a ideia de que o epílogo do livro foi uma adição posterior, com o
intuito de vindicar, artificialmente, a causa de Jó, de tal modo que “tudo está
bem com aquilo que termina bem”, o que, conforme sabemos, não corresponde à
mensagem que o autor sagrado queria transmitir.
1 – Outro Propósito
O livro de Jó provê uma,
ou várias respostas para o problema do mal, sobre o que trataremos
especificamente logo mais na quinto item
deste estudo.
Não há que duvidar que
esse é o principal problema ventilado no livro. Porém, em adição a isso, também
é seguro que o autor sagrado estivesse sondando as profundezas da fé de um ser
humano, mesmo diante do sofrimento moral e físico.
Todavia, isso constitui
apenas uma das respostas possíveis para o problema do sofrimento.
Um indivíduo pode
lançar-se nos braços da graça, do amor e do poder de Deus, sofrendo no escuro,
escudado exclusivamente em sua fé.
De alguma maneira, em
algum lugar, Deus está no seu trono, e tudo corre bem no mundo, a despeito de
teimosas evidências humanas em contrário.
2 – Qualidade estética
Alfred, Lord Tennyson,
que foi um poeta de grande envergadura, considerava o livro de Jó como “o maior
poema dos tempos antigos e modernos”.
“Esteticamente falando, Jó
é a produção literária suprema do gênio dos hebreus”.
3 – Admiráveis qualidades intrínsecas
É de estranhar que um
livro que nada exiba de caracteristicamente israelita, onde a lei mosaica nunca
é promovida, tenha encontrado lugar seguro no cânon hebraico da Bíblia.
Essa posição do livro de
Jó nunca foi seriamente desafiada.
Podemos apenas supor que
a sua qualidade estética seja tão grande que ninguém jamais ousou desafiar seu
direito ao rol dos livros divinamente inspirados.
O livro reflete uma
experiência humana crítica, sendo uma busca por respostas para certas duras
experiências humanas, pelas quais todos os povos se interessam.
II – O homem Jó e os fatos da historicidade do livro
O nome Jó significa “Objeto
de Hostilidades”. Ele se tornou sinônimo de paciência e perseverança, e apesar dos
esforços do Diabo de remover este excelente exemplo de integridade das páginas
da história, a resposta é clara: “Jó foi um personagem real”.
Deus mencionou junto com
Suas testemunhas Noé e Daniel, cuja existência foi aceita por Jesus (Ez 14.14, 20
comparando com Mt 24.15, 37).
A antiga nação hebréia
encarava a Jó como pessoa real.
O escritor cristão Thiago
menciona o exemplo de perseverança de Jó (Tg 5.11).
Somente um exemplo da
vida real, e não um fictício, teria peso para convencer adoradores de Deus de
que é possível manter a integridade sob todas as circunstâncias.
Ademais, a intensidade e
o sentimento dos discursos registrados em Jó testificam a realidade da
situação.
Jó viveu na cidade de Uz,
uma cidade localizada segundo alguns geógrafos, no Norte da Arábia, perto da
terra ocupada pelos Edomitas, e a leste da terra prometida à descendência de
Abraão. Os sabeus ficavam ao sul, os caldeus, ao leste. (Jó 1.1, 3, 15, 17);
A data da provação
daquele homem foi muito depois dos dias de Abraão. Foi num tempo em que não
havia ninguém igual a (Jó) na terra, homem inculpe e reto (1.8).
Este parece ser o período
transcorrido entre a morte de José, um homem de notável, e o tempo em que Moisés iniciou o
seu proceder de integridade.
Jó se distinguia na adoração
pura durante este período em
que Israel estava contaminado com a adoração demoníaca do
Egito.
Ademais, as práticas
mencionadas no primeiro capitulo de Jó, e aceite de Deus a Jó como verdadeiro
adorador, indicam os tempos patriarcais.
Entre outros fatores
consideráveis, podem ser usados quanto à existência pessoal de Jó e a
veracidade da historicidade do Livro os seguintes:
a - Que está provada a
poderosa inspiração de Deus no escritor sagrado, haja visto a sua surpreendente
harmonia com os fatos provados das ciências.
Havia um conceito no
Egito daquela época de que a terra estava apoiada a um grande elefante. Porém,
a Bíblia diz que "O norte estende sobre o vazio; e suspende a terra sobre
o nada." (Jó 26.7)
b - O vigoroso estilo da
poesia hebraica, empregado no livro de Jó, torna evidente que era composição
original em hebraico.
Não poderia ter sido essa
tradução de outro idioma como o árabe.
Os trechos em prosa tem
mais semelhança com o Pentateuco do que com quaisquer outros escritos da Bíblia.
c - O escritor deve ter
sido israelita, porque os judeus “foram incumbidos das proclamações sagradas de
Deus”. (Rm 3.1-2)
d – De acordo com o The
New Encyclopedia Britânica (a Nova enciclopédia Britânica), o livro de Jó é
muitas vezes “contado entre as obras-primas da literatura mundial”. Entretanto,
o livro é muito mais do que isso.
e – A Idade de Jó.
No início do livro de Jó,
o achamos casado, com dez filhos adultos e com muitas posses.
Depois de suas
experiências com sofrimento e os debates com seus amigos, ele ainda viveu 140
anos (42.16-17).
Ao todo, a vida de Jó
certamente chegou aos 200 anos, e talvez até tenha ido muito além dessa idade.
Sabemos que os homens nos
primeiros capítulos de Gênesis atingiam idades bem avançadas.
Depois do dilúvio, as
idades começaram a diminuir.
Abraão viveu 175 anos,
Isaque, 180, Jacó, 147, José, 110, etc...
Isto nos sugere que, de
fato, Jó se encaixa na época dos patriarcas, durante ou antes de Abraão.
III – Proveniência
Se o Livro não é uma obra
histórica e, sim, uma novela filosófico-religiosa, uma parte da literatura de
sabedoria judaica, então não importa muito a investigação acerca de onde o
livro foi escrito.
Mas, se for uma obra
histórica, então temos o informe, em Jó 1.3, de que o relato ocorreu no “Oriente”,
com “o maior de todos os do Oriente”.
Mesmo nesse caso, porém,
o autor sagrado, outro que não o próprio Jó, poderia ter escrito acerca de Jó,
um homem do Oriente, sem que ele, o autor, residisse ali.
Apesar de não podermos
determinar onde o livro foi escrito, pode ser que o forte caráter aramaico do
livro indique que foi produzido em um centro aramaico de erudição.
Se o livro realmente
deriva-se da época dos patriarcas (vide itens II e IV), então esse lugar
poderia ter sido em algum ponto perto de Araam Naharaun (Araam dos Dois Rios),
ao Norte da Mesopotâmia.
Nos fins dos segundo
milênio a.C., tribos araméias deslocaram-se para o sul e se estabeleceram nas
fronteiras da Babilônia e Palestina, continuando a controlar a rota de
caravanas que atravessavam a área de
Cabur.
E foi então que Alepo e
Damasco tornaram-se centro arameus.
O trecho de Jó 1.17
poderia indicar um tempo quando os caldeus ainda estavam vivendo como
seminomades, isto é, antes de 1.000 a.C.
Mas, se o livro de Jó
pertence a uma data comparativamente posterior, então todas as especulações
dessa natureza tem pouco ou nenhum valor, no que diz respeito à proveniência
desse livro.
Parece que Jó foi uma
personagem histórica que passou por experiências incomuns.
Ele, talvez fosse um xeique
que vivia próximo ao deserto da Arábia, em uma época similar à dos patriarcas
hebreus.
“O autor do livro fez uso
de licença poética e, assim, transformou a narrativa sobre os sofrimentos de Jó
em um memorável drama”.
Jó é apresentado como um homem
que vivia na terra de Uz (Jó 1.1), que
alguns estudiosos supõem que ficasse situada em algum ponto entre Damasco
da Síria, ao norte, e Edom ao sul, ou
seja, nas estepes ao leste da Síria – Palestina.
Porém, mesmo que essa
informação seja correta, isso não significa que o autor do livro resida ali.
A conclusão é que não dispomos
de informação certa quanto a esse particular.
IV – Data, Autoria e Integridade do Livro
1 – A data
O livro é encaixado, bem
claramente, dentro do período dos patriarcas hebreus.
Não há nenhuma menção à
lei mosaica, como também coisa alguma distintamente judaica no livro.
Alguns eruditos supõem
que houvesse uma tradição oral, que preservava a narrativa, fora de Israel,
antes de ter sido posta em forma escrita, por algum israelita desconhecido.
A isso podem ter sido
feitas adições, da parte de um editor ou editores posteriores, como um prólogo,
alguns dos capítulos finais e o epílogo.
Se Jó foi uma figura
histórica, então poderíamos datá-lo dentro dos limites amplos entre 2.000 a 1.000
a.C.
Várias descrições, como a
longa vida de Jó, o fato de que suas riquezas eram aquilatadas sob a forma de
gado, e que o relato parece refletir uma vida nômade (própria das tribos dos
sabeus e dos caldeus), ajustam-se ao segundo milênio a.C., melhor que qualquer
outra época posterior.
Isto faz de Jó um homem
que viveu há muito tempo no passado, talvez até algum tempo antes de Abraão.
Por outro lado, visto que
o livro faz parte da literatura de sabedoria dos judeus, muitos tem pensado que
sua compilação pertence a um tempo muito posterior a isso.
As opiniões a respeito
divergem muito uma das outras, indo desde o segundo milênio até o século IV a.
C.
Encontraram-se fragmentos
do livro de Jó entre os manuscritos do Mar Morto, o que elimina a data ultra
posterior de 200 a.C.,
como alguns eruditos tem arriscado.
Todavia, esse livro
poderia refletir especulações filosóficas, sobre o problema do mal,
especificamente o porque dos sofrimentos de certos homens bons, que já pertence
ao período pós-exílio dos judeus.
Os judeus então estavam
meditando sobre como grandes tragédias podem sobrevir aos homens, conforme os
próprios judeus tinham sofrido nas mãos dos assírios e babilônios.
Ideias comuns sobre como
operam a divina providência e a retribuição, estavam sendo testadas pelos
acontecimentos históricos, e o livro de Jó pode ter sido uma tentativa de se
provar respostas para esse problema.
2 – Autoria
Em vista do ambiente
patriarcal que transparece no livro, a tradição judaica piedosa trem pensado
que Moisés foi o autor do Livro de Jó (Baba Bathra 14v ss), embora isso,
segundo outros, esteja fora da realidade.
O próprio livro não nos
fornece nenhuma indicação de que Jó tenha escrito qualquer porção da obra.
Então temos um autor
desconhecido que viveu em um período desconhecido.
“A menção aos bandos de
caldeus (Jó 1.17) e o uso da arcaica palavra qesitah (Jó 42.11) na versão
portuguesa, dinheiro), apontam meramente, para a antiguidade da história e não
para a sua presente escrita.”
Os eruditos modernos tem
variado na data do livro, desde os dias de Salomão até cerca de 250 a.C., embora as datas
mais populares variam de 600 a
400 a.C.,
apesar de haver uma tendência crescente em favor de datas posteriores.
Os argumentos com base no
assunto, na linguagem e na teologia favorecem uma data até posterior à de
Salomão, mas visto que o livro é “sui generis” dentro da literatura dos
hebreus, que a linguagem empregada é tão distintiva (alguns eruditos chegam a
pensar que se trata de uma tradução de um original aramaico, enquanto que
outros consideram que seu autor teria vivido fora da Palestina), qualquer
dogmatismo deriva-se de fatores subjetivos preconcebidos.
3 – Integridade
No item I –
Caracterização Geral, apresentamos as razões pelas quais alguns eruditos
duvidam que o livro inteiro tenha sido escrito por um único autor.
As porções atribuídas a
algum autor-editor são o prólogo (capítulos 1 e 2), a descrição sobre o hipopótamo
(40.10 – 41.25), os discursos de Eliú (32.1 – 37.24), capítulo 21, e o epílogo
(42.7-17).
Alguns estudiosos dizem
que os capítulos 28, 32-37 e 38-39 também são adições.
Porém, até onde podemos
ver as coisas, as razões contra e a favor da autoria original dessas seções são
puramente subjetivas, e nada de positivo pode ser provado.
É verdade que uma
grandeza essencial de expressão poética percorre a obra inteira; mas, tanto
pode ter havido um, como dois ou três poetas envolvidos.
Além disso, qualquer
autor pode inserir material tomado por empréstimo e, nesses pontos, certa
incongruência ou diferença de estilo pode ser observada, interrompendo a
suavidade do fluxo da apresentação, sem que isso indique a contribuição feita
por algum outro autor.
Segundo esses críticos,
os discursos de Eliú são rejeitados como originais (Jó 32.1 – 37.34), porque ele
não é mencionado no epílogo onde os amigos de Jó foram repreendidos.
Porém, se o epílogo foi
acrescentado por algum autor posterior, por que ele omitiu esse nome?
Deveríamos supor que os
discursos de Eliú tivessem sido incluídos no livro após a adição do epílogo?
Novamente entramos em um
raciocínio meramente subjetivo não havendo como fazer nenhuma afirmação
absoluta acerca do problema assim levantado.
E nem isso é necessário
para crença na divina inspiração do livro.
Todos os livros da Bíblia
contém seus elementos humanos, e nenhum deles foi escrito em um vácuo, para
então ser hermeticamente fechado.
Os eruditos que fazem a
fé depender dessas coisas enfatizam aqui que se reveste de pouca ou nenhuma
importância, exceto que essas coisas, mui naturalmente, desempenham um papel
legitimo na analise e na avaliação literárias.
V – O Problema do Mal
O livro de Jó é o único
livro da Bíblia que aborda especificamente o problema do mal, ao mesmo tempo em
que é um dos mais extensos escritos que tem sido preservado desde tempos
antigos.
Alguns estudiosos negam
que o tema principal do livro seja esse problema, preferindo sugerir que o
livro realmente perscruta as profundezas da fé que um homem é capaz. De ter,
diante de inexplicáveis sofrimentos. Porém, isso, por si mesmo faz parte do
problema do mal. No que consiste o problema do mal.
Esse é o problema que
consiste em explicar como é que pode haver tanta maldade no mundo.
Existe o mal natural: os
acidentes, as inundações, os terremotos, os incêndios, as enfermidades e, acima
de tudo, a morte, a qual parece ser o ponto culminante dos males naturais.
Existem males que não se
derivam diretamente da vontade e dos atos maus dos homens.
Essas são coisas naturais
que afligem todas as pessoas. Essas são “atos de Deus”, conforme alguns dizem.
Existe também o mal
moral, males que se derivam diretamente da vontade e dos atos pervertidos e
maldosos dos homens, como as guerras, as matanças, a desumanidade do homem
contra o homem.
Essa questão toda envolve
Deus: Se existe um Deus todo-sábio (que conhece até o futuro – onisciência),
todo-poderoso (onipotente), e todo-amoroso (Misericórdia que dura para sempre),
então por que há tanta maldade e sofrimento neste mundo?
Não podemos lançar a
culpa de tudo na perversidade humana.
Jó ficou muito doente, e
a sua carne, por assim dizer, desprendeu-se dos seus ossos. Isso foi uma
enfermidade, parte dos males naturais.
Por que Deus permite o
sofrimento? Por que o homem bom sofre? Por que os homens maus não são julgados?
Por que razão os ímpios prosperam? Qual é o resultado final do sofrimento? Haverá algum dia sem sofrimentos? Estas são
perguntas que os homens costumam fazer perplexos.
Apesar de não haver
respostas absolutas e perfeitas, nosso artigo sobre o problema do mal procura
dar aos leitores as respostas que existem. Mas todas essas respostas funcionam
melhor quando são outras pessoas que sofrem.
Quando temos de enfrentar
alguma grande tragédia, então as respostas que existem não nos parecem muito
boas.
VI – As razões do sofrimento, segundo o livro de Jó
Seja como for o livro de
Jó procura nos fornecer algumas respostas para o problema do mal, senão
vejamos:
1 – Os discursos dos
amigos de Jó procuram nos fornecem a resposta padrão, que está sendo posta em
dúvida, por este livro: Deus castiga os ímpios com o sofrimento.
Segundo os amigos de Jó,
a retribuição divina é a grande resposta. Mas, apesar de haver nisso alguma
razão, Jó nos é apresentado como um homem inocente das acusações que o
acusavam, pelo que os seus sofrimentos não podiam ser atribuídos àquelas
acusações.
Mesmo quando ele
confessou ser um pecador, e declarou que se arrependia, não o fez a fim de
explicar por que ele estava sofrendo, mas serviu apenas para mostrar que todos
os homens, diante de Deus, devem assumir uma posição de humildade, como
pecadores que são (Jó 42.6).
2 – Os discursos de Eliú
salientaram o principio de que o sofrimento é uma disciplina para os justos, o
que corresponde a um princípio verdadeiro, embora, por certo, não seja a
resposta no caso especifico de Jó. (Jó 33.16-18; 27.30; 36.10-12)
3 – Jó 19.25-26 – Os
remidos participam de uma gloriosa vida pós-túmulo, pelo que todos os
sofrimentos terrenos e temporários são ali obliterados.
Essa é uma boa resposta padrão,
sem dúvida, mas não é ainda o principal argumento do livro.
Seja como for essa
resposta tenta por na correta perspectiva o problema do sofrimento humano.
Nós, como seres mortais,
exageramos a importância das coisas temporais e transitórias desta vida.
Pode haver desígnio ou
não nessas coisas; mas elas duram por algum tempo, e depois se acabam.
4 – Há profundezas da fé
que os justos podem obter e que lhes conferem coragem para enfrentar seus
sofrimentos, sem duvidarem da providência e dos desígnios de Deus.
Apesar disso também não
são uma resposta definitiva para o problema. Isso é uma espécie de solução para
problema daquele que está sofrendo no momento.
Um homem, mediante a sua
fé, impõe-se à sua situação adversa, obtendo nisso razão para prosseguir,
significado, desígnio e esperança.
5 – O texto sagrado
declara que Deus atua em todo o universo, trazendo chuvas à terra onde nenhum
homem existe (Jó 38.26), que Deus está cônscio do mal e dos sofrimentos
(personificados nos monstros, hipopótamo e crocodilo. (Jó 40.15 – 41.34).
É óbvio que Deus cuida
dos homens e observa os seus sofrimentos.
Apesar de, talvez, não
sabermos qual a razão de nossos sofrimentos, pelo menos tomamos consciência da
bondade e da providência permanente de Deus, o qual permite todas essas coisas,
e assim podemos descansar no Senhor.
6 – A presença de Deus. –
Essa é a resposta final e mais excelente do livro de Jó.
Poderíamos dizer: “Estive
com o Senhor, e sei que não pode sobrevir ao homem, finalmente, um dano
permanente”.
Essa é a resposta mística,
a resposta que envolve a presença majestática e consoladora de Deus.
Na presença de Deus,
talvez os nossos argumentos intelectuais não melhorem; mas a nossa fé em sua
providência torna-se invencível.
Os místicos que tem
experimentado a presença divina, tem chegado ao extremo de negar a existência
do mal, exceto como um fator que envolve a ausência do bem, ou seja, aquilo que
contrasta com o bem positivo.
Todos os atos de Deus
estão encobertos dos olhares humanos, embora vejamos muitas luzes.
Há cores brilhantes e
escuras formando um grande desenho, como um tapete.
As cores escuras fazem
destacar a beleza das cores brilhantes; e, juntas, essas cores brilhantes e
escuras, produzem uma beleza singular.
Alguns místicos afirmam
que o mal e o sofrimento perfazem as cores escuras daquele simbólico tapete, e
que, finalmente, tudo é bom, tudo é necessário; tudo faz parte da beleza de
todas as coisas.
Na presença de Deus, pois
sentimos isso, embora, talvez, nos faltem argumentos intelectuais para afirmar
tal coisa de modo inteligente.
Na presença de Deus,
pois, encontramos sua vontade inescrutável, e nos inclinamos, reverentes,
sabendo que até o mal redundará em bem para nós, embora não saibamos dizer de
que maneira.
Quando a alma comunga com
Deus, ela sabe que Deus está no seu trono, e que tudo está bem no mundo.
Talvez não disponhamos de
respostas intelectuais, mas podemos experimentar a presença daquele (Deus) que
nos dá as respostas, e é em momentos como estes que sabemos que o Consumado
Artista nunca cai em erros e equívocos.
O criador de todas as
coisas indagou de Jó: “Acaso anularás tu, de fato, meu juízo? Ou me condenarás,
para te justificares?” (Jó 40.8).
Jó não ficou satisfeito
com as respostas que lhe foram dadas e, sim, com a comunhão imediata com o Ser
divino.
Foi isso que levou Jó, a
semelhança dos grandes profetas, a dizer: “Eu te conhecia só de ouvir, mas
agora os meus olhos te veem” (Jó 42.5).
E todas as soluções
possíveis para o mal que há neste mundo são encontradas em face dessa visão
beatífica.
7 – O prólogo tem por
finalidade dar-nos a resposta (ou, pelo menos, uma resposta) desde o começo.
Satanás, percebendo a
prosperidade de Jó, e como Deus elogiou o seu servo fiel, pôs então em dúvida a
lisura de Jó, propondo submeter a teste a autenticidade de sua bondade.
Jó seria bom por ser
verdadeiramente justo, ou seria bom porque Deus o havia abençoado?
Em outras palavras, a sua
bondade era autêntica justiça de alma, ou seria uma bondade egoísta, alicerçada
sobre a prosperidade material?
Seguiu-se o terrível
teste de Jó.
Se levarmos em conta
isso, de forma literal, e não como um esquema literário para introduzir a
narrativa, então, temos aí, um mui perturbador ensino de que os justos podem
sofrer meramente porque os poderes malignos querem submetê-los a teste; e, mais
perturbador ainda é o pensamento de que Deus coopera com para que os justos
sejam submetidos a essas provas!
Portanto, é melhor
compreendermos esse prólogo (provavelmente escrito por um autor diferente
daquele que compôs o grande poema) como um artifício literário, e não como algo
cuja intenção era mostrar que as Escrituras ensinam que os poderes malignos
podem fazer uma espécie de barganha com Deus, com o resultado de que os justos
acabam sofrendo injustamente.
VII – Esboço do Conteúdo
1 – Prólogo – O teste é
proposto e aceito – capítulos 1 e 2
2 – Primeira série de
discursos – O discurso de Jó e de seus 3 amigos – capítulos 3 – 4
a – Jó seria culpado, pelo que estava
sendo punido. Essa é a razão do sofrimento humano.
b – Jó nega tal acusação
3 - Segunda série de discursos – Os 3
amigos molestos de Jó, discursam e recebem sua resposta – capítulos 15 – 21.
4 – Quarta série de discursos – Elifaz
e Bildade apresentam novos argumentos e Jó lhes dá respostas – capítulos 22 – 23
5 – Discursos de Eliú – capítulos 32 – 37
a – O propósito da aflição –
capítulos 32 -33.
b – Vindicação da pessoa de Deus – capítulo 34
c
– As vantagens da piedade – capítulo 35
d – Deus é grande, e Jó é ignorante –
capítulos 36 – 37
e - Eliú faz a valiosa
observação de que o sofrimento pode servir-nos de disciplina
6 – Os discursos de Deus – capítulos 38 – 42.6
Na presença de Deus, a
solução deve ser sentida, mesmo quando não intelectualizada.
a – Deus é todo-poderoso e
majestático! Jó percebe sua pequenez e sente a vaidade de suas palavras – capítulos 38.1 – 40.5
b – O poder de Deus contrasta com a fraqueza humana. Jó se arrepende e
demonstra a humildade que cabe bem ao homem.
A presença de Deus experimentada garante a
solução final para o problema do mal capítulos 40.6 – 42.6
7 - Epílogo – Os molestos consoladores de Jó são
repreendidos.
Deus reverte a fortuna de
Jó, e a paz e a abundância material substituem a enfermidade e a carência – capítulos 42.7-17.
VIII - Informações de suma importância
Assimilemos:
1 – Um livro distinto.
Jó é o único livro da
Bíblia aborda o problema do mal.
Consiste virtualmente em
um monólogo e em um manual sobre o assunto que é um dos mais difíceis problemas
tanto para a teologia como para a filosofia.
O problema do mal
pergunta: “Por que os homens sofrem, e por que sofrem como sofrem?”
Os homens sofrem através
do mal moral, isto é, da desumanidade do homem contra o homem. Eles sofrem
através do mal natural, isto é, dos abusos da natureza, enfermidades,
incêndios, inundações, terremotos, desastres naturais e, o campeão de todos os
males, a morte.
O livro apresenta um caso
notável de “sofrimento desmerecido”, cujas razões não podemos discernir.
É fácil explicar o
sofrimento (pelo menos, é mais fácil), quando aplicamos a lei do carma, a lei
da causa e efeito: os homens sofrem porque merecem sofrer, por causa de seus
pecados, erros, lapsos e omissões.
Essas causas podem ser
encontradas na vida presente, em algum estado preexistente (conforme acredita a
igreja Cristã Oriental) e em vidas terrenas anteriores, se pensarmos que a
reencarnação é uma doutrina valida (Hb 9.27 ao homem cabe morrer uma só vez).
Seja como for, podemos
discernir causas: algum erro cometido leva os homens a sofrer com o mal.
Embora essa ideia, sem
dúvida, esteja por trás de muitos casos de sofrimento, há outras considerações
e mistérios envolvidos que nenhuma explicação pode resolver.
Nesse livro são oferecidas
algumas respostas, porém, quando um determinado mal nos atinge, as respostas
não são tão adequadas como quando atinge outra pessoa.
O livro de Jó é uma
excelente peça poética e tem muitas características e qualidades que ultrapassa
a simples consideração do problema do mal, que é o que tentamos destacar na
introdução deste serviço.
2 - As profundezas da fé
Não podemos dizer que o
livro de Jó resolve os problemas do mal. Ele apenas tenta fornecer algumas
respostas. Sonda as profundezas da fé e acha ali alguma consolação, a despeito
do sofrimento.
Jó encontrou, na presença
de Deus, a resposta para o problema do mal, mas exatamente como, não sabe dizê-lo.
Portanto, restam
mistérios, mas a investigação compensa e nos dá segurança, mesmo sem o
conhecimento completo.
3 – Mensagem principal do livro
Embora o livro, de fato,
proponha uma teodicéia (a defesa da bondade de Deus diante do sofrimento do
homem), apresenta primeiramente o problema da existência ou da fé e da
espiritualidade desinteressada.
Porventura um homem tem
fé por razões egoístas? Porventura ele obtém em sua fé ganho material e
espiritual, que o beneficie? Haverá ele
de servir a Deus e adorará ele a Deus, se as coisas sairem erradas e se suas
orações não forem respondidas?
O autor sagrado traz o
problema do mal no quadro, para testar a teoria da fé e da adoração
desinteressada.
Quais são os motivos que
levam um homem a viver piedosamente? Os homens são sempre egoístas? Porventura
um homem adora a Deus somente por Ele ser Deus, sem considerar alguma vantagem
pessoal através da fé?
“A questão do livro de Jó,
não é uma teodicéia, mas uma adoração verdadeira” (Bernhard W. Anderson)
“A sugestão sutil de
Satanás, de que a adoração é algo bastante egoísta, fere no âmago do homem sua
relação com Deus”.
Mas o livro de Jó faz
mais do que levantar a questão do sofrimento dos justos.
Através das palavras de
Satanás, o livro também trata dos motivos para uma vida piedosa.
Porventura alguém servirá
ao Senhor se não obtiver algum lucro pessoal com isso? A adoração é uma maneira
de comprar uma recompensa celestial? É a piedade parte de um contrato mediante
o qual um homem obtém lucro e afasta a tribulação? (Roy B. Zuck, comentando Jó
1.9).
4 – Ateísmo
A principal razão,
(embora certamente não a única) pela qual os homens são ou se tornam ateus
consiste no problema do sofrimento.
Eles calculam que um Deus
como o alegado, que de seu trono não desconhece a existência do sofrimento
observável no mundo todos os dias, na realidade não deve existir. Sua suposta
bondade suprema entra em conflito com o que acontece às pessoas.
5
- O Deus de satanás, Jó 1.11
Embora não tenhamos
encontrado fontes que deem embasamento ao que exporemos a seguir, porém,
acreditamos ser aceitáveis.
O tipo de Deus inventado
por Satanás demanda adoração sem importar como Ele age. Deus voluntarista do
Judaísmo primitivo.
O voluntarismo supõe que
a vontade de Deus seja dominante, em detrimento de qualquer consideração da
bondade (conforme a compreendemos), ou mesmo das regras morais (conforme as
entendemos).
Contra esse tipo de Deus,
observamos que de acordo com as escrituras, Deus estabeleceu as regras e é a origem
de toda a moralidade que tem sido imposta aos homens.
Se o homem abandonar o
amor e voltar-se para o destruidor, então Ele não será mais o Deus das
Escrituras, ou, pelo menos, o Deus do Novo Testamento.
6 - O testemunho de Jesus
Jesus falou em Deus como
um pai. Disse Ele: “Qual dentre vós é o homem que, se seu filho lhe pedir pão,
lhe dará uma pedra? Ou se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente?” Mt
7.9-10.
O Deus que dá uma pedra a
um filho que lhe pede um pão, ou que sempre dá uma serpente quando filho lhe
pede um peixe, não é o Deus retratado no Novo Testamento.
Se o homem orar e suas
orações nunca forem respondidas, se a sua vida estiver em plena miséria,
enfermidades, acidentes e morte de entes queridos, e se dissermos que “Deus está fazendo isso”, então ele pensa ter que abandonar aquele
conceito de Deus (o Deus do voluntarismo).
Também não devemos estar
interessados na adoção ao tipo de Deus que Satanás inventou.
Um filho tem o direito de
pedir favores ao seu pai.
A lei do amor exige
misericórdia e abundante reação.
Portanto, não existe algo
como fé desinteressada, tanto que o nosso relacionamento com Deus é entre o
filho e o Pai.
Naturalmente, existem
pessoas espiritualmente egoístas, e nisso há abuso.
“Na linguagem poética do
livro (de Jó), Deus está em operação no universo, a ponto de fazer chover sobre
a terra, onde não há ninguém (Jó 38.26); e Ele estava consciente do mal
(personificado pelos monstros como o hipopótamo e os animais orgulhosos) (Jó 40.15
– 41.34)
Ao mesmo tempo, Deus
cuidava de Jó com tanto empenho que se revelou pessoalmente a ele, e com ele
compartilhou a visão de suas responsabilidades cósmicas.
Um Deus que confessa sua
preocupação com o homem é um Deus que está profundamente envolvido no destino
humano.
Deus não é uma força
passiva.
Na presença da santidade
e do amor criativo, o homem virtuoso desiste de seu orgulho na adoração.
À sua maneira pessoal, o
poeta transmitiu um ponto de vista do pecado que transcende a moralidade; e a
consciência do pecado só é possível dentro do contexto da fé” (Oxford Annotated
Bible, introdução)
7 – Teismo
O citado anteriormente
expressa com eloquência a natureza do teísmo.
Assim é que Deus criou,
mas também se faz presente para intervir nos negócios dos homens: Ele
recompensa, pune e guia.
Os homens são moralmente
responsáveis diante de Deus.
8 – Os livros poéticos
O livro de Jó dá inicio a
seção dos livros poéticos: Jó, Salmos, Eclesiastes, Cantares de Salomão e
Lamentações.
Em sua forma poética,
esses livros investigam a condição humana e relacionam os homens com Deus de
maneiras múltiplas.
São livros de experiências
humanas do povo de Deus sob as várias circunstâncias da vida terrena.
Essas experiências, à
parte das meras circunstâncias externas, são operadas neles pelo Espírito...
Os livros poéticos são
épicos, líricos e dramáticos, e suprem exemplos de expressão literária que não
há igual na literatura não inspirada” (Scofield reference Bible, introdução).
9 – Principais Problemas
do Livro; Dificuldades Teológicas.
O livro de Jó parece mais
uma parábola, ou peça de teatro que tem o objetivo de apresentar uma determinada
visão teológica do sofrimento, em contestação a uma visão tradicional, ou seja,
da teologia da retribuição.
A religião oficial
ensinava que, o que aqui se faz aqui se paga.
Logo, quem faz o bem
recebe as bênçãos de Deus, quem faz o mal é punido.
Quando alguém é bem
sucedido na vida e tem muitos bens, seria prova de que ele é justo?
Opostamente, a miséria,
os desastres, as doenças e a pobreza seriam indícios de que seu portador seria
um pecador.
Na época da redação ainda
não é generalizada a fé numa vida após a morte, por isto, os judeus de então
esperavam recompensa já aqui na terra para suas boas obras, pois legitimava o
status quo, da sociedade que marginalizava o pobre, ou seja, os ricos e bem
sucedidos eram vistos como os bons, os próximos de Deus e os pobres como
pecadores que estavam pagando seus pecados.
Eles eram culpados de sua
desgraça.
Os amigos de Jó achavam
que havia culpa nele... havia pecado... por isso, estava sendo punido.
Ainda nos tempos de
Jesus, os apóstolos pensavam que os ricos estivam mais perto de Deus.
Estranharam quando Jesus
disse que dificilmente eles entrariam no Reino: “Então, quem pode ser salvo?” (Mc
10.26).
O livro de Jó quer nos
mostrar que não é bem assim.
Jó é um homem justo que
sofre e este justo questiona Deus, ou melhor, questiona a teologia que ensina
tal coisa.
Questiona o Deus da
religião oficial, ou dos dominantes.
Titulo: Livro de Salmos
Autores: Davi, Asafe, filhos de Cora, Etã e Moisés
Data: Quase todos escritos entre os séc. X a V a.C
Quantidade de Salmos: 150
Quantidade de versos: 2.461
Verso – chave: SL 01.01-02
Tema: Oração e Louvor
Introdução
O Livro de Salmos é uma
coleção de poesias hebraica inspiradas, mostrando a adoração e descrevendo as
experiências espirituais do povo judaico.
È uma parte íntima do
Antigo Testamento, dando-nos uma revelação do coração do judeu santo e,
percorrendo todas as escalas de suas experiências com Deus e a humanidade (cfme
comentário do livro “Através da Bíblia” Livro por Livro, pág, 118).
Esses livros foram
compostos por muitos autores, dos quais alguns são desconhecidos.
Logo, como em todos os
livros da Bíblia, há divergências entre várias correntes científicas que questionam
a veracidade das autorias, datas e historicidades; e outras que, como a
tradição judaica, se arriscam e defendem uma posição formada.
Certas divergências até
de certa forma incitam a esses estudiosos a se aprofundarem muito mais na
pesquisa científica, ou seja, nos exames dos documentos e informações que deram
embasamento ao livro, por exemplo, através da arqueologia, a fim de refletirmos
sobre argumentos muito fortes e suficientes, levando-nos a resultados que não
deixem evidência nenhuma para dúvidas.
Assim nós, como
estudiosos, também tentaremos analisar as fontes que temos em mãos para
entendermos esse livro.
O Pesquisador
I – O Titulo e Vários Nomes
O moderno título do livro
de Salmos do Antigo Testamento vem do grego “Psalmós”, que aponta um cântico para
ser cantado com acompanhamento de algum instrumento de cordas, como por
exemplo, a Harpa.
O verbo em “Psallein” no
grego significa “tanger”.
A Septuaginta (setenta
sábios judeus, que traduziram o Antigo Testamento do aramaico para o grego), diz
“Psalmoi”, como título do livro.
E é da Septuaginta que se
deriva o nome do livro.
A Vulgata Latina,
seguindo a Septuaginta diz, como título, “Líber Psalmorum”, do latim
“Psalterium”, “um instrumento de cordas”.
2 – O titulo hebraico
antigo do livro era “Tehillim”, significa “cânticos de louvores”.
Esse título refletia o
principal conteúdo dessa coletânea em geral.
Mas vários outros
vocábulos hebraicos introduzem salmos específicos, a saber:
a – Shir, “cântico” (29
salmos),
b – Mizmor, “melodia”,
“salmo”, (57 salmos); essa palavra subentende o tanger de algum instrumento de
cordas, pelo que é similar ao termo grego “psalmós”.
c - Sir Hammolot,
“cântico dos degraus” (Sl 120
a 134), que eram cânticos entoados por peregrinos que
subiam a Jerusalém para celebrar as festividades religiosas.
d – Miktam, cujo sentido
exato se perdeu, embora haja nas composições envolvidas a ideia de lamentações
e expiações (Sl 16, 56-40);
e – Maskil, “instrução”,
que são salmos didáticos (Sl 74, 78-79);
f – Siggayon, também de
significado duvidoso, mas talvez uma palavra relacionada ao termo hebraico
“saga”, “dar uma guinada”, “girar”, referindo-se a um tipo de música agitada
(Sl 7);
e – Tepilla, “oração”,
referindo-se a uma composição poética entoada como uma oração ou uma petição
(Sl 142);
f – Toda, “agradecimento”,
Le annot, “aflição”;
g - Hazkir, “comemorar”
ou “lembrança, como no caso um pecado cometido (Sl 38 e 70);
h – Yedutum, “confissão”
(Sl 39, 62 e 77);
i – Lammed, “ensinar” (Sl
60);
j – Menasseah, “diretor
musical” (55 salmos);
k – Yonat elem rehoqim,
que diz respeito a alguma “pomba”, (deve estar em foco algum sacrifício);
l – Ayyelet hassahr,
“corça do alvorecer” (estando em foco algum sacrifício);
m – Sosannim, “lírios”,
(Sl 60, 65, e 69), talvez uma referência ao uso de flores em cortejos nos quais
eram entoados salmos;
n – Neginot, uma referência
a instrumentos musicais que sem dúvida acompanhavam o cântico de salmos (Sl 6,
54, 55 e 67).
o – Sela, “elevar”,
talvez uma direção para que se elevasse a voz, em algum tipo de bênção ou vozes
responsivas (39 salmos);
p – Nehilot, “flautas”,
uma referência ao acompanhamento do cântico de salmos por meio desse
instrumento de sopro.
A complexidade desses
títulos reflete tanto a própria complexidade da coletânea quanto o seu variado uso
em conexão com a devoção privada e com a adoração pública, especialmente aquele
tipo que era acompanhado por música.
II – Caracterização geral
O livro de Salmos,
tradicionalmente atribuído a Davi, é uma antologia de cânticos e poemas
sagrados dos hebreus.
Aparece na terceira seção
do antigo Testamento, chamada: “Os Escritos”. (no hebraico, Ketubim).
A palavra salmos é de
origem grega e denota o som de algum instrumento de cordas, e em hebraico, tem
o nome de Tehillim, cuja tradução significa “louvores”.
O tema dos salmos envolve
não somente louvores ao Senhor (Deus), mas também alegrias e tristezas
pessoais, redenção nacional, festividades e eventos históricos.
O seu fervor religioso e
poder literário, vem conferindo a essa coletânea, uma profunda influência
através dos séculos e não menos no mundo cristão.
Tem havido intensa
disputa entre os eruditos acerca da antiguidade e autoria desses salmos, e
acerca de sua conexão com o rei Davi.
Provavelmente foram
compostos durante um período bíblico de mil anos, ou mesmo mais.
Dentro os 150 salmos, 73
tem no seu titulo as palavras “de Davi”; e muitos deles foram compostos na
primeira pessoa do singular.
Alguns desses, ou porções
dos mesmos, parecem ser de data posterior ao reinado de Davi.
Entretanto, o cotejo com
outras peças poéticas religiosas do Oriente Próximo e Médio da mesma época
geral sugere que alguns dos poemas atribuídos a Davi datam, realmente, do tempo
dele.
É apenas natural a crença
popular, atribuir ao rei de Israel, Davi, um poeta e músico e de intima
comunhão com Deus, a atribuição à obra inteira, se não levarmos em conta o que
pensam os especialistas.
Os salmos reverberam as
mais profundas experiências e necessidades do coração humano, e assim exercem
uma atração permanente sobre as pessoas de todas as religiões.
Incorporam o que havia de
melhor nas formas poéticas dos hebreus, tendo-as desenvolvido, e eram
acompanhados por um surpreendente desenvolvimento musical, com frequência usado
para acompanhar a recitação dos salmos na adoração formal de Israel.
Tem-se tornado comum aos eruditos
liberais aludirem aos salmos como “o hinário do segundo templo”, o que serve de
uma boa descrição.
Contudo, não há nenhuma
razão constrangedora que nos force a duvidar de que pelo menos muitos dos
salmos, bem como a música que os acompanhava, já faziam parte da liturgia do
primeiro templo de Jerusalém.
Damos, logo a seguir, ideias
dos críticos e as refutações, quanto aos argumentos prós e os contra acerca da
data e da compilação dessa coletânea de hinos e poemas.
Esse hinário do segundo
templo contém muitos elementos antigos que correspondem ao que se conhece sobre
a poesia antiga de outras culturas e não somente da cultura hebraica; e isso
favorece a antiguidade pelo menos de uma parcela razoável da coletânea.
Seja como for, a fé
religiosa viva resplandece através desses hinos e poemas.
O Saltério é hinário do
antigo povo de Israel; e, posteriormente, veio a ser o livro
veterotestamentário mais constantemente citado no Novo Testamento.
Os primeiros hinários
cristãos, em vários idiomas, incorporaram muitos dos salmos, que então foram
musicados.
Sob o primeiro ponto,
temos dado indicações sobre os muitos tipos de salmos que compõem a coletânea e
nos itens V e VI, ilustramos essa questão um pouco mais.
Os principais tipos de
salmos são os de louvor, lamentação, confissão, júbilo, triunfo, agradecimento,
salmos reais, imprecações contra os inimigos, história sagrada, sabedoria,
liturgias e cânticos festivos.
O livro de Salmos reflete
muitos aspectos da vida religiosa, da fé e das aspirações do antigo povo de
Israel e é dotado de profunda beleza e percepção espiritual, o que tem feito do
livro uma parte imortal da literatura religiosa.
III – Ideias dos críticos e refutações
Apesar de todos os homens
louvarem os salmos, nem todos pensam que eles foram autenticamente compostos
por Davi e produzidos naquele antigo período da história.
Talvez a maioria dos
eruditos modernos veja os salmos como uma série de coletâneas que terminou
unida em uma única grande coletânea, embora a totalidade tivesse sido composta
e desenvolvida no processo de um longo tempo.
Alistamos os principais
pontos de vista dos críticos, juntamente com as refutações às suas criticas:
1 – O uso do termo
hebraico “le” levanta uma questão de interpretação.
Essa palavra pode significar
“por”, envolvendo assim a ideia de autoria.
Porém, também pode ter o sentido
de “pertencente a”, não requerendo assim a ideia de que determinados salmos
foram compostos pelo indivíduo que aparece no titulo.
Onze salmos
presumivelmente são atribuídos aos filhos de Core, mas essa palavra hebraica
aparece nos títulos introdutórios.
No entanto, o trecho de
II Cr 20.19 mostra-nos que esses homens formavam uma guilda de cantores do
templo, após o exílio.
Não é provável que eles
tenham, verdadeiramente, composto os salmos que lhes são atribuídos; antes,
esse grupo de salmos foi selecionado por eles (provavelmente procedentes de
diferentes autores), e os cantores os usavam em seu trabalho.
Resposta: Apesar de ser
verdade que o vocábulo hebraico em questão pode envolver o sentido de
“pertencente a”, e que de fato, em certos casos assim deve ser entendido,
também é verdade que tal termo pode significar “por”, indicando a autoria.
E se havia uma guilda
musical dos filhos de Core, que existiu depois do exílio babilônico, é também
provável que essa guilda já existisse desde os tempos mais antigos e que os
seus descendentes é que foram mencionados em II Cr.
A passagem de I Cr 6.31 fornece-nos
os nomes daqueles que Davi nomeou para ocuparem-se da música sacra, e os filhos
de Core estavam entre eles. Vejamos o vers. 38.
“Quando da reorganização
instituída por Davi, os coatitas ocuparam certa variedade de ofícios, incluindo
um papel na música executada no templo.”
2 – Os títulos dos Salmos
não eram originais e sem dúvida contêm muitos desejos piedosos, não informações
históricas autênticas.
Resposta: É verdade que
as tradições tendem por adicionar toda espécie de material não histórico, mas
também podemos estar tratando com anotações e observações verdadeiramente antigas
dotadas der valor histórico, pelo menos no que se aplica à maioria dos salmos.
A baixa critica (estudo
do texto dos manuscritos antigos) arma-nos de um constante testemunho em favor
desses títulos.
Todavia, este último
argumento não é muito definitivo, visto que, todos os manuscritos que temos dos
Salmos são tão posteriores que se torna impossível fazer qualquer afirmação
quanto ao valor histórico dos títulos, meramente por se encontrarem em todos os
manuscritos conhecidos.
Todos os manuscritos conhecidos
do Livro de Salmos são de data relativamente recente.
3 – Setenta e quatro dos
salmos são atribuídos ao rei Davi, mas entre eles manifesta-se uma grande
variedade de estilo, expressão e sintaxe, mostrando que dificilmente eles foram
compostos por um único autor.
Resposta: esse tipo de
argumento só pode ter peso se também for extremamente detalhado sobre quais
problemas envolvidos.
Argumenta-se que são
achados aramaismos nos salmos de Davi.
Os eruditos conservadores
dizem que isso poderia ter ocorrido durante o processo de transmissão dos
textos.
Questões assim só podem
ser tentativamente resolvidas por eruditos no hebraico.
Entretanto, todos os
autores são, parcialmente, compiladores, pelo que é possível que Davi, embora
poeta de alto gabarito, algumas vezes tenha incorporado composições não de sua
autoria, em seus poemas.
Além disso, é possível
que vários dos chamados salmos de Davi não fossem de sua autoria, embora esse
reparo não caiba a grande massa deles.
Salmos anônimos
provavelmente também foram atribuídos a Davi, visto que ele foi o principal
para a coletânea.
No Novo Testamento,
certos salmos são atribuídos a Davi, embora os títulos do Antigo Testamento não
digam tais coisas.
Não há necessidade de nos
empenharmos pela autoria davídica desses salmos; mas precisamos defender o conjunto de salmos de Davi.
Quanto às observações
neotestamentárias (At 4.25; Hb 4.7).
O trecho de I Cr 16.8-36
contém porções dos Salmos 96, 105 e 106, e parece atribuí-los a Davi, ao passo
que, no próprio livro de Salmos, eles figuram como anônimos.
E no tocante a Hb 4.7,
alguns estudiosos argumentam que esse versículo não precisa ser interpretado
com o sentido de que a autoria davídica esta em pauta, pois estariam em foco
apenas as questões do uso de ideias e o cuidado na prestação de ações de
graças.
04 – Muitas coletâneas,
incorporadas naquilo que finalmente veio a ser o Saltério, provavelmente
indicam um processo muito prolongado.
Assim, apesar de alguns
dos salmos terem sido de autoria davídica, a maior parte não o é, e a
compilação final ocorreu após o exílio babilônico.
Resposta: No primeiro item
deste serviço (o Título e vários nomes), ficou demonstrado que, de fato, muitos
dos títulos dos salmos sugerem fontes múltiplas, muito mais complexas do que se
dizer que Davi e alguns outros, como Asafe, Salomão, os filhos de Core, etc...
nos legaram os salmos.
Todos os bons hinários
são como antologias de hinos adicionados através dos séculos.
Porém, o reconhecimento
desse fato não anula a ideia de que Davi foi o principal e mais volumoso
contribuinte, e que outros salmos, como os de Asafe, também pertencem,
autenticamente, a época de Davi. (vejamos o item V, que diz respeito à
complexidade de fontes que aparentemente estão por trás do livro de Salmos).
Parece que, precisamos
admitir que o livro de Salmos recebeu contribuições da parte de muitos, ao
longo de um prolongado tempo.
Contudo, isso não anula o
antigo âmago do livro, especialmente aquela porção que pertence autenticamente
a Davi.
5 – Os títulos davidicos
relacionam os salmos a certos eventos da vida de Davi, mas a leitura desses
salmos envolvidos revela-nos que o seu conteúdo nada tem a ver com o que
aqueles títulos dizem.
Resposta: É admirável que
as mesmas evidências possam ser interpretadas de modos diferentes, tudo
dependendo de como os intérpretes queiram distorcer a questão.
Alguns eruditos liberais
admitem nada menos de dezoito salmos como de autoria autêntica de Davi; mas
outros eruditos não acham um único salmo que seja tão antigo que possa ser
atribuído a Davi.
No item IV deste serviço
(Autoria e Datas), apresentamos um estudo sobre esses salmos que parecem
refletir circunstâncias verdadeiras da vida de Davi.
Consideramos isso
adequado para demonstrar a presença de genuínos salmos davidicos no livro de
Salmos, mesmo que isso não possa ser aplicado a todos os setenta e quatro
salmos a ele atribuídos.
6 – Apesar de poder ser
demonstrado que alguns dos salmos contém elementos antiquíssimos, que mostram
afinidade com a poesia norte-cananéia (como aquela que foi encontrada em Ras Shamra), ou com os antigos textos babilônicos.
Pode-se interpretar melhor este ponto supondo-se que antigos elementos tivessem
sido incorporados e não que todos os salmos fossem verdadeiramente antigos.
Por outro lado, pode-se
mostrar que material literário semelhante aos salmos era bastante comum em
tempos pré-exílicos, segundo se vê em Os 6.1-3. Is 2.2-4, 38.10-20; Je 14.7-9; Hb
3.1 ss; I Cr 16.8-36.
O mesmo sucedeu em tempos
pós-exílicos, conforme se vê em Ed 9.5-15 fe Ne 9.6-39.
Com base nas evidências,
podemos afirmar que essa forma de composição escrita era encontrada em várias
colunas antigas, e isso cobrindo um período de tempo muito longo.
07. O guerreiro Davi
poderia ter sido o autor desses monumentos de espiritualidade?
Infelizmente é verdade
que, em muitas ocasiões, Davi agiu como um puro selvagem.
Mas ele viveu em tempos
extremamente violentos, e precisou usar da violência a fim de sobreviver.
Ficamos desconsolados ao
ler os relatos de matanças insensatas que ocorreram em seus dias.
Davi desejou construir o
templo de Jerusalém; e o profeta Natã encorajou-o a fazê-lo.
Mas, pouco depois, o
Espírito de Deus mostrou a Natã que Davi não era a pessoa indicada para a obra,
devido a sua trajetória sanguinária.
E assim a tarefa foi
transferida para Salomão, um dos filhos de Davi com Bate Seba.
O relato acha-se no capítulo
7 de II Samuel.
O trecho de I SM 27.8
registra o incrível incidente no qual Davi fez seus homens executaram todos os
homens, mulheres, crianças e até animais, meramente a fim de engodarem a Aquis,
fazendo-a pensar que era contra Judá que Davi tinha agido.
Isso Davi fez a fim de
fortalecer sua posição diante daquele monarca pagão, quando exilado no
território dele.
Davi queria que Aquis
pensasse que a sua inimizade contra o povo israelita era tão grande que ele
nunca mais seria uma ameaça para os vizinhos de Israel.
Ora, um homem assim tão
brutal poderia ter composto uma poesia tão sublime?
Diante dessa indagação,
relembramos a quem nos lê, de que os poemas homéricos, uma literatura de
insuperável beleza técnica, foram escritos dentro do contexto de matanças e
ameaças de morte.
Tem havido grandes poemas
de fundo belicoso, com também soberba prosa.
De fato, as guerras têm
inspirado muitas grandiosas peças de literatura, além das notáveis produções
teatrais.
Também devemos considerar
que Davi, embora tivesse vivido em tempos selvagens, também tinha outro lado de
sua personalidade, o lado de uma profunda devoção ao Senhor.
Isso fica claro nos
livros de I e II Samuel, I e II Reis, além de várias outras referencias a Davi,
espalhadas pela Bíblia.
A habilidade de Davi como
poeta e musico já era proverbial em sues próprios dias.
Os trechos de I Cr 6.31
ss. 16.8-36 fornecem-nos indicações a esse respeito.
Finalmente, cumpre-nos
considerar a natureza do próprio ser humano, um misto de nobreza e vileza, em
uma mesma criatura.
O cap. 7 da epístola aos
romanos elabora esse ponto.
Até Adolfo Hitler gostava
de cães!
A passagem de Amós 6.5 mostra
qual era a reputação de Davi como músico e poeta (vejamos também II Sm 1.17 ss;
3.33 ss.), a qual continuou a ser notória mesmo séculos depois de sua morte.
A Bíblia chega a revelar
que Davi inventou instrumentos musicais.
O cântico de Moisés (Ex.
15) e o cântico de Débora (Jz. 5), mostram que a poesia dos hebreus era muito
antiga e muito bem desenvolvida.
Não há nenhuma razão para
supormos que o templo de Jerusalém não contasse com a música e poesia dessa
qualidade altamente desenvolvida.
Não há nenhuma dúvida
razoável acerca do papel desempenhado por Davi em tudo isso, a despeito de sua
natureza belicosa, e, às vezes, violenta.
8 – Pode-se explicar
melhor os salmos como composições que giraram em torno de tempos pós-exílicos e
isso por várias razões, algumas das quais foram descritas acima.
A música e a liturgia
elaborada servem de outro fator de uma data posterior.
Porém, contra isso, além
dos argumentos que já foram expostos, deveríamos observar que os Manuscritos do
Mar Morto, já continham muito material proveniente dos salmos, e isso evidencia
que os Salmos já haviam sido escritos em um período histórico anterior ao
daquele em que foram produzidos os rolos do Mar Morto.
Todavia, essa resposta
não nos faria retroceder até os dias de Davi, mas somente até um tempo anterior
ao tempo dos Macabeus.
No entanto, o argumento é
sugestivo, mesmo que não conclusivo.
9 – A esperança
messiânica é por demais pronunciada no livro de Salmos para que essas
composições sejam consideradas saídas da pena de Davi.
Historicamente, essa
esperança ajusta-se melhor ao período dos Macabeus, sendo similar ao material
dos livros pseudepígrafos, no tocante aos anseios dos judeus pelo aparecimento
de um Libertador.
Uma posição mais radical
é aquela que diz que nada semelhante ao Messias cristão está em foco, mas
tão-somente a figura de um Rei Salvador, como aquela que foi concebida nos
tempos dos Macabeus;
Resposta: Contra essa ideia,
deve-se observar que desde tempos bem antigos na história de Israel esperava-se
um Messias (Dt 18.15).
Isaías (750 a.C.) também reflete essa
forte ênfase messiânica, conforme é claro para todos os que estudam a Bíblia, e
isso certamente é anterior, e em muito, ao período pós-exilico.
Ademais, afirmar que os
antigos hebreus não poderiam ter tido a esperança messiânica é apenas uma
opinião subjetiva.
Podemos opinar
subjetivamente que os hebreus poderiam ter tido tal esperança.
Além disso, há
indicações, extraídas da própria história da literatura bíblica, que mostram
que o tipo de esperança messiânica davídica é mais antiga e que mostram esse
tipo de esperança refletida nos livros psdeudepígrafos.
O fato é que o livro de I
Enoque contém uma esperança messiânica
muito mais refinada e muito mais parecida com a do Novo Testamento do
que aquela que transparece no Livro de Salmos, refletindo um estágio posterior
desse ensino.
Pormenores a respeito da
esperança messiânica no Livro de Salmos poderão ser vistos no item VII deste
serviço.
Finalmente, no tocante a
esta questão, precisamos relembrar dos itens incomuns e místicos que sempre
acompanham as culturas humanas, antigas e modernas; o poder de curar e o de
prever o futuro.
Visto que, o Messias
brotou dentro o povo de Israel, não há nenhuma razão em supormos que a sua
vinda não pudesse ter sido percebida com antecedência.
Mas o contra-argumento
mais definitivo aqui é que o próprio Jesus Cristo ensinou a natureza messiânica
dos Salmos; “...importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na lei de
Moisés, nos Profetas e nos Salmos.” (Lc 24.44).
10 – A música e liturgia
elaborada, refletida no Livro de Salmos, falam sobre uma época posterior a de
Davi, ou seja, a época do segundo templo, terminado o exílio babilônico.
Resposta: Não há razão
para crer que uma elaborada situação músico-liturgica não se caracterizava no
primeiro templo.
O trecho de I Cr 6.31 ss.
certamente ensina que, desde bem cedo, o aspecto musical de fé religiosa
ocupava um largo espaço na religião dos hebreus.
As observações musicais,
existentes nos títulos dos salmos, referem-se a três elementos: instrumentos
musicais, melodias utilizadas, vozes e efeitos musicais.
Nada há nesses elementos
que necessariamente pertença a tempos posteriores aos de Davi, embora, como é
obvio e como ninguém pretende negar, tudo isso tenha sido sujeitado a um
progressivo desenvolvimento e elaboração.
Nos tempos pós-exílicos
havia guildas de músicos, como as dos filhos de Core (II Cr 20.19); mas esse
trecho mostra que essa família formava uma antiga guilda musical, desde os
tempos do primeiro templo de Jerusalém.
A - Observações gerais sobre o conflito: críticos versus conservadores.
Temos dado um sumário
bastante detalhado do debate que ruge entre estas duas facções de estudiosos.
Opinamos que não há como
solucionar todos os problemas
envolvidos, visto que cada teoria tem a sua contra teoria.
Parece-nos que a solução
desses problemas só poderia partir de especialistas no idioma e na cultura dos
hebreus, os quais, além disso, fossem técnicos no estudo dos próprios Salmos.
E isso, como é óbvio,
esta acima da maioria dos eruditos do Antigo Testamento, para nada dizer sobre
os leitores comuns.
Controvérsias dessa
natureza têm alguns elementos positivos, especialmente se forçam pessoas
interessadas a estudar os livros de Bíblia em profundidade.
Quanto ao seu lado
negativo, essas controvérsias podem ser prejudiciais ao espírito da fé
religiosa, dando maior ênfase à contenda do que à espiritualidade.
A fim de ilustrarmos essa
declaração, podemos meditar sobre o fato de que uma de nossas fontes
informativas (uma respeitável enciclopédia), ao mesmo tempo que dedica muito
pouco espaço à mensagem e ao valor dos salmos como uma coletânea
sagrada.
Certas pessoas (em
sentido positivo ou em sentido negativo) gostam de debate, e acima de todas as
coisas, elas debatem.
E óbvio que isso é um
exagero, que só pode ser prejudicial para a espiritualidade.
Assim sendo, que
debatamos, mas que o façamos sem hostilidade e exageros.
Quando o amor
transforma-se em ódio teológico, então saiamos das questões.
IV – Autoria e Datas
Quanto à esta
particularidade, precisamos depender essencialmente dos informes dados nos
títulos de introdução aos Salmos.
Se dependermos somente
desses títulos, obteremos o seguinte quadro de atribuições dos salmos: 74 a Davi (rei de Israel, músico
e poeta); 2 a Salomão (rei de Israel e poeta), (72 e 127); 1 a um coatita, sábio,
profeta e cantor do rei de nome Hemã, indicado por Davi para liderar o coro do
Templo (I Cr 6.33; 15.19; 25.1, 5, 6), (Sl 88); 1 a um ezraita, sábio e
cantor chamado Etã (Sl 89; quanto a I Rs 4.31); 01 a Moisés, Chefe e
legislador de Israel, (Sl 90); 23 aos cantores leviticos de Asafe, lideres do
culto no templo desde o tempo de Davi até a época de Esdras e Neemias (Sl
50;73-83); vários aos filhos de Core, entre os quais Salum, dirigentes de
adoração em Israel (I Cr 9.19 ss) (Sl 42, 43, 44-49, 84, 85 e 87); os 49 salmos
restantes são anônimos.
Os informes existentes
nos Salmos subentendem que várias guildas musicais ou escreveram ou utilizaram
os salmos.
Uma exposição mais
completa estudaremos no item V desse serviço.
01 - Várias compilações e fontes informativas
Os eruditos conservadores
contentam-se em confiar no valor histórico desses informes.
Já os eruditos liberais,
por outra parte, tem achado pouco ou nenhum valor nessas informações.
R. R. Pfeiffer
considera-os “totalmente irrelevantes”.
Mas se os estudiosos
conservadores estão com a razão, então a maior parte dos salmos foi composta
nos dias de Davi.
E, se os liberais estão
certos, podemos pensar em um desenvolvimento gradual da coletânea, a começar
por Davi, com uma compilação final nos tempos pós-exílicos.
No terceiro item deste
serviço, ventilamos os argumentos e os contra argumentos que circundam a
questão.
Não se pode duvidar que
desde antes de Davi havia uma literatura similar à dos salmos, que tem paralelo
em várias culturas da época.
Pensamos que nada de
fatal pode ser dito acerca do possível valor dos pontos dos salmos, mesmo que
não cheguemos a ponto de canonizar esses títulos juntamente com o texto,
dependendo estupidamente de qualquer coisa que esses títulos digam.
Os argumentos que cercam
a palavra hebraica le (“por” ou “pertencente a”) não podem anular a antiga
autoria davídica. Mas, em alguns casos, podem apontar para os processos de
seleção e compilação, e não exatamente autoria.
A baixa critica (que
trata do texto dos manuscritos), favorece uma data definitiva, pois todos os
manuscritos que chegaram até nós são de origem relativamente recente, e não se
sabe quando foram acrescentadas as composições poéticas.
Podemos conjecturar com
segurança, porém, que esses títulos são posteriores a época de Davi, embora
possam estar alicerçados sobre sólidas tradições históricas.
Em caso negativo,
precisamos depender do conteúdo dos salmos que refletem situações diversas na
vida de Davi, e não dos títulos propriamente ditos.
Muitos eruditos
conservadores tem preferido esse argumento, apresentando assim um caso que
merece respeito.
02 – Salmos que parecem redefinir situações genuínas na vida
de Davi
Quatorze salmos refletem
motivos específicos de sua composição.
Ordem cronológica e não
numérica:
Sl 59 – foi ocasionado
pelo incidente registrado em I Sm
19.11, e projeta luz sobre o caráter de certos associados invejosos de Davi (Sl
59.12);
Sl 56 – mostra como o
temor que Davi sentiu em Gate (vejamos I Sm 21.10), acabou transmutando-se em
fé (Sl 56.12);
Sl 38 – ilumina as
demonstrações de bondade subsequentes, da parte do Senhor Deus (Sl 38.6-8, cfme
I Sm 21.13);
Sl 142 – à luz da
perseguição descrita em seu sexto verso, sugere as experiências de Davi na
caverna de Adulão (I Sm 22.1), e não em Em-Gedi (vejamos o Sl 57, mais abaixo);
Sl 52 – (verso 3)
enfatiza a iniquidade de Saul, como superior de Doegue, que foi o carrasco executor
dos sacerdotes (I Sm 22.9)
Sl 54 – (verso 3) impreca
julgamento contra os zifeus (23.13);
Sl 57 – envolve a caverna
de En-Gedi, quando Saul foi apanhado na própria armadilha que havia armado (Sl
57.6; cfm.I Sm 24.1);
Sl 7 - apresenta-se Cuxe,
o caluniador benjamita (Sl 7.3), ao mesmo tempo em que o oitavo verso desse
mesmo salmo corresponde a I Sm 24.11-12;
Sl 18 – é repetido na integra em II Sm 22; cronologicamente,
deveria ter sido posto em II Sm
7.1;
Sl 60 – (verso 10)
ilumina a perigosa campanha militar contra os idumeus (vejamos |II Sm 3.13-14;
I Cr 18.12), também referida em I
Rs 11.15;
Sl 51 – elabora o pecado
de Davi com Bate-Seba e contra Urias (II Sm 12.13-14);
Sl 3 – retrata (verso 5)
a fé que Davi demonstrou ter, ao tempo da revolta de Absalão (II Sm 15.16);
Sl 63 – lança luz sobre a
fuga de Davi para o Oriente nessa ocasião (II Sm 16.2), pois, em suas fugas
anteriores, ele ainda não subira ao trono de Israel (Sl 63.11);
Sl 30 - alude ao pecado
de orgulho de Davi, devido ao poder do seu exército (versos 5-6, cfm. FII Sm
24.2), antes da perturbação que perdurou pouco tempo (II Sm 24.13-17; I Cr
21.11-17).
A isso seguiu-se o seu
arrependimento e a dedicação do altar e da casa (a área sagrada do templo: I Cr
22.1) de Yahweh.
Entre os Salmos restantes
cujos títulos determinam a sua autoria, os vinte e três salmos compostos pelos
cantores de Israel exibem panos de fundo inteiramente diferentes uns dos
outros, visto que aqueles clãs levíticos continuaram em atividade durante e
após os tempos do exílio babilônico. (Ed 2.41).
A maior parte desses 23
salmos pertence aos dias de Davi ou de Salomão.
Todavia, o Salmo 83
ajusta-se dentro do ministério do asafita, Jaaziel, ou seja, em torno de 852 a.C. (cfm. Os versos 5-8
com II Cr 20.1-2, 14), ao passo que os salmos 74, 79 e as estrofes finais dos
salmos 88 e 89 foram compostos por descendentes de Asafe e de Core que, ao que
tudo indica, sobreviveram a destruição de Jerusalém, em 588 a.C. (Sl 74.3, 8-9; 79.1;
89.44).
Entre os salmos sem títulos
ou anônimos, alguns poucos são oriundos do tempo do exílio babilônico (Sl 137),
do tempo do retorno dos judeus a Judá, em 537 a.C. (Sl 107.2-3 e 126.1), ou da
reconstrução das muralhas, sob a liderança de Neemias, em 444 a.C. (Sl l47.13).
Outros salmos, que
refletem momentos trágicos, facilmente poderiam estar vinculados às desordens
provocadas pela revolta de Absalão, ou então a certas calamidades que se
abateram sobre Davi (Sl 102.13, 22;
106.41-47).
R. Laird Harris recomenda
que se use de grande cautela na critica a respeito das datas de determinados
salmos, escrevendo: “É de regular interesse que as alusões históricas dos
salmos não ultrapassam os tempos de Davi, excetuando o Sl 137, um salmo anônimo
que versa sobre o cativeiro”.
Vários salmos dizem
respeito, em termos gerais, aos tempos do cativeiro e as dificuldades
enfrentadas em períodos de desolação do templo (por exemplo, Sl 80; 85 e 129).
Entretanto, essas são
descrições poéticas bastante gerais, e não deveríamos esquecer que Jerusalém foi
saqueada por mais de uma vez.
O próprio Davi enfrentou
duas conspirações em seu palácio.
Nenhum dos salmos acima
referidos são atribuídos a Davi, embora alguns deles pudessem ter sido
compostos em seus dias, ou mais tarde.” (F.H. Henry, editor, The Biblical
Expositor, II. Pág. 49) .
Após termos suprido tais
informações, nem por isso temos demonstrado que todos os 74 salmos atribuídos a
Davi foram, na realidade, escritos por ele.
Porém, temos motivos para
crer que a contribuição de Davi foi real e vital.
A posição radical que diz
que os Salmos, como uma coletânea, foram compostos em tempos pós-exílicos, pelo
menos em sua maioria, não resiste a investigação.
Podemos concluir,
portanto, que a maior parte dos salmos foi composta mais ou menos na época do
primeiro templo de Jerusalém, ou seja, 1000 a.C., ou ligeiramente mais tarde.
V – Variedades de compilações e de fontes informativas.
Já apresentamos o
essencial desta questão, conforme aparecem diversos informes nos títulos de
salmos, no segundo parágrafo do quarto item deste serviço.
Se esses títulos estão
essencialmente corretos historicamente falando, então outras fontes
informativas devem ser rebuscadas entre os quarenta e nove salmos anônimos.
Sempre que um título não
for de caráter histórico, teremos o aumento no número de salmos anônimos;
Diversas coletâneas
secundárias (envolvendo assim autores e datas diferentes), podem estar
indicadas nos títulos hebraicos Shir, Miktan, Maskil, etc...
Uma de nossas fontes
informativas conjectura que pode ter havido um mínimo de dez coletâneas menores
de salmos, antes da compilação final do Saltério.
Temos o Saltério Eloísta
como exemplo de uma coletânea distinta.
Esses são salmos onde o
nome divino predominante é Elohim. Trata-se dos Salmos 42 a 83.
Curiosamente, o Sl 53 é
uma recensão Eloista do Sl 14; e o Sl 70, de Sl 40.13-17.
Além disso, temos os
Cânticos dos Degraus, um grupo distinto de salmos (120 a 134) que,
provavelmente, eram usados pelos peregrinos, quando subiam para celebrar as
festividades religiosas em Jerusalém.
O trecho de Sl 135.21 tem
uma doxologia que pode ter assinalado o fim de uma dessas coletâneas secundárias.
As doxologias finais do
quarto livro podem ter encerrado originalmente uma pequena coletânea, que
acabou fazendo parte do todo. (vejamos Sl 106.48).
As coletâneas secundárias
refletem crescimento e a ideia de crescimento implica diferentes datas para
diferentes segmentos do livro de Salmos.
VI – Conteúdo e tipos
A – Quatro tipos
principais:
1 – Os Salmos de Davi
O livro I (Sl 1 – 41) é
essencialmente atribuído a Davi, exceto o Sl 1, que é introdução a esse livro
I, e o Sl 33, que não tem titulo.
Parece que foi Davi quem
primeiro coligiu o primeiro grande bloco de material que, finalmente, veio a
fazer parte da coletânea total no livro de Salmos.
O total de setenta e
quatro salmos lhe são atribuídos; e, como é óbvio eles não ficam todos no livro
I.
2 - Os Salmos de Salomão
Os livros II e III exibem
um maior interesse nacional que o livro número I.
Esses livros incluem os
Sl 42 ao 89.
O rei Salomão foi o
responsável pela doxologia de 72.18-20, e pode ter sido o compilador (embora
não o autor) do livro II.
Porém, os Sl 42 ao 49 são
produção do clã cantante dos filhos de Core.
O Sl 50 é autoria de
Asafe.
3 – Os Salmos Exílicos
O livro III contém os Sl
32, 52, 74,79 e 89, que aludem a história posterior de Israel, já distante do
período de Davi, mencionando a destruição de Jerusalém, em 586 a.C., e certas condições
próprias do exílio.
Porém, esse livro mostra
certa variedade de composições, da parte de vários autores. De Davi (como Sl
86), de Asafe (Sl 73 – 83), dos filhos de Core (Sl 84,m 85 e 87).
04 – Os Salmos da
restauração, pós-exílicos e macabeus.
Nestes salmos predomina o
interesse litúrgico.
Os Salmos 107 e 127 devem
ter provindo do tempo após o retorno dos exilados, 537 a.C., e talvez existissem
em uma coletânea separada, que foi então
adicionada.
Um inspirado escriba pode
ter trazido o livro V (Sl 107 – 150) à existência, unindo-o aos livros I – IV,
ao adicionar a sua própria composição (Sl 146 – 150) como uma espécie de grande
aleluia relativo ao Saltério inteiro.
E isso pode ter ocorrido
em cerca de 444 a.C.
(Sl 147.13), quando Esdras proclamou a renovação da adoração de Israel no
segundo templo de Jerusalém.
Alguns estudiosos pensam
que o próprio Esdras pode ter sido o responsável pela compilação final (Ed
7.10).
Outros eruditos tem
pensado que o período dos Macabeus foi o tempo de produção de muitos salmos, a
começar por 168 a.C.
Porém, naquele período, o
aramaico já havia sobrepujado quase inteiramente o hebraico, e os salmos não
foram compostos em aramaico.
Ademais, o material dos
Manuscritos do Mar Morto contém os Salmos, fazendo a data de sua composição
retroceder para antes do período dos Macabeus.
Por conseguinte, é
improvável que um grande número de salmos se tenha originado no tempo dos
Macabeus.
B – Os cinco livros:
O livro de Salmos
divide-se em cinco livros, cada um dos quais termina como uma doxologia.
São os seguintes:
Livro I – (Sl 1 ao 41);
livro II – (Sl 42 ao 72);
livro III – (Sl 73ao 89
);
livro IV – (Sl 90 ao
106);
Livro V – (107 ao 150).
C – Temas principais
01 – O tema messiânico –
preservamos este assunto para ser ventilado no item VIII deste serviço, onde
ele será descrito pormenorizadamente.
02 – Louvor – Alguns
exemplos são os Sl 47; 63; 104 e 145 a 150.
03 – Pedidos de benção e
proteção – Sl 86; 91 e 102.
04 – Pedidos de
intervenção divina – Sl 38 e 137.
05 – confissão de fé,
especialmente no tocante aos poderes e ofícios do Senhor. Sl 33; 94; 97; 136 e
145.
06 –Penitência pelo
pecado – Sl 06; 32; 38; 51; 102; 130 e 143.
07 – Intercessão em favor
do rei, da nação, do povo etc... Sl 21;67; 89 e 122.
08 Imprecações – Queixas
contra os adversários e o pedido para que Deus proteja, faça justiça e vingue.
– Sl 35; 59 e 109.
09 – Sabedoria, homilias
espirituais, com o oferecimento de instruções (salmos pedagógicos). Sl 37; 45;
49; 78; 104; 105 ao 107 e 122.
10 – O governo e a providência
divina – como Deus trata com todas as classes de homens, incluindo os ímpios.
Sl 16; 17; 49; 73 e 94.
11 – Exaltação a lei de
Deus. – Sl 19 e 119.
12 – O reino milenar do
Messias. - Sl 72.
13 – Apreciação pela
natureza. Temos aqui um reflexo da
bondade, da glória e da beleza de Deus. – Sl 19; 29; 33; 50; 65; 74; 75; 104;
147 e 148.
14 – Salmos históricos e
nacionais, onde é elogiada a condição de Israel. – Sl 14; 44; 46 ao 48; 53; 66;
68; 74; 76; 78 ao 81; 83; 85; 87; 105; 108; 122 e 124 ao 129.
São passados em revista
muitos incidentes da historia de Israel, e a providência divina é celebrada.
O futuro de Israel é
projetado de forma esperançosa.
15 – A humilde natureza
humana e suja grandeza. Sl 08; 31; 41; 78; 100; 103 – 104.
16 – A existência da alma
e sua sobrevivência. Sl 16; 10; 11; 17.15; 31.05; 41.12; 49.09, 14-15.
Históricamente, essa
crença entrou no judaísmo mediante os Salmos e os livros dos profetas, e
mostra-se ausente no Pentateuco.
VII - A esperança Messiânica
No item X deste serviço,
veremos uma lista completa de citações extraídas do livro de Salmos e contidas
no Novo Testamento.
Muitas dessas citações
são de natureza messiânica.
O próprio Senhor Jesus
referiu-se aos Salmos, que prediziam a seu respeito (Lc 24.44).
Billy Graham chegou a
asseverar que todos os Salmos são messiânicos.
Certamente isso é um
exagero, mas o fato de que esse livro do Antigo Testamento foi o mais
constantemente citado pelos autores do Novo Testamento mostra que ali o
elemento messiânico certamente é fortíssimo.
Por esse motivo,
destacamos essa questão do restante do conteúdo deste verbete, para efeito de
ênfase.
01 – Sl 02.01-11 – O
poderoso filho de Deus, exaltado pelo Pai contra os seus adversários, triunfa
sobre tudo e todos.
Este trecho é citado em
At 04.25-28; 13.33; Hb 01.13 e 05.05; onde recebe uma interpretação messiânica.
02 – Sl 8.4-8 – A
exaltação do filho de Deus.
Todas as coisas foram
postas abaixo dos seus pés, o que sob hipótese nenhuma pode aplicar-se a um
mero ser humano.
Esta passagem é citada em
Hb 2.5-10; I Co 15.27, dentro de contextos messiânicos.
03 – Sl 16.10 – A
incorrupção do Filho de Deus em sua morte; sua divina e miraculosa preservação;
sua segurança no Pai.
Este Salmo é citado em At
02.24-31 e 13.35-37, sendo aplicado à ressurreição de Cristo, bem como à sua
autoridade e exaltação gerais.
Há seis salmos da Paixão:
Sl 16; 22; 40; 69; 102 e 109.
04 – Sl 22 – Um dos
salmos da paixão que fornecem detalhes sobre a crucificação e descrevem os
sofrimentos do Messias.
Este salmo é citado em Mt
26.35-46; Jo 19.23-25 e Hb 2.12.
O Salmo 22.24 prediz a
glorificação de Cristo; o v. 26 fala sobre a festa escatológica e o futuro
trabalho de ensino do Messias (vs 22-23 e 25; Hb 2.12)
05 – O Sl 40.6-8 – A
encarnação. A citação acha-se em Hb 10.5-10.
06 – Sl 46.06-07 – O
trono eterno do Messias. Sua Natureza divina (v. 06) embora distinta do |Pai
(v. 7). O trecho de Hb 1.8-9 cita esta passagem.
07 – Sl 79.25 – a
maldição sobre Judas Iscariotes, citada em At 1.16-20.
08 – Sl 72.06-17 – O
governo do Messias. Seu reino será eterno (v. 7); seu território será
vastíssimo (v. 8); todos virão para adora-lo (vs. 09-11)
09 – Sl 89.3-4, 28-29, 34-36.
O Messias como filho de Davi; sua descendência será eterna (vs. 4, 29, 36-37).
Este salmo é citado em At 2.30.
10 – Sl 102.25-27. A eternidade do
Filho-Messias. Uma invocação a Yahweh (vs. 1-22) e da El (v. 24) é aplicada a
Jesus Cristo.
11 – Sl 109.6-19. Judas
Iscariotes é amaldiçoado. O Messias teria muitos adversários, mas havia um
maior que todos.
O plural aparece nos vs
4-5 e muda para o singular no v. 6, sendo reiniciado no v. 20. Este salmo é
citado em at. 1.16-20.
12 – Sl 110.1-7 – A ascensão
e o sacerdócio do Messias. Ele é o Senhor de Davi (v. 1), e é sacerdote
eternamente (v. 4).
Este salmo é citado em Mt
22.43-45; At 2.33-35; Hb 1.11; 5.6-10; 6.20; 7.24.
13 – Sl 132.11-12 – Ele,
o Filho de Davi, é a semente real e eterna. Este Salmo é citado em At 2.30.
14 – Oficio de Profeta,
Sacerdote e Rei. Esses três ofícios, que o Messias ocupou-se, foi profecia
antes mesmo do tempo de Davi.
O Messias é visto como
profeta (Dt 18.15), como sacerdote (Lv 16.32) e como rei (Nm 24.17).
Ora, nos Salmos há
indicações acerca de todos esses três ofícios.
Ele é profeta em Salmos
22.22-23, 25; Sl 23. Ele é sacerdote, divino e humano em Sl 110.2. Ele é rei em
Sl 2; 06; 12; 24 e 72. Essas três ideias são combinadas em Sl 22.12 e 110.2.
VIII – Usos dos Salmos
01 – Todos os estudiosos
concordam que os Salmos eram hinários do segundo templo de Israel.
No entanto, essa
restrição não é imperiosa.
O trecho de I Co 6.31 demonstra
o uso de música elaborada no culto divino, nos próprios dias de Davi.
Portanto, o uso litúrgico
dos salmos foi importante desde o começo.
E isso teve
prosseguimento na Igreja Cristã, onde muitos salmos foram musicados e usados no
culto de adoração. Além disso, muitos versos, porções dos salmos ou ideias ali
contidas foram incorporados nos hinos cristãos.
02 – Os Salmos prestam-se
muito bem a devoções particulares, sendo extremamente ricos em conceitos
espirituais, além de excelentes como consolo e inspiração para o louvor ao
Senhor.
Muitos Salmos são
obras-primas literárias em miniatura, conforme se vê nos Salmos 1; 2; 8; 19;
22; 23 e 91. Qualquer seleção será forçosamente defeituosa, mas essa seleção
ilustra o ponto.
03 - Os salmos são uma
Bíblia em miniatura dentro da Bíblia, conforme Martinho Lutero, o reformista,
afirmou, repletos de ideias religiosas e de fervor.
Não foi por acidente que
os autores do Novo Testamento citaram mais dos Salmos do que de qualquer outro
livro do Antigo Testamento. (vejamos a 12° item deste serviço, para
demonstração deste fato).
O próprio Senhor Jesus
muito se utilizou dos Salmos. Ele e os seus discípulos entoaram o Hallel (SL
113 – 118), por ocasião da Última Ceia.
04 – Textos de prova
acerca do messiado de Jesus são abundantes nos Salmos, conforme é demonstrado
no item 7° deste serviço.
05 – Uso dos salmos em
ocasiões especiais. – Os títulos dos salmos dizem-nos que muito deles eram
usados em certas ocasiões, como o sábado, as festividades religiosas, etc...
Para exemplificar, o Sl
92 era usado no sábado, e talvez igualmente o Sl 136.
Os Sl 120 – 134 são
conhecidos como “Salmos dos Degraus”, porquanto eram entoados pelos peregrinos
quando subiam a Jerusalém, para celebrar; as principais festas dos Judeus.
Alguns eruditos pensam
que vários salmos eram usados na festa anual de entronização de Yahweh, como
Rei de Israel, um costume que tinha paralelos no paganismo. Os Salmos 47; 93;
95 – 99 são designados como tais.
E alguns estudiosos
supõem que essa prática se alicerçasse sobre a festa do ano Novo na Babilônia,
o Akitu, quando o deus Marduque era carregado pelas ruas da cidade de
Babilônia.
Depois de um elaborado
ritual, era-lhe conferido mais um ano de autoridade no país, como um rei
divino.
Presumivelmente, as
palavras de Sl 24.7-8: “Levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei
da Glória... o Senhor poderoso nas batalhas”, refletem aquele costume, que
teria sido copiado pelos israelitas.
Mas a maior parte dos
eruditos conservadores assevera que salmos que supostamente aludem a essa festa
podem ser explicados melhor de outras maneiras.
Talvez aquelas assertivas
do Sl 24 reverberem o transporte da Arca da Aliança para Jerusalém.
Além disso, os salmos que
exaltam ao Rei, de modo geral, fazem-no Rei sobre todas as coisas e sobre todos
os povos, e não meramente sobre Israel. E isso pode ser um argumento contra a
interpretação que fala em uma entronização especifica do Rei divino sobre a
nação de Israel.
Essa universalidade pode
ser vista em Salmos 93; 95-100.
Com base em raciocínios
subjetivos, alguns eruditos opinam que Israel jamais haveria de emular uma
festividade pagã, e argumentam que não há nenhuma evidência convincente e direta
de que havia tal festividade em Israel. Outrossim, de que adiantaria ao homem
entronizar a Deus?
Em sociedades idólatras,
ideias assim podem parecer razoáveis; mas não nas comunidades onde Deus aparece
como todo-poderoso e transcendental.
06 – Crítica de Forma:
formas literárias.
Hermann Gunkel, em sua
obra Awrewahlte Psalmen, 1905, procurou demonstrar, no livro de Salmos, cinco
distintas formas literárias que, por sua vez, implicariam usos específicos dos Salmos.
Essas formas literárias
seriam:
a - Hinos para cultos de
adoração publica;
b – Lamentações e
intercessões coletivas, em tempos de desastre nacional;
c – Salmos reais, cuja
função prática era a de confirmar a autoridade do rei, como cabeça da teocracia
em Israel;
d – Salmos de ação e
graças;
e – Lamentações,
intercessões e confissões individuais, além de pedidos para que fossem supridas
necessidades pessoais.
Não parece haver nenhuma
razão para duvidarmos da exatidão geral dessas observações.
Pois podemos estar certos
de que havia um uso coletivo e comunal dos salmos, embora também houvesse um
uso individual e privado.
07 – Magia contra encantamentos.
Alguns estudiosos tem
sugerido que trechos do livro de Salmos, como 6.6-8; 64.2-4; 69; 91; 93.3-7 e
109, talvez fossem usados como fórmulas mágicas, para neutralizar as forças
demoníacas. Isso poderia envolver uma prática coletiva e cultural, ou então uma
prática individual. Argumentos em favor e contra essas práticas (mormente no
caso do uso dos salmos), estão baseados em sentimentos e raciocínios
subjetivos, porquanto é extremamente difícil determinar quanta verdade possa
haver nesse parecer. Seja como for, sabemos que tais práticas eram e continuam
sendo comuns em muitas culturas. Sempre haverá muitas forças malignas ao nosso
redor, que precisarão ser exorcizadas.
IX – A poesia dos hebreus
Como é evidente, os
Salmos são grande coletânea de composições poéticas da Bíblia. Quedamo-nos
admirados diante da qualidade de muitas dessas antigas peças literárias,
algumas das quais são obras-primas em miniatura. A poesia teve uma antiga e
longa tradição na literatura dos hebreus.
X – Pontos de vista e ideias religiosas
01 – Apesar de os Salmos
serem composições líricas, expressões emocionais e de fervor religioso, também
transmitem muitos pensamentos, e, indiretamente, apresentam muitas doutrinas.
A teologia hebréia geral
faz-se presente, com algumas adições, como a crença na existência da alma e sua
sobrevivência diante da morte biológica, e um fortíssimo tema messiânico.
O estudo sobre os temas, no
item 6° deste serviço, onde os principais temas são alistados, dá uma ideia
sobre a multiplicidade de ideias apresentadas nesse livro da Bíblia.
02 – A existência da alma
e sua sobrevivência diante da morte física foi uma doutrina que só passou a ser
expressa mais tarde, no judaísmo. No Pentateuco, não há nenhuma referência
clara e indisputável a esse fato. Muitas leis nunca são associadas a alguma
recompensa ou punição pós-tumulo. Não faltamos com a verdade ao afirmar que a
maior parte dos ensinamentos do judaísmo sobre essa questão foi tomada por
empréstimo. Tendo começado a ser expressa nos Salmos e nos livros dos profetas,
foi nos livros apócrifos e pseudoepígrafos, porém, que esse assunto
encontrou seu maior desenvolvimento,
antes do começo do Novo Testamento. O relato sobre Saul e a feiticeira de En-Dor
demonstra a crença na existência da alma no tempo de Davi. Vejamos I Sm 28.3.
Quanto a interessante narração do encontro de Saul com o espírito de Samuel.
Indicações existentes no
livro de Salmos, acerca da crença na existência da alma são: Sl 16.10-11;
17.15; 31.5; 41.12; 49.9, 14-15.
03 – Os salmos
imprecatórios, de fervorosa invocação a Deus para que mate os inimigos, podem
ser facilmente entendidos dentro do contexto histórico, quando o povo de Israel
quase sempre via-se sob a ameaça de um
punhado de inimigos mortais; e o próprio rei Davi, como indivíduo,
sempre teve de enfrentar tais dificuldades.
Naturalmente, a atitude desses
salmos não é a mesma que a de Jesus, o qual exortou aos homens para que amassem
seus inimigos.
As imprecações fazem
parte da natureza humana, e não nos deveríamos nos surpreender em encontrá-las
nas páginas da Bíblia. Porém, é ridículo defender a espiritualidade das
imprecações propriamente ditas.
Muitos estudiosos
conservadores tem tentado fazer precisamente isso.
Talvez o comentário de C.
I. Scofield, em sua introdução ao livro de Salmos, seja o mais sugestivo que
podemos encontrar: “Os Salmos imprecatórios são um grito dos oprimidos, em
Israel, pedindo justiça, um clamor apropriado e correto da parte do povo
terreno de Deus, e alicerçado sobre promessas distintas do pacto Abraâmico (Gn
15.18); porém, um clamor impróprio para a Igreja, um povo celeste que já tomou
seu lugar junto com um rejeitado e crucificado Cristo (Lc 9.52-55)”. Exemplos
de Salmos imprecatórios são os de números 35, 59 e 109.
04 - O ensino sob re o
Messias, apesar de não tão avançado quanto no livro de I Enoque (se comparados
aos conceitos que figuram no Novo Testamento), é surpreendentemente extenso.
Dedicamos o item 7° deste
serviço a ao assunto.
05 – apesar de que muitos
dos salmos foram designados para um uso litúrgico, neles aparecem muitas
indicações de uma apropriada atitude individual espiritual, bem como da correta
espiritualidade pessoal.
Quanto a esse aspecto, os
salmos concordam, grosso modo, com os livros dos profetas (vejamos Sl 15.01;
19.14; 50.14,23; 51.165).
06 – Há uma exaltada
doutrina de Deus nos salmos tão generalizada que aparece praticamente em todos
os salmos.
07 – A importância da
experiência religiosa pessoal é uma ênfase constante no livro de Salmos.
Deus é retratado como
quem está a disposição dos seres humanos, refletindo assim o ensino do teísmo,
e não do deísmo.
O teísmo ensina que Deus
não somente criou, mas também permanece interessado na sua criação, intervindo,
recompensando e castigando.
Mas o deismo alega que
Deus, ou alguma força criadora, após ter criado tudo, abandonou o mundo,
deixando-o a mercê de forças naturais. (Os epicureus, seita dos tempos de Paulo
eram deístas).
08 – São ressaltados os
deveres do homem para com Deus, como o arrependimento, a vida santificada, a
adoração, o louvor, a obediência através do serviço e o amor ao próximo.
09 – A adoração pública é
uma questão obviamente frisada no livro de Salmos, visto que, muitas dessas
composições eram usadas exatamente nesse contexto.
Precisamos pesquisar
pessoalmente as questões religiosas; mas também precisamos fazê-lo
coletivamente.
A participação na
adoração pública é encarecida em trechos como Sl 6.5; 20.3; 51.19; 66.13-15.
10 – A adoração não
ritual não é desprezada, devendo fazer parte integrante da busca espiritual dos
homens. (Sl 40.6 e 50.9)
XI – Canonicidade
Para os saduceus, somente
o Pentateuco era considerado digno de ser chamado de escrituras Santas e
autoritárias.
Já para os judeus
palestinos, como era o caso dos fariseus, as três grandes; seções do livros
sagrados aceitos eram: o Pentateuco, os Escritos (que incluíam os salmos) e os
Profetas.
Na ordem da arrumação judaica,
os Escritos formavam a terceira seção.
Entre os judeus da
dispersão, vários livros apócrifos eram aceitos.
E não é inexato falar
sobre o Cânon alexandrino.
Além disso, haviam as
obras pseudoepígrafas, revestidas de prestigio suficiente para que muitas ideias
ali contidas fossem aproveitadas pelos escritores do Novo Testamento, embora
como uma coletânea, os livros pseudepígrafos nunca tivessem obtido condição
canônica.
É que a canonicidade
origina-se essencialmente, do valor interno de uma obra escrita, que se torna óbvio
para todos quantos a lêem, além de originar-se na consagração da antiguidade, o
que uma é uma espécie de processo histórico religioso, e, finalmente, de
originar-se de pronunciamentos oficiais da parte de lideres religiosos, pronunciamentos
esses que formam a base tradicional acerca dos livros sacros. Os estudiosos
conservadores pensam que o poder e a presença do Espírito Santo estão
envolvidos nesses vários aspectos da questão. Mas os eruditos liberais mais
radicais são da opinião de que o processo inteiro depende da mera seleção
natural (uma espécie de seleção do leitor, aplicada às questões religiosas);
mas, assim pensando, esses eruditos olvidam-se totalmente do elemento
sobrenatural e dos poderes divinos por trás desse processo.
Se a coletânea dos Salmos
foi se formando através de um longo período de tempo, chegando a ser compilada
somente após o cativeiro, então nenhuma canonização final poderia ter ocorrido
até estar completa a coletânea.
Porém, as coletâneas
preliminares (como aquelas de Davi, de outras antigas personagens e de clãs de
músicos), tiveram suas próprias canonizações preliminares, o que explica a sua
preocupação no decorrer de muitos séculos.
“No caso dos livros I, II
e IV do Saltério, a canonização deve ter ocorrido com considerável presteza.
O Salmo 18 foi incluído
dentro do livro canônico de Samuel, dentro de meio século após a morte de
Davi... Os Salmos 96, 105 e 106 foram designados por Davi como um padrão para a
adoração pública, bem no início de seu governo sobre todo Israel (ICr 16.7-36).
A designação de muitos
outros salmos, para que os músicos os preparassem para a adoração prestada por
Israel, serve de evidencia de uma similar canonização consciente dos poemas de
Davi.
E o fato de que Davi e
Salomão compilaram intencionalmente os livros I, II e IV, quando ainda viviam,
fornece-nos testemunho extra do reconhecimento da autoridade espiritual pelo
menos daqueles oitenta e nove salmos pelos contemporâneos desses dois monarcas.”
O livro II, portanto, que
contém as porções pós-exílicas do livro de Salmos, foi acrescentado.
Talvez muitos dos salmos
ali envolvidos fossem pré-exílicos e já fizessem parte da coletânea.
Há pouco ou mesmo nenhum testemunho
externo quanto a aceitação canônica do Livro de Salmos, até o período intertestamentário.
Somente então obtemos algumas declarações acerca do uso desses poemas.
Por exemplo, o trecho de
II Macabeus 2.13 refere-se aos livros de Davi, juntamente com os escritos de
outros reis e de profetas.
A passagem de Salmo 79.2
é citada como Escritura.
Os Salmos já faziam parte
da versão da Septuaginta do século III a.C., o que significa que o recolhimento
e a autoridade desses poemas devem ter sido cristalizados antes do preparo
daquela versão.
O material das cavernas Qumran,
do século II a.C., também exibe os Salmos, o que serve de outro índice da
aceitação da coletânea desde tempos mais remotos do que alguns estudiosos tem
pensado.
O rolo principal dos
Salmos, encontrado na caverna II (além de cinco fragmentos), apresenta amplo
material extraído dos livros IV e V dos Salmos.
Esse material, porém,
apresenta alguma variação na ordem sucessiva dos salmos, sugerindo que houvesse
certa fluidez no arranjo dos salmos, e que o livro de Salmos ainda não havia
chegado a sua forma final, conforme o conhecemos atualmente.
Entretanto, alguns
especialistas pensam que os salmos achados na caverna II formavam uma espécie
de lecionário, e não uma completa coletânea dos salmos, em sua ordem normal. Porém,
é impossível determinar a verdade por trás dessa questão. Seja como for, de
acordo com o arranjo final dos escritos do Antigo Testamento, encontramos a
Lei, os Profetas e os Escritos.
Josefo, o historiador,
referiu-se ao Antigo Testamento, como uma coletânea de 22 livros: Pentateuco,
05; Profetas, 13; e os hinos de Deus e Conselhos dos Homens (Apion, 1.8), que
incluíam os Salmos, Provérbios, Eclesiastes; e cânticos dos Cânticos.
Temos as próprias
declarações canônicas do Senhor Jesus, em Mt 23.35 e Lc 24.44.
Os Salmos são o segundo
livro mais volumoso da Bíblia, perdendo somente parta as profecias de Jeremias,
mas o livro de Salmos é o mais constantemente citado no Novo Testamento.
É dificílimo pôr em
dúvida sua posição no cânon da Bíblia e sua autoridade espiritual.
XII – Os Salmos no Novo Testamento
Os Salmos são citados no
Novo testamento por cerca de 80 vezes, o que significa que, dentre todos os
livros do antigo Testamento, esse foi o mais constantemente utilizado pelos
autores neotestamentários.
Demos no item VII deste serviço
uma interpretação messiânica. A muitas dessas citações.
Salmos Novo Testamento
2.1 At
4.25-26
2.7 At 13.33; Hb 1.5; 5.5
4.4 Ef 4.26
5.9 Rm 3.13
8.3 (LXX) Mt
21.16
8.4-6 (LXX) Hb 2.6-8
8.6 I
Co 15.27
10.7 Rm
3.14
14.1-3 Rm
3.10-12
16.8-11 At
2.25-28
16.10 At
2.31
16.10 (LXX) At
13.35
18.49 Rm
15.9
19.4 Rm 10.18
22.1 Mt 27.46; 15.34
22.18 Jo
19.24
22.22 Hb
2.12
24.1 I Co 10.26
31.5 Lc 23.46
32.1-2 Rm 4.7-8
34.12-16 I
Pe 3.10-12
35.12 Jo
15.25
36.1 Rm 3.18
40.6-8 Hb 10.5-7
41.9 Jo 13.18
44.22 Rm
8.36
45.6-7 Hb
1.8-9
51.4 Rm 3.4
53.1-3 Rm 3.10-12
68.18 Ef 4.8
69.4 Jo
15.25
69.9 Jo 2.17; Rm 15.3
69.22-23 Rm
11.9-10
69.25 Mt
1.20
78.2 Mt
13.35
78.24 Jo
6.31
82.6 Jo
10.34
89.20 At
13.22
91.11-12 Mt
4.6; Lc 4.10-11
94.11 I
Co 3.20
95.7-8 Hb 3.15; 4.7
95.7-11 Hb 3.7-11
95.11 Hb 4.3-5
102.25-27 Hb
1.10-12
104.4 Hb
1.7
109.8 At
1.20
110.1 Mt 22.44; 26.64; Mc 12.36; 14.62; Mt
2.34-35;
Hb 01.13
110.4 Hb
5.6, 10; 7.17, 21
112.9 II
Co 9.9
116.10 II
Co 4.13
117.1 Rm 15.11
118.6 Hb 13.6
118.22 Lc 20.17; At 4.11; I Pe 2.7
118.22-23 Mt
21.42; Mc 12.10-11
118.25-26 Mt
21.9; Mc 11.9-10
118.26 Jo 12.13; Mt 23.39; Lc 13.35;
19.38
132.11 At 2.30
140.3 Rm 3.13
XIII – Informes adicionais de suma importância
São de extrema valia ao
que abaixo apresentamos, pois servem de conteúdo e vantagem que podemos extrair
das passagens inspiradoras quando nos encontrarmos em devoções pessoais,
ensinando lições e pregando a palavra de Deus.
01 – Os livros poéticos do
antigo testamento
Os livros bíblicos que
foram escritos em forma poética, e não em forma de prosa, são: Jó ou Job,
Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares de Salomão e Lamentações de Jeremias.
02 – Literatura de Sabedoria
No antigo testamento, os
livros geralmente classificados como parte da literatura de Sabedoria
(especialmente os Sl 19, 37, 104, 107, 147-148), Provérbios, Eclesiastes e
Sabedoria de Salomão.
Nas páginas do Novo
Testamento, a epistola de Thiago é a que mais se aproxima desse tipo de
literatura religiosa.
03 – Título do Livro
As traduções modernas
seguem o título da Septuaginta, que estampa a palavra salmos (psalmos), como
tradução à palavra hebraica mizmor, a qual se refere a música executada
mediante instrumentos de cordas em acompanhamento às recitações de 57 dos 150
Salmos. Por causa desse uso frequente, o livro todo finalmente veio a ser assim
chamado na Septuaginta e, dali, nas traduções modernas.
O titulo hebraico do
livro é Tehllin, “Cânticos de Louvores”.
04 – Salmos messiânicos
Certo famoso pregador
afirmou que “todos os salmos são messiânicos”; ma isso por certo é um exagero.
Entretanto, há diversos
salmos que são definidamente proféticos e messiânicos.
Os Salmos usualmente
considerados messiânicos são: 2, 8.16, 22, 23, 24, 40, 41, 45, 68, 69, 72, 89, 102,
110 e 118.
Outros Salmos têm
reflexos messiânicos.
05 – Salmos reais
Estão intimamente
relacionados aos salmos messiânicos, e alguns deles realmente são também
messiânicos, ao passo que outros apenas contêm alguns reflexos: salmos 2, 18,
20, 21, 45, 72, 89, 93, 96, 97, 98, 101, 110, 132 e 144.
06 – A fé e a vida
religiosa.
Dentre todos os livros do
antigo Testamento, Salmos é o que mais vividamente retrata a vida espiritual e
a fé dos indivíduos em todas as circunstâncias, boas ou más, jubilosas e
trágicas.
“A mais simples descrição
dos cinco livros dos Salmos é que eles formam o livro das orações e dos
louvores inspirados de Israel”.
São revelações da
verdade, não de forma abstrata, mas em termos da experiência humana.
“As verdades assim
reveladas estão carregadas de emoções, desejos e sofrimentos do povo de Deus,
pelas circunstâncias através das quais esse povo passara”. (Scofield Reference
Bible).
“O espírito vivo de
qualquer religião brilha mais esplendoroso por meio de seus hinos”.
O Saltério é o hinário da
Antiga Nação de Israel, compilado a partir de composições líricas mais antigas,
para ser usado no templo de Zorobabel (Ed 5.2; Ag 1.14).
“A maioria dos Salmos
provavelmente foi composta para acompanhar atos de adoração no templo de
Jerusalém.” (Oxford annoted Bible, Introdução).
07 – Classificações dos
Salmos
A – Lamentação, o maior
grupo, com mais de 60 dos 150 Salmos;
B – Ações de graças e
louvor, mais de 30;
C – Hinos, 18;
D – Salmos reais, 17;
E – Salmos messiânicos,
15;
F – Litúrgicos, 11;
G – De sabedoria, 11;
H – De história sagrada,
9;
I – De chamamento a
adoração, 8;
J – De confiança, 5;
K – Cânticos de Sião, 3;
L – De louvor a lei, 3;
M – De proteção, 91
(outros exprimem sentimentos similares);
N – De tipos mistos, nos
quais nenhum tema é dominante, mas vários temas se fazem presentes;
O – De oração pela
vitória na batalha, Sl 20 e partes de muitos outros;
P – Didáticos, partes de
muitos salmos, sendo o Sl 15 um bom exemplo;
Q – De doxologia, Sl 150,
que encerra a coletânea.
Muitos salmos se
identificam com mais de uma classificação, e há salmos que contém uma mistura
de temas.
08 – Cinco livros
Em imitação ao
Pentateuco, o saltério divide-se em 05 livros, cada qual com a sua própria
doxologia.
09 – Salmos de Davi
Cerca de metade dos
salmos é atribuída a Davi, embora essa cifra não seja exata.
Davi foi o grande cantor
de Israel (II Sm 23.1).
10 – Subtítulos
Essas composições não
pertencem originalmente aos autores dos salmos, mas foram adicionados muito
tempo após as composições terem sido originalmente redigidas.
Tentam identificar os
autores envolvidos e ligam certos salmos a circunstâncias históricas do antigo
Testamento. Mas a maioria das identificações é mera conjectura. Ocasionalmente,
contudo, alguma informação útil pode ser encontrada.
11 – Um monumento
literário
Reconhece-se
universalmente que o livro de Salmos é uma das mais refinadas composições
poéticas de todos os tempos.
O fato de que o Novo
Testamento cita o livro de Salmos mais do que qualquer outro livro do antigo
Testamento serve de confirmação espiritual dessa avaliação.
12 – Salmos e versos
Há 150 salmos, num total
de 2.461 versos.
Este livro, portanto,
ocupa cerca da décima parte de todo o antigo Testamento.
Livro de Provérbios
Total de capítulos: 31
Total de versículos: 915
Autor: Salomão (tradição)
Data: 700 a
400 a.C
Sumário
I - Pano de fundo
II - Unidade do livro
III - Autoria
IV - Data
A - seção I
B - seção II
C - seção III e IV
D - seção V
E - seção VI, VII e VIII
V - Lugar de origem e
destinatários
VI – Propósito do livro VII – Canonicidade
VIII – Estado do texto
IX - Problemas especiais
A – A figura
da sabedoria
B – relação
entre provérbios e a
Sabedoria e Amenemope
1 – O documento egípcio
2 –
Relações léxicas
X - Conteúdo e
esboço do livro
A – O conteúdo
1 –
Gênero literário
2 –
Assunto
B – Esboço
XI - Teologia do livro
XII - Informações de suma importância
I – Pano de fundo
Sem importar se a autoria
salomônica é aceita ou não, pode-se facilmente concordar que o pano de fundo do
livro de Provérbios parece ter sido a corte real em Jerusalém.
Embora a literatura de
sabedoria, no antigo Oriente Próximo, seja anterior ao livro de Provérbios, por
mais de 1000 anos, aquela forma particular de instruções, endereçadas ao “meu
filho”, parece-se mais com certas obras literárias egípcias, como “As
instruções de ptahotepe, As instruções de Mari-Ka-Ré; As instruções de
amem-em-hete e As instruções de Ani.
O Casamento de Salomão
com a filha do Faraó pode ter conduzido esse grande rei israelita a interessar-se
por esse tipo de instrução.
Características
literárias individuais, como a mashel, o padrão X, X+1 e os longos discursos
encadeados encontram paralelos na literatura semítica anterior.
Assim sendo, o livro de
Provérbios deve ter atraído os leitores já familiarizados com aquela forma
literária.
Muitos críticos modernos
tem negado aos hebreus uma mente verdadeiramente filosófica, a qual
caracterizaria mais os gregos.
Assim, na opinião desses
críticos, os israelitas prefeririam depender das diretas revelações dadas do
Alto, em vez de ficarem pensando à moda dos filósofos gregos, que criavam
sistemas com base em conceitos.
Essa critica, porém, leva
em conta somente uma das facetas da mente dos hebreus.
Outra faceta dessa mesma
mentalidade mostra-nos que o povo israelita, tal e qual e qualquer outro, sabia
confiar nos méritos de uma filosofia humana autêntica.
A grande diferença, porém,
é que os hebreus não apreciavam a filosofia especulativa, que fica a imaginar
como os mundos e os seus problemas teriam sidos criados; antes, eles preferiam
olhar para uma orientação prática na vida.
E isso faziam de maneira
intuitiva e analógica, e não em resultado de raciocínios dialéticos.
Isto explica porque os
hebreus davam a essa forma de pensamento o nome de “Sabedoria”, porquanto, na
busca pela solução diante dos problemas morais do homem, diante da vida, eles
demonstravam muito mais amor pela sabedoria prática do que pelas especulações
filosóficas.
Em vista disso, o livro
de Provérbios, começando com máximas isoladas acerca dos elementos básicos da
conduta humana, revela, de muitas maneiras sugestivas que os seus autores
(vejamos autoria na seção III), cada vez mais se aproximavam, em suas
apresentações, de uma postura filosófica.
No mínimo pode-se afirmar
que eles tinham uma filosofia em formação.
Esse desdobramento pode
ser visto até mesmo na maneira como o vocábulo hebraico mashal foi sendo cada
vez mais usado com maior amplitude de significação, ao que já tivemos ocasião
de referir-nos.
A mashal, em seus
primeiros usos, era de natureza antitética, contrastando dois aspectos da
verdade, de tal modo que o pensamento ali mesmo se completava, nada mais
restando ao autor senão passar para algum outro assunto.
Isso produzia o bom
efeito de por em contraste os grandes antagonismo fundamentais da existência
humana neste mundo: a retidão e a iniquidade; a obediência e o desregramento; a
indústria e a preguiça; a prudência e a presunção, etc.. o que analisava,
mediante contraste, a conduta do individuo e dos homens da sociedade.
Entretanto, a partir do
momento em que começam a prevalecer as mashalim ilustrativas e sinônimas, o
estudioso toma consciência da maior penetração e ampliação do alcance do
pensamento, porquanto começam a aparecer distinções mais sutis e descobertas
mais remotas, e as analogias que ali se vêem passam a exibir uma relação menos
direta entre causas e efeitos.
E então, avançando ainda
mais no livro de Provérbios, especialmente quando atinge a seção transcrita
pelos “homens de Ezequias, rei de Judá” (capítulos 25 – 29), podemos notar que cada
vez mais se usa do artifício literário dos paradoxos e dos dilemas.
Além disso, a mashal
amplia-se, ultrapassando a mera comparação entre dois contrastes.
Tudo isto, apesar de não
ser ainda uma filosofia autoconsciente, chega a ser um passo decisivo nessa
direção.
Um pressuposto básico dos
escritores do livro de Provérbios é que a sabedoria e a retidão são idênticas,
e a iniquidade é uma espécie de insensatez.Isso é ponto tão
pronunciado no livro que chega mesmo a ser axiomático (claro, óbvio),
emprestando ao volume o seu colorido todo especial. Isso transparece logo no
primeiro provérbio, após as considerações iniciais sobre o filho sábio.
Lemos ali: ”Os tesouros da
impiedade nada aproveitam; mas a justiça livra da morte” (Pv 10.2).
Com base nesse
pressuposto básico, vêm à tona outros princípios não menos axiomáticos: a fonte
de uma vida caracterizada pela sabedoria é o temor a Yahweh; quem quiser ser
sábio precisa ter uma mente disposta a aprender a instrução, e a atitude contraria
é própria da perversidade; sábio é aquele que não se deixa impressionar pelas
vantagens passageiras obtidas pelos ímpios, ao passo que o insensato não percebe
as vantagens da verdadeira sabedoria, o temor ao Senhor.
Esses princípios são
constantemente reiterados no livro de Provérbios, não de forma sistemática, mas
iluminando numerosos aspectos e aplicações às questões práticas da vida.
O principio que mostra
que as más obras trazem em si mesmas as sementes da destruição, ao passo que o
bem arrasta após si as bênçãos divinas, é um dos conceitos fundamentais do qual
emergiu toda a filosofia de sabedoria dos hebreus.
De fato, essa capacidade
de mostrar sagacidade nos pensamentos e nos conselhos, reduzindo-os a máximas
ou parábolas, foi sempre tão admirada entre os israelitas que, desde antes de
Salomão, os seus possuidores tornavam-se lideres naturais, bem reputados na
comunidade de Israel. (II Sm 14.2 e 20.16).
E quem demonstrou maior
habilidade, quanto a isso, do que o próprio Salomão? Não somente casos difíceis
lhe eram trazidos para solução (vejamos I Rs 3.16-18), como também lhe eram
apresentadas questões complicadas, para que ele fornecesse resposta (Vejamos I
Rs 10.1, 6-7).
Portanto, foi com base no
reconhecimento de que há homens dotados de tremenda sagacidade mental, capazes
de aplicar esta habilidade as questões práticas da vida, que surgiu a
literatura da sabedoria, incluindo o livro de Provérbios.
II – Unidade do livro
Visto que o próprio livro
declara que se trata de uma coletânea, a sua unidade não depende de sua
autoria. Antes, essa unidade encontra-se na natureza geral do seu conteúdo, os
provérbios, declarações sucintas ou um pouco mais longas que exibem profunda
sabedoria prática, aplicável a conduta diária dos homens.
A obra pertence à
categoria geral da literatura, exaltando as virtudes da sabedoria (sob a forma
de retidão) e condenando os vícios da insensatez (sob a forma de falta de temor
a Deus).
III – Autoria
Tradicionalmente, o
volume maior do livro de Provérbios tem sido atribuído a Salomão, filho de Davi
e rei de Israel (Pv 1.1; 10.1; 25.1). Entretanto, o próprio livro de Provérbios
menciona dois outros autores, a saber: Agur (30.1) e Lemuel (31.1). Quanto a
esta questão, existem duas posições extremadas a saber:
1 – Salomão escreveu o
livro inteiro de Provérbios; ou 2 - Ele não teve nenhuma conexão direta com a
obra (excetuando que ele é o “autor tradicional” e é patrono da literatura de Sabedoria).
Um terceiro ponto de
vista, que ocupa posição intermediária e esta mais em consonância com o próprio
testemunho bíblico, é aquele que diz que Salomão foi o autor de maior parte do
volume do livro de Provérbios, à qual foram acrescentadas as obras de outros
autores.
Assim, é apenas uma meia
verdade aquela que diz que o livro de Provérbios não teve “Pai”, segundo
afirmam alguns estudiosos. Pois, apesar de as declarações de sabedoria
geralmente se originarem entre pessoas do povo comum, alguém foi o primeiro
individuo a fazer essas declarações em uma linguagem epigramática.
Essa ideia é confirmada
por nada menos de três vezes no volume do livro. “Provérbios de Salomão filho
de Davi, o rei de Israel, (1.1); Provérbios de Salomão... (10.1); que em nossa
versão portuguesa aparece como título, o que é um erro, pois faz parte do texto
sagrado); e também “São também estes provérbios de Salomão, os quais
transcreveram os homens de Ezequias, rei de Judá”. (25.1)
Por que duvidar do
próprio testemunho bíblico?
Todavia, essa última
passagem citada indica que Salomão não reunira todos os seus provérbios,
formando um único volume.
Antes, ele deixara muitos
de seus provérbios dispersos, os quais os copistas de Ezequias coligiram.
Se juntarmos a isso as
palavras de Agur e de Lemuel, teremos o que é hoje o nosso livro de Provérbios.
Uma tola objeção à
autoria salomônica é aquela que assevera que Salomão não era praticante das
virtudes inculcadas no livro de Provérbios; por exemplo, Pv 7.6-23, que alguns
pensam não refletir a vida de Salomão, porque ele teria tido um imenso número
de mulheres e concubinas (vejamos I Rs 11.3, que diz: “Tinha (Salomão), 700
mulheres, princesas, e 300 concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o
coração”).
Tal objeção, entretanto,
olvida-se de que uma coisa é escrever obras de sabedoria, e outra, inteiramente
diferente; é viver de maneira sábia.
Um homem pode trair os
próprios princípios!
A narrativa sobre a vida
de Salomão em I Rs
caps. 3, 4; 10 (vejamos especialmente I Rs 4.30-34 e II Cr 9.1-24), dá a
entender a sabedoria e a versatilidade inigualáveis de Salomão, na composição
de afirmações de sabedoria.
Por igual modo, a
afirmação de que os subtítulos (vejamos 1.1; 10.1 e 25.1), seriam meramente
honoríficos, não correspondendo à realidade da autoria salomônica, não faz
justiça a Salomão.
Mesmo que os subtítulos
em 1.1 e 10.1 mostrem que pessoas posteriores compilaram provérbios esparsos de
Salomão, nem por isso se negaria realmente a autoria salomônica.
Os compiladores não foram
os autores. Eles compilaram o que já existia, e o que já existia era saído da
pena de Salomão. Além disso, o argumento que diz que as repetições, em duas
seções diferentes do livro de Provérbios, ou mesmo em uma de suas seções,
elimina uma única autoria, esquece o fato de que os autores muitas vezes
repetem o que dizem, e que os editores ou compiladores tinham por costume reter
passagens duplicadas, conforme se vê, por exemplo, nos casos de Sl 14.1 e 5.11.
A questão da autoria do
trecho de Pv 22.17 – 24.34 está vinculada ao problema da relação entre essa
seção e a obra “A Sabedoria de Amenemope”, o que é ventilado mais adiante.
Durante as discussões e
controvérsias que houve entre os judeus do século I d.C, acerca do cânon do
antigo Testamento, o livro de Provérbios foi classificado, juntamente com os
livros de Eclesiastes e de Cantares de Salomão, como “salomonico”, conforme se
aprende em Shabbat 30b.
O livro de Provérbios,
conforme existe em nossos dias, deve ter tomado forma após os dias do rei
Ezequias (vejamos Pv 25.1), isto é, após 687 a.C.
De fato, Fritsch (IB, 4°
volume, pág. 775) pensa que a forma final pode ter sido alcançada somente por
volta de 400 a.C.
Outros asseveram que a
coletânea final (incluindo as palavras de Agur e de Lemuel) deve ter sido feita
em algum tempo entre os dias do rei Ezequias e o começo do período pós-exílico,
o que daria, mais ou menos, o mesmo resultado.
Alguns estudiosos
modernos, de tendências liberais, observam que devem ser levadas em conta as “palavras
dos sábios” referidas em Pv 22.17 e 24.23. Para eles, isso representa mais
alguns autores, embora anônimos. Entretanto, não é absolutamente necessário
aceitarmos esta opinião.
Salomão poderia estar
meramente referindo-se a afirmações que antigos sábios haviam feito, mais ou
menos de conhecimento geral em sua geração, às quais, agora, ele emprestava uma
forma epigramática.
É muito melhor ficarmos
com a ideia da autoria salomônica, claramente declarada no próprio livro de
Provérbios por três vezes, conforme já tivemos ocasião de verificar, do que
imaginar uma multiplicidade de autores, segundo o sabor da alta crítica, que
sempre quer exibir erudição multiplicando autores e atribuindo aos livros da
Bíblia uma data posterior a qual eles realmente pertencem.
IV – Data
Duas questões diferentes
estão envolvidas no problema da data do livro de Provérbios, a saber:
a – a data em que cada
seção do livro foi escrita (vejamos a seguir quanto às seções do livro);
b – e, então, a data em
que foi feita a “coletânea” ou a “editoração”, das várias seções, a fim de
formar um único volume (rolo), naquilo que hoje conhecemos como livro de
Provérbios.
Os eruditos conservadores
seguem o ponto de vista tradicional da autoria salomônica do livro inteiro,
excetuando os capítulos 30 (Agur) e 31 (Lemuel).
Isto posto, eles datam o
volume maior do livro como pertencentes ao século X a.C., provavelmente dos
últimos anos do reinado de Salomão.
A coletânea das várias
seções, por sua vez, é datada pelos mesmos estudiosos conservadores, entre 700 a.C. e 400 a.C.
A paz e a prosperidade
que caracterizam o período de governo de Salomão ajustam-se bem ao
desenvolvimento de uma sabedoria reflexiva e a produção de obras literárias
desta natureza.
Vários especialistas
observam que as trinta declarações dos sábios, em 22.17 – 24.22, contém
similaridades com as trintas seções da “Sabedoria de Amenemope”,
produzidas no Egito, e que eram mais ou menos contemporâneas a época de
Salomão.
Por semelhante modo, a
personificação da sabedoria, tão proeminente nos cap. 1 – 9 (vejamos 1.10;
3.15-18; 8.1-36), pode ser comparada com a personificação de ideias abstratas
em escritos em egípcios e mesopotâmicos pertencentes ao segundo milênio a.C.
O papel desempenhado
pelos “homens de Ezequias” (vejamos 25.1) indica que importantes seções do
livro de Provérbios foram compiladas e editadas entre 715 e 687 a.C, um período de
renovação espiritual encabeçada por
aquele monarca judeu. Ezequias demonstrou grande interesse pelos escritos de
Davi e de Asafe (II Cr 29.30).
Talvez também tivesse
sido nesse tempo que foram adicionadas as coleções de provérbios de Salomão as
palavras de Agur (cap. 30); de Lemuel (cap. 31); bem como as palavras dos
sábios (22.17 – 24.22; 24.23-34), embora seja perfeitamente possível que o
trabalho de compilação se tenha completado após o reinado de Ezequias, conforme
também já demos a entender anteriormente.
Os eruditos críticos, por
sua vez, rejeitam a autoria salomônica, pelo que datam cada seção do livro de
Provérbios separadamente, em geral em datas muito posteriores à data tradicional
da escrita e compilação do livro. Isso, por sua vez, leva-os a datar a
coletânea inteira no fim do período persa, ou mesmo do período grego. Porém,
descobertas arqueológicas e filológicas recentes tem feito alguns desses
eruditos abandonar uma data extremamente posterior, o que andava tão em voga na
primeira metade do século XX.
Entre essas descobertas poderíamos
citar o achado de declarações de sabedoria dos cananeus, bem como certos
padrões linguísticos cananeus na literatura Ugarite.
O que é indiscutível é
que o livro de Provérbios pode ser dividido em certas seções, conforme veremos
abaixo:
Seção I
Esta seção tem sido
datada como passagem relativamente posterior, porquanto supõe-se que foi
escrita como uma espécie de introdução para o volume inteiro. Há quem pense que
essa primeira seção seja pós-exílica, enquanto outros dizem que a
personificação da sabedoria (vejamos o cap. 8) torna provável uma data dentro
do séc. III a.C. Porém, um terceiro
grupo de estudiosos tem demonstrado que essa personificação, ou melhor,
hipostatisação (da palavra grega hipostasis, que significa pessoa), é uma das
características das religiões mesopotâmicas e egípcia.
A fórmula numérica de X, X
+ 1, encontra-se em Pv 6.16-19, ocorrendo também em textos ugaríticos (cfm.
Gordon, Ugaritic Manual, págs. 34 e 201) do segundo milênio a.C.; Albright
(Wisdom in Israel and in the Ancient Near East), pensa que essa seção é
anterior aos Provérbios de Aicar, isto é, o séc. VII a.C. Fritsch segue a
tendência de dar uma data bem mais
antiga á obra, ao afirmar que existem fortes influências ugaríticas e fenícias
na primeira seção de Provérbios, e que os seus caps. 8 e 9 compõem “uma das
porções mais antigas do livro”.
Um exemplo dessa
influência ugarítica, que damos aqui como ilustração, é uso do termo Lahima,
“comer”, que só pode ser encontrado por seis vezes no Antigo Testamento, quatro
delas no livro de Provérbios.
Quando isso é combinado
com a opinião de Scott (Anchor Bible, “Proverbs”, págs 9, 10), que disse que os capítulos 1° ao 9° foram escritos como
introdução a uma unidade já existente (isto é, os caps. 10 – 31), a mais antiga
data provável para essa primeira seção faz com que uma data salomônica para as
demais a ele atribuídas se torne bastante plausível. Entretanto, Scott
considera que esta primeira seção do livro é um elemento posterior dentro do
livro de Provérbios.
O longo discurso desta
seção (em contraste com o estilo de aforismos do restante) encontra paralelos
na antiga literatura de sabedoria egípcia e acádica.
Os aramaismos ali
existentes, ao contrário do que antes alguns supunham, argumentam em favor de
uma data mais antiga, e não, uma mais recente.
Seção II
Este segmento do livro de
Provérbios é considerado salomônico pelos eruditos conservadores, como
coletânea gradualmente feita, talvez com um núcleo salomônico, que teria
atingido seu presente estado no séc. V ou no séc. IV a.C.
O escritor moderno,
Paterson, considera que essa é a porção mais antiga do livro de Provérbios.
Seção III e IV
Estas seções estão
envolvidas na questão da dívida literária a Sabedoria de Amenemope, que será
discutida mais abaixo.
A ideia de que esta seção
depende muito de uma obra egípcia possibilita uma data entre 1000 e 600 a.C., tudo estando na
dependência da data da obra egípcia. Por isso mesmo, Paterson pensa que esta
porção é pré-exílica, embora posterior a 700 a.C.
Seção V
De acordo com seu
subtítulo, esta seção vem da época do rei Ezequias, porém, a autoria real pode
ter pertencido ao séc. X a.C.
Seções VI, VII e VIII
Há uma diferença na
colocação destas três seções do livro de Provérbios, entre a Septuaginta e o
texto massorético. Por isso mesmo, Paterson pensa que, originalmente, cada uma
dessas seções corresponde a antigas coletâneas separadas.
A base de alegadas
artificialidades, ele as colocou em data posterior. No entanto, a forma
acróstica de composição, que alguns eruditos modernos consideram
artificialismo, era um método favorito de composição de poemas entre os antigos
hebreus.
Scott afirma que os
poemas acrósticos apareceram muito antes do exílio do séc. VI a.C. E, visto que
a literatura de sabedoria transcendia às fronteiras nacionais, a história
política internacional oferece-nos pouca ajuda para fixar alguma data para
estas três seções do livro de Provérbios.
V – Lugar de Origem e destinatários
O livro de Provérbios
provavelmente originou-se nos círculos palacianos de Jerusalém.
As porções salomônicas
(excetuando a seção transcrita pelos “homens de Ezequias, rei de Judá”; vejamos
capítulo 25.1), podem ter sido registradas pelos escribas desse monarca
descendente de Salomão. À essas coletâneas de provérbios, pois, os escribas
reais adicionaram as seções VI – VIII. O seu conteúdo indica que o livro de
Provérbios tinha por intuito instruir os filhos das famílias nobres. Assim,
embora estas instruções sejam endereçadas frequentemente a “meu filho”, estava
em pauta uma audiência muito mais ampla. A sabedoria dos sábios destinava-se a
“todos” (Paterson, pág. 54)
VI – O propósito do livro
O próprio livro de
Provérbios assevera o seu propósito em Pv 1.2-4, ou seja, infundir sabedoria e
discrição aos homens, especialmente no caso dos símplices, destituídos de
experiência na vida.
Lemos no 4° verso “...para
dar aos simples prudência, e aos jovens
conhecimento e bom siso”. É perfeitamente exequível que esse também tenha sido
o propósito do livro inteiro: orientar os homens na conduta prática diária. Essa
sabedoria, esse temor a Yahweh, é algo necessário para a formação de um caráter
bem cultivado.
A coletânea dos
provérbios, pois, serviria de livro de informações útil para estudos públicos
ou privados.
Os provérbios inculcaram
a moralidade pessoal, além de um direto “bom senso”.
Paterson conseguiu extrair
bem o propósito do livro de Provérbios ao escrever o alvo desse livro é: “...
diminuir o número dos tolos e aumentar o número dos sábios. (pág. 54)
Embora o livro de
Provérbios seja uma obra de cunho eminentemente prático, ensinando como o homem
deve viver diariamente, a sabedoria ali ensinada está solidamente escudada
sobre o temor a Yahweh (vejamos, por exemplo, cap. 1.7, que declara: “O temor
do Senhor é o principio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o
ensino”.
Por todo o volume, esse respeito
ao Senhor é apresentado como a senda que leva a vida e a segurança (3.5; 9.10;
22.4).
No dizer de Pv 03.18, a
sabedoria é: “...arvore de vida para os que a alcançam, e felizes são todos os que a retém”.
VII – Canonicidade
Na obra hebraica, Shabbat (30b), Provérbios é
listado como um livro de canonicidade disputada, nos fins do séc. I d.C.,
juntamente com os livros de Eclesiastes e Cantares de Salomão. Mas a sua
associação com outras obras reconhecidamente salomônicas, nessa afirmativa
judaica, parece favorável ao argumento de que o livro era canônico, e assim era
considerado.
Outro tanto se vê em M. Yadaim (3.5), onde
diferentes opiniões aparecem no tocante à canonicidade de Eclesiastes e Cantares de Salomão, mas não
há nenhum debate no tocante ao livro de Provérbios.
A LXX e aversão
portuguesa concordam em dispor juntos todos os três livros atribuídos a
Salomão, ou seja, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão.
De acordo com o Talmude
(Baba Bathra, 146), o livro de Provérbios aparece depois dos livros de Salmos e
de Jó e, em conformidade com Berakoth (57b), deveria figurar entre os livros de
Jó e de Salmos.
A ordem de colocação nas
modernas Bíblias (como na nossa versão portuguesa) deve estar alicerçada sobre
certa tradição rabínica, que dizia que Moisés escreveu o livro de Jó, Davi
escreveu Salmos, e que Ezequias compilou os Provérbios (Baba Bathra. 14b-45ª)
O trecho de Tg. 4.6, ao
citar Pv 3.34, faz de tal maneira que mostra que o livro de Provérbios era
considerado canônico no séc. I d.C.
Em adição a isso, é com
frequência que o Novo Testamento se refere à seção do antigo Testamento que
contém o livro de Provérbios, a saber, Kethubim, os “escritos”, tachando-os de
“Escritura” (no grego, graphé).
A sua inclusão na
Septuaginta certamente favorece a ideia de uma bem remota aceitação do livro de
Provérbios como parte integrante das Santas Escrituras.
VIII – Estado do texto.
O livro de Provérbios, em
sua maior parte, acha-se escrito em hebraico claro, estilo clássico.
Entretanto, existem
algumas poucas passagens difíceis no texto das seções principais.
O erudito Fritsch lista
como vocábulos que tem causado problemas para os tradutores os seguintes: Amon
(Pv 8.30); Yathen (30.31); Hibbel (23.34); Manon (29.21); Àluqah (30.15); Zarzir
e Álqum (30.31).
A maioria das propostas
de emendas, com o intuito de solucionar problemas textuais, não passa de
conjectura.
Descobertas linguísticas
recentes demonstram o valor de esperar por maiores informações em vez de apelar
para emendas conjecturadas.
A Septuaginta é uma
tradução frouxa, quase uma paráfrase. Exibindo marcas do ponto de vista dos
tradutores. Em certos lugares a tradução é inteiramente corrupta. Inclui quase
cem duplicatas de palavra, frases, linha e versículos que aparecem somente por uma vez, no texto massorético. Além disso,
omite algumas seções e adiciona outras.
Na Septuaginta, o trecho
de Pv 30.1-14 vem depois de 24.22 (segundo o texto hebraico), e então segue-se
24.23-24 (segundo o texto hebraico).
Então a Septuagintga tem
Pv 30.15 – 31.9, e então os caps. 25 – 29 (segundo o texto hebraico) e,
finalmente, 31.10-31.
Essas anomalias tem
levado os estudiosos a acreditar que o texto continuava fluido ao tempo em que
foi feita a tradução da Septuaginta.
IX – Problemas Especiais
Duas particularidades que
merecem atenção especial são:
1 – A figura da
sabedoria, no 8° cap. de Pv;
2 – A relação entre o
livro de Provérbios (22.17 – 24.34) e a
obra egípcia Sabedoria de Amenemope.
Ambos os itens estão
diretamente vinculados a abordagens críticas quanto a autoria e a data do livro
de Provérbios, razão pela qual os ventilamos aqui.
A – A figura da Sabedoria
Apesar de a sabedoria ser
exaltada como uma virtude, por toda a seção de abertura do livro de Pv, como
também em outros segmentos do livro, é no seu 8° capítulo que encontramos o
tratamento “sabedoria”, como uma
hipostatisação. Ao que tudo indica ali esse atributo divino aparece como um ser
que mantém inter-relações com os homens.
Em Pv 1.20-33; 8.1-36;
9.1-6, 13, 18, a sabedoria aparece em oposição a uma personagem similar, embora
contraria, “ Senhora Loucura”.
A sabedoria aparece como
um profeta que prega pelas ruas (Je 11.6 e 17.19-20).
Não há nenhum traço de
politeísmo no livro de Provérbios. Por conseguinte, qualquer tentativa de
vincular o pano de fundo acerca de Salomão a Maát, Istar ou Siduri Sabatu,
conforme fazem alguns, não é convincente nem tem base nos fatos.
A única questão que ainda
resta ser ventilada é se a “Sabedoria” é uma verdadeira hipostatisação, isto é,
um atributo ou atividade da deidade a qual foi conferida uma identidade
pessoal.
Alguns estudiosos
defendem que o oitavo capítulo de Provérbios simplesmente apresenta uma vívida
personificação.
A intima correspondência
entre as atividades da “Sabedoria”, no livro de Pv, e as atividades de Yahweh,
no resto do Antigo Testamento, é algo deveras notável.
A sabedoria derrama o
espírito (vejamos Pv 1.23, cfme. Is 44.3); Deus chama, Israel não responde
(vejamos Pv. 1.24-26; Is 65.1, 2, 12, 13; 66.4); O Espírito de Deus é a Sabedoria (vejamos Pv 8.14; Is 11.2); A
sabedoria promove a justiça (Pv 8.15,16; cfme. Is 11.3, 5).
Da mesma maneira que a
Sabedoria prepara o seu banquete (Pv 9.5, em oposição a mulher louca, que
também tem o seu banquete, Pv 9.13-18), assim o faz Yahweh (Is 25.6; 55.1-3;
65.11-13).
Nos seus escritos, tanto
o judaísmo posterior quanto o cristianismo referem-se ao papel desempenhado
pela “Sabedoria” na criação – um desempenho que em muito se assemelha à
sabedoria hipostatisada no livro de Provérbios.
O livro apócrifo
Sabedoria de Salomão identifica a “Sabedoria” como “a modeladora de todas as
coisas” (7.22), como “associada às obras (de Deus)” (Pv 8.4) e como “formadora
de tudo quanto existe” (8.6).
Filo (de Sacerdota)
afirma que a “Sabedoria” foi a fabricante do universo.
Alguns estudiosos
procuram demonstrar a ligação entre o “Logos” do primeiro capítulo do evangelho
de João, bem como a “Sofia” concebida pelos mestres gnósticos, com a
Sabedoria”, hipostatisada do livro de Provérbios; porém, as conclusões desses
eruditos não conseguem harmonizar-se entre si.
Se o erudito Scott (pgs.
71-72) está correto em sua vocalização da palavra hebraica ´Amon, para ´Omen
(Pv 8.30), visto que ´Omen significa “artífice principal” ou então “criancinha”,
segue-se que a “Sabedoria” é vista como aquela força hipostatizada que unifica
todas as coisas (Eclesiástico 43.28; Sabedoria de Salomão 1.7; Cl 1.17 e Hb 1.3).
Embora alguns críticos
tenham datado o livro de Provérbios como pertencente ao período helenista, em
face da hipostatisação da sabedoria (sob alegação de que a tendência para as
hipostatisações era forte durante o período de dominação grega), o fato é que
há muitos paralelos entre o livro de Provérbios e o antigo mundo do Oriente
Próximo, do segundo milênio a.C., ou mesmo antes. Entre esses paralelos,
poderíamos citar os seguintes:
1 – a divindade egípcia
de Mênfis, Ptá, teria criado as coisas com sua palavra e seu pensamento;
2 – em Tote de
Hermapólis, a sabedoria divina e o deus criador aparecem personificados;
3 – a divindade suméria
Ea-Enki fera chamada de “o verdadeiro conhecedor”;
4 – O deus babilônico
Marduque, intitulado de “o mais sábio dos deuses”, teria conquistado Tiamate fé
então criado a terra e o Homem;
5 – o altíssimo deus EI,
do panteão ugarítico, é descrito como alguém cuja “sabedoria é eterna”.
Esses e outros exemplos
hebraicos (vejamos Sl 74.13, 14; 82.1; Is 14.12-14; 27.1) demonstram claramente
que, desde bem antes da época de Salomão, já se conhecia o artifício literário
da hipostatisação.
Paterson fez um sumário
da discussão da “Sabedoria”, afirmando que o trecho de Provérbios 8.22-23 é uma
ousada confirmação e reafirmação da doutrina expressa em Gn 1.2.
Deus não criou um caos
(cfme. Gn 1 e 2), e, sim, um “cosmos”, um todo organizado.
A sabedoria é a essência
mesma do ser de Deus.
O universo não veio à
existência por mero acaso, nem permanece existindo por suas próprias forças.
O mundo conta com uma
teleologia, porquanto existe a teologia.
B – Relação entre Provérbios e a Sabedoria de Amenemope.
Desde que Adolph Erman
ressaltou as similaridades existentes entre a Sabedoria de Amenemope e o livro
de Provérbios (22.17 – 23.14), tem havido uma tendência geral para os
estudiosos pensarem que essa passagem bíblica esta diretamente em divida com a
aquela antiga obra de origem egípcia.
Todavia, os defensores da
independência desse trecho bíblico de qualquer obra também aparecem em bom
numero como E. Diroton, C. Fritsch e R.O. Kevin, para citar somente alguns.
Embora a preponderância
da erudição encare o livro de Provérbios como se houvesse alguma dependência
entre ele e a Sabedoria de Amenemope, há alguns argumentos sólidos suficientes
para mostrar a inveracidade dessa dependência, conforme podem averiguar sérios
estudiosos da Bíblia que queiram parar a fim de examinar todas as evidenciam
disponíveis.
1 – O documento egípcio
Foi Sir E. Wallis Budge,
no seu artigo Recuuil dÈtudes Egyptologigue... Champollion, em 1922, quem
primeiro tornou conhecida a antiga obra egípcia Sabedoria de Amenemope.
Em 1923, ele publicou o
texto completo da obra, com fotografias e uma tradução.
Outros eruditos trouxeram
a público suas próprias traduções do original egípcio.
Mas foi Erman o primeiro
a sugerir que as “excelentes cousas” a respeito das quais lemos em Provérbios
22.20 poderiam ser traduzidas por “trinta”, com base na divisão da Sabedoria de
Amenemope em trinta capítulos.
Essa tradução envolvia
uma modificação textual, uma nova vocalização de shalishim para sheloshim, no
texto hebraico do livro de Provérbios.
E então Erman inferiu que
o escritor teria, diante de si, os trinta capítulos da Sabedoria de Amenemope,
tendo dali selecionado e incorporado trinta afirmações a seu próprio livro de
sabedoria.
A verdade é que Oesterley
e outros vêem pelo menos que 23 das 30 declarações daquela passagem do livro de
Provérbios derivam da Sabedoria de Amenemope, Scott, por sua vez, afiançou que
somente nove dessas declarações procedem daquela fonte.
Mas o preâmbulo do
trecho Pv 22.17-21 parece ser uma
reformulação da conclusão da sabedoria de Amenemope.
Essa obra egípcia foi
escrita por Amen-em-apete, egípcio nativo de Panápolis, em Acmim.
Ele era um supervisor de
terras, evidentemente uma posição importante. Também foi um sábio e um escriba.
Devido a posição que ele
ocupava, alguns estudiosos datam a sua obra como pertencente ao período
pós-exílico de Judá (cfme. Esdras e Bem Siraque).
Entretanto, o gênero
literário da sabedoria e a instituição dos escribas eram realidades
bem-estabelecidas no antigo Oriente Próximo desde muito antes do tempo de
Salomão.
A obra Sabedoria de
Amenemope tem sido atribuídas diversas datas, desde cerca de 1300 a.C. (Plumley) ou 1200 a.C. (Allbright), até
datas em torno do séc. VII a.C. (Griffith, Oesterley), ou do período
persa-gregos (Lange).
A data mais antiga
baseia-se em um ostracon que continha um extrato daquela obra egípcia.
Se isso for aceito, então
torna-se quase uma certeza que o livro de Provérbios realmente tomou por
empréstimo elementos do Sabedoria de Amenemope.
Existe mesmo a
possibilidade de que aquele ostracon represente uma fonte informativa comum,
usada tanto pelo livro de Provérbios quanto pela Sabedoria de Amenemope.
Seja como for, isso em
anda afeta a inspiração do livro de Provérbios, porquanto o fenômeno da
inspiração envolve até mesmo a seleção de material, como também a composição do
material original.
2 – Relações léxicas
Vários estudos sobre a
lexicografia de Sabedoria de Amenemope tendem a mostrar que seu vocabulário
egípcio-semítico pertence ao estagio final do idioma egípcio.
Há indicações de que esse
vocabulário da obra assemelha-se mais com a Septuaginta do que com o texto
massorético.
Interessante é que, bem
ora isso seja posto em dúvida por alguns eruditos, o uso de expressões
idiomáticas semíticas no livro Sabedoria de Amenemope pode até mesmo mostrar
que é essa obra egípcia que depende do livro de Provérbios, e não ao contrário,
conforme dizem alguns estudiosos.
Assim é que, se o livro
de Provérbios parece conter versículos espalhados por Sabedoria de Amenemope,
essa obra egípcia parece conter versículos pelo livro de Provérbios.
Assim, os argumentos pró
e contra parecem bem equilibrados. Também tem grandes possibilidades uma
terceira posição, intermediaria, que diz que tanto a obra egípcia quanto o
livro de Provérbios usaram antigas tradições orais comuns no antigo Oriente
Próximo, ou mesmo algum apanhado dessas tradições, já sob forma escrita.
Também merece
consideração a ideia de que a passagem do livro de Provérbios estava
simplesmente usando “trinta capítulos” egípcios como modelo, e não como fonte
informativa direta. E Scott exprime um ponto de vista parecido com isso.
X – Conteúdo e esboço do livro
O conteúdo do livro de Provérbios
pode ser classificado em conformidade com quatro critérios: gênero literário,
por assunto, por autoria e por motivos teológicos. Felizmente, as divisões
feitas de acordo com os três primeiros critérios justapõem-se com facilidade,
em quase todos os pontos.
A - Conteúdo
1 – Gêneros lieterários
As duas formas literárias
que mais prevalecem no livro de Provérbios são:
1 – As declarações
sucintas e expressivas usadas para transmitir sabedoria (os verdadeiros
“provérbios”);
2 – Os longos discursos
didáticos, do que são exemplos a primeira seção (caps. 1 – 9), e as seções 7ª e
8ª (caps 30 -31).
Praticamente todo o
restante do livro cabe dentro da categoria dos “provérbios”
Pode-se definir um
provérbio como “uma declaração breve e incisiva, de uso comum”.
Tipicamente, um provérbio
é anônimo, tradicional o epigramático.
Conforme alguém já disse,
um provérbio caracteriza-se por “sua brevidade, sentido e sal”. E conforme
expressou com grande percepção Lord John Russel, um provérbio contém “a
sabedoria de muitos e a argúcia de um só”.
Na segunda seção do livro
de Provérbios há 375 dessas declarações. Dentre os 139 versículos dos capítulos
25 – 29, 128 são provérbios.
Com frequência, os
provérbios assumem a forma de um símile gráfico (Capítulos 25 e 26).
Quase todo o livro de
Provérbios, excetuando as seções primeira, sétima e oitava (1 – 9, 30,
31), foi escrito formando duplas que se
completam, ou dísticos.
Esse paralelismo – uma
típica característica de poesia hebraica – ocorre com certa variedade de
formas.
O chamado paralelismo
sinônimo, em que a segunda linha reitera ou reforça a primeira, é a forma
usualmente encontrada em Provérbios 16.10 – 22.15 (20.13).
O paralelismo antitético,
em que a segunda linha expõe em contraste do que foi dito na primeira, ou uma
reversão da ideia da primeira linha, é a forma de paralelismo usualmente
encontrada nos capítulos 10 a
15 (Pv 15.1).
Ocasionalmente, vê-se no
livro de Provérbios certa forma de paralelismo em que a segunda (ou terceira)
linha adiciona algo ao pensamento expresso na primeira linha. Esse tipo de
paralelismo sintético acha-se em 10.22.
Os capítulos 25 e 26
estão repletos desse tipo de paralelismo.
2 – Assunto
Três tipos latos de
material são apresentados no livro de Provérbios, isto é:
a – instruções para que
se abandone a insensatez e siga a sabedoria (capítulos 1 – 9);
b – exemplos específicos
de conduta sábia ou de conduta insensata (as declarações gnômicas das seções II
– V; capítulos 10 -29) e;
c – a vivida descrição
acerca da mulher virtuosa (cap. 31; que talvez contrabalance o motivo do filho
sábio, nos capítulos 1 - 9).
Em adição a isso, o
conteúdo do livro de Provérbios pode ser
agrupado de acordo com os tópicos discutidos, como as declarações que
versam sobre:
os males sociais (22.28; 23.10; 30.14);
as obrigações sociais
(15.6, 7, 17; 18.24; 22.24-25; 23.01-02; 27.06, 10);
a pobreza (17.5; 18.23;
19.4, 7, 17);
os cuidados com os pobres
(14.31; 17.5, 19; 18.23; 19.7, 17; 21.13; 26.14-15);
as riquezas materiais
como uma questão secundária (11.4; 15.16; 16.8,16; 19.1; 22.1), embora
importante (10.22; 13.11; 19.4).
A vida domestica é um
tipo frequente do livro (18.22; 21.9, 19; 27.15-16; 31.30), como também as
relações entre pais e filhos (10.1; 17.21-25; 19.18,24; 22.24-25; 25.17).
O assunto da sabedoria já
foi ventilado, anteriormente.
Em contraste com o sábio,
encontramos o “louco”. Nada menos de quatro tipos de loucos podem ser
discernidos no livro de Provérbios:
a – O tolo símplice, que pode ser ensinado (Pv
1.4, 22; 7-8; 21.11); esse é o desmiolado;
b – O insensato
empedernido (1.7; 10.23; 12.23; 17.10; 20.3; 27.22), que é um obstinado;
c - O tolo arrogante, que
escarnece de todas as tentativas para iluminá-lo. Isso envolve uma atitude
mental, e não tanto uma “incapacidade mental”, do que tal indivíduo se torna
culpado (3.34; 21.24; 22.10; 29.8).
d – O louco brutal, morto
para toda decência e boa ordem (17.21; 26.3; 30.22; Sl 14.1).
A conduta dos reis é um
dos tópicos do livro (16.12-14; 19.6; 21.1; 25.5; 28.15; 29.14); O bom ânimo é
encorajado (15.13-15; 17.22; 18.14); O uso da língua é discutido (10.20; 15.1;
16.28; 21.23; 26.4, 23); Também são mencionados outros hábitos ou
características pessoais (11.22; 13.7; 22.3; 25.14; 26.12; 30.33). Finalmente
são discutidos alguns aspectos do conceito da “vida”: sua fonte originária
(10.11; 13.14; 14.27; 16.22); sua vereda (6.23; 10.17; 15.24); e também o
conceito da vida propriamente dita (11.30; 12.28; 13.4-12).
B - Esboço
Quase todos os esboços
que se tem traçado sobre o livro de Provérbios contém de quatro a dez seções
principais.
As divisões naturais do
livro, todavia, parecem indicar um esboço em oito pontos, com boa base na
autoria provável e nos estágios da coleção de unidades separadas,
posteriormente coligidas em um único rolo escrito em hebraico.
É o que podemos ver
abaixo:
I - Instrução paterna:
sabedoria versus insensatez (1 – 9)
II - Provérbios de
Salomão: primeira coleção (10.1 – 22.16)
III - Palavra dos sábios:
primeira coleção (27.17 – 24.22)
IV - Palavras dos sábios:
segunda coleção (24.23-24)
V - Provérbios de
Salomão: segunda coleção, feita pelos homens de Ezequias (caps. 25 – 29);
VI - Palavras de Agur (Cap. 30)
VII - Palavras de Lemuel
(31.1-9)
VIII – Esposa virtuosa
(31.10-31)
Algumas dessas seções
podem ser subdivididas.
Assim, para exemplificar,
Scott vê 10 discursos de admoestação e dois poemas, além de algumas declarações
gnômicas, na primeira seção, ao passo que Kitchen divide a mesma seção em
catorze subdivisões.
Na segunda seção, a
diferença no paralelismo entre os caps. 10 – 15 e 16.1 – 22.16, pode indicar
uma divisão natural.
A segunda seção até Provérbios
23.14 parece estar intimamente relacionada a Sabedoria de Amenemope, enquanto o
resto dessa seção não mostra tal relação, o que pode indicar outra divisão
natural.
Na quinta seção, talvez
se deva perceber uma diferença entre os caps. 25 – 27 (principalmente preceitos
e símiles) e os capítulos 28-29 (principalmente declarações gnômicas, como em Provérbios
10.1 – 22.16).
Quase todas as
declarações dísticas do livro de Provérbios encontram-se na segunda seção e em Provérbios
28 e 29.
Novamente, Scott
subdividiu a sexta seção em um “dialogo com um cético” (presumivelmente Agur;
39.1-9) e “ provérbios numéricos e de advertência” (30.10-33), ao passo que
Murphy divide essa seção após o versículo 14.
XI - A teologia do livro
Embora alguns estudiosos
considerem o livro de Provérbios uma obra que ensina uma sabedoria secular e
prática, um exame mais cuidadoso de seu conteúdo revela que este livro é
exatamente teológico.
Assim, são ali salientados:
A soberania de Deus
(16.4, 9; 19.21; 22.2);
A onisciência de Deus é
claramente referida (15.3,11; 21.2);
Deus é apresentado com o criador
de tudo (14.31; 17.5; 20.12);
Deus governa a ordem
moral do universo (10.27, 29; 12.2);
As ações dos homens são
aquilatadas por Deus (15.11; 16.2; 17.3; 20.27);
Até mesmo neste nosso
lado da existência a virtude é recompensada (11.4;12.11; 14.23; 17.13; 22.4);
O juízo moral é mais
importante ainda do que a prudência (17.23).
O povo hebreu não
dispunha de um termo genérico para a ideia de “religião”.
Não obstante, o livro de Provérbios
demonstra esta ideia por intermédio da
expressão “o temor do Senhor” (Pv 1.7; 9.10; 15.33; 16.6; 22.4), como também
por meio daquela outra expressão que se acha nos livros dos profetas “o
conhecimento de Deus” (vejamos por exemplo: Is 11.2; 53.11; Os 4.1; 6.6).
Essas duas ideias
aparecem como um paralelo sinônimo, em Provérbios 2.5 e 9.10.
Interessante é observar
que o livro de Provérbios ignora quase completamente o templo de Jerusalém e o
culto religioso ali efetuado (o que serve de fortíssimo argumento contra uma
autoria posterior do livro), excetuando algumas alusões bastante indiretas (Provérbios
3.9-10).
De fato, trechos de Provérbios,
como 16.6 e 21.3, até parecem negar a necessidade dos sacrifícios levíticos
(15.8 e 21.27).
O que se destaca no livro
de Provérbios é o caráter vital da verdade (28.4 e 29.18).
Citamos a última dessas
referências: “Não havendo profecia o povo se corrompe; mas o que guarda a lei
esse é feliz”.
Embora o vocábulo
“aliança” só ocorra em Provérbios por uma única vez (2.16-17), não há que
duvidar que esse conceito se faz presente no livro.
A confiança, base de todo
o relacionamento de pacto, é um sine qua
non (Pv 3.5, 7; 22.19; 29.25).
Deus é mencionado, na
maioria das vezes, por Seu nome do pacto, isto é, Yahweh (nada menos de oitenta
e sete vezes). Também é evidente a relação entre pai e filho, que tanto
caracteriza a ideia de aliança (Os 11.1), conforme se vê em Provérbios 3.12. “Porque
Deus repreende a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem”.
Um ponto que não pode ser
esquecido, neste nosso estudo, foi a marca deixada pelo livro de Provérbios e
seus conceitos no Novo Testamento.
Isso se faz sentir por
meio de várias citações e alusões, conforme se vê nas duas listas abaixo, que
servem apenas de exemplos:
A – Citações
3.7a (Rm 7.16); 3.11-12
(Hb 12.5-6); 3.34 (Tg 4.6; I Pe 5.5b); 4.26 (Hb 12.13a); 10.12 (Tg 5.20);
25.21-22 (Rm 12.20); 26.11 (II Pe 2.22).
B – Alusões
2.4 (Cl 2.3); 3.1-4 (Lc
2.52); 12.7 (Mt 7.24, 27).
Se consideramos que o
livro de Provérbios é um extenso comentário sobre a lei do amor, então é certo
que este livro canônico tem ajudado a pavimentar o caminho para Aquele que era
tanto o Amor quanto a Sabedoria encarnados, o Senhor Jesus Cristo.
Se perguntássemos por que
motivo a ultima seção deste livro termina com um hino de elogio a mulher
virtuosa (Pv 31.10-31), a resposta seria que a esposa de nobre caráter forma um arcabouço literário justamente com
os discursos de introdução ao livro, nos quais a Sabedoria é personificada como uma mulher.
Na vida diária nenhum
paralelo mais feliz poderia ser encontrado como a personificação da sabedoria
do que a de uma esposa de bom caráter.
Por conseguinte, o livro
de Provérbios começa e se encerra com chave de ouro.
XII – Informações de suma importância
“O livro de Provérbios
pertence a Literatura de Sabedoria de Israel.”
Esse é o gênero literário
a que também pertencem os livros de Jó, Eclesiastes e alguns dos Salmos
(exemplos: 1; 19; 37; 49; 73; 112; 119; 127; 128 e 133), no Antigo Testamento,
e os livros apócrifos de Sabedoria de Salomão e Eclesiástico. E também o livro
Pirke Aboth do Judaísmo posterior.
Tudo isso faz parte do
grande corpo de literatura de sabedoria que existia por todo o Oriente Próximo e
Médio nos tempos antigos”. (Charles Fritsch)
“O livro de Provérbios é
um compêndio de instruções morais e religiosas, conforme dadas a juventude
judaica por sábios profissionais no período pós-exílico. Inclui material muito
mais antigo da longa tradição de treinamento na sabedoria considerada
necessária para a boa vida... recompensas e punições seguem esta vida; seu
apelo era as lições dadas pela experiência, e não tanto pela revelação divina:
uma breve, mas significativa exploração da natureza da sabedoria e do
relacionamento entre a sabedoria e Deus” (Osford annoted Bible, introdução).
Uma divisão em quatro
livros:
Livro I: 1.1 – 9.18 – que
contém dezesseis discursos extensos de admoestações, advertências e instruções,
incluindo dos poemas que personificam a sabedoria (1.20-33 e 8.1-36).
Livro II – 10.1 – 22.16,
intitulado Provérbios de Salomão, pleno de máximas expressivas sob a forma de
linhas poéticas paralelas que tratam das virtudes, dos vícios e de suas consequências.
Livro III – 22.17 –
24.22, que são as admoestações de um professor à seu aluno (chamado de seu
filho).
A principal ideia é o
treinamento pela responsabilidade.
Em cada seção demos uma
introdução mais completa dos livros.
Livro IV – 25.1 – 29 –
27, também chamado Provérbios de Salomão e com tipos similares de material,
conforme se vê no livro II.
Quanto ao restante do
livro, temos uma série de apêndices, que identificaremos conforme chegamos a
eles.
Esses trechos são 30.1-9;
30.10-33; 31.10-31.
A passagem de 24.23-34 é
considerada o primeiro desses apêndices.
Se isso é verdade, então
temos cinco apêndices no total.
Sob a seção VII da
Introdução, damos outro arranjo de materiais que incorporam o arranjo aqui
apresentado.
Titulo: Eclesiastes
Capítulos: 12
Versículos: 222
Autor: Salomão (tradição)
Data: 950 a.C.
Versículo Chave: 1.2
Sumário
I - Caracterização Geral
II – Autor
A – Em favor de
Salomão como autor d livro
B – Contra Salomão como autor do livro
III – Integridade
IV – Inspiração histórica da obra
V – Data
VI – Canonicidade
VII – Uso e atitudes cristãs
VIII – Conteúdo
IX – Informações adicionais de sumas importâncias
I – Caracterização Geral
Este livro representa um
tipo pessimista de literatura de sabedoria oriental, que mistura declarações
otimistas que sugerem que um segundo autor pudesse ter estado envolvido, ou que
um compilador posterior misturou os sentimentos expressos por dois autores
diferentes.
O titulo, no hebraico
Qoheleth, que significa “Pregador ou Orador da Assembléia”, foi traduzido para
Eclesiastes, no grego (Septuaginta), de onde deriva o titulo em português.
A base do vocábulo
hebraico temos os substantivo “kahal”, que significa “Assembléia”. Presumivelmente,
foi o próprio Salomão quem convocou a assembléia para entregar seus discursos
de grande sabedoria.
Este livro contém uma
coleção um tanto frouxa de material, sendo difícil estabelecer um estrito
esboço do seu conteúdo.
O trecho de Ec 9.17 –
10.20 poderia ser incluído no livro de Provérbios.
Algumas porções
apresentam o autor refletindo sobre suas próprias experiências ou admoestando
outras pessoas, em vez de dirigir um discurso formal a algum tipo de
assembléia.
A integridade do livro é
difícil de ser defendida.
Quanto à peças
literárias, este vocábulo aponta para o conceito de que o livro foi produzido
essencialmente por um único autor; e que existe até hoje conforme foi
originalmente escrito.
II – Autor
Precisamos lembrar que,
nos tempos antigos, atribuir um livro a um autor famoso era considerado uma
honra prestada a esse autor, especialmente se algumas de suas ideias estivessem
sendo perpetuadas. Porém, muitas obras antigas eram atribuídas a pessoas bem
conhecidas com o propósito próprio de promover certas ideias ou filosofias e
com a esperança de que o nome vinculado ao livro ajudasse em sua distribuição. Os
antigos simplesmente não pensavam como nós, no que concerne a essas práticas. Portanto,
a afirmação de que certa pessoa é declarada autora de um antigo livro não
garante que assim realmente tenha sucedido.
Um exemplo notório dessa
atividade aparece nos livros chamados pseudepígrafos, uma coleção que tem
vários nomes de profetas do antigo testamento ou lideres espirituais, como se
eles fossem seus autores, embora a realidade tivesse sido outra.
É significativo que
Manuscritos do Mar Morto incluam partes de vários destes livros, mostrando que
as pessoas, bem ao lado da entrada de Jerusalém, consideravam como escritos sagrados.
Não nos deveria
surpreender, portanto, que alguns poucos livros canônicos da Bíblia, no antigo
Testamento, tenham a eles nomes vinculados como autores, embora a realidade
fosse outra.
O trecho de Eclesiastes
1.1 atribuí o livro a Salomão, mas Lutero negava a veracidade dessa afirmativa.
De modo geral os eruditos liberais concordam com a avaliação de Lutero, e é
seguro dizer que muitos intérpretes conservadores também o fazem. Unger afirma
que poucos estudiosos conservadores de nossos dias continuam defendendo a tese
de que Salomão foi o autor do livro.
A – Em favor de Salomão como autor do livro
Temos a considerar os
pontos seguintes:
1 – Eclesiastes 1.1
atribui a Salomão a autoria do livro e 1.12-13, quase certamente o faz.
2 – A sabedoria de
Salomão é refletida em vários textos, com declarações que mostram Salomão a
falar. Eclesiastes 1.16; 2.3-6 e 2.7-8
3 – O trecho de Eclesiastes
9.17 – 10.20 – contém muitos provérbios, o que sugere que o autor do livro de Provérbios
(Salomão) também foi o autor de Eclesiastes.
4 – O caráter ímpar da
linguagem e do estilo do livro parecem separá-lo das obras do período pós-exilíco,
conforme alguns acreditam ser sua data. Isso poderia ser explicado como o
desenvolvimento, por parte de Salomão, de uma espécie de gênero de linguagem e
expressão literária.
Há alguma similaridade
com os escritos cananeus e fenícios antigos, o que sugere que Salomão poderia
ter tirado proveito dessa literatura, com adaptações próprias.
M.J. Dahood, em seu
artigo “influência Cananeu-Fenícia no Qoheleth”, Bíblia, 33, 1952, defende essa
comparação.
Ele examinou inscrições e
escritos que datam do séc. XIV a. C., os tabletes de Ugarite, o Corpus
Inscriptionum e inscrições fenícias e púnicas.
Tentou defender sua
teoria com base em fatores como a ortografia fenícia, a inflexão dos pronomes e
das partículas, a sintaxe e empréstimos léxicos, termos especiais referentes a
itens comerciais e um vocabulário comercial.
Os trechos de I Reis
9.26-28 e 10.28-29 mostram que Salomão pode ter tido contato com a língua
fenícia, tendo usado termos e expressões comerciais e estilos literários
empregados pelos fenícios.
B – Contra Salomão como autor do
livro
Têm sido sugeridos os
seguintes argumentos:
1 – Coisa alguma é mais
clara, nos documentos antigos, do que o fato de que as declarações que afirmam
autoria com frequência são espúrias.
2 – O autor sagrado pode
ter sido um admirador de Salomão e de sua sabedoria, pelo que incluiu referências
pessoais a ele, bem como, circunstâncias de sua vida, embora esse autor não
fosse o próprio Salomão.
O que nos admira é que
não existam ainda mais livros atribuídos a Salomão.
O livro apócrifo,
Sabedoria de Salomão, é outro exemplo do nome desse monarca judeu sendo usado
para dar prestígio a um livro.
3 – Um autor posterior
poderia ter imitado os Provérbios de Salomão, tendo incluído no livro (Eclesiastes
9.17 – 10.20), uma breve compilação, chegando a tomar por empréstimo certos
pensamentos, sem que ele mesmo fosse Salomão.
4 – Os argumentos de
natureza linguística poderiam provar uma data antiga para o livro de
Eclesiastes, mas também demonstrariam que o autor dificilmente poderia ter sido
o mesmo autor do livro de Provérbios.
Ademais, um autor antigo,
que tivesse escrito em um estilo bastante distinto, poderia ter tomado por
empréstimo alguns elementos fenícios, sem que tivesse alguma conexão pessoal
com Salomão.
De fato, a verdadeira
natureza distintiva deste livro parece militar mais contra Salomão, como seu
autor, do que em favor dele, a menos que, suponhamos que ele conseguisse
escrever de duas maneiras inteiramente diferentes, quando passava de um livro
para o outro, algo que sabemos ser contrário ao que conhecemos a respeito dos
autores e seus livros.
A linguagem e o estilo
literário são as impressões digitais dos autores, o que não se modifica
facilmente de um livro para o outro senão a custa dos mais ingentes esforços.
Exemplos históricos disso são dificílimos de achar.
5 – Certas idéias são
contrárias a afirmação de que Salomão escreveu o livro de Eclesiastes.
Alguns eruditos
simplesmente não podem entender como um homem com a sabedoria de Salomão, com
uma postura judaica ortodoxa, poderia ter escrito um livro tão pessimista
quanto Eclesiastes.
Paralelos egípcios e
babilônicos demonstram que tal livro poderia ter sido escrito na época de
Salomão, mas é inteiramente possível que aquilo que achamos neste livro sejam
invasões do pensamento helenista cético.
De fato, o propósito do
livro de Eclesiastes foi demonstrar que “tudo é vaidade” ou “inutilidade”; que
não existem valores permanentes, e que um jovem deveria cuidar para não
desfrutar o máximo de sua vida (hedonismo). (Vejamos Ec 1.2; 3.13 ss; 11.9 –
12.8).
O jovem que fizer isso
terá pairando sobre sua cabeça o juízo divino, outro elemento da tese de que
tudo é vaidade.
“Faze o que bem entenderes; mas sabe que terás
de pagar por isso”. Esse é um conselho muito difícil de seguir
É possível que Salomão,
no declínio e na apostasia que caracterizaram sua idade avançada, na verdade,
tenha caído nesse tipo de armadilha; e, nesse caso, isso poderia refletir a
autoria de Salomão.
6 – Alguns linguistas
detectam no livro de Eclesiastes um hebraico posterior, bastante diferente do
hebraico da época de Salomão e mais próprio dos tempos helenistas.
7 – O pregador mostrou
ser muito mais um filósofo e suas atitudes foram bastante similares às atitudes
dos filósofos epicureus gregos, após o período da guerra do Peloponeso (404 a.C.).
A atitude negativa dos
gregos contra a religião judaica reflete-se em livros como I Macabeus e o livro
da Sabedoria, e o autor do livro de Eclesiastes, parece ser reflexo similar.
O autor sagrado teria
chegado ao mesmo tipo de conclusões a que se chegaram seus vizinhos pagãos.
O livro, pois, representa
uma espécie de meio caminho na direção do paganismo, embora com o desejo de
manter a posição da antiga fé.
Por esse motivo, a lei
continua sendo um elemento importante, e até mesmo o dever do homem (Ec 12.13),
mas ela não conseguiu impedir que o autor sagrado chegasse a conclusões tão
pessimistas.
8 – Finalmente, há a
questão da canonicidade (vide seção Canonicidade).
Os próprios judeus não
sabiam ao certo o que fazer como livro de Eclesiastes.
Se eles tinham certeza de
que Salomão era o seu autor, não é provável que tivessem precisado de tanto
tempo para incluí-lo no cânon do Antigo Testamento.
A canonicidade do livro é
algo que continuava sendo disputado nas escolas judaicas dos dias de Jesus
Cristo.
Após o exame das evidências
disponíveis, parece que a autoria salomônica repousa mais sobre o desejo de conservar a tradição do que sobre a
consideração dos fatos envolvidos.
As evidências inclinam-se
em favor de uma produção helenista, e não de uma produção que antecede a quase
1.000 a.C.
III – Integridade
Alguns eruditos
argumentam em favor de dois autores distintos que teriam estado envolvidos na
escrita de Eclesiastes, em vista de contradições nele encontradas.
Outros estudiosos, porém,
supõem que isso possa ser explicado pela atividade de algum editor.
Há tentativas para
atribuir ao Koheleth dois, três ou mais autores; mas as evidências em favor
dessa forma de atividade estão longe de serem convincentes.
Por outra parte, é
patente que algum editor procurou corrigir a incredulidade expressa pelo autor.
Esse autor tem sido
chamado de “o maior herege da antiga literatura hebréia”, e algumas de suas
declarações deixam consternados os eruditos da Bíblia, desde que o livro de Eclesiastes
foi escrito
Para começar, sua
filosofia básica de que tudo é vaidade (Ec 1.2) é uma atitude pessimista que
não concorda com o pensamento comum dos hebreus.
O seu hedonismo (Ec 2.24
ss; 1.19 – 12.8), dificilmente concorda com a ética dos hebreus.
Uma mesma sorte atinge o
sábio e o insensato (Ec 2.12-17), de acordo com ele, o que é contrário a
essência da teologia hebréia.
Ele chega mesmo ao
extremo de dizer “Pelo que aborreci a vida... sim, tudo é vaidade e correr
atrás do vento”. (Ec 1.17-18)
O sábio morre como o
insensato, e ambos acabam no esquecimento (Ec 2.16-17).
Ele também nega a
imortalidade da alma, pois o destino do homem seria o mesmo que o destino de um
animal irracional – o espírito do primeiro subiria (para alguma outra forma de
vida), ao passo que o espírito do segundo desceria, presumivelmente para ser
esquecido – o que aparece sob a forma de uma indagação.
O autor demonstra
esperança, mas não exibe muita fé.
Contudo o trecho de Eclesiastes
12.7 afirma categoricamente que “o espírito volta a Deus”.
A maioria dos eruditos
pensa que em tudo isso há a obra de um editor, ou de um segundo autor, que
procurou suavizar o ceticismo do autor original. Ou o autor original, ao chegar
ao final do livro, apesar do seu desespero, resolveu deixar a sua sorte nas
mãos de Deus e manifestou-se a favor da imortalidade como um meio de reverter o
dilema humano?
Quase todos os estudiosos
acreditam que o trecho de Eclesiastes 12.9-14, consiste em adições editoriais.
De fato, foi escrito na
terceira pessoa do singular; Ele fala sobre o pregador como uma pessoa
diferente dele mesmo.
Outras provas de que
houve um editor ou um segundo autor
encontram-se em Eclesiastes 2.26, onde se faz clara distinção entre o sábio e o
insensato. Ali lê-se que ao homem bom são conferidos sabedoria, conhecimento e
alegria, ao passo que o ímpio é coberto de vexames.
Isso suaviza um tanto a
filosofia do corpo: “Tudo é vaidade”.
O trecho de Eclesiastes 3.17
parece ser outra adição, visto que o autor apela para o julgamento divino como meio de estabelecer
diferença entre o homem bom e o mau.
O trecho Eclesiastes 12.12
provavelmente constitui uma crítica ao autor original, por parte do editor,
louvando as declarações do homem sábio, que aparece como um Pastor (vs. 11), e
adverte contra passar daí, o que, como é evidente, ele pensava que o autor
fizera em seu pessimismo.
No ersículo 14, ele apela
novamente para o juízo divino e indica que este é importante, apesar das
declarações pessimistas do autor, pois seremos julgados de acordo com aquilo
que tivermos praticado.
De fato, a passagem de Eclesiastes
12.9-14 é uma espécie de adição, onde são acrescidos valores e limitações ao
livro, segundo o espírito de ortodoxia.
Se algum editor esteve
atarefado nisso, é provável que o tenha feito mediante declarações mais
otimistas e ortodoxas.
A – Em favor da integridade do livro
Alguns estudiosos pensam
que as declarações contraditórias podem ser explicadas mediante suposição de
que um único autor ficou divagando em seus pensamentos, defendendo ora uma
posição ora outra, mostrando-se assim auto-contraditório, e isto sem se importar
em procurar harmonizar ideias mais pessimistas com ideias mais otimistas.
Além disso, muitos pensam
ser estranho que um editor tentasse salvar uma obra herética, cuja publicação
só servia para prejudicar o judaísmo em sua corrente central.
A primeira dessas
sugestões é possível.
Nós mesmos falamos nesses
termos, algumas vezes; a segunda dessas sugestões constitui uma boa resposta,
até onde podemos ver as coisas.
Qualquer pessoa que
raciocine sobre o livro, apesar de seu pessimismo, fica impressionada pelo fato
de que ele lê uma excelente peça literária.
Suas declarações são
sucintas e precisas, curiosas, às vezes, dotadas de penetrante discernimento.
Há muitas boas citações,
que são frequentemente ouvidas, extraídas desse livro.
Um editor qualquer,
fascinado pela beleza do livro, contentar-se-ia em procurar corrigir alguns
pontos falhos, em vez de descartá-lo inteiramente.
Sua excelência como peça
literária é tão inequívoca que aqueles que finalmente fixaram o cânon hebreu
(embora ortodoxo) não puderam deixar de incluí-lo, embora a questão há séculos
viesse sendo debatida entre os judeus.
Nossa conclusão a
respeito é que temos apenas um autor principal do Eclesiastes, que um editor
posterior procurou tirar as arestas da obra original, e que o trecho de Eclesiastes
l1.9-14 é sua nota de rodapé, como uma conclusão sobre a obra do autor.
Mas exatamente quanto
material foi adicionado, é algo que terá de permanecer em dúvida.
IV – Inspiração histórica da obra
Se procurarmos entender o
espírito deste livro, descobriremos que o autor era um filósofo que, embora
judeu, havia sido influenciado pela pessimista filosofia dos gregos,
especialmente da variedade epicuréia.
Os epicureus sentiam
fortemente a inutilidade das coisas, objetando as ameaças de deuses
imaginários, que receberiam homens que já teriam vivido de um modo miserável,
para fazê-los sentirem-se mais miseráveis ainda, com seus múltiplos e horrendos
julgamentos.
Eles preferiam o esquecimento
à imortalidade, como maneira de pôr fim a tanto sofrimento; e reduziam os
poderes divinos à entidades deístas.
Se eles realmente existissem,
então não teriam interesse nem pelo homem bom nem pelo homem mau.
Devemos lembrar que nem
todos os judeus retiveram sua fé ortodoxa em face de inimigos que avançaram
destruindo e dispersando, e assim expunham filosofias que podem ter sido
consideradas uma avaliação mais justa da vida do que a avaliação apresentada
pelo judaísmo embora essas outras filosofias fossem mais pessimistas.
Se o livro de Eclesiastes
foi escrito em torno de 225 a.C,
então consiste em uma espécie de reafirmação daquilo que restou da fé judaica,
visando algumas pessoas, fora da corrente principal do judaísmo, mas que
continuavam judias.
Muitos judeus haviam
começado a duvidar da doutrina dos galardões divinos em favor dos piedosos e
dos julgamentos divinos contra os iníquos.
Eles chegavam a sentir
que, afinal de contas, há distinções fundamentais entre uns e outros.
Nesta vida a tragédia
desaba sobre uns e sobre todos, igualmente; agora ambos vivem na inutilidade; e
ambos entraram no esquecimento, após a morte física.
Não obstante, o autor
sagrado exibe saudável respeito pela lei de Deus.
Ele não se bandeara
inteiramente para o pensamento pagão. (Vejamos o quinto capítulo do livro do início
ao fim.)
Esse foi o alimento que o
editor enfatizou, em sua conclusão (Ec 12.13, 14).
V – Data
Se partirmos do
pressuposto de que os argumentos em favor de Salomão como autor do livro de
Eclesiaste são fortes, então teremos de pensar que a data de sua composição
gira em torno de 950 a.C.
Impressiona-nos o caráter
impar da linguagem usada e suas afinidades com as expressões fenícias, mesmo
que não aceitemos Salomão como autor do livro. E podemos supor que este livro
seja bastante antigo, se é que sofreu a influência fenícia. Mas se ficarmos
impressionados pela similaridade de ideias com certas ideias helenistas, então
devamos pensar numa data de composição
em torno de 225 a.C.
A maneira como os
próprios judeus disputaram sobre o livro, tendo-o incluído no seu cânon sagrado
somente após muita relutância a despeito de ele próprio reivindicar haver sido
escrito por Salomão, pesa em favor da data posterior.
VI – Canonicidade
Quando foi definido o
Cânon da Bíblia hebraica, por ocasião do concilio de Jamnia, em cera de 90 d.C,
muitos judeus opuseram-se ao livro de Eclesiastes, alegando que ele não era
digno de se posicionar entre os Escritos Sagrados. E mesmo mais tarde, quando o
livro já estava fisicamente presente na coletânea sagrada, supostamente investido
de autoridade, muitos rabinos continuaram opondo-se a ele.
Quando um judeu piedoso
segurava algum livro sagrado, lavava as mãos em seguida, em demonstração de
respeito. Mas muitos deles, após manusearem o livro de Eclesiastes, não
pensavam que essa providência seria necessária, por não considerarem o livro
uma obra inspirada. Seria apenas uma habilidosa peça filosófica, e não um dom
do Espirito. Vejamos Mishinah, Yadaim 3.5. Jerônimo, tão tarde quanto 389 d.C.,
conhecia judeus que se sentiam insatisfeitos com a inclusão do livro de
Eclesiastes entre as Escrituras do Antigo Testamento. Não obstante, o livro tem
encontrado um uso devido no seio do judaísmo.
O livro de Eclesiastes é
lido no terceiro dia dos Sukkoth (Tabernáculos), a tradicional festa da
colheita entre os hebreus, com o propósito de lembrar aos homens a natureza
transitória desta vida, e como uma advertência contra a cobiça pelas riquezas e
vantagens materiais, além de servir para reiterar o importantíssimo princípio
da necessidade de obedecer à lei de Deus como o maior e mais solene dos deveres
humanos.
VII – Uso e atitudes cristãs
Os eruditos liberais não
podem perceber o motivo para tantos debates.
O livro volta-se contra
certas crenças ortodoxas. E daí?
Há pontos bons no texto:
o livro exibe bons discernimentos; confere-nos uma melhor compreensão sobre
certos desenvolvimentos do judaísmo... De que mais precisaríamos? E os
conservadores, que tem que defender a ideia da inspiração a qualquer custo,
para todos os livros do cânon, são forçados a acomodar-se ao livro, provendo razões pelas quais o
Espírito Santo teria achado apropriado incluí-lo no Cânon. As respostas sobre
essas questões são similares àquelas que acabo de frisar acerca do cânon.
O livro diz algumas
coisas boas sobre a natureza transitória da vida humana, sobre as vaidades das
coisas e atividades terrenas, e contém alguns versículos que servem de
excelentes citações.
Mas o que dizer sobre a
sua falta de ortodoxia?
Um diretor de uma escola
teológica, questionado via telefone a respeito do Livro de Eclesiastes, ouviu
do seu interlocutor a seguinte pergunta: “Como é que declarações daquela ordem
podem ter penetrado na Bíblia?”
Esse diretor replicando
disse quer o Espírito deixou que esse livro fizesse parte da Bíblia, a fim de
mostrar-nos o que o homem natural pensa e como ele chega a conclusões
negativas, enquanto não recebeu ainda a fé apropriada.
Em outras palavras, o
livro, em sua porção não ortodoxa, serviria como uma espécie de exemplo ao
contrário, mostrando-nos coisas que devem ser evitadas, que precisam ser
observadas e repelidas.
Esse tipo de raciocínio
parece atrativo para a mente ortodoxa. E não digo que é uma posição inútil,
embora, de certa, maneira seja uma resposta superficial.
C. I. Scofield, em sua Bíblia anotada, diz
in loc., afirmando a posição conservadora da melhor maneira possível: “Este é o
livro do homem debaixo do Sol, que raciocina sobre a vida; é o melhor que o
homem pode fazer com o conhecimento de que existe um Deus que é Santo, e que
ele levará tudo a juízo”.
As demais
expressões-chaves são debaixo do Sol,
percebi e disse em meu coração.
A inspiração mostrou
acuradamente o que sucede, mas a conclusão e o raciocínio, afinal, são do
homem.
Sua conclusão de que tudo
é vaidade, em face do julgamento, pelo que o homem não deve consagrar sua vida
as coisas terrenas, certamente é verdadeira; mas a conclusão (12.13) é legal, o melhor a que o homem pode chegar,
á parte da redenção, sem antecipar o evangelho.”
Esta é uma boa
declaração, mas mesmo assim continua sendo curioso que um livro herético
encontrasse caminho até o canon do Antigo Testamento, por causa de seu estranho
encanto.
Não há explicação que
possa alterar a estranheza desse acontecimento.
VIII – Conteúdo
A discussão anterior nos provê
a natureza essencial do conteúdo do livro de Eclesiastes.
Damos a seguir um esboço
acompanhando as ideias bem gerais:
I – A vaidade de todas as
coisas (1.1-13);
II – Demonstração da tese
básica da vaidade (1.4 – 3);
1 – Todas as coisas na
vida são transitórias (1.4-11);
2 – O mal provado por
seus resultados (1-12-18);
3 – Há inutilidade no
lucro, no trabalho e nos prazeres (2.1-26);
4 – A morte mostra que
tudo é inútil (3.1-22).
III - Um desenvolvimento
mais detalhado do tema (4.1 - 12-8).
1 – As injustiças da vida
mostram a inutilidade das coisas (4.1-16);
2 – As riquezas para nada
servem (5.1-20);
3 – A brevidade e
futilidade da vida do homem provam a inutilidade das coisas (6.1-12);
4 – A inescrutável
providência divina prova a inutilidade das coisas (6.1-12);
5 – As desordens e
frustrações da vida ilustram a vaidade (10.1-20);
6 – Jovens e idosos
demonstram a inutilidade das coisas (11.1 – 12.8).
IV – Conclusão (12.9-14)
O dever inteiro do homem:
guardar a lei na esperança de receber um bom julgamento divino.
IX – Informações adicionais de suma importância
Apresentamos uma
introdução no presente serviço de estudo, de maneira que a Introdução é
suficientemente longa para dar as informações e compreensões úteis, mas não tão
longa a ponto de desanimar o estudioso.
Este livro apresenta
alguns problemas distintos, principalmente suas varias posições não-ortodoxas,
que tem levado muitos eruditos a indagar por qual motivo um livro como o de
Eclesiastes foi incluído no cânon.
Como é usual, alguns
estudiosos conservadores negam que existam problemas reais, mas isso apenas
demonstra a atitude de quem quer “conforto a qualquer preço, nem que seja a
custa da honestidade”, que permeia o fundamentalismo extremo.
Naturalmente, há
problemas de pontos de vista conflitantes, dentro do mesmo livro, e posições
não-ortodoxas que um rabino médio teria aprovado.
Mas esses são “problemas
engraçados”, que nos dão oportunidade de investigar, usando a mente e testando
nossas ideias.
Em vez de tentar omitir-nos,
destaquemos as palavras de Erasmo de Roterdã, quanto à necessidade e ao direito
de fazermos livres investigações.
Todos compartilhamos da
liberdade de expressão no mundo político, mas qual mundo é mais fechado e qual
desfruta de menos liberdade de expressão que algumas instituições religiosas?
Portanto, enquanto
pensamos que a falta de liberdade de expressão “lá fora” é uma afronta à
liberdade dos direitos humanos, alguns estudiosos supõem que a liberdade de
expressão, no seio da Igreja, seja, uma afronta contra a ordem correta das
coisas. Aqueles que não se ajustam a isso são submetidos a um programa de
perseguição.
Nosso objetivo neste
mundo não consiste em nos conformarmos, mas sim em crescer em conhecimento e na
sabedoria. Portanto lancemo-nos a discussão, sem rancor e sem ódio.
Muitas reflexões deste
livro são as de um filósofo, e não tanto as crenças e os ensinamentos morais de
um rabino hebreu.
O autor evita a
insistência sobre a revelação para a resolução de problemas.
Pelo contrário, ele se
mostra interessado nas condições e na investigação, naquilo que via e
observava, nas conclusões a que tinha chegado, no conhecimento que continuava
buscando.
Deus, para ele, como para
muitos filósofos, é um originador inescrutável das coisas, bem como
determinador da sorte humana.
Quanto ao lado
pessimista, ele sentia que o caráter humano e as realizações não faziam a
diferença na sorte que eventualmente o atingiria.
Quanto ao lado otimista, o
espírito humano retornaria para Deus (Ec 12.7).
Não obstante, no inicio
do livro, não há atitude de retorno, e o destino humano é idêntico ao dos
animais: o nada. (Ec 3.18-20).
Para muitos eruditos,
tais declarações contraditórias indicam dois autores, e não um único, que mudou
de atitude mental conforme foi avançando.
De modo geral, os livros
do Antigo Testamento são marcados pelo otimismo, mas certas partes caem no mais
profundo pessimismo, cuja primeira definição é: “a própria vida é um mal”.
1 - Literatura da sabedoria
O livro de Eclesiastes
assume seu lugar paralelamente à literatura de sabedoria, embora, em muitas
instâncias, trate-se de um reflexo dos pontos de vista pessimista dessa forma
de literatura.
Se a questão da data é
controvertida, o tom racionalista do livro e suas reverberações das filosofias gregas
apontam para uma data em torno do séc. III a.C., mas é bom verificar a
discussão na seção V do serviço ora estudado.
“A inclusão, na Bíblia,
de uma obra que varia tanto com seu ensino dominante, causa perplexidade.”
“Pode ser explicada por sua
associação tradicional com Salomão, seu patrocínio por homens sábios e
influentes, bem como pela inclusão de um pós-escrito ortodoxo (Ec 12.9 - 4),
que exibe a posição religiosa à luz da qual o livro deve ser entendido”.
(Oxford annotated Bible, na introdução ao livro).
Tendo-se afirmado isso,
outra coisa precisa ser dita: trata-se de um livro encantador e bem escrito
(embora nenhuma tentativa tenha sido feita para conseguir uma estrutura
formal), pleno de declarações concentradas, que atraem nossa atenção (embora
algumas sejam bastante pessimistas e céticas).
Em outras palavras, o
tratado era simplesmente bom demais, considerado como um todo, para ser deixado
de lado.
Esse tratado oferece,
para teólogos e filósofos, boa chance de exercerem sua capacidade de discussão,
argumentação e debate.
Pode-se deduzir que o
autor sacro, depois de muita pesquisa, veio a advogar o niilismo como filosofia
de vida.
Vejamos os comentários de
Eclesiastes 2.25, que chegam a essa tentativa de conclusão.
2 – O uso da filosofia
O pregador (segundo a
palavra hebraica correspondente) foi na realidade um filósofo.
Era um hebreu que
abordava a filosofia com alguma habilidade; no entanto, seu pessimismo explica
as continuas conclusões negativas apresentadas.
É necessário saber algo
sobre filosofia, para entender este livro.
Ao longo do caminho,
seria conveniente consultas a Enciclopédias quanto aos artigos indicados, para
compreendermos o que o escritor sagrado estava tentando dizer.
Titulo: Cantares de Salomão
Autor: Salomão (tradição)
Data: 970 a
930 a.C
Capítulos: 8
Versículos: 117
Vers. chave: Ct 8.7
Sumário
Introdução
I - Pano de fundo
II - Autoria
III - Data
IV - Unidade do livro
V - Lugar de origem
VI - Destino
VII - Motivo de sua escrita
VIII - Propósito do livro
IX - Canonicidade
X - Estado atual do texto
XI - Conteúdo e esboço
XII - Interpretação da sua mensagem
XIII - Teologia do livro
XIV - Informações de suma importância
INTRODUÇÃO
No hebraico , Shir
hashirim, na Septuaginta, Ásma ou Ásma asmaton. E na Vulgata Latina, Canticum
canticorum.
Dentro da Bíblia
hebraica, este livro é o primeiro dos cinco rolos (no hebraico, Megilloth), que
eram lidos quando das festas religiosas judaicas.
Geralmente tem o nome de
Cântico dos Cânticos nas diversas versões, mas a nossa versão portuguesa
prefere “Cantares de Salomão”.
A forma hebraica, Shir
hashirim, é a forma superlativa (Ct. 1.1), que significa “o mais excelente dos
cânticos”.
Dentro das tradições
judaicas, os cantares eram lidos por ocasião da páscoa, para os judeus, a mais
importante das festas religiosas.
I – Pano de fundo
Os que pensam que
Cantares de Salomão é obra de autoria de Salomão, rei de Israel, vêem o princÍpio
da monarquia israelita como o pano de fundo da obra.
O tom pastoril de seu
quadro poético sugere um longo período de paz em Israel, naquele período que os
historiadores têm chamado de “época áurea” da cultura dos hebreus, as
monarquias de Davi e Salomão.
Acresça-se a isso que o
livro de Cantares contém numerosas referências a animais e plantas exóticas,
tudo o que nos faz lembrar da fama de Salomão nos campos da biologia e da botânica. Isso nos leva de
novo ao período inicial da monarquia hebréia.
As diversas alusões
geográficas existentes no livro parecem indicar uma fase da história dos
hebreus em que o reino ainda não havia sido dividido em dois: reino do norte,
Israel, e o reino do Sul, Judá.
Assim, o livro fala sobre
lugares nortistas como o Líbano (ct 3.9; 11, 15), o monte Hermon (4.8),Tirza
(6.4), Damasco (7.4) e o Carmelo (7.5), como se formassem um único reino,
juntamente com Jerusalém e as terras em redor.
Todavia, isso poderia
significar apenas que os arroubos poéticos do autor não eram considerações
puramente locais, conforme alguns estudiosos tem salientado.
Seja como for, o livro
mostra claramente que o autor estava familiarizado com a geografia de toda a
região da Síria-Palestina, desde as montanhas do Líbano até Em-Gedi, perto do
Mar Morto (Ct 1.14).
Mas, apesar de o livro
mencionar produtos exóticos do Extremo Oriente, não há nenhuma indicação de que
o material tenha sido escrito fora da Palestina, ou com um pano de fundo
estritamente palestino.
II – Autoria
Quase todos os eruditos
modernos rejeitam a autoria de Cantares por parte de Salomão.
Esses preferem ver no
livro uma coletânea de cânticos que celebrariam o amor pré-marital e marital.
Seja-nos permitido
observar que dificilmente esse tema teria tornado o livro aceitável aos judeus,
para ser incluído no cânon sagrado, pelo que se trata de uma opinião muito
duvidosa.
Além disso, dizem alguns
que a única prova de que o livro teria sido escrito por
Salomão é o titulo, ou a introdução editorial, conforme alguns eruditos o tem
descrito, porquanto a forma mais completa do pronome relativo só é usada em Ct
1.1: “Cântico dos cânticos de Salomão”.
Um ponto técnico gramatical
no hebraico é que há nisso uma construção ambígua, pois a partícula atributiva
poderia significar “para”, “cerca” ou “segundo”, ou então poderia aludir a
autoria direta de Salomão. No entanto, o nome do famoso monarca hebreu,
Salomão, aparece por seis vezes no texto do livro (Ct 1.5; 3.7, 9, 11 e
8.11-12).
E o último trecho, Ct.
8.11-12, refere-se de passagem às riquezas materiais desse rei.
No terceiro capítulo,
Salomão é mencionado três ocasiões diversas, em conexão com um elaborado
cortejo, onde devemos ver a personagem histórica chamada Salomão.
As alusões ao rei também
são, geralmente, associados a Salomão. (Ct 1.4,12 e 7.5)
Todavia, embora o grande
rei hebreu seja a figura central de certos poemas (entre os quais, se destaca o
de Ct 3.6-11) na verdade ele nunca aparece como aquele que fala, e por esse
motivo, certos estudiosos pensam que, pelo menos, alguns dos poemas foram
escritos sobre Salomão, e não diretamente por ele.
Os argumentos em favor de
uma autoria que não a de Salomão, geralmente, também relatam uma data posterior
para o livro, e isso sobre as bases linguísticas.
Para exemplificar isso,
há quarenta e nove vocábulos hebraicos que só ocorrem no livro de Cantares, em
todo o Antigo Testamento; e alguns desses são de natureza botânica.
Também há palavras e
frases que parecem refletir o aramaico usado em certas composições
pré-exílicas, sem falarmos em palavras que parecem terem sido tomadas por
empréstimo do persa e do grego.
Tudo isso pode ser
naturalmente explicado pelo fato de que o vocabulário de um livro qualquer
depende muito do assunto que estiver sendo tratado ali.
Não admira, pois, que
haja tantas palavras técnicas que se referem à zoologia e à botânica nesse
livro, que não se acham em outros livros do Antigo Testamento.
Quanto a outros
vocábulos, também não é difícil justificá-los. Assim como no caso do nome da
especiaria que era importada do Oriente, o “cinamomo” (Ct 4.14), temos um termo
importado.
O comércio entre a Índia
e a Mesopotâmia já estava bem firmado desde o terceiro milênio a.C., como
também o comercio com o Egito. Isso quer dizer que, na época de Salomão, havia
uma longa tradição de contatos comerciais com o Extremo Oriente. Por essa razão
é que os nomes de certos produtos e substâncias, mencionados no livro, tem
paralelos obviamente sânscritos.
Poderíamos citar os casos
do “nardo” (no sânscritos, naladu – Ct 1.12; 4.13-14) e a “púrpura” (no
sânscrito, regaman – Ct 3.10 e 7.5).
E alguns eruditos pensam
que a palavra hebraica para “palanquim” (Ct 3.9) não veio através do grego,
conforme muitos acreditam, mas derivou-se diretamente do termo sânscrito
paryanka.
Quanto àpresença de
alguns termos aramaicos no livro, isso nada significa, porquanto, há vários outros livros do Antigo Testamento
e até o Novo Testamento, que contém termos aramaicos, sem que isso altere em
coisa alguma as questões da data ou da autoria desses livros. Ademais, o
aramaico era língua gêmea do hebraico, mas que, desde o segundo milênio a.C.,
pelo menos, vinha sendo falada na Assíria e em outros lugares a leste da
Palestina. Portanto, nada existe na linguagem em que foi escrito o livro de
Cantares que requeira uma data posterior para a sua composição.
Concluímos, pois, que
devemos aceitar a autoria salomônica que, tradicionalmente, tem sido dada a
esse livro.
III - Data
Os críticos que atribuem
um dos poemas do livro de Cantares a Salomão naturalmente datam-no de seu
reinado, admitindo que o restante do livro foi coligido por ele. (970-930 a.C.)
E a menção a Tirza (Ct
6.4), como se fosse a contraparte nortista de Jerusalém, aponta para uma data
comparativamente antiga da composição, ou pelo menos, daquela porção do livro.
Antes do governo de Onri
(885/884 - 874/873 a.C.), Tirza fora a principal cidade do reino do Norte; mas,
quando Onri subiu ao trono de Israel, então estabeleceu Samaria como sua
capital, tendo construído ali um esplêndido palácio real, além de numerosos
outros edifícios e de ter fortalecido muito a cidade.
Portanto, se Tirza
aparece em Cantares, como a principal cidade da porção norte do país, assim
como Jerusalém era a principal cidade da porção sul, então a seção poética
envolvida bem pode ser datada no século X a.C.
IV – Unidade do livro
Talvez o livro seja uma coletânea
de vários poemas que cantam o amor rústico, interiorano, de origem incerta. Nesse
caso, Salomão teria sido o compilador e editor que deu um burilado geral ao
livro. Mas o fez de tal modo que o livro estampa sinais bem claros de unidade
de estilo e de tema geral.
Em face do que parece ser
a unidade mais central da obra, a saber, o tema da riqueza do amor humano,
parece que as tentativas de fragmentação do livro, que alguns críticos têm sugerido,
são forçadas e artificiais. Portanto, devemos pensar que, da pena de Salomão, o
livro de Cantares saiu como uma única obra literária.
V – Lugar de origem
Se o livro foi,
realmente, composto por Salomão, então, o lugar de origem da obra deve ter sido
a corte real, em Jerusalém.
O trecho de I Rs 4.32
fala sobre as habilidades literárias de Salomão.
Todavia, os críticos que,
não aceitam a autoria salomônica tem pensado que, pelo menos, alguns dos poemas
constantes no livro de Cantares, foram escritos no reino norte, quando da
monarquia dividida. Porém, todos os argumentos nesse sentido já foram
respondidos. No entanto, se estão certos, os estudiosos ao pensarem, que o
livro de Cantares, nada tem que ver com Salomão, como seu autor, então, a
passagem do livro que gira, em torno de Ct 6.4 pode ter sido escrita em Samaria
ou nas proximidades.
É mister, contudo, deixar claro que toda a opinião acerca do
lugar de origem do livro, precisa ser alicerçada sobre pura especulação, posto
que não há indicações no livro que nos permitam precisar o local exato, dentro
da Palestina, onde a obra poderia ter sido preparada. Por exemplo, não há provincialismos
perceptíveis.
VI – Destino
A maneira como
interpretamos o material do livro de cantares também determina os possíveis destinatários
da obra. Não parece que o autor sagrado tenha visado outra gente além dos
próprios israelitas.
Se os poemas foram
compostos apenas para exaltar o amor humano, sem suas várias facetas, então,
não é provável que os destinatários tenham sido pessoas fora do povo do pacto
com Deus, o povo de Israel. Um costume surgiu posteriormente entre os árabes,
de recitar poemas eróticos, conhecido entre os árabes por “Wasfs”, diante de um
noivo e sua noiva, pouco antes da cerimônia do casamento.
Por essa razão, alguns
eruditos tem pensado que o livro de Cantares serviria a um propósito similar,
em Israel.
Contudo, não podemos
depender de um costume árabe para explicar a finalidade de uma composição
escrita em Israel, cuja mentalidade sobre questões morais era tão diferente.
Dificilmente um wasf
seria aceito entre os livros canônicos.
VII – Motivo de sua escrita
Não se sabe dizer o que
teria motivado um autor sagrado a compor o livro de Cantares.
Se o livro é apenas uma
antologia de poemas líricos, que exaltam o amor físico, de proveniência
salomônica em geral, então, poderia ter sido motivado por um ou mais dos
numerosos casamentos desse monarca hebreu.
Mas, se o livro consiste
em uma coletânea de cânticos nupciais de várias regiões do reino hebreu, então
algum editor desconhecido apenas quis preservar para a posteridade esses poemas
líricos.
A própria subjetividade
do processo de produção do livro, visto que no livro nada se lê que nos
esclareça a respeito, inevitavelmente, faz com que a questão seja nebulosa para
nós.
VIII – Propósito do livro
Muitos expositores tem
sentido grades dificuldades para justificar inclusão do livro de Cantares de
Salomão no cânon das Escrituras Sagradas. Parte dessa dificuldade se deve ao
seu flagrante erotismo. Por outro lado, o livro é um longo mashal ou provérbio, ilustrando a riqueza e a beleza do amor físico
humano; e, como tal, faz parte firme da tradição gnômica da literatura de
sabedoria dos hebreus.
Devemo-nos lembrar de que
esse material originou-se no Oriente Próximo, onde imperavam diferentes
atitudes quanto a certos pontos de moral.
Deve-se observar que
somente pessoas de classes abastadas poderiam dar-se ao luxo de empregar as
substâncias exóticas e caríssimas, mencionadas nesses poemas. Tais pessoas, em
contradição com as classes populares, estavam acostumadas a considerar o sexo
em termos não tanto ascéticos, como uma questão não embaraçosa. Todavia, talvez
essas pessoas e esses poemas se excedam um tanto, em relação com aquilo que nós
estamos acostumados. Porém, o livro escolhe um curso que é um meio-termo entre
a perversão, ou, pelo menos, o excesso sexual, por um lado, e a negação rígida
e emocional das necessidades físicas, por outro lado, descendo até momentos da
maior intimidade física entre um homem e uma mulher que se amam.
No dizer de E. J. Young,
talvez tudo isso reflita um amor mais puro que o nosso; ou então nós comentamos
uma atitude não tão vitoriana quanto a nossa.
IX – Canonicidade
A julgar pelas fontes
rabínicas, é claro que o livro de Cantares de Salomão não obteve inclusão no
cânon das Escrituras Hebraicas.
O Talmude chega a atribuir essa composição
escrita a Ezequias e seu grupo de escribas, uma opinião que pode estar
alicerçada sobre as atividades do grupo que, aparentemente, editou outros materiais
escritos de Salomão (cfme. Baba Bathra 15ª e Pv 25.1).
A Mishnah (Yadaim 3.5)
indica que o livro de Cantares não foi aceito no cânon senão com alguma disputa
no tempo do suposto concílio de Jamnia (cerca de 95 d.C.).
Após pareceres favoráveis
e desfavoráveis quanto a inclusão do livro no cânon sagrado do Antigo
Testamento, foi o rabino “Aqiba” quem comentou: “...todos os Escritos são
santos, mas o Cântico é o santo dos santos”. Porém, bastaria isso para
mostrar-nos que havia muitas dúvidas se o livro deveria ser incluído ou não no
cânon. E toda a oposição a sua inclusão devia-se a natureza erótica do conteúdo
da obra.
De fato, quando da
inclusão do livro no cânon, houve também a cautela de ser proibido o uso de
qualquer porção sua em banquetes e reuniões semelhantes, a fim de que não
houvessem abusos que envolvessem um livro considerado canônico.
A solução para esse
aspecto erótico do livro consistiu em interpretá-lo, não em sentido literal,
mas como uma alegoria.
Essa interpretação tem
prevalecido tanto entre os judeus como no cristianismo em geral.
X – Estado atual do texto
As obscuridades do livro de
Cantares parecem ser mais devido à presença de um número incomum de palavras
raras, ou devido à natureza do assunto tratado, do que a algum manuseio por
parte de escribas.
Visto que a Septuaginta e
o Siríaco Peshitta seguem bem de perto o texto massorético, essas versões não
nos ajudam em coisa alguma a determinarmos melhor o sentido exato de certas
palavras existentes no texto de Cantares.
Além de consideráveis
dificuldades de tradução em trechos como Ct 6.12 e 7.9, também não se sabe o
sentido de quatro palavras hebraicas diferentes, ali existentes, em Ct 1.17;
4.4; 5.14 e 7.6.
E o complicado simbolismo
empregado no livro aumenta mais ainda as dificuldades de tradução.
XI – Conteúdo e esboço
Não é fácil apresentar
uma analise do livro de Cantares à maneira convencional, por causa do fato de
que todos os diálogos são muito entretecidos e difíceis de deslindar.
Há diálogos (por exemplo,
Ct 1.9 ss) e solilóquios (por exemplo, 2.8 – 3.5), e as palavras passam de uma
personagem para outra com tanta frequência que é impossível identificar
precisamente essas personagens.
As “filhas de Jerusalém”
são mencionadas durante a exposição (Ct 1.5; 2.7; 3.5, etc...), e a elas são
atribuídas certas respostas, no dialogo. (por exemplo, Ct 1.8; 6.1 etc...)
Uma situação similar
ocorre no caso dos habitantes de Sulém (Ct 8.5) e os de Jerusalém. (Ct 3.6-11)
Entretanto, em termos
gerais poderíamos esboçar o conteúdo do livro de Cantares como segue:
01 – A noiva exprime seu
anelo pelo noivo, e canta seus louvores (1.1 – 2.7);
02 – Aprofundando-se a
afeição mútua entre eles, a noiva continua a elogiar seu amado, usando símbolos
da natureza (2.8 – 3.5);
03 – Louvores ao rei
Salomão, à noiva e aos desposórios (3.6 – 5.1);
04 – O noivo ausenta-se
por algum tempo, durante o qual a noiva anela pela volta do noivo e continua a
elogiá-lo (5.2 – 6.9);
05 – Uma série de
passagens descritivas sobre a beleza física da noiva (6.10 – 8.4);
06 – Conclusão, que
aborda a permanência do verdadeiro amor (8.5-14).
XII – Interpretação da sua mensagem
Nenhum livro do Antigo
Testamento tem sido interpretado de tantas maneiras diferentes como o livro
Cantares de Salomão.
Isso se deve ao fato de
que não há no livro nenhum tema especificamente religioso e central.
Quatro abordagens
principais devemos destacar aqui: a interpretação alegórica, a interpretação
cúltica, a interpretação dramática e a interpretação lírica.
A interpretação alegórica
foi adotada pelos rabinos e pelos pais da igreja como a única maneira de
resolver os problemas associados a aceitação do livro no cânon das Escrituras;
essa é a interpretação até hoje favorecida pela igreja Católica Romana e pelos
comentadores judeus ortodoxos.
Para esses últimos, Deus
seria o grande amante dos poemas, e Israel seria a noiva, que receberia as
demonstrações das misericórdias divinas. Nas mãos dos cristãos, porém, houve
alguma modificação, pois a noiva passou a ser a Igreja Cristã. e fato, isso
transparece em certos trechos do Novo Testamento, como, por exemplo, Jo 3.29,
Ef 5.22-23, Ap 18.23 e 22.17.
Foi Orígenes quem
desenvolveu a interpretação alegórica clássica, sendo seguido por Jerônimo,
Atanásio, Agostinho e muitos outros.
No entanto, a maioria dos
expositores cristãos tem evitado os problemas que surgem quando se expande o
livro de Cantares em termos da história da Igreja Cristã.
Uma variante dessa
interpretação, postulada por alguns escritores patrísticos, é a que se diz que
o livro reflete a relação de Deus e a alma individual.
Essa variante também foi
iniciada por Orígenes, tendo sido adotada por alguns dos pais da Igreja e por
certos escritores medievais.
Ambrósio e alguns
comentadores católicos romanos, mui caracteristicamente, tem identificado a
noiva como a Virgem Maria, ao passo que Martinho Lutero opinava que a noiva
nada mais seria do que o reino salomônico personificado.
E alguns intérpretes
identificam variadamente a noiva como se ela representasse em um trecho ou em
outro, Israel, a Igreja Cristã, A Virgem Maria e o crente individual. Porém, a
própria subjetividade da interpretação alegórica contribui para desacreditá-la.
Apesar disso, a interpretação alegórica do livro de Cantares é a que tem
predominado no pensamento protestante, pelo menos até recentemente.
A interpretação cúltica
tem sido, por alguns estudiosos, a luz das liturgias do Oriente Próximo que
comemoravam a morte e a ressurreição de alguma divindade. Segundo esse ponto de
vista, o amante do livro de Cantares seria um deus que morrerá e ressuscitará
ao passo que sua noiva seria sua irmã ou sua mãe, que se lamentava por sua
morte e saíra freneticamente atrás de seus restos mortais.
Algo similar teria
acontecido a Baal e Anate, dos cananeus, a Tamuz e a Israel, dos babilônicos, e
a Osíris e Isis, dos egípcios. E os idealizadores dessa ideia dizem que o que
servia para comprovar isso era que o livro era usado por ocasião de uma
festividade religiosa dos judeus. Mas, além de quatro outras composições
canônicas serem usualmente empregadas em festividades religiosas dos judeus,
não há nenhum indício de que Israel jamais tivesse qualquer cerimônia que se
assemelhasse a isso.
A abordagem dramática de
Cantares de Salomão surgiu quando começou a declinar o interesse pela
interpretação alegórica, no começo do séc. XIX. Todavia, também podemos
atribuir a Orígenes a ideia inicial, que foi reiterada nos escritos de Milton.
A partir de 1800
desenvolveram-se duas formas dessa interpretação.
A primeira delas, exposta
por F. Delitzch, que pensava que o livro cantava duas personagens principais,
Salomão e uma donzela interiorana descrita como sulamita (Ct 6.13).
O livro contaria como
Salomão a encontrou em suas rústicas cercanias e a trouxe para Jerusalém, onde,
desposando-se com ela, aprendeu a amá-la com mais do que um puro amor carnal.
A outra forma dessa
interpretação dramática foi proposta por Ewald, que, além de Salomão e da jovem
Sulamita, introduziu na narrativa uma suposta terceira personagem, um pastor que
seria o amante da jovem.
E ela, levada para a
capital pelo rei, lembrava-se apaixonadamente do rapaz, elogiando as suas
qualidades, até que Salomão permitiu a volta dela para o rapaz.
Essa teoria, conhecida
como “a hipótese do pastor...”, tornou-se, geralmente, aceita entre os
estudiosos liberais.
A principal dificuldade
da posição de Ewald, contudo, é que não há nenhuma evidência textual em favor
da existência de um suposto pastor. Que seria uma das personagens centrais do
livro.
Além disso, ele supõe que
tenha havido grande resistência da parte da jovem quanto à conquista amorosa,
ao passo que a narrativa bíblica mostra, precisamente, o contrário. Acresça-se
a isso que Ewald dá a impressão de que o rei que queria seduzí-la à força,
transformando Salomão em um vilão, e não no herói da história.
Por esses e outros
motivos, tal interpretação esta inteiramente desacreditada.
A quarta interpretação
principal do livro de Cantares é a da abordagem lírica. Esta pensa somente que
o livro consiste em uma coletânea de poemas líricos, sem nenhuma conexão com a
festa de casamento ou ocasiões festivas especiais.
Se essa interpretação tão
simples tem alguma vantagem a seu favor, é somente porque evita as dificuldades
inerentes às três outras principais interpretações.
Também poderia falar
sobre a interpretação chamada típica, favorecida por certos eruditos
conservadores.
Ela tem a vantagem de
preservar o sentido óbvio dos poemas, ao mesmo tempo em que percebe um sentido
espiritual e, portanto, mais elevado do que uma mensagem puramente sensual ou
erótica.
De conformidade com essa
interpretação, o livro de Cantares refletia o puro amor espiritual que se
verifica entre Cristo e os seus seguidores.
Também haveriam ideias
paralelas na Bíblia, conforme se vê em trechos como Os 1- 3; Ez 16.6 ss. e
Ef 5.22 ss. E o uso que Cristo fez da
narrativa sobre Jonas (Mt 12.40), bem como a alusão a serpente de metal,
levantada no deserto (Jo 3.14), são aduzidas compatíveis com esse método geral
de interpretação.
O conteúdo do livro de
Cantares revela uma atitude para com a natureza que raramente se encontra em
outros trechos do Antigo Testamento.
Os hebreus, geralmente,
concebiam a natureza como algo que revelava o esplendor e a majestade de Deus,
pois ele controlaria totalmente essas forças naturais, segundo o seu querer. Mas,
no livro de Cantares, os ciclos da natureza correspondem aos sentimentos dos
amantes. Talvez isso se deva ao fato de que esse livro tenha incluído noções
poéticas puramente folclóricas.
O fato é que o amado
chega ao campo no instante em que os poderes vitais da terra estavam novamente
se manifestando. (Ct 2.8-17; 7.11-13)
Se esses poemas realmente
tinham alguma conexão com cerimôniais nupciais, então a habilidade das
personagens das festas poderia ser comparada a capacidade profissional das
lamentadoras, que, em Je 9.17, são descritas como “mulheres hábeis”.
E visto que o livro de
Cantares esteve associado a autoria salomônica desde o começo, a relação entre
essa composição e a epítome de sabedoria de Israel parecia confirmar sua
posição entre as obras de literatura de sabedoria de Israel.
Todavia, quando a autoria
salomônica foi posta em dúvida, então essa coleção de poemas foi relegada a
outros gêneros literários.
Visto que, o material de
Cantares é essencialmente poético, por isso mesmo há nele características
próprias de outras composições poéticas do Antigo Testamento. Essas
características incluem itens como sinônimos, paralelismos, sintéticos e
antitéticos, acentos ritmicos que salientam pontos importantes.
XIII – Teologia do livro
O livro de Cantares ocupa
uma posição sui generis no cânon do antigo Testamento, devido ao fato de não
conter nenhuma teologia explicita.
Os estudiosos que crêem
que temos ali somente uma coleção de cânticos líricos ou folclóricos vêem nisso
uma confirmação para a sua opinião.
Portanto, somente através
de interferências podemos determinar a posição teológica do livro; e, quando é
encarado por esse ângulo, o livro de Cantares ajusta-se às mil maravilhas à
tradição hebréia do monoteísmo.
Porquanto não há ali
nenhum traço das influências mágicas ou das crenças politeístas que se acham,
por exemplo, em cânticos de amor similares, provenientes do Egito.
O amado só suspirava pela
sua amada exaltando assim o ideal da monogamia.
Incidentalmente, isso
parece contradizer a autoria salomônica, visto que o terceiro rei de Israel foi
homem com muitíssimas mulheres e concubinas. (I Rs 11.3-8).
Embora as imagens
poéticas sejam quase totalmente estranhas para o gosto moderno, a composição
nunca se torna obscena, mesmo de acordo com os padrões da civilização
ocidental.
De fato, o livro reflete
os cânones tradicionais da moralidade sexual que fazem parte da legislação
mosaica, e jamais tolera qualquer coisa que poderia ser descrita como baixa ou
imoral.
O livro também reflete as
tradições expressas em Gn 2.24, que mantém que, no casamento, institui-se uma
unidade psicofísica entre o marido e a sua mulher.
E toda a discussão sobre
as emoções dos dois amantes é mantida em um elevado nível de sensibilidade e moralidade.
Portanto, a pureza e a beleza do amor humano físico, como um Dom divino, é o
amor dominante do livro.
O relacionamento natural
entre um homem e sua esposa que se amam aponta no livro para a riqueza do amor
humano, um pequeno exemplo do muito mais amplo, profundo e puro amor de Deus
que lhe pertencem.
XIV – Informações de suma importância
Sumário dos itens de
interesses:
1 – O livro de Cantares
contém cerca de 25 poemas líricos (em alguns casos, fragmentos apenas), tratando
dos temas do namoro, casamento e talvez
considerados apropriados para serem recitados nos casamentos. (Je
33.11);
2 – A poesia não é
melindrosa ou vitoriana, e é tão abertamente sensual que foi “suavizada” em
algumas traduções modernas.
Os hebreus não eram um
povo melindroso, mas amantes da música, da dança, do vinho e do sexo.
A atitude sexual dos
hebreus, entretanto, não era promiscua, já que buscavam o ideal: um homem = uma
mulher. O tratamento, contudo, era bastante sensual.
3 – Em certos lugares, os
poemas são altamente eróticos, sensuais, mas ainda assim graciosos.
Há poucas alusões aos
mitos antigos de deuses e deusas dos quais parecia depender a fertilidade da
natureza. Contudo, essas alusões não nos envolvem em problemas teológicos como
o politeísmo ou monoteísmo.
Não temos aqui, portanto,
um livro teológico.
4 - O livro mostra-se
compacto, passando de um poema para o próximo, em uma espécie de continuação de
temas, em vez de compor uma rígida estrutura literária.
5 – O livro de Cantares
não tem franco conteúdo religioso.
Tal conteúdo é insuflado
mediante interpretações simbólicas, alegóricas e místicas por parte de autores
judeus posteriores e cristãos.
Precisamos assumir
simbolismos místicos para que este livro se torne uma obra de caráter
religioso, mas há dúvidas de que essa tenha sido a intenção do autor original.
6 – A inclusão do livro
no cânon veterotestamentário deveu-se aos rabinos, os quais devem ter pensado
que o livro deveria ser encarado tal como o livro de Oséias, uma espécie de
parábola na qual o Senhor aparece como o Esposo, e Israel como a Esposa.
Os autores cristãos
seguiram essa orientação, vendo Cristo como o Marido, e a igreja, como a
mulher. (Os 2.16-19 quanto a primeira ideia, e Ap 21.2,9, quanto a segunda.)
7 – A forma presente do
livro de Cantares data de cerca do século III a.C, embora contenha materiais
muito mais antigos.
O livro é atribuído a
Salomão, provavelmente por convenção literária. Abordamos essa questão na seção
II do estudo acima.
8 – Uma grande variedade
de interpretações tem sido dada ao livro, pelo modo alegórico de interpretação,
e examinamos essa questão na seção XII no estudo supra.
O conteúdo altamente erótico do livro tem dado
certo alivio aos meninos e rapazinhos das escolas dominicais, os quais,
enfadados com as lições recebidas, podem voltar-se para o livro de Cantares com
excitação. E não poucos desses adolescentes também reavivam os tempos de sermão
na igreja, com a mesma duvidosa atividade!
Titulo: Lamentações
Autor: Jeremias (tradição)
Data: Depois de 586 e antes de 538 a.C.
Capítulos: 5
Versículos: 154
Versículo-chave: Lm 1.1
Sumário
I - Caracterização
II - Nome do livro
III - Autoria e data
IV - Propósitos e teologia do livro
V - Estilo literário
VI - Conteúdo
VII - Informações de suma importância
VIII – Julgamentos severos que Israel (Judá) deve sofrer
paralelos entre lamentações e deuteronômio
I – Caracterização geral
Este livro faz parte da
terceira divisão do cânon do Antigo Testamento hebraico, que os judeus chamavam
de “Escritos” ou “Rolos”.
O livro de Lamentações
consiste em cinco poemas que correspondem ao que, modernamente, chamamos de
“capítulos”.
Esses poemas foram
escritos segundo a métrica “Kina”, ou de “lamentação”.
Provavelmente, o livro
foi escrito no séc. V a.C., provocado pela grande calamidade que se abateu
sobre Jerusalém, com o consequente cativeiro babilônico.
Esses poemas foram
compostos na própria cidade de Jerusalém, ou, então, já na Babilônia.
Os primeiros quatro
poemas são acrósticos alfabéticos, o que significa que cada grupo de versículos
começa por uma letra diferente do alfabeto hebraico, que consistia em vinte e
duas letras.
A quinta estância tem o
mesmo número de versículos que o alfabeto hebraico.
Todos esses poemas foram
compostos ou adaptados para a sua recitação pública em dias de jejum e
lamentação (Je 2.15-17; Sf 7.2, 3), notadamente no nono dia de Abe (agosto),
que comemorava especificamente o desastre babilônico.
O primeiro, o segundo e o
quarto poemas foram compostos como lamentações fúnebres.
Jerusalém é apresentada
como o falecido.
O terceiro poema foi
composto no estilo de uma lamentação individual, com a característica usual de
que uma figura masculina (e não feminina) é que personifica o povo ou a própria
cidade.
O quinto poema consiste
em uma lamentação coletiva.
Esse poema faz lembrar as
liturgias usadas em tempo de tristezas nacionais, conforme se vê nos Sl 74 e
79.
O tema comum de todos os
cinco poemas é a agonia da nação judaica e o aparente abandono de Sião por
parte de Deus, bem como a esperança de que Deus ainda haveria de restaurar uma
nação humilhada e arrependida.
Antigas tradições tem
atribuído esse livro ao profeta Jeremias, porém muitos eruditos modernos
encontram razões para duvidar dessa opinião.
O próprio livro é
anônimo, pelo que aquilo que cremos sobre sua autoria depende de nossa
confiança ou desconfiança nessa tradição, bem como de outras evidências que
pesam sobre a questão.
Vejamos a terceira seção
neste estudo, quanto à discussão a respeito.
II – Nome do livro
No hebraico, este livro
chama-se Ekah, “como”, a primeira palavra do livro, no original hebraico. Mas
também tem o titulo de qinah, “lamentação”. Naturalmente, isso alude ao caráter
de deploração do livro inteiro.
Conforme disse certo
autor, “...cada letra foi escrita com uma lagrima; cada palavra com o pulsar de
um coração partido”.
O titulo do livro, na
Septuaginta, é “Cânticos fúnebres”. O titulo do livro nas modernas línguas
européias – como em português – vem da Vulgata Latina, com base no vocábulo
latino lamentum, “clamor”, “choro”, “lamentação”.
Na Vulgata Latina, o
titulo especifico é “Lamentationes”.
III – Autoria e data
A tradição que atribui o
livro Lamentações a Jeremias é antiquíssima.
O trecho de II Cr 35.25,
embora não faça alusão às lamentações que compõem o livro, mostra-nos que
Jeremias compôs esse tipo de material literário.
Alguns eruditos percebem
a dicção de Jeremias no livro, mas outros pensam que o estilo é bastante
parecido com o dos capítulos 40
a 66 do livro de Isaias, o que já aponta para outro
autor.
O trecho de Lm 3.48-51
parece similar as expressões de Je 7.16; 11.14; 14.11-17 e 15.11.
Alguns sentem o espírito
de Jeremias no livro, o mesmo temperamento sensível, uma profunda simpatia para
com as tristezas de Israel, e as mesmas emoções soltas a respeito do desastre
provocado pela invasão dos babilônicos.
Contra a autoria de
Jeremias, temos os seguintes argumentos:
1 – Os paralelos listados
anteriormente, entre Lm 3.48-51 e certos trechos do livro de Jeremias,
certamente indicam a narrativa feita por uma testemunha ocular sobre aquilo que
os babilônicos fizeram contra o povo de Israel.
Contudo, essa testemunha
ocular não precisa ser identificada obrigatoriamente com Jeremias, porquanto o
autor do livro pode ter sido outra testemunha daqueles fatos.
2 - O quinto poema
reflete uma espécie de lassitude induzida por anos de ocupação estrangeira, o
que é contrário ao que sabemos sobre história envolvida.
Jeremias permaneceu
apenas algumas semanas na Palestina, após a captura de Jerusalém.
3 – O argumento literário
– Os extensos escritos de Jeremias (no livro que sabemos ser de sua autoria)
não apelaram para a poesia, e muito menos para a forma especifica de poemas
acrósticos.
4 – O argumento histórico
– Em tempos posteriores, muitos oráculos foram coligidos em nome de Jeremias,
quando, como é óbvio, esses escritos não foram de sua autoria.
Os poemas do livro de
lamentações poderiam estar entre esses oráculos.
Se realmente eram de sua
lavra, por que motivo Jeremias não os identificou como seus? E por que motivo
não foram incluídos como parte de suas profecias?
No livro de Jeremias, o
autor identificou-se claramente. (Je 1.1)
5 – Diferenças de Pontos
de Vista. – As declarações de Lm 2.9; 4.17 e 5.7, de acordo com certos
estudiosos, diferem dos pontos de vista da profecia de Jeremias. Porém, muitos
outros estudiosos vêem nisso mera avaliação subjetiva e, portanto, sem grande
valor.
06 – O argumento Linguístico
– O estilo, o vocabulário e a dicção dos livros de Jeremias e de Lamentações
são por demais diferentes para que se suponha que um mesmo autor tenha escrito
ambas as obras.
Contra esse argumento,
alegam outros que a poesia, naturalmente, difere da prosa em que são escritos
os oráculos e as advertências proféticas.
Todavia, grandes trechos
do livro de Jeremias consistem em poemas, embora nossa versão portuguesa oculte
isso, imprimindo o livro como se tudo fosse prosa. Mas, vejamos por exemplo, a
Revised Standard Version. Muitos escritores em prosa, ocasionalmente, escrevem
em poesia, o que requer estilo, dicção e vocabulário diferentes.
Conclusão: Não há como
fazer uma declaração firme sobre a questão.
O livro de Lamentações
não indica quem foi o seu autor; a obra é anônima.
Data – No livro não há
nenhuma menção a reconstrução do templo de Jerusalém, que ocorreu em 538 a.C.
No entanto, o livro foi
escrito, sem a menor sombra de dúvida, por uma testemunha ocular da invasão de
Jerusalém pelos babilônios e do subsequente exílio de Judá.
Por conseguinte, deve ter
sido escrito em algum tempo depois de 586 a.C, mas antes de 538 a.C.
IV - Propósitos e Teologia do livro
1 – A justiça de Deus é
celebrada e os efeitos ruinosos do pecado são lamentados.
Um homem espiritual contemplou
o que acontecera a um povo rebelde, que não quisera dar ouvidos às advertências
do Senhor, e que, por isso, recebeu tão grande castigo nacional. Tudo aquilo
ocorrera por motivo de desobediência e insensibilidade espiritual. A calamidade
foi tão grande que fez uma nação chegar ao fim.
O santuário, que fora
estabelecido em honra a Yaweah, bem como a teocracia (embora muito modificada
pela monarquia) foram aniquilados pelos pagãos.
O poeta, pois, celebrou a
retidão e a justiça de Deus, porquanto, afinal, o que acontecera fora justo.
A nação de Judá foi
convocada ao arrependimento, visto que o mesmo poder que produziu a destruição
com igual facilidade poderia produzir a restauração.
A profunda iniquidade da
nação de Judá é lamentada no livro, mas reconhece-se também que a graça de Deus
é suficientemente ampla para reverter qualquer situação, e o autor sagrado
contemplava, ansioso essa bendita possibilidade.
Em suma, o propósito do
livro é celebrar a justiça de Deus, lamentar a iniqidade do povo de Judá e suas
horrendas consequências e, então, conclamar ao arrependimento, em face da
possibilidade de restauração.
2 – Aplicação
Cristológica – Alguns interpretes evangélicos vêem no livro de Lamentações um
lamento pela alma de Jesus, diante da ira de Deus que sobre Ele se descarregou,
quando Cristo levou sobre si o pecado do mundo.
3 – A trágica reversão
- Havia em Israel uma tradição que
falava sobre a suposta inviolabilidade de Sião (Sl 46.6-8; 48-2-9; 76.2-7), o
que aparece como uma ideia com a qual o autor do livro de Lamentações estava
familiarizado (Lm 3.34 e 5.9). Entretanto, o autor sagrado mostrou que nenhuma
coisa boa necessariamente perdura para sempre.
Reversões trágicas podem
destruir até mesmo as melhores e mais excelentes coisas, se permitirmos que o
pecado venha maculá-la.
4 – Confirmação do ponto
de vista Deuteronômico da história - O autor de Deuteronômio sustenta, como uma
de suas teses primárias, que Israel ia bem enquanto obedecia a Deus, mas caia
em ruína quando se mostrava rebelde.
Embora, por certo, essa
seja uma perspectiva simplista da história, não é um fator que deva ser
ignorado.
Esse tema também pode ser
encontrado em outros livros do antigo testamento, além de Deuteronômio, Lamentações é um dos livros que promovem essa
tese.
5 - A esperança nunca morre no coração humano
- Grandes tragédias sobrevêm às pessoas insensatas.
Mas essas mesmas pessoas,
se agirem sabiamente, poderão contemplar a concretização de suas esperanças de
melhoria, quando seu triste estado for revertido pela misericórdia divina.
V – Estilo literário
Vimos o estilo descrito
na primeira seção - caracterização geral – nesse estudo.
VI – Conteúdo
1 – As lamentáveis
condições de Jerusalém (cap. 1);
2 – Manifestação da ira
de Deus (cap. 2);
3 – Reconhecimento da
justiça de Deus (cap. 3);
4 – Reconhecimento da
fidelidade de Deus (cap. 4);
5 – Confiança na
fidelidade de Deus (Cap. 5).
VII – Informações de suma importância
O estudo do livro de
lamentações, que contém apenas 154 versículos, envolveu em cada seção uma
análise de modo bastante completo.
Este é um dos livros mais
tristes já escritos, que aplica habilidosa poesia para expressar as mais
profundas emoções humanas.
Trata-se de uma série de
poemas que lamentam a desolação de Jerusalém e os sofrimentos do povo, depois
dos ataques, do cerco e do cativeiro subsequente do povo de Israel, efetuado
pelo exercito babilônico.
O templo de Jerusalém foi
incendiado em cerca de 587-586
a.C, pelo que o autor escreveu algum tempo depois disso.
O capítulo 5 do livro
revela a autoria do poema, bastante tempo depois, mas antes que o decreto de
Ciro permitiu que um pequeno remanescente de judeus retornasse a Jerusalém para
reconstruir a cidade e, assim, iniciar um Novo Dia.
Os primeiros quatro capítulos
seguem acrósticos alfabéticos (os vers. começam com as sucessivas 22 letras do
alfabeto hebraico).
O capíulo 5 também tem 22
versículos, mas não escritos segundo esse estilo, que provavelmente requer um
arranjo um tanto artificial que impede o livre fluxo do pensamento. Esse capítulo
provê uma apta conclusão, sendo provável que o autor estivesse cansado de
apegar-se ao estilo acróstico.
O livro era usado nas
recitações em dias de jejum e lamentação, tanto públicas quanto particulares.
(Je 2.25-17; Zc 7.2-3)
Os capítulos 1, 2 e 4
assumem a forma de lamentações fúnebres da cidade morta.
A elegia capengante da
métrica 3.2 (três toques seguidos por dois toques) pode ser reconhecida até nas
traduções...
No cap. 3, a tristeza do
povo desolado e o reflexo sobre o significado do desastre são expressos por um
indivíduo.
O capítulo 5, em forma e
linguagem, relembra as liturgias usadas em tempos de tribulação nacional, como
se vê nos Sl 74 e 79.
O tema comum e a
esperança de que Deus ainda restauraria um povo arrependido e humilhado
percorre o livro inteiro. (Osford Annotated Bible, Introdução ao livro).
“O livro de Lamentações é
um pós-escrito de lamentação ao livro de Jeremias.
Mediante o uso de cinco
cânticos fúnebres, o autor sagrado se entristeceu pela sorte de Jerusalém, por
causa de seu pecado”. (Charles H. Dyer, in loc).
“O livro, naturalmente, é
mais que uma poesia fúnebre muito bem expressa.”
Antes, é uma lição moral
que afirma que a vida é mais do que “comer, beber e divertir-se”.
E também uma inquirição
séria que procura obedecer às regras divinas.
Ensina-nos, supremamente,
as consequências de semear uma má conduta, pois o que uma pessoa faz certamente
é colher o que semeou. (Gl 6.7-8)
VIII – Julgamentos divinos que Israel (Judá) deve sofrer
paralelos entre lamentações e Deuteronômio.
Essência dos julgamentos
|
Lm
|
Dt
|
Judá (Israel) espalhado entre as nações não encontrará paz e nem
segurança
|
1.3
|
28.65
|
Judá (Israel) será escravo de forças estrangeiras e a cauda das nações
|
1.5
|
28.44
|
Seus filhos e filhas serão cativos em nações pagãs
|
1.5
|
28.32
|
Em fraqueza fugirão ante o perseguidor e serão absolutamente
derrotados. As defesas falharão e os soldados fugirão em sete direções em
total confusão
|
1.6
|
28.25
|
Os homens e as mulheres jovens serão levados e feitos escravos. Os pais
os perderão para sempre
|
1.18
|
28.41
|
O povo de Judá (Israel) será assunto de canções zombadoras e objeto de
escárnio e desprezo
|
2.15
|
28.37
|
Mães, no seu desespero, comerão os próprios filhos para não morrer de
fome. O pecado, especialmente o da idolatria, cobrará um alto preço em
sofrimento.
|
2.20
|
28.53
|
Jovens e velhos morrerão juntos na poeira das ruas. O inimigo não
respeitará idade nem sexo
|
2.21
|
28.50
|
Mães, com as próprias mãos, cozinharão seus filhos. As mais gentis
esconderão seus filhos para comê-los depois do ataque do inimigo. As esposas
não mais respeitarão seus maridos, mas se tornarão animais selvagens.
|
4.10
|
28.56-57
|
A herança de Israel, dada no Pacto abraâmico, passará às mãos dos
estrangeiros selvagens. O judeu construirá uma casa, mas nunca morará nela.
As propriedades ficarão a disposição dos invasores.
|
5.2
|
28.30
|
Perseguidos, os judeus não encontrarão paz no exílio. A espada os
seguirá até lá e continuará a matança. O pecado cobrará um alto preço dos
desobedientes.
|
5.5
|
28.65
|
Os sofrimentos no exílio serão variados e severos. A fome fará a pele
dos cativos queimar como se estivesse sujeita a um forno.
|
5.10
|
28.28
|
Mulheres casadas e virgens serão estupradas nas ruas de Sião. Uma
mulher prometida a um judeu nunca se tornará esposa dele, mas cairá vítima de
um soldado impiedoso.
|
5.11
|
28.30
|
Os velhos não serão respeitados nem receberão misericórdia. Cairão
vitimas das mesmas brutalidades.
|
5.12
|
28.50
|
O Monte Sião ficará uma pilha de entulho e animais selvagens farão dele
seu lugar de assombração. Os muitos e radicais pecados de Judá (Israel)
exigirão castigos múltiplos e radicais, servindo de agentes de restauração
para o fragmento que sobreviver.
|
5.18
|
28.26
|
Conclusão
Embora as fontes que
consultamos para organizar este serviço, gozem de respeitada credibilidade
entre os estudiosos das Sagradas Escrituras, percebemos que, o assunto
historicidade, autoria, datas e tantos outros tópicos, ainda serão objetos de
muita disputa para emissão de uma opinião mais próxima da realidade.
É muito provável que, ao
não termos a oportunidade de manusear e estudar os documentos e instrumentos
que as nossas fontes tiveram, deixamos em caráter cientifico, de concordar,
discordar total ou parcialmente, ou ainda, descobrir valores não antes percebidos
que, poderiam trazer à tona novos conceitos.
A Bíblia, embora algumas
correntes não considerem, é um livro científico.
A arqueologia nas terras
bíblicas tem extraído do solo, cidades, objetos, como construções, jarros,
talheres, tabuinhas, etc... que revelam
traços e costumes de reis e povos, que estão registrados na Bíblia.
Cada dia tem havido
novidades na ciência e novos conceitos vão surgindo.
Se fossemos nos deixar levar
pela fé que professamos com toda a certeza os resultados que hoje obtivemos seriam
outros.
Como teólogos, estudiosos
das coisas bíblicas, devemos entender que tanto a Bíblia como a Ciência podem
perfeitamente andarem juntas.
Jesus disse: “Não há nada
que esteja encoberto que um dia não venha à tona”.
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Bibliografia dos Livros Poéticos
Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo
R. N. Champlim ph D
Bíblia de estudo pentecostal
Revista corrigida Ed. 1995 – Jose Ferreira de Almeida
Comentário bíblico expositivo
Geográfica Editora
Warren W. Wiershe