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ESTUDO DA PALAVRA 1

“O Evangelho de Deus”

Prefácio à Edição em Inglês


Watchman Nee
É do conhecimento dos leitores cristãos em todo o mundo que o irmão  Watchman Nee foi especialmente encarregado pelo Senhor de ajudar os cristãos quanto à verdade da plena salvação de Deus. Na primavera de 1937, o irmão Nee deu uma série de vinte e seis mensagens sobre as verdades básicas do evangelho de Deus para a igreja em Xangai, China. Essas mensagens são o conteúdo dos volumes 28 e 29 de Obras Reunidas de Watchman Nee (The Collected Works of Watchman Nee). As questões abordadas são amplas, variando desde a condição pecaminosa do homem antes de ser salvo ao seu destino na era vindoura. No volume 28, o irmão Nee apresenta as  particularidades da salvação de Deus, isto é, os pecados do homem; o amor, a graça e a  misericórdia de Deus; a natureza da graça; a função da lei e a justiça de Deus; a obra de Cristo e do Espírito Santo na salvação de Deus; e a fé como o caminho da salvação. No volume 29, o irmão Nee trata detalhadamente das questões de segurança eterna da salvação e a maneira de Deus lidar com os pecados dos cristãos nesta era e na vindoura. Para ambas as questões, o irmão Nee apresenta respostas convincentes a partir da Bíblia e de como os cristãos atualmente entendem esses assuntos.

As mensagens dessas séries foram proferidas pelo irmão Nee em chinês e manuscritas enquanto eram faladas. Essas notas foram traduzidas para o inglês e alteradas conforme necessário. Tanto quanto possível, o tom oral das mensagens foi preservado. Muitas ilustrações que o irmão Nee utilizou foram apreendidas de sua vida na China na época.

Essas mensagens demonstram o comissionamento do Senhor para o nosso irmão e como o Senhor o equipou com a revelação de Sua Palavra. Que o Senhor abençoe ricamente todos os que lerem e virem essas verdades faladas pelo Senhor por meio de nosso irmão.

O Pecado, os Pecados e o Pecador.


O Caráter desta Reunião — o Ensino do Evangelho.


Hoje iniciamos uma série de reuniões de estudos bíblicos. Porém, antes de iniciarmos, gostaria primeiramente de dizer algumas palavras acerca da natureza destas reuniões. Não sei se há alguns aqui que estão conosco pela primeira vez. Alguns que vêm pela primeira vez acham muito difícil localizar nosso endereço. Muitos se queixam de que a rua onde nos encontramos é de difícil localização. Alguns até mesmo disseram que, apesar de estarem de fato sentados aqui, não sabiam como sair daqui após a reunião. Eles não sabiam que caminho tomar para chegar àquela loja de automóveis que viram enquanto vinham para cá, e não sabem como caminhar de lá para a parada de bonde ou para a parada de ônibus. Muito embora estivessem aqui, não estavam seguros e dificilmente poderiam lembrar-se do caminho pelo qual vieram. Esse é o caso de muitos cristãos em sua vida cristã. Se você lhes perguntar se crêem no Senhor, eles dirão que sim. Porém, se lhes perguntar como foi que creram, eles dirão que não têm certeza. Eles não têm clareza alguma acerca da maneira pela qual foram salvos. As reuniões que teremos agora não são um reavivamento nem reuniões de evangelização. E, embora o assunto dessas reuniões seja o evangelho, elas não são reuniões de evangelização. Não estaremos pregando o evangelho desta vez; em vez disso, estaremos ensinando o evangelho. Por que precisamos ensinar o evangelho? Muitos foram salvos e se tornaram cristãos, mas ainda não sabem como se tornaram cristãos. O que vamos fazer hoje é dizer às pessoas como é que elas se tornaram cristãs. Em outras palavras, estamos dizendo-lhes que elas tomaram o sentido sul a partir da Rua Aiwenyi e caminharam diretamente para aquela loja de automóveis que viram, que dali viraram para Wende Lane onde estamos agora, deram alguns passos em direção à janela do nosso salão de reuniões, viraram na entrada do nosso salão e caminharam até um cesto de lixo à porta do salão de reuniões e, em seguida, entraram no salão. Desta vez não estaremos persuadindo as pessoas a entrar; pelo contrário, estaremos dizendo-lhes como entraram.
Se aqui houver alguns que não creram no Senhor, podem ficar desapontados. O que vamos fazer desta vez é mostrar aos que creram como é que creram. Alguns irmãos e irmãs podem ter muita clareza do evangelho; talvez até já saibam sobre o que estamos falando.
Porém espero que o Senhor nos abençoe e nos conceda nova luz. Você precisa saber que estas reuniões são de estudo bíblico e destinam-se aos que creram, mas não sabem como creram. Dessa vez não estou tentando encorajá-lo ou reavivá-lo. Estou simplesmente lhe mostrando a direção. Em outras palavras, nessas reuniões nada mais sou do que um guia turístico.

O Pecado, Os Pecados, O Pecador.

Começarei com um princípio muito básico com respeito ao evangelho. Contudo, espero que a cada reunião avancemos um pouco. Nesta primeira reunião, nosso tema é um assunto que a maioria das pessoas não gosta de ouvir, mas é inevitável. Nosso assunto nesta reunião é o pecado, os pecados e os pecadores.

A Bíblia dá muita atenção à questão do pecado. Somente quando tivermos clareza acerca do pecado é que poderemos compreender a salvação. Se quisermos conhecer sobre o evangelho de Deus e sobre a salvação de Deus, primeiro precisamos saber o que é o pecado. Devemos ver inicialmente como o pecado nos afetou e como nos tornamos pecadores. Só então teremos clareza da salvação de Deus. Vamos primeiro considerar o ABC. Precisamos ver o que é pecado, o que são pecados e quem é pecador.

A Diferença entre Pecado e Pecados


Podemos facilmente dizer que a diferença entre pecado e pecados é que pecado é singular e pecados é plural. Entretanto, precisamos distinguir claramente entre pecado e pecados. Se você não consegue diferenciar os dois, será impossível ter clareza da sua salvação. Se uma pessoa não tem clareza da diferença entre pecado e pecados, mesmo que seja salva, sua salvação provavelmente é uma salvação obscura. Que é pecado de acordo com a Bíblia? E que são pecados? Permitam-me dar uma breve definição primeiro.
Pecado refere-se àquele poder dentro de nós que nos motiva a cometer atos pecaminosos. Pecados, por outro lado, refere-se aos atos pecaminosos individuais, específicos, que cometemos exteriormente.

Que é pecado? Não gosto de utilizar termos tais como “pecado original”, “a raiz do pecado”, “a fonte do pecado” ou similares. Estes termos são criados por teólogos e são desnecessários para nós agora. Seremos simples e consideraremos essa questão a partir da nossa experiência. Sabemos que há algo dentro de nós que nos motiva e nos obriga a ter certas inclinações espontâneas, que nos induz para o caminho da concupiscência e paixão.

De acordo com a Bíblia esse algo é o pecado (Rm 7.8, 16-17). Todavia, não há somente o pecado interior que nos obriga e induz, há também os atos pecaminosos individuais, os pecados, os quais são cometidos exteriormente. Na Bíblia, os pecados estão relacionados com a nossa conduta, enquanto o pecado está relacionado com a nossa vida natural. Pecados são os cometidos pelas mãos, pelos pés, pelo coração, e mesmo por todo o corpo.

Paulo refere-se a isso ao falar dos feitos do corpo (Rm 8.13). Então, que é o pecado? O pecado é uma lei que controla nossos membros (Rm 7.23). Existe algo dentro de nós que nos leva a pecar, a cometer o mal e esse algo é o pecado.
Se quisermos fazer uma distinção clara entre pecado e pecados, há uma parte nas Escrituras que precisamos considerar. São os primeiros oito capítulos do livro de Romanos. Esses oito capítulos mostram-nos o significado pleno do pecado. Nesses oito capítulos encontramos uma característica notável: do capítulo 1 ao 5.11, somente a palavra pecados, no plural, é mencionada; a palavra pecado, no singular, jamais é mencionada. Mas, de 5.12 até o final do capítulo oito, o que encontramos é pecado, não pecados. Do capítulo 1 até 5.11, Romanos mostra-nos que o homem tem cometido pecados diante de Deus. De 5.12 em diante, Romanos mostra-nos que tipo de pessoa o homem é diante de Deus: um pecador. Pecado refere-se à vida que possuímos. Antes de Romanos 5.12 nenhuma menção há de mortos sendo vivificados, pois o problema ali não é que alguém precise ser vivificado e, sim, que os pecados individuais que alguém cometeu precisam ser perdoados.

De 5.12 em diante, temos a segunda seção. Aqui vemos algo forte e poderoso dentro de nós como uma lei em nossos membros, que é o pecado, que nos induz e obriga a cometer os pecados, os atos pecaminosos. Por isso há necessidade de sermos libertados. Os pecados têm a ver com a nossa conduta, e para isso a Bíblia mostra-nos que precisamos de perdão (Mt 26.28; At 2.38; 10.43). Porém, o pecado é o que nos incita, induz-nos a cometer os atos pecaminosos. Por isso, a Bíblia mostra-nos que precisamos de libertação (Rm 6.18, 22). Certa vez encontrei um missionário que falava sobre “o perdão do pecado”. Imediatamente levantei-me, apertei sua mão e perguntei: “Onde na Bíblia se diz ‘perdão do pecado’?” Ele argumentou que existiam muitos casos. Quando lhe perguntei se podia encontrar um para mim, ele disse: “Que você quer dizer? Não é possível encontrar nem sequer um lugar que diga isso?” Eu disse-lhe que em toda a Bíblia, em nenhum lugar são mencionadas as palavras o perdão do pecado; em vez disso, a Bíblia sempre fala de “perdão de pecados”. Os pecados é que são perdoados, não o pecado. Ele não acreditou em minhas palavras, então foi procurar em sua Bíblia. Finalmente me disse: “Sr. Nee, é tão estranho. Toda vez que essa frase é usada, um pequeno "s" é adicionado a ela”. Creio que você pode ver que os pecados é que são perdoados, não o pecado. Os pecados são exteriores a nós. Eis por que precisam ser perdoados. Contudo, algo mais está dentro de nós, algo forte e poderoso que nos leva a cometer pecados. Para isso precisamos não de perdão, mas de libertação. Precisamos ser libertados. Tão logo não estejamos mais sob seu poder e nada tenhamos a ver com ele, estaremos em paz. A solução para os pecados vem do perdão. Entretanto, a solução para o pecado vem quando não estivermos mais debaixo do seu poder e não tivermos mais nada a ver com ele. Os pecados estão relacionados com as nossas ações e são cometidos um por um. Eis por que precisam ser perdoados. O pecado, porém, está dentro de nós e precisamos ser libertados dele.

Portanto, a Bíblia nunca diz “perdão do pecado”, mas “perdão dos pecados”. Tampouco a Bíblia fala sobre ser “libertado dos pecados”. Posso assegurar-lhes que a Bíblia nunca diz isso. Pelo contrário, a Bíblia diz que somos “libertados do pecado”, em vez de libertados dos pecados. A única coisa da qual precisamos escapar e ser libertados é daquilo que nos incita e nos induz a cometer pecados. Essa distinção é feita de modo bastante claro na Bíblia. Posso comparar os dois desta forma: De acordo com a Bíblia, o pecado está na carne; enquanto os pecados estão na nossa conduta. O pecado é um princípio dentro de nós; é um princípio da vida que temos. Os pecados são atos cometidos por nós; são atos em nosso viver.
O pecado é uma lei nos membros. Os pecados são transgressões que cometemos; são atividades e atos reais. O pecado está relacionado com o nosso ser; os pecados estão relacionados com o nosso agir. Pecado é o que somos; pecados é o que fazemos. O pecado está na esfera da nossa vida; os pecados estão na esfera da consciência. O pecado está relacionado com o poder da vida que possuímos; os pecados estão relacionados com o poder da consciência. Uma pessoa é governada pelo pecado em sua vida natural, mas ela é condenada em sua consciência pelos pecados cometidos exteriormente. Pecado é algo considerado como um todo; pecados são coisas consideradas caso a caso. O pecado está no interior do homem; os pecados estão diante de Deus. O pecado requer que sejamos libertados; os pecados requerem que sejamos perdoados.

Pecado diz respeito à santificação; pecados se relacionam com a justificação. Pecado é uma questão de vencer; pecados é uma questão de ter paz no coração. O pecado está na natureza do homem; os pecados estão nos hábitos do homem. Figurativamente falando, o pecado é como uma árvore e os pecados são como o fruto da árvore. Podemos tornar essa questão clara com uma simples ilustração. Ao pregar o evangelho, frequentemente comparamos o pecador a um devedor. Todos sabemos que ser devedor não é algo agradável. Contudo devemos lembrar que uma coisa é alguém ter dívidas; e outra coisa é ter disposição para contrair dívidas. Uma pessoa que toma empréstimos seguidas vezes não se importa tanto com o fato de usar dinheiro alheio. A Bíblia diz que os cristãos não devem ser devedores (Rm 13.8); eles não deveriam tomar emprestado dos outros. Uma pessoa com tendência a tomar emprestado pode pedir duzentos ou trezentos dólares de alguém hoje e, depois, dois ou três mil dólares de outro amanhã. E mesmo que seja incapaz de pagar suas dívidas e seus parentes ou amigos tenham de pagá-las por ele, após uns poucos dias ele começará a pensar em pedir emprestado novamente. Isso mostra que tomar emprestado é uma coisa, mas ter tendência para o empréstimo é outra. Os pecados descritos pela Bíblia são como débitos exteriores, enquanto pecado é como o hábito e a disposição interiores, é como a mente que tem a inclinação de tomar emprestado facilmente. Uma pessoa com tal mente não irá parar de tomar emprestado simplesmente porque alguém pagou seus débitos. Pelo contrário, ela pode até mesmo tomar emprestado ainda mais, porque os outros agora estão pagando suas dívidas. Essa é a razão de Deus não tratar apenas com o registro dos pecados, mas também com a inclinação para o pecado. Podemos ver a importância de lidar com os pecados, mas é igualmente importante lidar com o pecado. Somente ao vermos ambos os aspectos é que o nosso entendimento sobre nossa salvação será completo.

Quem é Pecador?


Agora precisamos fazer a pergunta: Quem é pecador? Creio que alguns dos irmãos aqui são cristãos por mais de vinte anos. Alguns até mesmo têm trabalhado pelo Senhor por mais de quinze anos. Minha pergunta pode ser considerada como um dos ABC’s da Bíblia.
Quem é pecador? Creio que muitos responderão que pecador é alguém que peca. Se verificar no dicionário, temo que seja esta a resposta que você obterá: pecador é o que peca. Porém, se ler a Bíblia, terá de rejeitar esta definição, porque não é que os que pecam sejam pecadores, mas pecadores são os que cometem pecados. Que significa isso? Muitos entre nós leram o livro de Romanos. Ouvi muitos dizerem que Paulo, para provar que no mundo todos são pecadores, mencionou no capítulo três que todos pecaram e carecem da glória de Deus (v. 23). Deus busca justos e não encontra nenhum; Ele procura os que O entendam e que O buscam, e não encontra nenhum; todos mentiram e se extraviaram (vs. 10-13). Portanto, parece que Paulo está dizendo que no mundo todos são pecadores. Mas seja cuidadoso. Não seja rápido demais para dizer isso. Será que Romanos 3 menciona de fato o pecador? Se alguém puder encontrar a palavra pecador em Romanos 3, eu irei agradecer-lhe por isso. Onde pecador é mencionado neste capítulo? Por favor, repare que pecador nunca é citado aqui. Alguns dizem que por Romanos 3 falar sobre o homem pecando, isso prova que o homem é um pecador. Contudo, Romanos 3 não menciona o pecador. É Romanos 5 que fala sobre o pecador. Portanto, precisamos fazer a distinção: Romanos 3 fala sobre o problema dos pecados e Romanos 5 fala sobre o problema do pecador. Tudo o que Romanos 3 nos diz é que todos pecaram. Somente em Romanos 5 é-nos dito quem são os pecadores.

Todos que nasceram em Adão são pecadores. Isso é o que Romanos 5.19 nos diz. Se ler a J. N. Darby’s New Translation (Nova Tradução da Bíblia de J. N. Darby), você verá que ele usou as palavras tendo sido constituídos pecadores. Todos somos pecadores por constituição. Ao escrever um currículo, há dois itens que você deve colocar. Um é o seu local de nascimento e outro é a sua profissão. De acordo com Deus, somos pecadores por nascimento, e por profissão somos os que pecam. Por sermos pecadores por nascimento, seremos sempre pecadores, quer pequemos ou não. Certa vez eu estava conduzindo um estudo bíblico com os irmãos em Cantão. Disse-lhes que existem dois tipos de pecadores no mundo — os pecadores que pecam e os pecadores morais. Entretanto, quer seja um ou outro você ainda é um pecador. Deus diz que todos os que nasceram em Adão são pecadores. Não importa que tipo de pessoa você seja; uma vez que foi gerado em Adão, é um pecador. Se você peca, é um pecador que peca. E se você não pecou ou para ser mais preciso, se você pecou menos, é um pecador moral ou um pecador que peca pouco. Se é uma pessoa nobre, você é um pecador nobre. Se se considera santo, você é um pecador santo. Em qualquer caso, ainda é um pecador. Hoje, o maior engano entre os homens é considerar um homem como pecador somente porque ele pecou; se não pecou, ele não é considerado um pecador. Porém, não existe tal coisa. Pecando ou não, desde que seja homem, você é pecador. Desde que tenha nascido em Adão, você é pecador. Um homem não se torna pecador porque peca; pelo contrário, ele peca porque é pecador. Portanto, meus amigos, lembrem-se da Palavra de Deus. Somos pecadores; não nos tornamos pecadores. Não precisamos nos tornar pecadores. Certa vez eu falava com um irmão. Havia uma garrafa térmica em frente a ele, e ele disse: “Aqui está uma garrafa térmica. Se ela orar: ‘Eu quero ser uma garrafa térmica’, que acontecerá?” Eu disse: “Ela já é uma. Não precisa ser uma”. O mesmo ocorre conosco, uma vez que sejamos algo, não há necessidade de nos tornarmos este algo.

Sabemos que embora nossos pecados sejam perdoados, todos nós permanecemos pecadores. Podemos até chamar-nos de pecadores perdoados. Mas muitos acreditam que não mais são pecadores. Acham que se afirmarmos que somos pecadores, isso significa que não conhecemos o evangelho tão bem. Isso pode não ser toda a verdade. Paulo não disse que seus pecados não foram perdoados. Mas ele disse que era um pecador (1 Tm 1.15). Você viu a diferença aqui? Se perguntasse a Paulo se os pecados dele foram perdoados, ele não poderia ser tão humilde a ponto de dizer não. Mas Paulo poderia humildemente dizer que é um pecador. Ele não poderia negar a obra de Deus nele. Contudo, ele tampouco poderia negar sua posição em Adão. Embora tenhamos recebido a graça em Cristo, Deus não removeu completamente o problema do pecado; nós ainda somos pecadores. O problema do pecado não será plenamente solucionado até que o novo céu e a nova terra apareçam. Entretanto, isso não significa que não tenhamos recebido uma salvação completa. Não me entendam mal. Em poucos dias trataremos desse ponto. O que devemos ver clara e corretamente é que toda pessoa no mundo é um pecador. Quer tenha pecado ou não, uma vez que seja um ser humano, você é um pecador. Quando alguns ouvem o evangelho, gastam o tempo todo pensando em quantos ou quão poucos pecados têm cometido. Mas diante de Deus há somente uma questão: Você está em Cristo ou em Adão? Todos os que estão em Adão são pecadores, e desde que seja um pecador, nada mais precisa ser dito. Por que, então, Paulo teve de dizer-nos em Romanos 1, 2 e 3 sobre todos os pecados que o homem comete? Estes poucos capítulos mostram-nos que pecadores pecam. Os primeiros três capítulos de Romanos provam que um pecador é conhecido pelos pecados que comete. Romanos 5, porém, diz-nos que tipo de pessoa um pecador na verdade é. Uma vez fui a Jian, em Kiangsi, e uma noite encontrei um irmão que é guarda de segurança. Ele não acreditou que eu fosse um pregador e um obreiro do Senhor. Ali estava um problema. Sou um obreiro do Senhor e um servo de Cristo, mas ele não acreditava. Portanto, eu tinha de provar a ele quem eu era. Dei-lhe muitas provas. Por fim ele acreditou. Da mesma maneira, nós já somos pecadores. Mas não nos foi provado. Os três primeiros capítulos de Romanos provam que somos pecadores. Eles nos dão as evidências. Mostrando-nos que pecamos de tais maneiras, esses capítulos provam-nos que somos pecadores. O capítulo cinco diz que somos pecadores, mas os três primeiros capítulos provam que somos pecadores.

Deixe-me relatar outra história. Em Fukien, havia alguns ladrões e sequestradores que haviam sido cristãos, ainda que fosse somente de nome. Embora fossem ladrões e sequestradores, a consciência deles ainda estava de certa forma um tanto sensível; quando percebiam que haviam sequestrado um pastor ou um pregador eles o libertavam sem resgate. Pouco a pouco, quando alguém era sequestrado dizia que era pregador ou pastor desta ou daquela denominação. Que fizeram os ladrões? Após algum tempo, eles descobriram uma maneira. Toda vez que alguém se dizia ser um pastor, os ladrões pediam-lhe que recitasse os dez mandamentos, a oração do Senhor, e as bem-aventuranças. Os que conseguissem recitar deviam ser pastores e, assim, deixavam-nos ir. Ouvi essa história recentemente e achei-a muito interessante. Se você fosse um pastor, tinha de provar. Os ladrões exigiam que aquelas pessoas lhes provassem que eram pastores. Da mesma forma, Deus quer provar-nos que somos pecadores. Sem nos provar isso, podemos esquecer quem somos nós. Esse é o motivo de Romanos 1—3 enumerar todos aqueles pecados. É para nos mostrar que somos pecadores. Após tantos fatos apresentados ali, foi-nos provado que somos pecadores. Portanto, nunca se deve pensar que são os muitos pecados que nos fazem pecadores. Já faz muito tempo que somos pecadores. Não nos tornamos pecadores após estes pecados serem cometidos. Precisamos estabelecer este fundamento claramente. Hoje você pode sair à rua, encontrar qualquer um, tomá-lo pela mão e dizer-lhe que é pecador. Se ele disser que não pode ser um pecador porque não assassinou ninguém ou não ateou fogo na casa de ninguém, você pode dizer-lhe que ele é um pecador que nunca matou ninguém nem ateou fogo na casa de ninguém. Se alguém lhe diz que nunca roubou nem cometeu fornicação, você pode dizer-lhe que ele é um pecador que nunca roubou nem cometeu fornicação. Não importa quem encontre, você pode dizer que ele é um pecador. Em todo o Novo Testamento, somente Romanos 5.19 nos diz quem é pecador. Todos os outros lugares no Novo Testamento nos dizem o que o pecador faz. Somente este único lugar nos diz quem o pecador é. Um pecador pode fazer um milhão de coisas, mas não são essas coisas que o constituem pecador. Uma vez que seja nascido em Adão, ele é pecador.

O Maior Pecado


Vimos as questões do pecado, dos pecados e do pecador. Por nascimento somos pecadores, e nossa conduta condiz com o nosso título de pecador. Há muitos “cavalheiros” neste mundo que ocultam seus pecados e não admitem que são pecadores. Mas isso não significa que não sejam. Somente significa que estão disfarçados como pessoas sem pecados. Somos pecadores por nascimento e nossa profissão e procedimento é cometer pecados. Permita-me repetir que não é porque pecamos que nos tornamos pecadores; pelo contrário, por sermos pecadores é que pecamos. O fato de sermos pecadores é que nos leva a pecar. Quem pode pecar prova que é pecador. Temos alguns amigos ocidentais aqui conosco. Talvez todos eles falem o dialeto de Xangai. Os de Xangai certamente podem falar o dialeto deles. Mas não podemos dizer que todos os que falam o dialeto de Xangai são de lá. Muitos têm se esforçado muito para aprender esse dialeto, mas eles não são de Xangai. Por outro lado, pode haver alguns de Xangai que não falem o próprio dialeto. Não podemos dizer que por não falarem o seu dialeto não sejam de Xangai. Eles são de lá, mas são os de Xangai que não conseguem falar o dialeto de Xangai. Entretanto, há muito poucos de Xangai que não falam o seu dialeto. Genericamente falando, todos os de Xangai falam seu dialeto. É algo natural que falem o dialeto de Xangai. Da mesma forma, é praticamente impossível que os que têm uma vida de pecador não tenham um viver de pecador. Sobre os pecados que pecadores cometem, prefiro não listá-los em detalhes, como muitos têm feito. Gostaria apenas de brevemente mostrar o pecado do homem. Tanto no Novo como no Antigo Testamento, existem alguns pecados que se destacam de modo especial. No Antigo Testamento, um pecado que se destaca é o de não amar a Deus. No Novo Testamento, há também um pecado que se destaca de modo especial: o de recusar-se a crer no Senhor. Quando a Bíblia diz que o homem está condenado e tornou-se pecador aos olhos de Deus, não quer dizer que ele cometeu uma multidão de pecados os quais acarretaram a ira de Deus; pecados tais como homicídio, fornicação, orgulho, libertinagem, prostituição, o vício do jogo e outros tipos de pecados imundos e ocultos. Isso não é o que a Bíblia enfatiza. O que a Bíblia considera sério é o problema que se levantou entre o homem e Deus. O fim da lei é amar ao Senhor nosso Deus de todo o coração, de toda a alma, de todo o entendimento e de toda a força (Mt 22.36-37; Mc 12.30). Assim, a questão não é se alguém roubou dos outros ou se cometeu homicídio ou planejou um incêndio. A questão não está nas concupiscências ou pensamentos ou palavras. Pelo contrário, a questão é o problema do relacionamento entre o homem e Deus.

Dentre todos os pecados, há um que encabeça a lista. Este pecado introduz todos os demais. Por meio dele todos os outros se sucederam. A Bíblia diz que o pecado entrou no mundo por um só homem (Rm 5.12). Quero perguntar-lhes: Qual foi o pecado que este homem cometeu? Foi fornicação, roubo, homicídio, incêndio criminoso? Não havia coisas semelhantes no Éden. Todas as coisas malignas, imundas ou terríveis que ocorrem no mundo hoje tiveram origem naquele incidente único envolvendo Adão. Que fez Adão? Adão não assassinou, não cometeu fornicação, ele não cometeu nenhum dos pecados malignos e sujos do mundo de hoje. O pecado que Adão cometeu foi simples. Adão achou que Deus estava escondendo algo dele. Ele pensou que se comesse do fruto daquela árvore seria como Deus. O pecado que Adão cometeu foi na verdade um problema que se desenvolveu entre ele e Deus. Deus esperava que Adão permanecesse em sua posição. Contudo, Adão não acreditou que aquilo que Deus lhe havia dado fosse proveitoso para ele. Ele começou a duvidar do amor de Deus. Um problema surgiu, então, em relação ao amor de Deus. Adão não cometeu muitos pecados nesse incidente. Ele não se envolveu em jogatinas, não olhou para coisas malignas nas ruas, não leu livros malignos. O pecado de Adão foi um problema que surgiu entre ele e Deus. Em decorrência disso todos os tipos de pecados se sucederam. Os pecados são segundo a sua espécie, e todos eles vêm um após outro. Entretanto, o primeiro pecado não é o que imaginamos. O primeiro pecado foi o único pecado no Antigo Testamento: o de não amar a Deus. Depois que se desenvolveu um problema entre o homem e Deus, os problemas entre os homens começaram a aumentar. No jardim do Éden, surgiu um problema dentro do homem; depois, fora do jardim do Éden, o irmão mais velho assassinou o mais jovem e todos os tipos de pecados se seguiram. Portanto, vemos que os pecados não começaram de maneira séria e suja, como poderíamos imaginar. A Bíblia mostra-nos que os pecados começaram com algo muito simples. Mas, na verdade, o primeiro pecado foi o mais sério — um problema entre o homem e Deus. Quando examinamos o Novo Testamento, vemos o Senhor Jesus dizendo muitas vezes que o que crê tem a vida eterna (Jo 3.15-16, 36; 5.24; 6.40, 47; 11.25). Provavelmente exista cinquenta ou mais passagens nas quais o Senhor afirma que quem crê tem a vida eterna. Quem serão, então, os que vão perecer? Serão os assassinos que irão para o inferno? Serão os fornicadores que irão perecer? São os que têm pensamentos imundos e conduta inadequada os que irão para a perdição? Não necessariamente. O Evangelho de João diz-nos repetidamente que os que não creem serão condenados (3.16, 18). Os que não creem sempre têm sobre eles a ira de Deus (3.36). O Senhor Jesus disse que o Espírito Santo veio para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8). Por que do pecado? Será porque você tem ido ao cinema ultimamente? Seria porque você tem feito apostas ultimamente? Seria porque você assassinou alguém ou provocou um incêndio? Não. “Do pecado, porque não creem em mim” (16.9). A maior dificuldade que encontramos hoje é que a imundícia nós consideramos pecado, mas não damos muita atenção à Palavra do Senhor para vermos o que Deus considera pecado. O Senhor disse que quem não crê já está condenado. O motivo de o homem cometer pecados é que ele não tem um relacionamento adequado com o Senhor Jesus. No Antigo Testamento, quando o homem deixou de ter um relacionamento adequado com Deus todos os tipos de pecados foram cometidos. No Novo Testamento, quando o homem deixa de ter um relacionamento adequado com o Senhor Jesus é que todos os tipos de pecados são cometidos. Aqui residem todos os problemas. Enquanto está atento a esta mensagem, você pode achar que apesar de eu ter provado que você é um pecador, na verdade, você não cometeu muitos pecados. Mas ninguém no mundo pode dizer que não cometeu o pecado de não amar a Deus. Tampouco existe alguém no mundo que possa dizer que não cometeu o pecado de não crer no Senhor. Por isso, ninguém pode dizer que não é um pecador.

Você se lembra de Lucas 15? Ali há um filho pródigo e seu pai. O filho pródigo deixou o pai e desperdiçou sua herança. Mas quando o filho pródigo tornou-se pródigo? Era ele pródigo quando tinha muito dinheiro em seu bolso e vivia prodigamente em uma terra distante? Ou tornou-se pródigo somente após ter gasto tudo o que possuía e começou a passar fome, desejando fartar-se da comida dos porcos? Na verdade, tornou-se um pródigo no dia em que deixou a casa de seu pai. Antes mesmo de gastar um centavo, ele já era um pródigo. Ele não se tornou um pródigo somente após ter gasto tudo o que tinha e estar alimentando os porcos e a si mesmo com alfarrobas e enquanto suas vestes estavam rasgadas e seu estômago vazio. Ele tornou-se um pródigo no momento em que deixou a casa de seu pai. Deixe-me fazer-lhe uma pergunta. Suponha que o filho mais novo não tivesse gasto nenhum dinheiro quando estava fora. Em vez disso suponha que ele tivesse ganho muito dinheiro, feito negócios, fortuna e se tornado até mesmo mais rico que seu pai. Teria sido ele ainda um pródigo? Sem dúvida que sim. Aos olhos de seu pai, ele ainda teria sido um pródigo.

Hoje há um conceito muito forte que deve ser desarraigado da nossa mente. Achamos que por falhar em fazer o bem, o homem torna-se um pecador. Isso está totalmente errado. Desde que um homem tenha-se apartado de Deus, ele é um pecador. Mesmo que seja um homem dez vezes mais moral que outros, tão logo esteja apartado de Deus, ele é um pecador. Você deve lembrar-se, portanto, de que como cristãos, podemos executar todos os serviços exteriores que há para serem feitos, e podemos cumprir todos os deveres exteriores que devam ser cumpridos; podemos orar como sempre fizemos, podemos ler a Bíblia e frequentar as reuniões da igreja como sempre fizemos; podemos fazer tudo o que sempre fizemos e podemos até fazer mais. Contudo, se existe um problema entre nós e Deus, estamos pecando. Quando o primeiro amor se vai, há um problema. Quem é pródigo? Não é simplesmente o que desperdiçou os bens de seu pai e, sim, o que deixou a casa de seu pai. No momento em que alguém deixa a casa de seu pai, torna-se um filho pródigo. Mesmo que faça fortuna lá fora, ainda é um filho pródigo. É claro que nunca haverá um pródigo que faça fortuna no mundo. Um pródigo jamais prosperará. Um pródigo sempre desperdiçará todo o dinheiro que tem. Deus permite que o “dinheiro” seja dissipado, de modo que o homem saiba que não é bom apartar-se de Deus e perceba, por fim, que é um pecador. Agora vemos como recebemos a qualificação de pecador e como nos tornamos pecadores. Tornamo-nos pecadores desenvolvendo um relacionamento com o pecado, e cometemos pecados desenvolvendo um relacionamento com os pecados. Há uma diferença entre os dois. Visto que nasci em Adão e estou sob o domínio do pecado, este tornou-se o princípio da minha vida e do meu viver e tornei-me um pecador. Por semelhante modo, os muitos pecados individuais fora de mim fizeram de mim alguém que comete pecados. Cometer pecados tem a ver com pecados e ser pecador tem a ver com pecado.

Os Outros Pecados


Isso não significa, no entanto, que os outros pecados não sejam importantes. Todos os pecados trazem consigo a punição. No Antigo Testamento, os que não amavam a Deus cometiam muitos outros pecados espontaneamente. No Novo Testamento, os que não creem no Senhor também cometem muitos pecados espontaneamente. Deixar de amar a Deus e recusar-se a crer no Senhor são os dois principais pecados. E desses dois pecados principais são produzidos todos os outros pecados, como a injustiça, atos malignos, ganância, perversidade, inveja, homicídio, contenda, engano, ódio, difamação, calúnia, blasfêmia, insolência, orgulho, arrogância, falsas acusações, desobediência aos pais, infidelidade, falta de afeição natural e de misericórdia, amor próprio, amor ao dinheiro, ingratidão, profanação, crueldade, desprezo ao bem, deslealdade com os outros, negligência, amar mais os prazeres do que a Deus, ter aparência de piedade sem ter sua realidade e, assim, por diante. Mas nenhum desses é o pecado mais sério que o homem já cometeu, embora diante de Deus ainda sejam pecados. Infelizmente, o homem não percebe que estes pecados são produzidos por meio de um pecado principal. Tanto os pecadores no mundo quanto os cristãos na igreja tentam tratar somente com esses pecados. É como se a remoção de todos esses pecados pudesse livrar-nos completamente do problema do pecado. Contudo, o homem não percebe que esses pecados ocupam apenas um lugar secundário na Bíblia. 

Imaginemos uma situação impossível: que aconteceria se alguém tivesse recebido graça suficiente para tratar de vez com todos os outros pecados? Se fosse uma pessoa vivendo no Antigo Testamento, perceberia que ainda havia o pecado de não amar a Deus. Embora estivesse livre de todos os outros pecados, sua consciência ainda a incomodaria. Se fosse uma pessoa vivendo no Novo Testamento, perceberia que ainda existe o pecado de não crer no Senhor. Embora não estivesse mais condenada pelos outros pecados, ela não se sentiria satisfeita no fundo do coração, porque o Espírito de Deus a convenceria do seu pecado de incredulidade. O homem perece devido à sua incredulidade. A incredulidade faz com que a punição por todos os outros pecados recaia sobre alguém que não crê. A razão imediata para a perdição do homem são seus muitos pecados. A razão última é o pecado da incredulidade do homem. Por causa disso, precisamos preocupar-nos com o pecado da incredulidade. Mas ao mesmo tempo não podemos negligenciar os outros pecados.

O Resultado do Pecado e dos Pecados


Quando o homem sucumbe ao poder do pecado, ele comete uma infinidade de pecados. E quando comete todos esses muitos pecados, traz sobre si a culpa ou a condenação pelos pecados, a sentença ou julgamento pelos pecados. Tão logo tenhamos pecado, aparece o problema da culpa. A culpa não implica meramente num ato de transgressão. É como um veredito na corte que declara alguém culpado ou não culpado. É uma descrição de ser alguém legalmente pecaminoso ou não. De acordo com a Bíblia, não somos responsáveis pelo pecado, e, sim, pelos nossos pecados. O nosso pecado não gera o problema da culpa diante de Deus e, sim, os pecados que cometemos geram esse problema. A Bíblia diz que se dissermos que não temos pecado, enganamos a nós mesmos (1 Jo 1.8). Contudo, ao mesmo tempo não se exige que assumamos a culpa pelo nosso pecado. Se confessarmos os nossos pecados, Deus os perdoará (1 Jo 1.9). Isso nos mostra que devemos assumir a responsabilidade dos nossos pecados. Pelo fato de haver os pecados, há a culpa. E quando uma pessoa é culpada há o problema da punição. Isso lhe traz inquietação na consciência e o sentimento de se estar separada de Deus. Os pecados nos fazem pessoas condenadas diante de Deus; eles nos deixam ficar esperando pela manifestação da ira de Deus. Somente quando alguém é perdoado é que sua consciência fica em paz e ela tem a ousadia de se achegar a Deus. Mas lembremo-nos de que mesmo que os muitos pecados sejam perdoados, se o problema do pecado continuar, os muitos pecados continuarão a surgir, e o problema da culpa continuará.
Eis por que, após Deus ter perdoado nossos pecados, Ele prosseguirá para libertar-nos do pecado.

A Compreensão do Homem Quanto ao Pecado e aos Pecados


Antes de sermos salvos não sentíamos o prejuízo do pecado. Tudo o que sentíamos era o prejuízo dos muitos pecados. Mesmo depois que nos tornamos cristãos, o que nos entristecia eram os nossos muitos pecados, não o pecado em si. Apesar de salvos agora, ainda podemos mentir ou perder a calma, ter ciúmes e ser orgulhosos, ou sermos inadvertidamente relaxados com os pertences alheios. Portanto, esses pecados individuais nos aborrecem. Que devemos fazer? Chegar diante de Deus e pedir perdão por esses itens um a um. Podemos dizer: “Ó Deus, eu agi mal hoje. Pequei novamente. Por favor, perdoe-me”. Se você fez doze coisas erradas ontem, sentiu-se triste interiormente. Mas se fez somente duas coisas erradas hoje, deve estar alegre interiormente, porque cometeu bem menos pecados hoje, e que há menos pecados em você agora. Contudo, deixe-me lembrar-lhe de que isso é apenas o estágio inicial de uma vida cristã. Nesta fase ficamos tristes somente pelos muitos pecados que cometemos. Após sermos cristãos por muitos anos, percebemos que o que nos entristece e aborrece não são os muitos pecados, mas o próprio pecado. Por fim, descobrimos que não são as coisas que fazemos que estão erradas, mas a nossa pessoa é que está errada. Não são as coisas que fazemos que são más; é a nossa própria pessoa que é má. Passamos a perceber que todas as coisas que temos feito são meras questões exteriores e que a verdadeira coisa má é a nossa pessoa. Há um princípio natural em nós que nos leva a pecar. As coisas exteriores podem ser de muitas categorias. Podemos chamá-las de orgulho, ciúmes, impureza ou de quaisquer outros nomes. Pode haver todos os tipos de pecados fora de nós. Mas dentro de nós há um único princípio, e é algo que anseia pelos pecados. Há uma inclinação dentro de nós em direção aos pecados. Existe algo em nosso ser que deseja estas coisas externas. Esse é o motivo por que a Bíblia faz com que esses pecados exteriores estejam no plural; eles são percebidos item por item. O orgulho é um, a mentira é outro, e a fornicação é ainda outro. O orgulho é diferente do assassinato, e a mentira é diferente da fornicação. Mas existe somente uma coisa que nos inclina a pecar, que nos controla e nos atrai. A razão de pecarmos é que há uma lei dentro de nós. Ela constantemente nos conduz aos pecados exteriores. Na Bíblia este pecado está no singular. Ele não denota nossa conduta; pelo contrário, denota nossa natureza. Este pecado está na nossa natureza e precisamos ser libertados dele. Uma vez que a salvação de Deus para o homem é completa, Ele necessita livrar-nos dos muitos pecados e também do pecado em si. Se Deus somente nos livrasse dos muitos pecados, sem nos livrar do pecado, então não se poderia dizer que a salvação de Deus é completa. Uma vez que haja duas coisas conosco, os pecados e o pecado, precisamos de uma salvação dupla. Por um lado, precisamos ser libertados dos muitos pecados. Por outro, precisamos ser libertados do pecado. Nas próximas páginas veremos como, no cumprimento de Sua salvação completa por meio da redenção de Cristo, Deus nos livra tanto dos pecados como do pecado. Posso esclarecer melhor com uma ilustração. Os muitos pecados são como os frutos de uma árvore. Eles existem individualmente, e uma árvore pode produzir algumas centenas deles. É assim com os pecados. O pecado, por outro lado, é como a própria árvore. O que nós, os pecadores, vemos com os olhos é o fruto. Percebemos que os frutos são maus, mas não vemos que a árvore é igualmente má. Os frutos são maus por que a árvore é má. É assim que Deus nos ensina a entender o problema do pecado. No início Ele nos mostra os pecados individuais. Por fim, Ele nos mostra a nossa própria pessoa. No início precisamos de perdão porque temos cometido pecados. Mas após um tempo compreendemos que  precisamos ser libertados porque somos pecadores.

Os Três Aspectos do Pecado


A Bíblia mostra-nos que existem três aspectos do pecado. Em outras palavras, o pecado está em três lugares: 

Primeiro, o pecado está diante de Deus;
Segundo, o pecado está na nossa consciência; 
Terceiro, o pecado está na nossa carne. 


A Bíblia sempre nos mostra o pecado de acordo com essas três linhas. É como um rio alimentado por três afluentes. Se quisermos conhecer o pecado de forma completa, devemos ter clareza sobre essas três linhas. Precisamos saber que nosso pecado está diante de Deus, na nossa consciência e na nossa carne. Se não tivermos clareza dessas três linhas e não formos capazes de fazer distinção entre elas, não teremos clareza acerca do problema do pecado. Se confundirmos essas três linhas, não perceberemos o ponto de vista de Deus concernente ao pecado e não compreenderemos como Deus é perfeito ao lidar com o pecado. Somente quando entendemos a necessidade é que reconhecemos o tratamento. Se não conhecermos a necessidade, presumiremos que o tratamento é desnecessário. Portanto, precisamos conhecer primeiramente o pecado para depois conhecer como a salvação de Deus é completa.

Deus é um Deus justo. Na administração do universo Ele é a mais elevada autoridade. Ele é o Governante do universo, e tem leis e ordenanças definitivas sobre os pecados. Ele recompensa o homem de acordo com o que o homem faz, e segundo a maneira como age. Deus lida com o mundo na Sua posição de Governante soberano. No tempo de Adão, embora ainda não houvesse este termo, havia a lei adâmica. Depois de Noé, embora não houvesse este termo, houve a lei de Noé. No tempo de Moisés, o termo lei começou a ser utilizado especificamente. Foi a partir daí que a lei foi especificamente colocada diante do homem. Quer estejamos falando da lei explícita depois de Moisés quer da lei implícita antes do tempo de Moisés, o veredito de Deus é que quem peca deve morrer. Ele exige que os que transgridem a lei sejam punidos com a morte eterna. Enquanto o homem está vivo, embora sua carne esteja vivendo, seu espírito está morrendo. No final, sua carne também morrerá. E na eternidade, seu espírito, alma e corpo perecerão. Se o homem não pecar, Deus não executará a punição. Contudo, se o homem pecar, Deus certamente executará a punição. Deus decretou ordenanças e leis acerca dos pecados do homem. Quando ocorrem pecados em nossa vida, primeiro há o registro deles diante de Deus. Deixe-me ilustrar com um exemplo. Recentemente as pessoas foram proibidas de estacionar seus carros onde bem quisessem. Há dois meses, você podia estacionar seu carro em qualquer lugar. Você podia até mesmo estacionar no lado contrário da rua e era livre para estacionar em qualquer sentido. Mas há dois meses o departamento de trânsito proibiu essa prática. Agora, enquanto dirige, você vê todos os carros estacionados no mesmo sentido. Há uma nova lei que diz que todos os carros devem ser estacionados no mesmo sentido do fluxo do trânsito. Se você não fizer isso, estará violando a lei. Se hoje, um irmão vier à reunião de carro e estacionar no sentido contrário, um oficial do departamento de polícia pode ver isso e registrar a infração no departamento de polícia. A infração é registrada não na rua onde ele estacionou, mas no departamento de polícia, mesmo que o irmão não esteja ciente do fato. A infração pode ter ocorrido na Rua Ha-Tung, mas o local onde a infração será registrada é o departamento de polícia do distrito de Tsin-An-Tsu. Os incidentes de pecado ocorrem no homem, mas assim que o homem peca, há o registro do pecado diante de Deus. Deus é o soberano Governante do mundo. Ele tem o controle de tudo. Se no decorrer de nossa vida transgredimos a lei, há um registro do nosso pecado diante de Deus. É por essa razão que no Antigo Testamento frequentemente se fala de pecar contra Jeová. A razão de um ato de pecado ser maligno e terrificante é que uma vez que um pecado é cometido, ele é registrado diante de Deus. Desde que Deus tenha dito que quem pecar deve morrer, Ele tem de executar Seu julgamento sobre os pecados. Não existe maneira de escapar, pois o registro do pecado já está lá. Em segundo lugar, o conhecimento do pecado está em nossa consciência. Embora haja um registro do pecado diante de Deus, enquanto você não tomar conhecimento dele, ainda será capaz de sorrir e regozijar-se em sua cadeira e agir como se nada houvesse ocorrido. Mas uma vez que tome conhecimento daquele pecado, o pecado que está diante de Deus entra na sua consciência. Inicialmente, esse pecado estava somente diante de Deus; agora ele é identificado na sua consciência. Que é a consciência? É uma “janela”. A luz de Deus resplandece em seu interior através da janela da sua consciência. Toda vez que a luz de Deus brilha em você, você se sente pouco à vontade e sabe que fez algo errado. Pode ser que haja alguém aqui que estacionou o carro no sentido contrário. Pode ser que não estivesse cônscio do seu erro e estivesse totalmente despreocupado. Mas uma vez que eu o mencionei, ele se sentirá inquieto interiormente. Minhas palavras moveram o registro de seu pecado do departamento de polícia para ele. Portanto, a consciência é alterada pelo conhecimento. Sem conhecimento, você ignora seus pecados; e desde que a consciência dentro de si não o moleste, você se sentirá em paz. Mas assim que tiver o conhecimento e começar a perceber o ponto de vista de Deus e da lei sobre você, sua consciência não cessará de incomodá-lo. É verdade que todos têm uma consciência? Certamente todos têm uma consciência. Contudo, algumas consciências estão obstruídas e a luz de Deus não pode entrar. Algumas consciências são como uma janela de cozinha que tem uma espessa camada de sujeira sobre ela. Por ela você pode ver a sombra de um homem movendo-se, mas não pode ver o homem claramente. Se a sua consciência não puder receber a luz de Deus, você estará despreocupado e alegre. Mas no momento em que ouvir o evangelho e vir seus próprios pecados, sua posição diante de Deus e o registro de seus pecados diante Dele, sua consciência terá um problema. Ela ficará incomodada; não estará em paz, mas irá condená-lo.

Você perguntará o que deve fazer para ser capaz de permanecer diante do Deus justo, e como ser justificado diante deste Deus tão justo. O que é surpreendente quanto à consciência é que, na pior das hipóteses, ela pode adormecer, mas ela nunca morrerá. Nunca pensemos que nossa consciência morreu. Ela nunca morrerá, mas adormecerá. Entretanto, quando a consciência de muitos desperta, eles acham que é tarde demais, que não têm mais a oportunidade de crer ou de ser salvos. Não pense que nossa consciência nos deixará em paz. Um dia ela nos acusará. Um dia ela falará. Muitos que pensavam assim, que faziam muitas coisas más, achavam que escapariam. Mas, quando a consciência deles finalmente acordou, eles foram capturados por ela.Que fazem as pessoas quando sua consciência desperta e elas percebem que pecaram? Tão logo a consciência as capture, elas tentam fazer o bem praticando boas obras. Qual é o propósito do homem ao tentar fazer boas obras? O seu propósito é subornar a consciência. A consciência mostra ao homem que ele pecou. Então, agora ele faz mais atos de caridade e faz mais boas obras para dizer à sua consciência que, apesar de ter feito tanta coisa errada, ele também faz todas essas coisas boas. Que significa fazer boas obras? Significa subornar a consciência quando esta começa a acusar, de modo a abrandar sua condenação. Essa é a forma de salvação inventada pelo homem. Mas lembre-se de que essa é a maneira errada. Onde reside esse erro básico? O erro encontra-se na nossa suposição de que o pecado existe apenas em nossa consciência. Esquecemo-nos de que o pecado também existe diante de Deus. Se o pecado existisse somente em nossa consciência, então necessitaríamos realizar, quando muito, dez boas obras para compensar cada erro nosso. Entretanto, o problema agora não é somente com a nossa consciência. O problema agora é o que está diante de Deus. Eu não posso ser absolvido do julgamento por uma infração de estacionamento proibido, apenas porque estaciono o carro corretamente uma centena de vezes. Pecado é algo diante de Deus. Não é somente algo em nossa consciência. Não somente precisamos lidar com o pecado em nossa consciência; também temos de lidar com o nosso pecado diante de Deus. Somente quando tivermos lidado com o registro do pecado diante de Deus, é que o pecado em nossa consciência poderá ser tratado. Não podemos lidar com o problema na consciência primeiro, pois esta poderá ser apaziguada pelo auto-engano. Mas lembre-se de que a consciência nunca morrerá.

Talvez você ainda não tenha visto a consciência em funcionamento. Frequentemente vejo pessoas atormentadas pela consciência. Quando a luz de Deus vem, a consciência fica incomodada. Se houvesse um buraco no chão, uma pessoa em tal condição se arrastaria para dentro dele. Ela faria qualquer coisa para apaziguar sua consciência. Ela até daria sua vida para redimir-se do pecado. Por que Judas se enforcou? Porque sua consciência não o deixava em paz. Ele havia traído Jesus e sua consciência não o deixava em paz. Por que Deus não precisa enviar muitos anjos para jogar os homens no lago de fogo como se jogassem pedras? Por que não há necessidade de Deus ter muitos anjos guardando o lago de fogo? Deus não teme uma revolta no inferno? É bem possível que para um homem que pecou, o inferno seja mais uma bênção do que uma maldição. Quando a consciência se levanta para condenar um homem, ela exige que o homem seja punido. A punição não é apenas uma exigência de Deus, mas também do homem. Antes de ver o que é o pecado, você tem medo da punição. Mas após ver o que é o pecado, você encara a punição como uma bênção. Você já viu criminosos ou assassinos no momento da execução? Antes de ver seu pecado, um homem pode alegrar-se em matar. Mas depois de ver seu pecado, ele se alegrará com sua própria execução. Portanto, o inferno não é somente um lugar de punição. É também um lugar de fuga. É o derradeiro lugar de refúgio. O pecado na consciência causa dor hoje e clama por punição na era vindoura. Portanto, para Deus nos salvar, Ele precisa lidar com nossos pecados diante Dele, e também precisa lidar com nossos pecados em nossa consciência.

Existe um terceiro aspecto do pecado. O pecado não está somente diante de Deus e na consciência do homem; ele está também na carne do homem. Isso é o que nos diz Romanos 7 e 8. Que é o pecado na carne? Vimos que por um lado há o registro dos pecados diante de Deus, e que, por outro, existe a condenação dos pecados na consciência do homem. Agora vemos o terceiro aspecto: o poder do pecado e as atividades do pecado na carne do homem. O pecado tem seu ofício. O pecado está chefiando. O pecado está na carne do homem como chefe. Lembre-se de que o pecado é o chefe chefiando na carne. Que quero dizer com isso? Os pecados diante de Deus e na própria consciência do homem são objetivos. Para mim, o registro dos pecados diante de Deus e a condenação dos pecados em minha consciência são questões do meu sentimento com relação ao pecado. Mas o pecado na carne é subjetivo. Isso significa que o pecado que está habitando em mim tem o poder de forçar-me a pecar; ele tem o poder de incitar-me e levantar-me para pecar. Isso é o que a Bíblia chama de pecado na carne.

Por exemplo, pode haver um irmão que ganha cem dólares por mês, mas gasta cento e cinquenta. Ele gosta de pedir dinheiro emprestado. É a sua disposição. Se ele não pede emprestado, suas mãos começam a coçar, e até sua cabeça e corpo coçarão. Depois de gastar todo seu salário, ele precisa pedir algum dinheiro emprestado e gastá-lo para sentir-se bem. Nele podemos ver os três aspectos: primeiro, ele tem muitos credores, que têm os registros de seus débitos; segundo, a menos que ele não tenha conhecimento das consequências de se pedir emprestado (neste caso ele ainda continuará tranquilamente pedindo emprestado) ele perceberá que está em perigo e assim ficará preocupado não somente com o registro da dívida perante seus credores, como também com a sensação desagradável que sente em sua consciência; além disso, há o pecado em sua carne. Ele sabe que é errado pedir emprestado, contudo sente-se inquieto a menos que continue a fazê-lo. Algo o está induzindo e incitando, dizendo-lhe que há meses não pede dinheiro emprestado e que deveria fazê-lo uma vez mais. Que é isso? Isso é o pecado na sua carne. Por um lado, o pecado é um fato para ele; esse pecado resulta em um registro do pecado diante de Deus e na sua consciência. Por outro lado, o pecado é um poder na sua carne; ele o incita e compele, até força e empurra-o para pecar. Se nunca resistiu ao pecado, você ainda não sentiu o poder dele. Mas se tentar resistir ao pecado, sentirá o poder dele. Você não sente a força da correnteza de um rio quando se deixa levar por ela. Mas se tentar ir contra a correnteza, sentirá a força dela. A maioria dos rios na China correm do ocidente para o oriente; assim, se você tentar viajar do oriente para o ocidente, sentirá quão poderosos são os rios da China. Os que mais conhecem o poder do pecado são também os mais santos, pois são os que tentam se opor e permanecer contra o pecado. Se você se une ao pecado e segue seu curso, certamente não conhecerá sua força. O pecado na sua carne está o tempo todo incitando e compelindo-o a pecar, mas somente quando você desperta para lidar com o pecado é que perceberá que é um pecador perdido e destinado a perecer. Só então você saberá que está sem recursos e que não tem solução para o problema do pecado em sua carne, sem mencionar a presença dos pecados na sua consciência e o registro dos pecados diante de Deus. Portanto, precisamos ver que quando Deus nos salvou, Ele tratou com todos os três aspectos. O pecado interior é tratado pela cruz e pela crucificação do velho homem. Já mencionamos isso muitas vezes, por isso não iremos repeti-lo agora. Nosso estudo da Bíblia desta vez abrange a maneira de Deus lidar com nossos pecados diante Dele e a condenação dos pecados em nossa consciência. De início, mencionei o problema do pecado e dos pecados. Os pecados referem-se aos atos pecaminosos diante de Deus e em nossa consciência. Toda vez que a Bíblia menciona pecados, ela se refere aos atos pecaminosos diante de Deus e em nossa consciência. Mas toda vez que a Bíblia menciona o pecado na carne, ela usa a palavra pecado, e não pecados. Se você lembrar-se disso não terá problemas mais tarde.

Agradecemos a Deus porque a Sua salvação é completa. Ele tratou com nossos pecados diante Dele. Ele também julgou nossos pecados na pessoa do Senhor Jesus. Além disso, o Espírito Santo aplicou a obra de Cristo a nós, para que pudéssemos receber o Senhor Jesus e ter paz em nossa consciência. Uma vez que a consciência é purificada, não há mais percepção dos pecados. Muitas vezes ouvi cristãos dizerem que o sangue do Senhor Jesus purifica-nos  de nossos pecados. Quando pergunto se sentem paz e alegria, eles dizem que às vezes ainda sentem a presença de seus pecados. Isso é inconcebível. Estou alegre porque quando a consciência é purificada, não mais precisamos estar conscientes dos pecados. Se nossa consciência ainda está consciente dos pecados é porque ainda há registro de pecados diante de Deus. Mas se os pecados se foram de diante de Deus, como ainda podemos estar conscientes deles? Uma vez que os pecados diante de Deus foram tratados, os pecados em nossa consciência também devem ter sido tratados. Assim sendo, não precisamos mais estar conscientes de nossos pecados.

O Amor, a Graça e a Misericórdia de Deus

Neste livro consideraremos o amor e a graça de Deus, e também trataremos brevemente da questão da misericórdia de Deus. Por várias vezes o Antigo Testamento diz que a salvação pertence a Jeová. Isso indica que a salvação não tem origem em nós. Uma vez que o pecado é cometido pelo homem, poderíamos naturalmente pensar que a salvação também é originária do homem. Todavia nem sequer o pensamento da nossa salvação proveio de nós; pelo contrário, originou-se em Deus. Embora o homem tenha pecado e esteja destinado à perdição, não é sua intenção buscar a salvação. Embora tenha pecado e deva perecer, foi Deus quem começou a pensar em salvá-lo. Portanto, o Antigo Testamento menciona repetidas vezes que a salvação pertence a Jeová. O motivo disso é que Deus é quem deseja salvar-nos. O homem nunca quis salvar-se. Por que a salvação pertence a Jeová? Por que Deus está interessado no homem? De um modo genérico, podemos dizer que é porque Deus é amor. Mas, mais especificamente, é porque Deus ama o homem. Se Deus não amasse o homem, Ele não precisaria salvá-lo. A salvação se cumpriu porque, por um lado, o homem pecou e, por outro, Deus amou. Se o homem não tivesse pecado, não haveria lugar nem maneira de o amor de Deus ser manifestado. E se o homem tivesse pecado, mas Deus não tivesse amado, nada tampouco teria sido concretizado. A salvação é cumprida e o evangelho é pregado porque, por um lado, Deus amou e, por outro, o homem pecou.

O pecado do homem nos mostra a necessidade do homem. O amor de Deus nos mostra a provisão de Deus. Se houver somente a necessidade sem a provisão, nada pode ser feito. Mas se existe a provisão sem a necessidade, aquela será desperdiçada. A salvação é cumprida e o evangelho é pregado devido aos dois maiores fatos do universo. O primeiro é que o homem pecou e o segundo é que Deus ama o homem. Estes dois fatos são imutáveis. São dois fatos enfatizados na Bíblia. Se você derrubar qualquer uma das extremidades, a salvação se perderá. Não há necessidade de que ambas as extremidades sejam derrubadas. Uma vez que uma delas se vai, não haverá possibilidade de a salvação ser realizada. Deus tem o amor e o homem tem o pecado. Por haver estes dois fatos, existe a salvação e existe o evangelho.

O Amor de Deus


A Bíblia nunca deixa de chamar a atenção ao amor de Deus. Desta vez, em nosso estudo da Bíblia, trataremos sobre a verdade do evangelho apenas de maneira resumida. Mencionaremos muitas coisas, mas não as consideraremos em detalhes. Nesta noite não poderei tratar de cada aspecto do amor de Deus encontrado na Bíblia. Posso mencionar apenas brevemente essa questão. Devemos considerar três aspectos do amor de Deus. Primeiro, Deus é amor. Segundo, Deus ama o homem. E, terceiro, a expressão do amor de Deus está na morte de Cristo.

Deus é Amor

Vejamos o primeiro ponto: Deus é amor. Isso está registrado em 1 João 4.16. Aqui não diz que Deus ama. Tampouco diz que Deus poderia amar ou que Deus pode amar ou que Deus amou ou amará. Pelo contrário, diz que Deus é amor. Que significa dizer que Deus é amor? Significa que o próprio Deus, Sua natureza e Seu ser, é amor. Se pudéssemos dizer que Deus tem uma substância, então a substância de Deus é amor. A maior revelação da Bíblia é que Deus é amor. Essa é a revelação de que o homem mais necessita. O homem tem muitas suposições e teorias sobre Deus. Ponderamos todo o tempo sobre que tipo de Deus nosso Deus é, que tipo de coração nosso Deus tem, quais as Suas intenções com relação ao homem, a que Ele é semelhante. Você pode perguntar a alguém sobre a ideia dele a respeito de Deus, e ele lhe dará o seu conceito. Ele achará que Deus é desse ou daquele tipo de Deus. Todos os ídolos no mundo e todas as imagens feitas pelo homem são produto da imaginação do homem, que acha que Deus é um Deus aterrador ou um Deus severo. Ele concebe Deus desta ou daquela maneira. O homem está sempre tentando analisar e investigar a que Deus se assemelha. A fim de corrigir as diferentes suposições que o homem tem sobre Deus, Ele se manifesta na luz do evangelho e mostra ao homem que Ele não é um Deus inacessível ou inatingível. Afinal, Deus é o quê? Deus é amor. Esta afirmação não estará clara para você a menos que eu dê uma ilustração. Suponha que exista aqui uma pessoa paciente. A paciência está ali, aconteça o que acontecer, não importando quão difíceis ou quão más sejam as condições. Não podemos dizer que tal pessoa tenha agido pacientemente; o advérbio pacientemente não pode ser usado para descrevê-la. Nem podemos dizer que ela seja paciente, usando um adjetivo. Devemos dizer que ela é a própria paciência. Talvez não nos refiramos a ela pelo seu nome. Em vez disso, às ocultas, poderíamos dizer que a Paciência chegou ou que a Paciência falou. Ao dizermos que Deus é amor, queremos dizer que amor é a natureza de Deus; Ele é amor de dentro para fora. Portanto, não diríamos que Deus é amoroso, usando um adjetivo ou que Deus ama, usando um verbo. Pelo contrário, diríamos que Deus é amor, aplicando o substantivo a Ele.

Em nosso amigo Paciência não conseguimos encontrar precipitação; ele é a própria paciência; não é apenas paciente. Ele é simplesmente um amontoado de paciência. Você acha que nessa pessoa poderia haver precipitação? Poderia ele perder a calma? Poderia ele trocar palavras ásperas com os outros? É impossível que ele tome tais atitudes, pois em sua natureza não existe o elemento para fazê-las. Não há algo como mau humor em sua natureza. Não há algo como precipitação em sua natureza. Ele é simplesmente a paciência. O mesmo ocorre com Deus, que é amor. Deus como amor é a maior revelação na Bíblia. Para todo cristão, a maior coisa a saber na Bíblia é que Deus é amor. Para Deus é impossível odiar. Se Deus odiar, não apenas terá um conflito com quem quer que Ele odeie, mas também terá um conflito Consigo mesmo. Se Deus odiasse qualquer um de nós aqui hoje, Ele não teria problema só com essa pessoa; Ele teria problema Consigo mesmo. Deus teria de criar um problema Consigo mesmo antes que pudesse odiar ou fazer algo de maneira que não fosse em amor. Deus é amor. Embora essas três palavras sejam muito simples, elas nos dão a maior revelação. A natureza de Deus, a essência da vida de Deus, é simplesmente o amor. Ele não pode fazer nada de outra maneira. Ele ama e, ao mesmo tempo, Ele é amor.

Se você é um pecador, pode estar querendo saber o que deve fazer antes que Deus venha amá-lo. Muitas pessoas não conhecem o pensamento de Deus para com elas. Elas desconhecem o que Deus está pensando ou que intenções Ele tem. Muitos acham que deveriam fazer algo ou sofrer ou ser muito conscienciosos antes que pudessem agradar a Deus. Entretanto, somente os que estão em trevas e que não conhecem a Deus pensam dessa forma. Se não houvesse evangelho, você seria capaz de pensar assim. Mas, agora que o evangelho está aqui, você não pode mais pensar dessa maneira, pois o evangelho diz-nos que Deus é amor. Nós, seres humanos, somos apenas ódio. É extremamente difícil amarmos. Para Deus é igualmente difícil odiar. Você pode achar que é difícil amar e que não sabe como amar os outros. Mas é impossível Deus odiar. Você não tem jeito para amar e Deus não tem jeito para odiar. Deus é amor, e odiar para Ele é agir contrariamente à Sua natureza, o que é impossível que Ele faça.

Deus Amou o Mundo de Tal Maneira


Isso não é tudo. O próprio Deus é amor, mas quando esse amor é aplicado a nós, descobrimos que “Deus amou ao mundo de tal maneira” (Jo 3.16). “Deus é amor” fala da Sua natureza, e “Deus amou ao mundo de tal maneira” fala da Sua ação. O próprio Deus é amor; portanto, aquilo que provém Dele deve ser amor. Onde há amor, deve também haver o objeto daquele amor. Após mostrar-nos que Ele é amor, Deus imediatamente nos mostra que Ele ama ao mundo. Deus não somente nos amou, mas também enviou Seu amor. Deus não podia deixar de enviar Seu amor. Ele não podia deixar de amar ao mundo. Aleluia! O maior problema que o mundo tem é pensar que Deus sempre nutre más intenções contra o homem. O homem acha que Deus faz exigências severas, e que é rigoroso e mesquinho. Uma vez que o homem tem dúvidas quanto ao amor de Deus, ele também duvida que Deus amou ao mundo. Contudo, uma vez que Deus é amor, Ele ama ao mundo. Se a Sua natureza é amor, Ele não pode portar-se em relação ao homem de nenhum outro modo a não ser em amor. Ele sentir-se-ia desconfortável se não amasse. Aleluia! Isso é um fato! Deus é amor. Ele não pode fazer nada a não ser amar. Deus é amor, e o que se segue espontaneamente é que Deus amou ao mundo.

Podemos culpar-nos por nossos pecados, por sermos suscetíveis à tentação de Satanás, por sermos enredados pelo pecado. Mas não podemos duvidar do próprio Deus. Você pode responsabilizar-se por cometer um pecado, por ter falhado, por sucumbir à tentação. Contudo, se duvida do coração de Deus para você, não estará agindo como um cristão, pois duvidar do coração de Deus para você é contradizer a revelação do evangelho. Não posso afirmar que você jamais fracassará novamente. Tampouco posso afirmar que não mais pecará. Talvez você fracasse e peque novamente. Mas, por favor, lembre-se de que você falhar ou pecar é uma coisa, mas o coração de Deus para você é outra. Você nunca deve duvidar do sentimento de Deus simplesmente porque falhou ou pecou. Embora possa pecar, falhar, Deus não muda Sua atitude com você, pois Deus é amor e Ele ama ao mundo. Isso é um fato imutável na Bíblia. Do nosso lado mudamos e transformamo-nos. Mas pelo lado do amor de Deus, não há mudança. Muitas vezes o seu amor pode mudar ou tornar-se frio. Contudo, isso não significa que o amor de Deus é afetado. Se Deus é amor, não importa como você O teste, o que provém Dele é invariavelmente amor. Se houver um pedaço de madeira aqui, não importa como o golpeie, você sempre obterá o som de madeira. Se golpeá-lo com um livro, ele lhe dará o som de madeira. Se golpeá-lo com a palma da mão, ainda assim ele dará a você o som de madeira. Se golpeá-lo com outro pedaço de madeira, ele novamente lhe dará o som de madeira. Se Deus é amor, não importa como você O “golpeie” — rejeitando-O, negando-O ou deixando-O de lado — Ele ainda é amor. Uma coisa é certa: Deus não pode negar a Si mesmo; Ele não pode contradizer-se. Uma vez que somos o próprio ódio, é absolutamente natural que odiemos. E uma vez que Deus é amor, é absolutamente natural que Deus ame. Ele não pode mudar a própria natureza. E uma vez que a natureza de Deus não pode ser mudada, Sua atitude com você não pode ser mudada. Dessa forma vemos que Deus ama ao mundo.

A Expressão do Amor de Deus


O assunto todo termina com Deus amando ao mundo? “Deus é amor” fala da natureza de Deus; fala do próprio Deus. “Deus amou ao mundo de tal maneira” fala da ação de Deus. Mas o amor de Deus para conosco tem uma expressão. Que é essa expressão do Seu amor? Romanos 5.8 diz: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”. O amor de Deus tem uma expressão. Se amo uma pessoa e simplesmente lhe digo que a amo, esse amor ainda não está completo. A menos que o amor seja expresso, ele não é completo. Não existe amor no mundo que não tenha uma expressão. Se há amor, ele deve ser expresso. Se um amor não é expresso, não pode ser considerado como amor. O amor é muitíssimo prático. Ele não é vão e tampouco um simples assunto verbal. O amor é expresso por meio de ações. Se você põe uma bola sobre uma superfície desnivelada, pode estar certo que algo irá ocorrer; ela terminará por rolar abaixo. O mesmo ocorre com o amor. Você pode estar certo de que terá uma expressão. Já que Deus ama ao mundo, Ele tem de estar preocupado com a necessidade do homem. Portanto, Ele deve fazer algo pelo homem. Somos pecadores. Não temos outra escolha senão ir para o inferno, e não há nenhum outro lugar para estarmos senão no lugar de perdição. Mas Deus nos amou, e Ele não estará satisfeito até que nos tenha salvado. Quando Deus diz: “Eu amo você”, Seu amor se aproximará para carregar todos os nossos fardos e remover todos os nossos problemas. Já que Deus nos ama, Ele deve prover uma solução ao problema de pecados; Ele deve prover a salvação que nós pecadores precisamos. Por essa razão, a Bíblia mostrou-nos este grandioso fato: O amor de Deus é manifestado na morte de Cristo. Uma vez que somos pecadores e incapazes de salvar a nós mesmos, Cristo veio morrer de modo a solucionar o problema do pecado por nós. Seu amor cumpriu algo substancial, e isso é posto diante de nós. Agora podemos ver Seu amor de uma forma substancial. Seu amor já não é meramente um sentimento. Ele tornou-se um ato totalmente manifestado. Nessa grande questão do amor de Deus, devemos atentar para três coisas: a natureza do amor de Deus, a ação do amor de Deus e a expressão do amor de Deus. Agradecemos e louvamos a Deus! Seu amor não é somente um sentimento em Seu interior; é também uma ação e até mesmo uma expressão e manifestação. Seu amor fê-Lo realizar o que não podemos por nós mesmos. Uma vez que Ele é amor e amou ao mundo, a salvação foi produzida. Uma vez que o homem tem pecado e uma vez que Deus é amor, muitas coisas acontecem. Se você não é pobre, não terá necessidade de mim. Por outro lado, se eu não o amo, mesmo que você seja extremamente pobre, eu não me preocuparei. A situação hoje é que o homem pecou e Deus amou; portanto, coisas começam a ocorrer. Aleluia! muita coisa está acontecendo porque o homem pecou e Deus amou. Quando você reúne as duas coisas, o evangelho vem à existência.

A Graça de Deus


Contudo, irmãos e irmãs, o amor de Deus não para aqui. Uma vez que Deus é amor, a questão da graça surge. É verdade que o amor é precioso, mas o amor deve ter sua expressão. Quando o amor é expresso, torna-se graça. Graça é amor expresso. O amor é algo em Deus. Mas quando esse amor vem até você, torna-se graça. Se Deus for somente amor, Ele é muito abstrato. Mas agradecemos ao Senhor porque embora o amor seja algo abstrato, com Deus ele é imediatamente transformado em algo concreto. O amor interior é abstrato, mas a graça exterior deu-lhe substância. Por exemplo, você pode ter pena de um indigente, pode amá-lo e ter simpatia por ele. Mas se não lhe der comida e roupa, o máximo que você poderia dizer é que o ama. Não poderia dizer que você é graça para ele. Quando poderá dizer que tem graça para com ele? Quando lhe der um prato de arroz ou uma peça de roupa ou algum dinheiro, e quando a comida, roupa ou dinheiro o alcançar, seu amor torna-se graça. A diferença entre amor e graça reside no fato de que o amor é interior e graça é exterior. Amor é principalmente um sentimento interno, enquanto graça é um ato externo. Quando o amor é transformado em Ação, torna-se graça. Quando a graça volta a ser sentimento, ela é amor. Sem o amor, a graça não pode vir à existência. A graça existe porque o amor existe. A definição de graça não é apenas um ato de amor. Devemos acrescentar algo mais a isso. Graça é um ato de amor para com o necessitado. Deus ama ao Seu Filho unigênito. Mas não existe o elemento graça nesse amor. Ninguém pode dizer que Deus trata Seu Filho com graça. Deus também ama os anjos, mas isso tampouco pode ser considerado como graça. Por que não é graça o amor do Pai para com o Filho e o amor de Deus para com os anjos? A razão é que não há perdas ou faltas envolvidas. Há somente amor; não existe a ideia de graça. Somente quando há perdas e faltas, quando não existe maneira para resolvermos nossos problemas por nós mesmos, é que o amor torna-se real como graça. Visto que somos pecadores, somos os que têm problemas, e não temos como solucioná-los. Mas Deus é amor e Seu amor é manifestado a nós como graça.

Portanto, quando o amor flui no mesmo nível, ele é simplesmente amor. Mas quando ele flui para baixo, é graça. Por isso, os que nunca estiveram em uma situação miserável jamais podem receber graça. O amor também pode fluir para um nível mais elevado. Mas quando isso ocorre, não é graça. O amor também pode fluir entre níveis iguais. Quando isso ocorre, também não é graça. Somente quando o amor flui em direção inferior é graça. Se quer estar acima de Deus ou quer ser igual a Deus, você nunca verá o dia da graça. Somente os que estão abaixo de Deus podem ver o dia da graça. Isso é o que a Bíblia nos mostra acerca da diferença entre amor e graça. Embora a Bíblia mencione o amor do Senhor Jesus, ela dá maior atenção à graça do Senhor Jesus. A Bíblia também fala da graça de Deus, mas ela dá maior atenção ao amor de Deus. Não estou dizendo que não existe o amor do Senhor Jesus e a graça de Deus na Bíblia. Mas a ênfase na Bíblia está no amor de Deus e na graça do Senhor Jesus. Como foi que Paulo saudou a igreja em Corinto? “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2 Co 13.13). Você não pode mudar a sentença para ler: “A graça de Deus, e o amor do Senhor Jesus Cristo, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós”. Você não pode fazer isso, porque a ênfase da Bíblia está no amor de Deus e na graça do Senhor Jesus. Por que é assim? Porque foi o Senhor Jesus quem cumpriu a salvação. Foi Ele quem concretizou o amor e efetuou a graça. O amor de Deus tornou-se graça por meio da obra do Senhor Jesus. Portanto, a Bíblia diz-nos que a lei foi dada por intermédio de Moisés, mas a graça veio por meio de Jesus Cristo (Jo 1.17).

A Misericórdia de Deus


Agradecemos ao Senhor porque no amor de Deus não há apenas a graça, há também outro grande item: a misericórdia de Deus. A Bíblia também dá muita ênfase à misericórdia. Mas temos de admitir que misericórdia é mais precisamente uma palavra do Antigo Testamento, da mesma forma que graça é do Novo Testamento. Isso não significa que você não encontrará misericórdia no Novo Testamento. Mas se tiver uma referência ou uma concordância bíblica, você encontrará misericórdia muito mais frequentemente no Antigo Testamento. Misericórdia é algo do Antigo Testamento, assim como graça é algo do Novo Testamento.

O canal para o amor fluir é ou a graça ou a misericórdia. Misericórdia é para questões negativas, enquanto graça é para questões positivas. Misericórdia está relacionada com a condição presente, e graça está relacionada com a condição futura.  Presente, e graça fala da condição radiante em que você será salvo no futuro. O sentimento que Deus tem para conosco quando somos pecadores é misericórdia. A obra que Deus realiza em nós para fazer-nos Seus filhos é graça. A misericórdia surge da nossa condição existente; graça surge da obra que iremos receber. Não sei se você tem clareza disso. Suponha que haja uma pessoa necessitada aqui conosco. Você a ama e tem pena dela. Você se sente triste pela sua situação difícil. Se não a amasse, não sofreria nem se preocuparia com ela. Mas fazendo assim você está tendo misericórdia dela. Contudo, essa misericórdia é negativa. Sua misericórdia está na condolência pela condição  atual dessa pessoa. Mas quando a graça é efetivada? Ela é efetivada na hora em que essa pessoa é resgatada da sua condição pobre para uma posição nova, para uma esfera nova e para um ambiente novo. Somente então seu amor por ela torna-se graça. É por isso que digo que misericórdia tem sentido negativo e é para hoje, enquanto graça tem sentido positivo e é para o futuro. O futuro de que estou falando é o futuro nesta era, e não o futuro na era vindoura. Não quero dizer que o Antigo Testamento fale somente sobre misericórdia. O Antigo Testamento também fala sobre graça. Não é verdade que não precisamos mais de misericórdia. Não, nós ainda precisamos da misericórdia. Deus foi misericordioso na época do Antigo Testamento, porque Sua obra ainda não estava completa naquela época. Portanto, o Antigo Testamento estava repleto de misericórdia. Deus mostrou misericórdia por quatro mil anos. Mas hoje, na era do Novo Testamento, temos graça porque o Senhor Jesus cumpriu Sua obra. Ele veio para carregar nossos pecados. Portanto, o que recebemos hoje não é misericórdia, mas graça. Aleluia! Hoje não é dia da misericórdia, mas da graça.

Se houvesse apenas misericórdia, poderíamos ter somente esperança. No Antigo Testamento, havia apenas esperança; portanto, o Antigo Testamento fala de misericórdia. Mas agradecemos ao Senhor, hoje obtivemos o que era esperado. Não há necessidade de esperarmos mais.

A misericórdia vem do amor e resulta em graça. Se a misericórdia não viesse do amor, ela não resultaria em graça. Uma vez que ela se origina no amor, ela chega à graça. Nos Evangelhos há o relato de um cego recebendo visão (Mc 10.46-52). Ao encontrar o Senhor, ele não disse: “Senhor, ama-me!” ou “Senhor, sê benévolo para comigo!” Pelo contrário, ele disse: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (v. 48). Ele pediu misericórdia por causa da sua situação presente, da sua dificuldade presente e da sua dor presente. Ele sabia que se o Senhor Jesus se compadecesse dele, Ele não se limitaria a mostrar-lhe misericórdia; Ele certamente faria algo. No Novo Testamento, há também alguns lugares em que a misericórdia é mencionada. Na maioria dos casos, a misericórdia é mencionada em referência à situação no momento. Alguém poderia perguntar: “Visto que o amor de Deus é tão precioso, por que precisa existir misericórdia? O amor é muito bom como fonte, e a graça é também muito boa como resultado. Por que, então, é necessária a misericórdia?” Porque o homem é necessitado. Não temos coragem de ir a Deus e pedir por Seu amor. Somos da carne e não conhecemos Deus suficientemente. Embora Deus se tenha revelado a nós na luz, ainda não ousamos achegar-nos a Ele. Sentimos que é impossível ir a Deus e pedir amor. Ao mesmo tempo, não possuímos fé suficiente para ir a Ele e pedir graça, dizendo-Lhe que precisamos de tal e tal bênção. Não temos como pedir o amor de Deus e não temos fé suficiente para pedir a graça de Deus. Mas agradecemos ao Senhor. Não temos apenas amor e graça; também temos Misericórdia. O amor é manifestado nesta misericórdia. Por Deus ser misericordioso, se você ouve o evangelho e ainda é incapaz de crer, você pode clamar: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” Você pode ter medo de pedir outras coisas, mas não precisa ter medo de pedir essa única coisa. Não ouso pedir ao Senhor que seja benévolo comigo. Não ouso pedir-Lhe que me ame. Mas posso pedir-Lhe que seja misericordioso para comigo. Por outras coisas não ousamos pedir. Mas podemos ser ousados para pedir misericórdia. Deus se alegra com isso. Deus colocou Seu amor entre nós para que tivéssemos o direito de vir a Ele. Contudo, se houvesse apenas amor, ainda nos sentiríamos atemorizados de vir a Deus. Uma vez que Deus também é misericordioso, somos capazes de vir a Ele. Não ouso pedir a Deus que me ame nem ouso pedir-Lhe que mostre graça. Mas posso pedir misericórdia a Deus. Posso ao menos pedir isso. No ano passado conheci um homem que estava muito velho e sofria de séria enfermidade. Ao ver-me, chorou. Ele contou-me que não estava triste com Deus, mas sem dúvida estava com muita dor. Eu disse-lhe que deveria pedir a Deus para amá-lo e ser benévolo para com ele. Ele disse que não poderia fazer isso. Quando perguntei-lhe por que não, ele respondeu que por sessenta anos havia vivido para si mesmo e não para Deus. Agora que estava morrendo, ele se envergonharia de pedir que Deus o amasse e fosse bondoso para com ele. Se não tivesse estado tão distante de Deus, se tivesse se aproximado mais de Deus nas últimas poucas décadas, se tivesse desenvolvido certa afeição por Deus, teria sido mais fácil para ele pedir amor e graça. Mas por ter estado longe de Deus toda sua vida, como podia pedir a Deus que o amasse enquanto ele jazia em seu leito de morte? Não importando minha persuasão, ele não acreditaria em minhas palavras. Eu disse-lhe que Deus podia conceder-lhe graça, que Ele podia ser benévolo com ele e podia amá-lo. Mas ele simplesmente não conseguia crer nisso. Fui vê-lo muitas vezes, mas não pude convencê-lo. Então orei: “Ó Deus, eis aqui um homem que não crê em Ti, tampouco crê no Teu amor. Não tenho como ajudá-lo. Por favor, conceda-lhe um caminho na sua última hora”. Mais tarde senti que não deveria falar-lhe sobre graça nem sobre amor, mas somente sobre misericórdia. Com alegria fui até ele de novo e lhe disse: “Você deve esquecer-se de tudo agora. Esqueça-se do amor de Deus ou da graça de Deus. Você deve ir a Deus e dizer-Lhe: ‘Deus! estou sofrendo. Não tenho como prosseguir. Tem misericórdia de mim’”. Imediatamente ele concordou. E tão logo concordou, sua fé veio e ele orou: “Deus, agradeço-Te porque Tu és um Deus misericordioso. Estou fraco e sofrendo. Tem misericórdia de mim”. Aqui você vê uma pessoa sendo trazida à presença do Senhor. Ele percebeu sua situação carente e pediu misericórdia. Na sua presente condição, ele pediu a Deus que fosse misericordioso para com ele.

Agora vejamos alguns versículos. Efésios 2.4-5 diz: “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos”. Paulo disse que Deus era rico em misericórdia por causa de algo. Esse algo é Seu grande amor com que nos amou. Sem amor não haveria misericórdia. Em que situação foi Ele misericordioso para conosco? Ele foi misericordioso para conosco quando estávamos mortos em nossos delitos. Aquilo teve a ver com nossa infeliz situação presente. Por estarmos mortos em pecados, Ele teve misericórdia de nós. Ele teve misericórdia de nós baseado em Seu amor por nós. Que acontece após a misericórdia? O versículo 8 prossegue dizendo-nos que Ele nos salvou pela graça. Portanto, a misericórdia foi-nos mostrada porque estávamos em uma situação de mortos em nossos delitos; então, a graça foi-nos dada para nossa salvação, indicando que recebemos uma nova posição e entramos numa nova esfera. Agradecemos a Deus porque não há somente amor e graça, mas também grandiosa misericórdia.

Em 1 Timóteo 1.13 Paulo diz: “A mim que noutro tempo era blasfemo e perseguidor e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade”. Paulo explica aqui como obteve misericórdia. O fato de obter misericórdia tinha muito a ver com a história de sua vida. Tinha a ver com o fato de ser ele um blasfemo, um perseguidor e uma pessoa insolente. Antes de ser salvo, ele estava na condição de blasfemo, perseguidor, insolente, ignorante e incrédulo. Enquanto estava em tal condição, Deus teve misericórdia dele. Assim, você pode ver que misericórdia tem a ver com as situações duras e difíceis do nosso passado. Graça, por outro lado, tem a ver com os aspectos positivos relacionados conosco. Os dois devem ser distintos e não devem ser considerados iguais. Tito 3.5 diz: “Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou”. Não há justiça em nós. Enquanto estávamos sem justiça e numa situação de sofrimento e sem esperança, Deus teve misericórdia de nós. Graças ao Senhor que existe a misericórdia! Vimos anteriormente que a misericórdia origina-se no amor e termina na graça. Quando a misericórdia se estende, somos salvos. Ele teve misericórdia de nós na condição em que estávamos, e como resultado fomos salvos. Romanos 11.32 diz: “Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos”. Por que Deus encerrou a todos na desobediência? Foi para que pudesse mostrar misericórdia a todos. Deus permitiu que todos se tornassem desobedientes e encerrou a todos na desobediência, não com o propósito de fazê-los desobedientes, mas a fim de mostrar misericórdia para com todos. Após ter mostrado misericórdia, Seu próximo passo foi salvá-los. Portanto, a misericórdia tem a ver com sua condição, não a condição após você ter-se tornado um cristão, mas com a sua condição antes de ser salvo. Porém, graças a Deus que Ele não parou na misericórdia; com Ele há também a graça.

Existe um lugar na Bíblia que nos  mostra claramente que nossa regeneração é proveniente da misericórdia. A Primeira Epístola de Pedro 1.3 diz: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos”. Toda a obra de Deus na graça foi planejada de acordo com Sua misericórdia em amor. Sua graça é dirigida por Sua misericórdia, e Sua misericórdia é dirigida por Seu amor. É segundo a Sua grande misericórdia que Deus nos regenerou para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. Assim sendo, tanto a regeneração como a viva esperança estão relacionadas com a misericórdia. Por existir a misericórdia, existe a graça. Judas 21 diz: “Guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna”. Este versículo mostra-nos que hoje devemos manter-nos no amor de Deus. Até que o Senhor venha novamente, isto é, até que Ele apareça a nós, devemos aguardar a Sua misericórdia para a vida eterna. Antes de sermos arrebatados, devemos aguardar a Sua misericórdia. Hoje, enquanto vivemos nesta terra, recebemos não apenas misericórdia, mas também graça. Agradecemos ao Senhor que fomos salvos e pertencemos a Deus, contudo ainda há um problema. O nosso corpo ainda não está redimido. Embora não sejamos mais do mundo, ainda estamos no mundo. É bom não pertencermos ao mundo, mas isso não é suficiente. Cedo ou tarde, os israelitas tiveram de deixar o Egito. Cedo ou tarde, Noé teve de deixar a arca para entrar no novo período. Cedo ou tarde, Ló teve de deixar Sodoma. E virá o dia em que os cristãos terão de deixar o mundo. Enquanto estou sendo atacado neste mundo, espero a misericórdia do Senhor Jesus. Enquanto estou sendo enredado pelo pecado neste mundo, espero a misericórdia do Senhor Jesus. Enquanto estou sendo esbofeteado por Satanás neste mundo, aguardo a salvação do Senhor. Assim, enquanto estamos vivendo nesta terra e mantendo-nos no amor de Deus, esperamos o dia em que o Senhor mostrará misericórdia a nós. Portanto, é ainda necessário que a Sua misericórdia esteja sobre nós. Temos de aguardar a Sua misericórdia até o dia de sermos arrebatados.

A Bíblia mostra-nos algo mais sobre misericórdia e graça. Tanto no Antigo como no Novo Testamento, a palavra misericórdia é sempre precedida por mostrar ou por ter. Misericórdia é algo que é mostrado, e àqueles para os quais ela é mostrada diz-se que receberam misericórdia. Por que a Bíblia diz “mostrar misericórdia” em vez de “dar misericórdia”? Porque a misericórdia não requer o nosso fazer. Graça, por outro lado, requer algum feito. Quando obtemos graça, obtemos algo definido. Mas ao recebermos misericórdia, é somente um recebimento; tudo o que temos a fazer é receber. Hebreus 4.16 exorta-nos a vir constantemente ao Senhor a fim de orar. Ao virmos orar diante do Senhor, recebemos misericórdia e achamos graça para socorro em ocasião oportuna. Algumas versões usam a expressão obter misericórdia. Mas na verdade, na linguagem original, a palavra não é obter. Obter é algo muito ativo. No grego, a palavra é mais passiva. Ela deveria ser traduzida para “receber”. Recebemos misericórdia e achamos graça. Que é receber? Receber significa que tudo está aqui; está sempre pronto para uso a qualquer tempo. Que é graça? Graça é algo que você tem de “achar”, pois é algo que Deus fará. Graça é algo positivo; é algo para ser elaborado. É por isso que se diz “receber” misericórdia e “achar” graça. Você pode ver que a Bíblia é muito clara acerca da misericórdia e da graça. Não há confusão entre ambas.

A Natureza da Graça

No primeiro capítulo, tratamos do problema do pecado. No segundo, falamos acerca da graça de Deus. Entretanto, não concluímos essas questões; portanto este capítulo será uma continuação dos anteriores que tratará adicionalmente das questões da graça e do pecado.Primeiramente temos de ver qual é a natureza da graça. Que características a graça possui? Valorizamos o amor de Deus, pois sem o amor de Deus como fonte não haveria o fluir da salvação. O fluir da salvação resulta do amor de Deus. Ao mesmo tempo, sem a misericórdia de Deus não haveria a possibilidade de salvação. Por ter Deus mostrado misericórdia para conosco, Ele nos deu a Sua salvação. A salvação de Deus é a expressão concreta do amor de Deus. Por isso valorizamos o amor e também valorizamos a misericórdia. Contudo, o que de mais precioso nos alcança é a graça. O amor sem dúvida é bom, mas ele não nos traz nenhum benefício concreto. A misericórdia é também muito boa, mas ela não nos traz qualquer benefício direto; no entanto, com a graça há um benefício direto. Portanto, a graça é mais preciosa. O Novo Testamento está repleto, não com o amor de Deus nem com a misericórdia de Deus, mas com a graça de Deus. Graça é o amor de Deus vindo para cumprir algo para o pecador caído, perdido e que perece. Agora não temos somente um amor abstrato e uma misericórdia sentimental, mas temos a graça que vem ao encontro das nossas necessidades de maneira concreta. Podemos achar que já é bastante maravilhoso se Deus for misericordioso conosco. Um carnal ou uma pessoa que vive na carne pensará que misericórdia é suficiente. O Antigo Testamento está repleto de palavras de misericórdia. Não existem muitas palavras sobre graça. Quando o homem está na carne, ele acha que misericórdia basta, que não há necessidade de graça. Ele pensa assim por não considerar o pecado como algo grave. Se o homem estivesse sem comida, sem roupas ou sem casa, misericórdia não seria suficiente; haveria também a necessidade de graça. Mas o problema com o pecado não é falta de comida, de roupas ou de casa. O problema com o pecado é a inquietação na consciência do homem e o julgamento diante de Deus. Por essa razão, o homem acha que se tão-somente Deus fosse misericordioso conosco e um pouco mais brando, tudo estaria bem. Se Deus desconsiderasse nossos pecados já seria bastante bom para nós. Em nosso coração esperamos que Deus seja misericordioso conosco e nos deixe ir. O conceito do homem é deixar ir e desconsiderar. Mas Deus não pode misericordiosamente desconsiderar nossos pecados. Ele não pode deixar-nos ir de qualquer jeito. Ele precisa lidar totalmente com nossos pecados.

Deus não somente tem de mostrar misericórdia para conosco, como também tem de nos conceder graça. O que procede do amor de Deus é a graça. Deus não está satisfeito somente com a misericórdia. Pensamos que se houvesse a misericórdia e que se Deus nos deixasse ir e não ajustasse contas conosco, tudo estaria bem. Mas Deus não disse que desde que tenha pena de nós Ele nos deixaria ir. Essa não é a maneira de Deus trabalhar. Quando age, Ele faz em harmonia Consigo mesmo. Portanto, o amor de Deus não pode parar na misericórdia. Seu amor deve estender-se até a graça. Ele deve lidar completamente com o problema dos nossos pecados. Se o problema dos pecados fosse algo que pudesse ser desconsiderado, a misericórdia de Deus seria suficiente. Mas deixar-nos ir e desconsiderar nossos pecados não é suficiente para Ele. Assim, ter só a misericórdia não é suficiente. Ele deve pôr a questão de pecados completamente em ordem. Aqui vemos a graça de Deus. É por isso que o Novo Testamento, embora não isento de misericórdia, está cheio de graça. Ali vemos como o Filho de Deus, Jesus Cristo, veio ao mundo para manifestar a graça e tornar-se graça a fim de que pudéssemos receber graça. Que é graça? Graça nada mais é que a grande obra de Deus realizada gratuitamente em Seu amor incondicional e ilimitado em favor do homem desamparado, indigno e pecador.

A graça de Deus é simplesmente Deus trabalhando para o homem. Como isso se diferencia da lei? A lei é Deus exigindo que o homem trabalhe para Ele, enquanto a graça é Deus trabalhando para o homem. Que é a lei? A lei é a exigência de Deus para que o homem faça algo para Ele. Que é obra? Obra é o esforço do homem para fazer algo para Deus. Que é graça? Graça nem é Deus exigindo algo nem é Deus recebendo a obra do homem, mas graça é Deus fazendo a Sua própria obra. Quando Deus vem para fazer algo pelo homem e a favor do homem, isso é graça. A ênfase no Novo Testamento não está no princípio da lei. Na verdade, o Novo Testamento opõe-se ao princípio da lei, pois a lei e a graça jamais podem misturar-se. É Deus quem está trabalhando ou é o homem? Deus está dando algo para o homem ou está pedindo algo do homem? Se Deus estiver pedindo algo do homem, nós ainda estamos na era da lei. Contudo, se Deus estiver dando algo para o homem, estamos na era da graça. Você não iria à casa de alguém dar-lhe dinheiro se houvesse ido lá para pedir dinheiro. Semelhantemente, lei e graça são princípios opostos; elas não podem ser colocadas juntas. Se é para o homem receber graça, ele deve colocar a lei de lado. Por outro lado, se ele seguir a lei, cairá da graça.

Se é para o homem seguir a lei, ele deve ter suas obras aceitas por Deus. Se há o princípio da lei e das obras e se o homem deve dar algo a Deus, ele deve dar-Lhe aquilo que Ele exige. A Bíblia indica que as obras do homem deveriam ser uma resposta à lei de Deus. A lei de Deus requer que se faça algo. Ao fazê-lo, estou respondendo à lei de Deus. Isso é o que a Bíblia chama de obras. Mas quando a graça vem, o princípio da lei e das obras é posto de lado. Aqui vemos que é Deus trabalhando pelo homem em vez de o homem trabalhar para Deus.

Graça, que é Deus trabalhando pelo homem desamparado, infeliz e aflito, tem três características ou naturezas. Quem quiser entender a graça de Deus deve lembrar-se dessas três características ou naturezas. Se nos esquecermos delas, como pecadores não seremos salvos, e como cristãos fracassaremos e cairemos. Se virmos as características e a natureza da graça de Deus, receberemos mais graça de Deus para socorro em ocasião oportuna. Vamos considerar brevemente essas três características na Bíblia. Quais são as obras do homem? Genericamente falando, existem três coisas consideradas como obras do homem: 1) seus delitos, 2) suas realizações e 3) suas responsabilidades. As obras más do homem são seus delitos; as boas são suas realizações e as obras que ele está disposto a assumir suas responsabilidades. Aqui temos três coisas: das coisas que o homem faz, as que não são bem feitas tornam-se seus delitos; as que são bem feitas tornam-se suas realizações, e as que ele promete fazer para Deus são suas responsabilidades. Na questão do tempo, delitos e realizações são coisas do passado, enquanto responsabilidades são coisas do futuro; são coisas pelas quais um homem é responsável. Se a graça de Deus é Deus trabalhando pelo homem pecaminoso, fraco, ímpio e desamparado, imediatamente vemos que a graça de Deus e o delito do homem não podem ser unidos. Tampouco pode a graça de Deus ser unida às realizações e responsabilidades do homem. Quando a questão do delito entra em cena, a graça não existe. Quando a questão da realização entra em cena, a graça também não existe. De semelhante modo, onde houver a responsabilidade, a graça não existirá. Se a graça de Deus é de fato graça, os delitos, as realizações e as responsabilidades não podem ser misturados a ela. Sempre que os delitos, as realizações e as responsabilidades são adicionados, a graça de Deus perde suas características.

A Graça de Deus não está Relacionada com os Delitos do Homem


A primeira característica da graça de Deus é que ela não está relacionada com os maus procedimentos do homem. A graça de Deus é concedida ao homem pecaminoso, aos pecadores desamparados, baixos, fracos e impiedosos. Se a questão do delito surge e se está determinado que aqueles com pecado não terão graça, então a graça está fundamentalmente anulada. A graça de Deus nunca pode ser retida simplesmente porque o homem pecou. A graça de Deus não pode ser reduzida nem quando os pecados do homem aumentam. Isso nunca pode ocorrer. A mente do homem, estando cheia da carne, está preenchida com o conceito da lei. Podemos achar que os bem-sucedidos podem receber graça, mas nós, pecadores e sem realizações, estamos desqualificados para receber graça. No conceito do homem, delito e graça estão em extremos opostos. No conceito do homem, graça somente vem onde não houver delito. Se você disser a alguém que tem alguma consideração por Deus, que Deus o amou e deu-lhe graça, ele imediatamente vai querer saber como isso pode ser verdade, uma vez que ele tem cometido tantos pecados. O conceito do homem é que a graça pode ser recebida somente quando não há delito. Ele não consegue perceber que isso está totalmente errado. Por quê? Porque o delito dá a melhor oportunidade para a graça operar. Sem delito, a graça não tem oportunidade de manifestar-se. Além de ser incapaz de impedir a graça, o delito é a condição necessária para a graça ser manifestada.  Da mesma forma, nossa insuficiência diante do Senhor não é um impedimento para a graça. Pelo contrário, a nossa pobreza é uma condição para recebermos graça. Se não estivermos muito pobres, não estaremos desejosos de receber graça. Todo domingo de manhã há oito ou nove mendigos em nosso local de reuniões. Eles vêm todos os domingos, e são muito pontuais. Quando se aproximam e você lhes dá uma ou duas moedas, eles sorriem e pegam-nas. Mas, que ocorreria se você oferecesse uma moeda a qualquer irmão ou irmã entre nós que estivesse bem vestido e que tivesse uma boa educação, e dissesse: “Tome aqui, pegue isto. Arranje mais duas moedas e poderá comprar um salgadinho na rua”? Certamente ele ou ela não aceitariam; e não somente não aceitariam, mas considerariam isso um insulto. Portanto, ser pobre é uma condição para receber graça; de fato, é a condição mais necessária.

O homem é muito ilógico. Ele diz que não pode receber graça porque seus pecados são numerosos demais. Nenhuma afirmação é mais contraditória que essa; nenhuma afirmação é tão insensata. Porque os doentes estão doentes é que precisam de um médico; porque os pobres são pobres é que precisam de ajuda; e da mesma forma, porque o homem é um pecador é que ele precisa de graça. Portanto, o pecado não é um empecilho. Pelo contrário, é uma oportunidade. Nosso problema é que sempre achamos que temos de estar numa condição diferente da que estamos hoje. Achamos que para receber graça devemos ser mais santos e melhores hoje do que ontem. Amigos, quem quiser ser um magistrado, terá de satisfazer certas exigências. Se quiser entrar numa escola, haverá os pré-requisitos. Se quiser ser um médico num hospital, haverá a questão da capacitação. Se quiser fazer negócios, existe a questão da habilidade. Qualificações, pré-requisitos, capacitação e habilidade são de fato úteis em determinadas situações. Contudo, se o homem deseja vir a Deus, qualificações, padrões, capacidade e habilidade estão fora de questão. Somente quando eu for um pecador desamparado, na mais baixa posição, poderei receber graça. O homem deixa de obter graça não por ser pecaminoso demais, mas por não estar em condição suficientemente baixa. Ele é orgulhoso demais e moral demais. É exatamente aqui que se encontra o maior problema. Somos grandes em todos os tipos de pecados. Ao mesmo tempo, somos muito grandes no pecado do orgulho. Por um lado, temos uma necessidade absoluta; por outro, o terreno em que nos encontramos não é aquele no qual podemos receber a graça de que necessitamos. Isso ocorre exclusivamente por causa do nosso orgulho.

Romanos 5.20 diz-nos que “onde abundou o pecado, superabundou a graça”. A Palavra de Deus mostra-nos que onde estiver o pecado, ali estará também a graça. Onde o pecado abundar — não que ele tenha realmente abundado, pois todos os homens pecam semelhantemente, mas onde o pecado tenha-se manifestado mais abundantemente — a graça de Deus abunda ainda mais. A palavra abundar na linguagem original tem a ver com a ideia de transbordar. Não sei se você já esteve à beira-mar ou à margem de um rio. Quando a maré alta vem, uma marca é deixada na praia ou margem. Mas se vier uma enchente esta ultrapassa a marca. Quando a água alcança a marca, dizemos que há somente uma elevação normal da maré, mas se a água sobe acima da marca há uma enchente. Isso é o que significa abundar. O pecado é tão grande, mas a graça é maior e até mesmo cobre o pecado. Aleluia! O pecado é grande, mas a graça é ainda maior e cobre o pecado. Esta é a graça de Deus. O homem tem o estranho conceito de que para receber graça, deve estar sem pecado ou delito. Mas isso não existe. Embora nossos delitos sejam muito sérios e possam elevar-se muito, a graça de Deus se eleva ainda mais. Uma vez que a graça de Deus está aqui para lidar com o problema dos delitos, os delitos não são mais um problema. Qual é a essência da graça de Deus? A graça de  Deus é simplesmente Deus vindo à posição do pecador para tomar sobre Si a consequência  dos pecados do pecador. Por favor, lembre-se da definição que demos antes, que graça é Deus trabalhando em favor do homem. Se não tivermos qualquer delito, não necessitamos de que Deus faça qualquer coisa por nós e, como resultado, não necessitamos da graça de Deus. Mas por termos pecado e por termos problemas, Ele tem de vir e solucionar nossos problemas. Portanto, necessitamos da graça. Se eu digo: “Uma vez que pequei, não posso receber graça” é como dizer: “Por estar doente demais, estou muito envergonhado para ver o médico. Eu o verei quando minha temperatura tiver abaixado um pouco”. Visto que não há tal paciente no mundo, tampouco deve haver tal pecador no mundo. Assim sendo, nossos delitos são a condição para recebermos a graça de Deus.
Uma vez que o problema do pecado é cuidado por Deus e já que Ele toma a responsabilidade de lidar com nossos delitos, qualquer pecado que tenhamos, seja grande ou pequeno, não constitui problema diante de Deus. Tanto os pecados grandes como os pequenos não apresentam problema, pois ambos podem ser solucionados pela obra de Deus e somente pela obra de Deus. O pecado grande é cuidado pela obra de Deus. O pecado pequeno da mesma forma requer a obra de Deus. Se coubesse a nós lidar com nossos pecados, distinguiríamos entre pecados grandes e pecados pequenos. Contudo, se nossos pecados devem ser cuidados por Deus, serão cuidados não importando se são grandes ou pequenos. Uma vez que devam ser cuidados por Deus, não faz diferença alguma para nós. Tudo o que fazemos é receber a graça. Vimos anteriormente por que o homem não pode receber graça. Lembre-se das palavras de Pedro em 1 Pedro 5.5: “Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça”. Deus dá graça ao humilde. Se você humildemente confessa que é um pecador, seus delitos não só não o impedirão de receber a graça de Deus, mas permitirão que você receba Sua graça. Uma vez que se humilhe diante de Deus, a graça de Deus fluirá para você. Agradecemos a Deus que a Sua graça desce para nós; ela não é bombeada até nós. Ninguém jamais pode bombear a graça de Deus para si mesmo. Portanto, todos os que estão no alto devem descer.Quem são os pecadores e quem pode receber graça? A Bíblia mostra-nos claramente em Romanos 3.23-24 que “todos pecaram”, mas todos os que pecaram são “justificados gratuitamente, por sua graça”. A Bíblia mostra-nos que desde que o homem peque, espontaneamente pode receber graça. Sem ser pecador, ele não pode receber graça. O homem pensa que quem pecar não pode receber graça. Contudo, Deus diz que porque o homem peca, ele pode receber graça. É tão óbvio: uma vez que o homem tenha pecado a graça vem. Nunca pense que quando o pecado vem, a graça se vai. O pecado é um dos maiores enganos do homem, mas achar que o pecado o impede de receber graça é o maior engano do homem.

Portanto, a primeira coisa que devemos ver é  que os delitos do homem não podem permanecer no caminho da graça de Deus. Com a graça de Deus, não existe problema por causa dos delitos. Pelo contrário, a graça de Deus está ali para lidar com os delitos do homem. Deus está concedendo graça porque o homem pecou.

A Graça não está Relacionada com as Realizações do Homem


Agora surge a segunda questão. Nem tudo o que o homem faz é pecado. Aos olhos de Deus, todos os atos do homem são pecados, mas aos olhos do homem, muitas coisas que ele faz são realizações. Alguns consideram que já que são muito pecadores não podem receber graça. Outros acham que porque pecam, têm de aperfeiçoar-se antes que possam receber graça. Note, por favor, que existe uma diferença aqui. O primeiro grupo diz que eles pecaram e são, portanto, desqualificados para receber graça. Este grupo está totalmente na esfera negativa. O segundo grupo é um pouco mais positivo: eles dizem que são pecadores e que somente receberão graça se agirem melhor. Acham que têm de alcançar certo padrão de conduta e certas realizações antes que possam receber graça. Na mente do primeiro grupo, o problema é um obstáculo para a graça. Na mente do segundo grupo, o problema é como obter graça. Alguns acham que os delitos nos impedirão de receber a graça de Deus. Outros acham que as realizações nos capacitarão a obter a graça de Deus. Amigo, você sabe o que é graça? A graça é incondicional. Ela é gratuita e não há motivos para que seja dada. É a obra de amor de Deus que Ele confere a nós, os pecadores. Se a graça de Deus estivesse relacionada com as realizações do homem, a essência da graça se perderia imediatamente. Uma vez que seja permitido permanecer em nós um vestígio de realização, Deus deve recompensar-nos de acordo com nossa realização. Deus é justo. E desde que Ele é justo, no mínimo Ele é correto. Ele tem de recompensar e premiar o homem de acordo com suas realizações. Mas se o dar de  Deus é uma recompensa ou prêmio, então não é graça. Tão logo as realizações entrem, a recompensa também deve entrar e a graça fica do lado de fora. Se um homem lhe dá um mês de trabalho e você lhe dá o salário de um mês, o pagamento não pode ser considerado um presente; é uma recompensa. Ele fez algo para você; é a realização dele. E se é uma realização o pagamento não é graça, mas recompensa. Desde que a recompensa entre, a  graça sai.
Romanos 4.4 torna a questão muito clara: “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida”. Os delitos não nos impedem de receber graça, pelo contrário, proporcionam-nos a oportunidade de receber a graça de Deus. E as realizações não nos ajudam a receber a graça de Deus, pelo contrário, anulam a essência da graça de Deus. A não ser que seja gratuita, não é graça. A não ser que seja dada sem razão e causa e a não ser que seja um presente, não é graça. Se há alguma razão ou alguma causa envolvida, se há um preço envolvido ou se há algum labor envolvido, imediatamente surge a questão da recompensa, porque Deus é justo. No instante em que a recompensa entra, a essência da graça é perdida. Se estiver numa posição acima de Deus ou mesmo igual a Deus, você não pode receber graça. É por isso que Romanos 4 diz claramente que ninguém pode vir diante de Deus e dizer que fez isso ou aquilo e que, portanto, sem se envergonhar, pode pedir graça. Se uma pessoa diz que não é como as outras que roubam dinheiro e são tão injustas, que jejua pelo menos duas vezes na semana, que embora não tenha dado o dízimo, pelo menos ofertou um vigésimo do que tem, ela não pode receber a graça de Deus. Que é graça? Deixe-me dizer isto de um modo enfático — graça é receber sem ter um motivo para receber. Uma vez que haja um motivo, ela se torna recompensa. Se você tem quaisquer realizações, a questão da recompensa entra e a graça fica de fora. Devemos dar muita atenção a essa questão. Há ainda outra frase em Romanos que é muito clara sobre esse ponto: “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (11.6). Alguém na minha família certa vez disse que deveríamos dar um presente a determinado médico no fim do ano. Quando perguntei por quê, foi-me dito que dois meses antes meus dois irmãos mais novos tinham ficado doentes e foram tratados por aquele médico. Por ser um amigo, o médico não quis aceitar qualquer dinheiro pelos seus serviços. Portanto, compraríamos algo para ele. “Neste caso”, disse eu, “não lhe estamos dando algo, mas devolvendo algo”. Por quê? Porque houve um trabalho e uma dívida. Portanto, rigorosamente falando, o nosso dar foi uma devolução do que devíamos.

Meus amigos, se tivéssemos quaisquer realizações diante de Deus, fossem elas grandes ou pequenas, a salvação de Deus para nós tornar-se-ia um pagamento de dívida e não seria mais graça. Agradecemos a Deus porque não há ninguém que possa clamar por qualquer realização diante de Deus. Agradecemos ao Senhor porque somos salvos pela graça. Se eu, Watchman Nee, fosse salvo pelas minhas realizações, nunca poderia dizer: “Deus, agradeço-Te por conceder-me graça”. Ao contrário, eu diria: “Deus, estou salvo porque pagaste a Tua dívida”. Poderia proclamar orgulhosamente que estou salvo pelas realizações. Por que ninguém pode salvar-se pelas realizações? Porque Deus quer remover todo orgulho do homem, para que o homem nada possa fazer senão agradecer e louvá-Lo. Já que a questão das realizações surge, a graça não é mais graça. Por favor, lembre-se de que Deus não pode deixar de dar a Sua graça ao homem por causa de seus delitos. Tampouco pode reduzir Sua graça para o homem por causa de seus delitos. Deus tem de dar e Ele não pode reduzir o Seu dar. A graça não está relacionada com os delitos. E que dizer sobre as realizações? Na graça não existe a possibilidade de mistura com o que quer que seja, nem mesmo com a essência das realizações. Graça não é o pagamento de Deus a uma dívida que tem para conosco. Não é que Deus nos deve e que agora Ele está pagando. Alguns podem dizer: “Senhor Nee, nós não somos tão extremistas. Não ousamos dizer que viemos a Deus pelas nossas realizações. Mas o senhor tem de acreditar que precisamos de algumas realizações diante de Deus. É impossível não ter nada. Devemos fazer uma pequena obra e, então, Deus pode suprir nossa falta. Faremos o melhor possível e Deus suprirá o restante”. Meus amigos, não podemos dizer isso. Graça não é Deus pagando uma dívida. Da mesma forma, graça também não é o pagamento excessivo de uma dívida de Deus, como se Deus devesse a você cinco dólares, mas agora está lhe devolvendo dez. Graça é como se alguém lhe desse uma roupa nova. Não é como se alguém remendasse sua roupa rasgada. Se graça fosse um remendar, ela perderia sua posição e sua essência seria anulada.

Deixe-me repetir novamente, graça nada tem a ver com realizações. O que o homem naturalmente vê é que algumas pessoas são melhores e outras, piores. Portanto, ele acha que os melhores requerem menos da graça de Deus e os piores requerem mais da graça de Deus — um remendo maior para um buraco maior e um remendo menor para um buraco menor. Todavia esse conceito não existe na Bíblia. Quem pecou? Creio que todos conhecemos a frase de cor: “Pois todos pecaram”. Por que é que todos pecaram? Porque “carecem da glória de Deus” (Rm 3.23). Se a Bíblia dissesse que todos pecaram por terem transgredido os Dez Mandamentos, poderia haver uma diferença entre grandes pecadores e pequenos pecadores, pois alguns podem ter transgredido nove mandamentos, enquanto outros podem ter transgredido somente um. Se a Bíblia dissesse que todos pecaram porque todos carecem dos costumes da sociedade ou da lei do país, ainda haveria alguns que são bons e alguns que não são tão bons. Mas muito estranhamente a Bíblia diz que todos pecaram, porque todos carecem da glória de Deus. Que é, então, a glória de Deus? Se quer entender o que é a glória de Deus, você tem de entender Romanos 1 a 8. A graça de Deus está ligada à glória de Deus. A graça procura o homem no nível mais baixo e a glória leva o homem ao nível mais elevado. Romanos 1 a 3 diz-nos como o homem pecou. A seguir, após dar o caminho da salvação pelo Senhor Jesus nos capítulos três a cinco, a crucificação com Cristo nos capítulos seis e sete, e a obra do Espírito Santo no início do capítulo oito, Romanos diz-nos o seguinte no final do capítulo oito: “Aos que de antemão conheceu, também os predestinou (...) e aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou,  a esses também glorificou” (vs. 29-30). Salvação é Deus puxando um pecador da lama do pecado e levando-o até a glória. Embora estejamos justificados, sabemos que justificação não é suficiente. A justificação não é o alvo da salvação de Deus para nós. Deus não vai parar até que estejamos na glória. Portanto, Romanos 1 a 8 começa com pecados e termina com glória.

Que significa carecer da glória de Deus? Significa não poder entrar na glória. Todos pecaram porque não podem entrar na glória. Se todos pecaram porque não honraram seus pais, você poderia encontrar desonradores “grandes, médios e pequenos”. Talvez para quatrocentos milhões de chineses existam quatrocentos milhões de tipos de desonradores. Contudo, quanto ao carecer da glória de Deus, isto é, quanto a não poder entrar na glória, você e eu somos exatamente iguais. Você pode ser moralista, e eu, criminoso. Como criminoso eu não posso entrar na glória, tampouco você o pode como moralista. Portanto, diante de Deus todos carecem de Sua glória, e ninguém está qualificado para entrar nela. Você pode sair à rua e dizer a qualquer pessoa que ela pecou. Se ela disser que não pecou, você pode perguntar-lhe se ela acha que pode entrar na glória. É óbvio que a pessoa não saberá o que é glória. Se estivermos na luz de Deus e se tivermos um pouco de conhecimento das Escrituras, saberemos que não estamos qualificados a entrar nela. Nenhum de nós pode entrar nela.

Dois meses atrás, enquanto eu estava em Hong Kong, acontecia ali o campeonato mundial de tênis. O estádio onde ocorria a competição só podia acolher de quinhentos a seiscentos espectadores. Oitocentas pessoas não puderam entrar e tiveram de ficar do lado de fora. O problema não era se eles tinham dinheiro ou não, se eram homens ou mulheres, ou se eram senhores ou servos. Nenhum deles podia entrar. Se fosse rico ou pobre, educado ou ignorante, homem ou mulher, não fazia diferença. A diferença entre eles e os que entraram não estava no fato de serem ricos ou pobres, homens ou mulheres, educados ou ignorantes. O problema era que eles não podiam entrar. Da mesma forma, a questão hoje não é se você é moral ou não, ou se é educado ou não. A questão agora é se você pode ou não entrar na glória. Todos os que não podem entrar na glória são pecadores e estão desqualificados diante de Deus. Portanto, Deus nivelou todos diante Dele. Temos um lote de terra em Jenru. Recentemente tivemos de gramá-lo. Para fazer isso tive de contratar alguns trabalhadores para nivelar o terreno. A questão hoje é se você pode ou não entrar. A despeito de ser moral ou não, você não pode entrar na glória. Deus nivelou todos. Por que Deus nivelou todos? Gálatas 3.22 diz-nos que “a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que crêem”. Deus encerrou a todos sob o pecado. Todos se tornaram pecadores, para que todo o que crê em Jesus Cristo receba a graça de Deus. Deus nivelou todos de maneira que Ele possa conceder graça a cada um. Romanos 11.32 diz: “Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos”. Deus encerrou a todos na desobediência. Ele nivelou todos. Com que propósito? Com o propósito de poder mostrar misericórdia a todos. Assim sendo, diante de Deus, as realizações não podem ter nenhum lugar. Todos estão sobre o mesmo terreno.

Romanos 3.9 diz: “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado”. O veredito de Deus é que tanto os judeus como os gentios estão todos debaixo do pecado. Não há nenhuma oportunidade para que as realizações tenham lugar. Nas porções das Escrituras que acabamos de ler vemos que todos foram encerrados no pecado e na desobediência para que possamos ir a Deus a fim de receber graça e misericórdia. Que é a graça de Deus? Graça de Deus é Ele dar ao homem não de acordo com o que o homem merece. A graça de Deus não concede ao homem mais do que ele merece ou algo melhor do que ele merece. Graça é simplesmente Deus dar ao homem o que ele não deveria ter e não merece.

A Graça de Deus não está Relacionada com as Responsabilidades do Homem


Agora chegamos à terceira questão: as responsabilidades do homem. A graça de Deus nunca pode estar vinculada às responsabilidades do homem. Quais são as responsabilidades do homem? Por exemplo, suponha que eu dê a um irmão dez mil dólares para enviar a determinado lugar, mas por temer que ele perca o dinheiro, eu o encarrego dizendo: “Você é responsável por este dinheiro”. Que quero dizer? Quero dizer que se ele perder o dinheiro, terá de devolvê-lo. Este é o significado de responsabilidade. Delitos são questões do passado. Realizações também são questões do passado. Porém, responsabilidades são questões do futuro. Se Deus vai dar-nos graça, ela não pode estar ligada à responsabilidade. Quando peço a um irmão para levar dez mil dólares ao banco, aquele dinheiro não é dele, assim eu lhe digo que ele é responsável pelo dinheiro. Contudo, se esse dinheiro é um presente gratuito para ele, será que posso dizer: “Você é responsável por ele?” Certamente não. Uma vez que tenha dado o dinheiro a ele, o dinheiro é dele. O que ele fizer com o dinheiro é problema dele, mesmo que o atire num rio ou numa lata de lixo. Alguns dizem que antes da salvação não tínhamos boas obras e éramos incapazes de salvar a nós mesmos. Não havia outra maneira de ser salvo exceto ter a graça de Deus salvando-nos. Mas agora que estamos salvos, eles dizem que deveríamos fazer boas obras, pois se não as fizermos estaremos novamente condenados a perecer. Muitos têm o conceito de que a salvação é proveniente da graça, mas manter esta salvação é proveniente do nosso mérito e labor. A isso é que chamo de responsabilidade. Muitos acham que se nos conduzirmos adequadamente após sermos salvos, nossa salvação será preservada, e se não nos conduzirmos adequadamente, Deus tomará de volta Sua salvação. Se a salvação pode ser tomada de volta, ainda é graça? Se é graça, não existe a questão de mérito passado, obra presente ou responsabilidade futura. Se introduzirmos a responsabilidade futura, então novamente não é mais graça.

Certa vez um pregador veio dizer-me que não cria que uma vez que uma pessoa fosse salva, ela estava salva para sempre. Eu perguntei-lhe por que pensava assim. Ele disse que acreditava que o homem é salvo pela graça, mas se o homem não se portar adequadamente após a salvação, perecerá. “Então isso é graça?” perguntei. A seguir dei-lhe uma ilustração. “Suponha que vamos a uma livraria juntos e cada um de nós escolhe o mesmo livro para comprar. Quando você pergunta ao vendedor o preço, ele lhe diz que custa sessenta centavos de dólar. Você lhe paga sessenta centavos e leva o livro para casa. Mas ao vasculhar meus bolsos, percebo que não tenho nenhum dinheiro. Eu também quero o mesmo livro, então digo ao vendedor que não trouxe nenhum dinheiro comigo, e pergunto se posso levar o livro agora e mandar o dinheiro mais tarde. Ele diz que posso fazê-lo porque nos conhecemos bem. Assim, eu também levo o mesmo livro para casa. Você pagou em dinheiro, mas eu adiei o pagamento. Deixe-me perguntar-lhe: A transação em dinheiro foi graça? Certamente não, pois o livro foi pago com sessenta centavos”. Ser salvo por meio de boas obras é como uma transação a dinheiro. Se tiver realizado boas obras, você pode ir a Deus e Ele dirá: “Bom, você pode ser salvo”. Se um homem é salvo dessa maneira, sua salvação não é por meio da graça. Agradeçamos ao Senhor porque ninguém é salvo dessa maneira. Que dizer sobre meu caso de adiar o pagamento? É como Deus antecipando a salvação ao homem. Se o homem não fizesse o bem após a salvação, seria requerido que ele a devolvesse. Ele teria de fazer o bem a fim de manter a sua salvação. Todavia isso tampouco é graça. Graça não é uma transação à vista nem é como um pagamento a prazo. Numa transação à vista, a pessoa paga agora; no pagamento a prazo, a pessoa paga depois. Mas ambos têm de pagar. Contudo, não adquirimos nossa salvação a crédito. Eu disse ao pregador que se a salvação é proveniente da graça, não há necessidade de boas obras. Então ele perguntou: “Isso quer dizer que não precisamos de boas obras nunca mais?” Eu disse: “Não, os cristãos precisam fazer boas obras. Mas as boas obras a que me refiro nada têm a ver com salvação. As boas obras a que me refiro têm a ver com o reino, com a recompensa e a coroa. A salvação não é comprada nem adquirida a crédito. A salvação é dada gratuitamente”. Que significa dar gratuitamente? O Senhor Jesus disse: “Eu lhes dou a vida eterna” (Jo 10.28). A vida eterna é-nos dada por Deus. Certa vez fui comprar algo na loja de um amigo. Ele e eu nos conhecíamos muito bem, por isso ele não queria me cobrar. Ele disse-me que daria o artigo que eu quisesse. Não consegui convencê-lo a pegar o dinheiro, contudo ele insistia que eu levasse o artigo. Da mesma forma, Deus diz que nos dará vida eterna. Ele não disse isso apenas para voltar e mudar de ideia. Ele não disse que ela seria nossa se fizéssemos o bem e que Ele a tomaria de volta se não fizéssemos o bem. Não quero dizer que os cristãos não devam ter boas obras. Odeio o viver relaxado, mas isso nada tem a ver com minha salvação. Aleluia! A salvação nos é dada; ela não é comprada por nós. Entretanto, não devemos desprezar as boas obras. As boas obras estão relacionadas com a recompensa do reino, a coroa ou punição, mas elas nada têm a ver com a salvação. Se a salvação é de graça, a questão do futuro não é levada em conta. Romanos 6.23 diz: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor”. Que é um dom gratuito? Um dom gratuito é um presente. Eu não posso enviar um presente para sua casa e, então, mais tarde enviar-lhe a conta. Se é um presente, é absolutamente grátis, e isso não pode ser mudado. Portanto, a graça não está relacionada com seus delitos passados, suas realizações atuais ou sua responsabilidade futura. Se estiver relacionada com sua responsabilidade futura não é graça, pelo contrário, é uma compra a prazo. Agradecemos a Deus porque a vida eterna não é uma compra a prazo. É um presente. Agradecemos ao Senhor que a vida eterna é o dom de Deus em Seu Filho Jesus Cristo. Uma vez que a salvação nos é dada por Deus, devemos lembrar-nos de uma coisa depois que fomos salvos: a salvação é obtida unicamente por meio de crer e é preservada sem levar em conta nossa fidelidade. Portanto, a condição para preservar nossa salvação é a mesma para obtê-la. Desde que ela é obtida gratuitamente, é também preservada gratuitamente. Agradecemos a Deus que por ser gratuita a obtenção da salvação, da mesma forma é eternamente gratuita a preservação dela.

Ao final do livro de Apocalipse, depois de o novo céu, a nova terra, o reino, o lago de fogo, o fim de Satanás e o grande trono branco terem sido todos mencionados, a Bíblia diz: “Quem quiser receba de graça a água da vida” (22.17b). Agradecemos ao Senhor porque Ele colocou, de propósito, o beber gratuito da água da vida no final do capítulo 22. Após termos visto o lago de fogo, a segunda morte, o fim de Satanás, o reino, o novo céu e a nova terra, podemos sentir temor de que Deus endureça Seu coração novamente; mas depois de todas essas coisas, Deus propositadamente declarou que a água da vida é gratuita. Não há preço para ela. Agradecemos ao Senhor porque temos a graça por meio de Jesus Cristo, e essa graça é gratuita. Ela não está relacionada com a nossa responsabilidade. Muitas vezes tenho ouvido dizer que temos de fazer o bem e retribuir a graça de Deus. Essas palavras são comuns hoje na igreja. Mas tenho de perguntar onde na Bíblia há um versículo que diz que temos de retribuir a graça de Deus? Essa palavra é por demais contraditória. Se há retribuição, não há graça. E, se há graça, não há necessidade de retribuição. Agradecemos ao Senhor que em todo o Novo Testamento nunca nos é dito para retribuir alguma coisa. É verdade que nós, cristãos, devemos ter boas obras. Mas por que devemos ter boas obras? Por que temos de sofrer pelo Senhor? Por que temos de suportar a vergonha? Por que servimos ao Senhor? Como o Senhor tem tratado conosco em amor, assim também tratamos com o Senhor em amor; contudo não existe aqui o pensamento de troca. Não é que Deus me dá muito e eu em troca devolvo muito. Por Ele ter-me amado, não posso fazer nada exceto amá-Lo; porque Ele me amou, Ele foi crucificado por mim; e por amá-Lo, de boa vontade suporto a cruz por Ele. O que Ele me tem dado, tem sido dado gratuitamente, e o que estou dando a Ele também é dado gratuitamente. A dificuldade reside na mente legalista do homem. Em todas as coisas o homem pensa em negócios e na lei. Mesmo a questão da salvação é vista do ângulo de negócio. Hoje, se trabalhamos, servimos ao Senhor, sofremos vergonha ou carregamos a cruz, não é porque queremos recompensar a Sua graça — é porque O amamos. O amor com que Ele nos amou nos cativou, capturou nosso coração e constrangeu-nos a servi-Lo.
Se você fala em retribuir, é ignorante quanto ao valor da graça que recebeu. Se hoje toma emprestado dez dólares de um amigo, você vai querer pagar-lhe. Se tomar emprestado cem dólares, você também vai querer pagá-los. Se tomar emprestado mil dólares, ou mesmo dez mil dólares, você ainda deve querer pagar-lhe. Mas se tomar um milhão de dólares emprestado, você pode não ter o pensamento de pagar. E se tomar dez ou cem milhões de dólares emprestados, você não consegue imaginar o fato de pagar-lhe. Se tomar emprestado um trilhão de dólares, você nem mesmo sabe mais como pensar sobre pagar, pois a devolução tornou-se impossível. Se hoje você está querendo pagar a Deus, isso simplesmente significa que não conhece o quanto Deus lhe deu. Você não conhece a profundidade, o comprimento, a altura e a largura da graça de Deus para você. Se percebesse somente um pouco, você se aquietaria e desistiria da ideia de devolução. Você deveria fazer um voto ao Senhor voluntariamente, dizendo: “Sou um devedor voluntário para sempre”. A graça que Ele nos deu é grande demais. Mesmo se quisermos retribuir, não existe a possibilidade de fazê-lo.

Meus amigos, se devessem a alguém cem milhões de dólares, vocês teriam a audácia de comprar um bolinho de dez centavos e dar-lhe como “prova de agradecimento”? Será que isso poderia ser considerado um brinde? Nosso Deus tem feito tanto por nós. Ousaríamos dizer que Lhe estamos dando “um pequeno brinde” como retribuição? Não! Somente podemos dizer que Deus nos tem dado gratuitamente muito. Estou feliz por ser um eterno devedor. Deus tem-nos amado com amor eterno. Não há limite de comprimento, largura, altura e profundidade de Seu amor para conosco. Será que vamos retribuir a Deus com um “bolinho de dez centavos”? Só podemos dizer que voluntariamente aceitamos Seu amor. Odeio ouvir os homens falarem sobre retribuição! Odeio o conceito da lei! Somente desejo que os filhos de Deus vejam que assim como Deus é graça para nós, assim sejamos nós graça para Ele. Assim como Deus tratou generosamente conosco, também vamos tratar com Deus generosamente.

Aleluia! Não há a questão de delitos, realizações ou responsabilidades. A salvação nada mais é que Deus por mim, não eu por Deus. Graça é o que Deus tem feito por mim. Não é o que eu tenho feito por Deus. Por favor, lembrem-se de que a paz e a alegria de um pecador e a paz e a alegria de um cristão não residem no quanto eles amam ao Senhor, mas no quanto o Senhor os ama. Nossa paz e alegria não residem no quanto temos feito pelo Senhor, mas no quanto o Senhor tem feito por nós. Dependemos diariamente não do que temos, mas do que Deus é. Precisamos ser libertados de nós mesmos. Precisamos ver Deus à luz do evangelho. Precisamos ver que estamos descansando no que Deus é e no que Ele tem. Estamos dependendo da graça e da misericórdia de Deus. Se virmos isso, não fracassaremos nem ficaremos tristes. Se confiarmos em nós mesmos, achando que somos muito bons e que amamos muito ao Senhor, seremos como areia movediça; não seremos capazes de construir uma casa sobre ela. Não podemos encontrar nenhuma paz e alegria em nós mesmos. Somente podemos encontrá-las no Senhor, em Deus. É maravilhoso perceber que enquanto vivemos nesta terra, Deus é por nós. Você se lembra das palavras de Romanos 8:31b? “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Não creio que exista uma palavra melhor do que esta para nós. Quando venho partir o pão no domingo, não pergunto a mim mesmo se me portei adequadamente nos últimos dias ou não. Pelo contrário, pergunto se o Senhor tem me amado nos últimos dias. Talvez ultimamente a sua condição tenha sido muito pobre. Talvez ultimamente você tenha estado muito frio em suas emoções. Mas você somente precisa perguntar se o Senhor ainda o ama. Se o Senhor não o ama mais, você pode reter seu louvor. Mas se o Senhor ainda o ama, você tem de louvá-Lo. Você notou como os discípulos que estiveram com o Senhor por três anos e meio no fim ainda eram tão tolos a ponto de questionar acerca de quem era o maior entre eles? Contudo a Bíblia diz que o Senhor, tendo amado os Seus, amou-os até o fim (Jo 13.1). Agradecemos ao Senhor porque tudo depende Dele. Se dependesse do nosso amor, se tivéssemos de confiar em nós mesmos, seria como colocar uma vela num barco e lançá-lo ao mar para navegar em meio a uma tempestade. Você pode imaginar quão instável isso seria? Agradecemos a Deus porque tudo é graça. Tudo depende Dele. Que Deus nos conceda conhecer verdadeiramente as características da graça do Senhor Jesus.

A Função da Lei


Entendemos que a posição do homem diante de Deus é a de um pecador. Agora, consideremos por que Deus estabeleceu a lei. Uma vez compreendida a lei, seremos capazes de compreender a obra de Deus. Deus sempre soube da condição do homem, mas o homem conhece sua própria condição? Posto que o pecado foi manifestado diante de Deus, ele também deve ter sido sentido na consciência do homem. Todavia, a consciência do homem está apercebida do pecado? Infelizmente, não. Porquanto o homem não percebe o pecado, precisamos do operar da lei. Neste livro vamos estudar este assunto.

Que é a lei? A lei nada mais é do que a exigência de Deus para que o homem  trabalhe para Ele. Em Romanos, Efésios e Gálatas, o apóstolo Paulo mostra repetidamente que o homem é salvo pela graça, não pela lei. Em outras palavras, o homem é salvo porque Deus trabalha para o homem, não porque o homem trabalha para Deus. Não é uma questão de sermos algo diante de Deus ou de fazermos algo para Deus, mas do próprio Deus vir para o nosso meio a fim de tornar-se algo e fazer algo por nós. Essa é a razão de o apóstolo, sob a revelação do Espírito Santo, constantemente enfatizar este ponto: que tanto para os gentios como para os judeus, a salvação procede absolutamente da graça e não da lei. Queremos gastar algum tempo para ver que é impossível o homem ser salvo pela lei. Não estou usando o termo lei em referência à lei mencionada no Antigo Testamento. Lei, conforme aplico aqui, refere-se a um princípio, isto é, o princípio de o homem trabalhar para Deus. Veremos se a nossa salvação depende ou não de fazermos algo para Deus. A maneira como utilizo a palavra lei não é sem base bíblica. O apóstolo Paulo usava as palavras de um modo muito preciso e significativo. Na Bíblia, a palavra Cristo é frequentemente utilizada. Na língua original, algumas vezes não há o artigo definido antes da palavra Cristo. Em outras ocasiões existe um artigo definido, e neste caso podemos entendê-la como o Cristo. Infelizmente, não muitas versões traduzem isso precisamente. Outra palavra frequentemente usada é fé. Algumas vezes há um artigo definido na frente dela; nesses lugares é a fé. Da mesma forma, existem lugares na Bíblia onde a palavra lei também tem um artigo definido antes dela, e devemos ler a lei. Os significados dessas poucas palavras com o artigo definido são bem diferentes de seus significados sem o artigo definido. Por exemplo, quando Cristo é mencionado, refere-se ao Senhor Jesus Cristo; mas quando o Cristo é mencionado, você e eu também estamos incluídos. Quando a Bíblia fala do Cristo individual, não há artigo definido; mas ao falar do Cristo que nos inclui, encontramos o Cristo. Quando a Bíblia fala do nosso crer individual, ela usa fé, sem o artigo. Todavia, ao falar naquilo que cremos, isto é, nossa fé, ela usa a fé. Os tradutores da Bíblia sabem que sempre que a Bíblia menciona a fé, ela não está se referindo ao nosso crer normal, mas àquilo em que cremos. Que, então, é a lei? Na Bíblia, a lei sempre se refere à lei de Moisés, a lei no Antigo Testamento. Porém, se não houver o artigo definido antes de lei, esta refere-se à exigência que Deus faz ao homem. Portanto, tenhamos em mente que lei na Bíblia não se refere meramente à lei dada a nós por Deus, por intermédio de Moisés. Em muitos lugares na Bíblia, lei refere-se ao princípio que Deus aplica a nós ou ao princípio da exigência de Deus para conosco. A lei significa apenas a lei mosaica, a lei dada no monte Sinai, ou a lei do Antigo Testamento. Ela também significa as condições para a comunhão entre Deus e o homem. A condição para a comunhão entre Deus e o homem é a exigência que Deus faz ao homem, o que Ele quer que o homem faça e execute por Ele.

O homem é salvo pelas obras da lei? Deus salva o homem por que este faz coisas por Ele? Todo mundo diz que devemos fazer o bem antes de Deus nos salvar. Se pusermos isso em termos bíblicos, significa que devemos ter as obras da lei a fim de sermos salvos. Os que falam dessa maneira cometem dois grandes erros. O primeiro é que desconhecem quem é o homem. O segundo é que não compreendem qual era a intenção de Deus ao dar a lei ao homem. Se soubermos o que somos, certamente não diremos que o homem precisa ter obras da lei para ser salvo. E, se conhecermos o propósito de Deus ao dar a lei, tampouco diremos que o homem pode ser salvo pelas obras da lei. Por ter cometido esses dois grandes erros, o homem carrega um conceito errado e diz coisas erradas.

O Primeiro Grande Erro — Não Conhecer o que o Homem É


Por que o homem diz que pode ser salvo pelas obras da lei quando nem mesmo sabe o que ele é? É porque o homem não sabe quão maligno ele é; ele não sabe que é carnal. Uma vez que o homem se tornou carne, existem três coisas nele que são imutáveis: sua conduta, sua lascívia e sua vontade. Por ser carnal, o que quer que ele faça é pecado e é maligno. Ao mesmo tempo, sua lascívia interior está ativamente tentando-o, provocando-o a pecar o tempo todo. Além disso, a vontade e o desejo do homem rejeitam Deus. Uma vez que a conduta do homem é contrária a Deus, sua concupiscência incita-o a pecar e a sua vontade é rebelde contra Deus, não há possibilidade de o homem ter as obras da lei e ser obediente a Deus. Portanto, é impossível que o homem satisfaça a exigência de Deus por meio da justiça da lei. Não temos somente nossa conduta exterior, mas também temos a concupiscência em nosso corpo; e não temos somente a concupiscência em nosso corpo, mas também temos a vontade em nossa alma. Você pode ser capaz de lidar com sua conduta, mas quando a concupiscência desperta dentro de você, mesmo que não consiga produzir uma conduta exterior pecaminosa, ela existe em você e provoca-o o tempo todo. E, mesmo que você odeie sua lascívia e se esforce ao máximo para lidar com ela, a sua vontade é totalmente incompatível com a de Deus. Nas profundezas do coração, o homem é rebelde contra Deus e quer crucificar o Senhor Jesus. Por um lado, a cruz significa o amor de Deus; mas por outro significa o pecado do homem. A cruz significa o grande amor que Deus tem ao tratar com o homem; mas ela também significa o tremendo ódio que o homem tem de Deus. O Senhor Jesus foi crucificado não apenas pelos judeus, mas também pelos gentios. A  vontade do homem para com Deus nunca mudou. A vontade do homem está em total inimizade contra Deus.

Romanos 8.7-8 diz: “Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus”. A mente posta na carne é inimizade contra Deus. Os que estão na carne não estão sujeitos à lei de Deus, nem mesmo o podem estar. Não compreendemos suficientemente o homem. Achamos que o homem ainda é curável e útil. Por isso, dizemos que as obras da lei ainda podem salvar o homem. Mas o homem jamais pode estar sujeito à lei de Deus; simplesmente não é nossa natureza fazê-lo. Em nossa conduta não existe o poder de ser submisso e nossa natureza não consegue ser submissa. Não somente somos incapazes de ser submissos, nós simplesmente não estamos dispostos a ser submissos. Ser incapaz de se sujeitar é uma questão da nossa natureza e da nossa lascívia; não estar disposto a ser submisso é uma questão da nossa vontade. Fundamentalmente, na sua vontade, o homem não está sujeito a Deus. Portanto, a lei somente irá manifestar a fraqueza, a impureza e a pecaminosidade do homem. Ela não manifestará a justiça do homem. Se alguém diz que uma pessoa pode receber vida e ser justificada pelas obras da lei, esse realmente não conhece o homem. Se o homem não fosse carnal nem pecaminoso, a lei talvez pudesse dar-lhe vida. Essa é a razão de Gálatas 3.12 dizer: “Aquele que observar os seus preceitos [as obras da lei, por eles viverá”. Infelizmente, os seres humanos são todos pecadores. Eles são carnais e impotentes para se sujeitarem a Deus, e não têm coração de se submeter a Deus. O homem não tem força para fazer as obras da lei nem coração para isso. A lei é boa, mas a pessoa que faz as obras da lei não é. Todos devemos admitir isso.

O Segundo Grande Erro — Não Conhecer a Intenção de Deus ao dar a lei


O homem acha que pode ser salvo pelas obras da lei porque nunca leu a Bíblia nem viu a luz ou a revelação celestial. Ele nunca compreendeu o desejo e a intenção de Deus. Ele nunca compreendeu o caminho da salvação. Se deseja saber se pode ou não ser salvo pelas obras da lei, você precisa primeiro perguntar por que Deus deu a lei. Somente depois de descobrir o propósito de Deus em dar a lei, é que você saberá se pode ou não ser salvo pelas obras da lei.

Diante de mim está um púlpito. Se lhes perguntar o que é isso, alguns podem responder que é uma cadeira alta. Uma garotinha pode responder que é uma cama faltando dois pés. Outro pode dizer que isso é uma cômoda porque existem gavetas nela. Se perguntasse a um irmão, ele poderia dizer que isso é uma estante, porque se pode colocar livros nela. Se perguntasse a dez pessoas, poderia obter dez respostas diferentes. Um vendedor de livros, por exemplo, pode dizer-me que é um perfeito balcão para vendas. Cada pessoa teria uma resposta diferente segundo sua própria experiência e conceito. Contudo, se você quer saber o que isso realmente é, em primeiro lugar precisa perguntar à pessoa que o fez. Se ela disser que isso é uma cômoda, então é uma cômoda. Se ela lhe disser que é uma estante, então é uma estante. Se disser que é um púlpito, então, sem dúvida, é um púlpito. Da mesma forma, se me perguntar ou a qualquer outro qual é a função da lei, você está perguntando à pessoa errada. A lei foi dada por Deus, por isso temos de perguntar a Deus qual a sua função. Uma vez que Deus nos diga qual a Sua intenção em dar a lei, saberemos se o homem pode ser salvo pelas obras da lei ou não. Portanto, precisamos gastar algum tempo para examinar a Bíblia sobre essa questão. Precisamos ver passo a passo como a lei veio. Temos de ver historicamente a partir do registro da Bíblia por que Deus deu a lei ao homem.

A Lei não É o Pensamento Original de Deus


A primeira coisa que devemos ver é que a lei não foi de modo nenhum a intenção original de Deus. A lei foi acrescentada posteriormente; ela foi introduzida para satisfazer certas necessidades urgentes. Ela foi produzida para cuidar de coisas que foram introduzidas ao longo do percurso. A lei não estava na intenção original de Deus; a graça estava. Em 2 Timóteo 1.9-10 é dito: “Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho”. Aqui o apóstolo Paulo diz-nos que Deus tinha um pensamento, e que esse pensamento começou antes dos tempos eternos, antes da criação do mundo. Esse era o pensamento original de Deus. E que tipo de pensamento era? Paulo diz que essa graça foi-nos dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos. Antes dos tempos eternos, antes de o homem pecar, e até mesmo antes da criação do mundo, Deus já havia tomado a decisão de dar-nos Sua graça por meio de Cristo Jesus. Portanto, a graça era o pensamento original de Deus. Era algo que Deus planejou desde o início de tudo. Por que Deus quis dar-nos a graça? Paulo diz que Deus “nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça”. A vontade de Deus é dispensar Sua graça, e essa graça nos salva. Ele nos salvou e nos chamou com santo chamamento para que desfrutemos Sua glória.  É isso que a graça de Deus está fazendo. Ele desejou salvar-nos e chamar-nos com santo chamamento segundo o Seu propósito, segundo o que Ele planeja fazer. Aqui Paulo foi muito cuidadoso; ele acrescentou uma frase para mostrar-nos se a lei está ou não de acordo com o propósito de Deus. Ele diz: “Não segundo as nossas obras”. A salvação de Deus não é de acordo com o quanto podemos fazer por Deus; não é segundo o quanto de responsabilidade podemos assumir diante Dele. Pelo contrário, é Deus vindo cumprir algo por nós, e é Deus dando-nos Sua graça. Essa graça sempre esteve relacionada com o Seu plano. Assim, lembremo-nos de que antes dos tempos eternos, o pensamento de Deus era a graça, não as obras nem a lei.

Paulo continua: “Que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus”. Essa graça não havia sido manifestada até agora. Portanto, vejam que, embora essa graça estivesse planejada há muito tempo, foi somente quando o Senhor Jesus veio que conhecemos o que realmente a graça era. Que faz essa graça por nós? Prossigamos lendo: “O qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho”. Quando o Senhor Jesus foi manifestado, Ele aboliu as obras bem como o resultado das obras. O resultado de obras más é a morte. Mesmo que você tenha feito as piores obras, o máximo que a lei pode fazer é exigir a sua morte. Após sua morte, a lei nada mais pode fazer. Você poderia perguntar: “Que acontece se minhas obras não violaram a lei? Ainda assim preciso morrer?” Sim, você precisa. Mas o Senhor também anulou a morte. O Senhor aboliu as obras e também a morte. Esse é nosso evangelho, o qual foi planejado antes dos tempos eternos, embora não tenha sido manifestado até o aparecimento do Senhor Jesus. Assim, o pensamento fundamental de Deus era a graça. Após o homem ter sido criado, tanto Adão como Eva pecaram e se rebelaram. O pecado entrou no mundo por meio de um homem. Mas Deus não deu a lei ao homem naquele tempo. Mesmo por um período de aproximadamente mil e seiscentos anos após o homem ter pecado, Deus não deu a lei ao homem. Deus não teve exigências com o homem naquele período. Deus permitiu à história que tomasse seu curso natural. Então um dia, quatrocentos e trinta anos antes de Moisés instituir a lei, Deus falou a Abraão, o pai da fé, e escolheu-o para ser aquele por meio de quem Cristo viria ao mundo. Deus escolheu Abraão e deu-lhe a grande promessa de que todas as nações seriam abençoadas pelo seu descendente (Gn 12.3; 22.18). Note que descendente é singular, não plural; é um descendente, não muitos descendentes. Paulo explicou no livro de Gálatas que este descendente refere-se ao Senhor Jesus (Gl 3.16). Quando falou a Abraão, foi a primeira vez que Deus revelou Seu propósito que fora planejado antes dos tempos eternos. Deus lhe contou Seu propósito de antes dos tempos eternos, de que por meio de seu descendente, Jesus Cristo, as nações seriam abençoadas. Abraão era um idólatra, contudo Deus o escolheu e deu-lhe uma promessa. Ele foi o primeiro homem a não ter obras; ele era uma pessoa de fé. Portanto, Deus desvendou Seu propósito diante dele.

Você deve prestar  atenção a algo especial aqui. A palavra de Deus a Abraão foi incondicional. Deus simplesmente disse: “Salvarei e abençoarei o mundo por meio do seu descendente”. Ele não estabeleceu condições. Deus não disse que os descendentes de Abraão tinham de ser isso ou aquilo ou que o reino a vir por meio dele no futuro tinha de ser dessa ou daquela forma antes que ele tivesse um descendente e que o mundo fosse abençoado. Não; Deus simplesmente disse que ele teria um descendente que salvaria o mundo. Não importava se Abraão fosse bom ou mau; não importava se seus descendentes fossem bons ou maus e se seu reino fosse bom ou mau. Não havia condição imposta. Essa é a maneira como Ele desejava que fosse realizado. Ele faria com que o descendente trouxesse bênção para as pessoas no mundo. Após essa palavra ser dita, Cristo, o Filho de Deus, não veio imediatamente ao mundo. Abraão gerou Isaque, mas Isaque não veio salvar o mundo. Isaque não era o Filho de Deus. Quatrocentos e trinta anos mais tarde, Moisés e Arão surgiram. E, embora fossem pessoas muito boas, não eram o Cristo de Deus. Por meio da revelação de Deus, Paulo chamou-nos a atenção de que o descendente de Abraão não se refere a muitos descendentes, mas a um único, que não veio senão dois mil anos mais tarde. Há um motivo forte para que o descendente não viesse antes. É verdade que Deus deseja fazer coisas para o homem, que Ele quer dar graça ao homem. Entretanto, estaria o homem disposto a permitir que Deus faça coisas para ele? Deus vê que não estamos indo bem, e quer ajudar-nos; mas ainda podemos achar que somos muito capazes. Somos maus, mas podemos achar que somos bons. Somos imundos, mas podemos considerar-nos limpos. Somos fracos, mas ainda podemos considerar-nos fortes em tudo. Somos inúteis, mas ainda podemos considerar-nos úteis. Nós, seres humanos, somos pecaminosos e completamente incapazes, mas ainda podemos considerar-nos bons e úteis. O propósito de Deus desde antes dos tempos eternos era dar graça, e, no tempo, Ele disse a Abraão que de fato daria graça ao homem. Mas por ser o homem ignorante, fraco, inútil, pecaminoso, e digno de morrer e perecer, Deus não teve escolha, senão dar a lei ao homem quatrocentos e trinta anos depois que Ele fez a promessa a Abraão. Após dar a lei ao homem, o homem descobriu que era pecaminoso. Deus pôs a lei ali para descobrir se o homem é correto ou não e se é capaz ou não. Deus pôs o peso da lei ali para ver se o homem poderia ou não levantá-lo. Lembremo-nos de que dar a lei não era a intenção original de Deus. Devo enfatizar que a lei foi algo acrescido para ir ao encontro de uma necessidade temporária.  Não fazia parte da intenção original de Deus. Vejamos o que diz Gálatas 3.15-22. Devemos considerar cuidadosamente estes versículos, pois são muito importantes. O versículo 15 diz: “Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa”. Deixemos momentaneamente de lado a aliança do homem com Deus, e consideremos primeiro as alianças que os homens celebram entre si. Suponhamos que alguém esteja vendendo uma casa, e um contrato tenha sido firmado e assinado. Pode o vendedor pensar melhor mais tarde e pedir mais duzentos dólares? Após assinar o contrato, pode ele considerar um pouco mais e, então, romper o contrato? Não. Mesmo em contratos entre os homens, uma vez que estejam assinados, é impossível acrescentar condições a eles ou subtrair condições deles. Se um contrato entre homens é assim, quanto mais uma aliança entre Deus e o homem!

Como Deus fez Sua aliança com o homem? O versículo seguinte diz: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente”. Deus fez aliança com Abraão por meio de promessas porque dizia respeito ao futuro. O que já está realizado é graça; o que ainda não foi cumprido somente pode ser uma promessa. Porque o Senhor Jesus ainda não tinha vindo, não podemos dizer que a aliança de Deus com Abraão era graça. Sua natureza era sem dúvida graça, mas por não ter sido manifestada, ainda era uma promessa. Essa promessa foi dada a Abraão e ao seu descendente. Paulo diz: “Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo” (v. 16). O descendente é singular, não plural; é um: Cristo. Deus prometeu a Abraão que este geraria a Cristo e que por meio de Cristo as nações seriam abençoadas. O versículo 14 diz: “Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”. Essa é a aliança que Deus firmou com Abraão.

Você poderia perguntar: Já que Deus quer abençoar as nações por meio de Cristo Jesus, por que Ele deu a lei ao homem quatrocentos e trinta anos mais tarde? Uma vez que a aliança que Deus firmou com Abraão não podia ser anulada nem acrescentada, por que o Senhor Jesus não veio simplesmente para dar-nos graça? Por que o problema da lei interveio? Você deve ver o argumento que Paulo estava usando aqui. Paulo estava explicando aqui por que, após quatrocentos e trinta anos, a lei veio. O versículo 17 diz: “E digo isto: Uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa”. Embora Deus tenha dado a lei ao homem, a aliança que Ele fez quatrocentos e trinta anos antes não podia ser desfeita. Deus não podia cancelar a aliança anteriormente feita após uma consideração adicional quatrocentos e trinta anos mais tarde. A lei é algo absolutamente contraditório à promessa e à graça. Que é promessa? É algo dado a alguém gratuitamente. Embora ele ainda não a tenha, ele definitivamente a terá mais tarde. Porém, que é a lei? A lei implica que alguém tenha de fazer isso ou aquilo para obter algo. Você pode ver que essas duas coisas são totalmente opostas. A promessa implica que Deus fará algo para o homem; a lei implica que o homem fará algo para Deus. O versículo 18 diz: “Porque, se a herança provém de lei, já não decorre de promessa”. Se o que era para ser dado é de acordo com o princípio da lei, não pode ser de acordo com o princípio da promessa. Essas duas coisas são completamente opostas. O versículo 19 diz: “Qual, pois, a razão de ser da lei?” Agora surge o problema. É um problema muito difícil de resolver. A lei e a promessa são basicamente contraditórias em suas naturezas. Se você tem a lei, não pode ter a promessa; se você tem a promessa, não pode ter a lei. Essas duas questões não podem ficar juntas. Mas agora há a lei e também há a promessa. Deus deu a promessa, e, então, quatrocentos e trinta anos mais tarde Ele deu a lei. Que faremos? Se a aliança feita por Deus não podia ser mudada nem por subtrair algo dela, nem por adicionar algo a ela, por que então a lei foi dada? Uma vez que uma aliança não pode ser alterada, uma promessa sempre será uma promessa, e graça sempre será graça, por que, então, há necessidade da lei?

No versículo 19 Paulo dá-nos a razão: “Foi adicionada por causa das transgressões”. Que significa adicionar algo? Recentemente fui a certo lugar trabalhar. Durante minha estada ali, certa noite fui com alguns irmãos a um restaurante para jantar. Por não termos uma casa ali, fomos a um restaurante e pedimos uma refeição de cinco pratos, que foram comidos muito rapidamente; e assim pedimos ao garçom que adicionasse mais um prato. A adição de outro prato não era nossa intenção original; ele foi adicionado para suprir uma necessidade imediata. De modo semelhante, Paulo disse que a lei foi adicionada. Na verdade, Deus não tem de nos dar a lei, tampouco Ele precisava dá-la aos judeus. Deus deu a lei aos judeus porque queria mostrar ao mundo, por meio dos judeus, que Ele dera a lei por causa das transgressões.

Por que a lei foi adicionada por causa das transgressões? Vejamos agora a última parte do versículo 15 em Romanos 4: “Mas onde não há lei, também não há transgressão”. Vejamos também Romanos 5.20: “Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa”. O propósito da lei é fazer com que a ofensa abunde. Que significa isso? O pecado entrou no mundo pelo homem; portanto, o pecado está no mundo. A morte veio a partir do pecado e começou a reinar. De Adão à Moisés, o pecado estava no mundo. Mas como podemos provar isso? Isso é evidenciado pela morte estar presente no mundo. Se não houvesse pecado de Adão até Moisés, o homem não teria morrido. O fato de que a partir de Adão até Moisés todos morreram, prova que o pecado estava ali. Embora houvesse pecado naquele tempo, não havia a lei. Portanto, havia somente o pecado, mas não a transgressão. Que é transgressão? É o pecado concretizado. Ele estava aqui no mundo, mas o homem não sabia que o pecado estava aqui até que a lei de Deus viesse. Por meio da lei Deus mostrou-nos que havíamos pecado. Na verdade, já existia o pecado em nós. Já estávamos corrompidos, mas não sabíamos disso até que a lei veio, quando o pecado dentro de nós foi manifestado em transgressões.

A lei é como um termômetro. Uma pessoa pode já estar doente com febre. Mas se você diz a ela: “Amigo, sua aparência não parece muito boa; você tem febre”, ela pode não acreditar em você. Tudo o que você teria de fazer então seria pegar um termômetro e colocá-lo na boca da pessoa. Após dois minutos poderia mostrar-lhe definitivamente que ela tem febre. Nós já éramos pecaminosos; já tínhamos “febre”, mas não sabíamos disso. Assim Deus nos deu um padrão. Embora a lei possa não ser um padrão perfeito, é um padrão suficientemente elevado. Deus utiliza a lei para medir-nos. Por meio dela vemos que transgredimos. Uma vez que vejamos que transgredimos a lei, sabemos que pecamos. O pecado já estava dentro do homem; mas sem as transgressões, ele jamais teria confessado que tinha pecado. Foi somente depois de transgredir que ele confessou que realmente tinha pecado. Quando leio a Bíblia, maravilho-me com as palavras usadas pelo apóstolo. Nesses versículos ele não utilizou a palavra pecado; em vez disso, usou a palavra transgressão por três vezes. O pecado está sempre dentro do homem, todavia enquanto não for executado, o pecado não se torna transgressão. Deve haver algo a ser transgredido antes que haja a possibilidade de transgressão. Deixe-me ilustrar. Suponha que haja uma criança que sempre suja suas roupas. Ela sempre usa as mangas para limpar o nariz e suas roupas ficam sujas rapidamente. Em seu temperamento, hábito, pensamento e consciência, ela nunca considera que sujar suas roupas seja um pecado. Tampouco seu pai considera isso como um pecado. O fato do pecado está ali, muito embora não haja desobediência. As roupas da criança estão muito sujas, mas ela não se importa nem um pouco. Sua consciência está bem, porque seu pai jamais disse que isso está errado. Ele pode estar despreocupado quanto a isso. Mesmo quando suas roupas estão muito sujas, ela ainda pode comer com o pai, sentar-se com o pai e caminhar com o pai. Tudo está bem no que se refere a ela. Em outras palavras, ela não transgrediu. Mas um dia o pai lhe diz que não pode mais sujar a roupa, e que se o fizer novamente, irá apanhar. Se a criança habitualmente faz isso, o falar do pai manifestará seus pecados. Originalmente só havia o pecado, não a desobediência. Mas uma vez que a criança desobedeça, há transgressão. Da mesma forma, somente quando existe a lei haverá a transgressão. Quando a lei diz para fazer isso ou aquilo, a transgressão será manifestada. Antes essa criança podia vir diante do pai prontamente e sem temor. Mas agora, se ela portar-se de acordo com seu hábito e fizer isso de novo, ela não terá paz interiormente e sua consciência falará.

Todos os leitores da Bíblia e todos os que entendem a vontade de Deus sabem que Deus não nos deu a lei com o intuito de que a guardássemos. A lei não era para que a guardássemos, mas para que a quebrássemos. Deus nos deu a lei para que a transgredíssemos. Para muitos de vocês essa pode ser a primeira vez que ouvem essa palavra, e podem achá-la estranha. Deus sabia o tempo todo que você tem pecado. Deus sabe disso; mas você mesmo não sabe. Por isso Deus deu-lhe a lei para transgredir, de modo que você conheça a si mesmo. Deus sabe que você não é bom, mas você acha que é. Portanto Deus deu a lei. Após transgredi-la uma, duas, diversas vezes, você dirá que pecou. A salvação não virá a você até então. Somente quando admitir que não tem jeito, que lhe é impossível prosseguir conduzindo-se desse modo, você estará disposto a receber o Senhor Jesus como seu Salvador. Somente então você estará disposto a receber a graça de Deus. Já vimos que para receber graça é preciso que nos humilhemos. Somos pecadores e cometemos pecados. Que nos leva a humilhar-nos? É a lei. Os seres humanos são orgulhosos. Todos os seres humanos acham-se fortes e consideram-se bons. Todavia, Deus deu-nos a lei, e uma vez que olhemos para a lei, temos de humilhar-nos e confessar que na verdade não somos nada bons. Isso é o que Paulo queria falar quando disse que antes de ler na lei que não deveria cobiçar, ele não sabia o que era cobiçar. Entretanto, uma vez que viu a lei, ele percebeu que havia cobiça dentro de si (Rm 7.7-8). Isso não significa que antes de Paulo ver a lei não havia cobiça nele. Havia cobiça nele muito antes. Ele sempre cobiçara, mas não percebia que estava cobiçando. Foi somente quando a lei lhe disse isso que ele o percebeu. Portanto, a lei não nos leva a fazer nada que antes não tivéssemos feito; a lei apenas expõe o que já existe em nós. Essa é a razão de eu dizer que Deus deu a lei ao homem não para que este a cumprisse, mas para que a infringisse. Tampouco a lei proporciona ao homem uma oportunidade para transgredir; em vez disso, a lei mostra ao homem que ele transgredirá. A lei permite que o homem veja o que Deus já tinha visto. Romanos 7 explica essa questão muito claramente. Vejamos este capítulo, começando com os versículos 7 e 8: “Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum!  Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência; porque, sem lei, está morto o pecado”. Sem a lei, não sinto que cobiçar seja pecado, muito embora haja cobiça dentro de mim. Portanto, a cobiça dentro em mim está morta; isto é, não tenho consciência dela. Entretanto, após vir a lei, decido não mais cobiçar. Mas eu ainda cobiço e o pecado se torna vivo. O versículo 9 diz: “Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e eu morri”.

Amigos, lembrem-se de que Deus lhes deu a lei por uma única razão; para mostrar-lhes que vocês mesmos sempre estiveram cheios de pecado. Por não ver seu pecado, vocês agiam orgulhosamente. A lei veio para expô-los. Você pode dizer que não cobiça. Entretanto, se simplesmente tentar não cobiçar, qual será o resultado final? Quanto mais tentar, mais fraco você ficará e mais cobiçoso será. Você se propõe a não cobiçar, mas no momento em que se propuser a isso, você se achará cobiçando tudo. Você cobiça hoje e cobiçará amanhã; cobiça em qualquer lugar que vá. Agora o pecado está vivo, a lei está viva e você está morto. Originalmente o pecado estava morto e você estava bem, mas agora que a lei veio, você não pode deixar de cobiçar. Quanto mais tentar não cobiçar, mais cobiçoso se tornará. O problema é que o ser do homem é carnal, e por ser carnal, sua vontade é fraca, sua conduta é rebelde e seus desejos são imundos. O versículo 10 diz: “E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte”. Se o homem puder verdadeiramente guardar a lei, viverá. Mas não consigo guardá-la; por isso eu morro.

O versículo 11 diz: “Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento, me enganou e me matou”. Se a lei não me tivesse dito que não deveria fazer isso ou aquilo, o pecado ficaria tranquilo em mim e não seria tão ativo em mim. Todavia, uma vez que a lei veio e me disse que não deveria cobiçar, o pecado, por meio do mandamento, veio tentar-me e pôs essa questão da cobiça na minha mente. A lei me diz que eu não deveria cobiçar, e proponho-me a não cobiçar; contudo em lugar de não cobiçar, cobiço ainda mais. Em certa época eu senti que estava mentindo. Não mentia deliberadamente, mas às vezes, sem querer, falava exageradamente sobre alguma coisa ou falava pouco demais sobre outra. Ao perceber isso, resolvi que daquele momento em diante para mim o sim seria sim e o não seria não. Não importando com quem falasse, resolvi falar precisamente. Antes de me decidir por isso, na verdade não mentia tanto, mas após tomar a decisão, tornou-se-me tão fácil mentir. Na verdade eu estava piorando. No domingo seguinte enviei uma nota dizendo que não daria a mensagem naquele dia. Quando fui questionado do motivo, disse: “Descobri que meu falar é cheio de mentiras. Isso é muito sério. Receio que até mesmo minha mensagem será repleta de mentiras”. Quando eu não dava atenção à mentira, esta parecia estar morta. Obviamente, isso não quer dizer que não mentia. Entretanto, somente quando comecei a prestar atenção à mentira, quando fui iluminado pela lei para tratar com minhas mentiras, foi que senti que todas as minhas palavras eram mentiras. Parece que as mentiras estavam ali próximas de mim. Portanto, descobri que originalmente as mentiras estavam mortas, mas agora elas tornaram-se vivas. Para onde quer que eu me voltasse, as mentiras estavam ali. O pecado matou-me por meio da lei e fiquei desamparado. O versículo 12 continua: “Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo e justo, e bom”. Nunca devemos considerar a lei má. A lei é sempre santa, justa, e boa. “Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum!” (v. 13). Mas o pecado, sim. No princípio, o pecado estava morto e eu não estava ciente disso; mas, quando a lei veio testar-me, eu morri. “Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa causou-me a morte; a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno” (v. 13). Inicialmente, não sentimos que o pecado seja tão pecaminoso. Mas quando a lei veio e tentamos guardá-la, percebemos onde estão nossos pecados e quão pecaminosos e totalmente malignos eles são.

Podemos ver a função da lei de Deus aqui. A lei é como um termômetro. Um termômetro não lhe dará febre, mas se você tiver febre, o termômetro certamente a fará conhecida. A lei não levará você a pecar, mas se você tiver pecados, a lei de Deus imediatamente mostrar-lhe-á que é um pecador. Originalmente, você não sabia que era um pecador, mas agora sabe. A lei veio julgar o pecado do homem. A lei foi estabelecida porque o homem tem o pecado. Você jamais verá Deus guardando a lei, pois não existe a possibilidade de que Deus transgrida a lei. Por conseguinte, nenhuma lei é imposta a Ele. Deus nunca disse ao Senhor Jesus para amar o Senhor Seu Deus de todo o Seu coração, de toda a Sua alma, de toda Sua força, e de toda Sua vontade, e amar ao Seu próximo como a Si mesmo. O Senhor Jesus simplesmente não precisava disso. Ele espontaneamente ama ao Senhor Seu Deus de todo Seu coração, de toda Sua alma, de toda Sua força, e de toda Sua vontade; Ele espontaneamente ama ao Seu próximo como a Si mesmo, até mesmo mais que a Si mesmo. Portanto, a lei é inútil para Ele. E Deus não disse a Adão para não cobiçar e para não roubar. Por que Adão precisaria cobiçar? Por que Adão precisaria roubar? Deus já lhe havia dado tudo o que estava na terra. Os Dez Mandamentos não foram dados a Adão porque ele não precisava deles. Em vez disso, a lei foi dada especificamente aos israelitas, pois ela mostrava ao homem carnal sua condição interior e seu pecado interior. Se nenhum chinês jamais tivesse roubado, não haveria necessidade de um artigo na lei chinesa acerca do roubo. Porque o homem rouba, existe um artigo na lei que diz que ninguém deve roubar. Portanto, a lei existe por causa do pecado. Quando o homem pecou, a lei veio a existir. Agora, voltemos a Gálatas 3 e continuemos com o versículo 19: “Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões”. Agora temos clareza. Deus propôs antes dos tempos eternos dar graça ao homem. Mais tarde Ele deu a Abraão uma promessa. Na eternidade era apenas o Seu propósito. Com Abraão, algo foi falado: Ele lidaria com o homem na graça. Por que, então, Deus deu a lei ao homem quatrocentos e trinta anos após aquilo? Ela foi adicionada por causa das transgressões. Para que os pecados do homem se tornassem transgressões, a lei foi dada ao homem. Desse modo, o homem percebeu que tinha o pecado e esperou “até que viesse o descendente a quem se fez a promessa” (v. 19). Não foi senão até que todos no mundo vissem que eram pecadores e realmente sem esperança que ficaram desejosos de receber o Senhor Jesus Cristo, a quem Deus havia prometido. Mesmo que Deus tivesse dado mais cedo a Sua salvação ao homem, o homem não a teria recebido. O homem não quer a graça de Deus, mas porque tem transgressões e é sem esperança, ele provavelmente receberá a graça de Deus. O versículo 19 finaliza assim: “E foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador”. Aqui, promulgada está se referindo à lei mencionada acima. A lei não somente foi adicionada por causa das transgressões, mas também foi promulgada por um mediador. Há esses dois aspectos na lei: ela foi adicionada por causa das transgressões e promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador. Por que a lei foi promulgada pela mão de um mediador? O versículo 20 explica: “Ora, o mediador não é de um”. Você já foi um intermediário ou um interventor? Um intermediário age em favor das duas partes. Por que a lei tem um mediador? Porque com a lei há o lado de Deus e o lado do homem. O homem deve fazer certas coisas para Deus antes que Ele faça certas coisas pelo homem. Quando as partes A e B fazem um contrato, o contrato estabelece o que A deve fazer e o que B fará em contrapartida, e vice-versa. Um mediador, então, servirá como uma testemunha entre as duas partes. A lei estabelece qual é a responsabilidade de Deus para com o homem e qual é a responsabilidade do homem para com Deus. Se uma das partes falha, toda a questão fracassa.

Aleluia! O que se segue no versículo 20 é maravilhoso: “Mas Deus é um”. Mas Deus é um! A lei envolve dois lados. Se um dos lados tiver problemas, tudo fracassa. Ao dar a lei, Deus disse que devemos fazer isso e aquilo. Se falharmos em fazê-las, toda a questão fracassa. Mas ao fazer a promessa, “Deus é um”, não importa como sejamos. Na promessa e na graça, não há menção do nosso lado, somente do lado de Deus. Uma vez que não haja problema do lado de Deus, não haverá problema algum. A questão hoje é se Deus pode salvar Abraão e se Ele pode preservá-lo. A questão não é como somos. Na promessa, não há nada que nos envolva, nada que dependa de como sejamos. O princípio da lei pode ser comparado a comprar livros da nossa livraria. Se eu gastar $1,60, posso adquirir uma cópia de The Spiritual Man. Se eu der o dinheiro aos irmãos ali, eles me darão o livro. Se eles tiverem o livro, mas eu não tiver o dinheiro, a transação não será feita. Tampouco a transação será realizada se eu tiver o dinheiro e eles não tiverem o  livro. Se um lado tem um problema, o negócio fracassa. Portanto, a lei é de dois lados. Se um lado falha, toda a questão fracassa. Mas que dizer acerca da promessa? A promessa é como nossa revista The Christian; ninguém precisa pagar por ela, pois é gratuita. A lei é: se você fizer algo por mim, eu farei algo por você em retribuição. Se fizer determinadas coisas, você obterá algo de volta; se não puder fazê-las, não obterá nada. Assim, a lei é de dois lados. Ao fazer a promessa, Deus nos concede a graça não importando se fazemos bem ou não. Isso nada tem a ver conosco; como somos não é problema. Agradecemos a Deus porque a promessa vem de um lado apenas. Um lado é suficiente. O versículo 21 diz: “É, porventura, a lei contrária às promessas de Deus? De modo nenhum!”. Os de pouco conhecimento podem dizer que a lei contradiz a graça. É correto dizer que a lei e a promessa são duas coisas completamente diferentes, mas não há nenhuma contradição; a lei é meramente o servo da promessa. É algo usado por Deus e inserido por Deus. Lei e promessa podem parecer contrárias em natureza, mas nas mãos de Deus elas não são nada contraditórias. A lei foi usada por Deus para cumprir Seu propósito. Sem a lei, a promessa de Deus não teria sido cumprida. Por favor, lembrem-se de que Deus usa a lei para cumprir esse objetivo. Portanto, a lei e a promessa em nada se contradizem. Paulo conclui desta maneira: “Porque, se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade, seria procedente de lei” (v. 21). Se um homem pudesse obter justiça pela lei, ele poderia ter vida por meio da lei. Entretanto, o homem não pode fazer isso. Portanto, “a Escritura encerrou tudo sob o pecado” (v. 22a). Que foi que Deus usou para encerrar-nos a todos? Ele utilizou a lei. Quem quer que seja encerrado pela lei tem de admitir que é um pecador. Deus encerrou tudo sob o pecado “para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que creem” (v. 22b). Aleluia! A lei de Deus é algo que Deus usa para salvar-nos. Não é algo que Deus usa para condenar-nos. A lei é totalmente algo usado por Deus. Cada um de nós foi encerrado. Cada um de nós é um pecador. Deus utilizou a lei a fim de mostrar-nos que somos pecadores para que Ele possa salvar-nos!

A Justiça de Deus


Nos primeiros capítulos, vimos que o homem pecou e que a salvação de Deus é baseada no fato de o homem ter pecado. Se o homem não tivesse pecado, não haveria necessidade de salvação. Uma vez que o homem pecou, Deus deu a lei para mostrar-lhe que ele pecou. A lei de Deus veio ao mundo a fim de que as transgressões humanas abundassem. No princípio, o homem tinha apenas pecado; ele não tinha transgressões. Mas quando a lei veio, o homem não só possuía pecado, mas também transgressões. Após transgredir, o homem percebe que é um pecador. Graças ao Senhor, porque apesar de termos pecado e transgredido, Deus, que é amor, propôs-se a dar-nos graça e misericórdia. Ele propôs fazer algo para nós a fim de resolver os problemas que não podemos resolver por nós mesmos. Neste capítulo, contudo, devemos ver algo mais. Apesar de Deus nos amar e mostrarse misericordioso para conosco e apesar de pretender plenamente nos dar graça, há algo que torna muito difícil para Deus fazê-lo. Deus não pode conceder-nos graça instantaneamente; Ele não pode dar-nos vida eterna diretamente. Há um dilema que Deus deve resolver antes de poder conceder-nos graça. O problema, o qual a Bíblia menciona frequentemente, é a própria justiça de Deus. A expressão justiça de Deus tem confundido muitos teólogos há séculos. Se lermos a Bíblia sem conceitos nocivos ou noções preconcebidas, Deus nos mostrará o que é a Sua justiça. Podemos ver essa questão claramente sem muita dificuldade. Neste capítulo, desejamos ver, pela graça de Deus, o que é a justiça de Deus. Em outras palavras, esperamos ver a dificuldade que Deus encontra quando Ele nos salva.

Sua Salvação Combinada com Sua Justiça


Se Deus vai salvar-nos, Ele deve fazê-lo de modo que combine ou se ajuste a Ele mesmo. Se Deus vai dar-nos salvação, Ele não pode dar-nos de maneira que contrarie Sua natureza, Seu método e Sua maneira. Somos pecadores cheios de transgressões e, por isso, não temos nenhuma noção de justiça. Se quiséssemos ser salvos, provavelmente usaríamos todos os meios possíveis, quer retos ou tortuosos, bons ou maus. Tentaríamos mil e uma maneiras para sermos salvos. Desde que sejamos salvos de alguma maneira, isso já nos basta. Não nos  preocupamos se o procedimento é adequado ou se o método está certo. Desde que sejamos salvos, estamos satisfeitos. Nem mesmo atentamos de onde vem a salvação e se está ou não certa. Nesse sentido somos como ladrões. O que preocupa um ladrão é conseguir dinheiro. Ele não se preocupa de onde o dinheiro vem. Desde que ganhe dinheiro, fica satisfeito. Ele não tem o conceito do certo e do errado; ele não tem o conceito de justiça e de injustiça. Mas devemos perceber que a salvação não é somente uma questão de sermos salvos, mas de Deus salvar-nos. Embora desejemos ser satisfeitos não importando como somos salvos, Deus não pode dizer que tudo o que implica na salvação se resume em salvar-nos, sem se importar se a maneira pela qual somos salvos está correta ou não. Deus, sem dúvida, deseja dar-nos graça e salvar-nos. Indubitavelmente, Ele quer darnos Sua vida. Deus é cheio de amor, e Ele está mais do que desejoso de que sejamos salvos. Mas se Deus vem salvar-nos, Ele tem de fazê-lo de modo excelente. Por isso, o fato de Deus nos salvar é um grande problema. Deus realmente deseja salvar os homens. Mas qual o método a ser usado por Ele para que o homem possa ser salvo da maneira justa? Que método há que seja o mais racional? Que método há que se compare com Sua própria dignidade? É fácil ser salvo, mas é difícil ser salvo justamente. Eis por que a Bíblia fala muito sobre a justiça de Deus. Ela nos diz repetidamente que Deus salva o homem de maneira compatível com Sua justiça.
Que é a justiça de Deus? A justiça de Deus é o modo de Deus agir. Amor é a natureza de Deus, santidade é a disposição de Deus e glória é o próprio ser de Deus. Justiça, no entanto, é o proceder de Deus, Sua maneira e Seu método. Uma vez que Deus é justo, Ele não pode amar o homem meramente conforme o Seu amor. Ele não pode conceder graça ao homem meramente conforme Ele quer. Ele não pode salvar o homem meramente conforme o desejo do Seu coração. É verdade que Deus salva o homem porque o ama. Mas Ele deve fazê-lo de um modo que esteja de acordo com Sua justiça, Seu proceder, Seu padrão moral, Sua maneira, Seu método, Sua dignidade e Sua majestade. Sabemos que para Deus é fácil salvar o homem. Mas não é fácil para Deus salvá-lo de maneira justa. Apenas imagine quão fácil seria para Deus salvar-nos se a questão da justiça não fosse um problema. Não haveria dificuldade alguma. Se Deus não nos amasse, nada poderia ser feito por nós e tudo seria sem esperança. Mas Deus nos amou e teve misericórdia de nós. Além disso, Ele pretende dar-nos graça. Se a justiça não contasse, Deus poderia dizer: “Você pecou? tudo bem, apenas não cometa o erro novamente”. Deus, assim, poderia ignorar nossos pecados. Ele poderia dispensar-nos e mandar-nos embora. Se Deus não julgasse o pecado do pecador e tratasse seus pecados conforme a lei, mas perdoasse descuidadamente, onde então estaria Sua justiça? Aqui reside a dificuldade. Algum tempo atrás, um irmão se envolveu numa questão complicada e foi posto na prisão pelo governo. Eu sabia que, embora ele não estivesse completamente sem culpa, o erro era realmente de outra pessoa. Por causa disso, quis ajudá-lo. Fui até Nanquim e conversei com algumas pessoas que estavam envolvidas no caso. Eu lhes falei sobre a situação e pedi-lhes que ajudassem em alguma coisa. Éramos nove ali e todos éramos muito ocupados. Tivemos nove reuniões num período de onze dias, tentando descobrir um modo de ajudar aquele homem. Finalmente, todas essas pessoas admitiram que tinham a maneira e a autoridade para livrá-lo, mas não poderiam fazê-lo sem incriminar a si mesmos. Então, tivemos de achar um modo de libertar o homem que fosse, ao mesmo tempo, legal. Sem dúvida alguma, Deus é cheio de amor para conosco. Deus quer salvar-nos. Mas Ele também deseja fazê-lo legalmente. Se não nos salvar legalmente, Ele não pode salvar-nos de maneira nenhuma. O amor de Deus é limitado por Sua justiça. Deus não pode agir contrariamente a Si próprio e declarar irresponsavelmente que nossos pecados estão apagados, que tudo está bem e que podemos considerar-nos livres. Se Deus nos perdoasse de modo irresponsável, que lei, que justiça e que verdade seriam deixadas no universo? Tudo isso estaria acabado. É verdade que Deus nos quer salvar, e é verdade que precisamos ser salvos. A questão é se há ou não injustiça em sermos salvos. Há muitos hoje que aceitam subornos e são parciais por causa dos relacionamentos particulares. Eles sempre ajudam os outros, e os outros sempre recebem benefícios deles; mas todos concordamos que essas pessoas não são adequadas. Elas não são justas, mas corruptas. Elas podem ter muito amor, mas o que fazem não é correto. Deus não pode salvar-nos à custa de se envolver em injustiça. Deus deve salvar-nos preservando Sua justiça. Para Deus é importante salvar-nos, mas deve fazê-lo de acordo com Sua justiça. Deus poderia salvar-nos imediatamente com Seu amor. Mas também deve salvar-nos de maneira muito justa. Como isso pode ser feito? Para Deus não é uma questão fácil salvar-nos sem violar Sua justiça. Como pode Deus justificar pecadores sem cometer injustiça? Como pode Deus salvar pecadores sem envolver-se em injustiça? Como Deus pode perdoar nossos pecados de maneira justa? Deus quer salvar-nos, mas Ele quer que sejamos capazes de dizer ao mesmo tempo que recebemos Sua vida e fomos salvos porque Ele nos justificou da maneira mais justa.

A Salvação de Deus para a Demonstração da Sua Justiça


Há um livro na Bíblia, o livro de Romanos, que nos diz como Deus trata especificamente com esse problema. Vejamos Romanos 3.25-26, começando com a segunda parte do versículo 25: “Para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus”. Aqui tenho de acrescentar uma palavra. Algumas versões cometem um erro ao traduzir o versículo 25. Elas traduzem: “Para declarar Sua justiça para a remissão de pecados passados, pela tolerância de Deus”. Mas a palavra para não deveria ser usada nesse versículo. Em vez disso, deveria dizer: “Para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos”. Além disso, no versículo 26, a palavra e deveria ser entendida como união de duas coisas que ocorrem ao mesmo tempo. Assim, esta sentença deveria ser entendida desta maneira: “Para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus”. Enquanto Deus justifica os que crêem em Jesus, Ele demonstra ser justo, e o homem deve reconhecê-Lo como justo.

O versículo 25 trata de problemas passados; o versículo 26 trata de problemas presentes. Os problemas passados referem-se ao povo da época do Antigo Testamento. Os problemas presentes relacionam-se ao povo da época do Novo Testamento. O versículo 25 trata de questões do Antigo Testamento. O versículo 26 trata de questões do Novo Testamento. As pessoas da época do Antigo Testamento transgrediram a lei por quatro mil anos. Elas eram cheias de pecados e transgressões. Mas Deus não as destinou à perdição ou destruição imediata. Naqueles quatro mil anos, dia após dia, Deus tolerou e deixou impunes os pecados previamente cometidos. Não vemos o lago de fogo imediatamente após o jardim do Éden. Embora Deus dissesse ao homem que no dia em que ele comesse do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal certamente morreria (Gn 2.17), quando Adão comeu o fruto, ele não foi imediatamente para o lago de fogo. Por quê? Porque Deus deixou impunes os pecados da época do Antigo Testamento; Ele exerceu Sua tolerância sobre eles. Deus tolerou e deixou impunes os pecados cometidos pelo homem no passado. Mas uma questão se levanta imediatamente: Deus foi justo ao tolerar e deixar impunes os pecados humanos no Antigo Testamento? Qual foi o propósito de Deus em fazer isso? Na verdade, ao deixar impunes os pecados do homem e tolerá-los, Deus estava manifestando Sua justiça.

Deus não quer que pensemos que após sermos salvos, nossa salvação é ilegal. Deus não gostaria que o homem acolhesse tais críticas. Deus quer mostrar-nos que nada há de ilegal ou injusto em Seus caminhos. Quanto aos pecados da época do Antigo Testamento, Ele diz que Sua tolerância e Sua indulgência foram para demonstrar a Sua justiça. Quanto aos pecados da presente era, Ele diz que o que é feito é também para demonstrar Sua justiça. Deus deseja que ao justificar os que crêem em Jesus, Ele seja reconhecido como O justo.

A salvação de Deus não é “mercadoria contrabandeada”. Deus quer que a nossa salvação venha pela “porta da frente”. Nossa salvação tem de ser correta e adequada. Ele não permitirá que ninguém diga que a nossa salvação é inadequada. Ele não oferece uma salvação fraudulenta. Uma salvação fraudulenta é rejeitada por Deus. A intenção de Deus é salvar-nos, mas Ele quer fazê-lo de maneira a estar relacionada com Sua natureza, Seu padrão moral, Sua dignidade, Sua lei e Sua justiça. Deus não pode salvar-nos ilegalmente. Aqui temos um problema. Se Deus estivesse disposto a usar todos os meios possíveis para nos salvar e se ignorasse totalmente a questão da justiça, Ele poderia dizer a qualquer pessoa: “Vai, você está livre”. Há homens que são tolamente bons. Se Deus dissesse isso, Ele seria um Deus tolamente bom. Deus jamais poderia ser assim. Se Deus não amasse você, seria fácil — Ele simplesmente o deixaria morrer e perecer quando pecasse. Mas Ele não pode permitir que isso aconteça, porque o ama. O problema é que o pecado do homem e o amor de Deus aqui estão juntos. Agora, quando a justiça é adicionada a esses dois, a salvação se torna a coisa mais difícil sobre a terra. Se o homem não tivesse pecado, tudo estaria bem; e se Deus não nos amasse, também não haveria problema. Se alguém comete um crime e deve morrer, isso nada tem a ver comigo se eu não o amo. Hoje muitos estão presos para ser executados. A questão significa pouco para mim se eu não os amo. Ser-me-ia difícil somente se os amasse e quisesse salvá-los. Se eles não tivessem pecado, a questão seria fácil de tratar. E se não os amasse, a questão também seria fácil de controlar. Além disso, se eles pecaram e os amo, mas não tenho justiça, a questão ainda pode ser tratada facilmente; posso controlá-la irresponsavelmente por meio de suborno. Mas, se sou uma pessoa justa, não posso recorrer a tais métodos fraudulentos e impróprios. Não os libertaria ilegalmente. Se vou salvá-los, tenho de fazê-lo corretamente. Levar a cabo tal salvação se torna a mais difícil tarefa em toda a terra. Estas três questões — amor, pecado e justiça — não podem coexistir facilmente. O amor é um fato; o pecado também é um fato e a justiça é uma necessidade. Por esses três estarem juntos, Deus deve vir com uma maneira de nos salvar e de satisfazer Seu coração de amor, enquanto, ao mesmo tempo, de preservar a Sua justiça. Cumprir tal obra seria deveras uma obra-prima. Aleluia! A salvação que Deus nos preparou em Seu Filho Jesus é tal obra-prima. Ele é capaz de nos salvar de nossos pecados e demonstrar Seu amor, e é capaz de fazê-lo da maneira mais justa. Isso Ele faz pela obra redentora do Senhor Jesus.

A Vinda de Cristo Como a Exigência de Deus em Justiça


A vinda do Senhor Jesus Cristo à terra foi a exigência de Deus em justiça; não foi a exigência de Deus em graça. Essa é uma palavra muito séria. Se houvesse amor sem justiça, o Senhor Jesus não teria necessidade de vir à terra e a cruz teria sido desnecessária. Por causa do problema da justiça, o Senhor Jesus teve de vir. Sem justiça, Deus poderia salvar-nos do modo que quisesse. Ele poderia ignorar nossos pecados ou perdoá-los levianamente. Ele poderia adotar uma atitude permissiva em relação aos nossos pecados ou ficar completamente alheio a eles. Se Deus dissesse: “Já que todos pecaram, desta vez Eu deixo passar; apenas não pequem novamente”, não haveria necessidade nenhuma para um Jesus de Nazaré no primeiro plano. Além da exigência da justiça, não era necessária a vinda de Jesus de Nazaré. A vinda de Jesus de Nazaré foi uma exigência da justiça. Quando o pecado entrou no mundo, o governo de Deus foi danificado. Sua ordem determinada no universo foi quebrada; Sua glória foi esmagada; Sua santidade foi profanada; Sua autoridade foi rejeitada e Sua verdade foi distorcida. Quando o pecado entrou no mundo, Satanás riu e os anjos testificaram que o homem tinha falhado e caído. Se Deus tivesse de julgar o pecado sem misericórdia, Ele agiria sem amor. Mas, se Ele ignorasse os pecados do homem sem julgá-los, Ele agiria sem justiça. Porque Deus ama ao mundo e ao mesmo tempo é justo, Ele teve de enviar o Senhor Jesus até nós. Por ser justo, Ele teve de julgar o pecado. Porque Ele é amor, Ele teve de suportar o pecado do homem em seu lugar. Devo enfatizar essas duas declarações: Deus deve julgar porque é justo. E Deus sofre o julgamento e a punição devidos ao homem, porque Ele é amor. Sem julgamento, não vemos justiça; com julgamento, não vemos amor. Contudo, o que Ele fez foi suportar o julgamento em nosso lugar. Dessa forma, Ele manifesta tanto Seu amor como Sua justiça em Jesus Cristo.

A Cruz Manifesta a Justiça e o Amor de Deus


Assim, a cruz está onde a justiça de Deus é manifestada. A cruz nos mostra o quanto Deus odeia o pecado. Ele está determinado a julgar o pecado. Ele estava disposto a pagar preço tão alto como o de ter Seu Filho pregado na cruz. Deus não estava disposto a desistir de Sua justiça. Se Deus estivesse disposto a esquecer Sua justiça, a cruz teria sido desnecessária. Por não estar disposto a abandonar Sua justiça, Deus preferiu que Seu Filho morresse.

A cruz também é o lugar onde o amor de Deus é manifestado. O peso dos nossos pecados deveria estar sobre nós. Se não o suportamos, é injusto. Mas suportar tal carga é demais para nós. Por isso Ele veio e a carregou por nós. O fato de Deus dispor-se a suportar a carga mostra-nos Seu amor. O fato de Deus ter, na verdade, suportado tal fardo, demonstra a Sua justiça. Deus fazer-nos levar a punição é justiça sem amor. Deus não nos fazer levar a punição é amor sem justiça. Por Ele tomar a punição e levá-la por nós, há tanto justiça como amor. Aleluia! A cruz cumpre tanto a exigência da justiça, como a exigência do amor. Nossa salvação hoje não é “mercadoria contrabandeada”; não a recebemos de modo fraudulento ou impróprio. Nós não fomos salvos ilegalmente. Fomos salvos de modo claro e definitivo por meio do julgamento. Para nós, o perdão é gratuito, mas para Deus não há tal coisa como perdão gratuito.Para Ele, o perdão vem somente após a redenção dos pecados. Por exemplo, se você infringir a lei, e o tribunal exigir que pague uma multa de mil dólares, você deve pagar a multa para que seu caso seja encerrado. Da mesma maneira, fomos salvos somente após sermos julgados na cruz. Nossa salvação vem após sofrermos o julgamento pelo pecado em Cristo. É uma salvação que vem apenas mediante o julgamento. Aleluia! Nós fomos julgados; então, depois disso, fomos salvos. O amor de Deus está aqui e a justiça de Deus também está aqui.

Deixe-me dar uma ilustração. Suponha que haja um irmão que seja milionário e que eu seja um de seus devedores. Digamos que eu lhe deva grande soma em dinheiro, quantia tão grande  quanto os dez mil talentos mencionados no livro de Mateus (18.24). Quando tomei emprestado o dinheiro dele, assinei uma nota promissória. Na nota, a quantidade e o vencimento estão claramente estabelecidos, bem como os termos e as condições da penalidade. Suponha que agora eu vá até ele e diga: “Gastei todo o dinheiro que tomei emprestado de você, e é-me impossível ganhá-lo e pagá-lo a você num momento de crise econômica como este. Estou com dificuldade até para conseguir comida e sobreviver. Por favor, tenha misericórdia e me libere. Devolva-me a promissória”. Se eu implorar dessa maneira, ele pode devolver-me a nota? A promissória contém exatamente a quantidade que lhe devo e a época em que devo pagar. Esse é um contrato que não somente eu devo cumprir, mas ele tem de honrar da mesma forma. Como devedor, tenho a responsabilidade de pagá-lo dentro do prazo estipulado. Como credor, ele também tem uma responsabilidade a cumprir, isto é, de devolver-me a promissória somente após receber o dinheiro. Se ele me devolver a nota antes de receber o dinheiro, mesmo que o faça por amor e em consideração a mim, ele não está sendo justo. Porque nós, seres humanos, somos simplesmente injustos e estamos acostumados a atitudes injustas, raramente nos ocorre que o perdão gratuito seja uma forma de injustiça. Mas Deus não pode fazer algo injusto. Se Deus nos perdoasse gratuitamente, Ele seria injusto. Além do mais, voltando à ilustração, suponhamos que esse irmão me devolva a nota promissória sem receber o dinheiro. Isso vai afetar-me de modo negativo. Quando tiver dinheiro, irei usá-lo indiscriminadamente. Terei descoberto que posso usar o dinheiro dos outros fácil e levianamente. Assim, esse perdão gratuito do irmão é injustiça para com ele e uma má influência para mim. Agora, suponha que esse irmão seja justo, mas não queira que eu lhe pague. Que ele pode fazer? Deixe-me contar-lhe o que fiz numa situação semelhante. Certa vez alguém foi até minha casa pedir-me dinheiro emprestado. Ele era um cristão nominal. Então lhe disse que, de acordo com a Bíblia, os cristãos não devem tomar dinheiro emprestado. Mas assim mesmo ele suplicou-me que lhe emprestasse dinheiro. A princípio, resolvi simplesmente dar-lhe o dinheiro; mas sabia que ele era irresponsável com o dinheiro dos outros, porque alguns irmãos me haviam alertado e dito que essa pessoa frequentemente pedia dinheiro emprestado aos irmãos, e advertiram-me a não lhe emprestar coisa alguma. Então, numa segunda consideração, decidi a não simplesmente dar-lhe o dinheiro, mas em vez disso, emprestar-lhe. Quando lhe entreguei a quantia que me pediu, perguntei-lhe quando iria devolvê-la. Eu o pressionei por uma data de pagamento, embora soubesse que a quantia nunca seria restituída. Pedir emprestado era um hábito dele; era sua vida. Mas não podia dizer-lhe que não esperava que ele pagasse, pois isso seria um convite para mais empréstimos. Assim, estabeleci uma data de pagamento. Quando chegou o dia, propositadamente escrevi-lhe uma carta, lembrando-o de que a data havia chegado. Após receber minha carta, ele veio ver-me. Mas antes que pudesse falar muito, eu o interrompi e lhe disse que fosse para casa e encontrasse com sua esposa, pois ela tinha algo a dizer-lhe. Assim, ele foi para casa. Na verdade, antes que viesse ver-me, eu levei à sua casa a quantia exata que ele me devia e a dei à sua esposa. Disse-lhe que quando seu marido voltasse para casa, ela deveria dizer-lhe que eu lhe havia mandado a soma do dinheiro do pagamento de sua dívida. Quando o marido chegou em casa, a esposa lhe disse o que eu havia falado. Então ele abriu o pacote e encontrou a quantia exata de seu débito. Ele então entendeu o que fazer. Voltou à minha casa e me devolveu o dinheiro. Nesta atitude, você pode ver o amor e a justiça. Se este homem tivesse sido forçado a me pagar, não teria havido amor. Mas se não o autorizasse a pagar, eu teria sido injusto, pois eu havia dito claramente que o dinheiro lhe havia sido dado como empréstimo. Não apenas teria sido injusto em mim mesmo, como também teria exercido má influência sobre ele. Numa próxima vez, ele teria sido mais irresponsável. Assim, eu fiz o que fiz. Devemos a Deus “dez mil talentos”, mas não temos como restituí-lo. Agora, Deus está fazendo a mesma coisa conosco. Porque nos ama, Ele não pode pedir-nos que o paguemos. Mas porque é justo, Ele não nos dirá que não precisamos pagar. Para nós, é impossível restituí-Lo. No entanto, para Deus é injusto liberar-nos de nossa obrigação. Louvamos ao Senhor porque Ele veio para nos dar o “dinheiro” a fim de que possamos pagar-Lhe o que devemos. O cobrador é Deus e o pagador também é Deus. Sem cobrar, não há justiça; mas se tivermos de pagar, não há amor. Agora, o próprio Deus é o cobrador; assim, a justiça é mantida. E o próprio Deus também é o pagador; assim, o amor é mantido. Aleluia! O cobrador é o pagador. Esse é o significado bíblico da redenção dos pecados. Dessa forma, Jesus, o Nazareno, veio e levou nossos pecados em Seu corpo na cruz. O próprio Deus veio carregar os nossos pecados. Nossos pecados foram julgados por Deus na pessoa de Jesus Cristo. O sangue do Senhor Jesus derramado na cruz é a prova desse julgamento. Nós nos achegamos a Deus por esse sangue. Por intermédio do Senhor Jesus, dizemos a Deus que fomos  julgados. Agora, devolvemos-Lhe o que o Senhor Jesus pagou por nós. É verdade que pecamos. Mas não somos irresponsáveis; houve o julgamento. É verdade que tínhamos um débito. Mas não estamos fugindo dele; o débito já foi pago. Temos o sangue, que significa a salvação realizada pelo Senhor Jesus, como prova de quitação de que Deus pagou nosso débito a Si Mesmo. Eis por que o sangue no Antigo Testamento era aspergido sete vezes no interior do véu. É por isso que ele tinha de ser levado até o propiciatório sobre a arca. Deus tem de perdoar todos os pecadores que vêm a Ele pelo sangue do Senhor Jesus. Não há outra maneira de sermos perdoados por Ele. Voltemos à ilustração anterior. Suponha que eu tenha tomado emprestado de um irmão dez mil talentos de prata e não tenha dinheiro para pagá-lo. Um dia, ele vai à minha casa e diz: “Você me deve dez mil talentos de prata. Agora, precisa devolver-me. Não sou uma pessoa irresponsável ou negligente. Tudo o que faço, faço seriamente. Você tem de pagar-me. Agora, aqui estão dez mil talentos de prata. Leve isso à minha casa amanhã e pague seu débito. Assim, você pode pegar sua nota promissória de volta”. Eu deveria esperar que indo à sua casa com o dinheiro no dia seguinte, poderia resgatar a promissória. Mas suponha que após devolver-lhe o dinheiro, ele diga que, porque o dinheiro me fora dado no dia anterior, ele não me devolverá a nota. Ele pode fazer tal coisa? Quando eu lhe der o dinheiro, será que ele tem o direito de não me devolver a nota promissória? Não. Ele tinha o direito de não me dar o dinheiro no dia anterior. Se ele não me tivesse dado o dinheiro, no máximo, eu poderia dizer que ele não me ama. Não posso dizer nem uma palavra a mais. Mas se ele me deu o dinheiro, e eu o paguei, ele seria injusto se ainda mantivesse a nota; não é simplesmente uma questão de não me amar. Se ele for justo, ele tem de me dar a nota quando lhe devolvo o dinheiro.

Deus é Obrigado a Perdoar-nos por Causa da Justiça


Portanto, antes de o Senhor Jesus vir à terra e ser morto na cruz, seria correto Deus recusar-se a nos salvar. Deus podia não nos salvar. Se Deus não nos tivesse dado Seu Filho, tudo o que podíamos dizer era que Deus não nos amava. Nada poderíamos dizer além disso. Mas porque Deus verdadeiramente nos deu Seu Filho e pôs nossos pecados sobre Ele a fim de que pudéssemos ser redimidos de nossos pecados, Deus nada pode fazer senão perdoar nossos pecados quando nos achegamos a Ele por meio do sangue do Senhor Jesus e mediante Sua obra. Aleluia! Deus tem de perdoar nossos pecados! Você percebe que Deus é obrigado a nos perdoar? Se vai a Deus por intermédio de Jesus Cristo, Deus é obrigado a perdoar seus pecados. Foi amor que levou Seu Filho à cruz, mas foi justiça o que levou Deus a nos perdoar. João 3.16 diz: “Porque Deus amou ao mundo de tal ma neira que deu o Seu Filho unigênito”. Por amor, Deus nos deu Seu Filho Unigênito. Mas em 1 João 1.9 é dito: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. A obra da cruz foi cumprida para nós mediante o amor de Deus. Mas hoje quando vamos a Deus por meio da obra consumada de Jesus Cristo, Deus tem de nos perdoar baseado em Sua fidelidade e justiça.
Assim, se o Senhor Jesus não tivesse vindo, Deus estaria desobrigado de nos salvar. Mas agora que o Senhor Jesus foi morto, mesmo que Deus não tivesse prazer em salvar-nos, rigorosamente falando, Ele ainda teria de fazê-lo. Se Ele recebesse o dinheiro poderia recusar-se a devolver a nota promissória? Deus não pode ser injusto, porque se for injusto, Ele próprio se torna um pecador. Por isso, Deus é obrigado a perdoar a todos os que vêm a Ele por meio do sangue do Senhor Jesus. Aleluia! Deus não pode recusar-se a perdoá-los. Quero gritar que isso é o evangelho! Uma vez que Deus nos deu Seu Filho, Ele se comprometeu. Você pensa que podemos restituir a Deus agora? Hoje, por meio do Senhor Jesus, não apenas podemos pagar a Deus, mas temos mais do que precisamos para pagá-Lo. Temos um excedente; pois onde o pecado é abundante, a graça é superabundante. O pecado é abundante. Mas a graça no Filho de Deus é mais abundante, até mesmo superabundante. Por essa razão é que unicamente por meio do Senhor Jesus podemos ser salvos.

Cada um deve admitir que não há nada injusto com Deus quando vamos a Ele por meio do Senhor Jesus e quando Ele nos dá vida e perdoa nossos pecados. O nosso coração nunca pode dizer que Deus, ao perdoar nossos pecados, salvou-nos ilicitamente quando deixou impunes nossos pecados, tolerando e justificando aos que creem em Jesus. Nunca podemos dizer que Deus lidou irresponsavelmente com nossos pecados. Pelo contrário, devemos dizer que Deus nos salvou do modo mais justo. Nossa salvação é uma salvação adequada e íntegra. Os nossos pecados foram julgados; portanto, fomos salvos. Ninguém pode dizer que Deus nos salvou adotando procedimentos injustos. Antes, devemos dizer que Deus nos salvou pelos mais justos procedimentos.

A JUSTIÇA DE DEUS MANIFESTADA À PARTE DA LEI


Agora vamos voltar a Romanos 3. Os versículos 19 a 26 são uma passagem bastante difícil na Bíblia. Mas após termos visto sobre a justiça de Deus e a justiça que o Senhor Jesus cumpriu, Romanos 3:19-26 é maravilhoso. O versículo 19 diz: “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz, para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus”. Por que Deus deu a lei ao homem? Ela foi dada para que o homem nada tivesse a dizer diante de Deus, para que toda boca pudesse ser fechada. Deus quer mostrar ao homem que todos são pecadores e que todos pecaram. Não há um que seja bom. O versículo 20 diz: “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”. O propósito final e máximo da lei de Deus foi mostrar ao homem que ele é um pecador. O propósito da lei não foi para que o homem fosse salvo por meio dela. A lei tem um tom totalmente condenatório. A lei diz que o homem deveria ser condenado, deveria morrer e deveria perecer. Se a questão parasse aqui, não haveria evangelho e tudo estaria terminado. Mas a questão não pára aqui. O homem não pode viver pela lei, mas Deus tem outros meios. Se você não puder devolver o dinheiro, Deus tem outras maneiras para devolvê-lo por você. As duas primeiras palavras no versículo 21 são maravilhosas; elas demonstram uma grande virada nessa questão: “Mas agora”. Graças ao Senhor porque há essa virada! “Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus”. A justiça de Deus foi originalmente manifestada na lei. Mas se esse fosse o caso agora, estaríamos condenados. Que significa dizer que a justiça de Deus foi manifestada na lei? Significa que tudo o que você devia a Deus, você tinha de pagar. Se pecasse, você tinha de perecer. Se transgredisse, você deveria ir para a perdição. Assim, a lei deveria manifestar a justiça de Deus. Punir os pecadores seria a atitude mais justa que Deus deveria ter. Mas, graças ao Senhor, a justiça de Deus não é mais manifestada na lei. Se Sua justiça fosse manifestada na lei, Deus teria de julgar os pecadores. Mas a justiça de Deus se manifesta sem lei, e sendo assim, o julgamento recai sobre o próprio Deus. O final do versículo 21 diz: “Testemunhada pela lei e pelos profetas”.

Mesmo os profetas no Antigo Testamento, incluindo Davi e todos os outros profetas, testificaram a mesma coisa. Como a justiça de Deus é manifestada? O versículo 22 diz: “Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção”. Mas já que todos pecaram e carecem da glória de Deus (v. 23), como podemos obter a graça de Deus? Os versículos 24 e 25 dizem que somos “justificados gratuitamente (...) mediante a redenção que há em Cristo Jesus; a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação”. Deus enviou Jesus para redimir-nos de nossos pecados e O propôs como propiciação. Creio que todos nós sabemos o que é o propiciatório. O propiciatório é a tampa da arca no tabernáculo do Antigo Testamento; foi o lugar onde Deus concedeu graça ao homem. Todo lugar na terra é manchado pelo pecado. Mas esse lugar, e somente esse lugar, é sem pecado. Agora Jesus tornou-se o propiciatório. Como Ele se tornou tal lugar? Por meio de Seu sangue como garantia. Deus propôs Jesus como o propiciatório e, agora, pelo sangue de Jesus, posso achegar-me a Deus por fé. Deus não pode fazer outra coisa senão derramar graça sobre mim. Somente após Deus ter feito isso, posso dizer que Sua tolerância e Seu deixar os pecados impunes no Antigo Testamento foram justos; e somente após Deus ter feito isso, posso dizer que o fato de justificar os que crêem em Jesus no Novo Testamento também é justo. Somos salvos hoje não porque Deus encobriu nossos pecados, mas porque Deus tratou com nossos pecados. Diante de Deus, não somos devedores perdoados, mas devedores quitados que estão perdoados. Isso é algo muito precioso na Bíblia. Essa é a única maneira de nós, cristãos, podermos ter ousadia diante de Deus. Você já percebeu que por mais precioso que o amor seja ele nunca é confiável? Você não pode levar uma pessoa ao tribunal só porque ela não o amou por alguns dias. Num tribunal não há tal coisa como o amor. Mas se a injustiça ocorrer ou se o pecado surgir, a lei falará. Deus gosta de nos dar uma ajuda, algo para nos agarrarmos. Por meio de tal ajuda, nossa fé pode ser fortalecida e as promessas de Deus podem ser cumpridas em nós. Essa ajuda é o Senhor Jesus Cristo. Deus sabe que podemos duvidar; assim, Ele trabalha a fé em nós por intermédio de Seu Filho. Podemos dizer-Lhe: “Deus, uma vez que me deste Teu Filho e permitiste que Ele morresse, deves perdoar os meus pecados”.

Algumas vezes, ouvimos as pessoas orando: “Ó Deus, quero ser salvo. Por favor, salve-me! Pequei, mas estou determinado a ser salvo. Por favor, seja misericordioso para comigo e faça o Senhor Jesus morrer por mim”. Quando tais pessoas oram, elas podem chorar amargamente. Elas agem como se o coração de Deus fosse muito duro e creem que antes que Deus possa perdoá-las ou voltar-lhes Seu coração, elas têm de chorar muito. Os que oram desse modo, não sabem o que é o evangelho. Se o Filho de Deus não tivesse vindo à terra, seu choro e súplica diante de Deus poderiam funcionar. Mas o Filho de Deus veio e o problema do pecado foi resolvido. A obra redentora na cruz foi cumprida. Quando as pessoas vão a Deus, não há mais necessidade de pobres lamúrias. Uma vez que Deus nos deu Seu Filho, Ele pode perdoar os pecados por meio do Filho. Ele é fiel para fazê-lo; Ele não está sendo mentiroso ao fazer isso. E Ele é justo ao fazê-lo; nada há de injusto aqui. Quando a justiça está envolvida, a fidelidade também está. A maioria das pessoas hoje é ignorante; primeiro quanto à justiça de Deus e depois quanto ao fato de que o Senhor Jesus cumpriu a justiça de Deus. As pessoas não sabem que a justiça de Deus é manifestada sem lei. Elas ainda tentam exercer justiça diante de Deus. Elas são como o homem que deve dez mil talentos. Não há absolutamente como pagar o débito. O homem ainda tenta economizar alguns centavos descendo do bonde uma parada antes, esperando assim economizar para pagar sua dívida. Ele ainda está calculando, esperando economizar um pouco aqui ou ali, fazer isto ou aquilo, a fim de conseguir um pouco de dinheiro para pagar a dívida. Ele ainda quer dizer ao seu credor que embora deva dez mil talentos, tem alguns centavos consigo. Ele não percebe que a soma total já foi enviada à sua casa.

O homem não tem ideia do que Deus realizou por intermédio de Seu Filho. Por isso, o apóstolo Paulo nos diz qual atitude o homem deve tomar. Com respeito à justiça de Deus, precisamos atentar para duas passagens na Bíblia. A primeira passagem está em Romanos 10. Os versículos 3 e 4 dizem: “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê”. Eu amo estes dois versículos. Quando lemos tais versículos relacionados com o evangelho, nosso coração deve animar-se. Esses versículos dizem que os judeus não sabiam que a justiça de Deus tinha sido firmada; eles ainda estavam procurando estabelecer sua própria justiça. Eles faziam o máximo que podiam para ser bons, para trocar suas obras pela salvação e para trocar sua justiça pela vida e tudo o que Deus lhes tem dado. Mas Paulo disse que todos os que procuram estabelecer a sua própria justiça não se sujeitam à justiça de Deus. Não se sujeitar à justiça de Deus é não se sujeitar à obra que Deus cumpriu em Seu Filho Jesus. A justiça de Deus é consumada em Seu Filho Jesus. A cruz de Jesus é tanto uma manifestação do amor de Deus como o cumprimento da justiça de Deus. Na cruz de Jesus, a justiça de Deus foi cumprida. Se algum homem quiser estabelecer sua justiça hoje, ele estará negando a suficiência da obra do Senhor na cruz. Nunca pense que podemos acrescentar algo à obra que o Senhor Jesus cumpriu. Nunca pense que podemos ajudá-la ou remendá-la um pouco. Todos os que buscam estabelecer sua própria justiça não se sujeitam à justiça de Deus. Se alguém envia uma soma de dinheiro à minha casa para pagar um empréstimo que me fez e ainda tento economizar alguns trocados para saldá-lo, eu realmente estou desprezando o que ele me deu. Todos os que buscam estabelecer sua própria justiça estão blasfemando contra Deus.

Por que “o fim da lei é Cristo”? O fato de Cristo ser o fim da lei significa que Cristo inclui tudo o que a lei tem. Em outras palavras, Deus não lhe deu somente dez mil talentos; todo o dinheiro do mundo foi dado a você. Como pode você economizar uns poucos trocados? O fim da lei é Cristo. Como achará outra justiça maior? Se um homem é muito grande e ocupa toda a cadeira, será que você pode apertar-se com ele na mesma cadeira? O fim da lei é Cristo. Como você vai estabelecer sua justiça? Louvamos ao Senhor porque Ele nos deu o melhor! Gostaria de dizer uma palavra forte numa maneira mais reverente: Deus “esgotou” Sua onipotência em Seu Filho Jesus. O fim da lei é Cristo. Todo o que crer Nele deve receber justiça. Os que creem em Jesus são obrigados a receber. Não há possibilidade de não receberem. Eu gosto dessa ideia. É impossível não sermos salvos. Deus nos deu Seu Filho, o qual não apenas possui o pouco que você necessita, mas possui todas as coisas. Deus nunca pode desamparar-nos, os que cremos em Seu Filho. Deus não tem como nos rejeitar. Todos os que vão a Deus por meio do Filho devem receber justiça. Não há o que discutir; a garantia é certa. 

A outra passagem da Escritura é 2 Coríntios 5.21. Nós fomos salvos, mas ainda vivemos como humanos. É verdade que agora estamos salvos e que nossos pecados estão perdoados, mas que fazer enquanto vivemos na terra? Hoje somos todos cristãos e somos todos filhos do Senhor. Observando Seus filhos, Deus declara algo mais espantoso aqui: “Àquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós”. Deus fez o Senhor Jesus pecado. Originalmente, o Senhor Jesus era completamente sem pecado; Ele nada tinha a ver com o pecado. Agora, Deus O julgou enquanto julgava o próprio pecado. Deus O julgou dessa forma “para que nele fôssemos feitos justiça de Deus”. Hoje, no Senhor Jesus Cristo, você e eu somos o exemplo da justiça de Deus. Quando as pessoas nos veem, elas veem a justiça de Deus. Porque o Senhor Jesus se tornou pecado por nós e carregou os nossos pecados para nos perdoar, nós, os pecadores, tornamo-nos agora a justiça de Deus no Senhor Jesus Cristo. Somos a justiça viva de Deus andando na terra. Em Cristo, somos os representantes da justiça de Deus. Se você não sabe o que é a justiça de Deus, tudo o que precisa fazer é encontrar uma pessoa salva e dar uma boa olhada nela. Você então saberá o que é a justiça de Deus. Se quiser conhecer a justiça de Deus, basta encontrar um cristão e saberá que Deus não lida com os nossos pecados irresponsavelmente. Ele fez pecado Àquele que não conheceu pecado. Porque o Senhor Jesus morreu, a obra da redenção foi cumprida. Estarmos hoje no Senhor Jesus é uma expressão da justiça de Deus. Quando uma pessoa vê alguém que crê no Senhor Jesus, ela vê a justiça de Deus. Se alguém quiser conhecer a justiça de Deus, posso levantar-me e dizer: “Simplesmente olhe para mim. Deus me ama muito. Ele me ama ao máximo. Ele não é negligente com o pecado. Eis por que Ele levou o Senhor Jesus a morrer na cruz. Olhe para mim, um pecador salvo hoje. Eu sou uma amostra da justiça de Deus em Cristo”. Hoje, nós proclamamos duas grandes verdades ao mundo. Todas as duas são o que o mundo desesperadamente necessita. A primeira é que Deus ama ao homem. Esse é um fato maravilhoso. Mas não é tudo. A outra grande verdade é que Deus em Sua justiça perdoou os pecados do homem. Agora o homem pode vir a Deus com toda intrepidez e cheio de fé, lembrando-O de que Ele perdoou seus pecados. Finalmente, gostaria de fazer uma pergunta. Por que há a parábola do filho pródigo em Lucas 15? Parece que falta algo nessa parábola. Após o rapaz desperdiçar seus bens e voltar para casa, o pai realmente deveria amá-lo, mas deveria ter dito pelo menos algumas palavras de repreensão ao filho, talvez algo assim: “Você tomou todos os seus bens e os gastou; agora até seu estômago está vazio”. Mas o pai não disse nenhuma palavra como essa. Não é de se admirar que o filho mais velho dissesse algo. Até nós temos algo a dizer. Não é injustiça quando há pecado e ele não é tratado? Se Lucas 15 tivesse apenas a parábola do filho pródigo, concluiríamos que Deus não é justo, que Deus não julgou o pecado, mas que o encobriu. Na parábola do filho pródigo, não há algo como uma palavra de repreensão. Mas graças ao Senhor que há três parábolas em Lucas 15. A primeira é a parábola do pastor salvando a ovelha. A segunda é a da mulher procurando a dracma perdida. A terceira é a do pai recebendo o filho pródigo. Já na primeira parábola, temos o bom pastor dando sua vida pela ovelha. O Senhor Jesus já veio e morreu. O pecado do pródigo já foi julgado na primeira parábola. Em razão do que aconteceu na primeira parábola, há a segunda, na qual uma mulher acende uma candeia para procurar a dracma perdida. Uma vez que o Senhor Jesus cumpriu a salvação, o Espírito Santo pode vir iluminar-nos com Sua luz. Depois disso, o Pai não vê mais o problema do pecado. O problema do pecado foi esclarecido na parábola do pastor dando sua vida pela ovelha. E mais, a percepção interior foi iluminada na parábola da mulher acendendo a candeia. Os erros já foram percebidos. Quando o Pai vem, tudo o que Ele precisa fazer é dar as boas vindas ao pródigo. O Senhor Jesus perdoou nossos pecados. O Espírito Santo nos iluminou e nos convenceu do pecado, da justiça e do juízo. Assim, quando o Pai vem, a questão do pecado não precisa mais ser mencionada; Ele somente tem o trabalho de nos dar as boas-vindas.

Nas duas parábolas anteriores, a justiça de Deus assim como Seu amor já se manifestaram. Suponha que uma pessoa ainda não tenha se achegado a Deus, mas vê que é um pecador e reconhece que o Senhor Jesus julgou seus pecados. O bom Pastor levou seus pecados embora e o Espírito Santo o iluminou a respeito deles. Quando tal pessoa volta para casa, ela tem de perceber que a questão do pecado acabou para sempre; foi tratada na cruz. Lembre-se de que a casa do Pai não é lugar para se falar sobre pecado. Não é lugar para se falar sobre nosso desperdício. A cruz é o lugar para se falar sobre pecado; é o lugar para se falar sobre a nossa queda. Se você estiver em casa, Deus pode mui justamente não preferir falar sobre seus pecados. Podemos comer e beber para deleite de nosso coração. Podemos viver, usar as vestes mais caras, descansar e festejar para o deleite do nosso coração. Deus disse que uma vez estivemos perdidos, mas agora fomos achados; que uma vez estivemos mortos, mas agora voltamos para a vida. Não há mais problemas aqui. Aleluia! A graça de Deus é-nos suficiente. Desse modo, percebemos que a graça de Deus é fiel e justa.

A Justiça da Salvação


Uma coisa que devemos saber é que antes de o Senhor Jesus morrer, seria injusto Deus perdoar nossos pecados, mas depois da Sua morte seria igualmente injusto Deus não perdoar nossos pecados. Sem a morte do Senhor Jesus, o perdão de Deus seria injustiça de Sua parte; Ele nunca poderia fazê-lo. Com a morte do Senhor Jesus, Ele continuaria igualmente injusto se não quisesse perdoar. Por favor, lembre-se, uma redenção sem sangue é injusta. Por outro lado, quando alguém tem o sangue e lhe é negada a salvação, isso também é injusto. Uma vez, fui com um irmão a Quiuquiam. Enquanto estávamos viajando no barco e partilhando a Palavra com outros, comecei a falar com uma pessoa sobre nossa fé. Ao mesmo tempo, nosso irmão falava com outra pessoa, que era muçulmana. Durante a conversa, nosso irmão perguntou ao homem se ele tinha algum pecado. O homem tentou dizer-lhe quão bom é o islamismo e quão grande foi Maomé. Mas nosso irmão disse: “Não estou lhe perguntando sobre essas coisas. Minha pergunta é esta: ‘Você tem algum pecado?’ Ele confessou que sim. Nosso irmão então lhe perguntou: “Então, que vai fazer sobre isso? Há algum modo de você ser perdoado?” O homem respondeu que se ele quisesse ser perdoado, tinha de sentir remorso no coração e fazer o bem, e fazer isto e aquilo e muitas outras coisas. Depois que o homem relacionou todas as coisas que deveria fazer, nosso irmão disse: “Este é exatamente o ponto da controvérsia. Você disse que quando alguém peca, o remorso pode trazer-lhe o perdão. Mas eu digo que quando alguém peca deve haver punição. Sem punição, não pode haver perdão. Você acha que um sentimento de remorso trará perdão a alguém. Mas digo que o perdão somente vem pelo julgamento. Se eu pecar nesta cidade e fugir para um país distante, posso ter remorso lá e praticar muita caridade. Posso ser um bom homem lá. Mas nada disso removerá meu pecado. Seu Deus é um Deus que perdoa sem julgamento. Mas meu Deus é um Deus que perdoa somente após julgar”. O muçulmano então perguntou: “Então, como você pode ser perdoado?” “É por isso que”, disse nosso irmão, “você precisa crer em Jesus. Somente crendo em Jesus você será perdoado. Seus pecados foram julgados no Senhor Jesus e quando crer Nele, você será perdoado”. Aqui está a justiça de Deus. Hoje os homens consideram se Deus é amor ou não. Eles não percebem que Deus não é apenas amor, mas Ele também é justo. Não é que Deus queira somente perdoar os pecados do homem. Ele tem de perdoá-los de maneira que não conflitem com Sua natureza e Sua justiça. É isso que os homens não veem.

As Aplicações da Justiça de Deus


Devemos agora perguntar: como a justiça de Deus é aplicada a nós? A justiça de Deus é aplicada a nós de duas formas. A justiça de Deus pode primeiro ser aplicada dando paz ao nosso coração. Os sentimentos são indignos de confiança; por isso, podemos não confiar nos sentimentos de Deus. O amor é igualmente indigno de confiança. Se o amor de alguém mudar, ninguém pode culpá-lo ou culpá-la por isso. Mas podemos valer-nos da justiça e fazer reclamações baseados na justiça. Se Deus somente nos ama, Ele pode poupar-nos do julgamento dos pecados ou pode deixar-nos facilmente, se for algo que Ele consiga fazer. Mas como será se um dia Deus não estiver mais satisfeito conosco e não quiser continuar conosco? Se Deus não nos amasse mais e se tornasse bravo e insatisfeito conosco, nós sofreríamos. Sob tais circunstâncias, não poderíamos ter qualquer segurança a respeito de Deus e nosso coração nunca estaria em paz. Mas agora que Deus nos deu Sua justiça, estamos em paz, pois sabemos que nossos pecados foram julgados na pessoa de Cristo. Assim, podemos ter uma consciência ousada e uma segurança definitiva quando nos achegamos a Deus, e nosso coração pode ter paz. A paz não pode ser obtida pelo amor; a paz somente pode ser obtida por meio da justiça. Embora, em realidade, o amor de Deus seja confiável, do ponto de vista humano, ele não é tão confiável quanto a justiça de Deus. Logo que uma pessoa começa a crer em Deus, ela deve aprender a confiar mais em Sua justiça do que em Seu amor. Mais tarde, enquanto progride, ela deve aprender a confiar mais no amor de Deus do que em Sua justiça. Tal confiança pertence a um estágio avançado da vida cristã. Essa é a vida de pessoas como Madame Guyon. Mas, no começo, devemos tomar a justiça como a base de nossa fé. Sem justiça, a fé não tem base. Graças a Deus que nossos pecados foram perdoados. Agradecemos-Lhe porque Ele nunca mais nos julgará. Como o hino diz: Não cobra duas vezes Deus: Primeiro de Seu Filho e Depois então de mim. Nosso coração está tranqüilo, pois nossos pecados foram julgados. A justiça de Deus tem outra aplicação: Ela nos leva a perceber a repugnante natureza do pecado. A fim de preservar Sua justiça, Deus se dispôs até mesmo a sacrificar Seu Filho na cruz. Deus preferiu antes sacrificar Seu Filho à Sua justiça, Sua verdade e Sua lei. Deus não faria algo que fosse contrário à Sua natureza. Assim, podemos ver quão repugnante é o pecado. Se Deus não pode ser indiferente ao pecado e prefere antes julgar Seu Filho para tratar com o pecado, também não podemos ser indiferentes em relação ao pecado. Aos olhos de Deus, Seu Filho pode ser sacrificado, mas o pecado não pode deixar de ser tratado. Todo o que crê no Senhor Jesus deve ver então que nenhum pecado pode ser ignorado. A atitude de Deus em relação ao pecado é muito rígida.

Agora todos os nossos pecados estão perdoados. O Senhor Jesus morreu, fomos perdoados, e todas as coisas estão resolvidas. Neste ponto, gostaria de fazer mais uma ilustração. Um dia, eu estava no Parque Hsiao-feng lendo minha Bíblia. De repente, o céu escureceu e houve um trovão. Parecia que ia chover imediatamente. Fechei a Bíblia rapidamente e corri até uma pequena casa atrás do parque. Mas pouco depois a chuva ainda não havia chegado e, então, fui para casa apressadamente. A caminho de casa, o céu ainda estava bem escuro; trovejava e as nuvens estavam muito carregadas. Ainda assim a chuva não caiu. Nenhuma gota caiu sobre mim em todo o caminho para casa. Em outra ocasião, algum tempo mais tarde, fui de novo ao mesmo parque para ler. Dessa vez, também o céu escureceu como da vez anterior. Começou a trovejar novamente e as nuvens estavam pesadas e densas. Então, considerei minha experiência anterior, fiquei calmo e caminhei lentamente. Mas infelizmente, dessa vez, a chuva veio e me molhei. Não tive escolha a não ser correr para a pequena casa outra vez. Quando cheguei na casa, a chuva desabou. Não sabia quão forte a chuva seria. Mas, finalmente, o céu clareou, as nuvens se dispersaram, cessaram os trovões e voltei para casa. Dessa vez, assim como na anterior, não caiu uma gota de chuva enquanto voltava para casa. Mas deixe-me fazer-lhe uma pergunta: Em qual ocasião meu coração teve mais paz? Em ambas as ocasiões a chuva não caiu sobre mim quando eu voltava para casa. Mas em qual das vezes tive mais paz? Foi da primeira ou da segunda vez? Embora na primeira vez não tenha chovido a caminho de casa, não sabia quando a chuva viria; em decorrência disso, meu coração ficou de sobreaviso. Na segunda ocasião, também não houve chuva a caminho de casa, mas meu coração estava em paz, porque a chuva já tinha passado e o céu estava claro. Muitas pessoas esperam que a graça de Deus encubra seus pecados. Elas são como eu em minha primeira volta ao lar. Embora não haja chuva, a escuridão ainda se mantém, troveja e as nuvens são densas. Seu coração ainda fica ansioso. Elas não sabem o que lhes acontecerá. Mas graças ao Senhor, pois a salvação que recebemos é algo que já “passou pela chuva”. É uma salvação que “passou pelo trovão”. Nossa “chuva” já foi derramada no Calvário, e nosso “trovão” já aconteceu no Calvário. Agora, tudo passou. Regozijamo-nos não somente porque nossos pecados foram perdoados, mas porque eles foram perdoados após terem sido tratados. Eles não foram encobertos. Deus tratou com o problema dos nossos pecados. A ressurreição de Seu Filho tornou-se a evidência dessa obra. Hoje é dia de graça. Mas devemos lembrar-nos de que a graça reina pela justiça (Rm 5.21). A graça não pode vir diretamente; ela deve vir pela justiça. A graça de Deus não vem a nós diretamente. Ela vem a nós pelo Calvário. Hoje, alguns dizem que se Deus nos ama, Ele pode perdoar-nos sem julgamento. Isso seria a graça reinando sem justiça. Mas a graça está reinando pela justiça. A graça precisa da justiça do Calvário antes de poder reinar. Hoje, nosso receber da graça está unicamente baseado na justiça de Deus. Nossos pecados são perdoados após terem sido tratados. Quando vemos a cruz, é correto dizer que ela é a justiça de Deus. É também certo dizer que ela é a graça de Deus. A cruz significa a justiça de Deus e ela também significa a graça de Deus. Para Deus, a cruz é justiça; para nós, ela é graça. Hoje quando vemos a cruz, nosso coração descansa, pois sabemos que a graça que recebemos foi recebida mediante a maneira justa de Deus. Sabemos que a nossa salvação é clara, completa, adequada e justa. Nossa salvação não vem mediante contrabando ou fraude. Pelo contrário, ela vem pelo julgamento sobre o pecado. Louvado seja o Senhor! A cruz resolveu o problema do pecado e a ressurreição confirmou que a solução é de fato verdadeira.

A Obra de Cristo — Redenção


Pela graça de Deus, vimos nos capítulos anteriores deste livro, o que é a salvação de Deus. Este é o sexto capítulo. Espero fazer uma breve revisão do que tratamos nos cinco capítulos anteriores e, então, continuaremos. Vimos o pecado, a lei, o amor de Deus, Sua graça e Sua justiça. Vimos como o homem se tornou pecador e como a lei veio expor os pecados do homem. Vimos também que embora esteja provado que o homem é pecador, Deus ainda o ama. Deus não somente nos amou, mas Ele também nos mostrou misericórdia e graça. Vimos também que a graça de Deus se manifestou, qual é a natureza dessa graça, como ela ocorreu e que ela nunca pode ser misturada com esforço humano. No capítulo A Justiça de Deus, vimos que, apesar do amor de Deus e de Seu desejo de nos dar graça, havia um obstáculo para a vinda da graça até nós. Se uma única coisa ficasse sem ser tratada, a graça de Deus não poderia ter vindo até nós. Embora a graça esteja, agora aqui, para prevalecer, ela predomina apenas pela justiça (Rm 5.21). A graça não pode prevalecer por si só. Assim, o Senhor nos mostrou como a justiça foi manifestada. Sua justiça lidou com nossos pecados. Ao mesmo tempo, ela nos capacita a receber graça de Deus. Vimos isso nos capítulos anteriores. Agora, prosseguiremos com o evangelho de Deus e Sua salvação. Mencionamos como a salvação realizada por Deus por intermédio do Senhor Jesus manifestou a graça de Deus. Ao mesmo tempo, ela satisfez as justas exigências de Deus. Agora, enfocaremos a obra do Senhor Jesus. Esse assunto é excelente e doce. Ele trata da maneira pela qual o Senhor Jesus cumpriu a salvação de Deus. Vimos como o Senhor Jesus satisfez a exigência de Deus e como Ele manifestou a graça de Deus. Ao mesmo tempo, precisamos ver como o Senhor Jesus satisfaz o coração do cristão a fim de que também possamos ser satisfeitos com Sua obra. Como diz um hino que cantamos: “O coração de Deus está satisfeito com a obra do Senhor Jesus, e nosso coração também descansa com Sua obra”. Deus está satisfeito e nós estamos satisfeitos. Se o tempo permitir, espero poder  tratar desses dois aspectos.

O Senhor Jesus é Deus e Homem para o Cumprimento da Redenção


A primeira coisa que temos de ver é que o Senhor Jesus é Deus. Podemos dizer que somente Deus pode levar o pecado do homem. Nunca considere o Senhor Jesus como uma terceira pessoa vindo para sofrer uma morte substituta. Não pense que Deus seja uma parte, nós outra parte e o Senhor Jesus a terceira parte. A Bíblia nunca considera o Senhor Jesus como uma terceira parte. Pelo contrário, ela O considera como a primeira parte. Podem terlhe dito que o evangelho é comparado a um devedor, um credor e o filho do credor. O devedor não tem dinheiro para quitar seu débito; o credor, sendo muito severo, insiste no pagamento. Mas o filho do credor se prontifica a pagar o débito em lugar do devedor e o devedor fica livre.

Esse é o evangelho que o homem prega hoje. Mas não é o verdadeiro evangelho. Se esse fosse o caso, pelo menos dois pontos não seriam corretos e seriam contrários à Bíblia. Primeiro, esse tipo de entendimento mostra Deus como o malvado, e o Senhor Jesus o bondoso. Em tal ilustração, não vemos Deus amando o mundo. Antes, vemos apenas Sua justa exigência e a exigência da lei. Vemos um Deus severo, Alguém sem a graça e cujas palavras para o homem são sempre ásperas; e vemos que é o Senhor Jesus quem nos ama e nos dá graça. Esse evangelho está errado. Contudo, embora seja um evangelho errado, Deus ainda o usa. Na verdade, eu mesmo fui salvo por esse tipo de ilustração. Mas embora fosse salvo, nos três primeiros anos, nunca consegui louvar a Deus. Eu sempre sentia que o Senhor Jesus era bom, que deveria agradecer-Lhe e louvá-Lo, que sem Ele tudo era sem esperança e que foi uma felicidade Ele ter vindo. Mas eu sentia que Deus era muito severo, bravo e mau. Ele não era tão amável. Parecia que todas as coisas boas estavam com o Senhor Jesus e todas as ruins estavam com Deus, parecia que Deus era terrível e o Senhor Jesus, amável.

Mas isso não é a Bíblia. A Bíblia diz que Deus amou o mundo de tal maneira que nos deu Seu Filho (Jo 3.16). Deus enviou Seu Filho porque nos amou. Eis por que fomos levados de volta a Deus após o Senhor Jesus ter cumprido Sua obra na cruz. Se Deus não nos tivesse amado e não nos tivesse enviado o Senhor Jesus, o máximo que o Senhor Jesus poderia ter feito era levar as pessoas de volta a Si mesmo; Ele não poderia levar as pessoas de volta a Deus. Graças ao Senhor porque quem nos amou foi Deus. Agradecemos-Lhe porque foi o próprio Deus quem enviou Seu Filho a nós. O Pai é quem foi movido por compaixão. O Pai é quem nos amou. Foi o Pai quem planejou a salvação. Foi o Pai quem teve uma vontade na eternidade passada. Primeiramente, o Pai propôs todas as coisas e, então, o Filho veio. Assim, é errado o homem pensar que há três partes. Há somente duas partes: Deus e o homem. O Senhor Jesus é a dádiva de Deus ao homem. Contudo, essa dádiva é algo vivo e com uma vontade, não sem vida e sem vontade. Graças a Deus porque a salvação é algo entre Deus e o homem. O Senhor Jesus é uma dádiva. Hoje, é a Deus que devemos voltar-nos. Nós nos achegamos a Deus por meio do Senhor Jesus. Essa é a primeira coisa que temos de perceber.

Segundo, se houvesse três partes, o Senhor Jesus não teria sido qualificado a morrer por nós. É verdade que quando o Senhor Jesus morreu por nós, a justiça de Deus foi cumprida e os pecados humanos foram perdoados. Mas foi justo para o Senhor Jesus? Suponha que tenhamos dois irmãos aqui. Suponha que um dos irmãos tenha cometido um crime capital e tenha sido condenado à morte. O outro irmão quis muito morrer por ele e, por isso, foi executado em seu lugar. Ele é inocente, e também uma terceira parte. Agora, ele morre em lugar do outro. A Bíblia nunca nos mostra que o Senhor Jesus morreu por nós deste modo. Ela nunca nos mostra que Deus tinha uma exigência, que Sua lei tinha de ser satisfeita e que para que o homem cumprisse a exigência da lei, o Senhor Jesus veio para cumprir a lei de Deus. Não há tal coisa. Que posição o Senhor Jesus tomou quando Ele veio cumprir a redenção? Temos de considerar essa questão cuidadosa e precisamente conforme a Bíblia.

Gostaria que vocês estivessem cientes de uma coisa. O mundo pensa que há apenas um modo de lidar com o problema do pecado. Os pregadores que pregam ensinamentos errados dizem que há três maneiras de lidar com o pecado. Mas para Deus há somente dois modos de lidar com o pecado. Alguma explicação se faz necessária aqui. Antes de ler a Palavra de Deus, alguém pode pensar que um desses três modos pode resolver o problema: o homem pode resolvê-lo, Deus pode resolvê-lo ou uma terceira parte também pode resolvê-lo por substituição. Os que não são salvos, que não conhecem a Deus, consideram que há apenas uma solução: que é o homem quem deve resolver o problema por si mesmo. Mas a justiça de Deus mostra-nos que há somente dois modos de resolver o problema: Um é pelo próprio Deus e o outro é pelo próprio homem. Que quero dizer com isso? Vamos primeiro considerar o que o homem pensa. Ele pensa que é pecador e deve, portanto, sofrer o julgamento do pecado e da ira de Deus. Ele pensa que deveria perecer e ir para a perdição. A única maneira é ele resolver o problema por si mesmo, indo para o inferno. Ele se responsabilizará pelo que fez. Se alguém peca, vai para o inferno e sofre julgamento do pecado. Essa é uma maneira de resolver o problema. Quando alguém deve dinheiro, ele vende tudo o que tem. Ele pode até mesmo ter de vender sua esposa, filhos, casa e terra, se isso for necessário para resolver o problema. Isso é justo. Então, há outro conceito errado. Para os que ouviram o evangelho, há a consideração de que o Senhor Jesus é a terceira parte vindo tomar nosso lugar e resolver o problema do nosso pecado. O homem pecou e incorreu no julgamento do pecado. Agora, todo o julgamento está sobre o Senhor Jesus; Ele sofre todo o julgamento. Tal ensinamento parece correto. Mas vocês verão resumidamente que ele não é exato.
Primeiramente direi uma palavra para os que têm conceitos obscuros. Na Bíblia, há duas importantes doutrinas, que são: levar os pecados e o resgate pelos pecados. Por favor, não pensem que não creio na substituição. Mas a substituição sobre a qual alguns falam não é a substituição na Bíblia, porque é um tipo de substituição que envolve injustiça. Se o Jesus imaculado deve ser um substituto para nós, homens pecadores, é claro que isso nos é um bom negócio. Mas é justo tratar o Senhor Jesus dessa maneira? Ele não pecou. Por que Ele deveria ser morto? Esse não é o tipo de substituição que a Bíblia fala. Se o Senhor Jesus veio morrer em lugar de todos os pecadores do mundo, então os que crêem em Jesus, assim como os que não crêem Nele, serão igualmente salvos. O Senhor morreu por ambos, quer creiam ou não. Não se pode voltar atrás e revogar a morte do Senhor apenas porque alguns não crêem. Pode-se voltar atrás em outras coisas. Mas isso não é algo reversível. Por que a Bíblia diz que os que não crêem foram julgados e perecerão? (Jo 3.16,18). A razão é que o Filho de Deus teve apenas uma morte substitutiva por nós os que cremos. Ele não é um substituto para os que não crêem. Qual, então, é a maneira de resolver o problema do pecado de acordo com a Bíblia? Há somente duas maneiras justas para resolver o problema. Uma é tratar com quem pecou e a outra é tratar com aquele contra quem se pecou. Há apenas duas partes que são qualificadas para lidar com esse problema. Há apenas duas pessoas no mundo que têm o direito de tratar com o problema do pecado. Uma é aquela que pecou contra outra. A outra é aquela contra quem se pecou. Quando uma pessoa processa outra num tribunal, nenhuma outra parte tem o direito de dizer coisa alguma. No proceder do tribunal, somente os dois envolvidos têm o direito de falar. A respeito da salvação do pecador, se ele mesmo não cuida disso, então Deus o faz por ele. O pecador é a parte pecaminosa e Deus é a parte contra quem se pecou. Ambos podem lidar com o problema do pecado da maneira mais justa. Do lado do pecador, é justo que ele sofra o julgamento e a punição, pereça e vá para a perdição. Mas há uma outra maneira que é igualmente justa: a parte contra quem se pecou pode assumir a punição. Isso pode ser totalmente inconcebível para nós, mas é um fato. É a parte contra quem se pecou que suporta os pecados. Não é uma terceira parte que leva nossos pecados. Uma terceira pessoa não tem autoridade ou direito de intervir. Se uma terceira pessoa intervier, é injustiça. Somente quando a parte contra quem se pecou está disposta a sofrer a perda, é que o problema pode ser solucionado. Visto que Deus tem amor e também tem justiça, Ele não permitiria que um pecador carregasse os próprios pecados, pois isso significaria que Deus é justo, mas sem amor. A única alternativa é a parte contra quem se pecou carregá-los. Somente por Deus suportar nossos pecados é que a justiça será mantida.

Você sabe o que significa o perdão? No mundo, nós temos perdão. Entre pessoas, há perdão. Entre um governo e seu povo também há perdão. Até entre nações há perdão. Entre Deus e o homem também há perdão. O perdão é algo universalmente reconhecido como um fato. Ninguém pode dizer que o perdão seja algo injusto. É algo que alguém concede alegremente ao outro. Mas a questão é: quem tem o direito de perdoar? Se um irmão me roubou dez dólares, e eu o perdôo, isso significa que eu tenho de suportar a consequência do seu pecado. Eu assumi a perda desses dez dólares. Também como outro exemplo, digamos que você me bateu no rosto. A força foi tanta que sangrou. Se eu disser que o perdôo, significa que você comete o pecado de bater e eu sofro a consequência do golpe. O pecado foi cometido por você, mas eu sofro a consequência dele. Isso é perdão. Perdoar significa que alguém peca e outro sofre a consequência desse pecado. Perdão é assumir a responsabilidade da parte pecadora pela parte contra quem se pecou. Uma terceira parte não tem o direito de intervir para perdoar. Ela não pode interferir na retribuição. Se uma terceira parte intervém para perdoar e para retribuir, isso é injustiça. Se o Senhor Jesus interferisse como uma terceira parte para substituir o pecador, poderia ser bom para o pecador e Deus também poderia não ter problemas com isso, mas haveria um problema com o Senhor Jesus. Ele não tem pecado. Por que Ele teve de sofrer o julgamento? Somente o pecador pode suportar a consequência do pecado; ele tem o direito de assumir a responsabilidade e sofrer o julgamento pelo seu pecado. E há somente um que pode levar os pecados do pecador — aquele contra quem se pecou. Somente aquele contra quem se pecou pode assumir o pecado do pecador. Isso é justiça. Esse é o princípio do perdão. Tanto a lei de Deus como a lei do homem reconhecem que isso é justo. O homem tem a obrigação de sofrer a perda. Visto que o homem tem livre arbítrio, Deus também tem livre arbítrio. Uma pessoa com livre arbítrio tem o direito de escolher sofrer a perda. Então, que é a redenção de Cristo? A obra redentora de Cristo é o próprio Deus vindo para levar o pecado do homem cometido contra Si. Esta palavra é mais amável de se ouvir do que todas as músicas do mundo. Que é a obra redentora de Cristo? É Deus suportando o que o homem pecou contra Si. Em outras palavras, se Jesus de Nazaré não fosse Deus, Ele não estaria qualificado a levar nossos pecados de maneira justa. Jesus de Nazaré era Deus. Ele é o próprio Deus contra quem pecamos. Nosso Deus desceu à terra pessoalmente e tomou nossos pecados. Hoje, é Deus quem leva os nossos pecados em lugar do homem. Eis por que foi uma ação justa. Não podemos suportá-los por nós mesmos. Se fôssemos tomá-los, estaríamos acabados. Graças a Deus que Ele mesmo veio ao mundo para suportar os nossos pecados. Essa é a obra do Senhor Jesus na cruz. Por que, então, Deus teve de tornar-se um homem? Já é suficiente que Deus ame ao mundo. Por que Ele teve de dar Seu Filho unigênito? É preciso perceber que o homem pecou contra Deus. Se Deus exigisse que o homem suportasse seu pecado, como o homem faria isso? O salário do pecado é a morte. Quando o pecado induz e age, ele acaba em morte. A morte é a cobrança justa do pecado (Rm 5.12). Quando o homem peca contra Deus, ele tem de suportar a consequência do pecado, que é a morte. Por isso, Deus é a outra parte. Se Ele viesse e assumisse nossa responsabilidade e sofresse a consequência do nosso pecado, Ele teria de morrer. Mas em 1 Timóteo 6.16 é-nos dito que Deus é imortal; Ele não pode morrer. Mesmo que Deus quisesse vir ao mundo tomar nossos pecados, morrer e ir para a perdição, para Ele seria impossível fazê-lo. A morte simplesmente não tem efeito em Deus. Não há a possibilidade de Deus morrer. Portanto, para Deus sofrer o julgamento do pecado do homem contra Si, Ele teve de tomar o corpo de um homem. Por isso Hebreus 10.5 diz-nos que quando Cristo veio ao mundo, Ele disse: “Corpo me formaste”. Deus preparou um corpo para Cristo, com o propósito de Cristo se oferecer como oferta queimada e oferta pelo pecado. O Senhor diz: “Não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado” (v. 6). Agora Ele oferece Seu próprio corpo para tratar com o pecado do homem. Então, o Senhor Jesus se tornou um homem e veio ao mundo para ser crucificado. O Senhor Jesus não é uma terceira parte; Ele é a parte primeira. Por ser Deus, Ele é qualificado para ser crucificado. Por ser homem, Ele pode morrer na cruz em nosso lugar. Devemos fazer clara distinção entre essas duas declarações. Ele é qualificado para ser crucificado porque é Deus, e pode ser crucificado porque é homem. Ele é a parte oposta; Ele se colocou ao lado do homem para sofrer punição. Deus se tornou um homem. Ele habitou entre os homens, uniu-se ao homem, tomou o fardo do homem e levou todos os pecados do homem. Se a redenção tem de ser justa, Jesus de Nazaré deve ser Deus. Se Jesus de Nazaré não for Deus, a redenção não é justa. Todas as vezes que olho para a cruz, digo a mim mesmo: “Este é Deus”. Se Ele não for Deus, Sua morte se torna injusta e não pode salvar-nos, pois Ele não é senão uma terceira parte. Mas agradecemos e louvamos ao Senhor, pois Ele é a outra parte. Por isso declarei que apenas duas partes são capazes de lidar com os pecados. Uma parte somos nós mesmos, e nesse caso temos de morrer. A outra parte é Deus, contra quem pecamos, e nesse caso Ele morre por nós. Além dessas duas partes, não há uma terceira que tenha direito ou autoridade para lidar com nossos pecados.

O Homem Jesus tem a Justiça Segundo a Lei e está Qualificado Para Redimir o Homem


Jesus de Nazaré veio ao mundo. Enquanto esteve na terra, Suas obras demonstraram que Deus nos ama. Mas ao mesmo tempo, Ele cumpriu a lei. Ele foi verdadeiramente submisso a Deus. Ele foi um homem santo e submisso. Nele vemos um homem perfeito. Jesus de Nazaré é pleno de justiça. Ele foi um homem justo. Em toda a história, houve apenas um homem que poderia ser salvo pela lei. Esse foi Jesus de Nazaré. Ele não precisava guardar a lei; no entanto, Ele a guardou. A Bíblia diz que somente os que guardam a lei podem herdar a justiça que provém da lei. Com justiça, há vida. A lei diz que quem a guardar, viverá. Guardá-la é manter-se fiel à lei. Todo aquele que tem a justiça da lei tem vida. O único propósito de Deus em dizer isso a todo o mundo é condenar o homem e provar-lhe que é pecador. Deus nos deu a lei para provar a nós que somos pecadores. Graças ao Senhor. Há somente Um aqui que tem vida pela lei: é Jesus de Nazaré. Por um momento coloquemos de lado o fato de que Ele é Deus e O consideremos como um homem, um homem muito comum. Ele guardou a lei e viveu. Ele viveu na terra por mais de trinta e três anos. Ele não somente não pecou, como nem mesmo conheceu o pecado. Ele foi tentado em todas as coisas, mas não foi tentado pelo pecado. Anote isso: O Senhor Jesus não foi tentado pelo pecado. Muitos quando lêem o livro de Hebreus adquirem um entendimento errado baseado numa tradução errada. O texto grego mostra-nos claramente que, embora o Senhor Jesus tenha sido tentado em todas as coisas, Ele nunca foi tentado pelo pecado. Ele estava em carne e, portanto, tinha fraqueza. Mas Ele não conheceu pecado. Ele nunca foi tentado pelo pecado. Se você consultar uma tradução precisa verá isso claramente. Os atos de justiça do Senhor Jesus têm alguma vantagem para nós? Claro que sim. Os atos de justiça do Senhor Jesus provam que Ele é Deus. Por causa desses atos de justiça, o Senhor Jesus não teve de morrer por Si mesmo. Os atos de justiça do Senhor Jesus O qualificam a morrer na cruz pelos nossos pecados. Se o Senhor Jesus tivesse algum pecado, Sua morte teria sido para Si mesmo; Ele não seria capaz de morrer por nós. Uma vez que o Senhor não teve qualquer pecado, Ele foi qualificado para ser oferecido como um sacrifício por nossos pecados. A teologia cristã diz que Deus fez nossa a justiça do Senhor Jesus. Deus transferiu a justiça do Senhor para nós da mesma maneira que um banco transfere o dinheiro de uma conta para outra. O Senhor guardou a lei por nós. Nós desobedecemos a lei. Mas a obediência do Senhor Jesus nos fez merecedores da satisfação de Deus. Mas permitam-me perguntar-lhes enfaticamente: a Bíblia alguma vez mencionou a “justiça do Senhor Jesus”? Quem pode achar uma passagem no Novo Testamento que fale da “justiça do Senhor Jesus”? Se ler todo o Novo Testamento, inclusive o texto grego, você descobrirá que o Novo Testamento nunca menciona as palavras a justiça de Cristo. Uma passagem parece dizer isso, mas ela não se refere à justiça própria da pessoa de Cristo hoje. Os homens não gostam de ler a Palavra de Deus. Eles gostam de estudar teologia. A teologia, contudo, é criada pelo homem. Ela não vem da Palavra de Deus. A teologia diz-nos que Deus imputou a justiça de Cristo a nós. A Bíblia nunca transmite esse conceito. Pelo contrário, a Bíblia se opõe a esse conceito. A justiça de Jesus de Nazaré é Sua própria justiça. Ela é realmente justiça, mas é a justiça de Jesus de Nazaré. Esta justiça O qualifica a morrer por nós e ser nosso Salvador. Mas Deus não tem a intenção de transferir a justiça de Jesus para nós.
João 12.24 é um versículo precioso na Bíblia. Lá diz  que se um grão de trigo não cair na terra e morrer, fica ele só. Um homem como o Senhor Jesus foi exatamente um grão diante de Deus. Somente após Ele ter morrido, houve os muitos grãos. A salvação começa com a cruz. Embora devamos ter Belém antes de podermos ter o Gólgota, somos salvos por meio do Gólgota, não por meio de Belém. O Filho de Deus é totalmente justo. Ele foi o grão justo. Mas Sua justiça não nos pode salvar. Ela não pode ser imputada a nós. Deus faz menção da justiça de Cristo na Bíblia. Mas Ele nunca diz que a justiça de Cristo deve ser nossa. A Bíblia diz que Cristo é nossa justiça. Ela nunca diz que a justiça de Cristo é nossa justiça. Gostaria de salientar isso, pois isso exaltará a cruz do Senhor Jesus Cristo. A Bíblia diz que Cristo é a nossa justiça. O próprio Cristo é a nossa justiça. Nós nos achegamos a Deus em Cristo. Cristo é nossa justiça. Certa vez, perguntei a uma irmã ocidental o que ela veste quando chega diante de Deus. Ela disse que veste a justiça de Cristo para ir até Deus. Ela tomou a justiça de Cristo como sua veste para ir até Deus. Eu lhe perguntei onde ela encontrou isso na Bíblia. Não é a justiça de Cristo que se tornou nossa justiça. Cristo nunca transferiu Sua justiça a nós. Antes, é o próprio Cristo quem se tornou nossa justiça. Fomos salvos pela justiça de Deus e não pela justiça de Cristo. Vimos o que é a justiça de Deus. É a justiça de Deus que nos traz o perdão e nos livra do julgamento. Não é a justiça de Cristo que faz isso. A justiça de Cristo é somente a qualificação para que Ele seja nosso Salvador. Cristo nunca transferiu-nos Sua justiça. Se a justiça do Senhor Jesus fosse transferível a nós, Ele poderia tê-lo feito enquanto vivia na terra. Ele não teria de ir à cruz e nós, assim, poderíamos ter sido salvos. Se o caso fosse esse, Sua vida se tornaria nossa vida resgatadora. Mas não há tal doutrina como vida resgatadora. Há somente a doutrina da morte resgatadora. Somente a morte do Senhor Jesus nos salvará. Sua vida é nosso exemplo. Não podemos ser salvos por Sua vida. Sua justiça nos condena. Quanto mais justo Ele é, mais embaraçados ficamos. Não há maneira alguma de Sua justiça ser imputada a nós. Se Deus nos colocasse lado a lado com a justiça do Senhor, somente poderíamos ir para o inferno. Mas graças a Deus porque Ele morreu e se tornou nossa justiça. Eis por que somos salvos. A salvação vem da cruz. Ela não veio da manjedoura. A salvação vem do Gólgota; ela não vem de Belém. Se a justiça do Senhor Jesus pudesse salvar-nos, Ele não precisaria ter morrido. Por isso, quando lemos a Bíblia, não devemos ser afetados pela teologia. Ficaremos muito mais esclarecidos se formos ensinados pela Bíblia do que pela teologia. A palavra do homem pode ajudar, mas ela também pode danificar. Devemos colocar de lado a palavra do homem. Vamos prosseguir passo a passo. Primeiro vimos que deve ser Deus quem toma nossos pecados. Então, vimos que Jesus de Nazaré veio para levar nossos pecados. Mas Sua justiça na terra foi mais que uma condenação para nós. Quando fomos salvos por meio do Senhor Jesus? 

Consideremos um tipo na Bíblia. No tabernáculo, entre o Lugar Santo e o Santo dos Santos, havia um véu. Deus estava além do véu no Santo dos Santos. Fora do véu estava o mundo. A Bíblia nos diz que esse véu significa a carne do Senhor Jesus (Hb 10.20). Em outras palavras, o Santo dos Santos somente pode ser visto pelo Senhor Jesus como um homem na terra e pelos que têm uma vida igual à do Senhor Jesus. Nem todos podem ver Deus. Somente o Senhor Jesus podia ver Deus. Ninguém, em todo o mundo, pode ver o Santo dos Santos. Ele estava velado. Quando pôde o homem ver o Santo dos Santos? Quando Deus removeu o véu do céu e uniu o Santo dos Santos, o Lugar Santo e o átrio exterior a fim de que o homem fosse capaz de vê-Lo. Isso aconteceu quando o Filho de Deus foi crucificado na cruz. Naquela hora, o caminho para o Santo dos Santos foi aberto. Por isso Hebreus 10.19-20 diz que temos intrepidez para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus pelo véu. Este véu rasgado é a carne do Senhor Jesus. Agora, temos intrepidez e a plena certeza de fé para nos achegar a Deus. A justiça do Senhor Jesus na terra não tem relação direta conosco. Graças ao Senhor, pois Ele não ficou na terra para sempre. Se tivesse permanecido na terra para sempre, Ele ainda seria um grão. Graças a Deus porque Ele morreu e nos produziu, os muitos grãos. Graças ao Senhor pela cruz.

Os Dois Aspectos da Cruz do Senhor


Aqui há uma questão: O Senhor morreu na cruz, mas qual o significado de Sua morte? Quem O enviou à cruz? Todos os que leem os Evangelhos sabem que foram os judeus que O entregaram aos gentios e foram os gentios que O crucificaram na cruz. Se me lembro corretamente, Pilatos era um espanhol. Como podemos dizer que o Senhor Jesus morreu para levar nossos pecados? Ele foi claramente crucificado pelo homem. Em Atos 2.23, Pedro disse aos judeus que eles pregaram Jesus na cruz por mãos de iníquos. Aqui é dito que foram os judeus que pregaram o Senhor Jesus na cruz. Mas que fez o Senhor Jesus na cruz? Antes de ir à cruz, Ele esteve orando no jardim do Getsêmani. Sua oração, junto com suor com gotas como de sangue, foi causada pela perseguição e oposição do homem? Foi porque Judas trouxe homens para prendê-Lo? Ou foi porque Ele tinha de ir à cruz para nos redimir do pecado? Não foi porque Deus fez com que Aquele que não tinha pecado se tornasse pecado por nós e carregasse os pecados de todo o mundo sobre Si, para que Ele pudesse levar nossos pecados sobre o madeiro? Ali, Ele orou: “Pai, se queres, afasta de Mim este cálice” (Lc 22.42). Se a cruz fosse algo da mão do homem, se ela fosse apenas o instrumento para alguns homens maus matarem-No, e se houvesse apenas o aspecto humano do Senhor Jesus, então eu não gostaria de ouvir essa oração do Senhor. Não gostaria de ouvir Jesus de Nazaré ajoelhado ali orando ao Pai para, se possível, afastar Dele o cálice. No decorrer de dois mil anos, muitos mártires e discípulos do Senhor tiveram um grito mais forte que Ele ao se defrontarem com a morte. Muitos mártires, quando trancados em celas e masmorras, oraram para que o Pai os glorificasse, que queriam morrer pelo Filho e testificar a Palavra do Senhor com o sangue deles. Se não tivesse sido Deus quem começou a pôr o encargo pelos pecados sobre o Senhor no Getsêmani, e se não tivesse sido Deus quem tivesse colocado sobre o Senhor Jesus o encargo de tomar os nossos pecados, teríamos de dizer que o Senhor Jesus nem mesmo teve tanta coragem como aqueles que creram Nele. Assim, o problema é que a cruz tem o aspecto humano e o aspecto de Deus. O homem crucificou o Senhor Jesus na cruz. Mas o Senhor disse que nenhum homem tira Sua vida; Ele espontaneamente a entregou (Jo 10.17-18). O homem podia crucificar o Senhor mil vezes ou dez mil vezes, mas a não ser que Ele desse Sua vida, nada poderia ter sido feito a Ele. O homem crê que Ele foi crucificado pelo homem. Nós cremos que Ele foi crucificado por Deus para redimir os pecados em nosso favor.

Temos de descobrir na Bíblia o que Deus fez na cruz. Primeiro, leiamos Isaías 53.5-10: “Mas  ele foi transpassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido. Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca. Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos”. Os apóstolos citam Isaías 53 muitas vezes no Novo Testamento. A pessoa falada nessa passagem das Escrituras é o Senhor Jesus. Que disse o profeta quando escreveu essa porção da Escritura? A última frase no versículo 4 diz: “Nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido”. No começo, o profeta achava que Ele fora ferido e afligido por Deus, que fora punido por Seus próprios pecados e ferido por Deus por Suas transgressões. Mas no versículo 5 há uma volta. Deus lhe deu uma revelação através da palavra mas. Achávamos que Ele estivesse meramente sofrendo punição e ferimento. Mas Ele não estava sofrendo punição e ferimento: “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho” (vs. 5-6). A frase seguinte é muito preciosa: “Mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos” (v. 6). Isso é o que o Senhor fez. Vemos que em relação à cruz há o aspecto do homem e o aspecto de Deus. Embora tenham sido as mãos humanas que pregaram o Senhor Jesus, manifestando o ódio do homem por Deus, foi também Deus quem colocou todos os nossos pecados sobre Ele e O crucificou. A cruz foi obra de Deus; foi algo que Jeová cumpriu.


Que aconteceu na cruz? “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca”. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido” (vs. 7-8). Ser cortado da terra dos viventes é morrer. Os que estavam ao pé da cruz quando o Senhor foi crucificado admiravam-se e queriam saber por que esse homem estava sendo crucificado. Eles não sabiam a razão de aquilo estar acontecendo. O profeta disse que “ele não abriu a boca”, e que “como cordeiro foi levado ao matadouro; e como ovelha muda perante os seus tosquiadores”. Quem sabia que Ele estava sendo cortado da terra dos viventes pelo pecado do povo? Quem sabia que era Deus operando Nele para cumprir a obra de redenção? A cruz foi a maneira pela qual o Senhor cumpriu a redenção por meio de Sua morte. O versículo 9 diz: “Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca”. O versículo 10 é muito precioso: “Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado”. A cruz é uma obra de Deus. Foi o próprio Deus quem levou nossos pecados na cruz. Foi Ele quem solucionou nosso problema de pecado. Nunca dê qualquer crédito a Judas por entregar o Senhor Jesus aos judeus. Nunca pense que sem Judas o Senhor não poderia ser o Salvador. Mesmo se mil ou dez mil Judas tivessem existido, ainda seriam inúteis. Foi o próprio Senhor Jesus quem suportou nossos pecados.

Quando o Senhor Jesus estava orando no jardim do Getsêmani, Ele pode ter parecido o mais fraco de todos os homens, sem qualquer coragem. Ele orou ao Pai para que passasse Dele o cálice (Lc 22.42). Mas quando saiu do jardim e encontrou muitos homens maus, Ele disse: “Sou eu”, e eles “recuaram e caíram por terra” (Jo 18.6). Por favor, lembrem-se de que Ele não caiu quando se confrontou com os homens maus. Pelo contrário, Ele os fez cair. Mas enquanto Ele estava no Getsêmani, considerando o sofrimento que envolvia tomar os pecados do homem, como é que Aquele que não tem pecado seria feito pecado e como Ele iria tomar sobre Si o julgamento do pecado, Ele orou para que, se possível, o cálice fosse passado de Si. Não fosse pela questão da redenção, o Senhor Jesus nem mesmo seria comparado a um mártir. Quão fortes foram os muitos mártires cristãos quando marchavam para a arena dos leões. Mas o Senhor Jesus rogou que o cálice fosse, se possível, removido Dele. Fisicamente falando, o Senhor Jesus foi imensamente diferente de todos os mártires. Mas para a redenção, para solucionar o problema do pecado, para Deus vir ao homem e levar o pecado do homem, até mesmo Ele teve de pedir que, se possível, o cálice fosse removido. A Bíblia diz que Jeová foi quem fez Dele uma oferta pelo pecado. Foi Jeová quem pôs sobre Ele a iniquidade de todos nós. Isso foi algo que Jeová fez. A cruz foi obra de Deus; não foi obra do homem. A cruz é o próprio Deus vindo à terra para levar os pecados do homem. A cruz não é o homem crucificando o Filho de Deus.

Você se lembra do que a Bíblia diz que aconteceu entre a hora sexta e a nona? O sol escureceu (Lc 23.44-45). Os judeus escarneceram Dele, e os gentios conseguiram açoitá-Lo e humilhá-Lo. Mas o sol estava além do controle dos judeus, e os gentios não tinham autoridade para manipular o sol. O homem protestou e tocou trombeta; mas o terremoto não foi algo que Pilatos conseguisse ordenar. Por que o céu escureceu? Esse fenômeno aconteceu porque o próprio Deus veio tomar nossos pecados. Isso não foi algo feito pelo homem. Se tivesse sido algo feito pelo homem, teria Deus aumentado a dor de Seu Filho quando Ele estava pregado na cruz? Deus não teria enviado doze legiões de anjos para vir e salvá-Lo? Tal fato sem dúvida aconteceria se não fosse pela redenção dos pecados. Agradecemos e louvamos a Deus porque foi Seu Filho quem veio para nos redimir dos pecados. Eis por que Ele disse: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” (Mt 27.46). Nenhum cristão por todos estes dois mil anos disse essas terríveis palavras quando estava para morrer. Por dois mil anos, quer os cristãos tenham morrido em paz quer em aflição, eles foram mais ousados que Ele. Por que o Filho de Deus foi ali rejeitado por Deus? Se tivesse sido meramente a mão do homem e a crucificação pelo homem, essa teria sido a ocasião em que Ele mais precisaria da presença de Deus. Quando o homem conspirou para persegui-Lo e matá-Lo, Deus deveria ter manifestado mais Sua presença. Esse foi o momento mais crucial e Deus tinha de estar com Ele. Por que Deus O abandonou, então? Foi unicamente porque o Filho de Deus tinha se tornado pecado e tinha suportado o julgamento. Essa é a razão de Ele ter clamado: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” Deus O desamparara. Nós, que cremos na obra da redenção, sabemos que o trabalhar da cruz foi para que Ele fosse julgado pelo pecado. A cruz do Senhor mostra-nos como o pecado é maligno e quão grande preço Deus pagou pela obra de redenção.

Além de Isaías 53, podemos encontrar outro testemunho claro da Escritura. Romanos 3.25 diz que Deus propôs Cristo como propiciação. Isso também mostra claramente que a obra foi feita por Deus. Deuteronômio 21.23 diz-nos que o que é levantado no madeiro é maldito de Deus. Quando o Senhor foi pregado na cruz, Ele não foi maldito do homem. Antes, Ele foi maldito de Deus. Eis por que Ele pode livrar-nos da maldição. Em 1 João 4.10 é dito que Deus nos amou e enviou Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Foi Deus quem enviou Seu Filho como propiciação. Não foi o homem quem O crucificou. Em 2 Coríntios 5.21 também é dito: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós”. Isso foi algo que Deus fez. A cruz é o trabalhar de Deus. Foi Deus quem enviou o Senhor Jesus para passar pela cruz. Atos 2.23 menciona tanto o aspecto de Deus como o aspecto do homem. “Este [homem] entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos”. O Senhor Jesus foi morto pelos judeus por mãos de iníquos. No entanto, tal morte foi de acordo com o desígnio de Deus. Isso mostra-nos que tudo foi feito por Deus. Nós temos pecado e o pecado somente pode ser tratado por Deus. Por essa razão, Deus veio ao mundo para ser um homem. Enquanto homem, Ele foi verdadeiramente justo. Mas essa justiça não foi imputada a nós. Foi a morte do Senhor Jesus que nos livrou da maldição da lei (Gl 3.13). Ele não nos livrou do pecado enquanto estava vivo, mas quando morreu. Na cruz, foi Deus quem O crucificou, não o homem. A mão do homem é inútil. Foi Deus quem aproveitou a oportunidade ali para manifestar o pecado do homem.

Redenção e Substituição


Agora temos de fazer uma pergunta. Uma vez que o Senhor Jesus morreu na cruz e uma vez que Deus O fez propiciação, como, então, podemos ser salvos? Qual a diferença entre redenção e substituição? São fatores semelhantes? Temos de reconhecer que a obra do Senhor Jesus é uma obra de redenção. Mas o resultado dessa obra redentora é a substituição. A redenção é a causa e a substituição é o resultado. A extensão da redenção é muito grande. Mas a extensão da substituição não é tão grande assim. É muito interessante que a Bíblia nunca diz que o Senhor Jesus morreu pelos pecados de todos. Ela somente diz que o Senhor Jesus morreu por todos (2 Co 5.14). Sua obra redentora foi para satisfazer as justas exigências de Deus. Quando o Senhor cumpriu a redenção na cruz, essa obra de redenção não tinha absolutamente nada a ver com o homem. Quero impressioná-los fortemente com esta palavra: a redenção não está absolutamente relacionada conosco. A obra de redenção é entre Deus e o pecado. Que é a obra de redenção? É o próprio Deus vindo ao mundo para resolver o problema do pecado. Uma vez que o problema do pecado foi resolvido, a obra da redenção foi cumprida. O sangue do cordeiro pascal era aspergido nas ombreiras e nas vergas das portas (Êx 12.7). Deus disse que quando visse o sangue, Ele passaria pela casa (v. 13). O sangue foi para Deus ver. Não foi para os primogênitos verem. Os primogênitos não necessitavam ver o sangue; eles ficavam dentro das casas. O sangue foi para cumprir as justas exigências de Deus; não foi para cumprir as exigências dos primogênitos. Para os primogênitos não houve algo como a redenção. Se lermos o Antigo Testamento, descobriremos que o sangue para a expiação (isto é, redenção) do pecado deveria ser levado para dentro do Santo dos Santos. Era para ser aspergido sobre o véu sete vezes (Lv 16.14-15). No dia da Expiação, o sumo sacerdote tinha de trazer o sangue e aspergi-lo sobre o propiciatório da arca. O sangue era para ser oferecido a Deus. É verdade que o sangue tinha de ser colocado sobre o polegar, a orelha e o dedo do pé de um leproso. Mas isso era feito com respeito à consagração. Era uma questão de consagração a Deus. O homem não tinha tal exigência. A redenção tem a ver com Deus. É Deus vindo para solucionar o que o homem não pode solucionar por si mesmo. Eis por que a Bíblia diz: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 Jo 2.2). A redenção inclui todo o mundo. Em tal redenção, todos, até os que não foram salvos, estão incluídos.


Deus veio e lidou com nossos pecados. O Senhor Jesus satisfez as justas exigências de Deus para que nós pudéssemos receber a substituição do Senhor Jesus. Sua redenção é uma preparação abstrata. Pelo crer Nele, essa redenção se torna uma substituição para nós. Diante de Deus, não foi uma substituição, mas uma redenção. É importante saber isso. Se não tivermos clareza desse assunto, ficaremos confusos a respeito de muitas outras doutrinas. A redenção é para Deus e a substituição é para nós. A redenção é para satisfazer as exigências de Deus e a substituição é para recebermos o benefício. O que Ele cumpriu foi redenção; o que nós recebemos é substituição. Eu não quero dizer que não haja tal ensinamento como substituição na Bíblia. Sem dúvida, há tal ensinamento. Mas todos os ensinamentos na Bíblia concernentes à substituição são escritos para os cristãos. Eles não são escritos para incrédulos. Para os gentios, dizemos que Jesus morreu por eles e cumpriu a redenção. Para os cristãos, dizemos que o Senhor Jesus os substituiu tomando seus pecados.

Na passagem em que lemos de Isaías 53, notamos que ela diz: “Mas ele foi transpassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (v. 5). Por favor, observem que lemos nossas em vez de vossas. Ele levou o sofrimento pelos nossos pecados. Assim, nossos pecados são perdoados. É por nós, e não por todo o mundo. Quando Pedro citou Isaías 53, ele disse: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1 Pe 2.24). É sempre nossos e não vossos. Por isso, temos de ser cuidadosos quando pregamos o evangelho. É melhor que sejamos mais fiéis à Bíblia.

A Bíblia nunca diz aos pecadores que Jesus morreu pelos pecados deles. A Bíblia diz que Jesus morreu por eles (Rm 5.8). Existe tal fato: Jesus morreu por eles. Mas não há nada sobre Jesus ter morrido pelos pecados deles. Jesus morrer por eles é um fato. Mas o problema do pecado ainda não ficou resolvido. É verdade que todos os problemas do pecado já estão resolvidos diante de Deus. Mas se alguém não tiver participação nessa obra, seus pecados ainda não estão solucionados e esse não tem parte na substituição de Jesus. Quando alguém recebe o Senhor Jesus, seu problema de pecado é resolvido. Isso é substituição. Sem isso, não há substituição. Em outras palavras, a redenção foi realizada, mas a salvação ainda não. Se eu lhes perguntasse quando vocês foram redimidos, vocês responderiam que isso aconteceu há dois mil anos; mas se eu lhes perguntasse quando vocês foram salvos, vocês diriam que foi em determinado dia, mês e ano. A redenção foi algo que aconteceu há muito tempo. A salvação é algo presente. A redenção foi cumprida por Cristo. A salvação é realizada em nós. Fomos redimidos há dois mil anos, mas podemos ter sido salvos há poucos anos. Não sei como dizer isso mais claramente, contudo para mim está muito claro. A obra de redenção de Deus é uma questão referente a Ele mesmo; é para satisfazê-Lo e nada tem a ver conosco. É algo absolutamente relacionado com Deus. O próprio Deus foi O que fez a obra. Quando vemos o que Deus cumpriu, e cremos e aceitamos, recebemos essa substituição.
Usemos outra ilustração. Há uma passagem que une as margens leste e oeste do rio Whampoa. É uma passagem gratuita. O lugar é conhecido como Passagem Gratuita. Suponha que eu fosse um ladrão que tivesse roubado e assaltado muitas vezes ali. Contudo, agora eu sou diferente. Que deveria eu fazer se quisesse fazer um tratamento completo em relação ao meu passado de roubos e assaltos? Mesmo se eu quisesse reembolsar, aonde eu deveria ir? É difícil encontrar aqueles a quem assaltei. Que devo fazer? Por causa da justiça e para reembolsar, posso começar um serviço gratuito para transportar as pessoas pelo rio. Qualquer pessoa pode fazer a travessia e nada lhe será cobrado. Posso fazer isso para devolver o dinheiro que roubei das pessoas nesse lugar. Ofereço esse tipo de serviço grátis como uma solução para o problema de minha injustiça. Esse serviço gratuito é para mim uma solução para a injustiça. Mas para os outros é uma substituição; estou pagando a passagem no lugar dos outros. Esse é o modo de o Senhor Jesus lidar com o problema da punição. Deus enviou o Senhor Jesus para cumprir a redenção a fim de que Sua própria santidade e justiça bem como o problema do pecado fossem cuidados. Quando alguém crê, ele entra nessa obra, e o Senhor Jesus leva embora seus pecados.
Então, o Novo Testamento diz: “Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos” (1 Pe 3.18). Ele mesmo carregou em Seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados (1 Pe 2.24). Tudo isso foi feito por nós. Na noite em que o Senhor Jesus foi traído, Ele tomou o cálice e deu graças, e o deu aos discípulos, dizendo: “Porque isto é o Meu sangue da aliança, que é derramado por muitos, para perdão de pecados” (Mt 26.28). Foi por muitos, não por todos. No futuro, veremos incontáveis pessoas, com palmas nas mãos, lavados pelo sangue (Ap 7.9, 14). Graças ao Senhor. Ele cumpriu a redenção por Sua própria causa, para que nós pudéssemos ser substituídos. Nada podemos dizer a não ser agradecer-Lhe e louvá-Lo.

A Obra De Cristo — Ressurreição Por Causa de Nossa Justificação


Já mencionamos que o Senhor Jesus morreu por nós e por nossos pecados (Rm 5.8;1 Co 15.3). Também vimos como o Senhor cumpriu a justiça de Deus e, ao mesmo tempo, manifestou a graça de Deus. Aqui precisamos perguntar: Como sabemos que a obra redentora do Senhor Jesus foi realizada? Como sabemos que tal obra foi aceita por Deus? Embora digamos que o Senhor Jesus cumpriu as justas exigências de Deus, que Deus tem a dizer sobre isso? De que modo Deus pode mostrar-nos que Seu Filho realmente cumpriu a obra de redenção e verdadeiramente satisfez Suas exigências? É verdade que o Senhor Jesus morreu por nós e por nossos pecados e que Sua obra foi realizada. Na cruz, antes de morrer, Ele disse claramente: “Está consumado!” (Jo 19.30). É verdade que Ele consumou a obra de redenção que se propôs fazer na terra. Ele foi capaz de dizer que estava consumado. Todos nós que olhamos para Sua salvação também podemos dizer que ela está consumada. Mas como sabemos que a obra de redenção do Senhor é aceitável a Deus quando apresentada diante Dele? Como sabemos que a obra redentora do Senhor Jesus foi aprovada por Deus? É correto dizer que a obra do Senhor passou no teste. Mas que disse Deus? Podemos dizer que Jesus morreu na cruz e cumpriu a obra de redenção. Mas como sabemos que o nosso Deus está plenamente satisfeito com tal obra? Sabemos que a obra de redenção do Senhor é justa para nós. Mas como sabemos que o mesmo é verdade para Deus? Nós dizemos que a obra de redenção é inteiramente justa, mas Deus também diria que ela é justa? Quando olhamos para a cruz, dizemos que todas as coisas estão resolvidas. Mas quando Deus olha para a cruz, aos Seus olhos tudo está resolvido? Temos de perceber que não há maneira de saber se Deus está ou não satisfeito baseado somente na cruz do Senhor Jesus. Não há como descobrir se Deus a considera ou não como a consumação. Se houvesse apenas a cruz, se tivéssemos somente a morte do Senhor por nós, se apenas a cruz permanecesse conosco até hoje e se o sepulcro do Senhor não estivesse vazio, nunca saberíamos o que a morte do Senhor realizou por nós. Ao olhar a obra redentora do Senhor, não há somente o aspecto da cruz, mas também o aspecto da ressurreição.

A RESSURREIÇÃO DO SENHOR É A PROVA DE QUE DEUS ACEITOU SUA REDENÇÃO


Não vamos falar sobre todos os fatos relacionados com a ressurreição do Senhor Jesus, assim como também não detalhamos os fatos relacionados com a Sua morte. Anteriormente falamos apenas sobre o aspecto objetivo de Sua morte. Agora também consideraremos apenas o aspecto objetivo da ressurreição do Senhor. Objetivamente, o Senhor teve uma morte substitutiva por nós; Ele morreu em lugar de todos (1 Pe 3.18; 2 Co 5.14). Ao mesmo tempo, Ele morreu por nossos pecados (1 Co 15.3). Isso é o que a morte do Senhor cumpriu. Qual é, então, o propósito de Sua ressurreição? Deus ressuscitou o Senhor Jesus dentre os mortos como prova de que a obra de redenção foi cumprida. Deus a justificou e a aprovou. Agora Ele está satisfeito. Muitos de nós temos tido experiência trabalhando com negócios. Suponha que você tenha uma secretária que lhe apresentou um projeto. Após olhá-lo, você pode escrever “Muito Bem” nele. Isso significa que o trabalho está aprovado; está tudo certo. Agora ele pode ser concretizado. O Senhor morreu por nós e a obra foi consumada. A ressurreição do Senhor é o sinal de “Muito Bem” de Deus na obra e na morte do Senhor Jesus. Isso significa que essa morte está agora aprovada. O problema do pecado do homem está agora resolvido. Assim, uma vez que o Senhor ressuscitou, o problema dos nossos pecados está completamente resolvido. Se o Senhor não tivesse ressuscitado, embora a redenção tivesse sido cumprida, nosso coração seria mantido em suspense. Ainda haveria certa inquietação em nós, pois apesar de sabermos que a redenção tinha sido cumprida, não saberíamos se ela tinha sido aceita. Quando percebemos que fomos totalmente redimidos de nossos pecados? Quando vimos que o Senhor Jesus ressuscitou. A ressurreição é a prova. Ela nos mostra que a cruz foi justa e a redenção foi aprovada. A ressurreição é a prova de que a obra da cruz foi aceita e recebida por Deus. Consideremos uma ilustração. Suponha que eu deva a uma pessoa certa quantia. Eu posso dever-lhe tanto que não haja meios de pagar meu débito. Essa, naturalmente, não é uma boa ilustração, mas vamos usá-la aqui com o propósito de esclarecer um aspecto da verdade. Isso não deve ser aplicado a todos os aspectos da verdade. Digamos que eu vá a um irmão e lhe diga: “Você conhece muito bem a pessoa para quem estou devendo. Vocês dois são bons amigos. Por favor, interceda por mim. Não tenho meios de pagar o que devo, mesmo se penhorar tudo numa loja de penhores. Estou com dificuldade até para meu próprio sustento hoje. Faça-me esse favor de qualquer maneira”. Meu credor não mora aqui em Xangai; ele mora em Soochow. A meu pedido, o irmão faz uma viagem especial a Soochow e diz ao homem: “O sr. Nee é verdadeiramente pobre. Ele não pode nem se sustentar. Esta pequena soma de dinheiro nada significa para você. Por que não o libera de sua dívida?” Suponha que meu credor seja muito generoso. Ele diz: “Uma vez que você veio pedir pelo débito do sr. Nee, eu esquecerei o assunto. Ele não precisa devolver-me coisa alguma. Devolva-lhe esta nota promissória”. Então, ele prossegue e diz a esse irmão: “Não nos encontramos há anos. Uma vez que somos bons amigos e uma vez que você está aqui em Soochow, você deve fazer uma visita ao Monte Tigre e ao santuário da Montanha de Inverno. Por que você não fica aqui por alguns dias?” Ele o convida a ficar em Soochow e prodigamente o hospeda. Suponha que esse irmão tenha partido no dia 10 de maio e acertou a questão naquele dia. No entanto, até 20 de maio, ele ainda não voltou a Xangai. Enquanto ele está festejando em Soochow, eu estou aflito em Xangai. Eu não sei se o irmão resolveu o assunto ou não. Talvez ele não tenha voltado por alguma dificuldade. Ele não voltou no trem noturno do dia 10 de maio. Talvez o assunto não tenha sido resolvido. Ele não voltou em 11 de maio. Nem em 19 ou 20. Enquanto ele não volta, meu coração não pode ter paz, pois não sei se tudo está certo. O assunto foi resolvido em 10 de maio, mas eu ainda não recebi notícias até 20 de maio. Enquanto ele não volta, meu assunto não está resolvido. Eu ainda me considero um devedor e meu coração ainda está desassossegado. Quando tratarão do assunto? Somente quando ele voltar de Xangai eu saberei se o assunto foi resolvido. Amigos, isso ilustra a ressurreição do Senhor Jesus. Quando Ele morreu por nós, Ele resolveu o problema do pecado. Assim que Ele morreu, a questão do pecado foi solucionada. Mas se Ele não tivesse ressuscitado dentre os mortos e se não tivesse voltado, então nosso coração estaria em suspense; não saberíamos o que tinha acontecido. O Senhor Jesus passou pela morte por nós. Ele sofreu a punição da lei e a ira de Deus por nós (Gl 3.13). Mas, se o Senhor Jesus não tivesse voltado, não saberíamos se a obra tinha sido concluída ou não. Não saberíamos se Deus tinha aceito a obra do Senhor. Por essa razão, o Senhor Jesus tinha de voltar. Ele tinha de ressuscitar. Assim nós soubemos que a obra foi realizada. Louvado seja o Senhor. A obra está cumprida. Se ela não tivesse sido cumprida, o Senhor não teria saído e ressuscitado. Sua ressurreição prova que nossos pecados foram totalmente solucionados.

Romanos 4.25 diz: “O qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação”. Por que o Senhor Jesus foi entregue? Por causa das nossas transgressões. Se não tivéssemos nenhuma transgressão, o Senhor jamais precisaria ter sido entregue. Foi por causa das transgressões que o Senhor foi entregue ao homem. Do mesmo modo, Sua ressurreição foi por causa de nossa justificação. No grego, as duas frases têm a mesma estrutura. Jesus foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação. Alguns tradutores da Bíblia têm interpretado mal a explicação de Paulo. Eles pensam que a ressurreição é para que o homem seja justificado. Eles pensam que primeiro vem a ressurreição do Senhor, então nossa justificação. Mas o que Paulo estava dizendo e o que o Espírito Santo estava dizendo, é que Ele ressuscitou porque fomos justificados. Resumindo, o Senhor ressuscitou porque fomos justificados. Algumas versões dizem que a ressurreição vem primeiro, então a justificação. Mas o Espírito Santo diz que a justificação ocorreu antes da ressurreição. Primeiro, há a questão das nossas ofensas. Depois há a morte do Senhor. Do mesmo modo, primeiro há nossa justificação, depois há Sua ressurreição. Ele foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação. Isso significa que a ressurreição do Senhor Jesus é a prova da nossa justificação. É porque fomos justificados que Deus ressuscitou o Senhor Jesus. Uma vez que o Senhor satisfez a justa exigência de Deus, Deus O ressuscitou.

Meu amigo, agora devo anunciar-lhe algumas notícias muito boas. Embora alguns tenham crido no Senhor, ainda estão com medo e tremendo. Eles se sentem como se estivessem caminhando à beira de um precipício ou sobre uma fina camada de gelo. Eles pensam que depositaram sua alma, sua vida e seu futuro na cruz do Senhor. Eles não sabem se confiar no Senhor dessa forma é seguro ou não. Se descobrirem mais tarde que essa confiança não resulta em salvação, então estarão em apuros. Eu posso crer na cruz de Jesus para a redenção dos meus pecados hoje. Mas se naquele dia ela não produzir efeito, então estarei em apuros. Hoje posso dizer que não é uma questão de fazer o bem ou guardar a lei e que tudo o que tenho de fazer é confiar na cruz de Jesus. Mas que acontecerá se naquele dia Deus disser que não está tudo bem? Que vou fazer? Como posso saber hoje que a cruz do Senhor é suficiente? Meu amigo, você não deveria olhar para a cruz; não deveria preocupar-se se a cruz faz sentido ou não e se está certa ou não. Tudo o que você precisa contemplar é a ressurreição do Senhor. Se a obra da cruz do Senhor não fosse adequada ou correta, Deus não O teria ressuscitado. Portanto, Ele ressuscitou porque nós fomos justificados. Visto que fomos justificados quando cremos no sangue de Jesus, o Senhor Jesus foi ressuscitado.

RESSURREIÇÃO POR CAUSA DE NOSSA JUSTIFICAÇÃO


É maravilhoso que Romanos 3 nos diga que fomos justificados gratuitamente pelo sangue do Senhor Jesus e que Romanos 4 prossiga dizendo-nos que, por termos sido justificados, o Senhor ressuscitou (v. 25). Sua morte é a base de nossa justificação, enquanto Sua ressurreição é a prova de nossa justificação. Uma vez que Ele morreu, fomos justificados, e, uma vez que fomos justificados, Ele ressuscitou. Fomos justificados diante de Deus por causa de Sua morte e Ele ressuscitou por causa de nossa justificação. A Sua ressurreição é a prova que Deus nos dá de que Seu sangue é capaz de nos justificar. Suponha que alguém perguntasse se Seu sangue é eficaz ou não. Não há como ver o sangue. Não podemos ver o sangue porque ele foi colocado nas ombreiras e na verga da porta (Êx 12.7). Ele foi levado para dentro do Santo dos Santos e posto no lugar da expiação pelo pecado (Lv 16.14-15). Foi somente para Deus ver. Nós apenas sabemos da redenção do Senhor Jesus. Não sabemos como o sangue do Senhor Jesus satisfez à exigência de Deus. Não importa o quanto saibamos, nunca teremos clareza desse assunto. Em todo o universo, há somente Um que sabe o pleno valor do sangue do Senhor, e esse Um é Deus. Deus conhece na totalidade o valor do sangue do Senhor Jesus. Nós o conhecemos somente em parte. Nunca o saberemos com nossa mente, nossa oração ou nossa sabedoria. Não sabemos por que o sangue do Senhor Jesus nos purifica de todos os nossos pecados. Podemos dizer apenas que Ele morreu por nós e que Ele morreu pelos nossos pecados. Ainda não conhecemos o valor da obra do Senhor na cruz. Contudo, Deus conhece esse valor. Como Deus mostra que a obra de Seu Filho é de grande valor? Como Deus mostra que o sacrifício propiciatório de Seu Filho verdadeiramente nos propiciou? Ele o mostra ao dar-nos a ressurreição como prova. A ressurreição prova que Ele ficou satisfeito com a cruz. Na ressurreição, Deus está dizendo que Ele aprovou a cruz e que a cruz passou no teste. Agora, Deus está apresentando a ressurreição como uma evidência. Fomos justificados. Por isso, o Senhor Jesus ressuscitou. Porque Deus viu que a obra do Senhor cumpriu todas as justas exigências de Deus, todo aquele que se achega a Deus está agora justificado. E uma vez que Deus ficou satisfeito, o Senhor Jesus ressuscitou. A ilustração que demos pode não ter sido muito boa. Deixe-me dar uma ilustração mais apropriada. Em vez de dizer que eu devo certa quantia, digamos que pequei. Neste caso, um irmão não iria interceder por mim; em vez disso, ele suportaria a minha punição, se é que há tal item na lei de tomar sobre si a punição de outros. Eu pequei e devo ficar na cadeia por três meses ou ser confinado a um trabalho braçal por dois ou três meses. Mas agora tenho uma doença cerebral, uma cardíaca, um problema pulmonar, uma disfunção renal e todos os tipos de doenças. No entanto, esse irmão é muito saudável e está disposto a substituir-me. Quando saberei que o meu caso foi resolvido? Eu deveria estar na cadeia. Mas ele foi em meu lugar. Embora eu não tenha passado um dia na cadeia e esteja calmamente em casa cuidando dos meus negócios como de costume, enquanto ele está na cadeia, meu coração ainda não tem paz. Temo que um dia o juiz diga que ele não pode ser meu substituto e que tenho de ficar preso. Somente quando chegar o dia em que ele estiver em liberdade, andando pelas ruas, é que saberei que o meu caso está solucionado. Se o meu caso não estivesse resolvido, ele não estaria em liberdade. O Senhor Jesus morreu por nós. Mas nós não sabemos o que Deus tem a dizer a esse respeito. Sei que o Senhor veio para redimir-nos do pecado. Mas como sei que Deus aprovou essa maneira de redenção?

Eu não sei se a redenção do Senhor é adequada ou apropriada. Não sei se a obra redentora do Senhor foi totalmente resolvida. Mas uma vez que o Senhor saiu da morte, eu reconheço que todas as coisas foram solucionadas.

No ano passado, quando estávamos comprando um terreno, algumas vezes eu mesmo levei o dinheiro ao banco. Uma parte foi em cédulas. A outra parte foi em moedas. Eu as embrulhei num grande pacote e escrevi num documento de depósito do banco a quantia total do depósito. Então entreguei o embrulho. Pensei que se alguma nota ou moeda fosse falsa, eu teria de preencher outro formulário de depósito. Enquanto esperava no balcão, eu estava apreensivo. Como saber se a quantia estava correta? Como saber se todas as cédulas eram verdadeiras? Como saber se todas as moedas eram verdadeiras? O caixa às vezes tomava uma nota e a examinava sob a luz. Após ter contado todo o dinheiro, ele pôs sua assinatura no papel e o passou a um funcionário superior que também o assinou. O papel então foi passado a um outro homem sentado do lado oposto a ele e que também o assinou. Finalmente, o papel me foi devolvido. Aí, então, tive certeza de que a transação fora concretizada e levei o documento para casa. Não tinha de me preocupar se as notas eram genuínas ou as moedas verdadeiras. Uma vez que as três assinaturas eram verdadeiras, tudo estava certo. Se depois de voltar para casa ainda estivesse preocupado por alguma nota ser falsa e não pudesse comer ou dormir por causa disso, haveria algo errado com a minha mente. A questão não é mais se as notas tinham a cor certa, a impressão certa ou a textura exata do papel. Uma vez que o banco pegou o dinheiro e autenticou o recibo, o dinheiro era verdadeiro e todos os problemas acabaram. Do mesmo modo, uma vez que vemos o Senhor ressurreto, tudo está certo. A ressurreição do Senhor nos diz que fomos justificados. Que significa para nós o fato de sermos justificados?

Significa que Deus reconheceu a redenção de Jesus, Seu Filho. Depois disso, Ele nos justificou e, então, ressuscitou Seu Filho. A ressurreição testifica que Sua morte foi adequada. Assim, se você ainda não tem paz e não conhece qual o ponto de vista de Deus sobre sua salvação e se pode ser salvo diante de Deus por meio do Senhor Jesus, tudo o que você precisa perguntar é se o Senhor ressuscitou. Sua morte é para a redenção. Sua ressurreição é para a justificação. Sem justificação, Ele não poderia ressuscitar. Eis por que sempre digo que a ressurreição é o recibo emitido por Deus pelo sacrifício que o Senhor Jesus ofereceu. A ressurreição é o recibo de Deus para nós. Ela reconhece o pagamento como adequado.

Se acredita em determinada pessoa e sabe que ela tem bom crédito, não precisa necessariamente de um recibo dela para que você lhe empreste cem, mil ou até dez mil dólares. Você sabe que ela não vai fraudá-lo. Mas se é uma pessoa que você não conhece, alguém com quem você não tem afinidade e de cujo crédito nada sabe, você decididamente exigirá uma garantia. Você não sabe o que ela pode fazer com seu dinheiro. Graças ao Senhor. Ele sabe que somos de pequena fé. Ele sabe que duvidaríamos e que não acreditaríamos Nele imediatamente. Embora nos tenha dado Seu Filho e O tenha levado a sofrer um julgamento e a cumprir a redenção e até mesmo tenha declarado que todo aquele que receber Seu Filho seja justificado, Ele sabia que o homem ainda não creria Nele. Eis por que Ele ressuscitou Seu Filho dentre os mortos para ser uma prova de nossa justificação. Seu Filho é a prova de nossa justificação diante Dele. Meu amigo, agora você tem um recibo em seu bolso. Suponha que eu seja salvo agora, mas após alguns anos Deus diga: “Agora você deve ir para o inferno. Você deve entrar na perdição eterna”. Evidentemente, isso é algo que nunca acontecerá. Eu perguntaria: “Por quê?” Suponha que Ele dissesse: “Porque você pecou. Você não é bom”. Eu diria: “O Senhor Jesus não cumpriu a redenção?” Suponha que Ele dissesse: “A redenção de Jesus não é suficiente, você deve ir para o inferno”. Eu então diria: “Por que a redenção do Senhor não é suficiente?” Deus poderia dizer: “Não pense que Eu sei tudo. Quando Eu digo que não é suficiente, significa que não é suficiente”. Que diria eu então? Eu diria que realmente havia agido errado, mas que creio na redenção do Senhor. Mas Deus diz que apesar de a redenção do Senhor ter sido realizada, ela não seria completa. Eu então lhe diria: “Se a obra de redenção do Senhor não foi totalmente suficiente, o Senhor não deveria tê-Lo ressuscitado. Ao ressuscitá-Lo, o Senhor nos está dizendo pela ressurreição que tudo está certo. Como pode dizer agora que não é suficiente?” Se eu dissesse isso a Deus, até Ele teria de reconhecer que eu estou certo. Aleluia! O propósito de Sua ressurreição é mostrar-nos que Suas obras são adequadas.

Se não houver ressurreição entre nós, então, como saber o que aconteceu na cruz? Como saber o que o Senhor negociou com Deus na cruz? Ouvimos estas palavras na cruz: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” (Mt 27.46). Outra palavra que ouvimos é: “Está consumado!” (Jo 19.30). Uma passagem nos diz que Deus O abandonou; outra nos diz que estava consumado. Se o Senhor tivesse apenas morrido, então todo o mundo poderia apenas ter esperança Nele; não poderia ter segurança Nele. O homem poderia ter esperança de receber vida eterna Nele. Poderia ter esperança de ser justificado e perdoado Nele. Mas nunca poderia ter a segurança para dizer que está salvo ou que recebeu a vida eterna ou que seus pecados foram perdoados ou que Deus o justificou. A razão de eu ter hoje a segurança de que meus pecados foram perdoados e que fui salvo pela fé é que eu vi a ressurreição do Senhor Jesus. Sua ressurreição mostra-nos que a cruz satisfez o coração de Deus.

A BÍBLIA NOS LEVA A CRER NA RESSURREIÇÃO


Eu sou alguém que prega a cruz. Entre nós, muitos cooperadores também pregam a cruz. Hoje, todos nós somos os que creem na cruz. Todos cremos que a morte do Senhor nos salvou. Ele não morreu para Si mesmo. Antes, Ele morreu para nos redimir. Mas deixe-me fazer-lhe uma pergunta. Você pode encontrar algum lugar em toda a Bíblia que diga que deveríamos crer que o Senhor Jesus morreu por nós? Onde, em todo o Novo Testamento, diz que devemos crer na morte do Senhor por nós? Não há tal citação. Isso é muito especial. Não há um único versículo em todo o Novo Testamento que nos diga que devemos crer na morte do Senhor por nós. Não se confundam, pensando que eu desprezo a obra da cruz. Sou totalmente a favor da obra da cruz. Mas devemos prestar atenção às palavras da Bíblia. Não há um único trecho no Novo Testamento que diga que deveríamos crer na morte do Senhor Jesus por nós. Há muitas passagens na Bíblia que nos dizem que o Senhor Jesus morreu por nós e por nossos pecados. Mas não há um trecho sequer que nos diga para tomar Sua morte como o objeto de nossa fé. O Evangelho de João nos diz que temos de crer (3.15-16, 18, 36). Mas ele não diz sobre crer na cruz. Somente fala sobre crer no Senhor.Há outra coisa que é igualmente especial. O Novo Testamento nos diz para crer que Deus ressuscitou a Jesus dentre os mortos. A Bíblia não diz que a cruz ou a morte do Senhor sejam o objeto de nossa fé. Antes, ela diz que a ressurreição é o objeto de nossa fé. Creio que todos conhecemos o versículo em Romanos 10.9: “Se, com a tua boca confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. Por que a Bíblia não nos pede para crer na cruz do Senhor, mas nos pede para crer em Sua ressurreição? Por que a Bíblia nunca nos pede para crer na cruz do Senhor Jesus, mas nos pede para crer que Deus O ressuscitou dentre os mortos? Devemos considerar um pouco essa questão. Isso é algo muito crucial. Se dependesse de nossa leitura da Bíblia, pensaríamos que a cruz é a coisa mais importante, e que deve haver ao menos uma palavra que diga que devemos crer na morte do Senhor na cruz. Mas não há uma palavra sequer sobre isso. Por que é assim? Um irmão pode alegar que se Cristo não ressuscitou, a nossa fé é vã. É verdade que por duas vezes em 1 Coríntios 15 é dito que se Cristo não ressuscitou, então nossa fé é vã (vs. 14, 17). Mas essa palavra não nos ajuda a resolver o problema. Pelo contrário, torna nosso problema ainda mais difícil. Se não há ressurreição, a nossa fé é vã. Portanto, a ressurreição é algo em que devemos crer. Sabemos que a redenção é uma questão entre Deus e o Senhor Jesus. Não é uma exigência de Deus sobre o homem. A redenção não é algo que o Senhor tenha feito para satisfazer o coração do homem. Ela é o Senhor satisfazendo a exigência de Deus quanto à santidade, justiça e glória. A morte do Senhor e a obra redentora que Ele realizou são transações que se deram entre Deus e o Senhor Jesus. Não é algo que é anunciado como objeto de nossa fé. A base de nossa fé é o fato de Deus haver ressuscitado Jesus, dentre os mortos. Assim, hoje nossa fé não está no sangue do Senhor Jesus redimindo-nos dos pecados. Nunca poderemos compreender plenamente essa questão. Até mesmo um homem tão espiritual como Andrew Murray, que conhecia tão bem a Deus, disse que não sabia quanto valor há no sangue do Senhor Jesus. Mesmo quando ia diante de Deus, somente podia orar: “Deus, não sei qual o valor do sangue do Teu Filho diante de Ti. Mas eu Te peço que todo o valor do sangue do Teu Filho seja percebido em mim”. O sangue do Senhor é de tal importância que se eu pudesse dizer tudo, não seria capaz de receber tudo o que Ele fez e Sua obra seria limitada pelo meu falar.

Não conhecemos o valor do sangue, mas conhecemos o valor da ressurreição. O sangue do Senhor satisfez a exigência de Deus e não sabemos quão grande é tal exigência. Mas sabemos quão grande é a satisfação. Não sei quanto eu devia. Talvez fossem dez talentos ou talvez dez milhões de talentos. Mas eu sei que a morte do Senhor é suficiente para me salvar. Como sei disso? Porque Ele ressuscitou. Não estou confiando se o dinheiro que depositei no banco é suficiente ou não. Não é nisso que confio. Nem mesmo tenho de confiar se todo o dinheiro que eu pus no banco era verdadeiro. O que creio é que Deus não me daria um recibo falso. Mesmo que a redenção do Senhor fosse errada, quaisquer que fossem os erros, Deus nunca emitiria um recibo incorreto. Assim, embora não saiba o quanto o sangue cumpriu a exigência de Deus, sei que ele satisfez a exigência de Deus. Se o Senhor não tivesse satisfeito a Deus, Deus não O teria ressuscitado. Portanto, hoje você pode crer da maneira mais ignorante. Você não tem de perguntar se o sangue do Senhor é suficiente ou se a obra de redenção do Senhor foi aprovada. Você somente tem de perguntar se Deus ressuscitou o Senhor. Uma vez que o Senhor Jesus ressuscitou, tudo o que você tem de fazer é crer. Nós cremos na ressurreição. É por isso que a Bíblia exige somente que creiamos na ressurreição; ela não exige que creiamos na cruz. A obra da cruz é transmitida a nós somente para sabermos o que o Senhor fez diante de Deus. É a ressurreição do Senhor Jesus que pregamos e cremos. Ela inclui Sua morte e Sua vida. Uma vez que eu vejo o recibo, imediatamente sei que a quantia é adequada e que todas as notas são genuínas.

Esta noite posso dormir bem porque o Senhor Jesus ressuscitou. Se o Senhor não tivesse ressuscitado, mesmo que Ele tivesse morrido e nos redimido, ainda não poderíamos dormir em paz. Como sei que Seu sangue é suficiente? Como sei que o problema do pecado foi resolvido? Aleluia! Há a ressurreição. Porque fomos justificados, Ele ressuscitou. Portanto, cremos na ressurreição. Não sei quantos estão sentados aqui esta noite que ainda estão preocupados com a salvação, que ainda duvidam e não estão seguros. Quando você se pergunta se confia em Jesus, pode dizer que sim. Quando se pergunta se crê que Jesus morreu por você, também pode dizer que sim. Mas você ainda tem uma pergunta. Você pode pensar que crer em Jesus não é suficiente para ser perdoado dos seus pecados, que você tem de fazer ainda algumas boas obras. Ainda pode pensar isso e aquilo. Mas você só precisa saber de uma coisa. Por que Deus ressuscitou o Senhor Jesus? Por que Deus emitiu um recibo? O fato de Deus querer emitir um recibo para você, prova que a quantia que você depositou está correta. Quando Deus ressuscitou a Seu Filho dentre os mortos, foi uma prova de que a redenção que Seu Filho realizou foi algo correto. Deus não pode fazer nada injusto. A ressurreição prova que a obra do Senhor Jesus é eficaz diante de Deus. Eis por que o Novo Testamento enfatiza tanto nosso crer que Deus ressuscitou Seu Filho dentre os mortos.Os dois versículos que mencionamos anteriormente em 1 Coríntios 15 são muito preciosos. O versículo 14 diz: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé”. O versículo 17 então diz: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé”. Se Cristo não houvesse ressuscitado, ninguém saberia o que aconteceu com as coisas em que creu. Outra coisa maravilhosa é vista em 1 Coríntios 15.3 que diz: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras”. Mas no versículo 17, é dito: “E, se Cristo não ressuscitou, (...) ainda permaneceis nos vossos pecados”. Os dois versículos acima não são contraditórios? O versículo 3 diz que Ele morreu pelos nossos pecados. Isso significa que Ele resolveu o problema dos nossos pecados. Por que o versículo 17 diz que se Cristo não ressuscitou, ainda permanecemos nos nossos pecados? Esse versículo é muito especial. Talvez você o mudasse para “Se Cristo não morreu por vós, ainda permaneceis nos vossos pecados”. Se mudássemos a palavra ressuscitou para morreu, imediatamente seríamos capazes de entendê-lo. Uma vez que Cristo morreu por nós, não mais estamos em pecado. Mas o versículo 3 diz que Cristo já morreu por nossos pecados. Agora o versículo 17 diz que sem a ressurreição de Cristo, ainda estamos nos nossos pecados. Que significa isso? Meu amigo, a questão é realmente muito clara. Por um lado, Cristo morreu por nossos pecados. Mas quando sei que não permaneço no pecado, e quando sei que fui libertado do pecado? Quando o Senhor ressuscitou. Foi quando o Senhor ressuscitou que percebi que fui redimido dos meus pecados. Temos de distinguir entre esses dois. A redenção e a libertação do pecado diante de Deus são devidas à morte do Senhor; não são devidas à Sua ressurreição. Mas para nós é a ressurreição do Senhor que percebemos em vez de Sua morte. Para meu credor, o débito é saldado no momento em que ele vê o dinheiro. Mas para mim é saldado quando vejo o recibo. Meu credor somente olha para o dinheiro e eu, para o recibo. Os olhos de Deus apenas vêem a morte do Senhor Jesus, e os nossos, a Sua ressurreição. Deus não precisa da ressurreição do Senhor como prova para Si. Ele sabe muito bem que a morte do Senhor é adequada para a redenção. O problema é que nós não sabemos. Não se entrega um recibo a quem recebe o pagamento. Entrega-se para quem paga. Não se prepara recibo para o credor. Todos os recibos são feitos para os devedores. Eles são emitidos para dar tranquilidade ao devedor. Consequentemente, para Deus, a morte do Senhor é suficiente para os nossos pecados. Assim que Ele morreu, Deus ficou satisfeito. A ressurreição nos diz que Ele está satisfeito, que a morte do Senhor nos redimiu dos pecados. Mas se o Senhor não ressuscitasse, apesar de termos sido redimidos de nossos pecados, nós ainda não o saberíamos. Com a morte do Senhor, o problema do pecado está resolvido para sempre diante de Deus. Mas, sem a ressurreição, do nosso lado não teríamos a certeza de que  os nossos pecados estão realmente solucionados. O fato do perdão repousa em Sua morte. A certeza do perdão está em Sua ressurreição. A morte do Senhor nos redime dos pecados e a ressurreição do Senhor nos permite saber que fomos redimidos dos nossos pecados.

Esta noite posso dormir bem porque o Senhor Jesus ressuscitou


Assim, há esses dois lados na Bíblia. Sem a morte do Senhor Jesus por nós, não teríamos sido redimidos de nossos pecados. A Bíblia diz que Jesus morreu pelos nossos pecados. Mas vemos que nós mesmos permanecemos nos pecados. Embora Deus tenha terminado Sua parte da obra, do nosso lado, os problemas ainda não se resolveram. Por essa razão o Senhor Jesus teve de ressuscitar antes de sabermos que nossos pecados foram perdoados. A morte é para Deus, e a ressurreição é para nós. A morte é exigência de Deus e a ressurreição é exigência dos pecadores. A morte é a solução do pecado diante de Deus e a ressurreição é a remoção da dúvida no coração do homem. Com a morte, o registro do pecado é extinto. Com a ressurreição, ganhamos a prova do perdão e o veredito de inocentes. Graças ao Senhor pela ressurreição. Que acontece quando alguém se achega a Deus e quer saber se está salvo ou não? Tal pessoa pode ter crido verdadeiramente no Senhor Jesus Cristo. Mas ela ainda pode ter dúvida se está realmente salva. Agora, diante de Deus, o recibo já foi emitido. Se tal pessoa ainda quer duvidar, é porque ela escolheu a dúvida. Mas, se o Senhor Jesus ressuscitou, então nossos problemas foram resolvidos. Por favor, lembrem-se dessas três passagens — Romanos 4.25, 10.9 e 1 Coríntios 15.17. Esses três versículos nos mostram que a ressurreição foi cumprida por nós objetivamente. Até agora, vimos alguns itens: o pecado, a lei, a graça, a justiça de Deus, a obra realizada pela morte do Senhor Jesus e a obra realizada por Sua ressurreição. Um irmão perguntou: Que significa 1 João 2.2? Eu responderia da seguinte maneira: As palavras “os pecados de” na frase “Pelos [pecados] do mundo inteiro” em algumas versões não existem no texto original. A versão revista e atualizada de João Ferreira de Almeida diz: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro”. Se esse fosse realmente o caso, então todo o mundo já teria sido salvo, pois o Senhor Jesus se tornou propiciação pelos pecados do mundo todo. Mas no grego se lê: “E Ele mesmo é a propiciação pelos nossos pecados: e não só pelos nossos, mas também por todo o mundo”. Para um leitor do Novo Testamento entender a redenção do Senhor e Sua substituição, primeiro ele tem de saber a distinção entre nós mesmos e nossos pecados, isto é, entre o pecador e os pecados do pecador. Segundo, ele tem de saber a diferença entre todos e muitos. Terceiro, ele deve saber a diferença entre pecado e pecados. Há diferença entre os três pares de coisas: nós mesmos e nossos pecados, todos e muitos, e pecado e pecados. A Bíblia diz muitas vezes que o Senhor Jesus morreu por todos. Mas nem uma vez ela disse que o Senhor Jesus morreu pelos pecados de todos. Em 2 Coríntios 5.14 diz-se que: “Um morreu por todos; logo todos morreram”. Paulo não podia dizer que desde que Um morreu pelos pecados de todos, todos morreram. O Senhor Jesus morreu por todos. Mas Ele não morreu pelos pecados de todos. Se o Senhor Jesus tivesse morrido pelos pecados de todos, então, crendo ou não, a pessoa poderia ser salva, pois todos os problemas de pecados estariam resolvidos. Mas o Senhor Jesus morreu por todos. Se formos a Ele, recebê-Lo-emos como nosso substituto e receberemos Sua redenção. A Bíblia realmente diz que o Senhor Jesus morreu pelos pecados. Mas nesses casos, ela diz que Ele morreu pelos pecados de muitos e não pelos pecados de todos. Na noite passada, um irmão testou-me com um versículo. Ele me perguntou por que o livro de Hebreus diz que o Senhor Jesus foi oferecido por nossos pecados. Hebreus 9.28 diz: “Assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação”. Você pode ver que aqui, quando fala sobre Cristo tirar os pecados, é dito “para tirar os pecados de muitos”, e não “para tirar os pecados de todos”. A seguir, ele dá uma explicação: “Segunda vez aos que o aguardam”. Isso diz respeito a todos os que foram comprados pelo sangue. Estes são a grande multidão em Apocalipse 7.9-17. Esses são os muitos. Eis por que é dito que Ele foi oferecido pelos pecados deles. Mas não se pode dizer que Ele foi oferecido pelos pecados de todos. As palavras na Bíblia nunca são vagas, indefinidas. Se Cristo veio para tirar os pecados de todos, se Ele veio para tirar todos os pecados de todos no mundo, então não mais temos de pregar o evangelho. Mas este não é o caso. O que nós temos são os muitos. Então, Mateus 26.28 relata que quando o Senhor Jesus tomou o cálice, Ele disse: “Porque isto é o Meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos, para perdão de pecados”. Novamente aqui temos muitos, e não todos. Se fossem todos, então os pecados de todas as pessoas estariam perdoados. A Bíblia apenas diz que o Senhor Jesus morreu por todos. Esta palavra simplesmente nos mostra que a morte do Senhor é algo aberto e que todos podem receber o benefício de Sua morte. Se houver alguém aqui que não seja salvo, esta noite eu gostaria de dizer que Cristo morreu por você. Mas, quanto a mim, o Senhor Jesus morreu pelos meus pecados. Assim que pedir isso, a eficácia da morte do Senhor operará sobre você e você terá parte nela. Mas você deve vir a Ele antes que a eficácia da morte do Senhor possa ser sua e possa operar em você. O Senhor Jesus morreu por todos, e Ele morreu pelos pecados de muitos. Há uma distinção entre os dois. Temos de atentar para isso. Vamos ler mais duas passagens. Romanos 5.18-19 diz: “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Se quisermos entender esses dois versículos, devemos ponderar sobre eles e prestar atenção a eles. Os leitores da Bíblia concordam que esses dois versículos são alguns dos mais difíceis no Novo Testamento. Devemos prestar atenção às palavras deles: Primeiro, no versículo 18 é dito: “todos os homens”, mas no versículo 19, é dito “muitos”. Segundo, no versículo 18 há a palavra grega eis, que é equivalente à palavra portuguesa para ou em direção a. Uma versão traduziu essa porção da seguinte maneira: “Pela ofensa de um, o juízo veio sobre todos os homens para condenação; da mesma forma, pela justiça de um o dom gratuito veio sobre todos os homens para justificação de vida”. Essa não é uma tradução muito fiel. O versículo pode ser assim traduzido: “Por meio de uma ofensa para condenação a todos os homens, assim também foi por meio de um ato justo para justificação de vida a todos os homens”. Agora devemos atentar mais minuciosamente nesse assunto. O versículo 18 fala sobre uma ofensa e o versículo 19 fala sobre um homem. A ofensa denota o pecado de Adão (Rm 5.14). O pecado de Adão foi para a condenação de todos os homens. Isso significa que aquela ofensa foi para a condenação de todos os homens. Perceberam que uma única vez foi o bastante? É como dizer que uma vez que uma pessoa faça fortuna, ela está preparada para comprar muitas coisas. A ofensa única foi para a condenação de todos os homens. Do mesmo modo, o ato único de justiça de Cristo foi para a justificação a fim de dar vida a todos os homens. Não é correto traduzir o versículo como a versão anteriormente mencionada o faz, pois isso significaria que por meio do único ato de justiça de Cristo, todos foram justificados e receberam vida. Qual é o significado de eis traduzido por “para” nesse versículo? Significa uma preparação. É como a impressão de muitas cédulas pelo governo no Banco Central. É uma preparação para, mais tarde, serem usadas para trocas. Mesmo que todos venham trocar as notas, o governo está preparado. O versículo 18 diz todos os homens. Isso significa que todos podem receber vida. Não há problema a esse respeito. Mas o versículo 19 é diferente; ele diz: “Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Aqui temos os muitos. Pela desobediência de um homem, que é Adão, os muitos são feitos pecadores. Aqui não diz que todos os homens se tornaram pecadores. Por que isso é assim? Deixem-me dar-lhes um testemunho honesto. Pode parecer que eu esteja brincando. Mas seis anos atrás, quando li pela primeira vez sobre a diferença entre muitos e todos, eu estava um pouco preocupado com o apóstolo Paulo. Enquanto procurava o texto original, pensava que se Paulo usasse as palavras da forma que nossos tradutores fizeram, seria um desastre. Eu estava quase orando ali: “Não permita tal palavra ser todos, mas muitos”. Finalmente, descobri que realmente é muitos. Que significa dizer que pela desobediência de um todos os homens foram condenados? Isso significaria que todo o que está em Adão é pecador. Não haveria um justo sequer. Isso não seria tão sério. Mas a frase seguinte seria mais séria: Por um só ato de justiça, todos os homens foram justificados. Isso significaria que o evangelho não precisa mais ser pregado a quem quer que fosse, pois todos estavam salvos e justificados. Não há aqui menção da questão de crer ou não, e receber ou não. Por meio da obediência de um todos foram salvos. Até os incrédulos seriam salvos. Mas esse, logicamente, não é o caso. O que diz aqui é: “Por meio da obediência de um, muitos se tornarão justos”. Por isso, o que a obra do Senhor Jesus fez é para os muitos. Aqui, deve-se diferenciar todos e os muitos. Ao mesmo tempo, devemos diferenciar entre nós mesmos e nossos pecados. Romanos 5.8 diz que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Mas 1 Coríntios 15.3 diz que “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras”. “Por nós” é uma preparação. Mas “pelos nossos pecados” é uma espécie de percepção. Mesmo que uma pessoa não tenha sido salva, ela pode até pregar o evangelho. Mas ela só pode dizer que Deus enviou Seu Filho para morrer por nós. Isso está absolutamente certo. Mas somente os  que foram salvos podem dizer que Deus enviou Seu Filho para morrer por nossos pecados.  Isso é porque nosso relacionamento com o Senhor Jesus é na questão dos pecados. Assim, podemos dizer que o Senhor Jesus morreu por nossos pecados. Em 1 Pedro 2.24 diz-se: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados”. Há uma diferença aqui. Podemos apenas dizer para um pecador que o Senhor Jesus morreu por ele; não podemos dizer-lhe que o Senhor Jesus morreu por seus pecados. Se eu ilustrar isso por meio de um simples exemplo, isso irá ajudá-lo a entender melhor. Suponha que tomei dinheiro emprestado, mas não tenho como pagar. Um irmão sabe que o número da minha conta no Banco de Xangai é 51. Suponha que ele deposite uma quantia nessa conta. Então ele me escreve dizendo que depositou para mim uma quantia no banco e que agora posso reparar minha dívida. Ele depositou o dinheiro e sacrificou-se para arrumar esse dinheiro para mim. Mas deixem-me perguntar-lhes: A minha dívida já foi quitada? Eu posso saldar a dívida. O dinheiro está no banco. Mas o débito não foi quitado ainda. Somente quando eu for pessoalmente ao banco e retirar o dinheiro e quitar o débito é que posso dizer que esse irmão pagou o débito por mim. Da mesma forma, o Senhor Jesus morreu por nós. Essa morte foi preparada para nós. Mas é somente quando recebemos o Senhor Jesus que podemos dizer que Ele morreu por nossos pecados. Então, irmão, quando você citar 1 João 2.2, você deve ser cuidadoso com as palavras. Jesus Cristo se tornou a propiciação pelos nossos pecados, e não somente por nós, mas também por todo o mundo1. Vocês podem ver quão minucioso o Espírito Santo é ao escolher as palavras por intermédio de Seu apóstolo. O Senhor Jesus morreu por nossos pecados. Mas a morte do Senhor Jesus não foi apenas por nós, mas por todo o mundo, para que todo o mundo possa receber essa morte. É necessário atentar nisto: Não acrescente as palavras os pecados a “todo o mundo”. É uma pena que muitos não tenham visto isso. Não podemos acrescentar coisa alguma à Palavra de Deus nem podemos subtrair coisa alguma dela (Ap 22.18-19).

Finalmente, ainda há uma coisa que precisamos enfatizar. É a diferença entre pecado e pecados. Não podemos dizer que o Senhor Jesus morreu pelos pecados de todo o mundo, pois pecados significam todas as transgressões e todas as punições que devemos sofrer. Se o Senhor Jesus veio morrer pelos pecados de todo o mundo, então todas as transgressões de todo o mundo foram removidas. Se um homem crer ou não, ele está salvo. Mas a Bíblia é muito cuidadosa no uso das palavras. Ela somente diz o pecado do mundo. Ela não diz os pecados do mundo. Em João 1.29 diz-se: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” A palavra pecado está no singular. O problema do pecado foi introduzido no mundo por meio de um homem e foi retirado do mundo por intermédio de um homem. O que é mencionado aqui é como o Filho de Deus lida, de modo “abstrato”, com o problema do pecado. Objetivamente falando, o pecado entrou no mundo de maneira “abstrata” por intermédio de Adão. Hoje, o Senhor Jesus está tirando e lidando com o problema do pecado de maneira “abstrata”. Isso não significa que Ele tomou a culpa do pecado de cada indivíduo. Se Ele tivesse tomado a culpa do erro de cada indivíduo, então todo o mundo já teria sido salvo. Agradecemos e louvamos ao Senhor porque a Palavra de Deus não deixa nenhuma brecha e nunca comete erros.

A Obra do Espírito Santo — Iluminação e Comunhão


Já vimos anteriormente como Deus manifestou Sua graça e cumpriu Sua justiça. Vimos também como Deus, por meio de Seu Filho Jesus, morreu por nós e por nossos pecados, cumprindo assim a obra de redenção (Rm 5.8; 1 Co 15.3). Sua obra de redenção nos justifica diante de Deus pela fé no Seu sangue (Rm 3.24-25). Sua ressurreição dentre os mortos se torna a segurança da nossa fé. Por meio da Sua ressurreição, sabemos que Deus aceitou o sacrifício do Senhor Jesus. A obra do Senhor Jesus satisfez às exigências de Deus. Sua ressurreição é uma prova para nós de tal fato. Todo o que crê no sangue de Seu Filho e vem a Ele mediante a Sua redenção está agora justificado. Neste capítulo, trataremos de outro aspecto da obra do Senhor, que é Sua ascensão. Uma vez que muitos irmãos já sabem disso, irei mencioná-lo apenas resumidamente. A ascensão do Senhor Jesus é Seu comparecer diante de Deus a nosso favor, a fim de que possamos ser aceitos em Cristo. Que é a ascensão do Senhor? Na Bíblia, a ascensão significa objetivamente apenas uma coisa: ela é para que sejamos aceitos diante de Deus. Hoje, o Senhor Jesus já compareceu diante de Deus (Hb 9.24). Nós também comparecemos diante de Deus Nele. Dessa maneira, Deus nos aceita do mesmo modo que aceitou a Cristo.

A OBRA DO ESPÍRITO SANTO — ILUMINAR PARA BUSCAR PECADORES


Vejamos agora outra questão. O evangelho é inadequado se ele menciona apenas a obra do Pai e do Filho sem mencionar a obra do Espírito Santo. Deve haver menção do Espírito Santo também. A obra do evangelho tem três aspectos. Lucas 15 nos mostra três parábolas. Por um lado, vemos o Pai amoroso esperando para receber os pecadores. Por outro, vemos o bom Pastor vindo ao mundo para buscar a ovelha perdida. Vê-se o Pai em casa esperando pelo pecador arrependido e salvo, e vê-se também o Filho vindo ao mundo para salvar pecadores. Mas após a obra do Senhor completar-se e antes de o pecador chegar em casa, há uma outra parábola, que é a da mulher que, paciente e cuidadosamente, procura, com a candeia acesa, a dracma perdida. Primeiro, vê-se o Senhor Jesus vindo à terra para buscar os pecadores. Segundo, vê-se a mulher acendendo a candeia para iluminar, varrer e procurar a dracma perdida. Assim, o Espírito Santo está trabalhando juntamente com o Pai e o Filho para achar o pecador para o cumprimento da obra do evangelho. O Filho veio para morrer pelo pecador; o Pai recebe o pecador em casa; e o Espírito Santo trabalha para iluminar o coração do homem e mostrar ao homem sua verdadeira posição.

Se uma pessoa não tem a luz do Espírito Santo, é possível que ela seja como Judas, que viu seu pecado, estava sofrendo e não tinha paz interiormente, mas não via sua própria posição diante de Deus. Sem a luz, ele não poderia ver sua situação de perdição. O sentimento do homem em relação ao pecado perdura somente até ele perceber que agiu errado. Ele não percebe que diante de Deus é um perdido. Estamos dispostos a admitir que somos pecadores. Mas sem o iluminar do Espírito Santo não admitiremos que, como resultado do pecado, diante de Deus nos tornamos pessoas perdidas. Aos olhos de Deus, somos pessoas perdidas.

Existe a possibilidade de uma imitação por parte da carne na questão da consciência do pecado. A carne pode substituir a atuação do Espírito Santo. Muitas lágrimas em reuniões de reavivamento nada são senão o resultado da carne do homem. Elas não são produzidas pela obra do Espírito Santo no homem. Uma coisa é o homem saber que pecou. Outra coisa, é saber que seu relacionamento com Deus está errado. O Espírito Santo paciente e cuidadosamente ilumina o homem e mostra-lhe que ele está perdido. O que o Espírito Santo faz é mostrar ao homem que sua posição está errada. Então, o primeiro sentimento de alguém que experimentou a obra do Espírito Santo de Deus não é algo relacionado com o pecado, mas o sentimento de que ele está longe de casa. Seu relacionamento com Deus está cortado. Ele desenvolveu um problema com Deus. Ele é um homem perdido.

Nosso problema diante de Deus não é meramente quanto temos destruído a nós mesmos com comida, bebida, fornicação ou jogos. O problema é estar afastado numa terra distante. Quando o Espírito Santo ilumina o homem, a primeira coisa que Ele faz é mostrar ao homem que ele está numa terra distante. Quando alguém lê a última parábola de Lucas 15, deve observar o que o filho pródigo disse ao pai. Ele não disse que tinha desperdiçado toda a fortuna de seu pai com prostitutas. A primeira coisa que percebeu quando caiu em si, foi que na casa de seu pai havia abundância de pão. Por que, então, ele estava vivendo em meio aos porcos numa terra longíqua e não conseguia sequer matar sua fome com as alfarrobas que eram para os porcos? Quando o Espírito Santo ilumina uma pessoa, ela percebe que tem um problema com Deus, que deixou a casa de seu Pai e que está longe Dele. Meu amigo, quando uma pessoa no mundo chega ao fim de si mesma em sua condição pecaminosa, ela pode, como Judas, tornar-se ciente de seus pecados. Mas sem a luz do Espírito Santo, ela não sentirá que deixou a casa do Pai e que está numa terra distante. Não estou dizendo que os pecados não sejam sérios. Pecados são pecados. Mas a Bíblia nos mostra que o principal pecado do homem reside no fato de ele estar perdido. Ele está posicionado numa base inadequada, mesmo que não esteja em uma condição inadequada. Naturalmente, todos os que estão numa condição inadequada devem estar numa base inadequada. Quando o Espírito Santo nos ilumina, primeiro Ele nos mostra que estamos numa base inadequada. Então Ele nos mostra nossa condição inadequada. Isso é o iluminar do Espírito Santo. Assim, embora haja o amor do Pai e a obra do Senhor, ainda há a necessidade de o Espírito Santo preparar o coração do homem. Ele ainda tem de trabalhar no coração do homem a fim de que o homem receba tudo o que o Senhor Jesus fez. Pode-se dizer que o Senhor Jesus é nosso Salvador objetivo vindo de Deus, e que o Espírito Santo é nosso Salvador subjetivo vindo de Deus. O Senhor Jesus é o Salvador que cumpriu a redenção por nós exteriormente e o Espírito Santo é o Salvador que cumpriu a salvação por nós interiormente. Todos nós aqui fomos iluminados pelo Espírito Santo. Todos sabemos que somos a ovelha perdida, que todos nos desviamos para os nossos próprios caminhos (Is 53.6). Todos nós, como ovelhas, nos perdemos. Nosso problema não é doença ou defeito físico, mas é tomar um caminho errado. O caminho que a pessoa toma é muito importante. Em João 16.8-9, o Senhor Jesus nos disse que quando o Espírito Santo vier, Ele “convencer á o mundo do pecado, da justiça e do juízo”. Que significa ser convencido do pecado? Fomos convencidos do pecado “porque eles não crêem em Mim”. Desenvolvemos um problema com Ele e entramos em conflito com Ele. Fomos convencidos do pecado porque não vimos Seu sangue e Sua autoridade, porque não satisfizemos às Suas exigências, e porque agora temos um problema com Ele. O maior pecado do homem  é recusar-se a crer no Senhor Jesus. O Espírito Santo vem mostrar-nos que desenvolvemos um problema com o Senhor Jesus e com Deus. Nossa posição está errada. Mas deixe-me fazer-lhe uma pergunta. É possível que uma pessoa numa terra distante possa ser um bom filho? É possível que ela possa ser econômica e próspera? É possível que possa ser um trabalhador diligente? É possível que seja prudente em fazer amigos? Sabemos que isso é impossível. Se uma pessoa se desviou para uma terra distante e está errada em seu relacionamento com seu pai, ela deve estar errada em todos os seus outros relacionamentos. Eis por que o filho pródigo começou a viver dissolutamente. Quando o Espírito Santo ilumina uma pessoa, Ele não somente lhe mostrará que ela está numa posição perdida, mas também que sua conduta anterior estava errada. O Espírito Santo não ignora os pecados passados. Ele atenta para todos os pecados. No entanto, Ele chama a atenção de alguém quanto a todos os seus pecados somente após lhe ter mostrado sua posição caída. O Espírito Santo primeiro mostra a você quão perigosa é a posição em que você está, aí, e só então Ele lhe mostra quantos pecados você tem. A luz do Espírito Santo ilumina e expõe todas as áreas nas quais você transgrediu em relação aos outros. Ela expõe toda injustiça e todos os pecados ocultos em nossas palavras e pensamentos. O castigo de Deus é para o Seu curar. A repreensão do Espírito Santo é para o Seu confortar. Deus não se apraz em castigar e punir Seus filhos sem motivo. A única razão pela qual Deus pune é para que o homem possa obter paz. A razão de o Espírito Santo brilhar sobre o homem e mostrar-lhe seus defeitos e suas desobediências é para que o homem aceite toda a obra do Senhor Jesus Cristo na cruz. Sem a iluminação do Espírito Santo, não somos capazes de ver nem mesmo nossos pecados.

DEUS DERRAMA O ESPÍRITO SANTO SOBRE O HOMEM PARA SUA SALVAÇÃO


Que devemos fazer, agora que o Espírito Santo iluminou e enxergamos nossa posição? Há uma coisa que continuamente negligenciamos em nossa pregação do evangelho, à qual a Bíblia dá atenção o tempo todo. Temos de perceber que a obra do Senhor Jesus para os pecadores é deveras preciosa e crucial. Mas a obra do Espírito Santo para os pecadores é igualmente preciosa e crucial. A Bíblia mostra-nos que o Espírito Santo não apenas vem para nos iluminar e mostrar nossos pecados, nossa posição perdida e nossa injustiça diante de Deus e dos homens, mas este Espírito é também enviado de Deus e derramado sobre toda a carne com o propósito de que o homem, em todo lugar, seja salvo por Sua atuação (At 2.17-18, 21). Alguns que conhecem um pouco mais que os outros a verdade da Bíblia, pensam que é fácil receber o perdão e aceitar o Senhor Jesus como Salvador. Tudo o que precisam fazer é ajoelhar-se, orar e aceitá-Lo de coração. Talvez nem mesmo tenham de ajoelhar-se; apenas devem aceitar em seu coração. Porém muitas pessoas não têm esse conhecimento. Elas podem ser fracas ou podem vir de terras longínquas e podem não ter tido a chance de ouvir a verdade. Podem pensar que é uma coisa muito difícil ser salva. Elas podem pensar que precisam orar por longo tempo, e não têm certeza se Deus ouviria suas orações. Se eu lhe perguntasse hoje se você é salvo, você poderia responder rapidamente que sim. Mas tal declaração soaria estranho às pessoas de uma terra longínqua. Elas desejariam saber como você conseguiu ser salvo. Ser salvo para elas é uma coisa muito difícil. Elas diriam que têm orado por muitos anos e ainda não estão certas se estão salvas. Elas esperam ser salvas e se esforçam ao máximo para consegui-lo. Mas elas ainda não sabem se são salvas. Parece que ainda não estão salvas. Para elas, a salvação é algo muito difícil de ser alcançado. Mas meu amigo, assim como a obra do Senhor Jesus é completa, também a obra do Espírito Santo em nos levar a apossar-nos da obra do Senhor, é completa. A Bíblia mostra-nos claramente que Deus enviou o Espírito Santo com o propósito de que nós, pecadores, recebêssemos a obra do Espírito Santo e fôssemos salvos. O Filho de Deus veio por causa do mundo todo. Da mesma maneira, a vinda do Espírito Santo também é para toda a carne. Desde que sejamos um homem na carne, podemos obter a obra que o Senhor fez por nós.

TODO AQUELE QUE INVOCAR O NOME DO SENHOR SERÁ SALVO


Vamos ler Romanos 10.13: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo”. O assunto de Romanos 10 é que Deus levou o Senhor Jesus a morrer e ressuscitar por nós. Nos poucos versículos anteriores a esse, Deus pergunta se há alguém que possa trazer a Cristo do céu para morrer por nós e se há alguém que possa descer ao abismo para ressuscitar a Cristo por nós (vs. 6-7). Não há tal pessoa. Tal obra somente pode ser feita por Deus. Foi o próprio Deus quem levou Cristo a morrer por nós. Foi também Deus quem O ressuscitou por nós. Assim, todo aquele que hoje invocar o nome do Senhor é salvo. Não sei se você percebe que é a coisa mais maravilhosa ser salvo apenas por invocar o nome do Senhor. Na língua original, a palavra invocar significa que somente precisamos dizer Seu nome. Hoje, para contatar um irmão, tudo o que tenho de fazer é ir até sua casa e bater duas vezes na porta. Isso é chamá-lo. Não preciso pedir-lhe para ouvir nem tenho de implorar-lhe. Somente preciso ir até ele e avisá-lo com uma palavra. Esse é o significado de invocar. A versão chinesa traduz esta palavra para implorar. É incorreto. Embora não se possa dizer que a palavra grega não exprima sentido de implorar, ela significa muito mais uma invocação. Uma vez que Deus levou o Senhor Jesus a morrer e ressuscitar por nós, todos os que desejam ser salvos só precisam ir até Deus e dizer a Ele. Eles, então, serão salvos. Logo que vai ao Senhor Jesus e invoca o Seu nome uma vez, você é salvo. Tudo o que precisa fazer é abrir a boca uma vez. Você não precisa fazer mais nada porque Ele já completou toda obra. Toda a obra foi concluída. Eis por que dizemos que somos justificados por fé e não por obras (Gl 2.16). Se você pensa que até mesmo invocar uma vez é uma obra, então Deus diz apenas para crer um pouco em seu coração e isso será o bastante. O versículo 8 de Romanos 10 diz: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração”. Uma vez que o Senhor realizou a obra da morte e da ressurreição, nada temos a fazer. Desde que abramos nossa boca uma vez, tudo está feito. Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.


Você pode perguntar por que isso ocorre tão rapidamente. É verdade que a obra de Cristo foi cumprida. Mas por que eu seria salvo apenas invocando? Como pode a obra do Senhor na morte, ressurreição e ascensão ser aplicada a mim tão rapidamente? Atos 2 é uma explicação adicional a esse respeito. O versículo 17 diz: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne”. Devemos lembrar-nos de que nos últimos dias Deus derramará do Seu Espírito sobre toda a carne. Qual é o resultado disso? O versículo 21 diz: “E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. O versículo 17 está ligado ao 21. Deus diz que derramará do Seu Espírito sobre toda a carne. Então Ele diz que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Por que será salvo todo aquele que invocar o nome do Senhor? Porque Deus derramou do Seu Espírito sobre toda a carne. O Espírito Santo está agindo agora sobre toda a carne. Se houver alguém hoje cujos pecados não foram perdoados, e que ainda não sabe como ser salvo e como receber a vida eterna, que não sabe que o Senhor Jesus é seu Salvador, essa pessoa deve lembrar-se de que Deus derramou o Espírito Santo. O Espírito Santo está sobre você agora; Ele está esperando por você. Uma vez que invoque, você será salvo. Deus diz que derramaria do Seu Espírito sobre toda a carne. Por que existe o Pentecoste? Deus nos deu o Pentecoste porque Ele queria derramar o Espírito Santo sobre toda a carne. Agora basta abrir a boca e dizer “Ó Senhor”. e o Espírito Santo virá para o seu interior. O Espírito Santo é como a luz. Se houver uma brecha, a luz entrará. Você pode não perceber quão facilmente a luz passa por uma fenda. Se não acredita nisso, apenas vá até a sala ao lado. Se fizer um furo na parede, assim que retirar a broca, a luz entra. Você não precisa buscá-la, porque ela entra imediatamente. Desde que haja uma brecha, a luz entra. Hoje Deus derramou o Espírito Santo sobre toda carne. Uma vez que você esteja vivo, o Espírito Santo está sobre você. Assim que disser: “Ó Senhor”, o Espírito Santo começa a agir. Este é o significado de invocar o nome do Senhor. Os chineses de antigamente diziam que se deve suplicar aos céus, à terra e aos pais. Agora, apenas precisamos suplicar ao Senhor uma única vez. Quando alguém fala sobre oração, pensa-se sempre mais em súplica do que em invocar. Na verdade, tudo o que precisamos fazer é invocá-Lo. Assim que abrimos a boca, o Espírito Santo entra. Quando Ele entra, a obra completa do Senhor Jesus é trazida até nós.

A OBRA DO ESPÍRITO SANTO — COMUNHÃO


A obra do Espírito Santo é a comunhão. A característica de Deus é Seu amor. A característica do Senhor Jesus é Sua graça, e a característica do Espírito Santo é Sua comunhão. Segunda Coríntios 13.13 diz: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós”. Deus é amor e Sua característica é amor. O Senhor Jesus é graça e Sua característica é graça. Finalmente, a característica do Espírito Santo é comunhão. O Espírito Santo nada tem em Si mesmo. Ele traz para você o amor de Deus e a graça do Senhor Jesus mediante a comunhão. Essa é a obra do Espírito Santo. O Espírito Santo não realizou uma obra de amor. Ele não realizou uma obra de graça. O Espírito Santo transmite a você aquilo que Deus e o Senhor Jesus realizaram. Assim, a obra do Espírito Santo é comunhão. O Espírito Santo, após a ascensão do Senhor Jesus, simplesmente está pleno da obra do Senhor Jesus. Ele é como a luz! Desde que haja brecha, Ele entrará. Quando entra, Ele traz a graça do Senhor Jesus e o amor de Deus para dentro de você. Esta salvação é verdadeiramente completa. Algum tempo atrás, um famoso servo do Senhor morreu na Inglaterra. Naturalmente, sua morte estava sob a soberania de Deus. Nenhum de nós pode falar coisa alguma sobre isso. Mas, humanamente falando, podemos dizer algo sobre sua morte. Ele era muito fraco e esteve doente por anos. Os médicos haviam prescrito determinada medicação para ele. Sempre que inalava aquele remédio, ele ficava forte novamente. Ele colocava o medicamento em seu criado mudo. Muitas vezes, quando sofria muito e sentia que ia morrer, ele aspirava esse remédio e ficava bom. Apesar de o remédio não ter um cheiro bom, era muito eficaz. Na noite de sua morte, ele se sentiu desconfortável outra vez. Tentou alcançar o remédio, mas estava muito fraco para abrir a gaveta. Na manhã seguinte, as pessoas o encontraram em sua cama com a mão estendida para o remédio. Ele morreu ali com a metade do corpo fora da cama. Não foi uma questão da falta do remédio melhor e mais eficaz. Ele viveu com aquele remédio por oito ou nove anos. Todas as vezes que se sentia mal, ele aspirava o medicamento e ficava bem novamente. Por que ele morreu naquela hora? Não foi porque não havia o remédio, nem porque ele não queria o remédio. Foi porque o remédio não estava ao alcance de sua mão. Da mesma forma, somos aqueles que estão para morrer. O Senhor Jesus cumpriu a obra. O remédio de Deus foi preparado. Uma vez que o tomarmos, ficaremos curados. Mas quem dará esse remédio a você? Há o médico que prescreve a receita. Deve haver também quem dê o remédio. A obra do Espírito Santo é transmitir a nós a obra do Senhor Jesus. O amor de Deus está na graça do Senhor Jesus, e a graça do Senhor Jesus está na comunhão do Espírito Santo. Assim, todos aqueles que receberam a comunhão do Espírito Santo recebem a graça do Senhor Jesus, e todos os que receberam a graça do Senhor Jesus experimentam o amor de Deus. Quando o Espírito Santo vem, Ele nos dá a luz e nos mostra nossas falhas e degradação. Ele nos mostra que estamos perdidos. Deus trabalhou de tal maneira que uma vez que você abra a boca e diga uma palavra e uma vez que seu coração tenha um lugar para o Senhor e O invoque, você será salvo. Você não precisa ir a uma grande catedral para ser salvo. Não precisa orar para ser salvo. Você não precisa ficar defronte a um altar para ser salvo. O Espírito Santo já foi derramado sobre toda carne. Onde você está, ali está o Espírito Santo. Aleluia! Isso é um fato! Hoje, o Espírito Santo já foi derramado sobre toda carne. Não precisamos procurar por Ele. Ele está procurando por nós. Você pode invocar na rua ou em casa. Pode receber a salvação de Deus estando no lugar mais agradável ou nomais indesejável. Você pode tê-la no lugar mais barulhento ou no mais quieto. O Espírito Santo foi derramado sobre toda carne. Não importa onde você esteja, desde que invoque o nome do Salvador, você será salvo.

Romanos 10 fala sobre o fato e Atos 2 fala sobre o motivo. Romanos 10 apenas nos diz que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Ele não nos diz o motivo. Atos 2 nos diz que o Espírito Santo está sobre todos os homens. Assim, uma vez que alguém abrir a boca, será salvo. O Espírito Santo já entrou nele. Quando o homem invoca o Seu nome, ele é salvo.

O ESPÍRITO SANTO E A PALAVRA DE DEUS


Há outra coisa que o Espírito Santo faz e que diz respeito à Palavra de Deus. Muitas pessoas não veem a relação entre o Espírito Santo e a Palavra de Deus. Assim, elas não valorizam tanto as palavras da Bíblia. Como pode o homem receber a obra da cruz do Senhor? Muitos estão confusos sobre isso. Muitos pecadores até mesmo oram: “Senhor Jesus, seja misericordioso para comigo e morra por mim”. Eles não sabem que a redenção é completa. Vemos aqui a preciosidade da Palavra de Deus. Após Deus ter cumprido Sua obra por meio de Seu Filho, Ele a declara a nós e no-la mostra mediante as palavras da Bíblia. Em outras palavras, Deus colocou a graça que o Senhor cumpriu por nós em Sua própria Palavra e enviou-nos essa Palavra. Se retirássemos a obra do Senhor Jesus da Palavra de Deus, que teríamos? Se extraíssemos a obra do Senhor Jesus da Palavra de Deus, a Palavra de Deus se tornaria nula; não restaria nada. A razão de a Palavra de Deus ser a Palavra de Deus é que nela há o fato da obra do Senhor. Que é uma palavra? Uma palavra é um fato relatado. Sem fatos, as palavras tornam-se mentiras. Com os fatos, as palavras tornam-se verdadeiras. Se a obra do Senhor por nós não é verdadeira, a Palavra de Deus não é fidedigna. Mas se a obra do Senhor Jesus é um fato, se Deus cumpriu Sua justiça por meio do Senhor Jesus, e se Deus nos aceitou no Senhor Jesus, a Palavra de Deus deve ser digna de confiança. Por isso, devemos lembrar-nos de que a obra do Senhor Jesus está contida na Palavra de Deus. Aqui vemos a relação entre o Espírito Santo e a Palavra de Deus.

O Espírito Santo é o guardião da Palavra de Deus. Eu gosto do meu nome inglês, Watchman. Significa aquele que guarda e vigia. Deus colocou a obra realizada do Senhor no Espírito Santo. Hoje o Espírito Santo está vigiando cuidadosamente. Ele é como um porteiro. Assim que uma pessoa recebe o Senhor, imediatamente Ele esclarece as questões da Palavra de Deus para ele.

Poucos dias atrás, um irmão me mandou uma caixa de bombons. A caixa era muito grande e tinha flores impressas nela. Estava embrulhada em um papel cor-de-pêssego com um bilhete afixado, dizendo que os bombons eram um presente para mim. Posso dizer que o que eu recebi foi uma caixa de papel. Não recebi os bombons em si. Eu nem mesmo havia experimentado os bombons. O que estava em minha mão era uma caixa de papel. Mas o que verdadeiramente havia recebido eram os bombons porque os bombons estavam na caixa. O que levei para casa foi a caixa. Mas ao mesmo tempo, levei os bombons que vieram com a caixa. O que recebemos hoje é a Palavra de Deus. Mas o que nós recebemos em nosso interior é a obra do Senhor Jesus. Quando recebemos a Palavra de Deus, nós ganhamos a obra do Senhor, pois a obra do Senhor está na Palavra de Deus. Hoje quando alguém crê, não está crendo que o Senhor fez algo por ele. Ele está crendo na Palavra de Deus. Mas quando alguém crê na Palavra de Deus, a obra do Senhor é automaticamente aplicada a ele. Portanto se você disser que não é muito inteligente e que não pode entender a obra do Senhor, eu lhe direi que Deus não exige que você creia na obra do Senhor. Ele somente exige que você creia na Palavra de Deus. Quando crer na Palavra de Deus, você obterá Sua obra na Palavra. Aparentemente, o que levei para casa foi uma caixa de papelão. Como sei que ela continha bombons? Quando cheguei em casa, tirei o papel colorido, abri a caixa e tirei os bombons. Graças ao Senhor. Eis como o Espírito Santo trabalha. Recebemos a Palavra de Deus pela fé, e o Espírito Santo revela a obra do Senhor que está contida na Palavra de Deus. Por isso, devemos perceber que a obra do Espírito Santo é a comunhão. O Espírito Santo transmite a nós a obra do Senhor contida na Palavra de Deus. Sem a transmissão do Espírito Santo, a palavra de Deus permanece apenas a Palavra. Mas quando o Espírito Santo vem, a Palavra é revelada. Assim, Deus preparou o Senhor Jesus. Ele também preparou o Espírito Santo para essa obra de comunhão.

O ESPÍRITO SANTO TRANSMITE A OBRA DO SENHOR E O PRÓPRIO SENHOR A NÓS


Agora devemos ver como o Espírito Santo transmite a obra do Senhor a nós. A obra do Senhor incluiu tudo o que Ele fez: na cruz, em Sua ressurreição, em Sua ascensão, em Sua segunda vinda e em todas as coisas que Ele concede a nós. Não podemos entrar em detalhes a respeito de todos esses itens. Há muito a dizer sobre eles. Para falar sobre eles, teríamos de mencionar a obra do Espírito Santo em todo o Novo Testamento. Desta vez podemos apenas mencioná-la resumidamente. A vinda do Espírito Santo não é meramente para transmitir a obra do Senhor a nós. É também para transmitir o próprio Senhor a nós. O propósito da comunhão do Espírito Santo é transmitir o Senhor Jesus e Sua obra a nós. Se um homem não recebeu a obra do Senhor, o Espírito Santo transmite essa obra a ele. Se um homem não recebeu o Senhor Jesus, o Espírito Santo transmite o próprio Senhor ao homem. Quando fomos salvos, a obra do Espírito Santo foi transmitir a nós a obra do Senhor. Posteriormente, Sua obra é transmitir-nos o próprio Senhor. O ministério do Espírito Santo é manifestar o Senhor Jesus.

Uma semana atrás, duas irmãs vieram perguntar-me como traduzir para o chinês a expressão inglesa ministrar com Cristo. Esta é uma frase de difícil tradução. Ela significa servir aos outros com Cristo, da mesma forma que alguém serve uma xícara de chá ou uma tigela de arroz a outra pessoa. A obra do Espírito Santo é servir o Senhor Jesus a nós. Quando recebemos o Senhor, o Espírito Santo transferiu a obra de Jesus a nós. Consequentemente, toda a obra que o Senhor cumpriu, tal como o dom do arrependimento, do perdão, da purificação, da justificação, da santificação e do desfrute, é realizada pelo Espírito Santo em nós. Questões tais como a regeneração ou o receber da vida eterna se cumprem em nós por meio do Espírito Santo. A obra do Espírito Santo é transmitir a vida do Senhor Jesus a nós. Ela é similar ao fio que transmite eletricidade da usina de força em Willow Tree Creek a nós. Por meio do Espírito Santo, recebemos uma nova vida, um coração novo e um espírito novo (Ez 36.26). Quando recebemos um espírito novo e um coração novo, o Senhor Jesus tem como habitar em nós por intermédio do Espírito Santo. Por isso, a regeneração é o Espírito Santo preparando um novo templo para o Senhor. Uma vez que estamos na carne, o Senhor Jesus não pode habitar em nós. Somos como o mundo sob julgamento da época de Noé. Depois que a água baixou, Noé soltou uma pomba da arca (Gn 8.8-9). Mas a pomba não achou lugar de descanso; ela não encontrou lugar algum para habitar. Da mesma maneira, somos cheios de pecados. O Senhor Jesus não conseguia encontrar lugar para habitar em nós. Sendo este o caso, Deus nos deu o Espírito Santo. O Senhor realizou todas as coisas objetivamente. Agora, o Espírito Santo nos deu um novo espírito subjetivamente, para que o Filho de Deus possa habitar em nosso espírito. O Espírito Santo veio primeiramente preparar uma habitação para o Senhor Jesus. Então o Senhor veio morar em nós. Por um lado, o Espírito Santo nos deu uma nova vida interior. Por outro, dia após dia, Ele transmite a verdade e o propósito de Deus a nós. Eis por que o Senhor disse que quando o Espírito da realidade viesse, Ele nos guiaria a toda verdade (Jo 16.13). Além disso, há outro item da obra do Espírito Santo, que é trazer-nos os dons tais como profecia, línguas, cura, milagres, revelações, palavras de sabedoria e palavras de conhecimento, fé e todos os outros tipos de dons.

O ESPÍRITO SANTO PRESERVA O ETERNO FRESCOR DA OBRA DO SENHOR


Não quero enumerar em detalhes todos os itens da obra de comunhão do Espírito Santo. Aqui nós enfatizaremos apenas uma coisa: toda a obra do Senhor Jesus é-nos transmitida hoje por intermédio do Espírito Santo. Até mesmo o próprio Senhor Jesus é-nos transmitido por meio da obra do Espírito Santo. Essa é a salvação de Deus. Muitas pessoas não entendem a obra de comunhão do Espírito Santo. Elas me perguntam como a obra do Senhor que foi cumprida há mil e novecentos anos pode ser aplicada a nós hoje. Na verdade, se não houvesse a obra do Espírito Santo, essa pergunta teria pleno fundamento. Como pode uma obra cumprida há mil e novecentos anos ser aplicada a nós hoje? O que o Senhor cumpriu há mil e novecentos anos não foi abandonado “ao sabor do vento e do sol”. Deus preservou e alimentou essa obra no Espírito Santo. Eis porque ela permanece tão fresca hoje. Hoje podemos receber a obra do Senhor Jesus. Ela é a mesma de antes. Certa vez, fui a uma loja e o balconista me deu uma lata de sopa de vegetais importada. A lata parecia velha e feia exteriormente. Ela estava coberta de pó. O balconista falou muito bem dela e queria vendê-la para mim com um desconto. Comprei-a e levei-a para casa. Mais tarde quando a examinei a data de fabricação, descobri que era mais velha que eu. Depois, quando a abri e esquentei-a, vi que a sopa ainda tinha bom sabor. Se a obra do Senhor Jesus não fosse preservada no Espírito Santo, surgiria a questão de tempo e espaço. Como poderia entrar em mim o Salvador que morreu no calvário há mil e novecentos anos? Mas com o Espírito Santo, não há questão de tempo e espaço. Deus preservou a obra do Senhor no Espírito Santo. Agora a obra do Senhor é viva. Desse modo o Espírito Santo é capaz de transmitir a obra do Senhor a nós. Tenho um irmão que estuda bioquímica. Ele mexe com experiências o tempo todo. Para cultivar determinada bactéria, ele precisa usar certa substância química. Enquanto ele mantém determinada temperatura, a bactéria vive. Se a temperatura se torna muito elevada ou muito baixa ou se outros elementos são adicionados à cultura, a bactéria morre. O melhor meio para preservar a obra do Senhor é o Espírito Santo. A obra do Senhor sem o Espírito Santo não conseguirá viver e morrerá. O mesmo é verdade com relação à vida cristã. Uma vida cristã nunca pode ser separada do Espírito Santo. Se as verdades compreendidas pelos filhos do Senhor estiverem separadas do Espírito Santo, elas gradualmente secarão e morrerão. Assim, todos os assuntos espirituais têm de estar no Espírito Santo. Fora do Espírito Santo, tudo morrerá. Nada sobreviverá. Temos de ver que o Espírito Santo é a fonte da vida. Nele está a vida. Fora Dele, tudo está morto. Por meio do Espírito Santo, Deus transmite tudo de Si e da obra do Senhor para dentro de nós. Deus preparou tudo relacionado com a nossa salvação. Além disso, o Espírito Santo veio e está pronto a transmitir-nos tudo o que Deus preparou. Se houver alguém ainda não salvo, esse alguém não pode dizer que Deus não o amou ou que o Senhor Jesus não cumpriu a redenção por ele. Ele não pode dizer que a palavra está muito longe dele e é inatingível.
Meu amigo, você tem boca? Algumas pessoas podem argumentar que são mudas e não têm boca. Mas elas têm coração. Elas podem não ter boca, mas não conseguem deixar de ter coração. Romanos 10.8-9 diz: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu”. coração (...) se, com a tua boca, confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. Por que é assim? Porque Deus disse que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Talvez você queira saber como pode ser tão simples e como é que alguém pode ser salvo apenas invocando. Isso é possível porque o Espírito Santo veio. Ele salvará você assim que você invocar. Como se invoca? Se você tem boca, pode usar essa boca. Se você não tem boca, invoque com o coração. Essa palavra não está longe de nós. Ela está em nossa boca e até mesmo em nosso coração. Essa palavra é a palavra da justificação pela fé sobre a qual temos falado.

O Caminho da Salvação — A Fé Versus a Lei e as Obras


Nos capítulos anteriores deste livro, vimos que tudo o que o homem tem é pecado. Também vimos que é Deus que realiza tudo. Foi Ele que nos amou. Foi Ele que nos concedeu graça. Foi Deus que cumpriu a justiça, que levou o Senhor Jesus a morrer e ressuscitar por nós. Foi ainda Deus que enviou o Espírito Santo para nos convencer, iluminar e dar força para aceitarmos a obra de Deus. Deixe-me fazer-lhe uma pergunta muito comum. Que deve o homem fazer para ser salvo, visto que Deus completou toda a Sua obra? Deus fez toda a Sua parte. Hoje Ele colocou esta obra concluída diante do homem. Qual é, então, a condição para sermos salvos? Deus levou a cabo a obra da redenção. Como pode o homem agora receber a salvação? Como a redenção pode tornar-se salvação? Como pode a propiciação tornar-se substituição? Como pode o dom de Deus para nós, em Seu Filho, ser transmitido a nós no Espírito Santo? Aqui, estamos falando acerca da condição para a salvação. Que devemos fazer, de nossa parte, antes que o que é da parte de Deus seja transmitido a nós?

A CONDIÇÃO PARA A SALVAÇÃO — FÉ


Todos os que leem a Bíblia sabem que a condição para a salvação é a fé. Não há outra condição senão a fé. O homem, por ter caído e ser corrupto, por seus pensamentos serem tortuosos e por estar a sua carne na esfera da lei, pensa que deve fazer algo para que seja salvo. Contudo, a Bíblia nos mostra que a única condição para nossa salvação é a fé. Além da fé não há outra condição. O Novo Testamento diz-nos claramente, pelo menos cento e quinze vezes, que quando o homem crê, ele é salvo, tem a vida eterna e é justificado. Quando o homem crê, ele tem todas essas coisas. Somando-se a essas cento e quinze vezes, outras trinta e cinco vezes a Bíblia diz que o homem é justificado pela fé, ou torna-se justo por meio da fé. No primeiro caso, temos o verbo crer. No segundo caso, temos o substantivo fé. O verbo crer é usado cento e quinze vezes. Uma vez que o homem crê, ele é salvo (At 16.31). Uma vez que o homem crê, tem a vida eterna (Jo 3.36). Uma vez que o homem crê, ele é justificado. Além desses versículos, há trinta e cinco ocorrências em que o substantivo fé é usado. O homem é salvo mediante a fé. Ele recebe vida eterna pela fé, e é justificado mediante a fé. Portanto, em todo o Novo Testamento, pelo menos cento e cinquenta vezes é dito que o homem é salvo, justificado, e tem vida eterna unicamente por meio da fé. Não é uma questão de quem a pessoa seja, do que ela faça ou do que possa fazer. Tudo depende do crer. Tudo depende da fé. Outra questão que merece especial atenção é que em todas essas cento e cinquenta ocorrências da fé e do crer, nenhuma outra condição é adicionada. Esses versículos não dizem que o homem deve crer e a seguir fazer algo para receber a vida eterna. Eles não dizem que o homem deve crer e fazer algo antes que possa ser justificado. Tampouco dizem que o homem deve crer e fazer algo antes que possa ser salvo. A Palavra do Senhor menciona a fé de maneira clara e definida. Nada além é misturado ou vinculado à condição da fé. Portanto, a Bíblia nos mostra claramente que do ponto de vista de Deus, não há outra condição para a salvação além de crer. 

Um dos livros mais lidos e apreciados no Novo Testamento é o Evangelho de João. Se alguém o ler cuidadosamente, verá que João escreveu esse livro com o único propósito de dizer-nos como o homem pode receber vida e ser salvo e como pode ser libertado da condenação. O Evangelho de João menciona oitenta e seis vezes que é por fé somente, e por nada mais, que o homem recebe a vida, é justificado, e não entra em condenação. Portanto, a Bíblia nos mostra clara, adequada e simplesmente que a salvação não é baseada no que o homem é, no que ele tem tampouco no que fez. A Bíblia nos mostra que quando o homem crê, ele recebe (Jo 1.12). Ele recebe por meio de crer. Dissemos que a salvação e a redenção são realizadas por Deus. Mesmo a maneira e o plano para cumpri-las são arranjados por Deus. Também vimos que a graça é cumprida por Deus por meio do Senhor Jesus. Temos de lembrar que se do lado de Deus é graça, então do nosso lado deve ser fé. Se estendo minhas mãos para dar uma xícara de chá a um irmão, ele não pode recebê-la estendendo seus pés. A maneira que os outros utilizam para dar-lhe algo deve ser a mesma que você usa para recebê-lo deles. A maneira de receber deve ser a mesma usada para dar. Se as pessoas o chamam pelo telefone, então você tem de responder usando o telefone. Se lhe escreverem uma carta, você tem de receber a carta. A maneira como algo é recebido deve ser a mesma como foi enviado.

De acordo com a Bíblia, graça é o que Deus nos deu por intermédio de Jesus Cristo (1 Co 1.4). Para Ele, fazer isso está no princípio da graça. Uma vez que esteja no princípio da graça do lado de Deus, então, do nosso lado, está no princípio da fé. Fé e graça são dois princípios inseparáveis. Graça é Deus dando algo a nós, e fé é o nosso receber algo da parte de Deus. Fé nada mais é que receber o que Deus nos deu em espírito. Isso é totalmente independente de obra. Somente dessa maneira o homem pode receber a graça de Deus. Se recorrermos a quaisquer outros meios, não seremos capazes de receber a graça de Deus. Embora a Bíblia nos mostre que é pela fé que se recebe a graça de Deus, muitas doutrinas têm surgido como resultado da má interpretação por parte do homem. O homem cria teorias baseadas em seus próprios pensamentos e em sua mente obscurecida. Elas envolvem o que ele deve fazer para que seja salvo. Assim como o homem tem criado ídolos com seu coração tortuoso e os considera deuses, da mesma forma ele tem estabelecido condições para a salvação com seu coração tortuoso e pensamentos obscurecidos. Por essa razão, devo chamar sua atenção para as diferentes condições que o homem estabeleceu para a salvação e considerar se esses caminhos de salvação são confiáveis ou não. Se o homem não vê a verdade de Deus e não compreende Sua Palavra, ele não perceberá que a condição para salvação é a fé. Contudo, se o homem vê a luz de Deus e compreende a verdade de Deus, ele não será capaz de contrariar o fato do Novo Testamento de que a salvação é mediante a fé. O problema hoje é que depois de reconhecer a fé como a condição da salvação, ele adiciona algo mais à fé. A controvérsia entre Deus e o homem não é a de crer ou não crer, mas é a de crer com arrependimento, crer com as obras da lei, crer com batismo, ou crer com testemunho, como um pré-requisito para a salvação. A Palavra de Deus diz-nos que uma vez que creiamos, somos salvos. Porém, o homem hoje acrescenta a palavra com. De acordo com sua mente obscurecida, ele proclama que o homem é salvo mediante a fé com alguma coisa. O que iremos considerar não é se alguém pode ser salvo pela fé. Essa questão já está resolvida. A questão hoje é se a fé é suficiente ou não. Precisamos adicionar com à fé para que sejamos salvos?


A SALVAÇÃO NÃO É A FÉ COM AS OBRAS DA LEI


A primeira questão é se o homem é salvo por meio da fé com o guardar da lei. A maneira do homem para a salvação é a fé mais o guardar a lei. Já falamos sobre a questão da lei, mas vamos repetir novamente. A Bíblia dedica muito tempo para tratar dessa questão. Os pregadores, portanto, também devem dedicar muito tempo para lidar com essa questão. Visto que o homem presta muita atenção à lei, a Bíblia dedica dois livros para tratar desse problema. Temos de conhecer o motivo pelo qual Deus deu a lei. Deus deu a lei aos israelitas, não para que a guardassem, mas para expor seus pecados. Originalmente, os israelitas tinham pecados, mas estes não se haviam tornado transgressões. De Adão a Moisés, o homem tinha pecados (Rm 5.14), mas não tinha qualquer transgressão. Deus deu a lei para tornar os pecados do homem em transgressões (Rm 5.13, 20a). Como foram os pecados do homem transformados em transgressões? Suponha que haja uma pessoa que tem a disposição e o temperamento de caminhar de um lado para outro, do lado de fora do salão de reuniões, todos os dias. É algo que ele gosta de fazer. Ele tem de fazer isso todos os dias, todas as semanas, todos os meses e todos os anos. Ninguém consegue explicar por que ele faz isso. Mas em seu temperamento, disposição e vida, há tal coisa que o impele a andar de um lado para outro, do lado de fora do salão de reuniões. Embora ele tenha esse hábito, não podemos dizer que isso signifique qualquer transgressão. Você pode não gostar do que ele faz e pode achar que esteja errado, mas ele não tem percepção de que isso está errado. Quando ele perceberá que é errado? Suponha que você tome duas fitas vermelhas brilhantes e as amarre naquele espaço obstruindo a passagem. Quando ele vier no dia seguinte, verá as duas fitas e perceberá que não deve passar por elas. Seu hábito sempre foi o de andar por ali. Há algo nele que o compele a andar por ali. Suponha que ele dê uma olhada nas duas fitas e contemple a cor brilhante, a textura de seda, o belo laço, e em seguida as desamarre e passe direto por elas. Nesse caso, o seu caminhar é diferente do anterior. Seu caminhar anterior era um pecado sem transgressão. Agora é o mesmo caminhar, mas ele caminha em transgressão.
Deus diz que a lei é perfeita. Ela é boa, justa, santa e excelente (Rm 7.12). Contudo, o homem é cheio de pecado. Ele é cheio de pecado por dentro e por fora. Entretanto, de Adão a Moisés, embora o homem tivesse pecado, ele não tinha transgressões. Deus estabeleceu a lei, não para que o homem não pecasse, mas para expor os pecados do homem e torná-los em transgressões. Hoje a lei está aqui. Uma vez que uma pessoa quebre a lei, ela percebe que pecou. Portanto, podemos dizer que Deus deu a lei ao homem não para que este a guarde, mas para que veja que pecou. Quando não havia a lei, ele não percebia que tinha pecado. Agora ele sabe. O estranho é que o homem toma a lei, que está ali para provar seu pecado, a fim de tentar provar que é justo. Ele inverte o objetivo da lei. Deus quer que pela lei saibamos que pecamos, mas nós queremos provar pela lei que somos justos. Deus quer mostrar-nos pela lei que estamos perecendo, mas queremos provar pela lei que estamos salvos. O homem não se enxerga. Seus pensamentos estão cheios da lei. Ele não vê que é corrompido interiormente e que não consegue guardar a lei. A carne do homem não consegue guardar a lei de Deus. Ela não se submeterá à lei de Deus. Entretanto, o homem ainda quer procurar justiça na lei e ganhar vida por meio dela. Deus usa a lei para mostrar ao homem que ele está desamparado e que necessita receber a salvação. Mas quando ele vê as ordenanças, tenta obter um pouco de justiça por meio delas e ser salvo. Romanos 3.19 diz: “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus”. Esse versículo diz que a lei foi dada com o fim de calar toda boca, para que ninguém possa dizer qualquer coisa, e para que todos estejam sujeitos ao julgamento de Deus. Em seguida, há um veredito com respeito a nós: “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (v. 20). Pode-se ver que a intenção original da lei foi expor o pecado, não justificar o homem. Está muito claro que o propósito da lei de Deus era expor o pecado e não estabelecer nossa própria justiça. No Antigo Testamento, Deus não somente deu a lei ao homem, como também os tipos, os quais eram as leis cerimoniais. Elas explicavam como alguém deveria oferecer sacrifícios e como pagar o valor para a expiação. Essas questões tipificam o cumprimento da redenção do Senhor Jesus e da Sua subsequente salvação para nós no Novo Testamento. Isso é o que Deus nos tem mostrado. É tão estranho que o homem tente estabelecer sua própria justiça não só por meio da lei, mas também por meio desses tipos. Ele tenta estabelecer sua justiça por meio dessas ordenanças. Nós até mesmo encontramos um fariseu que, orando, dizia que jejuava duas vezes por semana e que ofertava a Deus a décima parte do que possuía (Lc 18.11, 12). Ele pensava que essa era a sua justiça e que por meio dela poderia ser salvo. O homem não vê o propósito pelo qual Deus estabeleceu a lei. Ele compreende mal o propósito de Deus. O homem duvida que seja tão fácil ser salvo. Ele acha que é verdade que o homem de fato é salvo por crer no Senhor Jesus. Nós, que somos cristãos, acima de tudo reconhecemos a necessidade de crer. É correto crer, mas muitos dizem que deveríamos também guardar a lei. O que o homem está dizendo hoje não é se alguém pode ser salvo pela lei ou não. O que ele está dizendo é que os que crêem em Jesus devem também guardar a lei para ser salvos. A fé em Jesus é uma doutrina indiscutível na Bíblia. Contudo, os cristãos dizem que se deve acrescentar a isso o guardar a lei. O homem não vê que crer em Jesus e guardar a lei são duas coisas totalmente contraditórias. Elas jamais podem ser juntadas. A diferença entre a fé em Jesus e as obras da lei é a mesma entre o céu e o inferno. Assim como o céu é imensamente diferente do inferno, a fé em Jesus é imensamente diferente das obras da lei. 

A quem foi dada a lei? Foi dada aos judeus. Por que, então, o Novo Testamento menciona repetidas vezes o guardar a lei? No Novo Testamento, os apóstolos, ou melhor dizendo, o Espírito Santo, sabia claramente que seus leitores podiam não ser necessariamente todos judeus. Somente uma minoria dos que creram em Jesus bem no início eram judeus. Alguém perguntou-me certa vez: “Você diz que os judeus são os que receberam a lei. Mas quem são os judeus?” Eu lhe disse que os judeus eram como porquinhos-da-índia. Quando um pesquisador de produtos farmacêuticos não tem segurança sobre um remédio, ele não o experimentará em seres humanos. Em vez disso, ele primeiramente o injeta em porquinhos-da-índia. Se os porquinhos-da-índia morrem imediatamente, então o remédio não pode ser utilizado. Somente após o remédio provar que é eficaz é que será injetado em seres humanos. O mesmo é verdade para remédios administrados por via oral. Primeiro, ele é dado aos porquinhos-da-índia. Se funcionar, então o remédio é usado. Caso contrário, ele é descartado. O mesmo é feito para imunização contra bactérias. Se funcionar no porquinho-da-índia, funcionará no homem. Se não funcionar no porquinho-da-índia, não funcionará no homem. Eu diria, do modo mais respeitoso possível, que os judeus são os porquinhos-da-índia. Deus testou a lei nos judeus. Se os judeus pudessem cumpri-la, então poderia ser usada. Se não pudessem cumpri-la, então ela não poderia ser usada. Deus aplicou a lei nos judeus e eles não conseguiram cumpri-la. Isso significa que o mundo todo não pode cumpri-la. Os judeus foram selecionados  por Deus como objetos de uma experiência. Os judeus são os representantes do homem no mundo todo. Portanto, vê-se que a lei foi oficialmente dada aos judeus. Mas o princípio da lei é dado a todos os homens. É dado a toda carne. Deus deu a lei ao homem para preveni-lo de que o homem é proveniente da carne e é carnal. Que é o cristianismo? O cristianismo não diz aos filhos de Adão que façam o bem. Isso não é o cristianismo. O cristianismo diz que Adão está crucificado e eliminado, e que a raça adâmica é aniquilada pela cruz do Senhor Jesus. O homem em Cristo recebe uma nova vida e torna-se uma nova raça. A lei é inútil para a nova raça, pois não existe coisa semelhante à lei na nova raça. A lei foi dada por Deus aos filhos de Adão para expor os seus pecados. Se alguém quiser ser salvo por guardar a lei, ele deve perceber a séria consequência das palavras guardar a lei. Uma vez que o homem guarde a lei, ele obterá justiça. Contudo, essa justiça será proveniente da carne. Em outras palavras, significaria que os filhos de Adão, isto é, a raça adâmica, não precisam morrer. Significaria que o homem pode agradar a Deus com sua carne. Talvez alguém argumente que o homem não pretende guardar toda a lei, que ele compreende que é impossível guardá-la na sua totalidade, que o que ele pretende é crer em Jesus, e então, guardar a lei. Todavia, se a obra da lei tiver uma milionésima fração de aceitação diante de Deus, isso significa que Adão não precisaria morrer. Isso anularia a própria natureza do cristianismo. O cristianismo não está aqui para estabelecer uma base para Adão. Não está aqui para manter a velha criação. Ele está aqui para transferir-nos para a nova criação. Somos carne, e não podemos obter a justiça que provém de guardar a lei. Desde a queda do homem, havia o querubim e a espada flamejante guardando a árvore da vida no jardim do Éden (Gn 3.24). Por que o querubim e a espada flamejante estavam guardando o caminho para a árvore da vida? Para evitar que o homem comesse da árvore da vida. Após o homem ter se tornado pecador e ter comido do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, não havia outro caminho para ele voltar à árvore da vida e comer do seu fruto exceto ser julgado pelo querubim e morto pela espada flamejante. Deus nos mostra que o homem não pode comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal e ao mesmo tempo comer do fruto da árvore da vida. O homem não pode comer de ambos. O homem não pode receber a semente do pecado em uma das mãos e tomar a salvação do Senhor na outra. Aqui reside a diferença entre o cristianismo e o judaísmo. O judaísmo diz ao homem na carne que pelo fato de guardar a lei ele viverá. Mas o cristianismo diz que ele não pode viver, pois não consegue guardar a lei. O cristianismo afirma claramente que o homem não consegue fazê-lo. Não há possibilidade de ele guardar a lei. Portanto, podemos ver que no Antigo Testamento, Deus deu a lei para que o homem a guardasse. No Novo Testamento, vemos que o homem não consegue guardar a lei de modo nenhum, tampouco deve guardá-la. Essa é uma das maiores verdades na Bíblia. Agora o perigo é que se juntamos a fé com a lei, anulamos o princípio da Bíblia. Imediatamente Adão terá a base, e o homem carnal será capaz de viver novamente. O julgamento de Deus é que o homem deve morrer. Por meio de Jesus Cristo, Deus eliminou o homem. Ele não quer que o homem carnal consiga coisa alguma. Hoje, se o homem ainda tenta produzir algo a partir da carne, ele subverte o princípio do Novo Testamento. Se for dado terreno à lei, então a carne também terá terreno. Mas Deus diz que a carne não tem terreno, que todos os terrenos foram removidos. 

Podemos indagar se isso é anular a lei. Precisamos lembrar que, de acordo com a Bíblia, a lei exige duas coisas de nós. Primeiro, a lei diz que aquele que a guardar, viverá (Rm 10.5). A lei requer que a guardemos e façamos algo. Uma vez que o homem a guarde, obterá justiça. Se tivermos justiça, teremos a recompensa, que é a vida. Mas há um segundo aspecto. A lei diz que no dia em que comermos da árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente morreremos (Gn 2.17). Por um lado, a lei requer que o homem guarde algo. Por outro, sua punição é a morte para todos os que não guardam a lei. Todos os que não guardam a lei recebem a retribuição por não guardar a lei. Portanto, no Antigo Testamento, em princípio, vemos que a lei exigia que o homem a guardasse e que fosse justo. Os que não a guardassem eram condenados e punidos. Em Xangai, o departamento de Trânsito tem muitas leis. Por exemplo, para dirigir ao escurecer, a pessoa deve ter faróis na sua bicicleta. Se não houver farol na bicicleta, então haverá uma multa de sessenta centavos. Esse regulamento requer duas coisas: que a pessoa instale um farol e que aqueles que não o fizerem sejam punidos. Que é, então, anular a lei? Anular a lei significa que alguém não tem um farol e tampouco tem de ser punido. Que é guardar a lei? Guardar a lei é satisfazer uma das exigências. Os que têm um farol, estão guardando a lei. Os que não têm um farol, mas estão dispostos a pagar sessenta centavos, também estão guardando a lei.

O problema hoje é que não conseguimos guardar a lei. A lei de Deus requer que sejamos justos. Se não somos justos, então falhamos. Somente sendo justos podemos viver. Mas nenhum homem é capaz de guardar a lei. Ninguém entre nós pode ter justiça diante de Deus pelo fato de guardar a lei. Uma vez que o homem toque a lei de Deus, ele falhará. Paulo disse em Romanos 7.7 que mesmo que Deus tivesse somente uma lei, o homem não seria capaz de guardá-la. Paulo não transgredia todas as leis. Ele mencionou somente uma lei, acerca da cobiça. Na língua original, a cobiça é concupiscência. Paulo disse: “Estou desamparado. A concupiscência insiste em voltar todas as vezes. Para mim é impossível não ter concupiscência”. Ele não podia fazer o farol da sua bicicleta funcionar, contudo ele tinha de andar pela cidade. Para alguns, o problema não é que o farol não funciona. Eles simplesmente não querem ter a luz. Essas pessoas nem mesmo querem acender o farol. Que é anular a lei? É quando alguém argumenta com Deus dizendo: “Ó Deus, não posso guardar Sua lei hoje. Por favor, deixe-me ir, por conta do Senhor Jesus. Fiz o melhor que pude. Por favor, não me castigue”. Todos que suplicam ao Senhor Jesus, que seja brando, ou a Deus, que tenha misericórdia deles, estão anulando a lei. Por um lado, eles não querem guardar a lei. Por outro, não querem a punição da lei. Eles não querem ter o farol, contudo, ao mesmo tempo, querem evitar a multa de sessenta centavos. E quanto a nós hoje? Temos nossos faróis? Se temos os faróis, então podemos andar sossegados pela cidade. Mas nenhum de nós é capaz de ter o farol. Portanto, a única maneira é pagar os sessenta centavos. Isso é o que o Senhor Jesus fez por nós. Esse é o julgamento que experimentamos em Cristo. Devemos dizer: “Louvamos e agradecemos ao Senhor, pois já fomos julgados em Cristo!” Fomos punidos em Cristo. Deus já nos puniu em Cristo. Uma vez que o Senhor Jesus morreu, ressuscitou e ascendeu, a salvação que agora recebemos é equivalente à que obteríamos se guardássemos a lei. Aqueles que têm o farol, estão livres. Os que foram punidos também estão livres. Hoje, se um homem conseguir guardar todas as leis, ele será justificado e será salvo, da mesma maneira que nós, os que cremos em Jesus, somos salvos e justificados. É claro que não somos apenas salvos quando cremos em Jesus; ao salvar-nos, o Senhor Jesus concedeu-nos muitas outras coisas além de conceder-nos também a lei.


Paulo disse em Romanos 3.31: “Anulamos, pois, a lei, pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei”. Portanto, quando somos salvos pela fé em Jesus, não anulamos a lei. Uma vez que encontramos a exigência da lei em nós, a lei nada tem a dizer. Nunca pense que deveríamos adicionar a obra da lei à nossa fé. Para nós, crer é como pagar os sessenta centavos. Para nós, guardar a lei é como ter o farol. Ninguém no mundo inteiro teria o farol e pagaria sessenta centavos ao mesmo tempo. Isso é ilógico. Por que alguém teria de pagar sessenta centavos e ao mesmo tempo ter o farol? Se ele pode ter o farol, então não tem de pagar os sessenta centavos. Se existir a palavra da fé, então não pode haver a lei. Se existir a lei, não pode haver a palavra da fé. Ninguém pode ter a fé e guardar a lei ao mesmo tempo, pois fazer isso seria desprezar o Senhor Jesus. Isso significaria que a pessoa não consegue ver sua completa fraqueza e imundícia. Por favor, leia novamente Gálatas 2.16, 17: “Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois por obras da lei, ninguém será justificado. Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos também achados pecadores, dar-se-á o caso de ser Cristo ministro do pecado? Certo que não”. O livro de Gálatas nos mostra que alguns na Galácia contendiam sobre não ser suficiente o homem ser justificado pela fé no Senhor Jesus; ele ainda devia guardar a lei. Eles não estavam dizendo que o homem não deveria crer. Eles certamente reconheciam que um homem é justificado em Cristo. Mas estavam dizendo que ele ainda precisava guardar a lei. Paulo estava dizendo uma palavra muito dura aqui. Ele estava dizendo que se enquanto procuramos ser justificados em Cristo somos achados pecadores, significa que após termos crido no Senhor Jesus, nós ainda não fomos justificados, ainda somos pecadores, e ainda devemos guardar a lei para ser salvos. Por exemplo, suponha que eu esteja doente e passe dez dias sob os cuidados de um médico. Depois disso, porque a doença ainda permanece, tenho de consultar outro médico. Se busco ser justificado em Cristo e ao mesmo tempo tento guardar a lei, significa que ainda sou um pecador e que ainda não fui salvo. Se já não sou pecador, então nunca mais deveria guardar a lei. Se ainda sou pecador, Cristo é ministro do pecado? Paulo perguntava: Se ele não era justificado depois de ter crido no Senhor Jesus, aquilo significava que Cristo era um ministro do pecado? A resposta é: “De modo nenhum!” No Novo Testamento, Paulo disse “De modo nenhum” muitas vezes. No grego, essa é uma expressão peculiar. É traduzida na versão King James como “Deus não permita”. É equivalente à expressão “os céus não permitam”, uma palavra muito forte. Isso significa que até mesmo os céus rejeitariam isso. Não há razão debaixo do sol para que isso sucedesse. Portanto, está claro que o homem não pode ter fé em Jesus e ao mesmo tempo guardar a lei.

Em Romanos 3, Paulo fez outra afirmação clara. O versículo 28 diz: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei”. Essa é uma afirmação conclusiva. Agora é uma questão de fé. Nada tem a ver com a lei, absolutamente. Graças ao Senhor! Jesus é suficiente. Para a Bíblia, dar atenção à fé é dar atenção à graça de Deus. Isso nos mostra que tudo vem pelo receber. Alguns gostam de exaltar os homens em sua pregação do evangelho. Mas se conhecemos a Bíblia, veremos que fora de Deus o homem é totalmente desamparado. Lembre-se, destas duas sentenças: o homem não é salvo pela lei, tampouco é salvo pela fé com a lei. Este é o primeiro e mais comum engano do homem. O homem misturou a fé com a lei.

A SALVAÇÃO NÃO É A FÉ COM BOAS OBRAS


“As obras da lei” é uma expressão que encontramos na Bíblia (Gl 2.16). Já tratamos desse aspecto. A compreensão mais frequente da condição da salvação é que a salvação é pela fé e também pelas obras. Salvação pela fé é uma doutrina da Bíblia, e o homem não pode argumentar contra ela (Ef 2.8). Contudo, o homem diz que ela é também pelas obras. Consideremos agora o que a Bíblia diz sobre isso. Frequentemente somos brandos e complacentes em nosso falar, mas a Bíblia não é branda no seu falar. Ela é muito precisa. Efésios 2.8 e 9 dizem: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”. Aqui ela nos diz que a salvação é absolutamente pela graça e mediante a fé. A palavra mediante significa atravessar. É como dizer que a luz elétrica brilha pela eletricidade e mediante o fio condutor. É também como dizer que a água da torneira vem do reservatório no departamento de águas e mediante os encanamentos. O homem é salvo pela graça, mas o canal mediante o qual a salvação vem a nós é a fé. O canal não são as obras, mas a fé. É mediante a fé e nada tem a ver com as obras. Não é adicionar a fé às obras. É preciso saber que a fé e as obras são basicamente opostas entre si. A graça do Senhor Jesus é baseada no amor de Deus. Quando cremos, a graça e o amor fluem para dentro de nós. Como resultado, somos salvos, temos vida, e somos justificados. Nada disso é transmitido a nós por meio das obras. Graças ao Senhor que não é por causa das obras! Por que deveria sê-lo? A resposta aqui é que ninguém deve vangloriar-se. O que Efésios 1 nos diz é que Deus quer ter toda a glória. É por isso que Ele faz toda a obra. Suponha que certo irmão seja muito capaz e educado e tenha sofrido muito pelo Senhor. Se outro irmão vem a mim e diz: “Irmão Nee, eu louvo você e o glorifico pela excelente obra que esse irmão realizou”, certamente diríamos que ele está mentalmente doente. A glória só pode ir para aquele que realizou a obra. Não existe tal coisa no mundo, como alguém trabalhar e outro receber a glória. Os que trabalham merecem o pagamento. Quem quer que trabalhe, este mesmo recebe a glória. Por que Deus fez toda a obra de nos salvar? É para que Ele tenha toda a glória. A razão de Deus nos ter concedido a graça é que Ele receba toda a glória. Ele não quer que trabalhemos para que não nos vangloriemos. Vangloriar-se é glorificar a si mesmo. Se fizermos qualquer coisa que mereça alguma glória, não agradeceremos nem louvaremos a Deus diante Dele. Imediatamente diremos: “Sem dúvida, a salvação é concedida a mim por Ti. É a Tua obra. Mas acrescentei minha parte a ela. Se não tivesse acrescentado minha parte, não seria como sou hoje”. O homem gosta de superestimar seus próprios méritos. Ele gosta de superenfatizar suas próprias virtudes. Se Deus dissesse que cumpriria noventa e nove por cento da obra da salvação e que deixaria um por cento para nós, este um por cento Silenciaria  os céus. Os anjos não louvariam mais, e as pedras não clamariam mais. Em vez de as pedras se tornarem os filhos de Abraão, os filhos de Abraão tornar-se-iam as pedras, pois de cem por cento, alguns reivindicariam um por cento. Eles, então, contariam a  maravilha de sua própria obra e diriam: “Eu passei por aquilo desta maneira ou daquela maneira. Como você conseguiu passar? Qual foi sua contribuição?” Cada um estaria se gabando de sua própria obra e Deus não teria possibilidade de obter a glória. Agradecemos e louvamos ao Senhor! Uma vez que Ele quer obter toda a glória, Ele não deixou uma única coisa para fazermos. Quando alcançarmos o céu, teremos de dizer que ainda somos pessoas desamparadas. Somos capazes de chegar lá por causa da graça “gratuita”. Essa palavra “gratuita” calará no céu todas as súplicas e o encherá com ações de graça e louvor. Tudo será ações de graça e louvor, porque tudo é realizado por Deus. Devemos ver que esta é a verdade da Bíblia. A obra do homem e a graça de Deus não podem ser misturadas. Uma vez que o homem trabalhe, isso entra em conflito com a glória. Portanto, se estou na rua, em minha casa, ou na reunião do partir o pão, posso dizer de coração: “Deus, agradeço e louvo a Ti, porque nada tenho a ver com minha salvação. Minha salvação provém cem por cento de Ti. Portanto, que posso fazer senão louvar a Ti?” Deus se agrada do louvor. A Bíblia chama determinado tipo de oração de repugnante, mas a Bíblia nunca chama qualquer tipo de louvor de repugnante. Algumas orações são rejeitadas por Deus, mas Deus nunca rejeita qualquer louvor. Deus quer ter toda a glória, pois Ele realizou toda a obra. Isso significa que podemos ser relaxados e que não precisamos mais fazer o bem?
Efésios 2.10 explica: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Os versículos 8 e 9 nos mostram o que Deus fez por nós objetivamente. O versículo 10 imediatamente nos mostra as questões subjetivas. Deus não nos salvou de maneira tola. Ele nos deu nova vida, nova natureza e novo espírito interiormente. O Senhor Jesus está vivendo em nós por meio do Espírito Santo e nos preparou para toda boa obra. Lembre-se de que Deus não incluiu essas boas obras nos dois versículos anteriores. Não importa quantas boas obras você tenha feito após ser salvo. A salvação ainda provém da graça. Não importa quão rápido você avance espiritualmente, pois a salvação ainda provém da graça gratuita do Senhor Jesus. Mesmo que tenha uma obra como a de Paulo, um resultado como o de Pedro, amor como o de João, e sofrimento como o de Tiago — mesmo que tenha todas estas quatro coisas — você ainda é salvo por meio da graça gratuita. No futuro, embora sua obra possa mostrar que é salvo, ela jamais será sua condição para salvação. Minha fé não significa muito. Ela é apenas um receptor da obra de Deus. O homem não é salvo por obras. Ninguém pode argumentar contra isso. Mas o homem é muito miserável. Por ser seu coração obscurecido e cheio de pecado, por ser sua carne má e cheia da lei, embora ele reconheça a fé, ele pressupõe que deve também adicionar obras. O homem não vê que é depois de ser salvo pela fé que alguém tem as obras. A salvação nada tem a ver com obras. Não estou dizendo que não precisamos das obras. Nós damos atenção à obra. Contudo, essa não é a condição para a salvação. A salvação é um problema totalmente diferente. Não devemos esquecer que a Bíblia diz que se dermos mesmo uma pequena atenção à obra, a graça de Deus é anulada (Gl 2.21). Uma vez que é graça, ela deve provir somente da fé e não da obra. 

Romanos 4.4 e 5 diz: “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim, como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça”. Agora temos clareza. Se um homem pode ser salvo por obras, então a salvação torna-se uma recompensa. Não é mais a graça, mas torna-se algo que a pessoa merece. Se é algo que alguém merece, então não mais é gratuito. A palavra gratuitamente na Bíblia (Rm 3.24), significa na língua original sem motivo. Em outras palavras, não existe razão para isso. O Senhor Jesus disse no Evangelho de João: “Odiaram-Me sem motivo” (15.25). Na língua original, pode significar: “Eles odiaram-Me gratuitamente”. O Senhor nunca fez nada para merecer aquele ódio, mas eles O odiaram assim mesmo. Não havia uma razão para isso. Era gratuito. A graça de Deus naqueles três anos e meio foi dada gratuitamente a nós. Somos como o filho mais novo em Lucas 15. Um dia chegamos a Deus e dissemos: “Deus, dá-me a parte da herança que cabe a mim”. Deus nos deu o que deveríamos ter. Após tomarmos nossa herança, desperdiçamo-la com más companhias. Hoje, voltamos à casa do Pai. A veste que usamos, nossos anéis, sandálias e o novilho cevado que comemos não são o que merecemos. Já gastamos o que era nosso por direito. Não merecemos o anel. Não merecemos a veste. Não merecemos comer o novilho cevado, e não merecemos usar as sandálias. Que é, então, graça? Quando os que não merecem ser salvos são salvos, isso é graça. Graça é o que aqueles que não deveriam obter, obtiveram. Aquilo que o filho mais novo levou da primeira vez não era graça. Ele já o gastou. O que ele recebeu da segunda vez foi totalmente graça. Sua própria porção foi gasta há muito tempo. Quando ele desfruta outra comida em casa, que não é aquela que ele merecia ter, isto é a graça do Pai. Portanto, se alguém trabalha, a questão do salário passa a existir, e não é mais graça. A graça está em conflito com o que alguém merece. Como, então, opera a fé? Quando não é obra ou labor, mas somente a fé no Deus que justifica o pecador, essa fé é imputada como justiça. Esta é a relação entre fé e graça. Se é obra, então não é graça. Se é graça, então existe somente a fé. Crer é aceitar o que Deus realizou. Não é quanto eu tenha feito. Devemos enfatizar que, diante de Deus, não somos justificados por aquilo que realizamos. Somos justificados pela fé. Hoje temos a justificação pela fé. Portanto, a questão da obra terminou para sempre.

Todos os que me conhecem bem sabem que gosto de molho de soja. Se não houver muitos pratos à mesa está tudo bem, contanto que eu tenha molho de soja, posso passar muito bem. Certa vez, alguém que me servia viu que meu molho de soja estava quase no fim. Ele foi ao mercado e comprou mais. A seguir misturou-o com o molho de soja bom. Quando experimentei, notei que o sabor era diferente. Perguntei por que o molho de soja estava com um sabor diferente aquele dia. Verifiquei com o que servia se ele havia posto o molho de soja da mesma garrafa. Ele respondeu que sim. Eu queria descobrir se meu paladar havia mudado. Parecia pouco provável. Então perguntei-lhe se havia misturado com alguma coisa mais. Ele teve de admitir que tinha. Hoje, o homem faz a mesma coisa com a obra de Deus e a Sua graça. Ele tenta misturar algo mais a elas. Uma vez que misturamos algo dessa maneira, a graça se torna algo diferente da graça. Isso é porque Deus diz que se é proveniente da graça, então não mais é proveniente da obra (Rm 11.6). Se é proveniente de obra, então não mais é proveniente da graça. A obra jamais pode ser misturada com a graça. Portanto, não apenas devemos dizer que a salvação é proveniente da fé, mas dizer que a salvação é proveniente unicamente da fé. Amo Romanos 3.27. Essa palavra é baseada nos versículos 25 e 26. Ali diz como o Senhor Jesus se tornou um lugar de propiciação e como Deus justificou os que crêem Nele. Não é injusto que Deus faça isso. Portanto, o versículo 27 diz: “Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída”. Não há maneira de nos vangloriarmos. Não há mais possibilidade de nos gabarmos. A frase seguinte é muito importante. Ela diz: “Por que lei?” Isso significa que não temos mais nada de que nos gabar. Por qual maneira estamos livres de nos vangloriar? Por qual princípio estamos livres de nos gabar? O versículo 27 continua: “Das obras? Não, pelo contrário, pela lei da fé”. Paulo perguntou como o homem pode ficar livre de se gabar e como a jactância pode ser removida. Sua resposta é pelo princípio da fé. Se alguém estiver no princípio da fé, então ele não estará no princípio das obras. Se é pelo princípio das obras, então a jactância não pode ser excluída. Mas agradecemos ao Senhor. Hoje, temos o princípio da fé. Portanto, não podemos gabar-nos. Podemos somente louvar. Filipenses 2.12 diz: “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor”. Muitos nos têm dito que Paulo disse explicitamente em Filipenses que temos de desenvolver nossa própria salvação. Se temos de desenvolver nossa salvação, isso não significa que temos de fazer alguma coisa? É verdade que o Senhor realizou a obra, mas o homem também tem de fazer algo. É como dizer que Ele supre o material, nós suprimos o trabalho, e com os dois, desenvolvemos nossa salvação.

Uma pessoa diz isso porque não compreende a palavra da Bíblia. Se temos de complementar nossa salvação, então, que o Senhor Jesus fez na cruz? Que Ele cumpriu na cruz? Se algo foi cumprido, não pode ser cumprido novamente. Se você é filho de Deus, não pode tornar-se filho de Deus novamente. Na cruz, o Senhor Jesus disse claramente: “Está consumado!” (Jo 19.30). A cruz do Senhor Jesus cumpriu a obra da salvação. Ela cumpriu a obra de redenção. Uma vez que a obra da salvação e da redenção foram cumpridas, não há mais possibilidade de desenvolvermos essa salvação. Se ainda quisermos desenvolver nossa salvação, devemos primeiro destruir a obra do Senhor na cruz. Devemos declarar que a obra do Senhor Jesus não foi consumada, que a obra do Senhor não foi concluída. Eis por que temos de desenvolvê-la. Muitas vezes, não sabemos o que significa envergonhar os outros. Mas uma vez que tenha experimentado isso, você saberá o que é. Por exemplo, aqui está uma irmã. Alguém pediu a ela que lavasse alguns lenços. Após tê-los lavado, ela os pendura para secar. Mas outra pessoa vem e leva os lenços embora. Quando ela pergunta o motivo, é-lhe dito que foram tirados para ser lavados. Essa é uma vergonha pública para a irmã, pois isso significa que a outra pessoa não acredita que os lenços foram lavados. Significa que eles acham que a irmã mentiu. Da mesma forma, desenvolvermos nossa salvação não é uma glória para Cristo, mas uma vergonha para Cristo. A Bíblia diz claramente que Cristo completou toda a obra.

Por que, então, Filipenses 2.12 diz que devemos desenvolver nossa salvação? A palavra desenvolver na língua original carrega o significado de para fora. Devemos operar para fora nossa salvação em temor e tremor. A palavra de Paulo parou aqui? Se tivesse parado aqui, não saberíamos o que ele quis dizer. O que se segue é o versículo 13, que diz: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”. Uma vez que Deus operou em você, agora você o desenvolve. Se Deus não operou em, não temos como operar para fora. Desde que Deus tenha operado em, podemos operar para fora. Deus já nos salvou interiormente e nos deu vida. Agora não há outra maneira, exceto deixá-lo vir para fora. Deus não quer que trabalhemos. Ele quer que operemos para fora. Portanto, essa não é uma questão de salvação ou perdição, vida eterna ou morte eterna. Essa é uma questão de se alguém recebe ou não recompensa após sua salvação. Deus já operou em você, levando-o a querer e realizar pelo Seu bom prazer. Portanto, você tem de desenvolvê-la. Esta é a condição adequada de um cristão. Em outras palavras, esta é nossa obra após a salvação. Se um homem ainda não foi salvo, ele não pode desenvolver sua salvação. Se um homem não tem vida, ele não pode expressá-la. Somente após o homem ter sido salvo, ele pode desenvolver sua salvação. Portanto, vê-se que não existe tal coisa como ser salvo por meio de boas obras.

A DIFERENÇA ENTRE A VIDA ETERNA E O REINO


Há uma coisa que precisa estar clara para nós. Ter vida eterna é diferente de entrar no reino dos céus. Todos os que não conseguem ver a diferença entre vida eterna e o reino dos céus jamais terão clareza acerca do caminho da salvação e do caminho da preservação. O Senhor Jesus disse que de João Batista até agora o reino dos céus é tomado por violência (Mt 11.12). Os violentos o tomam. A lei e as profecias dos profetas terminaram com João (11.12, 13). Baseados nessa palavra, alguns têm dito que precisamos ser violentos, isto é, devemos esforçar-nos para ser salvos. Se não nos esforçarmos, não seremos salvos. Uma pessoa diz isso porque não consegue dizer qual a diferença entre o reino dos céus e a vida eterna. Existe uma diferença entre a vida eterna e o reino dos céus. A primeira diferença entre ambos é em relação ao tempo. A vida eterna é para a eternidade, mas o reino não é para a eternidade. Quando o novo céu e a nova terra vierem, o reino dos céus passará. O reino dos céus denota o governo de Deus. O período do governo de Deus é o período do reino dos céus. A soberania de Deus na terra e Seu governo sobre a terra serão manifestados por somente mil anos. Que são os céus? O livro de Daniel fala sobre o governo dos céus (7.27). Portanto, o reino dos céus é a esfera na qual os céus governam. Quando o Senhor Jesus vier reger a terra, aquele será o tempo em que os céus governarão. Hoje quem governa a terra é o diabo, Satanás. A política e a autoridade mundial hoje em dia são de Satanás. O Senhor Jesus não reinará senão no período do reino dos céus. Mas o período no qual a autoridade dos céus será efetuada é muito curto. Em 1 Corintios 15.24 é dito: “E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder”. O reino será entregue a Deus Pai. Portanto, há um limite temporal para o reino. Contudo, a vida eterna é para sempre. Todo o que lê 1 Coríntios 15 sabe que no início do novo céu e nova terra, isto é, na conclusão do milênio, o reino será entregue. Portanto, há uma diferença temporal entre a vida eterna e o reino dos céus. A segunda diferença reside no método pelo qual o homem entra no reino dos céus e na maneira pela qual ele obtém a vida eterna. O recebimento da vida eterna é o assunto de todo o Evangelho de João. A maneira de se obter a vida eterna é por meio do crer. Uma vez que cremos, obtemos. Nunca lemos de outra forma. Contudo, entrar no reino dos céus não é uma questão simples. Todo o Evangelho de Mateus menciona o reino dos céus trinta e duas vezes. Nenhuma vez é dito que o reino dos céus é recebido pela fé. Como um homem ganha o reino dos céus? Mateus 7.21 diz: “Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos céus”. Pode-se ver que a entrada no reino dos céus é mais uma questão de obra do que de fé. Mateus 5.3 também nos diz: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus”. Aqui não diz vida eterna, mas o reino dos céus. Para ter o reino dos céus, a pessoa precisa ser pobre no espírito. O Senhor também diz: “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus” (v.10). Não é necessário ser perseguido para receber a vida eterna, mas o reino é para os que têm sido perseguidos por causa da justiça. Mesmo se um homem tiver a vida eterna, se ele não tem sido perseguido por causa da justiça hoje e não é pobre no espírito, ele ainda pode não ter parte no reino.

Há uma terceira diferença. É quanto à atitude que os cristãos devem ter acerca da vida eterna e do reino dos céus. Com relação à vida eterna, Deus nunca nos disse para procurarmos obtê-la. Pelo contrário, toda vez que é mencionada, Ele nos mostra que já a temos. Entretanto, com relação ao reino, a palavra da Bíblia diz que devemos procurar obtê-lo e buscá-lo diligentemente. Hoje, em se tratando do reino, estamos no estágio de busca; ainda não o obtivemos. Ainda temos de empregar esforço para buscar e persistir em obter o reino.

A quarta diferença reside na maneira como Deus considera o reino e a vida eterna. Deus considera a vida eterna como um presente; ela é dada a nós (Rm 6.23). Não se vê uma pessoa indo ao Senhor para buscar vida eterna. Nunca houve tal coisa, pois a vida eterna é uma graça gratuita; ela é dada por meio do Senhor Jesus para todos aqueles que creem Nele. Não existe diferença entre alguém que busca e alguém que não está buscando. Contudo, o mesmo não ocorre com o reino. Lembre-se da mãe dos dois filhos de Zebedeu que veio ao Senhor Jesus querendo que o Senhor fizesse com que seus dois filhos se sentassem um de cada lado Dele no reino (Mt 20.21). Mas o Senhor Jesus disse: “O assentar-se à Minha direita e à Minha esquerda não Me compete concedê-lo; mas é para aqueles a quem está preparado por Meu Pai” (v. 23). A graça é obtida uma vez que O invocamos. Mas o reino depende se alguém pode ser batizado em Seu batismo e pode beber o cálice que Ele bebeu. Ambos os discípulos disseram que podiam. Todavia, o Senhor disse que apesar de terem prometido que o fariam, a questão não cabia a Ele decidir. O Pai é Aquele que o concede.

Além disso, o criminoso que foi crucificado juntamente com o Senhor disse a Ele: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu reino”. (Lc 23.42). O Senhor Jesus ouviu sua oração? Sem dúvida que sim. Mas Ele não concedeu seu pedido. O criminoso pediu que o Senhor se lembrasse dele quando o Senhor recebesse o reino. O Senhor Jesus não lhe respondeu que ele estaria com Ele no reino. Pelo contrário, Ele respondeu-lhe: “Hoje estarás Comigo no Paraíso”. (v. 43). O Senhor não lhe respondeu sobre o reino. Mas Ele lhe deu uma resposta com relação ao paraíso. Uma vez que O invoquemos, podemos ir ao Paraíso. Contudo, não é tão simples ir ao reino. Portanto, há uma grande diferença aqui. A atitude de Deus para com a vida eterna e o reino dos céus é diferente: um é o presente de Deus e o outro é a recompensa de Deus.

Com respeito à diferença entre o reino dos céus e a vida eterna, existem outras passagens na Bíblia que são muito interessantes. Agora, chegamos à quinta diferença. Apocalipse 20 mostra-nos que os mártires recebem o reino, embora não diga que sejam os únicos a receberem o reino (v. 4). A Bíblia, entretanto, nunca nos mostra que o homem deva ser martirizado a fim de receber a vida eterna. Se esse fosse o caso, o cristianismo tornar-se-ia uma religião de morte, posto que o homem deveria morrer. Contudo, não se vê coisa semelhante. Entretanto, o reino é diferente. O reino requer esforço. Até mesmo requer o martírio para obtê-lo. Por exemplo, a pobreza é uma condição para o reino dos céus. Para obter o reino dos céus, a pessoa precisa perder suas riquezas. A Bíblia nos mostra claramente que nenhuma pessoa na terra que seja rica segundo seus próprios meios pode entrar no reino dos céus. Não podemos dizer que nenhum rico possa ser salvo. Não podemos dizer que ninguém pode entrar na vida eterna se não quiser perder suas riquezas. Assim como é difícil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, da mesma forma é difícil um rico entrar no reino dos céus (Mt 19.24). Todavia, você já ouviu dizer que por ser impossível um camelo passar pelo fundo de uma agulha, da mesma forma é impossível que um rico seja salvo e tenha a vida eterna? Graças ao Senhor. O pobre pode ser salvo. Assim como o rico pode. O pobre pode herdar a vida eterna e o rico também pode. Contudo, entrar no reino dos céus é um problema para o rico. Se acumularmos riquezas na terra, não seremos capazes de entrar no reino dos céus. É óbvio que isso não significa que alguém tenha de desistir de toda a sua riqueza hoje. Estou dizendo que a pessoa tem de entregar toda a sua riqueza ao Senhor. Somos apenas os administradores. Não somos o dono da casa. A Bíblia nunca reconhece um cristão como o dono de seu dinheiro. Cada um é apenas um administrador do dinheiro que é para o Senhor. Todos nós somos apenas os administradores do Senhor. Existe esta condição para entrar no reino.

Há outra coisa muito peculiar. Não se vê as questões de casamento e família envolvendo a questão da vida eterna. Mas o evangelho de Mateus diz que alguns não se casam por causa do reino dos céus. Alguns até mesmo se fizeram eunucos por causa do reino dos céus (Mt 19.12). A fim de entrar no reino dos céus e ganhar um lugar no reino, eles escolheram permanecer virgens. Ninguém vê a vida eterna ser negada a uma pessoa casada. Se esse fosse o caso, Pedro teria sido o primeiro a ter problema, pois ele tinha sogra (Mt 8.14). Vemos que a questão da vida eterna não está de forma nenhuma relacionada à família e ao casamento, mas a questão do reino está muitíssimo relacionada à família e ao casamento. Essa é a razão de a Bíblia dizer que aqueles que têm esposa devem ser como se não a tivessem. Os que se utilizam do mundo devem ser como se dele não utilizassem, e os que compram como se nada possuíssem (1 Co 7.29-31). Isso tem muito a ver com nossa posição no reino dos céus. Finalmente, temos de mencionar outra diferença. No reino, há diversos níveis de graduação. Mesmo que os homens sejam capazes de entrar no reino, há diferença na posição que eles ocupam ali. Alguns receberão dez cidades, outros receberão cinco (Lc19.17-19). Alguns receberão meramente uma recompensa, mas outros receberão um galardão. Alguns ganharão uma rica entrada no reino (2 Pe 1.11). Alguns entrarão no reino sem uma rica entrada. Portanto, existe uma diferença de graduação no reino. Mas nunca haverá uma questão de graduação com relação à vida eterna. A vida eterna é a mesma para todos. Ninguém receberá dez anos a mais que o outro. Não existe diferença na vida eterna, todavia no reino há diferença. Se alguém ponderar um pouco, perceberá que na Bíblia, o reino e a vida eterna são duas coisas absolutamente diferentes. A condição para a salvação é a fé no Senhor. Além da fé, não há outra condição, pois todos os requisitos já foram cumpridos pelo Filho de Deus. A morte de Seu Filho satisfez todas as exigências de Deus. Mas entrar no reino dos céus é outra questão: requer obras. Hoje um homem é salvo pela justiça de Deus. Mas não podemos entrar no reino dos céus a menos que nossa justiça exceda a dos escribas e fariseus (Mt 5.20). A justiça no viver e na conduta de uma pessoa deve ultrapassar a dos escribas e fariseus para que ela possa entrar no reino dos céus. Portanto, pode-se ver que a questão da vida eterna é completamente baseada no Senhor Jesus. Contudo, a questão do reino está baseada nas obras do homem. Não estou dizendo que reino é melhor que vida eterna, mas Deus tem um lugar tanto para um como para outro.

O CAMINHO DA SALVAÇÃO — A Relação entre Fé e Obra em Tiago 2


A Palavra de Deus é muito clara com respeito à condição para a salvação. Deus nos mostra que a salvação é por fé e não por obras. Lemos as Escrituras o suficiente e vimos razões suficientemente claras por que nossas obras não podem ser levadas em consideração. Por crermos na obra de Deus por meio do Seu Filho, nossas próprias obras não devem existir. Contudo, alguns que não compreendem as palavras da Bíblia têm vindo a mim, perguntando: “Não é verdade que o livro de Tiago diz-nos claramente que um homem não é justificado pela fé, mas pelas obras? É possível que Tiago e Paulo se contradigam? É possível que o homem seja justificado tanto pela fé como pelas obras?” Essas pessoas acham que Tiago e Paulo não concordam um com o outro. Eles pensam que os livros de Romanos, Gálatas e Tiago também não concordam entre si. Tenho de usar a expressão de Paulo: “Certo que não!” Vamos ao livro de Tiago e vejamos o que ele mesmo tinha a dizer. Quando lemos o livro de Tiago, devemos tomar cuidado com uma coisa. Podemos ler somente o que está dito; não podemos adicionar a ele nossos próprios conceitos. O que deve ser levado em conta é o que Tiago disse. O que for acrescentado não deve ser considerado. Não leia seus próprios pensamentos no livro de Tiago. Você deve ver o que Tiago disse e não o que ele não disse.

O TEMA DE TIAGO É MISERICÓRDIA — JUSTIFICAÇÃO É SECUNDÁRIO


Vamos ler Tiago 2.14-26. Contudo, antes de lermos essa passagem, quero fazer uma pergunta: Qual é o contexto desses versículos? Paulo escreveu o livro de Romanos com um  tema em mente. Ele também escreveu Gálatas com um tema em mente. Romanos diz que o homem é justificado pela fé; Gálatas diz que o homem não é justificado pelas obras.

Romanos fala do lado positivo; Gálatas fala do lado negativo. Romanos declara positivamente como o homem é justificado; Gálatas argumenta, do lado negativo, como ser justificado e como não ser justificado. Portanto, os dois livros, Romanos e Gálatas, complementam-se. O tema desses livros é estritamente a justificação. Eles tratam especificamente do problema da justificação. Um trata do problema do lado positivo; o outro, do lado negativo.

Muitas pessoas acham que Tiago 2 é um capítulo difícil. Qual é o tema de Tiago 2? O tema de Romanos é a justificação e o de Gálatas também é justificação. Mas qual é o tema de Tiago 2? O tema desse capítulo compreende pelo menos a misericórdia e a ajuda aos outros. Que dizem os versículos anteriores a essa porção? Começando do versículo 6, Tiago diz: “Entretanto, vós outros menosprezastes o pobre. Não são os ricos que vos oprimem, e não são eles que vos arrastam para tribunais? Não são eles os que blasfemam o bom nome que sobre vós foi invocado? Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem; se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo argüidos pela lei como transgressores. Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás, também ordenou: Não matarás. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade. Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo” (vs. 6-13). O tema desses versículos é a demonstração de misericórdia. Tiago diz-nos não para favorecer o rico, mas, pelo contrário, para cuidar dos humildes e mostrar misericórdia para com o pobre. Isso é o que os versículos de 1 a 13 dizem. Além disso, o versículo 1 é uma continuação do capítulo 1. O último versículo do capítulo 1 diz: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (v. 27). Esse é o tema de Tiago. Se um homem disser que é um cristão piedoso, sua piedade deve ser manifestada no seu cuidado pelos órfãos e viúvas e na sua oferta a eles. Ele não deve convidar alguém que use vestes ricas para sentar-se em um bom lugar e pedir que os órfãos, as viúvas e o pobre sentem-se debaixo do estrado de seus pés. Ele deve cuidar, mostrar misericórdia e suprir os desprezados. O assunto de Tiago é a religião pura e sem mácula. A religião pura e sem mácula é manifestada para com o pobre, o humilde e o desprezado. Após 2.14, ele continua a falar sobre o suprir: “Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?” (vs. 15-16). No final do capítulo um, o tema de Tiago é revelado, qual
seja, cuidar dos órfãos e viúvas. Ao final da primeira seção do capítulo dois, ele diz que devemos mostrar misericórdia para com os outros, que devemos suprir o pobre e não desprezá-lo. Na segunda seção do capítulo dois, Tiago nos diz o que alguém deveria fazer quando vir um irmão ou irmã sem vestimenta e carente do sustento diário. Todas essas palavras têm a ver com dar aos outros, mostrar misericórdia para com outros, não desprezar o pobre e ajudar os outros. Os versículos de 14 a 26 falam superficialmente sobre justificação. A questão da justificação é mencionada somente de passagem. Por ser a misericórdia, o dar e o cuidar dos órfãos e viúvas o tema, a justificação é mencionada somente de passagem, como meio de chegar à meta no desenvolvimento de seu tema. Portanto, vemos que Tiago não está ensinando a questão da justificação no seu livro. O tema de nossas reuniões nessas duas semanas passadas tem sido a salvação de Deus. Mas suponha que nesse período eu me levante na manhã de domingo e dê uma mensagem, não sobre salvação, mas sobre vencer ou sobre o reino ou sobre como reinar com o Senhor Jesus no milênio. Aquele seria o tema da minha mensagem. Enquanto falasse, poderia mencionar de passagem oito ou nove sentenças sobre salvação. Se você desejasse compreender a doutrina da salvação, não consideraria as outras mensagens que dei no restante das duas semanas? Você ignoraria tudo aquilo que foi falado em duas semanas e tomaria apenas as oito ou nove sentenças que ouviu naquela única mensagem? Romanos e Gálatas tratam especificamente de justificação, enquanto Tiago somente menciona umas poucas palavras sobre ela. O seu tema não é a justificação, tampouco é seu propósito ensinar justificação. Seu objetivo é exortar os outros a dar; a questão da justificação é mencionada apenas de passagem. Uma pessoa não pode destruir Romanos e Gálatas com as poucas palavras de Tiago sobre justificação. Tiago, então, está em conflito com Romanos e Gálatas? Em breve você verá que não. Mas desde o início, quero que compreenda precisamente o tema de Tiago. Ele não falou sobre justificação. Ele falou sobre misericórdia, sobre cuidar e sobre o que alguém deve fazer pelos órfãos e viúvas.

A FÉ SEM OBRAS É DE NENHUM PROVEITO


O versículo 14 diz: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras?” Repare que Tiago não diz que esse homem tem fé em Deus. Não acrescente a esse versículo o que Tiago não diz. Tiago não diz se esse homem é cristão ou não. Ele só diz que esse homem diz ter fé. Não levando em conta se ele tem obras ou não, esse homem não deveria dizer que tem fé. Se você de fato tiver fé diante de Deus, não há necessidade de falar sobre isso. Paulo diz que o que crê é justificado. Ele nunca diz que o que diz ter fé é justificado. Certamente ninguém é justificado apenas por dizê-lo. Não sei como é o homem mencionado aqui. Não sei se ele tem fé ou não. Tiago não diz que ele verdadeiramente tem fé. O que vemos, entretanto, é um homem orgulhoso. Ele pode ou não ter algo dentro dele. Contudo, quer tenha algo ou não, ele gosta de se mostrar diante dos outros. Ele gosta de imprimir fé em seu cartão de visita e mostrar às pessoas que tem fé. Portanto, Tiago diz: “Meus irmãos, (...) se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” Se você vir um homem que não se preocupa o mínimo com seu comportamento, que é livre para fazer qualquer coisa, mas diz que crê em Jesus, você diria a mesma coisa que Tiago. Você também perguntaria que proveito há se alguém diz ter fé, mas não tem as obras. Talvez ele estivesse brigando ou discutindo com alguém há um minuto, e agora diz que tem fé. Se essa pessoa não tivesse dito nada acerca de ter fé, Tiago não teria dito nada a ela. O motivo de Tiago ter dito algo, é que alguns não têm as obras e, no entanto, se gabam. Você já encontrou pessoas assim? Estes tais gostam de se gabar. Gostam de ser exaltados e glorificados. Não somente Tiago teve de subjugar esse tipo de pessoa; também nós devemos subjugá-las.

Portanto, Tiago não está falando sobre ter fé ou não ter fé. Tampouco está falando de obras para os que têm fé. Tiago está falando especificamente sobre obras para os que dizem ter fé. Ele não trata das obras de cristãos, mas das obras dos que se dizem cristãos. Ele está tratando das obras dos membros nominais da igreja e dos cristãos nominais que dizem ter fé. Tiago 2 diz “se alguém”. Não diz “se algum cristão”. O versículo 14 prossegue dizendo: “Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” Que é “semelhante fé”? Se a fé não pode salvá-lo, que pode, então? Tiago refere-se à “semelhante fé”, não simplesmente à “fé”. Se a fé não pode salvar-nos, não precisamos mais pregar. Contudo, Tiago refere-se à “semelhante fé”, isto é, a fé que alguém tem em seus lábios. Não distorça o que Tiago está dizendo. Ele não está falando sobre a fé salvando esse homem. Ele está falando sobre aquele tipo de fé salvando-o, isto é, o tipo de fé que alguém tem somente nos lábios. Não sei se você já conheceu pessoas assim. Eu conheci. Dizem que são cristãos, que creem nisso e naquilo, e que sua fé é isso e aquilo. Pode essa fé salvá-los?

A FÉ SEM OBRAS É MORTA



Nos versículos 15-16, Tiago dá uma ilustração. “Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser”. Este é o homem que diz ter fé. Ele diz aos irmãos e irmãs em necessidade: “Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos”. Se você perguntar a essa pessoa por que ela diz aos outros para ir em paz e por que deseja que sejam aquecidos e alimentados, ela lhe diria que é porque tem fé. Ela lhe diria que acredita que eles serão vestidos com roupas quentes e alimentados abundantemente ao irem para casa. Ela diria que acredita que eles podem ir para casa em paz. Tiago está falando do tipo de fé que crê que estômagos vazios são enchidos automaticamente, e corpos nus são instantaneamente vestidos. “Sem, contudo, lhes dardes o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?” O propósito da ilustração de Tiago não é o de discorrer sobre justificação. Pelo contrário, é de exortar os irmãos e irmãs a adotar medidas práticas. Nosso amor para com os irmãos e irmãs não deve ser somente de palavras, mas igualmente ser evidenciado na conduta. Se vir alguém necessitando de roupa e comida, você deve dar-lhe roupa e comida. Você deve cuidar dele. Essa é a razão de Tiago dizer isso. Tiago é contra alguém dizer: “Vá em paz, pois eu já cri por você”. Tiago diz aqui que agora não é o momento para você crer; agora é o momento para você abrir sua carteira. Nesse momento, para você, a fé não é a questão; a questão é o soltar seu dinheiro. Se você agarra-se firmemente à sua carteira e diz aos outros para irem em paz, dizendo que tem fé, qual o benefício desse tipo de fé? Se você deparasse com um irmão ou irmã pobre e não desse tudo o que tem para ajudar e cuidar dele, mas somente dissesse que crê por ele e que ele pode ir em paz — fosse esse o tipo de fé que você exercitasse ao crer no Senhor Jesus, será que tal fé o salvaria? Se esse é o tipo de fé que você exercita para com os irmãos e irmãs, e se esse é o mesmo tipo de fé que tem quanto à sua justificação, então eu duvido que esse tipo de fé irá justificá-lo. Tiago mostra que se esse é o tipo de fé que você possui para com os irmãos e irmãs, então talvez esse também seja o tipo de fé que você tenha para com o Senhor Jesus. Se a fé que tem para com os irmãos e irmãs é a mesma que tem com relação à salvação e justificação, duvido que semelhante fé possa salvá-lo. Se não houver base para o seu crer em roupas quentes e alimento abundante, então não haverá base para a sua fé na salvação e justificação. Contudo, se vir um irmão em pobreza e der-lhe dinheiro, roupa ou comida, e então crer, haverá base para sua fé.

Quando Deus o viu nu, faminto e pobre, foi assim que Ele disse: “Fique aquecido e saciado. Que você nunca vá para o inferno. Que você vá para o céu”? Se a fé de Deus fosse como a sua, ninguém seria salvo na terra. Mas, que fez Deus? Quando Ele nos viu pobres, famintos, nus, e mortos em pecado, Ele veio cumprir a obra da redenção a fim de que pudéssemos ser salvos. Graças ao Senhor. Primeiramente, Ele demonstrou Sua obra diante de nós; a seguir nós a recebemos. A sua fé para com os irmãos e irmãs é uma fé vã? Se Deus fosse vão com você, tudo sem dúvida seria vaidade. E, se você é fútil para com Deus, sua fé, sem dúvida, também é vazia. Sabemos que somos justificados e salvos e que temos a vida eterna. Por que é assim? É porque Deus não está assentado nas nuvens dizendo: “Que todos em todo o mundo sejam salvos e que ninguém vá para o lago de fogo”. Pelo contrário, Deus desceu pessoalmente do céu para levar a cabo a Sua justiça e tratar com o pecado na cruz. Por Deus ter realizado uma obra concreta, hoje podemos ter fé. Essa é a razão de nossa fé, hoje, ser digna de confiança. O versículo 17 diz: “Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está morta”. Tiago não diz que um homem não é salvo pelo crer. Ele não quer dizer que um homem não é justificado ou não tem a vida eterna pelo crer. Ele quer dizer que ao ouvir tais palavras desse tipo de pessoa, você sabe que a fé dela é morta. Se você pedisse a Paulo para vir aqui hoje e comentar sobre isso, até ele mesmo diria que esse tipo de fé é morta. Se alguém simplesmente diz que tem fé, mas não tem uma expressão exterior disso, essa fé deve ser morta. Pois não importa quão grande seja a fé de alguém, os outros ainda precisam de veste e comida. Eles não podem cobrir sua nudez com a luz do céu. Tampouco podem comer o ar para satisfazer sua fome. Portanto, uma fé sem obras é vazia e morta.

DEMONSTRAR FÉ POR MEIO DAS OBRAS


O versículo 18 diz: “Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé”. Se uma pessoa fútil e arrogante ficar se gabando, alguém por fim se levantará e dirá: “Você diz que tem fé. Mas onde está ela? Fique quieto. Você tem fé, mas eu tenho obras”. Note que esta pessoa não diz que tem somente obras; ela não diz que não tem fé. Isso não é o que um cristão diria. Ele diz: “Você tem fé e eu tenho obras. Hoje dei de comer a alguém. Hoje dei roupas a alguém. Por favor, mostre-me sua fé sem obras. Que benefício há se você apenas fala sobre essas coisas?” Você pode ver o significado dessas palavras? Ao lê-las, você deve dar atenção ao tom. Quando lê Tiago, a coisa mais importante é considerar o tom. Se prestar atenção ao tom aqui, terá de admitir que essa palavra é dita para uma pessoa fútil e arrogante. Tiago, aqui, está falando da prática; ele não está tratando da justificação pela fé. Devemos considerar a palavra mostrar aqui. Essa pessoa diz: “Mostra-me” e “te mostrarei”. Portanto, Tiago 2 não fala de um homem ter fé ou não perante Deus. Tampouco trata de nossa fé perante Deus; pelo contrário, trata da nossa fé diante dos homens. Se alguém se vangloria diante do homem de que tem fé, você deve dizer a tal pessoa: “Mostre-me sua fé sem obras”. Tiago 2 trata do problema da fé diante dos homens. Ninguém pode ver se você tem fé ou não. Outros vêem somente se você tem obras, isto é, se alimenta os outros e dá roupas para que se vistam. Você percebe que isso também requer fé? Suponha que haja um irmão ou irmã aqui, nesta noite, que tenha carência de roupas ou comida. Se disser a ele ou a ela que, uma vez que creiamos, seremos vestidos e alimentados, isso não é suficiente. Tiago diz que temos de alimentá-lo e vesti-lo e ao mesmo tempo devemos ter fé. Você percebe que a fé é necessária para se dar sustento aos outros? Essa fé provém de dois lados. Se não tiver muito dinheiro, talvez umas poucas moedas em meu bolso, e vir alguém sem comida e roupa, tenho de exercitar a fé. Não preciso ter fé pelos outros; para com eles preciso de obras somente. Todavia, por mim mesmo, preciso de fé. Se não tiver fé, provavelmente não serei capaz de dar essas poucas moedas até que tenha reconsiderado e contado algumas vezes mais. Vou querer saber se serei capaz de conseguir de volta o que vou dar. Mas se puder dar espontaneamente as poucas moedas, isso deve significar que tenho fé. Portanto, ao ver um homem pobre e dar-lhe comida e veste, você deve ter fé antes que possa ter as obras. Sem as obras, sua fé não pode ser manifestada. Além disso, mesmo que você seja rico e que não precise de muita fé para dar um pouco, como sabe que após ter dado o dinheiro, isso não prejudicará aquele que recebeu, levando-o a procurá-lo novamente a fim de que você carregue o fardo dele? Se fizer o bem aos outros indiscriminadamente, isso não faria com que buscassem ajuda no homem continuamente? Muitas vezes não damos nada aos pedintes por temer que agindo assim façamos deles eternos pedintes. Assim, mesmo que seja uma pessoa rica, você deve ter fé de que Deus pode impedir que a pessoa desenvolva o mau hábito de dependência e confiança nos outros. Você deve crer que Deus não quer fazê-lo carregar o fardo dessa pessoa continuamente. Isso é uma obra, mas é uma obra de fé. É uma obra que provém da fé. Aquele que faz grandes promessas e profere palavras vazias parece ter uma grande fé. Contudo, na verdade, ele não tem fé alguma. Se você tiver fé, deve tirar seu casaco e deixar que outro o vista. Deve convidar outros a comerem sua comida. Se apenas falar de fé, você não a tem. Portanto, Tiago concluiu que este tipo de falar é pecado. O ponto aqui não é que fé é errado, mas que falar palavras vazias é errado. No capítulo anterior falamos sobre fé. No penúltimo também falamos sobre fé. Contudo, ainda não demos atenção a esse tipo de fé. Visto que Tiago era contra ela, nós também nos opomos a ela. É inútil falar palavras vazias.

O versículo 19 diz: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios creem, e tremem”. Essa é uma palavra dura. Você crê que Deus é único. Faz bem em crer assim. Os demônios creem nisso também, contudo eles tremem. Por favor, considerem a palavra e. A questão hoje não é se você crê ou não. Se disser que crê, ninguém pode dizer o contrário. O problema é que até mesmo os demônios creem. Todavia, eles não têm paz. Os apóstolos não escreveram aos demônios, dizendo: “Paz seja convosco. Que Deus possa abençoá-los e aos anjos caídos”. Apesar de os demônios crerem, eles tremem. Esse tipo de fé não faz bem a eles. Sua fé faz com que tremam e percam a paz. Se você diz que crê, o seu crer é do mesmo tipo que os demônios têm? As palavras de Tiago são muito fortes e afiadas. Sem dúvida, você crê em Deus. Contudo, os demônios também o creem. Você diz que crê, mas ao mesmo tempo treme, sente medo e fica nervoso. Portanto, você está na mesma posição dos demônios. Ao continuar a leitura, compreendemos a que Tiago se opõe. Tiago não é absolutamente contra a fé. Ele é contra certo tipo de fé. Tiago não está dizendo que a fé não justifica. Ele está simplesmente dizendo que este tipo de fé não justifica. No versículo 20, Tiago chama essas pessoas pelo nome. Ele as chama pelo que são. Ele não as chama de irmãos e irmãs. Ele não as chama de seus amados, como Paulo fazia; tampouco as chama de pais ou filhinhos, como fazia João. Pelo contrário, ele as chama de insensatas. “Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante?” Note as palavras queres, pois. Por Tiago ter dito isso prova quão insuportável era a atitude delas. Quando outros falavam a Palavra de Deus a elas e as admoestavam, ainda assim não criam. Portanto, Tiago pergunta se elas queriam ficar certas de que essa espécie de fé é morta. Não que fossem incapazes de saber ou de ter clareza. Não é que ninguém as ensinasse. É simplesmente uma questão de não estarem interessadas em saber. Suponha que eu tente falar a um irmão, e ele olha para outro lado. Ao tentar novamente, ele olha para outra direção. Tentando pela terceira vez, ele começa a falar com outro irmão. Então eu diria: “Irmão, você quer ouvir-me ou não?” Isso é o que Tiago está falando aqui. Vocês estão dispostos a entender que esse tipo de fé sem obras é morta? Ao lermos a Bíblia, devemos pedir a Deus que nos mostre as circunstâncias em que aquela porção foi escrita. Tiago chama esse tipo de pessoa de insensatos. Eles colocam tudo às claras para que outros vejam e comentem, e assim exibem a si mesmos. Eles querem tomar parte em tudo. Querem falar alto onde quer que estejam. Tiago diz que esse tipo de pessoa deve ser subjugado. ‘Ó homem insensato, você está disposto a saber que esse tipo de fé é inútil?’ Visto que não ouviram após ter-lhes falado tanto, ele tem de ironizar e gritar um pouco com eles.

O EXEMPLO DA JUSTIFICAÇÃO DE ABRAÃO


Nos versículos de 21 a 25, há dois exemplos. Ambos são muito significativos. Eles nos mostram o que a justificação pela fé realmente é. O versículo 21 diz: “Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?” Tiago 2 menciona o exemplo de Abraão. Gálatas 3 e Romanos 4 também mencionam o exemplo de Abraão. Paulo diz que o homem é justificado pela fé, não por obras, e usa o exemplo de Abraão como prova. Tanto Romanos 4 como Gálatas 3 provam que o homem é justificado pela fé e não por obras. Tiago também menciona o exemplo de Abraão, mas ele o usa para provar que o homem é justificado não somente pela fé, mas também pelas obras. Se ele tivessse mencionado exemplos de outras pessoas, poderíamos não compreender essa questão. Contudo, ao mencionar o exemplo de Abraão, podemos seguramente entender o que a justificação pela fé realmente é. Ao usar o exemplo de Abraão, Paulo refere-se a Gênesis 15, enquanto Tiago refere-se a Gênesis 22. Em Gênesis 15 Deus prometeu a Abraão que a sua descendência seria como as estrelas do céu. Em Gálatas 3, Paulo enfatiza intensamente a promessa de Deus a Abraão. No livro de Gálatas, Paulo repetidamente fala da promessa. A palavra promessa é usada com muita frequência no livro de Gálatas. Paulo exalta a promessa em Gálatas. Você sabe o que é uma promessa? Em todo o mundo, há somente uma única maneira para o homem receber uma promessa, que é pela fé. Não existe outra maneira para o homem recebê-la. Há somente essa única condição. Se Deus disser que devemos fazer algo e nós o fizermos, isso é obra. Mas Deus não disse a Abraão que lhe daria algo caso fizesse isso ou aquilo. Pelo contrário, Deus disse que lhe daria descendentes. Como Abraão recebeu a promessa? Não havia outra maneira senão por meio da fé. Suponha que um irmão diga a seu filho que se ele memorizar uma lista de palavras esta noite, receberá cinco doces amanhã. Se o filho quiser receber os cinco doces, ele tem de memorizar as palavras. Isso é obra. Contudo, se o pai simplesmente promete ao filho os cinco doces, que seu filho tem de fazer? Dirá ele: “Tenho de fazer isso ou aquilo antes de conseguir o doce?” O menino não tem de fazer nada. Tudo o que tem a fazer é acreditar que seu pai fará isso para ele. Em Gênesis 15 Deus não deu a Abraão uma única coisa para fazer. É como se Deus dissesse: “Eu o farei para você. Dar-lhe-ei descendentes”. Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça (Gn 15.6). Voltando ao exemplo do filho do irmão, o menino poderia dizer: “Meu pai realmente me dará cinco doces? Não parece que uma coisa boa assim possa acontecer”. Se pensar assim, ele não tem fé. Todos os que querem entender o livro de Gálatas devem perceber que uma promessa não implica condição nem obra. A pessoa não tem de fazer coisa alguma. O Pai fez tudo. Graças ao Senhor que tudo o que Deus promete Ele cumprirá. Já que Deus é fidedigno, tudo está bem. Mesmo que alguém tente fazer uma obra, ela não terá utilidade.

Em Gênesis 15 Deus prometeu a Abraão que lhe daria muitos descendentes. Abraão tinha tudo. Todavia ele não tinha filho. Ele possuía gado, ovelhas e tendas. Contudo, ele não tinha filho. Entretanto, Abraão creu em Deus. Ele creu que Deus lhe daria um filho. Ele simplesmente creu em Deus. Ele não fez nenhuma obra. No capítulo vinte e dois, após ter lhe dado um filho, Deus disse a Abraão: “Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei” (v. 2). Então Abraão levantou-se cedo de manhã e levou seu filho ao monte Moriá. Ele colocou a lenha para o holocausto nas costas de seu filho Isaque e este a carregou, da mesma forma como o Senhor Jesus carregou a cruz. Quando chegaram ao monte, Abraão erigiu um altar, pôs seu filho sobre este, e estava prestes a matá-lo. Este é o acontecimento que Tiago relembra ao referir-se à justificação de Abraão. Em Gênesis 15 a justificação de Deus a Abraão estava relacionada com seu filho. E, em Gênesis 22, a justificação de Deus para ele também estava relacionada com seu filho. Em Gênesis 15 Abraão não tinha filho. Contudo ele creu em seu coração que se Deus disse que lhe daria um filho, ele certamente teria um filho. No capítulo vinte e dois ele de fato teve um filho, mas Deus quis que ele oferecesse esse filho. Se Abraão não tivesse tido fé, ele teria dito: “Deus, Tu me disseste que me darias muitos descendentes. Ora, se eu matar meu filho, não perderei a todos? Não é que não queira fazer isso; apenas quero ver Tua promessa cumprida. Não que eu tema fazê-lo; simplesmente quero preservar Tua fidelidade”. Você acha que Abraão oferecer Isaque foi uma obra ou um ato de fé? Que boa obra é essa, matar o filho de alguém? Que há para se louvar em matar o próprio filho? O fato de Abraão levantar o cutelo para sacrificar seu filho mostra que ele ainda cria na promessa do capítulo quinze. Deus havia prometido dar-lhe muitos descendentes, e para esse fim Ele lhe havia dado um filho. Agora, se Deus queria que ele matasse o filho, devia ser porque Deus o ressuscitaria dentre os mortos. Isso é o que Abraão pensou quando estava prestes a matar seu filho. Sua prontidão em matar o filho mostra que ele cria que Isaque seria ressuscitado dentre os mortos. A fé em Gênesis 15 é a fé Naquele que chama à existência as coisas que não existem, enquanto a fé em Gênesis 22 é a fé Naquele que ressuscita as pessoas dentre os mortos (Rm 4.17). Em ambos os casos, o que Abraão fez não foi algo de obra, mas de fé. O ato de Abraão provou que ele tinha fé. Isso não significa que Abraão podia ser justificado matando seu filho. Significa que ao sacar o cutelo, ele provou que tinha fé. A prova da fé de Abraão estava na sua disposição de oferecer seu filho. Portanto, Tiago não disse que não se pode ser justificado pela fé. Paulo diz firmemente que justificação não é por obras, mas Tiago não poderia dizer firmemente que a justificação não é pela fé. Se ambos se contradissessem, esperaríamos que um deles dissesse: “Justificação é proveniente da fé, não de obras”, e o outro: “Justificação é proveniente de obras, não de fé”. Contudo, Tiago não diz isso. Não devemos dizer o que Tiago não disse. Tiago não diz que não devemos ter fé; ele diz que alguém deveria demonstrar sua fé com sua obra. Paulo é alguém que fala do princípio, assim ele pode ousadamente declarar que a justificação é proveniente da fé e não de obras. Tiago é um homem de prática. Assim, ele diz que a pessoa deve ter não somente a fé, mas deve ter as obras igualmente. Somente quando existem obras o homem demonstra que sua fé é genuína. Leiamos Tiago 2.21 novamente: “Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?” A oferta de seu filho foi uma obra, e foi essa obra que demonstrou que ele tinha fé. O versículo 22 diz: “Vês como a fé operava juntamente com as suas obras”. Paulo ousa dizer que alguém pode ter apenas a fé, sem as obras. Contudo, Tiago não ousa dizer que alguém deve ter somente as obras, sem a fé. Ele indica que a fé em Gênesis 15 e a obra em Gênesis 22 andam de mãos dadas. Então ele acrescenta outra frase. Ele não diz que a justificação vem por meio da fé acrescida da obra. Pelo contrário, ele diz: “Foi pelas obras que a fé se consumou”. Em Gênesis 15 vemos que por Abraão ter fé, ele foi justificado perante Deus. Em Gênesis 22 vemos que por Abraão ter as obras, ele foi justificado perante os homens. A justificação de Abraão foi consumada pela sua obra em Gênesis 22. A oferta de Isaque em Gênesis 22 manifestou a fé em Gênesis 15, e a fé em Gênesis 15 foi consumada pela obra em Gênesis 22.

No versículo 23 nosso irmão Tiago também faz citação de Gênesis 15. Em Romanos 4 Paulo cita Gênesis 15 para provar que a pessoa precisa de fé somente, não de obras. Agora nosso irmão Tiago cita a mesma palavra que Paulo: “E se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça”. Em Tiago a palavra isso refere-se ao ato no monte em Gênesis 22. Abraão ter oferecido Isaque em Gênesis 22 foi uma oferta de fé. Foi uma obra que manifestou sua fé. Foi um cumprimento das palavras em Gênesis 15, que diz que Abraão creu em Deus e foi-lhe isso imputado para justiça. Em Gênesis 15 Deus justificou Abraão devido à sua fé. A obra de Abraão em Gênesis 22 cumpriu a promessa de Deus em Gênesis 15. Portanto, não podemos dizer que a fé somente não salva e que há necessidade de obras também. A condição para a salvação é a fé, não as obras. Todavia se existir fé, então espontaneamente haverá uma mudança em obras. Suponha que haja um homem cuja ocupação seja a de fazer dinheiro de imitação para ser queimado a ídolos. Um dia ele ouve o evangelho e crê. Contudo, após crer, ele continua a fazer dinheiro de imitação. Isso está errado? Ele compreende no seu íntimo que o dinheiro de imitação é para adoração a ídolos e que um cristão não pode fazer tal trabalho. Se você perguntar se ele crê ou não no Senhor Jesus, ele diria que sim. Mas se ele desistir do seu negócio com dinheiro de imitação, como irá sustentar-se? Ele confessa que é cristão, mas não podemos dizer com certeza que seja salvo. Não sabemos se ele foi salvo perante Deus, se ele tem fé ou não. Se virmos uma pessoa que crê que o Senhor Jesus é o Filho de Deus e que Ele foi crucificado por ele, e que crê no evangelho de Deus plenamente, no entanto não desiste de tal negócio por temor de perder sua subsistência, não há como dizer se ele é realmente salvo. Talvez ele tenha fé diante de Deus. Embora a semente tenha sido semeada, o broto ainda não saiu. Somente podemos saber com certeza após as folhas saírem. Não digo que ele não seja salvo. Digo apenas que não estamos certos se ele é salvo ou não. Aqui está a diferença. Não existe questionamento sobre o ser salvo pela fé. Todavia, se nenhuma obra resultar da fé, os outros não saberão acerca desta fé. Isso não é absolutamente uma questão de bom ou mau comportamento. Perceba isso com muito cuidado. Tiago 2 não fala absolutamente sobre bom ou mau comportamento. A ênfase em Tiago 2 é sobre as obras que provam a fé de alguém. Tiago 2 não nos diz para focalizar nossa atenção em boas ou más obras. O que ele enfatiza são as obras que resultam da fé. Muitas pessoas são muito boas em suas obras. Contudo, essas obras não manifestam sua fé. São obras sem fé; não era com elas que Tiago se preocupava. O versículo 24 é muito bom: “Uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente”. Você vê como Tiago é cuidadoso? Ele diz que uma pessoa é justificada por obras e não apenas pela fé. Paulo foi capaz de dizer que um homem é justificado pela fé e jamais pelas obras. Mas Tiago nunca disse que o homem é justificado somente pelas obras e jamais pela fé. Se ele dissesse isso, concluiríamos que os dois apóstolos têm divergências na doutrina. Tiago diz que o homem é justificado por obras. Contudo, em seguida acrescenta outra palavra: "e não por fé somente". Quando alguém tem as obras, isso prova que ele tem fé. Isso não significa que alguém deva ter somente as boas obras, mas a pessoa deve ter obras de fé.

O EXEMPLO DA JUSTIFICAÇÃO DE RAABE


Tiago temia que não tivéssemos clareza sobre o exemplo de Abraão; assim, no versículo 25 vemos outra ilustração. Ele menciona o exemplo de uma prostituta. Raabe não era uma mulher honrada. Nada havia de valoroso em suas obras. Portanto, vemos que justificação não é uma questão de boas obras, mas de obras de fé. Já repeti isso algumas vezes. O que está em questão são as obras de fé, não as obras de moralidade. “De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?” Que tipo de boas obras é esse? Os israelitas estavam atravessando o rio Jordão para atacar Jericó. Se Raabe tivesse sido ao menos um pouco patriota, teria entregue os dois espias. Todavia, quando o rei de Jericó enviou homens para procurá-los, Raabe os escondeu no eirado. Mais tarde ela os deixou fugir. Tiago nos diz que a obra dessa mulher a justificou. Que obra ela praticou? Sua obra foi mentir. Os homens obviamente estavam ali, mas ela disse que não estavam. Mentir é uma boa obra? Todo cristão sabe que mentir não é bom. Contudo, Raabe foi justificada por sua obra de mentir. Se alguns dizem que isso é justificação por obras, é algo que dizem por si mesmos; não é o que Tiago está dizendo. Eles estão simplesmente dizendo em nome de Tiago o que querem dizer. Mas que o próprio Tiago diz? Ele diz que quando Raabe deixou fugir os dois homens que espionavam Jericó, isso foi imputado a ela para justiça. Que Tiago quer dizer com isso? Quando os israelitas saíram do Egito e foram para o deserto, eles não puderam estabelecer-se em lugar algum, mas tiveram de vagar por quarenta anos. Que há de bom em tal nação? Pelo menos havia uma muralha ao redor da Jericó de Raabe. Tudo o que os israelitas tinham era areia debaixo dos pés. Ao menos havia casas em Jericó. Tudo o que os israelitas tinham eram tendas; até mesmo o Deus deles tinha de habitar em uma tenda. Que havia de tão especial com essa nação? Entretanto, quando os dois espias vieram e contaram-lhe como Deus havia cuidado deles, realizado milagres por eles, e havia prometido que Jericó e até mesmo toda a terra de Canaã seriam entregues a eles, as suas palavras fizeram com que Raabe cresse. Ela pôs seu próprio futuro, sua vida, e mesmo toda sua família sob a custódia deles. Ela até mesmo estava disposta a fazer algo contra seu próprio país. Deus não diz que isso foi uma boa obra; Ele diz que essa obra foi a expressão da sua fé. Se os muros de Jericó tivessem sido feitos de palha ou penas de galinha poderíamos achar que os muros poderiam de fato cair. Mas as muralhas de Jericó eram tão altas como o céu. Seus portões eram fortificados com barras de bronze. Como poderia ser tomada facilmente? Como Raabe pôde ter-se confiado aos dois espias? Isso foi uma obra proveniente da fé, e Deus diz que o que justifica uma pessoa é esse tipo de obra. Não é uma questão de bem ou mal. Não se trata de ter ou não boas obras. A carne é absolutamente inútil diante de Deus. Ela não tem lugar. Toda obra em Adão, seja boa ou má, é rejeitada por Deus. Se um homem disser aos outros que somente as boas obras salvam, essa pessoa não sabe o que é a carne. Portanto, não é uma questão de obras. Boas obras não podem justificar. Tampouco as más obras podem. Portanto, Tiago 2 fala sobre obras da fé. Nada além disso. Raabe estava ali arriscando sua vida. Se os homens enviados pelo rei de Jericó tivessem encontrado os espias em sua casa, ela imediatamente teria perdido a vida. Mas a sua esperança era ser salva por intermédio dos espias de Israel. Ela entregou a própria vida e futuro nas mãos deles. Portanto, a questão não é boas obras ou más obras, mas o ter fé ou não ter fé. É a fé que justifica. Apesar de Tiago dizer que Raabe foi justificada por obras, suas obras foram nada mais que uma manifestação da sua fé. Finalmente, o versículo 26 diz: “Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta”. Nosso espírito habita dentro do nosso corpo. Portanto, podemos dizer que nosso espírito é o espírito do nosso corpo. Dizemos que os espíritos malignos são espíritos que deixaram seu corpo, pois eles não têm um corpo. Há um tipo de obra que requer fé e que deve estar unido à fé. Há um tipo de obra que provém da fé e que resulta da fé. Se a fé for sem obras, ela é morta, da mesma forma que um corpo sem espírito é morto. Portanto, somos salvos por meio da fé, somos justificados por meio da fé e também recebemos vida por meio da fé. Embora haja muitas diferentes maneiras de expressar a fé, a fonte ainda é a fé. Alguns expressam-na abandonando sua profissão. Outros expressam-na por não seguir os passos de seus pais. Ainda outros expressam-na por não acompanhar o marido em certas coisas ou por abandonar sua posição. Existem todos os tipos de expressões da fé. A questão não é de boas ou más obras, mas de fé. O que Tiago está dizendo é que quando a oportunidade surge, nossa fé deve ser expressa. Portanto, não podemos dizer que a salvação é proveniente de obras. Hebreus 6.1 menciona os princípios elementares da doutrina de Cristo. O fundamento da doutrina de Cristo é o arrependimento de obras mortas. Que é o arrependimento de obras mortas? É o arrependimento do que fizemos quando estávamos mortos. Na Bíblia, existem duas coisas das quais devemos nos arrepender. Uma é o pecado; a outra são as obras mortas. Tudo o que é moralmente errado é pecado e transgressão. Se um homem crê no Senhor, ele deve realmente se arrepender e lidar com esses pecados. Além do mais, devemos também odiar e nos arrepender do que fizemos como pessoas mortas. Que são essas obras mortas? São todas as boas obras que fomos capazes de fazer por nós mesmos antes de sermos salvos, antes de nos tornarmos filhos de Deus, antes de recebermos a nova vida e antes de nos tornarmos uma nova raça. As pessoas vêem seus pecados e transgressões pelo que elas são. Mas não vêem as coisas que consideram morais e nobres como algo de que se devam arrepender. Deus diz que são obras mortas. Elas foram realizadas quando estávamos mortos. Devemos arrepender-nos de todas essas obras, não dependendo delas para a salvação.

Ao sermos salvos, existem dois grandes arrependimentos. Um é o arrependimento por todas as coisas que não deveriam ter sido feitas. Todavia, quando a pessoa entende o evangelho e vê a obra completa da cruz do Filho de Deus, ela se arrepende por outras coisas também, que são todas as boas obras que realizou anteriormente. Antes dávamos o melhor de nós para fazer o bem, como se Deus fosse salvar-nos somente se ficasse bastante impressionado pelas nossas boas obras. Hoje, entretanto, tornamo-nos cristãos. Devemos arrepender-nos não somente dos nossos pecados, como também das nossas obras mortas. Por conseguinte, as obras mortas não podem ajudar-nos a ser salvos. Você pode dizer que alguém deveria crer no Senhor Jesus, mas também deveria ter boas obras. Mas Deus vê você como um trapo rasgado. A justiça que Deus nos concede excede em muito à justiça da lei. Portanto, se queremos achegar-nos a Deus, não somente não devemos trazer nossos pecados conosco, como também não devemos trazer as nossas obras. Se desejamos falar sobre obras, então, antes que possam ser aceitáveis, nossas obras devem ser tão perfeitas como são as de Cristo perante Deus. Meu amigo, você deve ver que a salvação não vem de você mesmo. Deve perceber de coração que tudo é proveniente do Senhor Jesus. A fé não é uma virtude. Fé é simplesmente receber. Um dos nossos hinos diz: “Trabalhar não me salvará” e “Prantear não me salvará”. A última estrofe diz: “A fé em Cristo me salvará”. Quando vi pela primeira vez essa linha, imediatamente risquei e substituí por “Somente Jesus me salvará”. A fé não é uma virtude. Fé é apenas permitir que o Senhor nos salve. É como uma pessoa que cai no mar. Quando alguém chega para salvá-la atirando-lhe uma rede, ela não tem de fazer nada. Desde que não pule para fora da rede, estará bem. Tudo foi feito pelo Senhor Jesus. Aleluia! Digo novamente, nunca entenda mal Tiago 2. Obra em Tiago 2 não é uma questão de ser bom ou mau, mas de ter fé ou não.

O Caminho da Salvação — Fé Versus Arrependimento


Nos dois capítulos anteriores deste livro vimos que, da parte do homem, o caminho da salvação é pela fé, e não pela lei ou obras. Vimos que a salvação é somente pela fé. Não é pela fé com a lei nem pela fé com obras (Ef 2.8, 9). Porém, além da lei e obras, o homem ainda tenta usar outras maneiras para obter a salvação de Deus. Embora não possamos tratar detalhadamente dessas maneiras, esperamos poder enumerá-las todas nos próximos dois capítulos. Além da lei e das obras, arrependimento também é sempre considerado pelo homem como uma condição muito importante. O homem pensa que se não se arrepender, não será salvo. Os que conhecem a Bíblia não ousariam dizer que arrependimento é a única condição para a salvação, mas eles diriam que um homem é salvo pela fé com arrependimento ou pelo arrependimento e por crer. Admito que o tema arrependimento não é fácil de ser entendido no Novo Testamento. Mas se alguém considerasse a palavra de Deus, entenderia o verdadeiro significado do arrependimento e perceberia rapidamente se o arrependimento é uma condição para a salvação.

OS TRÊS LIVROS SOBRE SALVAÇÃO NA BÍBLIA NÃO MENCIONAM O ARREPENDIMENTO COMO CONDIÇÃO PARA A SALVAÇÃO


Antes de falarmos sobre o significado do arrependimento na Bíblia e sua relação com fé e salvação, devemos primeiramente esclarecer algumas coisas sobre o arrependimento. Depois disso, consideraremos o que a Bíblia diz sobre arrependimento. Em toda a Bíblia existe somente um livro que nos diz como recebemos a vida eterna. Esse livro é o Evangelho de João. Do começo ao fim do Evangelho de João, não podemos achar uma simples menção da palavra arrependimento. A palavra arrependimento nunca aparece nesse livro. Esse livro nos diz como podemos ter vida eterna (3.15, 16b, 36), mas nada é mencionado a respeito de arrependimento. Repetidamente menciona-se que o homem recebe a vida eterna pela fé. Quando um homem crê, ele tem a vida eterna. Ele nunca menciona arrependimento. Não menciona arrependimento diretamente nem mesmo indireta ou metaforicamente. Este é um fato que temos de lembrar. Segundo, existem dois livros que nos contam como o homem é justificado perante Deus. Eles são Romanos e Gálatas. O livro de Romanos menciona arrependimento, mas nunca faz do arrependimento uma condição para a salvação. Nenhum desses livros alguma vez faz do arrependimento uma condição para salvação e promessa. Portanto, temos de lembrar que dos três livros da Bíblia que tratam especificamente de salvação, vida eterna e justificação, o arrependimento não é mencionado nem uma vez sequer como condição para salvação. Em todos os três livros, a fé é mencionada o tempo todo como a única condição. Isso nos mostra claramente que o homem é salvo pela fé e não por obras.

O HOMEM ENFATIZA O ARREPENDIMENTO POR MEIO DE UMA MENTE SATURADA DA LEI E DAS OBRAS


Por que o homem dá tanta atenção ao arrependimento? Isso acontece porque permanece na mente do homem o veneno da lei e das obras. A salvação é gratuita, mas porque a mente do homem está cheia de leis e obras, ele nunca considera que Deus lhe daria salvação gratuitamente. Ele nunca pensa que Deus iria gratuitamente carregar o seu fardo. Ele sempre acha que tem de fazer algo bom para poder ser salvo. Seja o cumprimento da lei, fazer boas obras ou a necessidade de arrependimento, o homem sempre acha que tem de fazer alguma coisa. Parece que ele nunca quer ser um beneficiário incondicional. Nunca quer permanecer numa posição de receber. Embora perceba que é impossível, ele acha que tem pelo menos de fazer alguma coisa. É precisamente esse “fazer” que distorceu o significado bíblico de arrependimento. Isso faz do arrependimento o nosso arrependimento.

Por favor, lembre-se de que o arrependimento mencionado na Bíblia e o arrependimento do qual estamos falando são duas coisas diferentes. Que é arrependimento de acordo com a mente do homem? De acordo com o conceito humano, arrependimento é aprimoramento. De acordo com sua mente, arrependimento é alguma coisa relacionada com o passado, mas é algo para lidar com o presente e o futuro. Anteriormente, eu era pecador, caído, degenerado e fraco. Agora quero ser salvo. Por isso tenho de me aperfeiçoar de hoje em diante e fazer com que eu pareça melhor. A palavra chinesa para arrependimento é hwei-kai. Hwei significa lastimar e kai significa mudar. Alguns inventaram uma nova doutrina estranha ao Novo Testamento, baseada nessa palavra chinesa, dizendo que algumas pessoas têm somente hwei, mas não kai. Por esse motivo, eles dizem que não é suficiente somente lastimar-se; deve haver também uma mudança. Por que o homem presta tanta atenção à mudança? É porque seu pensamento está cheio de obras. É por isso que ele enfatiza muito as obras. Ele diz que desde que tudo o que havia feito antes estava errado, ele não deve errar mais. Ele percebe  que era mau e que era um pecador, mas agora, não deve mais ser mau nem um pecador. Anteriormente ele pecou e diante de Deus estava vestido de trapos, havia desperdiçado todos os bens de seu Pai. Como poderá ser aceito quando retornar ao lar? Certamente ele tem de negociar e ganhar algum dinheiro. Certamente ele tem de estar vestido com a melhor roupa e com um par de sapatos antes de retornar ao lar. O conceito do homem é de que ele necessita de determinado grau de melhoria antes que possa voltar para casa. Se suas roupas não estiverem adequadas e ele parecer o mesmo de antes, talvez o Pai não o aceite. Se ele melhorasse um pouco, embora não tenha certeza se o Pai o aceitará ou não, pelo menos existe uma oportunidade melhor e maior. O homem nunca considera que é possível ir a Deus e receber salvação em sua presente condição. Ele sempre quer aperfeiçoar-se. Ele admite que não pode ser perfeito em sua conduta. Mas acha que ainda deve ter alguma coisa e, quanto ao resto, confiar no Senhor. Para ele é como jogar, ele tem de fazer uma aposta antes que possa jogar. A aposta que o homem faz é o arrependimento sobre o qual ele próprio fala.

O ARREPENDIMENTO NA MENTE DO HOMEM É DIFERENTE DO ARREPENDIMENTO NA BÍBLIA


O arrependimento que o homem proclama simplesmente fala de uma coisa: Ele não está disposto a rebaixar-se ao degrau mais baixo. Ele acha que deve estar pelo menos um degrau acima, antes que Deus lhe dê a salvação. Isso é arrependimento de acordo com a mente do homem. Não é o arrependimento na Bíblia. Não estou dizendo que não há doutrina de arrependimento na Bíblia. Existe a doutrina de arrependimento na Bíblia. A Bíblia até pede que o homem se arrependa. Mas o arrependimento do qual a Bíblia fala é diferente do arrependimento de que falamos hoje. Qual é, então, o arrependimento do qual a Bíblia fala?

Vamos agora atentar para isso. Primeiro, o significado da palavra arrependimento em grego é “mudança de mente”. A mente é o órgão pensante dentro do homem. O arrependimento como ensinado na Bíblia não é mudança de conduta, mas mudança na mente. A palavra arrependimento significa somente mudança nos pensamentos da pessoa e não tem nada a ver com obras. Não tem nenhuma conotação de mudança na conduta. Esse é o alcance do significado da palavra. Em segundo lugar, no Novo Testamento arrependimento é sempre usado em referência ao nosso passado. Isso diz respeito ao que fizemos no passado, o que pensamos e dissemos e ao que éramos no passado. Anteriormente, tínhamos certos tipos de conceitos e certos pontos de vista que considerávamos bons e gloriosos. Agora, pelo iluminar de Deus, nossa mente deu uma grande virada. Não é uma virada visando a comportamento futuro, mas uma mudança das coisas do passado. Mudamos nossa visão e avaliação a respeito de muitas coisas. Originalmente, pensávamos que era uma glória e alegria enganar os outros e que quem foi enganado era um bobo porque não sabia que estava sendo iludido. Alguém podia deleitar-se, gloriar-se nisso. Mas o que ele uma vez considerou glorioso, agora considera vergonhoso. Arrependimento não é para o certo de amanhã, mas para o errado de ontem. Arrependimento não é dizer o que alguém deve fazer no futuro: é uma reavaliação na mente, uma visão modificada e um julgamento diferente a respeito das coisas do passado. Em Lucas 13.3 o Senhor Jesus falou aos judeus que se eles não se arrependessem do que fizeram, iriam morrer como os galileus. Portanto, arrependimento é ter uma visão diferente da anterior. É ver as coisas na luz de Deus, a luz que vem do alto. Vamos continuar. Em Atos vemos a palavra arrependimento usada várias vezes. Atos 8.22 diz: “Arrepende-te, pois, da tua maldade, e roga ao Senhor; talvez que te seja perdoado o intento do coração”. Aqui Simão estava tentando comprar o dom do Espírito Santo com dinheiro. Pedro replicou com uma palavra muito forte. Ele falou a Simão que este tinha de se arrepender da sua maldade. Isso não significa que Simão deveria agir melhor no futuro. Isso significa que Simão deveria arrepender-se do que ele tinha feito, do que tinha falado e dos seus pensamentos. Arrependimento é lidar com os problemas do passado. Isso significa que havia grandes erros naquilo que fizemos e que devemos agora ter uma visão diferente. Anteriormente, o pensamento era o de gastar um pouco de dinheiro para comprar o Espírito Santo. Agora, isso é visto como pecado. Que deve ser feito? Existe agora a necessidade de uma nova visão e uma avaliação renovada. Isso é arrependimento. Por meio disso recebemos perdão.

A palavra arrependimento aparece frequentemente em Apocalipse 2 e 3 de um modo particular. Lá, o Senhor estava lidando com as obras do passado. Ele estava chamando os homens a ter um ponto de vista diferente no que se refere às suas obras passadas. Apocalipse 2.5 diz: “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas”. O Senhor disse isso porque eles tinham deixado o primeiro amor. Não praticavam as primeiras obras. Eles tinham de se lembrar de onde tinham caído. Isso é arrependimento. Depois disso, tinham de voltar às primeiras obras que é alguma coisa do futuro. Uma pessoa precisa se arrepender do que fez no passado. As obras no futuro são um assunto completamente diferente.

O versículo 16 diz: “Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca”. O Senhor estava falando à igreja em Pérgamo. Alguns seguiram o ensinamento dos nicolaítas. Eles consideraram bom esse ensinamento. Por isso o Senhor disse que tinham de se arrepender. Eles tinham de considerar que as obras dos nicolaítas eram más; eles deviam mudar sua visão e conceitos. O versículo 21 diz: “Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição”. Ela cometeu fornicação, mas não considerou isso algo impróprio. O versículo 22 diz: “Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita”. Isso novamente nos mostra que eles tinham de se arrepender das obras passadas. Se não se arrependessem Deus iria lançá-los em grande tribulação. Apocalipse 3.3 diz: “Lembra-te, pois, de como tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te”. Aqui, o Senhor está novamente chamando-os ao arrependimento, isto é, para que eles mudassem a visão sobre a conduta deles. O versículo 19 diz: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te”.

Depois de ver como a palavra é usada em Lucas, Atos e Apocalipse, podemos entender agora o que arrependimento realmente significa na Bíblia. Arrependimento é uma mudança de mente, mas é sempre usado em referência às obras do passado e jamais usado em referência à conduta no futuro. Arrependimento é a mudança na mente de uma pessoa, que lida com as falhas, os pecados, os erros, a falta de zelo e a impiedade do passado. Isso significa que agora vemos todas essas coisas como erradas e impróprias. Esse é o significado do arrependimento. Podemos dizer que fé é olhar para Cristo e arrependimento é olhar para nós mesmos na luz de Cristo. Enquanto ainda somos pecadores, o Espírito Santo brilha em nós e nos expõe diante de nós mesmos. Isso é arrependimento. Isso é o mais necessário e indispensável. Sem o iluminar do Espírito Santo e a percepção de nós mesmos, não podemos levantar os olhos ao Senhor Jesus. A obra do arrependimento é similar às obras da lei que abordamos nos capítulos anteriores. O propósito de Deus é que o homem receba Sua graça. Mas o homem pecou. Ele não tem luz. Ele não sabe que tipo de pessoa é. Não sabe que está condenado perante Deus, que é absolutamente inútil e, portanto, incapaz de receber a graça de Deus. Vamos supor que você esteja muito doente e que seus dois pulmões estejam completamente infectados. Você pode dizer que tem uma boa aparência e está corado. Você não acha que um bom remédio ou um médico sejam necessários. Agora suponha que faça uma radiografia. Depois de ver o resultado, admitirá que é um homem doente e que necessita de descanso e tratamento. Portanto, arrependimento é o objetivo de Deus ao dar a lei. Pelo arrependimento, pelo iluminar de Deus, o brilhar do Espírito Santo e a Palavra de Deus, vemos que nossas obras passadas estavam todas erradas e que nosso modo de vida era impróprio. Deus diagnosticou nossa doença e devemos admitir que estamos errados. Isso é arrependimento. Havia um irmão que sempre carregava as pesadas bagagens dos outros que viajavam com ele. Ele se oferecia porque achava que os outros não eram saudáveis e que ele tinha uma boa saúde. Uma vez, depois de haver feito um serviço pesado, sugeri que ele fosse ao hospital e fizesse uma radiografia. No começo ele se recusou. Argumentamos que não lhe causaria nenhum mal, mesmo se não estivesse doente. Ele, então, foi. Descobriu que tinha tuberculose. Daí em diante, seu comportamento mudou completamente. Não tinha coragem para fazer mais nada. Quando pedíamos a ele para fazer alguma coisa, ele fazia de tudo para recusar. Sua mudança foi tão drástica como se ele fosse duas pessoas diferentes no mesmo dia. Em um momento pensava que ele era tão saudável e que tinha pulmões tão bons. No outro momento sua avaliação de si mesmo mudou completamente. Ele tinha uma visão e uma avaliação diferentes de si mesmo. Isso é chamado de arrependimento. Arrependimento é necessário. Esse é o objetivo que Deus quer alcançar mediante a lei.

Se não compreendermos o arrependimento e pensarmos que é uma mudança do nosso comportamento futuro, somos absolutamente ignorantes a respeito da salvação de Deus. A salvação de Deus nunca tenta melhorar a natureza adâmica. Se o arrependimento se referisse ao futuro, isso significaria que o velho Adão e o homem carnal ainda teriam possibilidade de aprimoramento e progresso. Mas o Senhor Jesus disse: “O que é nascido da carne é carne” (Jo 3.6). A carne nunca irá avançar para se tornar o espírito. Só o que é nascido do Espírito é espírito. Se o arrependimento refere-se ao futuro, então o fundamento da salvação de Deus é derrubado. Não somente não somos capazes de melhorar-nos, como necessitamos ser eliminados. A salvação de Deus não deixa lugar para o homem carnal. Ela elimina o homem completamente. Quando o Senhor Jesus foi crucificado, todos os homens foram crucificados com Ele. Nosso velho homem foi crucificado na cruz. Graças a Deus que o Senhor Jesus é um alfaiate que faz roupas. Ele não é um remendeiro, que remenda roupas. Não que nossa roupa esteja rasgada e o Senhor Jesus vem remendá-la por nós. O Senhor Jesus somente faz roupas novas; Ele não remenda roupas velhas. Talvez sejamos pobres e estejamos dispostos a usar roupas velhas. Mas na casa de Deus ninguém usa roupa remendada. Não há tal coisa na salvação de Deus. Deus disse que o primeiro Adão está terminado e que todo o comportamento no primeiro Adão também está terminado. Agora, estamos no último Adão. Hoje, tudo foi realizado pelo Senhor Jesus. Ele quer ser a nova vida em nós. Portanto, arrependimento na Bíblia não se refere a um comportamento futuro; ao contrário, refere-se a uma mudança no conceito relacionado com o passado. Arrependimento bíblico é uma mudança de visão em relação ao passado. Arrependimento bíblico é antes uma visão a respeito de obras passadas em vez de estar relacionado com um comportamento futuro.


É NECESSÁRIO ARREPENDIMENTO AO RECEBER A SALVAÇÃO DE DEUS


Quando um fazendeiro planta uma semente, ele pode semear num campo sem ter feito nada na terra? O trigo cresce muito facilmente. Até para fazer o trigo crescer, primeiro devemos arar o campo e cultivar o solo. Do mesmo modo, deve haver primeiro a obra do cultivo na salvação de Deus antes de as plantas crescerem de maneira profunda. Por isso, os que nunca sentiram que pecaram jamais irão ser salvos nem os que nunca sentiram que estão errados. Talvez depois que alguém ouvisse o evangelho completo como estamos pregando agora, seria esclarecido a respeito da obra de Deus em Cristo e iria alegremente receber o evangelho. Não ousaria dizer que ele não se arrependeu. Talvez ele tenha se arrependido. Mas o arrependimento não é profundo. Não há muito da operação do Espírito Santo nele. Ele não vê que é fraco, imundo e um inútil pecador diante de Deus. Tal pessoa tem de passar pela experiência de Romanos 7 em seus anos posteriores. Qual é a experiência de Romanos 7? É uma lição fictícia para quem não se arrependeu. Se um homem passou pelo arrependimento quando veio a Deus, não há necessidade da experiência de Romanos 7. Se um homem não se arrependeu e não sabe que está arruinado diante de Deus, mas recebe o evangelho completo prontamente quando o escuta, em sua experiência futura, Deus ainda precisa mostrar a ele sua ruína. É necessário conhecer a si mesmo, do início ou em algum ponto ao longo do caminho.  Deus nunca permite que um cristão não se conheça. Portanto podemos ver o verdadeiro significado de arrependimento segundo a Bíblia. É um novo conceito do passado do homem. O arrependimento vê alguém do mesmo modo que a fé vê o Senhor Jesus. Quando o homem crê, ele vê o que o Senhor Jesus fez por ele. Quando se arrepende vê as obras que ele mesmo fez no passado. Ver o que alguém fez no passado é arrependimento, ver o que o Senhor Jesus fez na cruz é fé. Se quisermos ver o que o Senhor Jesus fez por nós, precisamos primeiro ver o que nós próprios fizemos. A menos que o ladrão que foi crucificado ao lado de Jesus tivesse dito claramente com a própria boca que o que ele estava sofrendo era o que ele merecia, ele não poderia ter dito para Aquele crucificado ao seu lado: “Lembra-te de mim quando vieres no teu reino” (Lc 23.42). Se estivesse amaldiçoando os magistrados como agentes dos imperialistas e se não tivesse visto que o que ele sofreu foi o que merecia, ele não teria visto quem o Senhor era. Quando não nos vemos, não vemos o Senhor. Quando vemos a nós mesmos, vemos o Senhor. Isso é arrependimento. Portanto, podemos ver que o arrependimento não implica nenhum elemento de nós mesmos, de nosso trabalho, de nosso comportamento. Muitas pessoas dizem que eu não acredito em arrependimento. Isso não é verdade. Acredito em arrependimento de todo o meu coração, mas acredito no arrependimento bíblico. Não acredito no arrependimento mental que alguns tiveram. Se for arrependimento segundo a Bíblia, acreditarei alegremente porque é real. Ele nos dá uma nova visão e uma nova percepção. Somente desse modo podemos receber o Senhor pela fé na presença de Deus.

O ARREPENDIMENTO ESTÁ NA FÉ E NA SALVAÇÃO


Como, então, o homem é salvo? O Evangelho de João nos diz claramente que é pela fé. Os livros de Romanos e Gálatas também dizem claramente que é pela fé. Gálatas nos afirma que é somente pela fé. No Novo Testamento existem esses três livros que tratam da questão da salvação. Todos os três livros dizem que a salvação é somente pela fé e não pela lei. O arrependimento não é levado em consideração. Então, qual posição o arrependimento ocupa? Se lermos a Bíblia, veremos que arrependimento nunca está isolado da fé. Arrependimento nunca está separado da fé. Isso não significa que uma pessoa é salva pela fé e pelo arrependimento. O arrependimento está incluído na fé e já está incluído na salvação. Quando um homem crê no Senhor Jesus, o elemento de arrependimento já está incluído nesse crer. Se alguém diz que é salvo, então a sua salvação já inclui arrependimento. O arrependimento nunca está separado da fé. Está sempre incluído na salvação.

Agora consideremos se o arrependimento é uma condição. No Novo Testamento, na época do livro de Atos, o Espírito Santo veio e o evangelho completo foi pregado. O livro de Atos parece mostrar-nos que arrependimento é uma condição para a salvação. Muitos não interpretaram adequadamente o assunto, porque não viram a posição do arrependimento. Sem dúvida, o Antigo Testamento também fala sobre arrependimento. Jonas pregou aos homens de Nínive que se eles não se arrependessem, Deus iria destruí-los (Jonas 1.1-2). Eles se arrependeram, vestiram-se de panos de saco, cobriram-se de cinzas e jejuaram. Isso foi por causa das suas obras passadas. O fato de vestir-se de panos de saco e cobrir-se com cinzas não foi por causa dos atos futuros. Se fosse, que pano de saco e cinzas teriam a ver com isso? Arrependimento é lamentar e condenar o comportamento passado de uma pessoa. Uma pessoa veste-se com pano de saco e cobre-se com cinzas porque percebe que está errada perante Deus. Anteriormente ela pensava que estava viva. Agora fica sabendo que estava morta. Portanto lamenta por suas obras erradas do passado. Isso é arrependimento. Foi isso que Jonas pregou. Antes que o evangelho do Senhor Jesus viesse, não víamos a salvação pela fé. O que tínhamos então era somente o arrependimento de obras passadas.

Mais tarde João Batista veio. Ele não pregou fé. Somente pregou arrependimento, isto é, um arrependimento dos atos e das transgressões do passado. Em Mateus 3.8, ele disse uma coisa muito boa: “Produzi, pois, frutos dignos do arrependimento”. Ele também disse que: “Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo” (Lc 3.11). Temos de perceber que isso não é arrependimento. Antes, é o fruto do arrependimento. Arrependimento refere-se ao passado e o fruto do arrependimento refere-se ao futuro. No tempo de João, o evangelho completo não tinha ainda sido pregado, e a luz da verdade não tinha sido ainda totalmente revelada. Para conduzir os homens a Deus, ele tinha de levá-los a uma visão diferente do passado. Logo após, o próprio Senhor Jesus veio. O Evangelho de João é diferente dos outros três evangelhos. Os primeiros três evangelhos falam sobre o que Ele fez na eternidade. Todo leitor da Bíblia sabe que o Evangelho de João não fala de coisas relacionadas com o tempo; ao contrário, fala de coisas da eternidade. Começa com “No princípio” e termina com o recebimento da vida eterna (1.1; 20.22). Os primeiros três livros falam sobre o Filho de Davi, o Filho de Abraão (Mt 1.1). Isso nos mostra o Cristo no tempo. João nos fala sobre o Cristo na eternidade (3.13). Os primeiros três livros são transitórios. Portanto, eles falam sobre arrependimento. Mas por que o Senhor também fala sobre arrependimento? (Mt 4.17).

Porque o reino dos céus se aproximara. Pelo fato de o reino dos céus ter se aproximado temos de arrepender-nos. Mas no Evangelho de João, depois da pregação do evangelho completo, não há mais nenhuma menção de arrependimento. Em Atos, alguns versículos também dizem que salvação tem de ser pela fé. Atos 16.31 diz: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa”. Porém em alguns pontos em Atos, o arrependimento é mencionado sozinho; não há menção da fé. É por isso que alguns cristãos compreendem mal o arrependimento como condição para a salvação.


O VERDADEIRO SIGNIFICADO DO ARREPENDIMENTO


Vamos estudar algumas passagens para ver o que é o arrependimento. Atos 2.37-38 diz: “Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo”. Quando alguns leem esses versículos, eles podem dizer que a fé não é sequer mencionada. Tudo o que é mencionado é arrepender-se, ser batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos pecados e receber o Espírito prometido. Aqui, a fé não é absolutamente mencionada; em vez disso, somente é mencionado o arrependimento. Mas não foi o que foi falado anteriormente. O apóstolo não começa com arrependimento, batismo, perdão dos pecados e recebimento do Espírito Santo. Esse não era o dia do Pentecoste. Não foi a primeira palavra que Pedro pregou. Essa foi a última palavra que Pedro falou depois da sua mensagem. Antes disso, Pedro disse: “Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós, com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis, (...) vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus ressuscitou” (vs. 22-24). Pedro estava dizendo: “Esse é o nosso testemunho. Deus O exaltou até aos céus e O fez Senhor e Cristo. Esse é o testemunho do Espírito Santo. Deus nos enviou, os apóstolos, para testificar a ressurreição de Jesus de Nazaré. O Espírito Santo foi derramado concedendo a cento e vinte pessoas o dom de línguas. Esse é o testemunho do Espírito Santo, testificando que o Senhor Jesus foi glorificado”. Há dois testemunhos aqui. Os apóstolos testificam da ressurreição, enquanto o Espírito Santo testifica da glorificação. O apóstolo Pedro pregou-lhes a palavra de Deus e mostrou o que fizeram ao Senhor Jesus e o que Deus fez a Ele. O versículo 36 diz: “Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”. A palavra de Deus foi pregada e os apóstolos mostraram o que Deus fez e o que eles fizeram. Lembre-se de que um pouco mais de um mês antes do Pentecoste, o mesmo grupo de pessoas estava gritando: “Fora! Fora! Crucifica-O!” (Jo 19.15) Eles foram instrumentos no Seu assassinato e crucificação. Anteriormente, consideraram o Senhor Jesus como digno de morte e gritaram para crucificá-Lo e soltar Barrabás (Lc 23.18). Que aconteceu? Atos 2.37 diz: “Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos irmãos?” Isso é acreditar na palavra de Deus. A palavra de Deus foi pregada e eles a receberam. Eles perceberam que o que Deus fez ao Senhor Jesus foi muito diferente do que os homens fizeram a Ele. Além do mais, o Espírito Santo também estava lá testificando. Eles não podiam recusar esse testemunho. Então, falaram palavras suplicantes, perguntando o que deveriam fazer agora que tinham crucificado o Senhor Jesus. Se eles não tivessem crucificado o Senhor, ainda haveria oportunidade de restituição. Mas uma vez que o Senhor Jesus foi crucificado, que deveriam fazer? Eles aceitaram o testemunho do apóstolo. Como resultado, o apóstolo falou que eles deveriam arrepender-se; deveriam arrepender-se por causa dos conceitos e da visão que tinham a respeito do Senhor Jesus. Além disso, tinham de ser batizados no nome de Jesus Cristo. Ser batizado é recebê-Lo, acreditar Nele e confessá-Lo. O significado de estar no nome Dele é acreditar no Senhor. Quando eles fazem isso, os pecados deles serão perdoados e eles receberão o dom do Espírito Santo.

Podemos agora perceber que esse é um grupo de pessoas que receberam a palavra de Deus. Desde que acreditaram nisso, o apóstolo estava apto a dizer-lhes que se arrependessem. Isso não atingia o comportamento deles, mas a visão. O apóstolo não estava dizendo que se eles não mudassem a conduta anterior, não poderiam ser salvos. Essa não é, absolutamente, uma maneira de lidar com a conduta de uma pessoa. O que deveriam fazer era julgar a si próprios e ser batizados no nome do Senhor Jesus como expressão de sua fé Nele. Desse modo, os pecados deles seriam perdoados e o Espírito Santo seria recebido por eles. Portanto a condição para a nossa salvação é somente a fé. A salvação nos é dada gratuitamente. Não fazemos nada para vir a Deus. É o próprio Deus que veio salvar-nos por causa do Seu Filho, Jesus Cristo. Atos 3.19-20 diz: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença do Senhor venham tempos de refrigério”.

Quando lemos esse versículo, podemos pensar que arrependimento é uma condição para a salvação. É verdade que o versículo 19 parece indicar que o arrependimento é uma condição de salvação. Mas precisamos prestar atenção a toda a passagem, do versículo 1 em diante. Não podemos ler o versículo 19 e explicar de acordo com o nosso pensamento. Do versículo 1 em diante, temos a história de um homem coxo sendo curado. Quando esse homem coxo olhou para Pedro, este lhe disse: “Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” Quando as pessoas viram um homem que nasceu coxo começar a andar, elas se maravilharam. Pedro, então, levantou-se para dar uma mensagem. Primeiro ele explicou que isso não era obra sua, e que não era por meio da sua piedade que tal pessoa fora levada a andar. Nos versículos 15-20, ele disse: “Destarte, matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas. Pela fé em o nome de Jesus, esse mesmo nome fortaleceu a este homem (...) arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença do Senhor Jesus venham tempos de refrigério”. Que estava Pedro dizendo? Ele falava sobre fé. Ele estava falando que cremos que Jesus ressuscitou dos mortos, que cremos em Seu nome e que esse nome fortaleceu o homem. Aqui estava o homem coxo que todos conheciam. Foi a fé procedente do Senhor que tornou esse homem são. Se queremos crer, assim como eles creram, temos de nos arrepender. Se queremos fé, temos de atentar ao arrependimento. Se queremos recebê-Lo, devemos ter uma nova visão e avaliação a respeito Dele. Temos de ter essa qualificação. Mencionei antes que arrependimento jamais pode ser separado da fé, ele está incluído na fé. Antes de o homem se arrepender, ele não pode crer. Depois que o homem tem fé, ele tem de se arrepender. Se um homem tem certo grau de fé na palavra de Deus, ele tem de se arrepender. Não se pode cortar essa questão com uma tesoura, deixando de um lado a fé e do outro o arrependimento. Isso assemelha-se à experiência de salvação de muitas pessoas. Se perguntar a cem pessoas quando foram salvas, talvez cinquenta por cento possa dar-lhe a data e ano exatos da salvação deles. A outra metade não saberia quando foi salva. Tais pessoas não sabem como receberam a salvação de Deus. Para elas pouco importa como foram salvas. O importante é que foram salvas. Tudo bem se não sabem a data do nascimento delas. Contanto que tenham nascido, acham que está suficientemente bom. Portanto podemos ver que, no começo, a palavra de Deus era pregada primeiro (2.16). Se eles não cressem, por que deveriam ser afligidos no coração?

Podemos perguntar: Se eles realmente creram, por que Pedro lhes disse que deveriam arrepender-se e ser batizados antes que seus pecados fossem perdoados e o Espírito Santo derramado? Se haviam crido, por que os pecados deles não foram perdoados, e por que o Espírito Santo não havia sido derramado ainda? Se disseram que eles ainda não haviam crido, por que ficaram tão preocupados depois que ouviram a palavra de Deus? Por que perguntaram o que deveriam fazer? Precisamos perceber que quando a palavra de Deus é pregada, pessoas diferentes têm reações diferentes de acordo com a própria condição delas. A condição em Atos era diferente. Alguns pecadores sentem que pecaram e sentem-se pesarosos por seus pecados. Quando pregamos o evangelho a tais pessoas, pode ser que nunca mencionemos arrependimento. Mas algumas pessoas vêm a crer Nele sem perceber seus próprios pecados. Tais pessoas devem ser reconduzidas ao ponto do arrependimento. Portanto, quando pregamos o evangelho, temos de prestar atenção a essa diferença. Alguns chegaram ao Senhor por meio do arrependimento. Nós somente devemos pedir-lhes que creiam. Outros, precisam ser conduzidos ao arrependimento e ao reconhecimento do seu estado de pecado. Até mesmo, depois que Deus concedeu-lhes fé e eles creram, ainda devemos persuadi-los a ser batizados e ter um coração de arrependimento antes que seus pecados possam ser perdoados e o Espírito Santo derramado sobre eles. Portanto vemos que o arrependimento pode ser incluído na fé. Se um homem não se arrepende, como poderá crer? Se um homem não percebe que está doente, não desejará ver um médico. Além do mais, o arrependimento também pode ser incluído na salvação. O homem deve crer na palavra de Deus, ser perdoado e receber o Espírito Santo depois que se arrepender. Assim vemos que Atos 3 fala também de fé. Esse homem é salvo e curado pela fé. Está muito claro que aqui se trata de fé. Quando chegamos ao capítulo 17 vemos algo mais. Atos 17.30 diz: “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam”. Aqui, Deus não fala ao homem para crer. Se dependesse de nós, teríamos certamente mudado a palavra “arrependam” para “creiam”. Mas o que Paulo estava falando nos versículos seguintes não era uma questão de fé. Se ele nos contasse que esse homem pecou e que o Filho de Deus cumpriu a obra de redenção e resolveu o problema do pecado, então ele teria de mencionar a fé. Mas aqui Paulo estava falando sobre julgamento. O versículo 31 diz: “Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos”. Deus designou o Senhor Jesus como Juiz para julgar todos os homens. Ao mesmo tempo, para que todos soubessem que Ele designou o Senhor Jesus como Juiz, Deus ressuscitou a Jesus de entre os mortos como prova da fé deles. É por isso que diz que precisamos arrepender-nos. Então, não se trata aqui de uma questão de fé. Por meio da Sua ressurreição dentre os mortos, o Senhor Jesus tornou-se prova da nossa fé. Ele é digno do nosso crer. Agora já não há mais necessidade de falar sobre fé. A ressurreição do Senhor Jesus já está aqui, como prova; é clara e não deixa dúvidas. Agora o que devemos fazer é arrepender-nos das coisas que fizemos. Então poderemos crer. O Senhor Jesus é digno do nosso crer. Contanto que nos arrependamos, podemos crer. Atos 26:19-20 diz: “Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento”. Se lêssemos somente esses dois versículos, pensaríamos que a única coisa que Paulo estava pregando era arrependimento. Paulo confessou perante o julgamento  o rei Agripa que sua obra era levar os homens a se arrepender, voltar-se para Deus e fazer obras dignas de arrependimento. Se isso fosse tudo, então o evangelho, de acordo com Atos, não seria um evangelho de fé. Para entender esse versículo, precisamos observar a passagem anterior. Não podemos tomar uma porção da Bíblia fora do contexto. É incorreto fazer isso. Os versículos 14-20 dizem: “E, caindo todos nós por terra, ouvi uma voz que me falava em língua hebraica: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura cousa é recalcitrares contra os aguilhões. Então, eu perguntei: Quem és tu, Senhor? Ao que o Senhor respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das cousas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim. Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judeia, e aos gentios, que se arrependessem”. Por que eles deveriam arrepender-se? Porque o Senhor Jesus completou a obra de redenção. Todos os que creem Nele certamente obterão essa redenção. Arrependimento é algo para os cristãos. Tudo está feito. Agora, tudo o que é necessário é arrepender-se. Que é arrepender-se? Anteriormente, uma pessoa dizia que não havia necessidade de crer. Agora, ela diz que irá crer. Isso é arrependimento. Suponha que eu veja uma pessoa hoje e lhe pregue o evangelho contando que o Senhor Jesus realizou todas as coisas. Posso dizer: “Meu amigo, você tem de se arrepender e crer no Senhor. Assim que crer, será salvo. Você tem de ter uma visão diferente em relação ao pecado. Também precisa ter uma visão diferente em relação à fé no Senhor Jesus. Você deve arrepender-se da sua condição interior; dessa maneira será capaz de crer”. Podemos ver que o arrependimento abordado aqui não é uma questão de obras. Como sabemos que não é uma questão de obras? É porque o arrependimento está incluído na salvação de Deus. Arrependimento é parte da salvação. Tal arrependimento nada tem a ver com a obra do homem e também se torna um item dentro da extensão da fé. Nos poucos versículos que acabamos de ler, podemos ver uma coisa misteriosa — que o arrependimento é parte do ato de crer. Sem arrependimento, não pode haver fé. Portanto, fé inclui arrependimento, e o arrependimento está na fé.

O ARREPENDIMENTO É DADO POR DEUS


Outro versículo nos fala que o arrependimento não está relacionado somente com a fé, mas está igualmente relacionado com a salvação; é Atos 5.31, que diz: “Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados”. Vemos aqui que o arrependimento é dado por Deus, da mesma maneira que o perdão é dado por Ele. Poucas vezes na Bíblia arrependimento e perdão estão colocados juntos. Atos 2 diz que o arrependimento é para remissão de pecados (v. 38). Atos 3 diz que o arrependimento resulta na remissão dos nossos pecados (v. 19). Dois outros lugares mencionam somente o arrependimento, sem perdão. Em dois desses quatro exemplos, arrependimento e perdão são colocados juntos. O arrependimento está ligado à salvação. A remissão é algo que Deus inicia. O arrependimento também é algo que Deus inicia. O dom do perdão é dado por Deus. Portanto o arrependimento é parte da fé e parte da salvação; ambos são algo que Deus inicia. Deus dá arrependimento ao homem do mesmo modo que Ele dá o perdão. É a palavra de Deus que vem a nós. É Deus que nos ilumina e nos diz que o nosso passado estava errado. É Deus que nos dá um coração de arrependimento, que nos leva ao arrependimento. Fico maravilhado com isso. Isso é salvação! Visto que não conseguimos ver nosso passado, Deus nos ilumina com Sua luz. Essa é a maneira de Deus trabalhar.
Se o rosto de uma criança estiver sujo, sua mãe não lhe pedirá que arranje dinheiro para comprar uma toalha para limpá-lo. Em vez disso, a mãe encontrará uma toalha e dirá à criança que a use. Quando Deus quer que nos arrependamos, Ele próprio nos dá o arrependimento do mesmo modo como Ele nos dá o perdão. Deus mesmo nos dá arrependimento e, então, podemos ver nosso passado e perceber quão baixos, fracos e corruptos nós éramos. Depois disso, Ele nos diz para nos arrepender. Lucas 24.45-47 é a passagem mais surpreendente. Ela diz: “Então lhes abriu a mente para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de sofrer e ressuscitar dentre os mortos ao terceiro dia e que em Seu nome se proclamasse arrependimento para perdão de pecados”. Aos que são mencionados aqui foi pregado arrependimento para perdão. Nós devemos pregar perdão em Seu nome. Também devemos pregar arrependimento em Seu nome. Hoje podemos arrepender-nos no nome do Senhor porque o Senhor nos deu arrependimento. É como se Deus criasse dois olhos em nós e, então, nos pedisse para ver. Se não tivéssemos dois olhos, ser-nos-ia difícil ver. Graças ao Senhor que primeiro Ele nos dá olhos e depois nos pede para ver. Primeiro Ele nos dá pés e depois nos pede para andar. É a mesma coisa com arrependimento. Primeiro Ele nos concede arrependimento, e depois nos pede para que nos arrependamos. Tudo isso é feito por Deus. Portanto, quando pregamos o evangelho, podemos dizer que assim como tivemos perdão por intermédio do Senhor Jesus, da mesma maneira temos arrependimento por meio Dele. Se um homem diz que não pode arrepender-se, que ele ainda considera o pecado atrativo e que ainda não sente que é um pecador, podemos dizer-lhe: “Está bem. Eu estou agora pregando o evangelho para você no nome de Jesus. Deus lhe dará o arrependimento. É uma parte da salvação. Assim como recebe vida e é justificado diante de Deus, do mesmo modo você recebe arrependimento”.

Como nos arrependemos? Quando ouvimos os pregadores falando-nos da maldade e de repugnância do pecado e da redenção do Senhor Jesus, desejamos arrepender-nos e crer em Jesus. Não estávamos sentados em um canto, falando a nós mesmos o quão corruptos éramos ou quão pecadores éramos. Mesmo que tivéssemos de repetir isso várias vezes, esse falar não nos faria sentir que éramos pecadores. Você sentiria que está errado simplesmente por falar sobre isso? Ninguém entre nós se arrepende dessa maneira. A primeira vez que ouvimos o evangelho, opusemo-nos e criticamos; não desejávamos aceitá-lo. Se quiséssemos argumentar, poderíamos colocar muitos argumentos. No dia em que fomos salvos, o evangelho que nos foi pregado pode não ter sido tão prevalecente. Mas enquanto estávamos lá ou depois que voltamos do trabalho ou enquanto estávamos andando na rua ou lendo um livro, estávamos condenados. Espontaneamente nos arrependemos e, então, fomos salvos. Fomos nós mesmos que nos arrependemos; ninguém nos forçou nem nos lembrou ou nos pressionou para nos arrependermos. Foi Deus quem nos deu o arrependimento e fomos nós que dissemos: “Eu me arrependo”. Portanto, isto é obra de Deus. É por isso que a Bíblia diz que o arrependimento é dado por Deus. Em Atos 11, depois que Pedro pregou o evangelho na casa de Cornélio, os irmãos judeus o reprovaram por ir à casa de um gentio. Pedro, então, relatou-lhes como pregou o evangelho. O versículo 18 diz: “E, ouvindo eles estas cousas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida”. Perceba que Deus deu aos gentios arrependimento para vida. Portanto vemos que arrependimento é parte da graça de Deus. É parte integrante da salvação de Deus. É algo feito por Deus. Em 2 Timóteo 2.25 é dito: “Disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade”. Muitos se opõem à verdade e não aceitam a verdade de Deus. Podemos pedir a Deus para dar-lhes arrependimento, só assim eles chegarão ao conhecimento da verdade. Isso também é algo que Deus fez. Então, que é o arrependimento? Depois de ler tudo isso nas Escrituras, devemos chegar a uma conclusão. A questão do arrependimento não é tão clara como outras verdades na Bíblia. Parece ser mal definida. Por um lado, um homem não é salvo por meio do arrependimento, mas pela fé. Essa é a verdade mostrada a nós pelo Evangelho de João, e pelas Espístolas de Romanos e Gálatas. Não podemos equivocar-nos a esse respeito. Mas, por outro lado, sem arrependimento um homem não pode crer. Então, em nossa pregação, muitas vezes falamos às pessoas para se arrependerem. Isso não significa que só o arrependimento nos salvará. Pelo contrário, significa que o arrependimento produzirá fé. Se um homem não se arrependeu não será capaz de crer. Mas arrependimento não é obras. A Bíblia diz que o arrependimento é dado por Deus. Deus nos fala para nos arrependermos. Não é que sentamos em um canto pensando que devemos arrepender-nos, que temos de odiar nossos pecados e julgar-nos. Temos de perceber que ninguém pode fazer isso. Sinto dizer que ninguém em todo o mundo consegue fazer isso. Mesmo se alguém fosse capaz de fazer isso, não teria nenhum valor. Arrependimento é um dom de Deus. Mesmo nos Evangelhos, quando o Senhor Jesus veio para pregar o evangelho, Ele não somente pregou o perdão, mas também o arrependimento. Ele é o único que nos capacita a arrependermo-nos. Os que se arrependem são os cristãos e os salvos. Se há aqui os que não foram salvos ainda e que não sabem como receber a graça de Deus, temos de dizer que Deus deseja dar-lhes graça. Ele deseja dar-lhes arrependimento. Ele os está conduzindo à salvação por meio do arrependimento. Finalmente, existe outro versículo mostrando-nos que é a bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento. A última parte de Romanos 2.4 diz: “A bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento”. Que Deus seja misericordioso conosco e mostre-nos o significado do arrependimento e faça-nos saber se somos salvos por meio do arrependimento ou do Senhor Jesus.

O Caminho da Salvação — Não é a Confissão ou a Oração


Vimos nos capítulos anteriores que o caminho para uma pessoa ser salva não é por meio do cumprimento da lei, das boas obras ou do arrependimento. Aqui devo esclarecer um ponto: estamos somente discutindo o modo da salvação e não a condição para a salvação. Isso é devido ao fato de que simplesmente não se requer nada do homem para ele ser salvo. Deus preencheu todos os requisitos. A pergunta diante de nós agora é: Qual é o caminho para sermos salvos? Não estamos tratando da questão da condição, pois isso implica que a pessoa tem de labutar por sua salvação.

O CAMINHO DA SALVAÇÃO NÃO É A CONFISSÃO


Agora iremos considerar o quarto “não é”. Agradecemos a Deus porque, nos últimos anos, Ele se moveu em vários lugares e fez com que várias pessoas se conscientizassem do que é o pecado e da necessidade de o Senhor Jesus ser o Salvador delas. Porém, sem  entendimento  da Bíblia, frequentemente elas adicionam suas próprias palavras às das Escrituras. Fazendo assim, elas inventam diferentes maneiras para a salvação, tal como o cumprimento da lei, boas obras, arrependimento e assim por diante. O método popular hoje é a confissão dos pecados. Existem alguns que defendem que salvação é pela confissão, que é necessário ao homem não somente se arrepender, mas confessar seus pecados. Certa vez ouvi uma pessoa, muito usada pelo Senhor, dizer que quando Jesus morreu, Ele pregou na cruz pedaços de papel nos quais nossos pecados foram escritos, e em cada folha foi escrito um dos nossos pecados. Ele disse que quando recebemos o Senhor Jesus como Salvador, temos de confessar nossos pecados diante de Deus ou diante dos homens. Uma vez que a confissão é feita com relação a certo pecado, o registro daquele pecado é removido da cruz. Em cada confissão adicional seria removido outro pedaço de papel. Você seria finalmente salvo quando todos os seus pecados tivessem sido confessados e todas as folhas de papel fossem rasgadas. O que esse homem pregava não era o evangelho de Deus nem o do Novo Testamento; ele introduziu um evangelho humano, o qual afirma que se uma pessoa confessar ao homem e a Deus, seus pecados ainda terão que ser removidos da cruz. Ele falhou totalmente em não perceber o que o Senhor Jesus cumpriu. Ainda posso lembrar-me do caso de um irmão de Kulim que não tinha estudo e que estava em Xangai há algumas semanas. Ele era eletricista. Era semi-analfabeto até recentemente. Algum tempo atrás podia somente identificar o pronome “Eu” e não “Nós”. Não era capaz de reconhecer a maioria das palavras num versículo bíblico, e precisava pedir ajuda sete ou oito vezes para ler um simples versículo. Certa vez ele me disse: “Fui ouvir um sermão de uma pessoa muito famosa. Esse homem afirmava que devemos confessar nossos pecados em público; assim, cada pecado que confessamos será pregado na cruz. Se não confessarmos nossos pecados abertamente para crucificá-los, não poderemos ser salvos. Ele disse que precisamos crer na palavra da cruz e se não pregarmos nossos pecados na cruz pela confissão, não haverá maneira de sermos salvos, pois isso significaria que não confiamos na cruz. Depois do sermão, o pregador fez perguntas para a audiência para ver se havia algum ponto que não estava claro”.  “Sr. Nee”, continuou o irmão, “eu não estudei. Se tivesse de me levantar na reunião para ler um versículo das Escrituras, as pessoas iriam provavelmente corrigir-me sete ou oito vezes. Mas quanto mais eu ouvia o homem falar, mais sentia algo a me incomodar. Senti que o Espírito Santo não me deixaria ir, a menos que eu me levantasse. Mas realmente não sabia o que falar. Finalmente levantei-me. Lá estava o pregador no púlpito e aqui estava eu em pé. Eu perguntei: ‘De acordo com sua pregação somos salvos pela nossa própria cruz ou pela cruz de Cristo?’ e sentei-me. Sr. Nee, pode me dizer se fiz a pergunta certa?” Eu falei ao irmão que nem um doutor em teologia ou um supervisor paroquial teria tal Clareza. Essa é a questão-chave: Somos salvos por nossa própria cruz ou pela cruz de Cristo? É a cruz de Cristo ou a minha própria cruz que me salva? Aquele sermão foi, sem dúvida, a palavra da cruz, mas qual cruz? Quando Paulo disse: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1 Co 2.2), ele não fez alusão a Cristo e à cruz, mas a Cristo e a Sua cruz. Caro leitor, não somos salvos por nossas próprias obras, mas pela cruz de Cristo. Todavia o homem equipara confissão de pecados com obras e tenta ser salvo por meio de tal confissão. Essa é a razão pela qual devemos considerar agora o que a Bíblia nos diz sobre confissão. Devemos examinar toda a Bíblia para achar a posição adequada que devemos tomar quanto a esse assunto.

CONFISSÃO NA BÍBLIA


Permitam-me primeiramente dizer algumas palavras a fim de que não pensem que não creio em confissão ou restituição. Os cristãos devem confessar seus pecados e fazer restituição. Admito que essas são verdades na Bíblia e, como tais, devem ser aplicadas. Mas tenho de acrescentar que a Bíblia nunca considera a confissão como um caminho para a salvação. Se pensamos que podemos ser salvos por meio da confissão, então a solução para o problema dos nossos pecados ainda não está clara para nós. Estamos presumindo que há outro método de redenção fora a cruz de Cristo. Podemos até imaginar que podemos lidar com nossos próprios pecados diante de Deus e dos homens sem a cruz de Cristo.

1 JOÃO 1.9

Vejamos um versículo que muitas pessoas gostam de citar, 1 João 1.9, que diz: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. Há algumas pessoas que, baseadas nesse versículo, afirmam ser a confissão realmente um requisito para a salvação. Porém tenho de chamar a sua atenção para alguns pontos nesse versículo. Primeiro, o que é mencionado aqui, definitivamente não é uma confissão pública. A Primeira Epístola de João, capítulo 1, versículo 9, trata de nossos problemas diante de Deus quando diz: “Se confessarmos os nossos pecados”. Isso é diferente da prática comum de confissão diante dos homens. Em 1 João 1.9 nada é dito sobre confissão pública. Segundo, o pronome nós nesse versículo não é o mesmo pronome usado nos livros de Romanos e Gálatas. Em 1 João 1.9, esse pronome nada tem a ver com os judeus. A Primeira Epístola de João também é diferente do evangelho de João. O Evangelho de João mostra-nos como um incrédulo pode obter vida, enquanto sua epístola conta-nos como alguém que tem vida demonstra diante do homem que de fato possui essa vida. Seu evangelho revela a maneira de receber vida, enquanto sua epístola revela como alguém que possui tal vida demonstra o que possui. Então, devidamente explicado, o “nós” no versículo 9 de 1 João 1 não se refere aos pecadores, mas aos cristãos. O Evangelho de João descreve como um pecador é justificado por Deus, mas a Primeira Epístola de João mostra como um cristão pode restaurar sua comunhão com Deus. A palavra na epístola não discute como o mundo pode crer em Jesus para obter a vida eterna. Ela indica como podem ser perdoados por Deus os pecados de alguém que tem a vida eterna, e como tal filho de Deus que falhou pode ser purificado de sua injustiça. Portanto, esse versículo faz referência somente aos cristãos, aos que foram salvos e justificados, que possuem a vida eterna. Lembre-se de que alguém salvo é perdoado pelo fato de confessar seus pecados, ao passo que uma pessoa não-salva é perdoada dos seus pecados pela fé. Pecadores são perdoados por crerem no Senhor e os cristãos são perdoados por confessarem seus pecados diante do Pai. O versículo 9 de 1 João 1 não trata dos pecados de um pecador, mas com os de um cristão; não com os pecados cometidos antes da salvação de uma pessoa, mas com os cometidos depois de a pessoa ter sido salva. Consequentemente, esse versículo nada tem a ver com o nosso assunto do momento.

Agora, eu não seria tão rigoroso em dizer que esse versículo pode somente ser aplicado aos cristãos. Pelo contrário, admitiria que alguém pode tomá-lo emprestado das Escrituras e utilizá-lo para fazer com que as pessoas sejam salvas. Recentemente uma irmã contou-me que certa senhora foi salva ao ler a frase: “A semente é a palavra de Deus” (Lc 8.11). Não sei como isso pode ter acontecido. Quando eu preguei o evangelho pela primeira vez, estava convencido de que temos de usar porções esclarecedoras das Escrituras a fim de salvar as pessoas. Porém muitas experiências recentes ensinaram-me, digo isso reverentemente, que muitos são salvos por meio de versículos estranhos. Não se pode imaginar que alguns versículos tão estranhos podem salvar as pessoas. Não estou insistindo que nenhum pecador pode ser salvo por meio de 1 João 1.9. Estou dizendo que quando João foi movido pelo Espírito Santo para escrever sua Epístola, em sua mente esse versículo referia-se aos cristãos e não aos pecadores. Originalmente ele escreveu para os cristãos. Embora alguém possa temporariamente tomar emprestada essa palavra e aplicá-la a um pecador, ele não pode continuar tomando-a emprestada. Estritamente falando, tal versículo refere-se aos cristãos e não implica que alguém tenha de confessar seus pecados publicamente e fazer restituição aos outros para ser perdoado.

MATEUS 3.5 e 6


Existem ainda outros dois versículos que parecem ser até mais óbvios do que 1 João 1.9; são os versículos 5 e 6 de Mateus 3, que dizem: “Então, saíam a ter com ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhança do Jordão; e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados”. Aqui nos é dito que quando as pessoas ouviram o testemunho de João e perceberam sua própria pecaminosidade, foram até João para serem batizadas por ele e confessaram os pecados enquanto eram batizadas. Novamente, alguns pontos devem ser notados nesses versículos. Primeiro, nenhum dos dois versículos indica que as pessoas tomaram a confissão como o caminho da salvação. Elas não tentaram obter salvação pela confissão. É simplesmente dito que elas escutaram a pregação de João sobre arrependimento, foram compelidas pelo Espírito a ser batizadas e a confessar os pecados. Elas estavam, de fato, olhando para o próprio Senhor, que estava para passar pela morte e ressurreição, e em quem esperavam para a salvação. Embora João batizasse, suas mãos estavam, na verdade, conduzindo-as ao Senhor Jesus que estava entre elas. Foi ele que disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29). O batismo da igreja e o de João Batista referem-se ao Cristo que morreu e ressuscitou. João prontamente admitiu quão pequeno era, declarando: “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30) e que o povo não devia crer nele, mas Naquele que viria. Embora tivesse preparado o caminho, ele não era o caminho; o caminho era Aquele que viria, o qual ele anunciava. Como, então, as confissões eram feitas? Como João não falou para eles confessarem seus pecados, seus ouvintes devem tê-lo feito por si mesmos. Suponhamos que um de nós, um obreiro, acabou de testemunhar pelo Senhor, e sem nenhum tipo de persuasão, ordenança, exigência ou sugestão, os ouvintes tenham sido profundamente iluminados por Deus na consciência em relação aos seus pecados. Eles são compelidos a levantar para admitir que cometeram certos pecados específicos. Em resposta a isso, eu diria simplesmente “Amém” e “Aleluia”. Louvaria e nunca me oporia a esse tipo de confissão aberta diante dos homens. Se João tivesse dito que um homem não poderia ser salvo ou perdoado a menos que confessasse seus pecados, e se João realmente tivesse encorajado, impelido, ordenado e induzido as pessoas a confessarem seus pecados, então suas ações dificilmente iriam igualar-se ao que está registrado em Mateus 3.6. De acordo com esse versículo, os ouvintes confessaram seus pecados por conta própria, eles não foram encorajados por João.

Não presumam que não creio na confissão de pecados. Temos sempre encorajado irmãos e irmãs a fazerem confissões uns aos outros. Porém recusamo-nos a aceitar a confissão como o meio para a pessoa ser salva. Existe somente um meio de salvação determinado nas Escrituras que é a fé. O “antigo” João Batista nunca induziu ninguém a confessar seus pecados. Nem deveria algum “moderno” João Batista constranger qualquer homem a fazer o mesmo. É claro que, se a pessoa ao conscientizar-se dos seus pecados levantar-se para fazer uma confissão, devemos deixá-la fazer assim. Você deve ter ouvido sobre o grande reavivamento do País de Gales. Tive oportunidade de estudar, em detalhes, registros sobre aquele reavivamento. Muitos fizeram estudos sobre ele. Esse foi o maior de todos os reavivamentos, e começou entre os anos de 1904 e 1905. Um correspondente de um famoso jornal britânico foi realmente ao País de Gales em 1909, a fim de conduzir uma investigação sobre o evento. O País de Gales não era um lugar pequeno. Os pastores de uma das cidades disseram ao repórter que o número de almas salvas havia diminuído para quase nenhuma nos dois anos anteriores. Quando o correspondente perguntou se o reavivamento estava em declínio, eles responderam: “Sim. Não existe mais ninguém aqui querendo ser salvo, porque todos já foram salvos”. Sabendo que o reavivamento começou com Evan Roberts, ele então perguntou sobre seu paradeiro. Eles responderam: “Não temos ideia”. Quando perguntou-lhes sobre a hora das reuniões, responderam “não sabemos”. Do mesmo modo, quando inquiriu-os sobre o local de reuniões, repetiram “não sabemos”. Eles não sabiam onde estava o líder do reavivamento nem a hora e o lugar das reuniões. O repórter, então, perguntou o que ele deveria fazer, ao que responderam: “Nós nos reunimos a qualquer hora, até mesmo à meia-noite ou de manhã cedo. Não sabemos onde Evan Roberts está, mas ele pode aparecer a qualquer hora. Há reuniões de reavivamento em quase todos os lares. Você encontra pessoas orando em vários lares e em horários diferentes durante a noite. Mas é difícil achar Evan Roberts. Ninguém sabe onde ele estará”. O repórter comentou que nunca havia testemunhado um reavivamento como esse em toda a sua vida. Ele estava determinado a achar Evan Roberts. Seus esforços nas semanas seguintes, porém, não produziram resultado algum. Um dia, quando alguém contou-lhe que Evan Roberts estava em uma pequena capela, ele imediatamente foi ao lugar. Ele comentou que a reunião que presenciou foi a mais caótica. Uma mãe estava amamentando seu bebê; alguns estavam correndo para dentro e fora da reunião como se fossem vendedores de alguma coisa; uma mãe estava consolando uma criança que chorava, enquanto outra, usando uma cadeira como berço, balançava o filho para dormir. O lugar estava uma bagunça. E ainda parecia haver um inexplicável e único elemento no ambiente. “Onde está Evan Roberts?” perguntou o repórter. “O quarto homem da terceira fileira”, alguém respondeu. “A senhorita Penn -Lewis também está aqui. Lá está ela naquela fileira”. Estavam todos em silêncio nos seus assentos. De vez em quando alguém se levantava para pedir um hino ou outro se levantava para ler alguns versículos das Escrituras. Quando uma ou duas horas se passaram sem uma única palavra das pessoas, ninguém pediu licença para sair. Em certos momentos alguns se levantaram para confessar seus pecados sem serem admoestados para fazer assim. Amigos, tal obra é a obra de Deus. É diferente dos sermões de púlpito onde se contam histórias de pessoas em seu leito de morte com a intenção de convencer o público de que eles têm de confessar os pecados ou não serão salvos totalmente. Não estou proibindo a confissão. Existem momentos em que uma pessoa deve confessar seus pecados. Em certas ocasiões alguém deve até declarar a uma multidão que tipo de pessoa ele foi e como Deus trabalhou nele. Porém, nada disso deve ser o resultado do estímulo do pregador no púlpito. Algumas vezes há mais do que estímulo; é como se alguns estivessem ordenando. O que está em Mateus 3.6 é realmente uma confissão pública, mas é o resultado espontâneo da obra do Espírito Santo e não o resultado de uma ordem de João. Não estou me opondo à confissão aberta; estou meramente opondo-me a esse tipo de confissão obrigatória; e muito menos estou me opondo à obra do Espírito Santo. Gostaria que existisse mais de tal obra! Se uma pessoa é conduzida pelo Espírito a confessar seus pecados, todos temos de dizer: “Ó Deus, agradecemos-Te e louvamos-Te, porque tens trabalhado no nosso meio”. Mas temos de nos opor a qualquer ensinamento que diga que a confissão precisa ser feita de certa maneira e até certo nível antes de certos resultados serem conseguidos. Não podemos trocar confissão por salvação. Não temos de tomar confissão de pecados como nossa maneira de salvação.

Temos de notar que na sentença: “E eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados”, o principal predicado segundo a língua original não é “confessando”, mas “eram por ele batizados”. Então, as pessoas estavam sendo batizadas por João no rio Jordão e enquanto estavam sendo batizadas, também confessavam seus pecados. Podemos dizer que “ele falou, andando”, que significa que alguém estava falando e andando ao mesmo tempo. Enquanto ambos, “falar” e “andar”, são verbos, “falou” é o principal predicado e ”andando” o verbo subordinado. Portanto, alguém falava, mas fazia isso enquanto andava. Do mesmo modo, em Mateus 3 as pessoas foram batizadas no rio Jordão enquanto confessavam, significando que ao serem batizadas elas estavam simultaneamente confessando os pecados. Esse é o sentido original em grego. Então, vemos que não existe um método para a confissão, mas uma ação que ocorreu. Enquanto as pessoas estavam sendo batizadas, estavam admitindo que estavam erradas nisso e naquilo. O quadro aqui é do Espírito Santo trabalhando no meio delas, mais do que uma obra reguladora. Elas estavam sendo batizadas e confessando, como o exemplo de alguém falando e andando ao mesmo tempo. De nenhum modo nesse versículo a confissão é tratada como uma maneira de salvação.

ATOS 19.18 E 19


Existem somente três trechos no Novo Testamento que registram esse assunto de confissão de pecados. Chegamos agora ao terceiro trecho, que é Atos 19.18 e 19, que diz: “Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando publicamente as suas próprias obras. Também muitos dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculados os seus preços, achou-se que montavam a cinquenta mil denários”. Embora aqui exista somente a palavra “confessando” sem a menção de “pecados” é a eles que se refere. Em 1 João 1.9, diz “confessar nossos pecados”, em Mateus 3.6, diz “confessando os seus pecados” e aqui diz “confessando” e “fazendo conhecidas as suas práticas”. Primeiro, a confissão e a divulgação das suas práticas não foram consideradas como uma maneira de salvação. Segundo, os que confessaram e narraram as práticas não eram pecadores, mas cristãos, pessoas que eram de Cristo. Isso pode ser comparado a alguns irmãos e irmãs levantarem-se nas reuniões para dar um testemunho confessando o que fizeram no passado. Isso pode também ser comparado a alguns que testemunham no seu batismo as coisas que fizeram no passado. Nós também não somos salvos por meio desse tipo de confissão. Alguns creram e tornaram-se do Senhor. Eles agora confessam o seu passado. Admitem que foram malignos. Não têm mais receio de contar aos santos que foram transferidos do barro lamacento para uma rocha sólida. Quando os efésios queimaram os seus livros de magia, eles estavam fazendo uma demonstração pública de que, embora tivessem praticado essas coisas, agora pertenciam ao Senhor. Terceiro, “E muitos dos que creram vieram”. Nem todos vieram. Nem todas as pessoas salvas precisam confessar nas reuniões. Quando isso ocorre é porque o Espírito Santo se move fortemente para impelir as pessoas a se levantarem para expor suas práticas a fim de glorificar a Deus mostrando a extensão da salvação de Deus nelas. Amigo, você pode descobrir por intermédio dessas três porções da Palavra que o caminho da salvação é mediante a fé e não pela confissão pública.

Essas são as três porções do Novo Testamento onde a confissão de pecados é tratada especificamente. Existe outro lugar, em Tiago 5.16, onde confessar os pecados uns aos outros é mencionada. Tiago nos fala que quando um irmão ou irmã está doente, os presbíteros da igreja devem ser chamados para orar sobre a pessoa doente e ungi-la. E se alguns pecados estão envolvidos, deve haver confissão mútua e perdão. Essa é uma questão diferente do assunto deste livro. Vimos todas as passagens no Novo Testamento a respeito da confissão de pecados. Você vê agora qual é a maneira de alguém ser salvo? É mediante a fé e não pela confissão de pecados.

SOBRE A PRÁTICA DA CONFISSÃO


Deixem-me falar um pouco a respeito da prática da confissão de pecados. Todos nós sabemos a quem ofendemos e defraudamos antes de ser salvos. Depois que fomos salvos, sentimos tristeza no coração e desejamos confessar àquelas pessoas. Isso é algo que devemos fazer. Deus ordena, até mesmo nos compele a fazê-lo. Isso é ensinado nas Escrituras. Tendo visto a justiça de Deus e a glória em Sua presença, agora percebemos que é injusto dever algo aos outros. Que faremos, então? Nós nos recusamos a ser pessoas injustas. Até falamos a nós mesmos: “Eu sou salvo. Vou ser um homem justo. Vou lidar totalmente com todas as áreas nas quais fui injusto ou errado com os outros para que então possam perdoar-me”. Bem, não há problema com seus pecados perdoados diante de Deus, mas você tem de confessar aos homens as suas ofensas. Tal confissão e restituição absolutamente não são o caminho para a salvação. Você não precisa fazer confissão e indenização para que seja salvo. Como uma pessoa salva e alguém que é justo, você está meramente pedindo perdão às pessoas que enganou. O ladrão na cruz deve ter roubado e pecado contra muitos. Porém não teve oportunidade de confessar e restituir a ninguém, porque mal podia mover-se na cruz. Ele não podia devolver nenhum item que roubara dos outros. Porém, sem nenhuma confissão ou restituição, ele ainda pôde ser salvo. O Senhor Jesus disse para ele: “Hoje estarás Comigo no Paraíso” (Lc 23.43). Podemos considerar esse ladrão como a primeira pessoa a ser salva no Novo Testamento. Ele foi o primeiro a ser salvo depois da morte do Senhor. Portanto, o problema não é de confissão. O ladrão na cruz, embora privado da oportunidade de fazer restituições, foi, contudo, salvo. Se ele vivesse, deveria fazer restituições por causa da justiça. A questão da sua salvação foi resolvida na cruz num instante. Confissão é algo que segue a salvação. Ele já foi salvo na cruz; sua salvação não foi absolutamente devida a nenhum tipo de confissão ou restituição. Se ele confessasse seus pecados mais tarde, isso não o teria salvo ainda mais. Aqui é mostrado claramente que a salvação é pela fé, enquanto a confissão é uma expressão espontânea do viver cristão. Já que agora conhecemos nosso Deus justo, desejamos clarificar o problema dos nossos pecados diante do homem. Nossa salvação é totalmente uma questão entre nós e o Senhor Jesus; ela é resolvida somente por meio Dele.

Há três fatos aqui sobre os quais devemos ter clareza. Primeiro, confessar nossos pecados diante de Deus, julgando-nos, arrependendo-nos e conscientizando-nos de que somos pecadores. Tudo isso é feito diante de Deus. Isso nos leva a ter fé e receber o Senhor Jesus como nosso Salvador. Segundo, depois que fomos salvos, tornamo-nos conscientes de nossas ofensas contra outros e desejamos clarificá-las. Desejamos fazer restituições e confessar àqueles que defraudamos, e então poderemos viver uma vida justa na terra. Terceiro, depois que fomos salvos, quando o Espírito Santo trabalha em nós, queremos contar aos outros que tipo de pecadores éramos e quantos pecados cometemos. Podemos fazer isso durante nosso batismo e podemos fazê-lo depois do batismo. Não sei se isso está claro ou não para você. Nunca valorize demais a confissão de pecados. Temos de colocá-la no lugar estabelecido pela Bíblia. Já que a Bíblia nunca a considera como um caminho para a salvação, também não devemos considerar. Graças a Deus foi o Senhor Jesus que me salvou. Não me salvei . Graças a Deus foi a cruz de Cristo que me salvou. Não sou salvo por minha própria cruz; a cruz de Cristo fez a obra de salvação.

O CAMINHO DA SALVAÇÃO NÃO É A ORAÇÃO

Chegamos agora ao quinto "não é". Existem muitas pessoas que irão adicionar outra condição para a salvação. Não é guardar a lei ou o bom comportamento, nem é arrependimento ou confissão. Elas dizem que uma pessoa tem de orar para ser salva. Elas baseiam sua afirmação em Romanos 10: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (v. 13). Como resultado, alguns acreditam que têm de implorar diante de Deus antes que possam ser salvos. Em várias ocasiões encontrei algumas pessoas que queriam ser salvas. Elas disseram: “Diariamente eu peço ao Senhor para salvar-me e ainda não sei quando fará isso. Tenho orado por três meses sem nenhuma sensação interior. Não sei se Deus achará conveniente salvar-me”. Também encontrei outras que disseram “Estou esperando que o Espírito Santo venha e me leve a ajoelhar-me para pedir a Jesus que me salve. Eu ainda não sou salvo. Devo esperar que o Espírito me inspire a orar antes que possa ser salvo”. Por esta razão, precisamos ver se um homem precisa orar antes que possa ser salvo. Primeiro, tal pessoa busca ser salva por meio de oração e súplica por ser totalmente ignorante quanto ao amor e à graça de Deus. Ela pensa que Deus odeia o homem e, portanto, tem de orar para Deus mudar de ideia antes que possa salvá-la. Ela se entrega à oração sem saber o quanto tem de orar para que Deus a ouça. Você se lembra como Elias desafiou os profetas de Baal no monte Carmelo? Ele os desafiou a pedir ao seu deus para mandar fogo. Os profetas “clamavam em altas vozes e se retalhavam com facas e com lancetas, segundo o seu costume, até derramarem sangue” (1 Rs 18.26-29). Eles supunham que Baal iria ouvi-los somente se infligissem mais dores a seu corpo. Hoje há os que também pensam que se trouxerem angústia sobre si mesmos e clamarem  suficientemente a Deus, Ele terá compaixão deles. Esse tipo de pessoa nunca viu o evangelho. Porque nunca viram Deus na luz do evangelho, acreditam que sua súplica perante Deus irá voltar Seu coração a eles. Na verdade não há necessidade de Deus voltar Seu coração. Seu coração já está voltado a eles há muito tempo. Nós é que necessitamos uma mudança de coração, porque rejeitamos e opusemo-nos a Ele, e não acreditamos Nele. Em 2 Coríntios 5.19 diz-se: “A saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo”. Deus não ofendeu o homem; foi o homem que ofendeu a Deus. Nunca houve necessidade de Deus ser reconciliado com o homem. Todos os que desejam entender o evangelho devem saber que Deus é amor e que Ele ama o mundo. Ele não tem problema conosco e nenhum de nós tem de suplicar diante Dele. Além disso, o homem pensa que tem de orar e suplicar para que seja salvo, simplesmente porque não percebe que o Senhor Jesus veio; Ele morreu e ressuscitou; todos os problemas de pecado estão resolvidos e todos os obstáculos à salvação estão removidos.

Não somente o Senhor Jesus veio, mas o Espírito Santo também veio. Ele veio para manifestar no homem o que Deus e o Senhor Jesus realizaram. Muitos pecadores oram pela própria salvação como se estivessem pedindo ao Senhor Jesus para morrer por eles novamente. Eles não percebem que Ele completou a obra de redenção. Como Ele terminou Sua obra, não há razão para suplicar diante Dele. Hoje é o tempo de ações de graça e louvores; não é tempo de fazer súplicas e petições. Suponha que seus pais tenham trazido algo que você pediu. Você pode talvez, com sinceridade, curvar-se para agradecer a eles. Certamente não iria ajoelhar-se e suplicar, dizendo:“Por favor dê-me isto porque eu preciso”. É simplesmente incoerente e sem sentido que continue a suplicar depois que seus pais já deram algo a você. Hoje Deus não está falando sobre a gravidade dos nossos pecados. Se estivesse, então haveria razão para suplicarmos. Ao contrário, Deus está agora dizendo que Ele deu Seu Filho a você gratuitamente. Seria bem estranho se alguém lhe desse algo e você ainda lhe suplicasse em vez de agradecer! Se conhecesse o coração de Deus e se tivesse clareza sobre a obra do Senhor Jesus, nunca tentaria ser salvo pela oração. Não há lugar para a oração nessa questão. É melhor ajoelhar-se para agradecer a Deus. Certa vez, depois que compartilhei o evangelho com um homem, perguntei se ele cria. Ele disse que sim. Quando eu disse: “Vamos ajoelhar-nos”, ele perguntou se iríamos orar. Disse-lhe que não. Ele perguntou: “Qual o propósito, então?” Respondi: “Simplesmente para informar o Senhor Jesus”. Não há necessidade de pedir ao Senhor Jesus para morrer novamente ou pedir a Deus para amar, ser gracioso ou perdoar-nos. O Senhor já levou nossos pecados na cruz. Agora, nossa única necessidade é notificá-Lo, dizendo: “Eu cri no Filho de Deus e recebi a cruz de Cristo. Ó Deus, eu Te agradeço”. Não é fácil? Sim, receber a salvação é algo fácil. Claro que para Deus não foi fácil completar a salvação; Deus levou quatro mil anos para completá-la. Depois que o homem caiu, Deus levou quatro mil anos para fazer com que o homem percebesse seus pecados. Ele então fez com que Seu Filho nascesse de uma mulher e fosse pendurado na cruz para ser julgado pelo pecado. No final, Ele mandou também o Espírito Santo. Foi somente depois que Deus trabalhou muito e fez bastante esforço que recebemos a salvação de maneira tão fácil. Ele pagou o maior preço para realizar tudo. Agora se você creu e recebeu, tudo o que precisa fazer é dizer: “Obrigado”. Esse é o caminho da salvação. Não há lugar para oração aqui.

Por que então Romanos 10 enfatizou o assunto da oração? Em Romanos 10.5-7 lê-se: “Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça decorrente da lei viverá por ela. Mas a justiça decorrente da fé assim diz: Não perguntes em teu coração: Quem subirá ao céu?, isto é, para trazer do alto a Cristo ou: Quem descerá ao abismo?, isto é, para levantar Cristo dentre os mortos”. Dois tipos de justiça são mencionados aqui. Uma é a justiça decorrente da lei e a outra é a justiça decorrente da fé. A justiça decorrente da lei resulta das obras de uma pessoa diante de Deus, e a justiça decorrente da fé é cumprida em nós pelo nosso crer no Senhor Jesus Cristo. A primeira tem relação conosco e a última tem relação com Cristo.

É absolutamente impossível para um homem obter a justiça decorrente da lei porque ela requer que ele não tenha pecado nos pensamentos, intenções, palavras e comportamento a cada ano, hora, minuto e segundo de sua vida desde a hora em que nasceu. Se ele quebra algum item da lei, ele transgride todos. Para nós, isso é simplesmente uma proposta sem esperança. Desde que não possamos agora ter a justiça decorrente da lei, precisamos ter a justiça decorrente da fé. Essa justiça, como mencionamos, é a justiça pela qual Cristo foi julgado. Desde que Cristo sofreu a punição, temos a justiça mediante a fé. Essa justiça não tem relação conosco. As Escrituras dizem: “Não perguntes em teu coração: Quem subirá ao céu?, isto é, trazer do alto a Cristo; ou: Quem descerá ao abismo?, isto é, para levantar Cristo dentre os mortos”. Não há necessidade de fazermos isso. Não há necessidade de ascender aos céus. Isso significa que não há necessidade de pedir que Cristo venha à terra e morra por nós. Não há também necessidade de descer ao abismo.

Isso implica que a ressurreição de Cristo é a base da nossa justificação. Deus já fez com que o Senhor Jesus morresse e ressuscitasse, e Sua ressurreição tornou-se a base de nossa justificação. Tudo o que nos resta fazer é crer. O versículo 8 diz: “Porém que se diz?” “Se”, aqui, refere-se à palavra de Moisés. Paulo citou Moisés para mostrar que até Moisés pregava a justificação pela fé. Isso é surpreendente, visto que Moisés foi o promotor da lei e das suas exigências. Mas Paulo apresentou Moisés, dizendo que Moisés também falou a respeito da justificação pela fé quando disse: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração”. Essa é a palavra da fé que proclamamos. Paulo defendia que as palavras de Moisés referem-se à justificação pela fé. Para entender essa referência, necessitamos voltar para Deuteronômio 29 e 30, no Antigo Testamento. Lá, Moisés passou toda a lei e os mandamentos aos israelitas, falando a eles que se falhassem em obedecer àqueles mandamentos e em guardar a lei, Deus iria puni-los, dispersando-os entre as nações; e se o coração deles se aproximasse de Deus na dispersão, a palavra estaria perto deles, até mesmo na boca e no coração deles. Moisés estava dizendo que o julgamento de Deus estaria presente sempre que o homem quebrasse a lei e a transgredisse. Que o homem deve fazer, então? Ele precisa receber uma justiça separada da lei, a que está na sua boca e no seu coração. Tal graça separada da lei é um presente para nós. Quando Deuteronômio foi citado em Romanos 10, uma palavra de explicação foi adicionada: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração” que é, “a palavra da fé que pregamos”. Não há nenhum pensamento de obra aqui. A justiça proveniente da lei foi completamente transgredida. Quando o povo foi disperso entre as nações da terra, como predito em Deuteronômio 30, eles não poderiam mais reivindicar ter realizado obras. A questão de obras havia terminado. A única palavra que eles tinham então era a palavra que estava na boca e no coração deles. Outrora, era uma questão de obras e o resultado foi a dispersão. Agora, não mais há obras. Portanto, é fé. Paulo continuou a definir o significado de “com a tua boca” e “em teu coração” no versículo 9 dizendo: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. Caro amigo, onde está sua boca? Cada um de nós leva a boca para onde vai. Ninguém a deixa em casa. Onde está nosso corpo também está nossa boca. No momento em que cremos no Senhor Jesus, espontaneamente O confessamos com nossa boca. As primeiras palavras da boca de Paulo, quando o Senhor confrontou-o na estrada, foram: “Quem és tu, Senhor?” Ele não havia crido no Senhor antes. Mas naquela conjuntura, ele creu. Nossa confissão de Jesus como Senhor é feita muito mais espontaneamente a partir do nosso coração do que diante das pessoas. Surpreende-me pensar que um povo inculto que nunca fora exposto ao evangelho antes, ao ouvir as boas novas, possa dizer, “Ó Senhor”. Isso não pode ser uma obra. Trata-se de uma manifestação espontânea. Crer no coração não é uma questão de obra. Não há necessidade de dar alguns passos ou gastar dinheiro. É necessário dizer “Ó Senhor” exatamente onde se está, e ser salvo. Pode-se dizer isso audível ou inaudivelmente. Contanto que se creia que Deus O trouxe dos céus e O levantou do Hades, tudo irá ocorrer normalmente. Isso provará que se está justificado e salvo. Nossa confissão nunca pode levar o elemento do mérito. Confissão não é um caminho para salvação; é meramente uma expressão da salvação. É algo muito espontâneo. Se dissermos “Senhor” com nossa boca e crermos Nele no nosso coração, seremos salvos. Não há nenhum problema.

O versículo 10 segue e explica o versículo 9. Por que alguém é salvo quando confessa com a boca Jesus como Senhor e crê no coração que Deus O ressuscitou de entre os mortos? “Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação”. Eu sempre ficava perplexo sobre como esse assunto poderia ser colocado no coração das pessoas. Encontrei duas pessoas hoje que consideram esta palavra de salvação muito longe delas. Para elas, essa palavra está mais longe do que as províncias de Yunnam e do Tibet; está mais longe que um país estranho. É simplesmente uma palavra dos céus. Parece que a palavra de salvação está tão longe que a frustra. Contudo, Deus diz que o caminho para a salvação não está no céu nem nas profundezas da terra. Está muito perto, na nossa boca e até no nosso coração. Se tivéssemos subido aos céus ou descido abaixo da terra, quereríamos saber como alguém poderia ser salvo. Hoje, a palavra está na sua boca e no seu coração. Contanto que uma pessoa abra a boca e creia no coração, ela será salva. Deus fez essa salvação tão completamente disponível e conveniente que se uma pessoa crê no coração e confessa com a boca, é salva. Justificação aqui é mais uma questão diante de Deus que diante dos homens. Quando os homens vêem você confessando, eles perceberão que você é salvo. Quando Deus vê você crendo, Ele o justifica. O versículo 11 diz: “Todo aquele que nele crê não  será confundido”. Somente a fé é suficiente.
Embora a Palavra de Deus seja abundantemente clara, ainda há os que gostam de argumentar contra ela. Eles insistem em que a confissão é a maneira de alguém ser salvo. Gostaria de perguntar a eles: “Se é assim, que você fará com Romanos 10.8? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração”? Aqui diz a palavra da fé, não a palavra de confissão. As Escrituras dizem “crer”, elas não dizem “confessar”. O versículo 6 diz: “Mas a justiça decorrente da fé assim diz”. O versículo 6 menciona a justiça decorrente da fé e o versículo 8 a palavra da fé. Há uma confissão no versículo 9 e outra no 10. Ambas são com a boca. Porém, o versículo 11 não diz: “Todo aquele que O confessar não será confundido”. Ao contrário, diz: “Todo aquele que nele crê não será confundido”. Temos de reconhecer a ênfase aqui. Os versículos 6, 8 e 11 mencionam “crer” e os versículos 9 e 10 mencionam “confessar”. O versículo 9, primeiro diz “confessar” e, então, “crer”; enquanto no versículo 10 está primeiro crer e, então, confessar. Nessa passagem “crer” é usado cinco vezes e “confessar” duas. No final, a ordem “confessar” e “crer” é invertida. Tudo isso significa que a salvação deve ser decorrente da fé e não da confissão. Confissão resulta da fé. O que crê no coração, fala espontaneamente com a boca. Uma pessoa diz espontaneamente “papai” quando vê seu pai. Onde há fé, a confissão vem imediatamente a seguir. O final do versículo 12 mostra-nos que confissão aqui é a confissão de Jesus como Senhor. Essa confissão vem da fé. Como podemos provar isso? Podemos não ver isso do versículo 1 até o 11. Mas o versículo 12 diz: “Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam”. O versículo 13 diz: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Invocar o nome do Senhor é equivalente a confessar o Senhor Jesus nos versículos anteriores. Invocar o nome do
Senhor é confessar Jesus como Senhor, chamá-Lo de Senhor e dirigir-se a Ele como Senhor. Analisando cuidadosamente o contexto dessa passagem, perceberemos que invocar é simplesmente confessar. O versículo 14 diz: “Como, porém, invocarão aquele em que não creram?” Essa é uma palavra maravilhosa. Isso mostra que invocar vem de crer. Naturalmente ninguém pode invocar sem crer. Podemos ver que confessar com a boca resulta da fé no coração. Porque um homem crê no coração, ele invoca com a boca. Ele invoca porque crê. Tudo resulta da fé; fé é o caminho da salvação. Embora seja mencionada a confissão com a boca, essa confissão é baseada na fé no coração. Invocar é espontâneo para os que creem.
Creio que os leitores sejam salvos e que receberam o Senhor Jesus. Posso perguntar como você O recebeu? Nós O recebemos pela fé. Você também orou? A salvação é decorrente da fé. Oração é a expressão dessa fé. Todos no mundo são salvos pela fé. Porém, essa fé é expressa em oração. A fé é interior e oração é exterior. Quando você crê no coração que Jesus é o Salvador, espontaneamente irá orar com a boca que Jesus é o Senhor. Qualquer um que crer no seu coração irá confessar com sua boca. Mas precisamos sempre lembrar que confissão não é o caminho para a salvação. Embora a palavra diga “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”, entretanto, invocar não é a maneira da salvação. A razão é que invocar vem da fé; é uma ação espontânea, algo dito espontaneamente diante de Deus.

Voltemos ao versículo 12: “Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos”. Eu amo a frase “não há distinção”. Romanos 3.22 e 23 diz: “Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram”. Aqui diz: “Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de todos”. Cada um tem de invocar o Senhor, confessar com a boca e crer no coração antes de ser salvo. Que o Senhor seja misericordioso para conosco e nos mostre que o único caminho para a salvação, de acordo com a Bíblia é a fé e nada mais. A salvação não é pela fé mais o cumprimento das leis e boas obras, arrependimento, confissão ou oração. Essa é a verdade bíblica. Temos de nos posicionar sobre a Bíblia. A Bíblia revela-nos claramente que o caminho para a salvação é somente pela fé. 

Continua em ESTUDO DA PALAVRA 2

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