“O Evangelho de Deus”
Prefácio à Edição em Inglês
Watchman Nee |
É
do conhecimento dos leitores cristãos em todo o mundo que o irmão
Watchman Nee foi especialmente encarregado pelo Senhor de ajudar os cristãos
quanto à verdade da plena salvação de Deus. Na primavera de 1937, o irmão Nee
deu uma série de vinte e seis mensagens sobre as verdades básicas do evangelho
de Deus para a igreja em Xangai, China. Essas mensagens são o conteúdo
dos volumes 28 e 29 de Obras Reunidas de Watchman Nee (The Collected Works of
Watchman Nee). As questões abordadas são amplas, variando desde a condição
pecaminosa do homem antes de ser salvo ao seu destino na era vindoura. No
volume 28, o irmão Nee apresenta as particularidades da salvação de Deus,
isto é, os pecados do homem; o amor, a graça e a misericórdia de Deus; a
natureza da graça; a função da lei e a justiça de Deus; a obra de Cristo e do
Espírito Santo na salvação de Deus; e a fé como o caminho da salvação. No
volume 29, o irmão Nee trata detalhadamente das questões de segurança eterna da
salvação e a maneira de Deus lidar com os pecados dos cristãos nesta era e na
vindoura. Para ambas as questões, o irmão Nee apresenta respostas convincentes
a partir da Bíblia e de como os cristãos atualmente entendem esses assuntos.
As
mensagens dessas séries foram proferidas pelo irmão Nee em chinês e manuscritas
enquanto eram faladas. Essas notas foram traduzidas para o inglês e alteradas
conforme necessário. Tanto quanto possível, o tom oral das mensagens foi
preservado. Muitas ilustrações que o irmão Nee utilizou foram apreendidas de
sua vida na China na época.
Essas
mensagens demonstram o comissionamento do Senhor para o nosso irmão e como o
Senhor o equipou com a revelação de Sua Palavra. Que o Senhor abençoe ricamente
todos os que lerem e virem essas verdades faladas pelo Senhor por meio de nosso
irmão.
O Pecado, os Pecados e o Pecador.
O Caráter desta Reunião — o Ensino do Evangelho.
Hoje
iniciamos uma série de reuniões de estudos bíblicos. Porém, antes de
iniciarmos, gostaria primeiramente de dizer algumas palavras acerca da natureza
destas reuniões. Não sei se há alguns aqui que estão conosco pela primeira vez.
Alguns que vêm pela primeira vez acham muito difícil localizar nosso endereço.
Muitos se queixam de que a rua onde nos encontramos é de difícil localização.
Alguns até mesmo disseram que, apesar de estarem de fato sentados aqui, não
sabiam como sair daqui após a reunião. Eles não sabiam que caminho tomar para
chegar àquela loja de automóveis que viram enquanto vinham para cá, e não sabem
como caminhar de lá para a parada de bonde ou para a parada de ônibus. Muito
embora estivessem aqui, não estavam seguros e dificilmente poderiam lembrar-se
do caminho pelo qual vieram. Esse é o caso de muitos cristãos em sua vida
cristã. Se você lhes perguntar se crêem no Senhor, eles dirão que sim. Porém,
se lhes perguntar como foi que creram, eles dirão que não têm certeza. Eles não
têm clareza alguma acerca da maneira pela qual foram salvos. As reuniões que
teremos agora não são um reavivamento nem reuniões de evangelização. E, embora
o assunto dessas reuniões seja o evangelho, elas não são reuniões de
evangelização. Não estaremos pregando o evangelho desta vez; em vez disso,
estaremos ensinando o evangelho. Por que precisamos ensinar o evangelho? Muitos
foram salvos e se tornaram cristãos, mas ainda não sabem como se tornaram
cristãos. O que vamos fazer hoje é dizer às pessoas como é que elas se tornaram
cristãs. Em outras palavras, estamos dizendo-lhes que elas tomaram o sentido
sul a partir da Rua Aiwenyi e caminharam diretamente para aquela loja de
automóveis que viram, que dali viraram para Wende Lane onde estamos agora,
deram alguns passos em direção à janela do nosso salão de reuniões, viraram na
entrada do nosso salão e caminharam até um cesto de lixo à porta do salão de
reuniões e, em seguida, entraram no salão. Desta vez não estaremos persuadindo
as pessoas a entrar; pelo contrário, estaremos dizendo-lhes como entraram.
Se
aqui houver alguns que não creram no Senhor, podem ficar desapontados. O que
vamos fazer desta vez é mostrar aos que creram como é que creram. Alguns irmãos
e irmãs podem ter muita clareza do evangelho; talvez até já saibam sobre o que
estamos falando.
Porém
espero que o Senhor nos abençoe e nos conceda nova luz. Você precisa saber que
estas reuniões são de estudo bíblico e destinam-se aos que creram, mas não
sabem como creram. Dessa vez não estou tentando encorajá-lo ou reavivá-lo.
Estou simplesmente lhe mostrando a direção. Em outras palavras, nessas reuniões
nada mais sou do que um guia turístico.
O Pecado, Os Pecados, O Pecador.
Começarei com um princípio muito básico com respeito ao evangelho. Contudo, espero que a cada reunião avancemos um pouco. Nesta primeira reunião, nosso tema é um assunto que a maioria das pessoas não gosta de ouvir, mas é inevitável. Nosso assunto nesta reunião é o pecado, os pecados e os pecadores.
Começarei com um princípio muito básico com respeito ao evangelho. Contudo, espero que a cada reunião avancemos um pouco. Nesta primeira reunião, nosso tema é um assunto que a maioria das pessoas não gosta de ouvir, mas é inevitável. Nosso assunto nesta reunião é o pecado, os pecados e os pecadores.
A
Bíblia dá muita atenção à questão do pecado. Somente quando tivermos clareza
acerca do pecado é que poderemos compreender a salvação. Se quisermos conhecer
sobre o evangelho de Deus e sobre a salvação de Deus, primeiro precisamos saber
o que é o pecado. Devemos ver inicialmente como o pecado nos afetou e como nos
tornamos pecadores. Só então teremos clareza da salvação de Deus. Vamos
primeiro considerar o ABC. Precisamos ver o que é pecado, o que são pecados e
quem é pecador.
A Diferença entre Pecado e Pecados
Podemos
facilmente dizer que a diferença entre pecado e pecados é que pecado é singular
e pecados é plural. Entretanto, precisamos distinguir claramente entre pecado e
pecados. Se você não consegue diferenciar os dois, será impossível ter clareza
da sua salvação. Se uma pessoa não tem clareza da diferença entre pecado e
pecados, mesmo que seja salva, sua salvação provavelmente é uma salvação
obscura. Que é pecado de acordo com a Bíblia? E que são pecados? Permitam-me
dar uma breve definição primeiro.
Pecado
refere-se àquele poder dentro de nós que nos motiva a cometer atos pecaminosos.
Pecados, por outro lado, refere-se aos atos pecaminosos individuais,
específicos, que cometemos exteriormente.
Que
é pecado? Não gosto de utilizar termos tais como “pecado original”, “a raiz do
pecado”, “a fonte do pecado” ou similares. Estes termos são criados por
teólogos e são desnecessários para nós agora. Seremos simples e consideraremos
essa questão a partir da nossa experiência. Sabemos que há algo dentro de nós
que nos motiva e nos obriga a ter certas inclinações espontâneas, que nos induz
para o caminho da concupiscência e paixão.
De
acordo com a Bíblia esse algo é o pecado (Rm 7.8, 16-17). Todavia, não há
somente o pecado interior que nos obriga e induz, há também os atos pecaminosos
individuais, os pecados, os quais são cometidos exteriormente. Na Bíblia, os
pecados estão relacionados com a nossa conduta, enquanto o pecado está
relacionado com a nossa vida natural. Pecados são os cometidos pelas mãos,
pelos pés, pelo coração, e mesmo por todo o corpo.
Paulo
refere-se a isso ao falar dos feitos do corpo (Rm 8.13). Então, que é o pecado?
O pecado é uma lei que controla nossos membros (Rm 7.23). Existe algo dentro de
nós que nos leva a pecar, a cometer o mal e esse algo é o pecado.
Se
quisermos fazer uma distinção clara entre pecado e pecados, há uma parte nas
Escrituras que precisamos considerar. São os primeiros oito capítulos do livro
de Romanos. Esses oito capítulos mostram-nos o significado pleno do pecado.
Nesses oito capítulos encontramos uma característica notável: do capítulo 1 ao
5.11, somente a palavra pecados, no plural, é mencionada; a palavra pecado, no
singular, jamais é mencionada. Mas, de 5.12 até o final do capítulo oito, o que
encontramos é pecado, não pecados. Do capítulo 1 até 5.11, Romanos mostra-nos
que o homem tem cometido pecados diante de Deus. De 5.12 em diante, Romanos
mostra-nos que tipo de pessoa o homem é diante de Deus: um pecador. Pecado
refere-se à vida que possuímos. Antes de Romanos 5.12 nenhuma menção há de
mortos sendo vivificados, pois o problema ali não é que alguém precise ser
vivificado e, sim, que os pecados individuais que alguém cometeu precisam ser
perdoados.
De
5.12 em diante, temos a segunda seção. Aqui vemos algo forte e poderoso dentro
de nós como uma lei em nossos membros, que é o pecado, que nos induz e obriga a
cometer os pecados, os atos pecaminosos. Por isso há necessidade de sermos
libertados. Os pecados têm a ver com a nossa conduta, e para isso a Bíblia
mostra-nos que precisamos de perdão (Mt 26.28; At 2.38; 10.43). Porém, o pecado
é o que nos incita, induz-nos a cometer os atos pecaminosos. Por isso, a Bíblia
mostra-nos que precisamos de libertação (Rm 6.18, 22). Certa vez encontrei um
missionário que falava sobre “o perdão do pecado”. Imediatamente levantei-me,
apertei sua mão e perguntei: “Onde na Bíblia se diz ‘perdão do pecado’?” Ele
argumentou que existiam muitos casos. Quando lhe perguntei se podia encontrar
um para mim, ele disse: “Que você quer dizer? Não é possível encontrar nem
sequer um lugar que diga isso?” Eu disse-lhe que em toda a Bíblia, em nenhum
lugar são mencionadas as palavras o perdão do pecado; em vez disso, a Bíblia
sempre fala de “perdão de pecados”. Os pecados é que são perdoados, não o
pecado. Ele não acreditou em minhas palavras, então foi procurar em sua Bíblia.
Finalmente me disse: “Sr. Nee, é tão estranho. Toda vez que essa frase é usada,
um pequeno "s" é adicionado a ela”. Creio que você pode ver que os pecados é que
são perdoados, não o pecado. Os pecados são exteriores a nós. Eis por que
precisam ser perdoados. Contudo, algo mais está dentro de nós, algo forte e
poderoso que nos leva a cometer pecados. Para isso precisamos não de perdão,
mas de libertação. Precisamos ser libertados. Tão logo não estejamos mais sob
seu poder e nada tenhamos a ver com ele, estaremos em paz. A solução para os
pecados vem do perdão. Entretanto, a solução para o pecado vem quando não
estivermos mais debaixo do seu poder e não tivermos mais nada a ver com ele. Os
pecados estão relacionados com as nossas ações e são cometidos um por um. Eis
por que precisam ser perdoados. O pecado, porém, está dentro de nós e
precisamos ser libertados dele.
Portanto,
a Bíblia nunca diz “perdão do pecado”, mas “perdão dos pecados”. Tampouco a
Bíblia fala sobre ser “libertado dos pecados”. Posso assegurar-lhes que a
Bíblia nunca diz isso. Pelo contrário, a Bíblia diz que somos “libertados do
pecado”, em vez de libertados dos pecados. A única coisa da qual precisamos
escapar e ser libertados é daquilo que nos incita e nos induz a cometer
pecados. Essa distinção é feita de modo bastante claro na Bíblia. Posso
comparar os dois desta forma: De acordo com a Bíblia, o pecado está na carne;
enquanto os pecados estão na nossa conduta. O pecado é um princípio dentro de
nós; é um princípio da vida que temos. Os pecados são atos cometidos por nós;
são atos em nosso viver.
O
pecado é uma lei nos membros. Os pecados são transgressões que cometemos; são
atividades e atos reais. O pecado está relacionado com o nosso ser; os pecados
estão relacionados com o nosso agir. Pecado é o que somos; pecados é o que
fazemos. O pecado está na esfera da nossa vida; os pecados estão na esfera da
consciência. O pecado está relacionado com o poder da vida que possuímos; os
pecados estão relacionados com o poder da consciência. Uma pessoa é governada
pelo pecado em sua vida natural, mas ela é condenada em sua consciência pelos
pecados cometidos exteriormente. Pecado é algo considerado como um todo;
pecados são coisas consideradas caso a caso. O pecado está no interior do
homem; os pecados estão diante de Deus. O pecado requer que sejamos libertados;
os pecados requerem que sejamos perdoados.
Pecado
diz respeito à santificação; pecados se relacionam com a justificação. Pecado é
uma questão de vencer; pecados é uma questão de ter paz no coração. O pecado
está na natureza do homem; os pecados estão nos hábitos do homem.
Figurativamente falando, o pecado é como uma árvore e os pecados são como o
fruto da árvore. Podemos tornar essa questão clara com uma simples ilustração.
Ao pregar o evangelho, frequentemente comparamos o pecador a um devedor. Todos
sabemos que ser devedor não é algo agradável. Contudo devemos lembrar que uma
coisa é alguém ter dívidas; e outra coisa é ter disposição para contrair
dívidas. Uma pessoa que toma empréstimos seguidas vezes não se importa tanto
com o fato de usar dinheiro alheio. A Bíblia diz que os cristãos não devem ser
devedores (Rm 13.8); eles não deveriam tomar emprestado dos outros. Uma pessoa
com tendência a tomar emprestado pode pedir duzentos ou trezentos dólares de
alguém hoje e, depois, dois ou três mil dólares de outro amanhã. E mesmo que
seja incapaz de pagar suas dívidas e seus parentes ou amigos tenham de pagá-las
por ele, após uns poucos dias ele começará a pensar em pedir emprestado
novamente. Isso mostra que tomar emprestado é uma coisa, mas ter tendência para
o empréstimo é outra. Os pecados descritos pela Bíblia são como débitos
exteriores, enquanto pecado é como o hábito e a disposição interiores, é como a
mente que tem a inclinação de tomar emprestado facilmente. Uma pessoa com tal
mente não irá parar de tomar emprestado simplesmente porque alguém pagou seus
débitos. Pelo contrário, ela pode até mesmo tomar emprestado ainda mais, porque
os outros agora estão pagando suas dívidas. Essa é a razão de Deus não tratar
apenas com o registro dos pecados, mas também com a inclinação para o pecado.
Podemos ver a importância de lidar com os pecados, mas é igualmente importante
lidar com o pecado. Somente ao vermos ambos os aspectos é que o nosso
entendimento sobre nossa salvação será completo.
Quem é Pecador?
Agora
precisamos fazer a pergunta: Quem é pecador? Creio que alguns dos irmãos aqui
são cristãos por mais de vinte anos. Alguns até mesmo têm trabalhado pelo
Senhor por mais de quinze anos. Minha pergunta pode ser considerada como um dos
ABC’s da Bíblia.
Quem
é pecador? Creio que muitos responderão que pecador é alguém que peca. Se
verificar no dicionário, temo que seja esta a resposta que você obterá: pecador
é o que peca. Porém, se ler a Bíblia, terá de rejeitar esta definição, porque
não é que os que pecam sejam pecadores, mas pecadores são os que cometem
pecados. Que significa isso? Muitos entre nós leram o livro de Romanos. Ouvi
muitos dizerem que Paulo, para provar que no mundo todos são pecadores,
mencionou no capítulo três que todos pecaram e carecem da glória de Deus (v.
23). Deus busca justos e não encontra nenhum; Ele procura os que O entendam e
que O buscam, e não encontra nenhum; todos mentiram e se extraviaram (vs.
10-13). Portanto, parece que Paulo está dizendo que no mundo todos são
pecadores. Mas seja cuidadoso. Não seja rápido demais para dizer isso. Será que
Romanos 3 menciona de fato o pecador? Se alguém puder encontrar a palavra
pecador em Romanos 3, eu irei agradecer-lhe por isso. Onde pecador é mencionado
neste capítulo? Por favor, repare que pecador nunca é citado aqui. Alguns dizem
que por Romanos 3 falar sobre o homem pecando, isso prova que o homem é um
pecador. Contudo, Romanos 3 não menciona o pecador. É Romanos 5 que fala sobre
o pecador. Portanto, precisamos fazer a distinção: Romanos 3 fala sobre o
problema dos pecados e Romanos 5 fala sobre o problema do pecador. Tudo o que
Romanos 3 nos diz é que todos pecaram. Somente em Romanos 5 é-nos dito quem são
os pecadores.
Todos
que nasceram em Adão são pecadores. Isso é o que Romanos 5.19 nos diz. Se ler a
J. N. Darby’s New Translation (Nova Tradução da Bíblia de J. N. Darby), você
verá que ele usou as palavras tendo sido constituídos pecadores. Todos somos
pecadores por constituição. Ao escrever um currículo, há dois itens que você
deve colocar. Um é o seu local de nascimento e outro é a sua profissão. De
acordo com Deus, somos pecadores por nascimento, e por profissão somos os que
pecam. Por sermos pecadores por nascimento, seremos sempre pecadores, quer
pequemos ou não. Certa vez eu estava conduzindo um estudo bíblico com os irmãos
em Cantão. Disse-lhes que existem dois tipos de pecadores no mundo — os
pecadores que pecam e os pecadores morais. Entretanto, quer seja um ou outro
você ainda é um pecador. Deus diz que todos os que nasceram em Adão são pecadores.
Não importa que tipo de pessoa você seja; uma vez que foi gerado em Adão, é um
pecador. Se você peca, é um pecador que peca. E se você não pecou ou para ser
mais preciso, se você pecou menos, é um pecador moral ou um pecador que peca
pouco. Se é uma pessoa nobre, você é um pecador nobre. Se se considera santo,
você é um pecador santo. Em qualquer caso, ainda é um pecador. Hoje, o maior
engano entre os homens é considerar um homem como pecador somente porque ele
pecou; se não pecou, ele não é considerado um pecador. Porém, não existe tal
coisa. Pecando ou não, desde que seja homem, você é pecador. Desde que tenha
nascido em Adão, você é pecador. Um homem não se torna pecador porque peca;
pelo contrário, ele peca porque é pecador. Portanto, meus amigos, lembrem-se da
Palavra de Deus. Somos pecadores; não nos tornamos pecadores. Não precisamos
nos tornar pecadores. Certa vez eu falava com um irmão. Havia uma garrafa
térmica em frente a ele, e ele disse: “Aqui está uma garrafa térmica. Se ela
orar: ‘Eu quero ser uma garrafa térmica’, que acontecerá?” Eu disse: “Ela já é
uma. Não precisa ser uma”. O mesmo ocorre conosco, uma vez que sejamos algo,
não há necessidade de nos tornarmos este algo.
Sabemos que embora
nossos pecados sejam perdoados, todos nós permanecemos pecadores. Podemos até chamar-nos
de pecadores perdoados. Mas muitos acreditam que não mais são pecadores. Acham
que se afirmarmos que somos pecadores, isso significa que não conhecemos o
evangelho tão bem. Isso pode não ser toda a verdade. Paulo não disse que seus pecados
não foram perdoados. Mas ele disse que era um pecador (1 Tm 1.15). Você viu a
diferença aqui? Se perguntasse a Paulo se os pecados dele foram perdoados, ele
não poderia ser tão humilde a ponto de dizer não. Mas Paulo poderia
humildemente dizer que é um pecador. Ele não poderia negar a obra de Deus nele.
Contudo, ele tampouco poderia negar sua posição em Adão. Embora tenhamos
recebido a graça em Cristo, Deus não removeu completamente o problema do
pecado; nós ainda somos pecadores. O problema do pecado não será plenamente
solucionado até que o novo céu e a nova terra apareçam. Entretanto, isso não
significa que não tenhamos recebido uma salvação completa. Não me entendam mal.
Em poucos dias trataremos desse ponto. O que devemos ver clara e corretamente é
que toda pessoa no mundo é um pecador. Quer tenha pecado ou não, uma vez que
seja um ser humano, você é um pecador. Quando alguns ouvem o evangelho, gastam
o tempo todo pensando em quantos ou quão poucos pecados têm cometido. Mas
diante de Deus há somente uma questão: Você está em Cristo ou em Adão? Todos os
que estão em Adão são pecadores, e desde que seja um pecador, nada mais precisa
ser dito. Por que, então, Paulo teve de dizer-nos em Romanos 1, 2 e 3 sobre
todos os pecados que o homem comete? Estes poucos capítulos mostram-nos que
pecadores pecam. Os primeiros três capítulos de Romanos provam que um pecador é
conhecido pelos pecados que comete. Romanos 5, porém, diz-nos que tipo de
pessoa um pecador na verdade é. Uma vez fui a Jian, em Kiangsi, e uma noite
encontrei um irmão que é guarda de segurança. Ele não acreditou que eu fosse um
pregador e um obreiro do Senhor. Ali estava um problema. Sou um obreiro do
Senhor e um servo de Cristo, mas ele não acreditava. Portanto, eu tinha de
provar a ele quem eu era. Dei-lhe muitas provas. Por fim ele acreditou. Da
mesma maneira, nós já somos pecadores. Mas não nos foi provado. Os três
primeiros capítulos de Romanos provam que somos pecadores. Eles nos dão as
evidências. Mostrando-nos que pecamos de tais maneiras, esses capítulos
provam-nos que somos pecadores. O capítulo cinco diz que somos pecadores, mas
os três primeiros capítulos provam que somos pecadores.
Deixe-me
relatar outra história. Em Fukien, havia alguns ladrões e sequestradores que
haviam sido cristãos, ainda que fosse somente de nome. Embora fossem ladrões e
sequestradores, a consciência deles ainda estava de certa forma um tanto
sensível; quando percebiam que haviam sequestrado um pastor ou um pregador eles
o libertavam sem resgate. Pouco a pouco, quando alguém era sequestrado dizia
que era pregador ou pastor desta ou daquela denominação. Que fizeram os
ladrões? Após algum tempo, eles descobriram uma maneira. Toda vez que alguém se
dizia ser um pastor, os ladrões pediam-lhe que recitasse os dez mandamentos, a
oração do Senhor, e as bem-aventuranças. Os que conseguissem recitar deviam ser
pastores e, assim, deixavam-nos ir. Ouvi essa história recentemente e achei-a
muito interessante. Se você fosse um pastor, tinha de provar. Os ladrões
exigiam que aquelas pessoas lhes provassem que eram pastores. Da mesma forma,
Deus quer provar-nos que somos pecadores. Sem nos provar isso, podemos esquecer
quem somos nós. Esse é o motivo de Romanos 1—3 enumerar todos aqueles pecados.
É para nos mostrar que somos pecadores. Após tantos fatos apresentados ali,
foi-nos provado que somos pecadores. Portanto, nunca se deve pensar que são os
muitos pecados que nos fazem pecadores. Já faz muito tempo que somos pecadores.
Não nos tornamos pecadores após estes pecados serem cometidos. Precisamos
estabelecer este fundamento claramente. Hoje você pode sair à rua, encontrar
qualquer um, tomá-lo pela mão e dizer-lhe que é pecador. Se ele disser que não
pode ser um pecador porque não assassinou ninguém ou não ateou fogo na casa de ninguém,
você pode dizer-lhe que ele é um pecador que nunca matou ninguém nem ateou fogo
na casa de ninguém. Se alguém lhe diz que nunca roubou nem cometeu fornicação,
você pode dizer-lhe que ele é um pecador que nunca roubou nem cometeu
fornicação. Não importa quem encontre, você pode dizer que ele é um pecador. Em
todo o Novo Testamento, somente Romanos 5.19 nos diz quem é pecador. Todos os
outros lugares no Novo Testamento nos dizem o que o pecador faz. Somente este
único lugar nos diz quem o pecador é. Um pecador pode fazer um milhão de
coisas, mas não são essas coisas que o constituem pecador. Uma vez que seja
nascido em Adão, ele é pecador.
O Maior Pecado
Vimos
as questões do pecado, dos pecados e do pecador. Por nascimento somos
pecadores, e nossa conduta condiz com o nosso título de pecador. Há muitos
“cavalheiros” neste mundo que ocultam seus pecados e não admitem que são
pecadores. Mas isso não significa que não sejam. Somente significa que estão
disfarçados como pessoas sem pecados. Somos pecadores por nascimento e nossa
profissão e procedimento é cometer pecados. Permita-me repetir que não é porque
pecamos que nos tornamos pecadores; pelo contrário, por sermos pecadores é que
pecamos. O fato de sermos pecadores é que nos leva a pecar. Quem pode pecar
prova que é pecador. Temos alguns amigos ocidentais aqui conosco. Talvez todos
eles falem o dialeto de Xangai. Os de Xangai certamente podem falar o dialeto
deles. Mas não podemos dizer que todos os que falam o dialeto de Xangai são de
lá. Muitos têm se esforçado muito para aprender esse dialeto, mas eles não são
de Xangai. Por outro lado, pode haver alguns de Xangai que não falem o próprio
dialeto. Não podemos dizer que por não falarem o seu dialeto não sejam de
Xangai. Eles são de lá, mas são os de Xangai que não conseguem falar o dialeto
de Xangai. Entretanto, há muito poucos de Xangai que não falam o seu dialeto.
Genericamente falando, todos os de Xangai falam seu dialeto. É algo natural que
falem o dialeto de Xangai. Da mesma forma, é praticamente impossível que os que
têm uma vida de pecador não tenham um viver de pecador. Sobre os pecados que
pecadores cometem, prefiro não listá-los em detalhes, como muitos têm feito.
Gostaria apenas de brevemente mostrar o pecado do homem. Tanto no Novo como no
Antigo Testamento, existem alguns pecados que se destacam de modo especial. No
Antigo Testamento, um pecado que se destaca é o de não amar a Deus. No Novo
Testamento, há também um pecado que se destaca de modo especial: o de
recusar-se a crer no Senhor. Quando a Bíblia diz que o homem está condenado e
tornou-se pecador aos olhos de Deus, não quer dizer que ele cometeu uma
multidão de pecados os quais acarretaram a ira de Deus; pecados tais como
homicídio, fornicação, orgulho, libertinagem, prostituição, o vício do jogo e
outros tipos de pecados imundos e ocultos. Isso não é o que a Bíblia enfatiza.
O que a Bíblia considera sério é o problema que se levantou entre o homem e
Deus. O fim da lei é amar ao Senhor nosso Deus de todo o coração, de toda a
alma, de todo o entendimento e de toda a força (Mt 22.36-37; Mc 12.30). Assim,
a questão não é se alguém roubou dos outros ou se cometeu homicídio ou planejou
um incêndio. A questão não está nas concupiscências ou pensamentos ou palavras.
Pelo contrário, a questão é o problema do relacionamento entre o homem e Deus.
Dentre
todos os pecados, há um que encabeça a lista. Este pecado introduz todos os
demais. Por meio dele todos os outros se sucederam. A Bíblia diz que o pecado
entrou no mundo por um só homem (Rm 5.12). Quero perguntar-lhes: Qual foi o
pecado que este homem cometeu? Foi fornicação, roubo, homicídio, incêndio
criminoso? Não havia coisas semelhantes no Éden. Todas as coisas malignas,
imundas ou terríveis que ocorrem no mundo hoje tiveram origem naquele incidente
único envolvendo Adão. Que fez Adão? Adão não assassinou, não cometeu
fornicação, ele não cometeu nenhum dos pecados malignos e sujos do mundo de
hoje. O pecado que Adão cometeu foi simples. Adão achou que Deus estava
escondendo algo dele. Ele pensou que se comesse do fruto daquela árvore seria
como Deus. O pecado que Adão cometeu foi na verdade um problema que se
desenvolveu entre ele e Deus. Deus esperava que Adão permanecesse em sua
posição. Contudo, Adão não acreditou que aquilo que Deus lhe havia dado fosse
proveitoso para ele. Ele começou a duvidar do amor de Deus. Um problema surgiu,
então, em relação ao amor de Deus. Adão não cometeu muitos pecados nesse
incidente. Ele não se envolveu em jogatinas, não olhou para coisas malignas nas
ruas, não leu livros malignos. O pecado de Adão foi um problema que surgiu
entre ele e Deus. Em decorrência disso todos os tipos de pecados se sucederam.
Os pecados são segundo a sua espécie, e todos eles vêm um após outro.
Entretanto, o primeiro pecado não é o que imaginamos. O primeiro pecado foi o
único pecado no Antigo Testamento: o de não amar a Deus. Depois que se
desenvolveu um problema entre o homem e Deus, os problemas entre os homens
começaram a aumentar. No jardim do Éden, surgiu um problema dentro do homem; depois,
fora do jardim do Éden, o irmão mais velho assassinou o mais jovem e todos os
tipos de pecados se seguiram. Portanto, vemos que os pecados não começaram de
maneira séria e suja, como poderíamos imaginar. A Bíblia mostra-nos que os
pecados começaram com algo muito simples. Mas, na verdade, o primeiro pecado
foi o mais sério — um problema entre o homem e Deus. Quando examinamos o Novo
Testamento, vemos o Senhor Jesus dizendo muitas vezes que o que crê tem a vida
eterna (Jo 3.15-16, 36; 5.24; 6.40, 47; 11.25). Provavelmente exista cinquenta
ou mais passagens nas quais o Senhor afirma que quem crê tem a vida eterna.
Quem serão, então, os que vão perecer? Serão os assassinos que irão para o
inferno? Serão os fornicadores que irão perecer? São os que têm pensamentos
imundos e conduta inadequada os que irão para a perdição? Não necessariamente.
O Evangelho de João diz-nos repetidamente que os que não creem serão condenados
(3.16, 18). Os que não creem sempre têm sobre eles a ira de Deus (3.36). O
Senhor Jesus disse que o Espírito Santo veio para convencer o mundo do pecado,
da justiça e do juízo (Jo 16.8). Por que do pecado? Será porque você tem ido ao
cinema ultimamente? Seria porque você tem feito apostas ultimamente? Seria
porque você assassinou alguém ou provocou um incêndio? Não. “Do pecado, porque
não creem em mim” (16.9). A maior dificuldade que encontramos hoje é que a
imundícia nós consideramos pecado, mas não damos muita atenção à Palavra do
Senhor para vermos o que Deus considera pecado. O Senhor disse que quem não crê
já está condenado. O motivo de o homem cometer pecados é que ele não tem um
relacionamento adequado com o Senhor Jesus. No Antigo Testamento, quando o
homem deixou de ter um relacionamento adequado com Deus todos os tipos de
pecados foram cometidos. No Novo Testamento, quando o homem deixa de ter um
relacionamento adequado com o Senhor Jesus é que todos os tipos de pecados são
cometidos. Aqui residem todos os problemas. Enquanto está atento a esta
mensagem, você pode achar que apesar de eu ter provado que você é um pecador,
na verdade, você não cometeu muitos pecados. Mas ninguém no mundo pode dizer
que não cometeu o pecado de não amar a Deus. Tampouco existe alguém no mundo
que possa dizer que não cometeu o pecado de não crer no Senhor. Por isso,
ninguém pode dizer que não é um pecador.
Você
se lembra de Lucas 15? Ali há um filho pródigo e seu pai. O filho pródigo
deixou o pai e desperdiçou sua herança. Mas quando o filho pródigo tornou-se
pródigo? Era ele pródigo quando tinha muito dinheiro em seu bolso e vivia
prodigamente em uma terra distante? Ou tornou-se pródigo somente após ter gasto
tudo o que possuía e começou a passar fome, desejando fartar-se da comida dos
porcos? Na verdade, tornou-se um pródigo no dia em que deixou a casa de seu
pai. Antes mesmo de gastar um centavo, ele já era um pródigo. Ele não se tornou
um pródigo somente após ter gasto tudo o que tinha e estar alimentando os
porcos e a si mesmo com alfarrobas e enquanto suas vestes estavam rasgadas e
seu estômago vazio. Ele tornou-se um pródigo no momento em que deixou a casa de
seu pai. Deixe-me fazer-lhe uma pergunta. Suponha que o filho mais novo não
tivesse gasto nenhum dinheiro quando estava fora. Em vez disso suponha que ele
tivesse ganho muito dinheiro, feito negócios, fortuna e se tornado até mesmo
mais rico que seu pai. Teria sido ele ainda um pródigo? Sem dúvida que sim. Aos
olhos de seu pai, ele ainda teria sido um pródigo.
Hoje
há um conceito muito forte que deve ser desarraigado da nossa mente. Achamos
que por falhar em fazer o bem, o homem torna-se um pecador. Isso está
totalmente errado. Desde que um homem tenha-se apartado de Deus, ele é um
pecador. Mesmo que seja um homem dez vezes mais moral que outros, tão logo
esteja apartado de Deus, ele é um pecador. Você deve lembrar-se, portanto, de
que como cristãos, podemos executar todos os serviços exteriores que há para
serem feitos, e podemos cumprir todos os deveres exteriores que devam ser
cumpridos; podemos orar como sempre fizemos, podemos ler a Bíblia e frequentar
as reuniões da igreja como sempre fizemos; podemos fazer tudo o que sempre
fizemos e podemos até fazer mais. Contudo, se existe um problema entre nós e
Deus, estamos pecando. Quando o primeiro amor se vai, há um problema. Quem é
pródigo? Não é simplesmente o que desperdiçou os bens de seu pai e, sim, o que
deixou a casa de seu pai. No momento em que alguém deixa a casa de seu pai,
torna-se um filho pródigo. Mesmo que faça fortuna lá fora, ainda é um filho
pródigo. É claro que nunca haverá um pródigo que faça fortuna no mundo. Um
pródigo jamais prosperará. Um pródigo sempre desperdiçará todo o dinheiro que
tem. Deus permite que o “dinheiro” seja dissipado, de modo que o homem saiba
que não é bom apartar-se de Deus e perceba, por fim, que é um pecador. Agora
vemos como recebemos a qualificação de pecador e como nos tornamos pecadores.
Tornamo-nos pecadores desenvolvendo um relacionamento com o pecado, e cometemos
pecados desenvolvendo um relacionamento com os pecados. Há uma diferença entre
os dois. Visto que nasci em Adão e estou sob o domínio do pecado, este
tornou-se o princípio da minha vida e do meu viver e tornei-me um pecador. Por
semelhante modo, os muitos pecados individuais fora de mim fizeram de mim
alguém que comete pecados. Cometer pecados tem a ver com pecados e ser pecador
tem a ver com pecado.
Os Outros Pecados
Isso
não significa, no entanto, que os outros pecados não sejam importantes. Todos
os pecados trazem consigo a punição. No Antigo Testamento, os que não amavam a
Deus cometiam muitos outros pecados espontaneamente. No Novo Testamento, os que
não creem no Senhor também cometem muitos pecados espontaneamente. Deixar de
amar a Deus e recusar-se a crer no Senhor são os dois principais pecados. E
desses dois pecados principais são produzidos todos os outros pecados, como a
injustiça, atos malignos, ganância, perversidade, inveja, homicídio, contenda,
engano, ódio, difamação, calúnia, blasfêmia, insolência, orgulho, arrogância,
falsas acusações, desobediência aos pais, infidelidade, falta de afeição
natural e de misericórdia, amor próprio, amor ao dinheiro, ingratidão,
profanação, crueldade, desprezo ao bem, deslealdade com os outros, negligência,
amar mais os prazeres do que a Deus, ter aparência de piedade sem ter sua
realidade e, assim, por diante. Mas nenhum desses é o pecado mais sério que o
homem já cometeu, embora diante de Deus ainda sejam pecados. Infelizmente, o
homem não percebe que estes pecados são produzidos por meio de um pecado
principal. Tanto os pecadores no mundo quanto os cristãos na igreja tentam
tratar somente com esses pecados. É como se a remoção de todos esses pecados
pudesse livrar-nos completamente do problema do pecado. Contudo, o homem não
percebe que esses pecados ocupam apenas um lugar secundário na Bíblia.
Imaginemos
uma situação impossível: que aconteceria se alguém tivesse recebido graça
suficiente para tratar de vez com todos os outros pecados? Se fosse uma pessoa
vivendo no Antigo Testamento, perceberia que ainda havia o pecado de não amar a
Deus. Embora estivesse livre de todos os outros pecados, sua consciência ainda
a incomodaria. Se fosse uma pessoa vivendo no Novo Testamento, perceberia que
ainda existe o pecado de não crer no Senhor. Embora não estivesse mais
condenada pelos outros pecados, ela não se sentiria satisfeita no fundo do
coração, porque o Espírito de Deus a convenceria do seu pecado de
incredulidade. O homem perece devido à sua incredulidade. A incredulidade faz
com que a punição por todos os outros pecados recaia sobre alguém que não crê. A
razão imediata para a perdição do homem são seus muitos pecados. A razão última
é o pecado da incredulidade do homem. Por causa disso, precisamos preocupar-nos
com o pecado da incredulidade. Mas ao mesmo tempo não podemos negligenciar os
outros pecados.
O Resultado do Pecado e dos Pecados
Quando
o homem sucumbe ao poder do pecado, ele comete uma infinidade de pecados. E
quando comete todos esses muitos pecados, traz sobre si a culpa ou a condenação
pelos pecados, a sentença ou julgamento pelos pecados. Tão logo tenhamos
pecado, aparece o problema da culpa. A culpa não implica meramente num ato de
transgressão. É como um veredito na corte que declara alguém culpado ou não
culpado. É uma descrição de ser alguém legalmente pecaminoso ou não. De acordo
com a Bíblia, não somos responsáveis pelo pecado, e, sim, pelos nossos pecados.
O nosso pecado não gera o problema da culpa diante de Deus e, sim, os pecados
que cometemos geram esse problema. A Bíblia diz que se dissermos que não temos
pecado, enganamos a nós mesmos (1 Jo 1.8). Contudo, ao mesmo tempo não se exige
que assumamos a culpa pelo nosso pecado. Se confessarmos os nossos pecados,
Deus os perdoará (1 Jo 1.9). Isso nos mostra que devemos assumir a
responsabilidade dos nossos pecados. Pelo fato de haver os pecados, há a culpa.
E quando uma pessoa é culpada há o problema da punição. Isso lhe traz
inquietação na consciência e o sentimento de se estar separada de Deus. Os
pecados nos fazem pessoas condenadas diante de Deus; eles nos deixam ficar
esperando pela manifestação da ira de Deus. Somente quando alguém é perdoado é
que sua consciência fica em paz e ela tem a ousadia de se achegar a Deus. Mas
lembremo-nos de que mesmo que os muitos pecados sejam perdoados, se o problema
do pecado continuar, os muitos pecados continuarão a surgir, e o problema da
culpa continuará.
Eis
por que, após Deus ter perdoado nossos pecados, Ele prosseguirá para
libertar-nos do pecado.
A Compreensão do Homem Quanto ao Pecado e aos Pecados
Antes
de sermos salvos não sentíamos o prejuízo do pecado. Tudo o que sentíamos era o
prejuízo dos muitos pecados. Mesmo depois que nos tornamos cristãos, o que nos
entristecia eram os nossos muitos pecados, não o pecado em si. Apesar de salvos
agora, ainda podemos mentir ou perder a calma, ter ciúmes e ser orgulhosos, ou
sermos inadvertidamente relaxados com os pertences alheios. Portanto, esses
pecados individuais nos aborrecem. Que devemos fazer? Chegar diante de Deus e
pedir perdão por esses itens um a um. Podemos dizer: “Ó Deus, eu agi mal hoje.
Pequei novamente. Por favor, perdoe-me”. Se você fez doze coisas erradas ontem,
sentiu-se triste interiormente. Mas se fez somente duas coisas erradas hoje,
deve estar alegre interiormente, porque cometeu bem menos pecados hoje, e que
há menos pecados em você agora. Contudo, deixe-me lembrar-lhe de que isso é
apenas o estágio inicial de uma vida cristã. Nesta fase ficamos tristes somente
pelos muitos pecados que cometemos. Após sermos cristãos por muitos anos,
percebemos que o que nos entristece e aborrece não são os muitos pecados, mas o
próprio pecado. Por fim, descobrimos que não são as coisas que fazemos que
estão erradas, mas a nossa pessoa é que está errada. Não são as coisas que
fazemos que são más; é a nossa própria pessoa que é má. Passamos a perceber que
todas as coisas que temos feito são meras questões exteriores e que a
verdadeira coisa má é a nossa pessoa. Há um princípio natural em nós que nos
leva a pecar. As coisas exteriores podem ser de muitas categorias. Podemos
chamá-las de orgulho, ciúmes, impureza ou de quaisquer outros nomes. Pode haver
todos os tipos de pecados fora de nós. Mas dentro de nós há um único princípio,
e é algo que anseia pelos pecados. Há uma inclinação dentro de nós em direção
aos pecados. Existe algo em nosso ser que deseja estas coisas externas. Esse é
o motivo por que a Bíblia faz com que esses pecados exteriores estejam no
plural; eles são percebidos item por item. O orgulho é um, a mentira é outro, e
a fornicação é ainda outro. O orgulho é diferente do assassinato, e a mentira é
diferente da fornicação. Mas existe somente uma coisa que nos inclina a pecar,
que nos controla e nos atrai. A razão de pecarmos é que há uma lei dentro de
nós. Ela constantemente nos conduz aos pecados exteriores. Na Bíblia este
pecado está no singular. Ele não denota nossa conduta; pelo contrário, denota
nossa natureza. Este pecado está na nossa natureza e precisamos ser libertados
dele. Uma vez que a salvação de Deus para o homem é completa, Ele necessita
livrar-nos dos muitos pecados e também do pecado em si. Se Deus somente nos
livrasse dos muitos pecados, sem nos livrar do pecado, então não se poderia
dizer que a salvação de Deus é completa. Uma vez que haja duas coisas conosco,
os pecados e o pecado, precisamos de uma salvação dupla. Por um lado,
precisamos ser libertados dos muitos pecados. Por outro, precisamos ser
libertados do pecado. Nas próximas páginas veremos como, no cumprimento de Sua
salvação completa por meio da redenção de Cristo, Deus nos livra tanto dos
pecados como do pecado. Posso esclarecer melhor com uma ilustração. Os muitos
pecados são como os frutos de uma árvore. Eles existem individualmente, e uma
árvore pode produzir algumas centenas deles. É assim com os pecados. O pecado,
por outro lado, é como a própria árvore. O que nós, os pecadores, vemos com os
olhos é o fruto. Percebemos que os frutos são maus, mas não vemos que a árvore
é igualmente má. Os frutos são maus por que a árvore é má. É assim que Deus nos
ensina a entender o problema do pecado. No início Ele nos mostra os pecados
individuais. Por fim, Ele nos mostra a nossa própria pessoa. No início
precisamos de perdão porque temos cometido pecados. Mas após um tempo
compreendemos que precisamos ser libertados porque somos pecadores.
Os Três Aspectos do Pecado
A
Bíblia mostra-nos que existem três aspectos do pecado. Em outras palavras, o
pecado está em três lugares:
Primeiro, o pecado está diante de Deus;
Segundo, o pecado está na nossa consciência;
Terceiro, o pecado está na nossa carne.
A Bíblia sempre nos mostra o pecado de acordo com essas três linhas. É como um rio alimentado por três afluentes. Se quisermos conhecer o pecado de forma completa, devemos ter clareza sobre essas três linhas. Precisamos saber que nosso pecado está diante de Deus, na nossa consciência e na nossa carne. Se não tivermos clareza dessas três linhas e não formos capazes de fazer distinção entre elas, não teremos clareza acerca do problema do pecado. Se confundirmos essas três linhas, não perceberemos o ponto de vista de Deus concernente ao pecado e não compreenderemos como Deus é perfeito ao lidar com o pecado. Somente quando entendemos a necessidade é que reconhecemos o tratamento. Se não conhecermos a necessidade, presumiremos que o tratamento é desnecessário. Portanto, precisamos conhecer primeiramente o pecado para depois conhecer como a salvação de Deus é completa.
Primeiro, o pecado está diante de Deus;
Segundo, o pecado está na nossa consciência;
Terceiro, o pecado está na nossa carne.
A Bíblia sempre nos mostra o pecado de acordo com essas três linhas. É como um rio alimentado por três afluentes. Se quisermos conhecer o pecado de forma completa, devemos ter clareza sobre essas três linhas. Precisamos saber que nosso pecado está diante de Deus, na nossa consciência e na nossa carne. Se não tivermos clareza dessas três linhas e não formos capazes de fazer distinção entre elas, não teremos clareza acerca do problema do pecado. Se confundirmos essas três linhas, não perceberemos o ponto de vista de Deus concernente ao pecado e não compreenderemos como Deus é perfeito ao lidar com o pecado. Somente quando entendemos a necessidade é que reconhecemos o tratamento. Se não conhecermos a necessidade, presumiremos que o tratamento é desnecessário. Portanto, precisamos conhecer primeiramente o pecado para depois conhecer como a salvação de Deus é completa.
Deus
é um Deus justo. Na administração do universo Ele é a mais elevada autoridade.
Ele é o Governante do universo, e tem leis e ordenanças definitivas sobre os
pecados. Ele recompensa o homem de acordo com o que o homem faz, e segundo a
maneira como age. Deus lida com o mundo na Sua posição de Governante soberano.
No tempo de Adão, embora ainda não houvesse este termo, havia a lei adâmica.
Depois de Noé, embora não houvesse este termo, houve a lei de Noé. No tempo de
Moisés, o termo lei começou a ser utilizado especificamente. Foi a partir daí
que a lei foi especificamente colocada diante do homem. Quer estejamos falando
da lei explícita depois de Moisés quer da lei implícita antes do tempo de
Moisés, o veredito de Deus é que quem peca deve morrer. Ele exige que os que
transgridem a lei sejam punidos com a morte eterna. Enquanto o homem está vivo,
embora sua carne esteja vivendo, seu espírito está morrendo. No final, sua carne
também morrerá. E na eternidade, seu espírito, alma e corpo perecerão. Se o
homem não pecar, Deus não executará a punição. Contudo, se o homem pecar, Deus
certamente executará a punição. Deus decretou ordenanças e leis acerca dos
pecados do homem. Quando ocorrem pecados em nossa vida, primeiro há o registro
deles diante de Deus. Deixe-me ilustrar com um exemplo. Recentemente as pessoas
foram proibidas de estacionar seus carros onde bem quisessem. Há dois meses,
você podia estacionar seu carro em qualquer lugar. Você podia até mesmo
estacionar no lado contrário da rua e era livre para estacionar em qualquer
sentido. Mas há dois meses o departamento de trânsito proibiu essa prática.
Agora, enquanto dirige, você vê todos os carros estacionados no mesmo sentido.
Há uma nova lei que diz que todos os carros devem ser estacionados no mesmo
sentido do fluxo do trânsito. Se você não fizer isso, estará violando a lei. Se
hoje, um irmão vier à reunião de carro e estacionar no sentido contrário, um
oficial do departamento de polícia pode ver isso e registrar a infração no
departamento de polícia. A infração é registrada não na rua onde ele
estacionou, mas no departamento de polícia, mesmo que o irmão não esteja ciente
do fato. A infração pode ter ocorrido na Rua Ha-Tung, mas o local onde a
infração será registrada é o departamento de polícia do distrito de
Tsin-An-Tsu. Os incidentes de pecado ocorrem no homem, mas assim que o homem
peca, há o registro do pecado diante de Deus. Deus é o soberano Governante do
mundo. Ele tem o controle de tudo. Se no decorrer de nossa vida transgredimos a
lei, há um registro do nosso pecado diante de Deus. É por essa razão que no
Antigo Testamento frequentemente se fala de pecar contra Jeová. A razão de um
ato de pecado ser maligno e terrificante é que uma vez que um pecado é
cometido, ele é registrado diante de Deus. Desde que Deus tenha dito que quem
pecar deve morrer, Ele tem de executar Seu julgamento sobre os pecados. Não
existe maneira de escapar, pois o registro do pecado já está lá. Em segundo
lugar, o conhecimento do pecado está em nossa consciência. Embora haja um
registro do pecado diante de Deus, enquanto você não tomar conhecimento dele,
ainda será capaz de sorrir e regozijar-se em sua cadeira e agir como se nada
houvesse ocorrido. Mas uma vez que tome conhecimento daquele pecado, o pecado
que está diante de Deus entra na sua consciência. Inicialmente, esse pecado
estava somente diante de Deus; agora ele é identificado na sua consciência. Que
é a consciência? É uma “janela”. A luz de Deus resplandece em seu interior
através da janela da sua consciência. Toda vez que a luz de Deus brilha em
você, você se sente pouco à vontade e sabe que fez algo errado. Pode ser que
haja alguém aqui que estacionou o carro no sentido contrário. Pode ser que não
estivesse cônscio do seu erro e estivesse totalmente despreocupado. Mas uma vez
que eu o mencionei, ele se sentirá inquieto interiormente. Minhas palavras
moveram o registro de seu pecado do departamento de polícia para ele. Portanto,
a consciência é alterada pelo conhecimento. Sem conhecimento, você ignora seus
pecados; e desde que a consciência dentro de si não o moleste, você se sentirá
em paz. Mas assim que tiver o conhecimento e começar a perceber o ponto de
vista de Deus e da lei sobre você, sua consciência não cessará de incomodá-lo.
É verdade que todos têm uma consciência? Certamente todos têm uma consciência.
Contudo, algumas consciências estão obstruídas e a luz de Deus não pode entrar.
Algumas consciências são como uma janela de cozinha que tem uma espessa camada
de sujeira sobre ela. Por ela você pode ver a sombra de um homem movendo-se,
mas não pode ver o homem claramente. Se a sua consciência não puder receber a
luz de Deus, você estará despreocupado e alegre. Mas no momento em que ouvir o
evangelho e vir seus próprios pecados, sua posição diante de Deus e o registro
de seus pecados diante Dele, sua consciência terá um problema. Ela ficará
incomodada; não estará em paz, mas irá condená-lo.
Você
perguntará o que deve fazer para ser capaz de permanecer diante do Deus justo,
e como
ser justificado diante deste Deus tão justo. O que é surpreendente quanto à
consciência é que, na pior das hipóteses, ela pode adormecer, mas ela nunca
morrerá. Nunca pensemos que nossa consciência morreu. Ela nunca morrerá, mas
adormecerá. Entretanto, quando a consciência de muitos desperta, eles acham que
é tarde demais, que não têm mais a oportunidade de crer ou de ser salvos. Não
pense que nossa consciência nos deixará em paz. Um dia ela nos acusará. Um dia
ela falará. Muitos que pensavam assim, que faziam muitas coisas más, achavam
que escapariam. Mas, quando a consciência deles finalmente acordou, eles foram
capturados por ela.Que fazem as pessoas quando sua consciência desperta e elas
percebem que pecaram? Tão logo a consciência as capture, elas tentam fazer o
bem praticando boas obras. Qual é o propósito do homem ao tentar fazer boas
obras? O seu propósito é subornar a consciência. A consciência mostra ao homem
que ele pecou. Então, agora ele faz mais atos de caridade e faz mais boas obras
para dizer à sua consciência que, apesar de ter feito tanta coisa errada, ele
também faz todas essas coisas boas. Que significa fazer boas obras? Significa
subornar a consciência quando esta começa a acusar, de modo a abrandar sua
condenação. Essa é a forma de salvação inventada pelo homem. Mas lembre-se de
que essa é a maneira errada. Onde reside esse erro básico? O erro encontra-se
na nossa suposição de que o pecado existe apenas em nossa consciência.
Esquecemo-nos de que o pecado também existe diante de Deus. Se o pecado
existisse somente em nossa consciência, então necessitaríamos realizar, quando
muito, dez boas obras para compensar cada erro nosso. Entretanto, o problema
agora não é somente com a nossa consciência. O problema agora é o que está
diante de Deus. Eu não posso ser absolvido do julgamento por uma infração de
estacionamento proibido, apenas porque estaciono o carro corretamente uma
centena de vezes. Pecado é algo diante de Deus. Não é somente algo em nossa consciência.
Não somente precisamos lidar com o pecado em nossa consciência; também temos de
lidar com o nosso pecado diante de Deus. Somente quando tivermos lidado com o
registro do pecado diante de Deus, é que o pecado em nossa consciência poderá
ser tratado. Não podemos lidar com o problema na consciência primeiro, pois
esta poderá ser apaziguada pelo auto-engano. Mas lembre-se de que a consciência
nunca morrerá.
Talvez
você ainda não tenha visto a consciência em funcionamento. Frequentemente vejo
pessoas atormentadas pela consciência. Quando a luz de Deus vem, a consciência
fica incomodada. Se houvesse um buraco no chão, uma pessoa em tal condição se
arrastaria para dentro dele. Ela faria qualquer coisa para apaziguar sua
consciência. Ela até daria sua vida para redimir-se do pecado. Por que Judas se
enforcou? Porque sua consciência não o deixava em paz. Ele havia traído Jesus e
sua consciência não o deixava em paz. Por que Deus não precisa enviar muitos
anjos para jogar os homens no lago de fogo como se jogassem pedras? Por que não
há necessidade de Deus ter muitos anjos guardando o lago de fogo? Deus não teme
uma revolta no inferno? É bem possível que para um homem que pecou, o inferno
seja mais uma bênção do que uma maldição. Quando a consciência se levanta para
condenar um homem, ela exige que o homem seja punido. A punição não é apenas
uma exigência de Deus, mas também do homem. Antes de ver o que é o pecado, você
tem medo da punição. Mas após ver o que é o pecado, você encara a punição como
uma bênção. Você já viu criminosos ou assassinos no momento da execução? Antes
de ver seu pecado, um homem pode alegrar-se em matar. Mas depois de ver seu
pecado, ele se alegrará com sua própria execução. Portanto, o inferno não é
somente um lugar de punição. É também um lugar de fuga. É o derradeiro lugar de
refúgio. O pecado na consciência causa dor hoje e clama por punição na era
vindoura. Portanto, para Deus nos salvar, Ele precisa lidar com nossos pecados
diante Dele, e também precisa lidar com nossos pecados em nossa consciência.
Existe
um terceiro aspecto do pecado. O pecado não está somente diante de Deus e na
consciência do homem; ele está também na carne do homem. Isso é o que nos diz
Romanos 7 e 8. Que é o pecado na carne? Vimos que por um lado há o registro dos
pecados diante de Deus, e que, por outro, existe a condenação dos pecados na
consciência do homem. Agora vemos o terceiro aspecto: o poder do pecado e as
atividades do pecado na carne do homem. O pecado tem seu ofício. O pecado está
chefiando. O pecado está na carne do homem como chefe. Lembre-se de que o
pecado é o chefe chefiando na carne. Que quero dizer com isso? Os pecados
diante de Deus e na própria consciência do homem são objetivos. Para mim, o
registro dos pecados diante de Deus e a condenação dos pecados em minha
consciência são questões do meu sentimento com relação ao pecado. Mas o pecado
na carne é subjetivo. Isso significa que o pecado que está habitando em mim tem
o poder de forçar-me a pecar; ele tem o poder de incitar-me e levantar-me para
pecar. Isso é o que a Bíblia chama de pecado na carne.
Por
exemplo, pode haver um irmão que ganha cem dólares por mês, mas gasta cento e
cinquenta. Ele gosta de pedir dinheiro emprestado. É a sua disposição. Se ele
não pede emprestado, suas mãos começam a coçar, e até sua cabeça e corpo
coçarão. Depois de gastar todo seu salário, ele precisa pedir algum dinheiro
emprestado e gastá-lo para sentir-se bem. Nele podemos ver os três aspectos:
primeiro, ele tem muitos credores, que têm os registros de seus débitos;
segundo, a menos que ele não tenha conhecimento das consequências de se pedir
emprestado (neste caso ele ainda continuará tranquilamente pedindo emprestado)
ele perceberá que está em perigo e assim ficará preocupado não somente com o
registro da dívida perante seus credores, como também com a sensação
desagradável que sente em sua consciência; além disso, há o pecado em sua
carne. Ele sabe que é errado pedir emprestado, contudo sente-se inquieto a
menos que continue a fazê-lo. Algo o está induzindo e incitando, dizendo-lhe
que há meses não pede dinheiro emprestado e que deveria fazê-lo uma vez mais.
Que é isso? Isso é o pecado na sua carne. Por um lado, o pecado é um fato para
ele; esse pecado resulta em um registro do pecado diante de Deus e na sua consciência.
Por outro lado, o pecado é um poder na sua carne; ele o incita e compele, até
força e empurra-o para pecar. Se nunca resistiu ao pecado, você ainda não
sentiu o poder dele. Mas se tentar resistir ao pecado, sentirá o poder dele.
Você não sente a força da correnteza de um rio quando se deixa levar por ela.
Mas se tentar ir contra a correnteza, sentirá a força dela. A maioria dos rios
na China correm do ocidente para o oriente; assim, se você tentar viajar do
oriente para o ocidente, sentirá quão poderosos são os rios da China. Os que
mais conhecem o poder do pecado são também os mais santos, pois são os que
tentam se opor e permanecer contra o pecado. Se você se une ao pecado e segue
seu curso, certamente não conhecerá sua força. O pecado na sua carne está o
tempo todo incitando e compelindo-o a pecar,
mas somente quando você desperta para lidar com o pecado é que perceberá que é
um pecador perdido e destinado a perecer. Só então você saberá que está sem
recursos e que não tem solução para o problema do pecado em sua carne, sem
mencionar a presença dos pecados na sua consciência e o registro dos pecados
diante de Deus. Portanto, precisamos ver que quando Deus nos salvou, Ele tratou
com todos os três aspectos. O pecado interior é tratado pela cruz e pela
crucificação do velho homem. Já mencionamos isso muitas vezes, por isso não
iremos repeti-lo agora. Nosso estudo da Bíblia desta vez abrange a maneira de
Deus lidar com nossos pecados diante Dele e a condenação dos pecados em nossa
consciência. De início, mencionei o problema do pecado e dos pecados. Os
pecados referem-se aos atos pecaminosos diante de Deus e em nossa consciência.
Toda vez que a Bíblia menciona pecados, ela se refere aos atos pecaminosos
diante de Deus e em nossa consciência. Mas toda vez que a Bíblia menciona o
pecado na carne, ela usa a palavra pecado, e não pecados. Se você lembrar-se
disso não terá problemas mais tarde.
Agradecemos
a Deus porque a Sua salvação é completa. Ele tratou com nossos pecados diante
Dele. Ele também julgou nossos pecados na pessoa do Senhor Jesus. Além disso, o
Espírito Santo aplicou a obra de Cristo a nós, para que pudéssemos receber o
Senhor Jesus e ter paz em nossa consciência. Uma vez que a consciência é
purificada, não há mais percepção dos pecados. Muitas vezes ouvi cristãos
dizerem que o sangue do Senhor Jesus purifica-nos de nossos pecados.
Quando pergunto se sentem paz e alegria, eles dizem que às vezes ainda sentem a
presença de seus pecados. Isso é inconcebível. Estou alegre porque quando a
consciência é purificada, não mais precisamos estar conscientes dos pecados. Se
nossa consciência ainda está consciente dos pecados é porque ainda há registro
de pecados diante de Deus. Mas se os pecados se foram de diante de Deus, como
ainda podemos estar conscientes deles? Uma vez que os pecados diante de Deus
foram tratados, os pecados em nossa consciência também devem ter sido tratados.
Assim sendo, não precisamos mais estar conscientes de nossos pecados.
O Amor, a Graça e a Misericórdia de Deus
Neste
livro consideraremos o amor e a graça de Deus, e também trataremos brevemente
da questão da misericórdia de Deus. Por várias vezes o Antigo Testamento diz
que a salvação pertence a Jeová. Isso indica que a salvação não tem origem em
nós. Uma vez que o pecado é cometido pelo homem, poderíamos naturalmente pensar
que a salvação também é originária do homem. Todavia nem sequer o pensamento da
nossa salvação proveio de nós; pelo contrário, originou-se em Deus. Embora o
homem tenha pecado e esteja destinado à perdição, não é sua intenção buscar a
salvação. Embora tenha pecado e deva perecer, foi Deus quem começou a pensar em
salvá-lo. Portanto, o Antigo Testamento menciona repetidas vezes que a salvação
pertence a Jeová. O motivo disso é que Deus é quem deseja salvar-nos. O homem
nunca quis salvar-se. Por que a salvação pertence a Jeová? Por que Deus está
interessado no homem? De um modo genérico, podemos dizer que é porque Deus é
amor. Mas, mais especificamente, é porque Deus ama o homem. Se Deus não amasse
o homem, Ele não precisaria salvá-lo. A salvação se cumpriu porque, por um
lado, o homem pecou e, por outro, Deus amou. Se o homem não tivesse pecado, não
haveria lugar nem maneira de o amor de Deus ser manifestado. E se o homem
tivesse pecado, mas Deus não tivesse amado, nada tampouco teria sido
concretizado. A salvação é cumprida e o evangelho é pregado porque, por um
lado, Deus amou e, por outro, o homem pecou.
O
pecado do homem nos mostra a necessidade do homem. O amor de Deus nos mostra a
provisão de Deus. Se houver somente a necessidade sem a provisão, nada pode ser
feito. Mas se existe a provisão sem a necessidade, aquela será desperdiçada. A
salvação é cumprida e o evangelho é pregado devido aos dois maiores fatos do
universo. O primeiro é que o homem pecou e o segundo é que Deus ama o homem.
Estes dois fatos são imutáveis. São dois fatos enfatizados na Bíblia. Se você
derrubar qualquer uma das extremidades, a salvação se perderá. Não há
necessidade de que ambas as extremidades sejam derrubadas. Uma vez que uma
delas se vai, não haverá possibilidade de a salvação ser realizada. Deus tem o
amor e o homem tem o pecado. Por haver estes dois fatos, existe a salvação e
existe o evangelho.
O Amor de Deus
A
Bíblia nunca deixa de chamar a atenção ao amor de Deus. Desta vez, em nosso
estudo da Bíblia, trataremos sobre a verdade do evangelho apenas de maneira
resumida. Mencionaremos muitas coisas, mas não as consideraremos em detalhes.
Nesta noite não poderei tratar de cada aspecto do amor de Deus encontrado na
Bíblia. Posso mencionar apenas brevemente essa questão. Devemos considerar três
aspectos do amor de Deus. Primeiro, Deus é amor. Segundo, Deus ama o homem. E,
terceiro, a expressão do amor de Deus está na morte de Cristo.
Deus é Amor
Vejamos
o primeiro ponto: Deus é amor. Isso está registrado em 1 João 4.16. Aqui não
diz que Deus ama. Tampouco diz que Deus poderia amar ou que Deus pode amar ou
que Deus amou ou amará. Pelo contrário, diz que Deus é amor. Que significa
dizer que Deus é amor? Significa que o próprio Deus, Sua natureza e Seu ser, é
amor. Se pudéssemos dizer que Deus tem uma substância, então a substância de
Deus é amor. A maior revelação da Bíblia é que Deus é amor. Essa é a revelação
de que o homem mais necessita. O homem tem muitas suposições e teorias sobre
Deus. Ponderamos todo o tempo sobre que tipo de Deus nosso Deus é, que tipo de
coração nosso Deus tem, quais as Suas intenções com relação ao homem, a que Ele
é semelhante. Você pode perguntar a alguém sobre a ideia dele a respeito de
Deus, e ele lhe dará o seu conceito. Ele achará que Deus é desse ou daquele
tipo de Deus. Todos os ídolos no mundo e todas as imagens feitas pelo homem são
produto da imaginação do homem, que acha que Deus é um Deus aterrador ou um
Deus severo. Ele concebe Deus desta ou daquela maneira. O homem está sempre
tentando analisar e investigar a que Deus se assemelha. A fim de corrigir as
diferentes suposições que o homem tem sobre Deus, Ele se manifesta na luz do
evangelho e mostra ao homem que Ele não é um Deus inacessível ou inatingível.
Afinal, Deus é o quê? Deus é amor. Esta afirmação não estará clara para você a
menos que eu dê uma ilustração. Suponha que exista aqui uma pessoa paciente. A
paciência está ali, aconteça o que acontecer, não importando quão difíceis ou quão
más sejam as condições. Não podemos dizer que tal pessoa tenha agido
pacientemente; o advérbio pacientemente não pode ser usado para descrevê-la.
Nem podemos dizer que ela seja paciente, usando um adjetivo. Devemos dizer que
ela é a própria paciência. Talvez não nos refiramos a ela pelo seu nome. Em vez
disso, às ocultas, poderíamos dizer que a Paciência chegou ou que a Paciência
falou. Ao dizermos que Deus é amor, queremos dizer que amor é a natureza de
Deus; Ele é amor de dentro para fora. Portanto, não diríamos que Deus é
amoroso, usando um adjetivo ou que Deus ama, usando um verbo. Pelo contrário,
diríamos que Deus é amor, aplicando o substantivo a Ele.
Em
nosso amigo Paciência não conseguimos encontrar precipitação; ele é a própria
paciência; não é apenas paciente. Ele é simplesmente um amontoado de paciência.
Você acha que nessa pessoa poderia haver precipitação? Poderia ele perder a
calma? Poderia ele trocar palavras ásperas com os outros? É impossível que ele
tome tais atitudes, pois em sua natureza não existe o elemento para fazê-las.
Não há algo como mau humor em sua natureza. Não há algo como precipitação em
sua natureza. Ele é simplesmente a paciência. O mesmo ocorre com Deus, que é
amor. Deus como amor é a maior revelação na Bíblia. Para todo cristão, a maior
coisa a saber na Bíblia é que Deus é amor. Para Deus é impossível odiar. Se
Deus odiar, não apenas terá um conflito com quem quer que Ele odeie, mas também
terá um conflito Consigo mesmo. Se Deus odiasse qualquer um de nós aqui hoje,
Ele não teria problema só com essa pessoa; Ele teria problema Consigo mesmo.
Deus teria de criar um problema Consigo mesmo antes que pudesse odiar ou fazer
algo de maneira que não fosse em amor. Deus é amor. Embora essas três palavras
sejam muito simples, elas nos dão a maior revelação. A natureza de Deus, a
essência da vida de Deus, é simplesmente o amor. Ele não pode fazer nada de
outra maneira. Ele ama e, ao mesmo tempo, Ele é amor.
Se
você é um pecador, pode estar querendo saber o que deve fazer antes que Deus
venha amá-lo. Muitas pessoas não conhecem o pensamento de Deus para com elas.
Elas desconhecem o que Deus está pensando ou que intenções Ele tem. Muitos
acham que deveriam fazer algo ou sofrer ou ser muito conscienciosos antes que
pudessem agradar a Deus. Entretanto, somente os que estão em trevas e que não
conhecem a Deus pensam dessa forma. Se não houvesse evangelho, você seria capaz
de pensar assim. Mas, agora que o evangelho está aqui, você não pode mais
pensar dessa maneira, pois o evangelho diz-nos que Deus é amor. Nós, seres
humanos, somos apenas ódio. É extremamente difícil amarmos. Para Deus
é igualmente difícil odiar. Você pode achar que é difícil amar e que não sabe
como amar os outros. Mas é impossível Deus odiar. Você não tem jeito para amar e
Deus não tem jeito para odiar. Deus é amor, e odiar para Ele é agir
contrariamente à Sua natureza, o que é impossível que Ele faça.
Deus Amou o Mundo de Tal Maneira
Isso
não é tudo. O próprio Deus é amor, mas quando esse amor é aplicado a nós,
descobrimos que “Deus amou ao mundo de tal maneira” (Jo 3.16). “Deus é amor”
fala da Sua natureza, e “Deus amou ao mundo de tal maneira” fala da Sua ação. O
próprio Deus é amor; portanto, aquilo que provém Dele deve ser amor. Onde há
amor, deve também haver o objeto daquele amor. Após mostrar-nos que Ele é amor,
Deus imediatamente nos mostra que Ele ama ao mundo. Deus não somente nos amou,
mas também enviou Seu amor. Deus não podia deixar de enviar Seu amor. Ele não
podia deixar de amar ao mundo. Aleluia! O maior problema que o mundo tem é
pensar que Deus sempre nutre más intenções contra o homem. O homem acha que
Deus faz exigências severas, e que é rigoroso e mesquinho. Uma vez que o homem
tem dúvidas quanto ao amor de Deus, ele também duvida que Deus amou ao mundo.
Contudo, uma vez que Deus é amor, Ele ama ao mundo. Se a Sua natureza é amor,
Ele não pode portar-se em relação ao homem de nenhum outro modo a não ser em
amor. Ele sentir-se-ia desconfortável se não amasse. Aleluia! Isso é um fato!
Deus é amor. Ele não pode fazer nada a não ser amar. Deus é amor, e o que se
segue espontaneamente é que Deus amou ao mundo.
Podemos
culpar-nos por nossos pecados, por sermos suscetíveis à tentação de Satanás,
por sermos enredados pelo pecado. Mas não podemos duvidar do próprio Deus. Você
pode responsabilizar-se por cometer um pecado, por ter falhado, por sucumbir à
tentação. Contudo, se duvida do coração de Deus para você, não estará agindo
como um cristão, pois duvidar do coração de Deus para você é contradizer a
revelação do evangelho. Não posso afirmar que você jamais fracassará novamente.
Tampouco posso afirmar que não mais pecará. Talvez você fracasse e peque
novamente. Mas, por favor, lembre-se de que você falhar ou pecar é uma coisa,
mas o coração de Deus para você é outra. Você nunca deve duvidar do sentimento
de Deus simplesmente porque falhou ou pecou. Embora possa pecar, falhar, Deus
não muda Sua atitude com você, pois Deus é amor e Ele ama ao mundo. Isso é um
fato imutável na Bíblia. Do nosso lado mudamos e transformamo-nos. Mas pelo
lado do amor de Deus, não há mudança. Muitas vezes o seu amor pode mudar ou
tornar-se frio. Contudo, isso não significa que o amor de Deus é afetado. Se
Deus é amor, não importa como você O teste, o que provém Dele é invariavelmente
amor. Se houver um pedaço de madeira aqui, não importa como o golpeie, você
sempre obterá o som de madeira. Se golpeá-lo com um livro, ele lhe dará o som
de madeira. Se golpeá-lo com a palma da mão, ainda assim ele dará a você o som
de madeira. Se golpeá-lo com outro pedaço de madeira, ele novamente lhe dará o
som de madeira. Se Deus é amor, não importa como você O “golpeie” —
rejeitando-O, negando-O ou deixando-O de lado — Ele ainda é amor. Uma coisa é
certa: Deus não pode negar a Si mesmo; Ele não pode contradizer-se. Uma vez que
somos o próprio ódio, é absolutamente natural que odiemos. E uma vez que Deus é
amor, é absolutamente natural que Deus ame. Ele não pode mudar a própria
natureza. E uma vez que a natureza de Deus não pode ser mudada, Sua atitude com
você não pode ser mudada. Dessa forma vemos que Deus ama ao mundo.
A Expressão do Amor de Deus
O
assunto todo termina com Deus amando ao mundo? “Deus é amor” fala da natureza
de Deus; fala do próprio Deus. “Deus amou ao mundo de tal maneira” fala da ação
de Deus. Mas o amor de Deus para conosco tem uma expressão. Que é essa
expressão do Seu amor? Romanos 5.8 diz: “Mas Deus prova o seu próprio amor para
conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”. O
amor de Deus tem uma expressão. Se amo uma pessoa e simplesmente lhe digo que a
amo, esse amor ainda não está completo. A menos que o amor seja expresso, ele
não é completo. Não existe amor no mundo que não tenha uma expressão. Se há
amor, ele deve ser expresso. Se um amor não é expresso, não pode ser
considerado como amor. O amor é muitíssimo prático. Ele não é vão e tampouco um
simples assunto verbal. O amor é expresso por meio de ações. Se você põe uma
bola sobre uma superfície desnivelada, pode estar certo que algo irá ocorrer;
ela terminará por rolar abaixo. O mesmo ocorre com o amor. Você pode estar
certo de que terá uma expressão. Já que Deus ama ao mundo, Ele tem de estar
preocupado com a necessidade do homem. Portanto, Ele deve fazer algo pelo
homem. Somos pecadores. Não temos outra escolha senão ir para o inferno, e não
há nenhum outro lugar para estarmos senão no lugar de perdição. Mas Deus nos
amou, e Ele não estará satisfeito até que nos tenha salvado. Quando Deus diz:
“Eu amo você”, Seu amor se aproximará para carregar todos os nossos fardos e
remover todos os nossos problemas. Já que Deus nos ama, Ele deve prover uma
solução ao problema de pecados; Ele deve prover a salvação que nós pecadores
precisamos. Por essa razão, a Bíblia mostrou-nos este grandioso fato: O amor de
Deus é manifestado na morte de Cristo. Uma vez que somos pecadores e incapazes
de salvar a nós mesmos, Cristo veio morrer de modo a solucionar o problema do
pecado por nós. Seu amor cumpriu algo substancial, e isso é posto diante de
nós. Agora podemos ver Seu amor de uma forma substancial. Seu amor já não é
meramente um sentimento. Ele tornou-se um ato totalmente manifestado. Nessa
grande questão do amor de Deus, devemos atentar para três coisas: a natureza do
amor de Deus, a ação do amor de Deus e a expressão do amor de Deus. Agradecemos
e louvamos a Deus! Seu amor não é somente um sentimento em Seu interior; é
também uma ação e até mesmo uma expressão e manifestação. Seu amor fê-Lo
realizar o que não podemos por nós mesmos. Uma vez que Ele é amor e amou ao
mundo, a salvação foi produzida. Uma vez que o homem tem pecado e uma vez que
Deus é amor, muitas coisas acontecem. Se você não é pobre, não terá necessidade
de mim. Por outro lado, se eu não o amo, mesmo que você seja extremamente
pobre, eu não me preocuparei. A situação hoje é que o homem pecou e Deus amou;
portanto, coisas começam a ocorrer. Aleluia! muita coisa está acontecendo
porque o homem pecou e Deus amou. Quando você reúne as duas coisas, o evangelho
vem à existência.
A Graça de Deus
Contudo,
irmãos e irmãs, o amor de Deus não para aqui. Uma vez que Deus é amor, a
questão da graça surge. É verdade que o amor é precioso, mas o amor deve ter
sua expressão. Quando o amor é expresso, torna-se graça. Graça é amor expresso.
O amor é algo em Deus. Mas quando esse amor vem até você, torna-se graça. Se
Deus for somente amor, Ele é muito abstrato. Mas agradecemos ao Senhor porque
embora o amor seja algo abstrato, com Deus ele é imediatamente transformado em
algo concreto. O amor interior é abstrato, mas a graça exterior deu-lhe
substância. Por exemplo, você pode ter pena de um indigente, pode amá-lo e ter
simpatia por ele. Mas se não lhe der comida e roupa, o máximo que você poderia
dizer é que o ama. Não poderia dizer que você é graça para ele. Quando poderá
dizer que tem graça para com ele? Quando lhe der um prato de arroz ou uma peça
de roupa ou algum dinheiro, e quando a comida, roupa ou dinheiro o alcançar,
seu amor torna-se graça. A diferença entre amor e graça reside no fato de que o
amor é interior e graça é exterior. Amor é principalmente um sentimento
interno, enquanto graça é um ato externo. Quando o amor é transformado em Ação,
torna-se graça. Quando a graça volta a ser sentimento, ela é amor. Sem o amor,
a graça não pode vir à existência. A graça existe porque o amor existe. A
definição de graça não é apenas um ato de amor. Devemos acrescentar algo mais a
isso. Graça é um ato de amor para com o necessitado. Deus ama ao Seu Filho
unigênito. Mas não existe o elemento graça nesse amor. Ninguém pode dizer que
Deus trata Seu Filho com graça. Deus também ama os anjos, mas isso tampouco
pode ser considerado como graça. Por que não é graça o amor do Pai para com o
Filho e o amor de Deus para com os anjos? A razão é que não há perdas ou faltas
envolvidas. Há somente amor; não existe a ideia de graça. Somente quando há
perdas e faltas, quando não existe maneira para resolvermos nossos problemas
por nós mesmos, é que o amor torna-se real como graça. Visto que somos
pecadores, somos os que têm problemas, e não temos como solucioná-los. Mas Deus
é amor e Seu amor é manifestado a nós como graça.
Portanto,
quando o amor flui no mesmo nível, ele é simplesmente amor. Mas quando ele flui
para baixo, é graça. Por isso, os que nunca estiveram em uma situação miserável
jamais podem receber graça. O amor também pode fluir para um nível mais
elevado. Mas quando isso ocorre, não é graça. O amor também pode fluir entre
níveis iguais. Quando isso ocorre, também não é graça. Somente quando o amor
flui em direção inferior é graça. Se quer estar acima de Deus ou quer ser igual
a Deus, você nunca verá o dia da graça. Somente os que estão abaixo de Deus
podem ver o dia da graça. Isso é o que a Bíblia nos mostra acerca da diferença
entre amor e graça. Embora a Bíblia mencione o amor do Senhor Jesus, ela dá
maior atenção à graça do Senhor Jesus. A Bíblia também fala da graça de Deus,
mas ela dá maior atenção ao amor de Deus. Não estou dizendo que não existe o
amor do Senhor Jesus e a graça de Deus na Bíblia. Mas a ênfase na Bíblia está
no amor de Deus e na graça do Senhor Jesus. Como foi que Paulo saudou a igreja
em Corinto? “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do
Espírito Santo sejam com todos vós” (2 Co 13.13). Você não pode mudar a
sentença para ler: “A graça de Deus, e o amor do Senhor Jesus Cristo, e a
comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós”. Você não pode fazer isso,
porque a ênfase da Bíblia está no amor de Deus e na graça do Senhor Jesus. Por
que é assim? Porque foi o Senhor Jesus quem cumpriu a salvação. Foi Ele quem
concretizou o amor e efetuou a graça. O amor
de Deus tornou-se graça por meio da obra do Senhor Jesus. Portanto, a Bíblia
diz-nos que a lei foi dada por intermédio de Moisés, mas a graça veio por meio
de Jesus Cristo (Jo 1.17).
A Misericórdia de Deus
Agradecemos
ao Senhor porque no amor de Deus não há apenas a graça, há também outro grande
item: a misericórdia de Deus. A Bíblia também dá muita ênfase à misericórdia.
Mas temos de admitir que misericórdia é mais precisamente uma palavra do Antigo
Testamento, da mesma forma que graça é do Novo Testamento. Isso não significa
que você não encontrará misericórdia no Novo Testamento. Mas se tiver uma
referência ou uma concordância bíblica, você encontrará misericórdia muito mais
frequentemente no Antigo Testamento. Misericórdia é algo do Antigo Testamento,
assim como graça é algo do Novo Testamento.
O
canal para o amor fluir é ou a graça ou a misericórdia. Misericórdia é para
questões negativas, enquanto graça é para questões positivas. Misericórdia está
relacionada com a condição presente, e graça está relacionada com a condição
futura. Presente, e graça fala
da condição radiante em que você será salvo no futuro. O sentimento que Deus
tem para conosco quando somos pecadores é misericórdia. A obra que Deus realiza
em nós para fazer-nos Seus filhos é graça. A misericórdia surge da nossa
condição existente; graça surge da obra que iremos receber. Não sei se você tem
clareza disso. Suponha que haja uma pessoa necessitada aqui conosco. Você a ama
e tem pena dela. Você se sente triste pela sua situação difícil. Se não a
amasse, não sofreria nem se preocuparia com ela. Mas fazendo assim você está
tendo misericórdia dela. Contudo, essa misericórdia é negativa. Sua
misericórdia está na condolência pela condição atual dessa pessoa. Mas
quando a graça é efetivada? Ela é efetivada na hora em que essa pessoa é
resgatada da sua condição pobre para uma posição nova, para uma esfera nova e
para um ambiente novo. Somente então seu amor por ela torna-se graça. É por
isso que digo que misericórdia tem sentido negativo e é para hoje, enquanto
graça tem sentido positivo e é para o futuro. O futuro de que estou falando é o
futuro nesta era, e não o futuro na era vindoura. Não quero dizer que o Antigo
Testamento fale somente sobre misericórdia. O Antigo Testamento também fala
sobre graça. Não é verdade que não precisamos mais de misericórdia. Não, nós
ainda precisamos da misericórdia. Deus foi misericordioso na época do Antigo
Testamento, porque Sua obra ainda não estava completa naquela época. Portanto,
o Antigo Testamento estava repleto de misericórdia. Deus mostrou misericórdia
por quatro mil anos. Mas hoje, na era do Novo Testamento, temos graça porque o
Senhor Jesus cumpriu Sua obra. Ele veio para carregar nossos pecados. Portanto,
o que recebemos hoje não é misericórdia, mas graça. Aleluia! Hoje não é dia da
misericórdia, mas da graça.
Se
houvesse apenas misericórdia, poderíamos ter somente esperança. No Antigo Testamento,
havia apenas esperança; portanto, o Antigo Testamento fala de misericórdia. Mas
agradecemos ao Senhor, hoje obtivemos o que era esperado. Não há necessidade de
esperarmos mais.
A
misericórdia vem do amor e resulta em graça. Se a misericórdia não viesse do
amor, ela não resultaria em graça. Uma vez que ela se origina no amor, ela
chega à graça. Nos Evangelhos há o relato de um cego recebendo visão (Mc
10.46-52). Ao encontrar o Senhor, ele não disse: “Senhor, ama-me!” ou “Senhor,
sê benévolo para comigo!” Pelo contrário, ele disse: “Filho de Davi, tem
misericórdia de mim!” (v. 48). Ele pediu misericórdia por causa da sua situação
presente, da sua dificuldade presente e da sua dor presente. Ele sabia que se o
Senhor Jesus se compadecesse dele, Ele não se limitaria a mostrar-lhe
misericórdia; Ele certamente faria algo. No Novo Testamento, há também alguns
lugares em que a misericórdia é mencionada. Na maioria dos casos, a
misericórdia é mencionada em referência à situação no momento. Alguém poderia
perguntar: “Visto que o amor de Deus é tão precioso, por que precisa existir
misericórdia? O amor é muito bom como fonte, e a graça é também muito boa como
resultado. Por que, então, é necessária a misericórdia?” Porque o homem é
necessitado. Não temos coragem de ir a Deus e pedir por Seu amor. Somos da
carne e não conhecemos Deus suficientemente. Embora Deus se tenha revelado a
nós na luz, ainda não ousamos achegar-nos a Ele. Sentimos que é impossível ir a
Deus e pedir amor. Ao mesmo tempo, não possuímos fé suficiente para ir a Ele e
pedir graça, dizendo-Lhe que precisamos de tal e tal bênção. Não temos como
pedir o amor de Deus e não temos fé suficiente para pedir a graça de Deus. Mas
agradecemos ao Senhor. Não temos apenas amor e graça; também temos Misericórdia.
O amor é manifestado nesta misericórdia. Por Deus ser misericordioso, se você
ouve o evangelho e ainda é incapaz de crer, você pode clamar: “Filho de Davi,
tem misericórdia de mim!” Você pode ter medo de pedir outras coisas, mas não
precisa ter medo de pedir essa única coisa. Não ouso pedir ao Senhor que seja
benévolo comigo. Não ouso pedir-Lhe que me ame. Mas posso pedir-Lhe que seja
misericordioso para comigo. Por outras coisas não ousamos pedir. Mas podemos
ser ousados para pedir misericórdia. Deus se alegra com isso. Deus colocou Seu
amor entre nós para que tivéssemos o direito de vir a Ele. Contudo, se houvesse
apenas amor, ainda nos sentiríamos atemorizados de vir a Deus. Uma vez que Deus
também é misericordioso, somos capazes de vir a Ele. Não ouso pedir a Deus que
me ame nem ouso pedir-Lhe que mostre graça. Mas posso pedir misericórdia a
Deus. Posso ao menos pedir isso. No ano passado conheci um homem que estava
muito velho e sofria de séria enfermidade. Ao ver-me, chorou. Ele contou-me que
não estava triste com Deus, mas sem dúvida estava com muita dor. Eu disse-lhe
que deveria pedir a Deus para amá-lo e ser benévolo para com ele. Ele disse que
não poderia fazer isso. Quando perguntei-lhe por que não, ele respondeu que por
sessenta anos havia vivido para si mesmo e não para Deus. Agora que estava
morrendo, ele se envergonharia de pedir que Deus o amasse e fosse bondoso para
com ele. Se não tivesse estado tão distante de Deus, se tivesse se aproximado
mais de Deus nas últimas poucas décadas, se tivesse desenvolvido certa afeição
por Deus, teria sido mais fácil para ele pedir amor e graça. Mas por ter estado
longe de Deus toda sua vida, como podia pedir a Deus que o amasse enquanto ele
jazia em seu leito de morte? Não importando minha persuasão, ele não
acreditaria em minhas palavras. Eu disse-lhe que Deus podia conceder-lhe graça,
que Ele podia ser benévolo com ele e podia amá-lo. Mas ele simplesmente não
conseguia crer nisso. Fui vê-lo muitas vezes, mas não pude convencê-lo. Então
orei: “Ó Deus, eis aqui um homem que não crê em Ti, tampouco crê no Teu amor.
Não tenho como ajudá-lo. Por favor, conceda-lhe um caminho na sua última hora”.
Mais tarde senti que não deveria falar-lhe sobre graça nem sobre amor, mas
somente sobre misericórdia. Com alegria fui até ele de novo e lhe disse: “Você
deve esquecer-se de tudo agora. Esqueça-se do amor de Deus ou da graça de Deus.
Você deve ir a Deus e dizer-Lhe: ‘Deus! estou sofrendo. Não tenho como
prosseguir. Tem misericórdia de mim’”. Imediatamente ele concordou. E tão logo
concordou, sua fé veio e ele orou: “Deus, agradeço-Te porque Tu és um Deus
misericordioso. Estou fraco e sofrendo. Tem misericórdia de mim”. Aqui você vê
uma pessoa sendo trazida à presença do Senhor. Ele percebeu sua situação
carente e pediu misericórdia. Na sua presente condição, ele pediu a Deus que
fosse misericordioso para com ele.
Agora
vejamos alguns versículos. Efésios 2.4-5 diz: “Mas Deus, sendo rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos
em nossos delitos”. Paulo disse que Deus era rico em misericórdia por causa de
algo. Esse algo é Seu grande amor com que nos amou. Sem amor não haveria
misericórdia. Em que situação foi Ele misericordioso para conosco? Ele foi
misericordioso para conosco quando estávamos mortos em nossos delitos. Aquilo
teve a ver com nossa infeliz situação presente. Por estarmos mortos em pecados,
Ele teve misericórdia de nós. Ele teve misericórdia de nós baseado em Seu amor
por nós. Que acontece após a misericórdia? O versículo 8 prossegue dizendo-nos
que Ele nos salvou pela graça. Portanto, a misericórdia foi-nos mostrada porque
estávamos em uma situação de mortos em nossos delitos; então, a graça foi-nos
dada para nossa salvação, indicando que recebemos uma nova posição e entramos
numa nova esfera. Agradecemos a Deus porque não há somente amor e graça, mas
também grandiosa misericórdia.
Em
1 Timóteo 1.13 Paulo diz: “A mim que noutro tempo era blasfemo e perseguidor e
insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na
incredulidade”. Paulo explica aqui como obteve misericórdia. O fato de obter
misericórdia tinha muito a ver com a história de sua vida. Tinha a ver com o
fato de ser ele um blasfemo, um perseguidor e uma pessoa insolente. Antes de
ser salvo, ele estava na condição de blasfemo, perseguidor, insolente,
ignorante e incrédulo. Enquanto estava em tal condição, Deus teve misericórdia
dele. Assim, você pode ver que misericórdia tem a ver com as situações duras e
difíceis do nosso passado. Graça, por outro lado, tem a ver com os aspectos
positivos relacionados conosco. Os dois devem ser distintos e não devem ser
considerados iguais. Tito 3.5 diz: “Não por obras de justiça praticadas por
nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou”. Não há justiça em nós. Enquanto
estávamos sem justiça e numa situação de sofrimento e sem esperança, Deus teve
misericórdia de nós. Graças ao Senhor que existe a misericórdia! Vimos
anteriormente que a misericórdia origina-se no amor e termina na graça. Quando
a misericórdia se estende, somos salvos. Ele teve misericórdia de nós na
condição em que estávamos, e como resultado fomos salvos. Romanos 11.32 diz:
“Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia
para com todos”. Por que Deus encerrou a todos na desobediência? Foi para que
pudesse mostrar misericórdia a todos. Deus permitiu que todos se tornassem
desobedientes e encerrou a todos na desobediência, não com o propósito de
fazê-los desobedientes, mas a fim de mostrar misericórdia para com todos. Após
ter mostrado misericórdia, Seu próximo passo foi salvá-los. Portanto, a
misericórdia tem a ver com sua condição, não a condição após você ter-se
tornado um cristão, mas com a sua condição antes de ser salvo. Porém, graças a
Deus que Ele não parou na misericórdia; com Ele há também a graça.
Existe
um lugar na Bíblia que nos mostra claramente que nossa regeneração é
proveniente da misericórdia. A Primeira Epístola de Pedro 1.3 diz: “Bendito o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua muita misericórdia,
nos regenerou para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus Cristo
dentre os mortos”. Toda a obra de Deus na graça foi planejada de acordo com Sua
misericórdia em amor. Sua graça é dirigida por Sua misericórdia, e Sua
misericórdia é dirigida por Seu amor. É segundo a Sua grande misericórdia que
Deus nos regenerou para uma viva esperança mediante a ressurreição de Jesus
Cristo dentre os mortos. Assim sendo, tanto a regeneração como a viva esperança
estão relacionadas com a misericórdia. Por existir a misericórdia, existe a
graça. Judas 21 diz: “Guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia de
nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna”. Este versículo mostra-nos que
hoje devemos manter-nos no amor de Deus. Até que o Senhor venha novamente, isto
é, até que Ele apareça a nós, devemos aguardar a Sua misericórdia para a vida
eterna. Antes de sermos arrebatados, devemos aguardar a Sua misericórdia. Hoje,
enquanto vivemos nesta terra, recebemos não apenas misericórdia, mas também
graça. Agradecemos ao Senhor que fomos salvos e pertencemos a Deus, contudo
ainda há um problema. O nosso corpo ainda não está redimido. Embora não sejamos
mais do mundo, ainda estamos no mundo. É bom não pertencermos ao mundo, mas
isso não é suficiente. Cedo ou tarde, os israelitas tiveram de deixar o Egito.
Cedo ou tarde, Noé teve de deixar a arca para entrar no novo período. Cedo ou
tarde, Ló teve de deixar Sodoma. E virá o dia em que os cristãos terão de
deixar o mundo. Enquanto estou sendo atacado neste mundo, espero a misericórdia
do Senhor Jesus. Enquanto estou sendo enredado pelo pecado neste mundo, espero
a misericórdia do Senhor Jesus. Enquanto estou sendo esbofeteado por Satanás
neste mundo, aguardo a salvação do Senhor. Assim, enquanto estamos vivendo
nesta terra e mantendo-nos no amor de Deus, esperamos o dia em que o Senhor
mostrará misericórdia a nós. Portanto, é ainda necessário que a Sua
misericórdia esteja sobre nós. Temos de aguardar a Sua misericórdia até o dia
de sermos arrebatados.
A
Bíblia mostra-nos algo mais sobre misericórdia e graça. Tanto no Antigo como no
Novo Testamento, a palavra misericórdia é sempre precedida por mostrar ou por
ter. Misericórdia é algo que é mostrado, e àqueles para os quais ela é mostrada
diz-se que receberam misericórdia. Por que a Bíblia diz “mostrar misericórdia”
em vez de “dar misericórdia”? Porque a misericórdia não requer o nosso fazer.
Graça, por outro lado, requer algum feito. Quando obtemos graça, obtemos algo
definido. Mas ao recebermos misericórdia, é somente um recebimento; tudo o que
temos a fazer é receber. Hebreus 4.16 exorta-nos a vir constantemente ao Senhor
a fim de orar. Ao virmos orar diante do Senhor, recebemos misericórdia e
achamos graça para socorro em ocasião oportuna. Algumas versões usam a
expressão obter misericórdia. Mas na verdade, na linguagem original, a palavra
não é obter. Obter é algo muito ativo. No grego, a palavra é mais passiva. Ela
deveria ser traduzida para “receber”. Recebemos misericórdia e achamos graça.
Que é receber? Receber significa que tudo está aqui; está sempre pronto para
uso a qualquer tempo. Que é graça? Graça é algo que você tem de “achar”, pois é
algo que Deus fará. Graça é algo positivo; é algo para ser elaborado. É por
isso que se diz “receber” misericórdia e “achar” graça. Você pode ver que a
Bíblia é muito clara acerca da misericórdia e da graça. Não há confusão entre
ambas.
A Natureza da Graça
No
primeiro capítulo, tratamos do problema do pecado. No segundo, falamos acerca
da graça de Deus. Entretanto, não concluímos essas questões; portanto este
capítulo será uma continuação dos anteriores que tratará adicionalmente das
questões da graça e do pecado.Primeiramente temos de ver qual é a natureza da
graça. Que características a graça possui? Valorizamos o amor de Deus, pois sem
o amor de Deus como fonte não haveria o fluir da salvação. O fluir da salvação
resulta do amor de Deus. Ao mesmo tempo, sem a misericórdia de Deus não haveria
a possibilidade de salvação. Por ter Deus mostrado misericórdia para conosco,
Ele nos deu a Sua salvação. A salvação de Deus é a expressão concreta do amor
de Deus. Por isso valorizamos o amor e também valorizamos a misericórdia.
Contudo, o que de mais precioso nos alcança é a graça. O amor sem dúvida é bom,
mas ele não nos traz nenhum benefício concreto. A misericórdia é também muito
boa, mas ela não nos traz qualquer benefício direto; no entanto, com a graça há
um benefício direto. Portanto, a graça é mais preciosa. O Novo Testamento está
repleto, não com o amor de Deus nem com a misericórdia de Deus, mas com a graça
de Deus. Graça é o amor de Deus vindo para cumprir algo para o pecador caído,
perdido e que perece. Agora não temos somente um amor abstrato e uma
misericórdia sentimental, mas temos a graça que vem ao encontro das nossas
necessidades de maneira concreta. Podemos achar que já é bastante maravilhoso
se Deus for misericordioso conosco. Um carnal ou uma pessoa que vive na carne
pensará que misericórdia é suficiente. O Antigo Testamento está repleto de
palavras de misericórdia. Não existem muitas palavras sobre graça. Quando o
homem está na carne, ele acha que misericórdia basta, que não há necessidade de
graça. Ele pensa assim por não considerar o pecado como algo grave. Se o homem
estivesse sem comida, sem roupas ou sem casa, misericórdia não seria
suficiente; haveria também a necessidade de graça. Mas o problema com o pecado
não é falta de comida, de roupas ou de casa. O problema com o pecado é a
inquietação na consciência do homem e o julgamento diante de Deus. Por essa
razão, o homem acha que se tão-somente Deus fosse misericordioso conosco e um
pouco mais brando, tudo estaria bem. Se Deus desconsiderasse nossos pecados já
seria bastante bom para nós. Em nosso coração esperamos que Deus seja
misericordioso conosco e nos deixe ir. O conceito do homem é deixar ir e
desconsiderar. Mas Deus não pode misericordiosamente desconsiderar nossos
pecados. Ele não pode deixar-nos ir de qualquer jeito. Ele precisa lidar
totalmente com nossos pecados.
Deus
não somente tem de mostrar misericórdia para conosco, como também tem de nos
conceder graça. O que procede do amor de Deus é a graça. Deus não está
satisfeito somente com a misericórdia. Pensamos que se houvesse a misericórdia
e que se Deus nos deixasse ir e não ajustasse contas conosco, tudo estaria bem.
Mas Deus não disse que desde que tenha pena de nós Ele nos deixaria ir. Essa
não é a maneira de Deus trabalhar. Quando age, Ele faz em harmonia Consigo
mesmo. Portanto, o amor de Deus não pode parar na misericórdia. Seu amor deve estender-se
até a graça. Ele deve lidar completamente com o problema dos nossos pecados. Se
o problema dos pecados fosse algo que pudesse ser desconsiderado, a
misericórdia de Deus seria suficiente. Mas deixar-nos ir e desconsiderar nossos
pecados não é suficiente para Ele. Assim, ter só a misericórdia não é
suficiente. Ele deve pôr a questão de pecados completamente em ordem. Aqui
vemos a graça de Deus. É por isso que o Novo Testamento, embora não isento de
misericórdia, está cheio de graça. Ali vemos como o Filho de Deus, Jesus
Cristo, veio ao mundo para manifestar a graça e tornar-se graça a fim de que
pudéssemos receber graça. Que é graça? Graça nada mais é que a grande obra de
Deus realizada gratuitamente em Seu amor incondicional e ilimitado em favor do
homem desamparado, indigno e pecador.
A
graça de Deus é simplesmente Deus trabalhando para o homem. Como isso se
diferencia da lei? A lei é Deus exigindo que o homem trabalhe para Ele,
enquanto a graça é Deus trabalhando para o homem. Que é a lei? A lei é a
exigência de Deus para que o homem faça algo para Ele. Que é obra? Obra é o
esforço do homem para fazer algo para Deus. Que é graça? Graça nem é Deus
exigindo algo nem é Deus recebendo a obra do homem, mas graça é Deus fazendo a
Sua própria obra. Quando Deus vem para fazer algo pelo homem e a favor do
homem, isso é graça. A ênfase no Novo Testamento não está no princípio da lei.
Na verdade, o Novo Testamento opõe-se ao princípio da lei, pois a lei e a graça
jamais podem misturar-se. É Deus quem está trabalhando ou é o homem? Deus está
dando algo para o homem ou está pedindo algo do homem? Se Deus estiver pedindo
algo do homem, nós ainda estamos na era da lei. Contudo, se Deus estiver dando
algo para o homem, estamos na era da graça. Você não iria à casa de alguém
dar-lhe dinheiro se houvesse ido lá para pedir dinheiro. Semelhantemente, lei e
graça são princípios opostos; elas não podem ser colocadas juntas. Se é para o
homem receber graça, ele deve colocar a lei de lado. Por outro lado, se ele
seguir a lei, cairá da graça.
Se
é para o homem seguir a lei, ele deve ter suas obras aceitas por Deus. Se há o
princípio da lei e das obras e se o homem deve dar algo a Deus, ele deve
dar-Lhe aquilo que Ele exige. A Bíblia indica que as obras do homem deveriam
ser uma resposta à lei de Deus. A lei de Deus requer que se faça algo. Ao
fazê-lo, estou respondendo à lei de Deus. Isso é o que a Bíblia chama de obras.
Mas quando a graça vem, o princípio da lei e das obras é posto de lado. Aqui
vemos que é Deus trabalhando pelo homem em vez de o homem trabalhar para Deus.
Graça,
que é Deus trabalhando pelo homem desamparado, infeliz e aflito, tem três
características ou naturezas. Quem quiser entender a graça de Deus deve
lembrar-se dessas três características ou naturezas. Se nos esquecermos delas,
como pecadores não seremos salvos, e como cristãos fracassaremos e cairemos. Se
virmos as características e a natureza da graça de Deus, receberemos mais graça
de Deus para socorro em ocasião oportuna. Vamos considerar brevemente essas
três características na Bíblia. Quais são as obras do homem? Genericamente
falando, existem três coisas consideradas como obras do homem: 1) seus delitos,
2) suas realizações e 3) suas responsabilidades. As obras más do homem são seus
delitos; as boas são suas realizações e as obras que ele está disposto a
assumir suas responsabilidades. Aqui temos três coisas: das coisas que o homem
faz, as que não são bem feitas tornam-se seus delitos; as que são bem feitas
tornam-se suas realizações, e as que ele promete fazer para Deus são suas
responsabilidades. Na questão do tempo, delitos e realizações são coisas do
passado, enquanto responsabilidades são coisas do futuro; são coisas pelas
quais um homem é responsável. Se a graça de Deus é Deus trabalhando pelo homem
pecaminoso, fraco, ímpio e desamparado, imediatamente vemos que a graça de Deus
e o delito do homem não podem ser unidos. Tampouco pode a graça de Deus ser
unida às realizações e responsabilidades do homem. Quando a questão do delito
entra em cena, a graça não existe. Quando a questão da realização entra em
cena, a graça também não existe. De semelhante modo, onde houver a
responsabilidade, a graça não existirá. Se a graça de Deus é de fato graça, os
delitos, as realizações e as responsabilidades não podem ser misturados a ela.
Sempre que os delitos, as realizações e as responsabilidades são adicionados, a
graça de Deus perde suas características.
A Graça de Deus não está Relacionada com os Delitos do Homem
A
primeira característica da graça de Deus é que ela não está relacionada com os
maus procedimentos do homem. A graça de Deus é concedida ao homem pecaminoso,
aos pecadores desamparados, baixos, fracos e impiedosos. Se a questão do delito
surge e se está determinado que aqueles com pecado não terão graça, então a
graça está fundamentalmente anulada. A graça de Deus nunca pode ser retida
simplesmente porque o homem pecou. A graça de Deus não pode ser reduzida nem
quando os pecados do homem aumentam. Isso nunca pode ocorrer. A mente do homem,
estando cheia da carne, está preenchida com o conceito da lei. Podemos achar
que os bem-sucedidos podem receber graça, mas nós, pecadores e sem realizações,
estamos desqualificados para receber graça. No conceito do homem, delito e
graça estão em extremos opostos. No conceito do homem, graça somente vem onde
não houver delito. Se você disser a alguém que tem alguma consideração por
Deus, que Deus o amou e deu-lhe graça, ele imediatamente vai querer saber como
isso pode ser verdade, uma vez que ele tem cometido tantos pecados. O conceito
do homem é que a graça pode ser recebida somente quando não há delito. Ele não
consegue perceber que isso está totalmente errado. Por quê? Porque o delito dá
a melhor oportunidade para a graça operar. Sem delito, a graça não tem oportunidade
de manifestar-se. Além de ser incapaz de impedir a graça, o delito é a condição
necessária para a graça ser manifestada. Da mesma forma, nossa
insuficiência diante do Senhor não é um impedimento para a graça. Pelo
contrário, a nossa pobreza é uma condição para recebermos graça. Se não
estivermos muito pobres, não estaremos desejosos de receber graça. Todo domingo
de manhã há oito ou nove mendigos em nosso local de reuniões. Eles vêm todos os
domingos, e são muito pontuais. Quando se aproximam e você lhes dá uma ou duas
moedas, eles sorriem e pegam-nas. Mas, que ocorreria se você oferecesse uma
moeda a qualquer irmão ou irmã entre nós que estivesse bem vestido e que
tivesse uma boa educação, e dissesse: “Tome aqui, pegue isto. Arranje mais duas
moedas e poderá comprar um salgadinho na rua”? Certamente ele ou ela não
aceitariam; e não somente não aceitariam, mas considerariam isso um insulto.
Portanto, ser pobre é uma condição para receber graça; de fato, é a condição
mais necessária.
O
homem é muito ilógico. Ele diz que não pode receber graça porque seus pecados
são numerosos demais. Nenhuma afirmação é mais contraditória que essa; nenhuma
afirmação é tão insensata. Porque os doentes estão doentes é que precisam de um
médico; porque os pobres são pobres é que precisam de ajuda; e da mesma forma,
porque o homem é um pecador é que ele precisa de graça. Portanto, o pecado não
é um empecilho. Pelo contrário, é uma oportunidade. Nosso problema é que sempre
achamos que temos de estar numa condição diferente da que estamos hoje. Achamos
que para receber graça devemos ser mais santos e melhores hoje do que ontem.
Amigos, quem quiser ser um magistrado, terá de satisfazer certas exigências. Se
quiser entrar numa escola, haverá os pré-requisitos. Se quiser ser um médico
num hospital, haverá a questão da capacitação. Se quiser fazer negócios, existe
a questão da habilidade. Qualificações, pré-requisitos, capacitação e
habilidade são de fato úteis em determinadas situações. Contudo, se o homem
deseja vir a Deus, qualificações, padrões, capacidade e habilidade estão fora
de questão. Somente quando eu for um pecador desamparado, na mais baixa
posição, poderei receber graça. O homem deixa de obter graça não por ser
pecaminoso demais, mas por não estar em condição suficientemente baixa. Ele é
orgulhoso demais e moral demais. É exatamente aqui que se encontra o maior
problema. Somos grandes em todos os tipos de pecados. Ao mesmo tempo, somos
muito grandes no pecado do orgulho. Por um lado, temos uma necessidade
absoluta; por outro, o terreno em que nos encontramos não é aquele no qual
podemos receber a graça de que necessitamos. Isso ocorre exclusivamente por
causa do nosso orgulho.
Romanos
5.20 diz-nos que “onde abundou o pecado, superabundou a graça”. A Palavra de
Deus mostra-nos que onde estiver o pecado, ali estará também a graça. Onde o
pecado abundar — não que ele tenha realmente abundado, pois todos os homens
pecam semelhantemente, mas onde o pecado tenha-se manifestado mais
abundantemente — a graça de Deus abunda ainda mais. A palavra abundar na
linguagem original tem a ver com a ideia de transbordar. Não sei se você já
esteve à beira-mar ou à margem de um rio. Quando a maré alta vem, uma marca é
deixada na praia ou margem. Mas se vier uma enchente esta ultrapassa a marca.
Quando a água alcança a marca, dizemos que há somente uma elevação normal da
maré, mas se a água sobe acima da marca há uma enchente. Isso é o que significa
abundar. O pecado é tão grande, mas a graça é maior e até mesmo cobre o pecado.
Aleluia! O pecado é grande, mas a graça é ainda maior e cobre o pecado. Esta é
a graça de Deus. O homem tem o estranho conceito de que para receber graça,
deve estar sem pecado ou delito. Mas isso não existe. Embora nossos delitos
sejam muito sérios e possam elevar-se muito, a graça de Deus se eleva ainda
mais. Uma vez que a graça de Deus está aqui para lidar com o problema dos
delitos, os delitos não são mais um problema. Qual é a essência da graça de
Deus? A graça de Deus é simplesmente Deus vindo à posição do pecador para
tomar sobre Si a consequência dos pecados do pecador. Por favor,
lembre-se da definição que demos antes, que graça é Deus trabalhando em favor
do homem. Se não tivermos qualquer delito, não necessitamos de que Deus faça
qualquer coisa por nós e, como resultado, não necessitamos da graça de Deus.
Mas por termos pecado e por termos problemas, Ele tem de vir e solucionar
nossos problemas. Portanto, necessitamos da graça. Se eu digo: “Uma vez que
pequei, não posso receber graça” é como dizer: “Por estar doente demais, estou
muito envergonhado para ver o médico. Eu o verei quando minha temperatura tiver
abaixado um pouco”. Visto que não há tal paciente no mundo, tampouco deve haver
tal pecador no mundo. Assim sendo, nossos delitos são a condição para recebermos
a graça de Deus.
Uma
vez que o problema do pecado é cuidado por Deus e já que Ele toma a
responsabilidade de lidar com nossos delitos, qualquer pecado que tenhamos,
seja grande ou pequeno, não constitui problema diante de Deus. Tanto os pecados
grandes como os pequenos não apresentam problema, pois ambos podem ser
solucionados pela obra de Deus e somente pela obra de Deus. O pecado grande é
cuidado pela obra de Deus. O pecado pequeno da mesma forma requer a obra de
Deus. Se coubesse a nós lidar com nossos pecados, distinguiríamos entre pecados
grandes e pecados pequenos. Contudo, se nossos pecados devem ser cuidados por
Deus, serão cuidados não importando se são grandes ou pequenos. Uma vez que
devam ser cuidados por Deus, não faz diferença alguma para nós. Tudo o que
fazemos é receber a graça. Vimos anteriormente por que o homem não pode receber
graça. Lembre-se das palavras de Pedro em 1 Pedro 5.5: “Rogo igualmente aos
jovens: sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com
os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos,
contudo, aos humildes concede a sua graça”. Deus dá graça ao humilde. Se você
humildemente confessa que é um pecador, seus delitos não só não o impedirão de
receber a graça de Deus, mas permitirão que você receba Sua graça. Uma vez que
se humilhe diante de Deus, a graça de Deus fluirá para você. Agradecemos a Deus
que a Sua graça desce para nós; ela não é bombeada até nós. Ninguém jamais pode
bombear a graça de Deus para si mesmo. Portanto, todos os que estão no alto
devem descer.Quem são os pecadores e quem pode receber graça? A Bíblia
mostra-nos claramente em Romanos 3.23-24 que “todos pecaram”, mas todos os que
pecaram são “justificados gratuitamente, por sua graça”. A Bíblia mostra-nos que
desde que o homem peque, espontaneamente pode receber graça. Sem ser pecador,
ele não pode receber graça. O homem pensa que quem pecar não pode receber
graça. Contudo, Deus diz que porque o homem peca, ele pode receber graça. É tão
óbvio: uma vez que o homem tenha pecado a graça vem. Nunca pense que quando o
pecado vem, a graça se vai. O pecado é um dos maiores enganos do homem, mas
achar que o pecado o impede de receber graça é o maior engano do homem.
Portanto,
a primeira coisa que devemos ver é que os delitos do homem não podem
permanecer no caminho da graça de Deus. Com a graça de Deus, não existe
problema por causa dos delitos. Pelo contrário, a graça de Deus está ali para
lidar com os delitos do homem. Deus está concedendo graça porque o homem pecou.
A Graça não está Relacionada com as Realizações do Homem
Agora
surge a segunda questão. Nem tudo o que o homem faz é pecado. Aos olhos de
Deus, todos os atos do homem são pecados, mas aos olhos do homem, muitas coisas
que ele faz são realizações. Alguns consideram que já que são muito pecadores
não podem receber graça. Outros acham que porque pecam, têm de aperfeiçoar-se
antes que possam receber graça. Note, por favor, que existe uma diferença aqui.
O primeiro grupo diz que eles pecaram e são, portanto, desqualificados para
receber graça. Este grupo está totalmente na esfera negativa. O segundo grupo é
um pouco mais positivo: eles dizem que são pecadores e que somente receberão
graça se agirem melhor. Acham que têm de alcançar certo padrão de conduta e
certas realizações antes que possam receber graça. Na mente do primeiro grupo,
o problema é um obstáculo para a graça. Na mente do segundo grupo, o problema é
como obter graça. Alguns acham que os delitos nos impedirão de receber a graça
de Deus. Outros acham que as realizações nos capacitarão a obter a graça de
Deus. Amigo, você sabe o que é graça? A graça é incondicional. Ela é gratuita e
não há motivos para que seja dada. É a obra de amor de Deus que Ele confere a
nós, os pecadores. Se a graça de Deus estivesse relacionada com as realizações
do homem, a essência da graça se perderia imediatamente. Uma vez que seja
permitido permanecer em nós um vestígio de realização, Deus deve
recompensar-nos de acordo com nossa realização. Deus é justo. E desde que Ele é
justo, no mínimo Ele é correto. Ele tem de recompensar e premiar o homem de
acordo com suas realizações. Mas se o dar de Deus é uma recompensa ou
prêmio, então não é graça. Tão logo as realizações entrem, a recompensa também
deve entrar e a graça fica do lado de fora. Se um homem lhe dá um mês de
trabalho e você lhe dá o salário de um mês, o pagamento não pode ser
considerado um presente; é uma recompensa. Ele fez algo para você; é a
realização dele. E se é uma realização o pagamento não é graça, mas recompensa.
Desde que a recompensa entre, a graça sai.
Romanos
4.4 torna a questão muito clara: “Ora, ao que trabalha, o salário não é
considerado como favor, e sim como dívida”. Os delitos não nos impedem de
receber graça, pelo contrário, proporcionam-nos a oportunidade de receber a
graça de Deus. E as realizações não nos ajudam a receber a graça de Deus, pelo
contrário, anulam a essência da graça de Deus. A não ser que seja gratuita, não
é graça. A não ser que seja dada sem razão e causa e a não ser que seja um
presente, não é graça. Se há alguma razão ou alguma causa envolvida, se há um
preço envolvido ou se há algum labor envolvido, imediatamente surge a questão
da recompensa, porque Deus é justo. No instante em que a recompensa entra, a
essência da graça é perdida. Se estiver numa posição acima de Deus ou mesmo
igual a Deus, você não pode receber graça. É por isso que Romanos 4 diz
claramente que ninguém pode vir diante de Deus
e dizer que fez isso ou aquilo e que, portanto, sem se envergonhar, pode pedir
graça. Se uma pessoa diz que não é como as outras que roubam dinheiro e são tão
injustas, que jejua pelo menos duas vezes na semana, que embora não tenha dado
o dízimo, pelo menos ofertou um vigésimo do que tem, ela não pode receber a
graça de Deus. Que é graça? Deixe-me dizer isto de um modo enfático — graça é
receber sem ter um motivo para receber. Uma vez que haja um motivo, ela se
torna recompensa. Se você tem quaisquer realizações, a questão da recompensa
entra e a graça fica de fora. Devemos dar muita atenção a essa questão. Há
ainda outra frase em Romanos que é muito clara sobre esse ponto: “E, se é pela
graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (11.6).
Alguém na minha família certa vez disse que deveríamos dar um presente a determinado
médico no fim do ano. Quando perguntei por quê, foi-me dito que dois meses
antes meus dois irmãos mais novos tinham ficado doentes e foram tratados por
aquele médico. Por ser um amigo, o médico não quis aceitar qualquer dinheiro
pelos seus serviços. Portanto, compraríamos algo para ele. “Neste caso”, disse
eu, “não lhe estamos dando algo, mas devolvendo algo”. Por quê? Porque houve um
trabalho e uma dívida. Portanto, rigorosamente falando, o nosso dar foi uma
devolução do que devíamos.
Meus
amigos, se tivéssemos quaisquer realizações diante de Deus, fossem elas grandes
ou pequenas, a salvação de Deus para nós tornar-se-ia um pagamento de dívida e
não seria mais graça. Agradecemos a Deus porque não há ninguém que possa clamar
por qualquer realização diante de Deus. Agradecemos ao Senhor porque somos
salvos pela graça. Se eu, Watchman Nee, fosse salvo pelas minhas realizações,
nunca poderia dizer: “Deus, agradeço-Te por conceder-me graça”. Ao contrário,
eu diria: “Deus, estou salvo porque pagaste a Tua dívida”. Poderia proclamar
orgulhosamente que estou salvo pelas realizações. Por que ninguém pode
salvar-se pelas realizações? Porque Deus quer remover todo orgulho do homem,
para que o homem nada possa fazer senão agradecer e louvá-Lo. Já que a questão
das realizações surge, a graça não é mais graça. Por favor, lembre-se de que
Deus não pode deixar de dar a Sua graça ao homem por causa de seus delitos.
Tampouco pode reduzir Sua graça para o homem por causa de seus delitos. Deus
tem de dar e Ele não pode reduzir o Seu dar. A graça não está relacionada com
os delitos. E que dizer sobre as realizações? Na graça não existe a
possibilidade de mistura com o que quer que seja, nem mesmo com a essência das
realizações. Graça não é o pagamento de Deus a uma dívida que tem para conosco.
Não é que Deus nos deve e que agora Ele está pagando. Alguns podem dizer:
“Senhor Nee, nós não somos tão extremistas. Não ousamos dizer que viemos a Deus
pelas nossas realizações. Mas o senhor tem de acreditar que precisamos de algumas
realizações diante de Deus. É impossível não ter nada. Devemos fazer uma
pequena obra e, então, Deus pode suprir nossa falta. Faremos o melhor possível
e Deus suprirá o restante”. Meus amigos, não podemos dizer isso. Graça não é
Deus pagando uma dívida. Da mesma forma, graça também não é o pagamento
excessivo de uma dívida de Deus, como se Deus devesse a você cinco dólares, mas
agora está lhe devolvendo dez. Graça é como se alguém lhe desse uma roupa nova.
Não é como se alguém remendasse sua roupa rasgada. Se graça fosse um remendar,
ela perderia sua posição e sua essência seria anulada.
Deixe-me
repetir novamente, graça nada tem a ver com realizações. O que o homem
naturalmente vê é que algumas pessoas são melhores e outras, piores. Portanto,
ele acha que os melhores requerem menos da graça de Deus e os piores requerem
mais da graça de Deus — um remendo maior para um buraco maior e um remendo
menor para um buraco menor. Todavia esse conceito não existe na Bíblia. Quem
pecou? Creio que todos conhecemos a frase de cor: “Pois todos pecaram”. Por que
é que todos pecaram? Porque “carecem da glória de Deus” (Rm 3.23). Se a Bíblia
dissesse que todos pecaram por terem transgredido os Dez Mandamentos, poderia
haver uma diferença entre grandes pecadores e pequenos pecadores, pois alguns
podem ter transgredido nove mandamentos, enquanto outros podem ter transgredido
somente um. Se a Bíblia dissesse que todos pecaram porque todos carecem dos
costumes da sociedade ou da lei do país, ainda haveria alguns que são bons e
alguns que não são tão bons. Mas muito estranhamente a Bíblia diz que todos
pecaram, porque todos carecem da glória de Deus. Que é, então, a glória de
Deus? Se quer entender o que é a glória de Deus, você tem de entender Romanos 1
a 8. A graça de Deus está ligada à glória de Deus. A graça procura o homem no
nível mais baixo e a glória leva o homem ao nível mais elevado. Romanos 1 a 3
diz-nos como o homem pecou. A seguir, após dar o caminho da salvação pelo
Senhor Jesus nos capítulos três a cinco, a crucificação com Cristo nos
capítulos seis e sete, e a obra do Espírito Santo no início do capítulo oito,
Romanos diz-nos o seguinte no final do capítulo oito: “Aos que de antemão
conheceu, também os predestinou (...) e aos que predestinou, a esses também
chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que
justificou, a esses também glorificou” (vs. 29-30). Salvação é Deus
puxando um pecador da lama do pecado e levando-o até a glória. Embora estejamos
justificados, sabemos que justificação não é suficiente. A justificação não é o alvo da salvação de Deus para nós. Deus não vai parar até que estejamos na
glória. Portanto, Romanos 1 a 8 começa com pecados e termina com glória.
Que
significa carecer da glória de Deus? Significa não poder entrar na glória. Todos
pecaram porque não podem entrar na glória. Se todos pecaram porque não honraram
seus pais, você poderia encontrar desonradores “grandes, médios e pequenos”.
Talvez para quatrocentos milhões de chineses existam quatrocentos milhões de
tipos de desonradores. Contudo, quanto ao carecer da glória de Deus, isto é,
quanto a não poder entrar na glória, você e eu somos exatamente iguais. Você
pode ser moralista, e eu, criminoso. Como criminoso eu não posso entrar na
glória, tampouco você o pode como moralista. Portanto, diante de Deus todos
carecem de Sua glória, e ninguém está qualificado para entrar nela. Você pode
sair à rua e dizer a qualquer pessoa que ela pecou. Se ela disser que não
pecou, você pode perguntar-lhe se ela acha que pode entrar na glória. É óbvio
que a pessoa não saberá o que é glória. Se estivermos na luz de Deus e se
tivermos um pouco de conhecimento das Escrituras, saberemos que não estamos
qualificados a entrar nela. Nenhum de nós pode entrar nela.
Dois
meses atrás, enquanto eu estava em Hong Kong, acontecia ali o campeonato
mundial de tênis. O estádio onde ocorria a competição só podia acolher de
quinhentos a seiscentos espectadores. Oitocentas pessoas não puderam entrar e
tiveram de ficar do lado de fora. O problema não era se eles tinham dinheiro ou
não, se eram homens ou mulheres, ou se eram senhores ou servos. Nenhum deles
podia entrar. Se fosse rico ou pobre, educado ou ignorante, homem ou mulher,
não fazia diferença. A diferença entre eles e os que entraram não estava no
fato de serem ricos ou pobres, homens ou mulheres, educados ou ignorantes. O
problema era que eles não podiam entrar. Da mesma forma, a questão hoje não é
se você é moral ou não, ou se é educado ou não. A questão agora é se você pode
ou não entrar na glória. Todos os que não podem entrar na glória são pecadores
e estão desqualificados diante de Deus. Portanto, Deus nivelou todos diante
Dele. Temos um lote de terra em Jenru. Recentemente tivemos de gramá-lo. Para
fazer isso tive de contratar alguns trabalhadores para nivelar o terreno. A
questão hoje é se você pode ou não entrar. A despeito de ser moral ou não, você
não pode entrar na glória. Deus nivelou todos. Por que Deus nivelou todos?
Gálatas 3.22 diz-nos que “a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante
a fé em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que crêem”. Deus encerrou
a todos sob o pecado. Todos se tornaram pecadores, para que todo o que crê em
Jesus Cristo receba a graça de Deus. Deus nivelou todos de maneira que Ele
possa conceder graça a cada um. Romanos 11.32 diz: “Porque Deus a todos
encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos”. Deus
encerrou a todos na desobediência. Ele nivelou todos. Com que propósito? Com o
propósito de poder mostrar misericórdia a todos. Assim sendo, diante de Deus,
as realizações não podem ter nenhum lugar. Todos estão sobre o mesmo terreno.
Romanos
3.9 diz: “Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma;
pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do
pecado”. O veredito de Deus é que tanto os judeus como os gentios estão todos
debaixo do pecado. Não há nenhuma oportunidade para que as realizações tenham
lugar. Nas porções das Escrituras que acabamos de ler vemos que todos foram encerrados
no pecado e na desobediência para que possamos ir a Deus a fim de receber graça
e misericórdia. Que é a graça de Deus? Graça de Deus é Ele dar ao homem não de
acordo com o que o homem merece. A graça de Deus não concede ao homem mais do
que ele merece ou algo melhor do que ele merece. Graça é simplesmente Deus dar
ao homem o que ele não deveria ter e não merece.
A Graça de Deus não está Relacionada com as Responsabilidades do Homem
Agora
chegamos à terceira questão: as responsabilidades do homem. A graça de Deus
nunca pode estar vinculada às responsabilidades do homem. Quais são as
responsabilidades do homem? Por exemplo, suponha que eu dê a um irmão dez mil
dólares para enviar a determinado lugar, mas por temer que ele perca o
dinheiro, eu o encarrego dizendo: “Você é responsável por este dinheiro”. Que
quero dizer? Quero dizer que se ele perder o dinheiro, terá de devolvê-lo. Este
é o significado de responsabilidade. Delitos são questões do passado.
Realizações também são questões do passado. Porém, responsabilidades são
questões do futuro. Se Deus vai dar-nos graça, ela não pode estar ligada à
responsabilidade. Quando peço a um irmão para levar dez mil dólares ao banco,
aquele dinheiro não é dele, assim eu lhe digo que ele é responsável pelo dinheiro.
Contudo, se esse dinheiro é um presente gratuito para ele, será que posso
dizer: “Você é responsável por ele?” Certamente não. Uma vez que tenha dado o
dinheiro a ele, o dinheiro é dele. O que ele fizer com o dinheiro é problema
dele, mesmo que o atire num rio ou numa lata de lixo. Alguns dizem que antes da
salvação não tínhamos boas obras e éramos incapazes de salvar a nós mesmos. Não
havia outra maneira de ser salvo exceto ter a graça de Deus salvando-nos. Mas
agora que estamos salvos, eles dizem que deveríamos fazer boas obras, pois se
não as fizermos estaremos novamente condenados a perecer. Muitos têm o conceito
de que a salvação é proveniente da graça, mas manter esta salvação é
proveniente do nosso mérito e labor. A isso é que chamo de responsabilidade.
Muitos acham que se nos conduzirmos adequadamente após sermos salvos, nossa
salvação será preservada, e se não nos conduzirmos adequadamente, Deus tomará
de volta Sua salvação. Se a salvação pode ser tomada de volta, ainda é graça?
Se é graça, não existe a questão de mérito passado, obra presente ou
responsabilidade futura. Se introduzirmos a responsabilidade futura, então
novamente não é mais graça.
Certa
vez um pregador veio dizer-me que não cria que uma vez que uma pessoa fosse
salva, ela estava salva para sempre. Eu perguntei-lhe por que pensava assim.
Ele disse que acreditava que o homem é salvo pela graça, mas se o homem não se
portar adequadamente após a salvação, perecerá. “Então isso é graça?”
perguntei. A seguir dei-lhe uma ilustração. “Suponha que vamos a uma livraria
juntos e cada um de nós escolhe o mesmo livro para comprar. Quando você
pergunta ao vendedor o preço, ele lhe diz que custa sessenta centavos de dólar.
Você lhe paga sessenta centavos e leva o livro para casa. Mas ao vasculhar meus
bolsos, percebo que não tenho nenhum dinheiro. Eu também quero o mesmo livro,
então digo ao vendedor que não trouxe nenhum dinheiro comigo, e pergunto se
posso levar o livro agora e mandar o dinheiro mais tarde. Ele diz que posso
fazê-lo porque nos conhecemos bem. Assim, eu também levo o mesmo livro para
casa. Você pagou em dinheiro, mas eu adiei o pagamento. Deixe-me perguntar-lhe:
A transação em dinheiro foi graça? Certamente não, pois o livro foi pago com
sessenta centavos”. Ser salvo por meio de boas obras é como uma transação a
dinheiro. Se tiver realizado boas obras, você pode ir a Deus e Ele dirá: “Bom,
você pode ser salvo”. Se um homem é salvo dessa maneira, sua salvação não é por
meio da graça. Agradeçamos ao Senhor porque ninguém é salvo dessa maneira. Que
dizer sobre meu caso de adiar o pagamento? É como Deus antecipando a salvação
ao homem. Se o homem não fizesse o bem após a salvação, seria requerido que ele
a devolvesse. Ele teria de fazer o bem a fim de manter a sua salvação. Todavia
isso tampouco é graça. Graça não é uma transação à vista nem é como um
pagamento a prazo. Numa transação à vista, a pessoa paga agora; no pagamento a
prazo, a pessoa paga depois. Mas ambos têm de pagar. Contudo, não adquirimos
nossa salvação a crédito. Eu disse ao pregador que se a salvação é proveniente
da graça, não há necessidade de boas obras. Então ele perguntou: “Isso quer
dizer que não precisamos de boas obras nunca mais?” Eu disse: “Não, os cristãos
precisam fazer boas obras. Mas as boas obras a que me refiro nada têm a ver com
salvação. As boas obras a que me refiro têm a ver com o reino, com a recompensa
e a coroa. A salvação não é comprada nem adquirida a crédito. A salvação é dada
gratuitamente”. Que significa dar gratuitamente? O Senhor Jesus disse: “Eu lhes
dou a vida eterna” (Jo 10.28). A vida eterna é-nos dada por Deus. Certa vez fui
comprar algo na loja de um amigo. Ele e eu nos conhecíamos muito bem, por isso
ele não queria me cobrar. Ele disse-me que daria o artigo que eu quisesse. Não
consegui convencê-lo a pegar o dinheiro, contudo ele insistia que eu levasse o
artigo. Da mesma forma, Deus diz que nos dará vida eterna. Ele não disse isso
apenas para voltar e mudar de ideia. Ele não disse que ela seria nossa se
fizéssemos o bem e que Ele a tomaria de volta se não fizéssemos o bem. Não
quero dizer que os cristãos não devam ter boas obras. Odeio o viver relaxado,
mas isso nada tem a ver com minha salvação. Aleluia! A salvação nos é dada; ela
não é comprada por nós. Entretanto, não devemos desprezar as boas obras. As
boas obras estão relacionadas com a recompensa do reino, a coroa ou punição,
mas elas nada têm a ver com a salvação. Se a salvação é de graça, a questão do
futuro não é levada em conta. Romanos 6.23 diz: “Porque o salário do pecado é a
morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso
Senhor”. Que é um dom gratuito? Um dom gratuito é um presente. Eu não posso
enviar um presente para sua casa e, então, mais tarde enviar-lhe a conta. Se é
um presente, é absolutamente grátis, e isso não pode ser mudado. Portanto, a
graça não está relacionada com seus delitos passados, suas realizações atuais
ou sua responsabilidade futura. Se estiver relacionada com sua responsabilidade
futura não é graça, pelo contrário, é uma compra a prazo. Agradecemos a Deus
porque a vida eterna não é uma compra a prazo. É um presente. Agradecemos ao
Senhor que a vida eterna é o dom de Deus em Seu Filho Jesus Cristo. Uma vez que
a salvação nos é dada por Deus, devemos lembrar-nos de uma coisa depois que
fomos salvos: a salvação é obtida unicamente por meio de crer e é preservada
sem levar em conta nossa fidelidade. Portanto, a condição para preservar nossa
salvação é a mesma para obtê-la. Desde que ela é obtida gratuitamente, é também
preservada gratuitamente. Agradecemos a Deus que por ser gratuita a obtenção da
salvação, da mesma forma é eternamente gratuita a preservação dela.
Ao
final do livro de Apocalipse, depois de o novo céu, a nova terra, o reino, o
lago de fogo, o fim de Satanás e o grande trono branco terem sido todos
mencionados, a Bíblia diz: “Quem quiser receba de graça a água da vida”
(22.17b). Agradecemos ao Senhor porque Ele colocou, de propósito, o beber
gratuito da água da vida no final do capítulo 22. Após termos visto o lago de
fogo, a segunda morte, o fim de Satanás, o reino, o novo céu e a nova terra,
podemos sentir temor de que Deus endureça Seu coração novamente; mas depois de
todas essas coisas, Deus propositadamente declarou que a água da vida é
gratuita. Não há preço para ela. Agradecemos ao Senhor porque temos a graça por
meio de Jesus Cristo, e essa graça é gratuita. Ela não está relacionada com a
nossa responsabilidade. Muitas vezes tenho ouvido dizer que temos de fazer o
bem e retribuir a graça de Deus. Essas palavras são comuns hoje na igreja. Mas
tenho de perguntar onde na Bíblia há um versículo que diz que temos de
retribuir a graça de Deus? Essa palavra é por demais contraditória. Se há
retribuição, não há graça. E, se há graça, não há necessidade de retribuição.
Agradecemos ao Senhor que em todo o Novo Testamento nunca nos é dito para
retribuir alguma coisa. É verdade que nós, cristãos, devemos ter boas obras.
Mas por que devemos ter boas obras? Por que temos de sofrer pelo Senhor? Por
que temos de suportar a vergonha? Por que servimos ao Senhor? Como o Senhor tem
tratado conosco em amor, assim também tratamos com o Senhor em amor; contudo
não existe aqui o pensamento de troca. Não é que Deus me dá muito e eu em troca
devolvo muito. Por Ele ter-me amado, não posso fazer nada exceto amá-Lo; porque
Ele me amou, Ele foi crucificado por mim; e por amá-Lo, de boa vontade suporto
a cruz por Ele. O que Ele me tem dado, tem sido dado gratuitamente, e o que
estou dando a Ele também é dado gratuitamente. A dificuldade reside na mente
legalista do homem. Em todas as coisas o homem pensa em negócios e na lei.
Mesmo a questão da salvação é vista do ângulo de negócio. Hoje, se trabalhamos,
servimos ao Senhor, sofremos vergonha ou carregamos a cruz, não é porque
queremos recompensar a Sua graça — é porque O amamos. O amor com que Ele nos
amou nos cativou, capturou nosso coração e constrangeu-nos a servi-Lo.
Se
você fala em retribuir, é ignorante quanto ao valor da graça que recebeu. Se
hoje toma emprestado dez dólares de um amigo, você vai querer pagar-lhe. Se
tomar emprestado cem dólares, você também vai querer pagá-los. Se tomar
emprestado mil dólares, ou mesmo dez mil dólares, você ainda deve querer
pagar-lhe. Mas se tomar um milhão de dólares emprestado, você pode não ter o
pensamento de pagar. E se tomar dez ou cem milhões de dólares emprestados, você
não consegue imaginar o fato de pagar-lhe. Se tomar emprestado um trilhão de
dólares, você nem mesmo sabe mais como pensar sobre pagar, pois a devolução
tornou-se impossível. Se hoje você está querendo pagar a Deus, isso
simplesmente significa que não conhece o quanto Deus lhe deu. Você não conhece
a profundidade, o comprimento, a altura e a largura da graça de Deus para você.
Se percebesse somente um pouco, você se aquietaria e desistiria da ideia de
devolução. Você deveria fazer um voto ao Senhor voluntariamente, dizendo: “Sou
um devedor voluntário para sempre”. A graça que Ele nos deu é grande demais.
Mesmo se quisermos retribuir, não existe a possibilidade de fazê-lo.
Meus
amigos, se devessem a alguém cem milhões de dólares, vocês teriam a audácia de
comprar um bolinho de dez centavos e dar-lhe como “prova de agradecimento”?
Será que isso poderia ser considerado um brinde? Nosso Deus tem feito tanto por
nós. Ousaríamos dizer que Lhe estamos dando “um pequeno brinde” como
retribuição? Não! Somente podemos dizer que Deus nos tem dado gratuitamente
muito. Estou feliz por ser um eterno devedor. Deus tem-nos amado com amor
eterno. Não há limite de comprimento, largura, altura e profundidade de Seu
amor para conosco. Será que vamos retribuir a Deus com um “bolinho de dez
centavos”? Só podemos dizer que voluntariamente aceitamos Seu amor. Odeio ouvir
os homens falarem sobre retribuição! Odeio o conceito da lei! Somente desejo
que os filhos de Deus vejam que assim como Deus é graça para nós, assim sejamos
nós graça para Ele. Assim como Deus tratou generosamente conosco, também vamos
tratar com Deus generosamente.
Aleluia!
Não há a questão de delitos, realizações ou responsabilidades. A salvação nada
mais é que Deus por mim, não eu por Deus. Graça é o que Deus tem feito por mim.
Não é o que eu tenho feito por Deus. Por favor, lembrem-se de que a paz e a
alegria de um pecador e a paz e a alegria de um cristão não residem no quanto
eles amam ao Senhor, mas no quanto o Senhor os ama. Nossa paz e alegria não
residem no quanto temos feito pelo Senhor, mas no quanto o Senhor tem feito por
nós. Dependemos diariamente não do que temos, mas do que Deus é. Precisamos ser
libertados de nós mesmos. Precisamos ver Deus à luz do evangelho. Precisamos
ver que estamos descansando no que Deus é e no que Ele tem. Estamos dependendo
da graça e da misericórdia de Deus. Se virmos isso, não fracassaremos nem
ficaremos tristes. Se confiarmos em nós mesmos, achando que somos muito bons e
que amamos muito ao Senhor, seremos como areia movediça; não seremos capazes de
construir uma casa sobre ela. Não podemos encontrar nenhuma paz e alegria em
nós mesmos. Somente podemos encontrá-las no Senhor, em Deus. É maravilhoso
perceber que enquanto vivemos nesta terra, Deus é por nós. Você se lembra das
palavras de Romanos 8:31b? “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Não creio
que exista uma palavra melhor do que esta para nós. Quando venho partir o pão
no domingo, não pergunto a mim mesmo se me portei adequadamente nos últimos
dias ou não. Pelo contrário, pergunto se o Senhor tem me amado nos últimos
dias. Talvez ultimamente a sua condição tenha sido muito pobre. Talvez
ultimamente você tenha estado muito frio em suas emoções. Mas você somente
precisa perguntar se o Senhor ainda o ama. Se o Senhor não o ama mais, você
pode reter seu louvor. Mas se o Senhor ainda o ama, você tem de louvá-Lo. Você
notou como os discípulos que estiveram com o Senhor por três anos e meio no fim
ainda eram tão tolos a ponto de questionar acerca de quem era o maior entre
eles? Contudo a Bíblia diz que o Senhor, tendo amado os Seus, amou-os até o fim
(Jo 13.1). Agradecemos ao Senhor porque tudo depende Dele. Se dependesse do
nosso amor, se tivéssemos de confiar em nós mesmos, seria como colocar uma vela
num barco e lançá-lo ao mar para navegar em meio a uma tempestade. Você pode
imaginar quão instável isso seria? Agradecemos a Deus porque tudo é graça. Tudo
depende Dele. Que Deus nos conceda conhecer verdadeiramente as características
da graça do Senhor Jesus.
A Função da Lei
Entendemos que a posição do homem diante de Deus é a de um pecador. Agora, consideremos
por que Deus estabeleceu a lei. Uma vez compreendida a lei, seremos capazes de
compreender a obra de Deus. Deus sempre soube da condição do homem, mas o homem
conhece sua própria condição? Posto que o pecado foi manifestado diante de
Deus, ele também deve ter sido sentido na consciência do homem. Todavia, a
consciência do homem está apercebida do pecado? Infelizmente, não. Porquanto o
homem não percebe o pecado, precisamos do operar da lei. Neste livro vamos
estudar este assunto.
O
homem é salvo pelas obras da lei? Deus salva o homem por que este faz coisas
por Ele? Todo mundo diz que devemos fazer o bem antes de Deus nos salvar. Se
pusermos isso em termos bíblicos, significa que devemos ter as obras da lei a
fim de sermos salvos. Os que falam dessa maneira cometem dois grandes erros. O
primeiro é que desconhecem quem é o homem. O segundo é que não compreendem qual
era a intenção de Deus ao dar a lei ao homem. Se soubermos o que somos,
certamente não diremos que o homem precisa ter obras da lei para ser salvo. E,
se conhecermos o propósito de Deus ao dar a lei, tampouco diremos que o homem
pode ser salvo pelas obras da lei. Por ter cometido esses dois grandes erros, o
homem carrega um conceito errado e diz coisas erradas.
O Primeiro Grande Erro — Não Conhecer o que o Homem É
Por
que o homem diz que pode ser salvo pelas obras da lei quando nem mesmo sabe o
que ele é? É porque o homem não sabe quão maligno ele é; ele não sabe que é
carnal. Uma vez que o homem se tornou carne, existem três coisas nele que são
imutáveis: sua conduta, sua lascívia e sua vontade. Por ser carnal, o que quer
que ele faça é pecado e é maligno. Ao mesmo tempo, sua lascívia interior está
ativamente tentando-o, provocando-o a pecar o tempo todo. Além disso, a vontade
e o desejo do homem rejeitam Deus. Uma vez que a conduta do homem é contrária a
Deus, sua concupiscência incita-o a pecar e a sua vontade é rebelde contra
Deus, não há possibilidade de o homem ter as obras da lei e ser obediente a
Deus. Portanto, é impossível que o homem satisfaça a exigência de Deus por meio
da justiça da lei. Não temos somente nossa conduta exterior, mas também temos a
concupiscência em nosso corpo; e não temos somente a concupiscência em nosso
corpo, mas também temos a vontade em nossa alma. Você pode ser capaz de lidar
com sua conduta, mas quando a concupiscência desperta dentro de você, mesmo que
não consiga produzir uma conduta exterior pecaminosa, ela existe em você e
provoca-o o tempo todo. E, mesmo que você odeie sua lascívia e se esforce ao
máximo para lidar com ela, a sua vontade é totalmente incompatível com a de
Deus. Nas profundezas do coração, o homem é rebelde contra Deus e quer
crucificar o Senhor Jesus. Por um lado, a cruz significa o amor de Deus; mas
por outro significa o pecado do homem. A cruz significa o grande amor que Deus
tem ao tratar com o homem; mas ela também significa o tremendo ódio que o homem
tem de Deus. O Senhor Jesus foi crucificado não apenas pelos judeus, mas também
pelos gentios. A vontade do homem para com Deus nunca mudou. A vontade do
homem está em total inimizade contra Deus.
O Segundo Grande Erro — Não Conhecer a Intenção de Deus ao dar a lei
O
homem acha que pode ser salvo pelas obras da lei porque nunca leu a Bíblia nem
viu a luz ou a revelação celestial. Ele nunca compreendeu o desejo e a intenção
de Deus. Ele nunca compreendeu o caminho da salvação. Se deseja saber se pode
ou não ser salvo pelas obras da lei, você precisa primeiro perguntar por que
Deus deu a lei. Somente depois de descobrir o propósito de Deus em dar a lei, é
que você saberá se pode ou não ser salvo pelas obras da lei.
Diante
de mim está um púlpito. Se lhes perguntar o que é isso, alguns podem responder
que é uma cadeira alta. Uma garotinha pode responder que é uma cama faltando
dois pés. Outro pode dizer que isso é uma cômoda porque existem gavetas nela.
Se perguntasse a um irmão, ele poderia dizer que isso é uma estante, porque se
pode colocar livros nela. Se perguntasse a dez pessoas, poderia obter dez
respostas diferentes. Um vendedor de livros, por exemplo, pode dizer-me que é
um perfeito balcão para vendas. Cada pessoa teria uma resposta diferente
segundo sua própria experiência e conceito. Contudo, se você quer saber o que
isso realmente é, em primeiro lugar precisa perguntar à pessoa que o fez. Se
ela disser que isso é uma cômoda, então é uma cômoda. Se ela lhe disser que é uma
estante, então é uma estante. Se disser que é um púlpito, então, sem dúvida, é
um púlpito. Da mesma forma, se me perguntar ou a qualquer outro qual é a função
da lei, você está perguntando à pessoa errada. A lei foi dada por Deus, por
isso temos de perguntar a Deus qual a sua função. Uma vez que Deus nos diga
qual a Sua intenção em dar a lei, saberemos se o homem pode ser salvo pelas
obras da lei ou não. Portanto, precisamos gastar algum tempo para examinar a
Bíblia sobre essa questão. Precisamos ver passo a passo como a lei veio. Temos
de ver historicamente a partir do registro da Bíblia por que Deus deu a lei ao
homem.
A Lei não É o Pensamento Original de Deus
A
primeira coisa que devemos ver é que a lei não foi de modo nenhum a intenção
original de Deus. A lei foi acrescentada posteriormente; ela foi introduzida
para satisfazer certas necessidades urgentes. Ela foi produzida para cuidar de
coisas que foram introduzidas ao longo do percurso. A lei não estava na
intenção original de Deus; a graça estava. Em 2 Timóteo 1.9-10 é dito: “Que nos
salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas
conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus,
antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso
Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida
e a imortalidade, mediante o evangelho”. Aqui o apóstolo Paulo diz-nos que Deus
tinha um pensamento, e que esse pensamento começou antes dos tempos eternos,
antes da criação do mundo. Esse era o pensamento original de Deus. E que tipo
de pensamento era? Paulo diz que essa graça foi-nos dada em Cristo Jesus antes
dos tempos eternos. Antes dos tempos eternos, antes de o homem pecar, e até
mesmo antes da criação do mundo, Deus já havia tomado a decisão de dar-nos Sua
graça por meio de Cristo Jesus. Portanto, a graça era o pensamento original de
Deus. Era algo que Deus planejou desde o início de tudo. Por que Deus quis
dar-nos a graça? Paulo diz que Deus “nos salvou e nos chamou com santa vocação;
não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça”.
A vontade de Deus é dispensar Sua graça, e essa graça nos salva. Ele nos salvou
e nos chamou com santo chamamento para que desfrutemos Sua glória. É isso
que a graça de Deus está fazendo. Ele desejou salvar-nos e chamar-nos com santo
chamamento segundo o Seu propósito, segundo o que Ele planeja fazer. Aqui Paulo
foi muito cuidadoso; ele acrescentou uma frase para mostrar-nos se a lei está
ou não de acordo com o propósito de Deus. Ele diz: “Não segundo as nossas
obras”. A salvação de Deus não é de acordo com o quanto podemos fazer por Deus;
não é segundo o quanto de responsabilidade podemos assumir diante Dele. Pelo
contrário, é Deus vindo cumprir algo por nós, e é Deus dando-nos Sua graça.
Essa graça sempre esteve relacionada com o Seu plano. Assim, lembremo-nos de
que antes dos tempos eternos, o pensamento de Deus era a graça, não as obras
nem a lei.
Paulo
continua: “Que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e
manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus”. Essa
graça não havia sido manifestada até agora. Portanto, vejam que, embora essa
graça estivesse planejada há muito tempo, foi somente quando o Senhor Jesus veio
que conhecemos o que realmente a graça era. Que faz essa graça por nós?
Prossigamos lendo: “O qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e
a imortalidade, mediante o evangelho”. Quando o Senhor Jesus foi manifestado,
Ele aboliu as obras bem como o resultado das obras. O resultado de obras más é
a morte. Mesmo que você tenha feito as piores obras, o máximo que a lei pode
fazer é exigir a sua morte. Após sua morte, a lei nada mais pode fazer. Você
poderia perguntar: “Que acontece se minhas obras não violaram a lei? Ainda
assim preciso morrer?” Sim, você precisa. Mas o Senhor também anulou a morte. O
Senhor aboliu as obras e também a morte. Esse é nosso evangelho, o qual foi
planejado antes dos tempos eternos, embora não tenha sido manifestado até o
aparecimento do Senhor Jesus. Assim, o pensamento fundamental de Deus era a
graça. Após o homem ter sido criado, tanto Adão como Eva pecaram e se
rebelaram. O pecado entrou no mundo por meio de um homem. Mas Deus não deu a
lei ao homem naquele tempo. Mesmo por um período de aproximadamente mil e
seiscentos anos após o homem ter pecado, Deus não deu a lei ao homem. Deus não
teve exigências com o homem naquele período. Deus permitiu à história que
tomasse seu curso natural. Então um dia, quatrocentos e trinta anos antes de
Moisés instituir a lei, Deus falou a Abraão, o pai da fé, e escolheu-o para ser
aquele por meio de quem Cristo viria ao mundo. Deus escolheu Abraão e deu-lhe a
grande promessa de que todas as nações seriam abençoadas pelo seu descendente (Gn
12.3; 22.18). Note que descendente é singular, não plural; é um descendente,
não muitos descendentes. Paulo explicou no livro de Gálatas que este
descendente refere-se ao Senhor Jesus (Gl 3.16). Quando falou a Abraão, foi a
primeira vez que Deus revelou Seu propósito que fora planejado antes dos tempos
eternos. Deus lhe contou Seu propósito de antes dos tempos eternos, de que por
meio de seu descendente, Jesus Cristo, as nações seriam abençoadas. Abraão era
um idólatra, contudo Deus o escolheu e deu-lhe uma promessa. Ele foi o primeiro
homem a não ter obras; ele era uma pessoa de fé. Portanto, Deus desvendou Seu
propósito diante dele.
Você
deve prestar atenção a algo especial aqui. A palavra de Deus a Abraão foi
incondicional. Deus simplesmente disse: “Salvarei e abençoarei o mundo por meio
do seu descendente”. Ele não estabeleceu condições. Deus não disse que os
descendentes de Abraão tinham de ser isso ou aquilo ou que o reino a vir por
meio dele no futuro tinha de ser dessa ou daquela forma antes que ele tivesse
um descendente e que o mundo fosse abençoado. Não; Deus simplesmente disse que
ele teria um descendente que salvaria o mundo. Não importava se Abraão fosse
bom ou mau; não importava se seus descendentes fossem bons ou maus e se seu
reino fosse bom ou mau. Não havia condição imposta. Essa é a maneira como Ele
desejava que fosse realizado. Ele faria com que o descendente trouxesse bênção
para as pessoas no mundo. Após essa palavra ser dita, Cristo, o Filho de Deus,
não veio imediatamente ao mundo. Abraão gerou Isaque, mas Isaque não veio
salvar o mundo. Isaque não era o Filho de Deus. Quatrocentos e trinta anos mais
tarde, Moisés e Arão surgiram. E, embora fossem pessoas muito boas, não eram o
Cristo de Deus. Por meio da revelação de Deus, Paulo chamou-nos a atenção de
que o descendente de Abraão não se refere a muitos descendentes, mas a um
único, que não veio senão dois mil anos mais tarde. Há um motivo forte para que
o descendente não viesse antes. É verdade que Deus deseja fazer coisas para o
homem, que Ele quer dar graça ao homem. Entretanto, estaria o homem disposto a
permitir que Deus faça coisas para ele? Deus vê que não estamos indo bem, e
quer ajudar-nos; mas ainda podemos achar que somos muito capazes. Somos maus,
mas podemos achar que somos bons. Somos imundos, mas podemos considerar-nos
limpos. Somos fracos, mas ainda podemos considerar-nos fortes em tudo.
Somos inúteis, mas ainda podemos considerar-nos úteis. Nós, seres humanos,
somos pecaminosos e completamente incapazes, mas ainda podemos considerar-nos
bons e úteis. O propósito de Deus desde antes dos tempos eternos era dar graça,
e, no tempo, Ele disse a Abraão que de fato daria graça ao homem. Mas por ser o
homem ignorante, fraco, inútil, pecaminoso, e digno de morrer e perecer, Deus não
teve escolha, senão dar a lei ao homem quatrocentos e trinta anos depois que
Ele fez a promessa a Abraão. Após dar a lei ao homem, o homem descobriu que era
pecaminoso. Deus pôs a lei ali para descobrir se o homem é correto ou não e se
é capaz ou não. Deus pôs o peso da lei ali para ver se o homem poderia ou não
levantá-lo. Lembremo-nos de que dar a lei não era a intenção original de Deus.
Devo enfatizar que a lei foi algo acrescido para ir ao encontro de uma
necessidade temporária. Não fazia parte da intenção original de Deus.
Vejamos o que diz Gálatas 3.15-22. Devemos considerar cuidadosamente estes
versículos, pois são muito importantes. O versículo 15 diz: “Irmãos, falo como
homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém
a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa”. Deixemos momentaneamente de lado a
aliança do homem com Deus, e consideremos primeiro as alianças que os homens
celebram entre si. Suponhamos que alguém esteja vendendo uma casa, e um
contrato tenha sido firmado e assinado. Pode o vendedor pensar melhor mais
tarde e pedir mais duzentos dólares? Após assinar o contrato, pode ele
considerar um pouco mais e, então, romper o contrato? Não. Mesmo em contratos
entre os homens, uma vez que estejam assinados, é impossível acrescentar
condições a eles ou subtrair condições deles. Se um contrato entre homens é
assim, quanto mais uma aliança entre Deus e o homem!
Como
Deus fez Sua aliança com o homem? O versículo seguinte diz: “Ora, as promessas
foram feitas a Abraão e ao seu descendente”. Deus fez aliança com Abraão por
meio de promessas porque dizia respeito ao futuro. O que já está realizado é
graça; o que ainda não foi cumprido somente pode ser uma promessa. Porque o
Senhor Jesus ainda não tinha vindo, não podemos dizer que a aliança de Deus com
Abraão era graça. Sua natureza era sem dúvida graça, mas por não ter sido
manifestada, ainda era uma promessa. Essa promessa foi dada a Abraão e ao seu
descendente. Paulo diz: “Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos,
porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo” (v. 16). O descendente
é singular, não plural; é um: Cristo. Deus prometeu a Abraão que este geraria a
Cristo e que por meio de Cristo as nações seriam abençoadas. O versículo 14
diz: “Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim
de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”. Essa é a aliança que Deus
firmou com Abraão.
Você
poderia perguntar: Já que Deus quer abençoar as nações por meio de Cristo
Jesus, por que Ele deu a lei ao homem quatrocentos e trinta anos mais tarde?
Uma vez que a aliança que Deus firmou com Abraão não podia ser anulada nem
acrescentada, por que o Senhor Jesus não veio simplesmente para dar-nos graça?
Por que o problema da lei interveio? Você deve ver o argumento que Paulo estava
usando aqui. Paulo estava explicando aqui por que, após quatrocentos e trinta
anos, a lei veio. O versículo 17 diz: “E digo isto: Uma aliança já
anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos
depois, não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa”. Embora
Deus tenha dado a lei ao homem, a aliança que Ele fez quatrocentos e trinta
anos antes não podia ser desfeita. Deus não podia cancelar a aliança
anteriormente feita após uma consideração adicional quatrocentos e trinta anos
mais tarde. A lei é algo absolutamente contraditório à promessa e à graça. Que
é promessa? É algo dado a alguém gratuitamente. Embora ele ainda não a tenha,
ele definitivamente a terá mais tarde. Porém, que é a lei? A lei implica que
alguém tenha de fazer isso ou aquilo para obter algo. Você pode ver que essas
duas coisas são totalmente opostas. A promessa implica que Deus fará algo para
o homem; a lei implica que o homem fará algo para Deus. O versículo 18 diz:
“Porque, se a herança provém de lei, já não decorre de promessa”. Se o que era
para ser dado é de acordo com o princípio da lei, não pode ser de acordo com o
princípio da promessa. Essas duas coisas são completamente opostas. O versículo
19 diz: “Qual, pois, a razão de ser da lei?” Agora surge o problema. É um
problema muito difícil de resolver. A lei e a promessa são basicamente
contraditórias em suas naturezas. Se você tem a lei, não pode ter a promessa;
se você tem a promessa, não pode ter a lei. Essas duas questões não podem ficar
juntas. Mas agora há a lei e também há a promessa. Deus deu a promessa, e,
então, quatrocentos e trinta anos mais tarde Ele deu a lei. Que faremos? Se a
aliança feita por Deus não podia ser mudada nem por subtrair algo dela, nem por
adicionar algo a ela, por que então a lei foi dada? Uma vez que uma aliança não
pode ser alterada, uma promessa sempre será uma promessa, e graça sempre será
graça, por que, então, há necessidade da lei?
No
versículo 19 Paulo dá-nos a razão: “Foi adicionada por causa das
transgressões”. Que significa adicionar algo? Recentemente fui a certo lugar
trabalhar. Durante minha estada ali, certa noite fui com alguns irmãos a um
restaurante para jantar. Por não termos uma casa ali, fomos a um restaurante e
pedimos uma refeição de cinco pratos, que foram comidos muito rapidamente; e
assim pedimos ao garçom que adicionasse mais um prato. A adição de outro prato
não era nossa intenção original; ele foi adicionado para suprir uma necessidade
imediata. De modo semelhante, Paulo disse que a lei foi adicionada. Na verdade,
Deus não tem de nos dar a lei, tampouco Ele precisava dá-la aos judeus. Deus
deu a lei aos judeus porque queria mostrar ao mundo, por meio dos judeus, que
Ele dera a lei por causa das transgressões.
Por
que a lei foi adicionada por causa das transgressões? Vejamos agora a última
parte do versículo 15 em Romanos 4: “Mas onde não há lei, também não há
transgressão”. Vejamos também Romanos 5.20: “Sobreveio a lei para que avultasse
a ofensa”. O propósito da lei é fazer com que a ofensa abunde. Que significa
isso? O pecado entrou no mundo pelo homem; portanto, o pecado está no mundo. A
morte veio a partir do pecado e começou a reinar. De Adão à Moisés, o pecado
estava no mundo. Mas como podemos provar isso? Isso é evidenciado pela morte
estar presente no mundo. Se não houvesse pecado de Adão até Moisés, o homem não
teria morrido. O fato de que a partir de Adão até Moisés todos morreram, prova
que o pecado estava ali. Embora houvesse pecado naquele tempo, não havia a lei.
Portanto, havia somente o pecado, mas não a transgressão. Que é transgressão? É
o pecado concretizado. Ele estava aqui no mundo, mas o homem não sabia que o
pecado estava aqui até que a lei de Deus viesse. Por meio da lei Deus mostrou-nos
que havíamos pecado. Na verdade, já existia o pecado em nós. Já estávamos
corrompidos, mas não sabíamos disso até que a lei veio, quando o pecado dentro
de nós foi manifestado em transgressões.
A
lei é como um termômetro. Uma pessoa pode já estar doente com febre. Mas se
você diz a ela: “Amigo, sua aparência não parece muito boa; você tem febre”,
ela pode não acreditar em você. Tudo o que você teria de fazer então seria
pegar um termômetro e colocá-lo na boca da pessoa. Após dois minutos poderia
mostrar-lhe definitivamente que ela tem febre. Nós já éramos pecaminosos; já
tínhamos “febre”, mas não sabíamos disso. Assim Deus nos deu um padrão. Embora
a lei possa não ser um padrão perfeito, é um padrão suficientemente elevado.
Deus utiliza a lei para medir-nos. Por meio dela vemos que transgredimos. Uma
vez que vejamos que transgredimos a lei, sabemos que pecamos. O pecado já
estava dentro do homem; mas sem as transgressões, ele jamais teria confessado
que tinha pecado. Foi somente depois de transgredir que ele confessou que
realmente tinha pecado. Quando leio a Bíblia, maravilho-me com as palavras
usadas pelo apóstolo. Nesses versículos ele não utilizou a palavra pecado; em
vez disso, usou a palavra transgressão por três vezes. O pecado está sempre
dentro do homem, todavia enquanto não for executado, o pecado não se torna
transgressão. Deve haver algo a ser transgredido antes que haja a possibilidade
de transgressão. Deixe-me ilustrar. Suponha que haja uma criança que sempre
suja suas roupas. Ela sempre usa as mangas para limpar o nariz e suas roupas
ficam sujas rapidamente. Em seu temperamento, hábito, pensamento e consciência,
ela nunca considera que sujar suas roupas seja um pecado. Tampouco seu pai
considera isso como um pecado. O fato do pecado está ali, muito embora não haja
desobediência. As roupas da criança estão muito sujas, mas ela não se importa
nem um pouco. Sua consciência está bem, porque seu pai jamais disse que isso
está errado. Ele pode estar despreocupado quanto a isso. Mesmo quando suas roupas
estão muito sujas, ela ainda pode comer com o pai, sentar-se com o pai e
caminhar com o pai. Tudo está bem no que se refere a ela. Em outras palavras,
ela não transgrediu. Mas um dia o pai lhe diz que não pode mais sujar a roupa,
e que se o fizer novamente, irá apanhar. Se a criança habitualmente faz isso, o
falar do pai manifestará seus pecados. Originalmente só havia o pecado, não a
desobediência. Mas uma vez que a criança desobedeça, há transgressão. Da mesma
forma, somente quando existe a lei haverá a transgressão. Quando a lei diz para
fazer isso ou aquilo, a transgressão será manifestada. Antes essa criança podia
vir diante do pai prontamente e sem temor. Mas agora, se ela portar-se de
acordo com seu hábito e fizer isso de novo, ela não terá paz interiormente e
sua consciência falará.
Todos
os leitores da Bíblia e todos os que entendem a vontade de Deus sabem que Deus
não nos deu a lei com o intuito de que a guardássemos. A lei não era para que a
guardássemos, mas para que a quebrássemos. Deus nos deu a lei para que a
transgredíssemos. Para muitos de vocês essa pode ser a primeira vez que ouvem
essa palavra, e podem achá-la estranha. Deus sabia o tempo todo que você tem
pecado. Deus sabe disso; mas você mesmo não sabe. Por isso Deus deu-lhe a lei para
transgredir, de modo que você conheça a si mesmo. Deus sabe que você não é bom,
mas você acha que é. Portanto Deus deu a lei. Após transgredi-la uma, duas,
diversas vezes, você dirá que pecou. A salvação não virá a você até então.
Somente quando admitir que não tem jeito, que lhe é impossível prosseguir
conduzindo-se desse modo, você estará disposto a receber o Senhor Jesus como
seu Salvador. Somente então você estará disposto a receber a graça de Deus. Já
vimos que para receber graça é preciso que nos humilhemos. Somos pecadores e
cometemos pecados. Que nos leva a humilhar-nos? É a lei. Os seres humanos são
orgulhosos. Todos os seres humanos acham-se fortes e consideram-se bons.
Todavia, Deus deu-nos a lei, e uma vez que olhemos para a lei, temos de humilhar-nos
e confessar que na verdade não somos nada bons. Isso é o que Paulo queria falar
quando disse que antes de ler na lei que não deveria cobiçar, ele não sabia o
que era cobiçar. Entretanto, uma vez que viu a lei, ele percebeu que havia
cobiça dentro de si (Rm 7.7-8). Isso não significa que antes de Paulo ver a lei
não havia cobiça nele. Havia cobiça nele muito antes. Ele sempre cobiçara, mas
não percebia que estava cobiçando. Foi somente quando a lei lhe disse isso que
ele o percebeu. Portanto, a lei não nos leva a fazer nada que antes não
tivéssemos feito; a lei apenas expõe o que já existe em nós. Essa é a razão de
eu dizer que Deus deu a lei ao homem não para que este a cumprisse, mas para
que a infringisse. Tampouco a lei proporciona ao homem uma oportunidade para
transgredir; em vez disso, a lei mostra ao homem que ele transgredirá. A lei
permite que o homem veja o que Deus já tinha visto. Romanos 7 explica essa
questão muito claramente. Vejamos este capítulo, começando com os versículos 7
e 8: “Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não teria
conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a
cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo
mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência; porque, sem lei,
está morto o pecado”. Sem a lei, não sinto que cobiçar seja pecado, muito
embora haja cobiça dentro de mim. Portanto, a cobiça dentro em mim está morta;
isto é, não tenho consciência dela. Entretanto, após vir a lei, decido não mais
cobiçar. Mas eu ainda cobiço e o pecado se torna vivo. O versículo 9 diz:
“Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e
eu morri”.
Amigos,
lembrem-se de que Deus lhes deu a lei por uma única razão; para mostrar-lhes
que vocês mesmos sempre estiveram cheios de pecado. Por não ver seu pecado,
vocês agiam orgulhosamente. A lei veio para expô-los. Você pode dizer que não
cobiça. Entretanto, se simplesmente tentar não cobiçar, qual será o resultado
final? Quanto mais tentar, mais fraco você ficará e mais cobiçoso será. Você se
propõe a não cobiçar, mas no momento em que se propuser a isso, você se achará
cobiçando tudo. Você cobiça hoje e cobiçará amanhã; cobiça em qualquer lugar
que vá. Agora o pecado está vivo, a lei está viva e você está morto.
Originalmente o pecado estava morto e você estava bem, mas agora que a lei
veio, você não pode deixar de cobiçar. Quanto mais tentar não cobiçar, mais
cobiçoso se tornará. O problema é que o ser do homem é carnal, e por ser
carnal, sua vontade é fraca, sua conduta é rebelde e seus desejos são imundos.
O versículo 10 diz: “E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este
mesmo se me tornou para morte”. Se o homem puder verdadeiramente guardar a lei,
viverá. Mas não consigo guardá-la; por isso eu morro.
O
versículo 11 diz: “Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo
mandamento, me enganou e me matou”. Se a lei não me tivesse dito que não
deveria fazer isso ou aquilo, o pecado ficaria tranquilo em mim e não seria tão
ativo em mim. Todavia, uma vez que a lei veio e me disse que não deveria
cobiçar, o pecado, por meio do mandamento, veio tentar-me e pôs essa questão da
cobiça na minha mente. A lei me diz que eu não deveria cobiçar, e proponho-me a
não cobiçar; contudo em lugar de não cobiçar, cobiço ainda mais. Em certa época
eu senti que estava mentindo. Não mentia deliberadamente, mas às vezes, sem
querer, falava exageradamente sobre alguma coisa ou falava pouco demais sobre
outra. Ao perceber isso, resolvi que daquele momento em diante para mim o sim
seria sim e o não seria não. Não importando com quem falasse, resolvi falar
precisamente. Antes de me decidir por isso, na verdade não mentia tanto, mas
após tomar a decisão, tornou-se-me tão fácil mentir. Na verdade eu estava
piorando. No domingo seguinte enviei uma nota dizendo que não daria a mensagem
naquele dia. Quando fui questionado do motivo, disse: “Descobri que meu falar é
cheio de mentiras. Isso é muito sério. Receio que até mesmo minha mensagem será
repleta de mentiras”. Quando eu não dava atenção à mentira, esta parecia estar
morta. Obviamente, isso não quer dizer que não mentia. Entretanto, somente
quando comecei a prestar atenção à mentira, quando fui iluminado pela lei para
tratar com minhas mentiras, foi que senti que todas as minhas palavras eram
mentiras. Parece que as mentiras estavam ali próximas de mim. Portanto,
descobri que originalmente as mentiras estavam mortas, mas agora elas
tornaram-se vivas. Para onde quer que eu me voltasse, as mentiras estavam ali.
O pecado matou-me por meio da lei e fiquei desamparado. O versículo 12
continua: “Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo e justo, e
bom”. Nunca devemos considerar a lei má. A lei é sempre santa, justa, e boa.
“Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum!” (v. 13). Mas o pecado,
sim. No princípio, o pecado estava morto e eu não estava ciente disso; mas,
quando a lei veio testar-me, eu morri. “Acaso o bom se me tornou em morte? De
modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de
uma coisa boa causou-me a morte; a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse
sobremaneira maligno” (v. 13). Inicialmente, não sentimos que o pecado seja tão
pecaminoso. Mas quando a lei veio e tentamos guardá-la, percebemos onde estão
nossos pecados e quão pecaminosos e totalmente malignos eles são.
Podemos
ver a função da lei de Deus aqui. A lei é como um termômetro. Um termômetro não
lhe dará febre, mas se você tiver febre, o termômetro certamente a fará conhecida.
A lei não levará você a pecar, mas se você tiver pecados, a lei de Deus
imediatamente mostrar-lhe-á que é um pecador. Originalmente, você não sabia que
era um pecador, mas agora sabe. A lei veio julgar o pecado do homem. A lei foi
estabelecida porque o homem tem o pecado. Você jamais verá Deus guardando a
lei, pois não existe a possibilidade de que Deus transgrida a lei. Por
conseguinte, nenhuma lei é imposta a Ele. Deus nunca disse ao Senhor Jesus para
amar o Senhor Seu Deus de todo o Seu coração, de toda a Sua alma, de toda Sua
força, e de toda Sua vontade, e amar ao Seu próximo como a Si mesmo. O Senhor
Jesus simplesmente não precisava disso. Ele espontaneamente ama ao Senhor Seu
Deus de todo Seu coração, de toda Sua alma, de toda Sua força, e de toda Sua
vontade; Ele espontaneamente ama ao Seu próximo como a Si mesmo, até mesmo mais
que a Si mesmo. Portanto, a lei é inútil para Ele. E Deus não disse a Adão para
não cobiçar e para não roubar. Por que Adão precisaria cobiçar? Por que Adão
precisaria roubar? Deus já lhe havia dado tudo o que estava na terra. Os Dez
Mandamentos não foram dados a Adão porque ele não precisava deles. Em vez
disso, a lei foi dada especificamente aos israelitas, pois ela mostrava ao
homem carnal sua condição interior e seu pecado interior. Se nenhum chinês
jamais tivesse roubado, não haveria necessidade de um artigo na lei chinesa
acerca do roubo. Porque o homem rouba, existe um artigo na lei que diz que
ninguém deve roubar. Portanto, a lei existe por causa do pecado. Quando o homem
pecou, a lei veio a existir. Agora, voltemos a Gálatas 3 e continuemos com o
versículo 19: “Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das
transgressões”. Agora temos clareza. Deus propôs antes dos tempos eternos dar
graça ao homem. Mais tarde Ele deu a Abraão uma promessa. Na eternidade era
apenas o Seu propósito. Com Abraão, algo foi falado: Ele lidaria com o homem na
graça. Por que, então, Deus deu a lei ao homem quatrocentos e trinta anos após
aquilo? Ela foi adicionada por causa das transgressões. Para que os pecados do
homem se tornassem transgressões, a lei foi dada ao homem. Desse modo, o homem
percebeu que tinha o pecado e esperou “até que viesse o descendente a quem se
fez a promessa” (v. 19). Não foi senão até que todos no mundo vissem que eram
pecadores e realmente sem esperança que ficaram desejosos de receber o Senhor
Jesus Cristo, a quem Deus havia prometido. Mesmo que Deus tivesse dado mais
cedo a Sua salvação ao homem, o homem não a teria recebido. O homem não quer a
graça de Deus, mas porque tem transgressões e é sem esperança, ele
provavelmente receberá a graça de Deus. O versículo 19 finaliza assim: “E foi
promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador”. Aqui, promulgada está
se referindo à lei mencionada acima. A lei não somente foi adicionada por causa
das transgressões, mas também foi promulgada por um mediador. Há esses dois
aspectos na lei: ela foi adicionada por causa das transgressões e promulgada
por meio de anjos, pela mão de um mediador. Por que a lei foi promulgada pela
mão de um mediador? O versículo 20 explica: “Ora, o mediador não é de um”. Você
já foi um intermediário ou um interventor? Um intermediário age em favor das
duas partes. Por que a lei tem um mediador? Porque com a lei há o lado de Deus
e o lado do homem. O homem deve fazer certas coisas para Deus antes que Ele
faça certas coisas pelo homem. Quando as partes A e B fazem um contrato, o
contrato estabelece o que A deve fazer e o que B fará em contrapartida, e
vice-versa. Um mediador, então, servirá como uma testemunha entre as duas
partes. A lei estabelece qual é a responsabilidade de Deus para com o homem e
qual é a responsabilidade do homem para com Deus. Se uma das partes falha, toda
a questão fracassa.
Aleluia!
O que se segue no versículo 20 é maravilhoso: “Mas Deus é um”. Mas Deus é um! A
lei envolve dois lados. Se um dos lados tiver problemas, tudo fracassa. Ao dar
a lei, Deus disse que devemos fazer isso e aquilo. Se falharmos em fazê-las,
toda a questão fracassa. Mas ao fazer a promessa, “Deus é um”, não importa como
sejamos. Na promessa e na graça, não há menção do nosso lado, somente do lado
de Deus. Uma vez que não haja problema do lado de Deus, não haverá problema
algum. A questão hoje é se Deus pode salvar Abraão e se Ele pode preservá-lo. A
questão não é como somos. Na promessa, não há nada que nos envolva, nada que
dependa de como sejamos. O princípio da lei pode ser comparado a comprar livros
da nossa livraria. Se eu gastar $1,60, posso adquirir uma cópia de The
Spiritual Man. Se eu der o dinheiro aos irmãos ali, eles me darão o livro. Se
eles tiverem o livro, mas eu não tiver o dinheiro, a transação não será feita.
Tampouco a transação será realizada se eu tiver o dinheiro e eles não tiverem
o livro. Se um lado tem um problema, o negócio fracassa. Portanto, a lei
é de dois lados. Se um lado falha, toda a questão fracassa. Mas que dizer
acerca da promessa? A promessa é como nossa revista The Christian; ninguém
precisa pagar por ela, pois é gratuita. A lei é: se você fizer algo por mim, eu
farei algo por você em retribuição. Se fizer determinadas coisas, você obterá
algo de volta; se não puder fazê-las, não obterá nada. Assim, a lei é de dois
lados. Ao fazer a promessa, Deus nos concede a graça não importando se fazemos
bem ou não. Isso nada tem a ver conosco; como somos não é problema. Agradecemos
a Deus porque a promessa vem de um lado apenas. Um lado é suficiente. O
versículo 21 diz: “É, porventura, a lei contrária às promessas de Deus? De modo
nenhum!”. Os de pouco conhecimento podem dizer que a lei contradiz a graça. É
correto dizer que a lei e a promessa são duas coisas completamente diferentes,
mas não há nenhuma contradição; a lei é meramente o servo da promessa. É algo
usado por Deus e inserido por Deus. Lei e promessa podem parecer contrárias em
natureza, mas nas mãos de Deus elas não são nada contraditórias. A lei foi
usada por Deus para cumprir Seu propósito. Sem a lei, a promessa de Deus não
teria sido cumprida. Por favor, lembrem-se de que Deus usa a lei para cumprir
esse objetivo. Portanto, a lei e a promessa em nada se contradizem. Paulo
conclui desta maneira: “Porque, se fosse promulgada uma lei que pudesse dar
vida, a justiça, na verdade, seria procedente de lei” (v. 21). Se um homem
pudesse obter justiça pela lei, ele poderia ter vida por meio da lei.
Entretanto, o homem não pode fazer isso. Portanto, “a Escritura encerrou tudo
sob o pecado” (v. 22a). Que foi que Deus usou para encerrar-nos a todos? Ele
utilizou a lei. Quem quer que seja encerrado pela lei tem de admitir que é um
pecador. Deus encerrou tudo sob o pecado “para que, mediante a fé em Jesus
Cristo, fosse a promessa concedida aos que creem” (v. 22b). Aleluia! A lei de
Deus é algo que Deus usa para salvar-nos. Não é algo que Deus usa para
condenar-nos. A lei é totalmente algo usado por Deus. Cada um de nós foi
encerrado. Cada um de nós é um pecador. Deus utilizou a lei a fim de
mostrar-nos que somos pecadores para que Ele possa salvar-nos!
A Justiça de Deus
Nos
primeiros capítulos, vimos que o homem pecou e que a salvação de Deus é baseada
no fato de o homem ter pecado. Se o homem não tivesse pecado, não haveria
necessidade de salvação. Uma vez que o homem pecou, Deus deu a lei para
mostrar-lhe que ele pecou. A lei de Deus veio ao mundo a fim de que as transgressões
humanas abundassem. No princípio, o homem tinha apenas pecado; ele não tinha
transgressões. Mas quando a lei veio, o homem não só possuía pecado, mas também
transgressões. Após transgredir, o homem percebe que é um pecador. Graças ao
Senhor, porque apesar de termos pecado e transgredido, Deus, que é amor,
propôs-se a dar-nos graça e misericórdia. Ele propôs fazer algo para nós a fim
de resolver os problemas que não podemos resolver por nós mesmos. Neste
capítulo, contudo, devemos ver algo mais. Apesar de Deus nos amar e mostrarse
misericordioso para conosco e apesar de pretender plenamente nos dar graça, há
algo que torna muito difícil para Deus fazê-lo. Deus não pode conceder-nos
graça instantaneamente; Ele não pode dar-nos vida eterna diretamente. Há um
dilema que Deus deve resolver antes de poder conceder-nos graça. O problema, o
qual a Bíblia menciona frequentemente, é a própria justiça de Deus. A expressão
justiça de Deus tem confundido muitos teólogos há séculos. Se lermos a Bíblia
sem conceitos nocivos ou noções preconcebidas, Deus nos mostrará o que é a Sua
justiça. Podemos ver essa questão claramente sem muita dificuldade. Neste
capítulo, desejamos ver, pela graça de Deus, o que é a justiça de Deus. Em
outras palavras, esperamos ver a dificuldade que Deus encontra quando Ele nos
salva.
Sua Salvação Combinada com Sua Justiça
Se
Deus vai salvar-nos, Ele deve fazê-lo de modo que combine ou se ajuste a Ele
mesmo. Se Deus vai dar-nos salvação, Ele não pode dar-nos de maneira que
contrarie Sua natureza, Seu método e Sua maneira. Somos pecadores cheios de
transgressões e, por isso, não temos nenhuma noção de justiça. Se quiséssemos
ser salvos, provavelmente usaríamos todos os meios possíveis, quer retos ou
tortuosos, bons ou maus. Tentaríamos mil e uma maneiras para sermos salvos.
Desde que sejamos salvos de alguma maneira, isso já nos basta. Não nos
preocupamos se o procedimento é adequado ou se o método está certo. Desde que
sejamos salvos, estamos satisfeitos. Nem mesmo atentamos de onde vem a salvação
e se está ou não certa. Nesse sentido somos como ladrões. O que preocupa um
ladrão é conseguir dinheiro. Ele não se preocupa de onde o dinheiro vem. Desde
que ganhe dinheiro, fica satisfeito. Ele não tem o conceito do certo e do
errado; ele não tem o conceito de justiça e de injustiça. Mas devemos perceber
que a salvação não é somente uma questão de sermos salvos, mas de Deus
salvar-nos. Embora desejemos ser satisfeitos não importando como somos salvos,
Deus não pode dizer que tudo o que implica na salvação se resume em salvar-nos,
sem se importar se a maneira pela qual somos salvos está correta ou não. Deus,
sem dúvida, deseja dar-nos graça e salvar-nos. Indubitavelmente, Ele quer
darnos Sua vida. Deus é cheio de amor, e Ele está mais do que desejoso de que
sejamos salvos. Mas se Deus vem salvar-nos, Ele tem de fazê-lo de modo
excelente. Por isso, o fato de Deus nos salvar é um grande problema. Deus
realmente deseja salvar os homens. Mas qual o método a ser usado por Ele para
que o homem possa ser salvo da maneira justa? Que método há que seja o mais
racional? Que método há que se compare com Sua própria dignidade? É fácil ser
salvo, mas é difícil ser salvo justamente. Eis por que a Bíblia fala muito
sobre a justiça de Deus. Ela nos diz repetidamente que Deus salva o homem de
maneira compatível com Sua justiça.
Que
é a justiça de Deus? A justiça de Deus é o modo de Deus agir. Amor é a natureza
de Deus, santidade é a disposição de Deus e glória é o próprio ser de Deus.
Justiça, no entanto, é o proceder de Deus, Sua maneira e Seu método. Uma vez
que Deus é justo, Ele não pode amar o homem meramente conforme o Seu amor. Ele
não pode conceder graça ao homem meramente conforme Ele quer. Ele não pode
salvar o homem meramente conforme o desejo do Seu coração. É verdade que Deus
salva o homem porque o ama. Mas Ele deve fazê-lo de um modo que esteja de
acordo com Sua justiça, Seu proceder, Seu padrão moral, Sua maneira, Seu
método, Sua dignidade e Sua majestade. Sabemos que para Deus é fácil salvar o
homem. Mas não é fácil para Deus salvá-lo de maneira justa. Apenas imagine quão
fácil seria para Deus salvar-nos se a questão da justiça não fosse um problema.
Não haveria dificuldade alguma. Se Deus não nos amasse, nada poderia ser feito
por nós e tudo seria sem esperança. Mas Deus nos amou e teve misericórdia de
nós. Além disso, Ele pretende dar-nos graça. Se a justiça não contasse, Deus
poderia dizer: “Você pecou? tudo bem, apenas não cometa o erro novamente”.
Deus, assim, poderia ignorar nossos pecados. Ele poderia dispensar-nos e
mandar-nos embora. Se Deus não julgasse o pecado do pecador e tratasse seus
pecados conforme a lei, mas perdoasse descuidadamente, onde então estaria Sua
justiça? Aqui reside a dificuldade. Algum tempo atrás, um irmão se envolveu numa
questão complicada e foi posto na prisão
pelo governo. Eu sabia que, embora ele não estivesse completamente sem culpa, o
erro era realmente de outra pessoa. Por causa disso, quis ajudá-lo. Fui até
Nanquim e conversei com algumas pessoas que estavam envolvidas no caso. Eu lhes
falei sobre a situação e pedi-lhes que ajudassem em alguma coisa. Éramos nove
ali e todos éramos muito ocupados. Tivemos nove reuniões num período de onze
dias, tentando descobrir um modo de ajudar aquele homem. Finalmente, todas essas
pessoas admitiram que tinham a maneira e a autoridade para livrá-lo, mas não
poderiam fazê-lo sem incriminar a si mesmos. Então, tivemos de achar um modo de
libertar o homem que fosse, ao mesmo tempo, legal. Sem dúvida alguma, Deus é
cheio de amor para conosco. Deus quer salvar-nos. Mas Ele também deseja fazê-lo
legalmente. Se não nos salvar legalmente, Ele não pode salvar-nos de maneira
nenhuma. O amor de Deus é limitado por Sua justiça. Deus não pode agir
contrariamente a Si próprio e declarar irresponsavelmente que nossos pecados
estão apagados, que tudo está bem e que podemos considerar-nos livres. Se Deus
nos perdoasse de modo irresponsável, que lei, que justiça e que verdade seriam
deixadas no universo? Tudo isso estaria acabado. É verdade que Deus nos quer
salvar, e é verdade que precisamos ser salvos. A questão é se há ou não
injustiça em sermos salvos. Há muitos hoje que aceitam subornos e são parciais
por causa dos relacionamentos particulares. Eles sempre ajudam os outros, e os
outros sempre recebem benefícios deles; mas todos concordamos que essas pessoas
não são adequadas. Elas não são justas, mas corruptas. Elas podem ter muito
amor, mas o que fazem não é correto. Deus não pode salvar-nos à custa de se
envolver em injustiça. Deus deve salvar-nos preservando Sua justiça. Para Deus
é importante salvar-nos, mas deve fazê-lo de acordo com Sua justiça. Deus
poderia salvar-nos imediatamente com Seu amor. Mas também deve salvar-nos de
maneira muito justa. Como isso pode ser feito? Para Deus não é uma questão
fácil salvar-nos sem violar Sua justiça. Como pode Deus justificar pecadores
sem cometer injustiça? Como pode Deus salvar pecadores sem envolver-se em
injustiça? Como Deus pode perdoar nossos pecados de maneira justa? Deus quer
salvar-nos, mas Ele quer que sejamos capazes de dizer ao mesmo tempo que
recebemos Sua vida e fomos salvos porque Ele nos justificou da maneira mais
justa.
A Salvação de Deus para a Demonstração da Sua Justiça
Há
um livro na Bíblia, o livro de Romanos, que nos diz como Deus trata
especificamente com esse problema. Vejamos Romanos 3.25-26, começando com a
segunda parte do versículo 25: “Para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na
sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em
vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo
e o justificador daquele que tem fé em Jesus”. Aqui tenho de acrescentar uma
palavra. Algumas versões cometem um erro ao traduzir o versículo 25. Elas
traduzem: “Para declarar Sua justiça para a remissão de pecados passados, pela
tolerância de Deus”. Mas a palavra para não deveria ser usada nesse versículo.
Em vez disso, deveria dizer: “Para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na
sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos”. Além
disso, no versículo 26, a palavra e deveria ser entendida como união de duas
coisas que ocorrem ao mesmo tempo. Assim, esta sentença deveria ser entendida
desta maneira: “Para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em
Jesus”. Enquanto Deus justifica os que crêem em Jesus, Ele demonstra ser justo,
e o homem deve reconhecê-Lo como justo.
O
versículo 25 trata de problemas passados; o versículo 26 trata de problemas
presentes. Os problemas passados referem-se ao povo da época do Antigo
Testamento. Os problemas presentes relacionam-se ao povo da época do Novo
Testamento. O versículo 25 trata de questões do Antigo Testamento. O versículo
26 trata de questões do Novo Testamento. As pessoas da época do Antigo
Testamento transgrediram a lei por quatro mil anos. Elas eram cheias de pecados
e transgressões. Mas Deus não as destinou à perdição ou destruição imediata.
Naqueles quatro mil anos, dia após dia, Deus tolerou e deixou impunes os
pecados previamente cometidos. Não vemos o lago de fogo imediatamente após o
jardim do Éden. Embora Deus dissesse ao homem que no dia em que ele comesse do
fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal certamente morreria (Gn 2.17),
quando Adão comeu o fruto, ele não foi imediatamente para o lago de fogo. Por
quê? Porque Deus deixou impunes os pecados da época do Antigo Testamento; Ele
exerceu Sua tolerância sobre eles. Deus tolerou e deixou impunes os pecados
cometidos pelo homem no passado. Mas uma questão se levanta imediatamente: Deus
foi justo ao tolerar e deixar impunes os pecados humanos no Antigo Testamento?
Qual foi o propósito de Deus em fazer isso? Na verdade, ao deixar impunes os
pecados do homem e tolerá-los, Deus estava manifestando Sua justiça.
Deus
não quer que pensemos que após sermos salvos, nossa salvação é ilegal. Deus não
gostaria que o homem acolhesse tais críticas. Deus quer mostrar-nos que nada há
de ilegal ou injusto em Seus caminhos. Quanto aos pecados da época do Antigo
Testamento, Ele diz que Sua tolerância e Sua indulgência foram para demonstrar
a Sua justiça. Quanto aos pecados da presente era, Ele diz que o que é feito é
também para demonstrar Sua justiça. Deus deseja que ao justificar os que crêem
em Jesus, Ele seja reconhecido como O justo.
A
salvação de Deus não é “mercadoria contrabandeada”. Deus quer que a nossa
salvação venha pela “porta da frente”. Nossa salvação tem de ser correta e
adequada. Ele não permitirá que ninguém diga que a nossa salvação é inadequada.
Ele não oferece uma salvação fraudulenta. Uma salvação fraudulenta é rejeitada
por Deus. A intenção de Deus é salvar-nos, mas Ele quer fazê-lo de maneira a
estar relacionada com Sua natureza, Seu padrão moral, Sua dignidade, Sua lei e
Sua justiça. Deus não pode salvar-nos ilegalmente. Aqui temos um problema. Se
Deus estivesse disposto a usar todos os meios possíveis para nos salvar e se
ignorasse totalmente a questão da justiça, Ele poderia dizer a qualquer pessoa:
“Vai, você está livre”. Há homens que são tolamente bons. Se Deus dissesse
isso, Ele seria um Deus tolamente bom. Deus jamais poderia ser assim. Se Deus
não amasse você, seria fácil — Ele simplesmente o deixaria morrer e perecer
quando pecasse. Mas Ele não pode permitir que isso aconteça, porque o ama. O
problema é que o pecado do homem e o amor de Deus aqui estão juntos. Agora,
quando a justiça é adicionada a esses dois, a salvação se torna a coisa mais
difícil sobre a terra. Se o homem não tivesse pecado, tudo estaria bem; e se
Deus não nos amasse, também não haveria problema. Se alguém comete um crime e
deve morrer, isso nada tem a ver comigo se eu não o amo. Hoje muitos estão
presos para ser executados. A questão significa pouco para mim se eu não os
amo. Ser-me-ia difícil somente se os amasse e quisesse salvá-los. Se eles não
tivessem pecado, a questão seria fácil de tratar. E se não os amasse, a questão
também seria fácil de controlar. Além disso, se eles pecaram e os amo, mas não
tenho justiça, a questão ainda pode ser tratada facilmente; posso controlá-la
irresponsavelmente por meio de suborno. Mas, se sou uma pessoa justa, não posso
recorrer a tais métodos fraudulentos e impróprios. Não os libertaria
ilegalmente. Se vou salvá-los, tenho de fazê-lo corretamente. Levar a cabo tal
salvação se torna a mais difícil tarefa em toda a terra. Estas três questões —
amor, pecado e justiça — não podem coexistir facilmente. O amor é um fato; o
pecado também é um fato e a justiça é uma necessidade. Por esses três estarem
juntos, Deus deve vir com uma maneira de nos salvar e de satisfazer Seu coração
de amor, enquanto, ao mesmo tempo, de preservar a Sua justiça. Cumprir tal obra
seria deveras uma obra-prima. Aleluia! A salvação que Deus nos preparou em Seu
Filho Jesus é tal obra-prima. Ele é capaz de nos salvar de nossos pecados e
demonstrar Seu amor, e é capaz de fazê-lo da maneira mais justa. Isso Ele faz
pela obra redentora do Senhor Jesus.
A Vinda de Cristo Como a Exigência de Deus em Justiça
A
vinda do Senhor Jesus Cristo à terra foi a exigência de Deus em justiça; não
foi a exigência de Deus em graça. Essa é uma palavra muito séria. Se houvesse
amor sem justiça, o Senhor Jesus não teria necessidade de vir à terra e a cruz
teria sido desnecessária. Por causa do problema da justiça, o Senhor Jesus teve
de vir. Sem justiça, Deus poderia salvar-nos do modo que quisesse. Ele poderia
ignorar nossos pecados ou perdoá-los levianamente. Ele poderia adotar uma
atitude permissiva em relação aos nossos pecados ou ficar completamente alheio
a eles. Se Deus dissesse: “Já que todos pecaram, desta vez Eu deixo passar;
apenas não pequem novamente”, não haveria necessidade nenhuma para um Jesus de
Nazaré no primeiro plano. Além da exigência da justiça, não era necessária a
vinda de Jesus de Nazaré. A vinda de Jesus de Nazaré foi uma exigência da
justiça. Quando o pecado entrou no mundo, o governo de Deus foi danificado. Sua
ordem determinada no universo foi quebrada; Sua glória foi esmagada; Sua
santidade foi profanada; Sua autoridade foi rejeitada e Sua verdade foi
distorcida. Quando o pecado entrou no mundo, Satanás riu e os anjos testificaram
que o homem tinha falhado e caído. Se Deus tivesse de julgar o pecado sem
misericórdia, Ele agiria sem amor. Mas, se Ele ignorasse os pecados do homem
sem julgá-los, Ele agiria sem justiça. Porque Deus ama ao mundo e ao mesmo
tempo é justo, Ele teve de enviar o Senhor Jesus até nós. Por ser justo, Ele
teve de julgar o pecado. Porque Ele é amor, Ele teve de suportar o pecado do
homem em seu lugar. Devo enfatizar essas duas declarações: Deus deve julgar
porque é justo. E Deus sofre o julgamento e a punição devidos ao homem, porque
Ele é amor. Sem julgamento, não vemos justiça; com julgamento, não vemos amor.
Contudo, o que Ele fez foi suportar o julgamento em nosso lugar. Dessa forma,
Ele manifesta tanto Seu amor como Sua justiça em Jesus Cristo.
A Cruz Manifesta a Justiça e o Amor de Deus
Assim,
a cruz está onde a justiça de Deus é manifestada. A cruz nos mostra o quanto
Deus odeia o pecado. Ele está determinado a julgar o pecado. Ele estava
disposto a pagar preço tão alto como o de ter Seu Filho pregado na cruz. Deus
não estava disposto a desistir de Sua justiça. Se Deus estivesse disposto a
esquecer Sua justiça, a cruz teria sido desnecessária. Por não estar disposto a
abandonar Sua justiça, Deus preferiu que Seu Filho morresse.
A
cruz também é o lugar onde o amor de Deus é manifestado. O peso dos nossos
pecados deveria estar sobre nós. Se não o suportamos, é injusto. Mas suportar
tal carga é demais para nós. Por isso Ele veio e a carregou por nós. O fato de
Deus dispor-se a suportar a carga mostra-nos Seu amor. O fato de Deus ter, na
verdade, suportado tal fardo, demonstra a Sua justiça. Deus fazer-nos levar a
punição é justiça sem amor. Deus não nos fazer levar a punição é amor sem
justiça. Por Ele tomar a punição e levá-la por nós, há tanto justiça como amor.
Aleluia! A cruz cumpre tanto a exigência da justiça, como a exigência do amor.
Nossa salvação hoje não é “mercadoria contrabandeada”; não a recebemos de modo
fraudulento ou impróprio. Nós não fomos salvos ilegalmente. Fomos salvos de
modo claro e definitivo por meio do julgamento. Para nós, o perdão é gratuito,
mas para Deus não há tal coisa como perdão gratuito.Para Ele, o perdão vem
somente após a redenção dos pecados. Por exemplo, se você infringir a lei, e o
tribunal exigir que pague uma multa de mil dólares, você deve pagar a multa
para que seu caso seja encerrado. Da mesma maneira, fomos salvos somente após
sermos julgados na cruz. Nossa salvação vem após sofrermos o julgamento pelo
pecado em Cristo. É uma salvação que vem apenas mediante o julgamento. Aleluia!
Nós fomos julgados; então, depois disso, fomos salvos. O amor de Deus está aqui
e a justiça de Deus também está aqui.
Deixe-me
dar uma ilustração. Suponha que haja um irmão que seja milionário e que eu seja
um de seus devedores. Digamos que eu lhe deva grande soma em dinheiro, quantia
tão grande quanto os dez mil talentos mencionados no livro de Mateus
(18.24). Quando tomei emprestado o dinheiro dele, assinei uma nota promissória.
Na nota, a quantidade e o vencimento estão claramente estabelecidos, bem como
os termos e as condições da penalidade. Suponha que agora eu vá até ele e diga:
“Gastei todo o dinheiro que tomei emprestado de você, e é-me impossível
ganhá-lo e pagá-lo a você num momento de crise econômica como este. Estou com dificuldade
até para conseguir comida e sobreviver. Por favor, tenha misericórdia e me
libere. Devolva-me a promissória”. Se eu implorar dessa maneira, ele pode
devolver-me a nota? A promissória contém exatamente a quantidade que lhe devo e
a época em que devo pagar. Esse é um contrato que não somente eu devo cumprir,
mas ele tem de honrar da mesma forma. Como devedor, tenho a responsabilidade de
pagá-lo dentro do prazo estipulado. Como credor, ele também tem uma
responsabilidade a cumprir, isto é, de devolver-me a promissória somente após
receber o dinheiro. Se ele me devolver a nota antes de receber o dinheiro,
mesmo que o faça por amor e em consideração a mim, ele não está sendo justo.
Porque nós, seres humanos, somos simplesmente injustos e estamos acostumados a
atitudes injustas, raramente nos ocorre que o perdão gratuito seja uma forma de
injustiça. Mas Deus não pode fazer algo injusto. Se Deus nos perdoasse
gratuitamente, Ele seria injusto. Além do mais, voltando à ilustração,
suponhamos que esse irmão me devolva a nota promissória sem receber o dinheiro.
Isso vai afetar-me de modo negativo. Quando tiver dinheiro, irei usá-lo
indiscriminadamente. Terei descoberto que posso usar o dinheiro dos outros
fácil e levianamente. Assim, esse perdão gratuito do irmão é injustiça para com
ele e uma má influência para mim. Agora, suponha que esse irmão seja justo, mas
não queira que eu lhe pague. Que ele pode fazer? Deixe-me contar-lhe o que fiz
numa situação semelhante. Certa vez alguém foi até minha casa pedir-me dinheiro
emprestado. Ele era um cristão nominal. Então lhe disse que, de acordo com a
Bíblia, os cristãos não devem tomar dinheiro emprestado. Mas assim mesmo ele
suplicou-me que lhe emprestasse dinheiro. A princípio, resolvi simplesmente
dar-lhe o dinheiro; mas sabia que ele era irresponsável com o dinheiro dos
outros, porque alguns irmãos me haviam alertado e dito que essa pessoa
frequentemente pedia dinheiro emprestado aos irmãos, e advertiram-me a não lhe
emprestar coisa alguma. Então, numa segunda consideração, decidi a não
simplesmente dar-lhe o dinheiro, mas em vez disso, emprestar-lhe. Quando lhe
entreguei a quantia que me pediu, perguntei-lhe quando iria devolvê-la. Eu o
pressionei por uma data de pagamento, embora soubesse que a quantia nunca seria
restituída. Pedir emprestado era um hábito dele; era sua vida. Mas não podia
dizer-lhe que não esperava que ele pagasse, pois isso seria um convite para
mais empréstimos. Assim, estabeleci uma data de pagamento. Quando chegou o dia,
propositadamente escrevi-lhe uma carta, lembrando-o de que a data havia
chegado. Após receber minha carta, ele veio ver-me. Mas antes que pudesse falar
muito, eu o interrompi e lhe disse que fosse para casa e encontrasse com sua
esposa, pois ela tinha algo a dizer-lhe. Assim, ele foi para casa. Na verdade,
antes que viesse ver-me, eu levei à sua casa a quantia exata que ele me devia e
a dei à sua esposa. Disse-lhe que quando seu marido voltasse para casa, ela
deveria dizer-lhe que eu lhe havia mandado a soma do dinheiro do pagamento de
sua dívida. Quando o marido chegou em casa, a esposa lhe disse o que eu havia
falado. Então ele abriu o pacote e encontrou a quantia exata de seu débito. Ele
então entendeu o que fazer. Voltou à minha casa e me devolveu o dinheiro. Nesta
atitude, você pode ver o amor e a justiça. Se este homem tivesse sido forçado a
me pagar, não teria havido amor. Mas se não o autorizasse a pagar, eu teria
sido injusto, pois eu havia dito claramente que o dinheiro lhe havia sido dado
como empréstimo. Não apenas teria sido injusto em mim mesmo, como também teria
exercido má influência sobre ele. Numa próxima vez, ele teria sido mais
irresponsável. Assim, eu fiz o que fiz. Devemos a Deus “dez mil talentos”, mas
não temos como restituí-lo. Agora, Deus está fazendo a mesma coisa conosco.
Porque nos ama, Ele não pode pedir-nos que o paguemos. Mas porque é justo, Ele
não nos dirá que não precisamos pagar. Para nós, é impossível restituí-Lo. No
entanto, para Deus é injusto liberar-nos de nossa obrigação. Louvamos ao Senhor
porque Ele veio para nos dar o “dinheiro” a fim de que possamos pagar-Lhe o que
devemos. O cobrador é Deus e o pagador também é Deus. Sem cobrar, não há
justiça; mas se tivermos de pagar, não há amor. Agora, o próprio Deus é o
cobrador; assim, a justiça é mantida. E o próprio Deus também é o pagador;
assim, o amor é mantido. Aleluia! O cobrador é o pagador. Esse é o significado
bíblico da redenção dos pecados. Dessa forma, Jesus, o Nazareno, veio e levou
nossos pecados em Seu corpo na cruz. O próprio Deus veio carregar os nossos
pecados. Nossos pecados foram julgados por Deus na pessoa de Jesus Cristo. O
sangue do Senhor Jesus derramado na cruz é a prova desse julgamento. Nós nos
achegamos a Deus por esse sangue. Por intermédio do Senhor Jesus, dizemos a Deus
que fomos julgados. Agora, devolvemos-Lhe o que o Senhor Jesus pagou por
nós. É verdade que pecamos. Mas não somos irresponsáveis; houve o julgamento. É
verdade que tínhamos um débito. Mas não estamos fugindo dele; o débito já foi
pago. Temos o sangue, que significa a salvação realizada pelo Senhor Jesus,
como prova de quitação de que Deus pagou nosso débito a Si Mesmo. Eis por que o
sangue no Antigo Testamento era aspergido sete vezes no interior do véu. É por
isso que ele tinha de ser levado até o propiciatório sobre a arca. Deus tem de
perdoar todos os pecadores que vêm a Ele pelo sangue do Senhor Jesus. Não há
outra maneira de sermos perdoados por Ele. Voltemos à ilustração anterior.
Suponha que eu tenha tomado emprestado de um irmão dez mil talentos de prata e
não tenha dinheiro para pagá-lo. Um dia, ele vai à minha casa e diz: “Você me
deve dez mil talentos de prata. Agora, precisa devolver-me. Não sou uma pessoa
irresponsável ou negligente. Tudo o que faço, faço seriamente. Você tem de
pagar-me. Agora, aqui estão dez mil talentos de prata. Leve isso à minha casa
amanhã e pague seu débito. Assim, você pode pegar sua nota promissória de
volta”. Eu deveria esperar que indo à sua casa com o dinheiro no dia seguinte,
poderia resgatar a promissória. Mas suponha que após devolver-lhe o dinheiro,
ele diga que, porque o dinheiro me fora dado no dia anterior, ele não me
devolverá a nota. Ele pode fazer tal coisa? Quando eu lhe der o dinheiro, será
que ele tem o direito de não me devolver a nota promissória? Não. Ele tinha o
direito de não me dar o dinheiro no dia anterior. Se ele não me tivesse dado o
dinheiro, no máximo, eu poderia dizer que ele não me ama. Não posso dizer nem
uma palavra a mais. Mas se ele me deu o dinheiro, e eu o paguei, ele seria
injusto se ainda mantivesse a nota; não é simplesmente uma questão de não me
amar. Se ele for justo, ele tem de me dar a nota quando lhe devolvo o dinheiro.
Deus é Obrigado a Perdoar-nos por Causa da Justiça
Portanto,
antes de o Senhor Jesus vir à terra e ser morto na cruz, seria correto Deus
recusar-se a nos salvar. Deus podia não nos salvar. Se Deus não nos tivesse
dado Seu Filho, tudo o que podíamos dizer era que Deus não nos amava. Nada
poderíamos dizer além disso. Mas porque Deus verdadeiramente nos deu Seu Filho
e pôs nossos pecados sobre Ele a fim de que pudéssemos ser redimidos de nossos
pecados, Deus nada pode fazer senão perdoar nossos pecados quando nos achegamos
a Ele por meio do sangue do Senhor Jesus e mediante Sua obra. Aleluia! Deus tem
de perdoar nossos pecados! Você percebe que Deus é obrigado a nos perdoar? Se
vai a Deus por intermédio de Jesus Cristo, Deus é obrigado a perdoar seus
pecados. Foi amor que levou Seu Filho à cruz, mas foi justiça o que levou Deus
a nos perdoar. João 3.16 diz: “Porque Deus amou ao mundo de tal ma neira que
deu o Seu Filho unigênito”. Por amor, Deus nos deu Seu Filho Unigênito. Mas em
1 João 1.9 é dito: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para
nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. A obra da cruz foi
cumprida para nós mediante o amor de Deus. Mas hoje quando vamos a Deus por
meio da obra consumada de Jesus Cristo, Deus tem de nos perdoar baseado em Sua
fidelidade e justiça.
Assim,
se o Senhor Jesus não tivesse vindo, Deus estaria desobrigado de nos salvar.
Mas agora que o Senhor Jesus foi morto, mesmo que Deus não tivesse prazer em salvar-nos, rigorosamente falando, Ele ainda teria de fazê-lo. Se Ele recebesse
o dinheiro poderia recusar-se a devolver a nota promissória? Deus não pode ser
injusto, porque se for injusto, Ele próprio se torna um pecador. Por isso, Deus
é obrigado a perdoar a todos os que vêm a Ele por meio do sangue do Senhor
Jesus. Aleluia! Deus não pode recusar-se a perdoá-los. Quero gritar que isso é
o evangelho! Uma vez que Deus nos deu Seu Filho, Ele se comprometeu. Você pensa
que podemos restituir a Deus agora? Hoje, por meio do Senhor Jesus, não apenas
podemos pagar a Deus, mas temos mais do que precisamos para pagá-Lo. Temos um
excedente; pois onde o pecado é abundante, a graça é superabundante. O pecado é
abundante. Mas a graça no Filho de Deus é mais abundante, até mesmo
superabundante. Por essa razão é que unicamente por meio do Senhor Jesus
podemos ser salvos.
Cada
um deve admitir que não há nada injusto com Deus quando vamos a Ele por meio do
Senhor Jesus e quando Ele nos dá vida e perdoa nossos pecados. O nosso coração
nunca pode dizer que Deus, ao perdoar nossos pecados, salvou-nos ilicitamente
quando deixou impunes nossos pecados, tolerando e justificando aos que creem em
Jesus. Nunca podemos dizer que Deus lidou irresponsavelmente com nossos
pecados. Pelo contrário, devemos dizer que Deus nos salvou do modo mais justo.
Nossa salvação é uma salvação adequada e íntegra. Os nossos pecados foram
julgados; portanto, fomos salvos. Ninguém pode dizer que Deus nos salvou
adotando procedimentos injustos. Antes, devemos dizer que Deus nos salvou pelos
mais justos procedimentos.
A JUSTIÇA DE DEUS MANIFESTADA À PARTE DA LEI
Agora
vamos voltar a Romanos 3. Os versículos 19 a 26 são uma passagem bastante
difícil na Bíblia. Mas após termos visto sobre a justiça de Deus e a justiça
que o Senhor Jesus cumpriu, Romanos 3:19-26 é maravilhoso. O versículo 19 diz:
“Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz, para que se
cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus”. Por que Deus deu a
lei ao homem? Ela foi dada para que o homem nada tivesse a dizer diante de
Deus, para que toda boca pudesse ser fechada. Deus quer mostrar ao homem que
todos são pecadores e que todos pecaram. Não há um que seja bom. O versículo 20
diz: “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão
de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”. O propósito final e máximo
da lei de Deus foi mostrar ao homem que ele é um pecador. O propósito da lei
não foi para que o homem fosse salvo por meio dela. A lei tem um tom totalmente
condenatório. A lei diz que o homem deveria ser condenado, deveria morrer e
deveria perecer. Se a questão parasse aqui, não haveria evangelho e tudo
estaria terminado. Mas a questão não pára aqui. O homem não pode viver pela
lei, mas Deus tem outros meios. Se você não puder devolver o dinheiro, Deus tem
outras maneiras para devolvê-lo por você. As duas primeiras palavras no versículo
21 são maravilhosas; elas demonstram uma grande virada nessa questão: “Mas
agora”. Graças ao Senhor porque há essa virada! “Mas agora, sem lei, se
manifestou a justiça de Deus”. A justiça de Deus foi originalmente manifestada
na lei. Mas se esse fosse o caso agora, estaríamos condenados. Que significa
dizer que a justiça de Deus foi manifestada na lei? Significa que tudo o que
você devia a Deus, você tinha de pagar. Se pecasse, você tinha de perecer. Se
transgredisse, você deveria ir para a perdição. Assim, a lei deveria manifestar
a justiça de Deus. Punir os pecadores seria a atitude mais justa que Deus
deveria ter. Mas, graças ao Senhor, a justiça de Deus não é mais manifestada na
lei. Se Sua justiça fosse manifestada na lei, Deus teria de julgar os pecadores.
Mas a justiça de Deus se manifesta sem lei, e sendo assim, o julgamento recai
sobre o próprio Deus. O final do versículo 21 diz: “Testemunhada pela lei e
pelos profetas”.
Mesmo
os profetas no Antigo Testamento, incluindo Davi e todos os outros profetas,
testificaram a mesma coisa. Como a justiça de Deus é manifestada? O versículo
22 diz: “Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre
todos] os que creem; porque não há distinção”. Mas já que todos pecaram e
carecem da glória de Deus (v. 23), como podemos obter a graça de Deus? Os
versículos 24 e 25 dizem que somos “justificados gratuitamente (...) mediante a
redenção que há em Cristo Jesus; a quem Deus propôs, no seu sangue, como
propiciação”. Deus enviou Jesus para redimir-nos de nossos pecados e O propôs
como propiciação. Creio que todos nós sabemos o que é o propiciatório. O
propiciatório é a tampa da arca no tabernáculo do Antigo Testamento; foi o
lugar onde Deus concedeu graça ao homem. Todo lugar na terra é manchado pelo pecado.
Mas esse lugar, e somente esse lugar, é sem pecado. Agora Jesus tornou-se o
propiciatório. Como Ele se tornou tal lugar? Por meio de Seu sangue como
garantia. Deus propôs Jesus como o propiciatório e, agora, pelo sangue de
Jesus, posso achegar-me a Deus por fé. Deus não pode fazer outra coisa senão
derramar graça sobre mim. Somente após Deus ter feito isso, posso dizer que Sua
tolerância e Seu deixar os pecados impunes no Antigo Testamento foram justos; e
somente após Deus ter feito isso, posso dizer que o fato de justificar os que
crêem em Jesus no Novo Testamento também é justo. Somos salvos hoje não porque
Deus encobriu nossos pecados, mas porque Deus tratou com nossos pecados. Diante
de Deus, não somos devedores perdoados, mas devedores quitados que estão
perdoados. Isso é algo muito precioso na Bíblia. Essa é a única maneira de nós,
cristãos, podermos ter ousadia diante de Deus. Você já percebeu que por mais
precioso que o amor seja ele nunca é confiável? Você não pode levar uma pessoa
ao tribunal só porque ela não o amou por alguns dias. Num tribunal não há tal
coisa como o amor. Mas se a injustiça ocorrer ou se o pecado surgir, a lei
falará. Deus gosta de nos dar uma ajuda, algo para nos agarrarmos. Por meio de
tal ajuda, nossa fé pode ser fortalecida e as promessas de Deus podem ser
cumpridas em nós. Essa ajuda é o Senhor Jesus Cristo. Deus sabe que podemos
duvidar; assim, Ele trabalha a fé em nós por intermédio de Seu Filho. Podemos
dizer-Lhe: “Deus, uma vez que me deste Teu Filho e permitiste que Ele morresse,
deves perdoar os meus pecados”.
Algumas
vezes, ouvimos as pessoas orando: “Ó Deus, quero ser salvo. Por favor,
salve-me! Pequei, mas estou determinado a ser salvo. Por favor, seja
misericordioso para comigo e faça o Senhor Jesus morrer por mim”. Quando tais
pessoas oram, elas podem chorar amargamente. Elas agem como se o coração de
Deus fosse muito duro e creem que antes que Deus possa perdoá-las ou
voltar-lhes Seu coração, elas têm de chorar muito. Os que oram desse modo, não
sabem o que é o evangelho. Se o Filho de Deus não tivesse vindo à terra, seu
choro e súplica diante de Deus poderiam funcionar. Mas o Filho de Deus veio e o
problema do pecado foi resolvido. A obra redentora na cruz foi cumprida. Quando
as pessoas vão a Deus, não há mais necessidade de pobres lamúrias. Uma vez que
Deus nos deu Seu Filho, Ele pode perdoar os pecados por meio do Filho. Ele é
fiel para fazê-lo; Ele não está sendo mentiroso ao fazer isso. E Ele é justo ao
fazê-lo; nada há de injusto aqui. Quando a justiça está envolvida, a fidelidade
também está. A maioria das pessoas hoje é ignorante; primeiro quanto à justiça
de Deus e depois quanto ao fato de que o Senhor Jesus cumpriu a justiça de
Deus. As pessoas não sabem que a justiça de Deus é manifestada sem lei. Elas
ainda tentam exercer justiça diante de Deus. Elas são como o homem que deve dez
mil talentos. Não há absolutamente como pagar o débito. O homem ainda tenta
economizar alguns centavos descendo do bonde uma parada antes, esperando assim
economizar para pagar sua dívida. Ele ainda está calculando, esperando
economizar um pouco aqui ou ali, fazer isto ou aquilo, a fim de conseguir um
pouco de dinheiro para pagar a dívida. Ele ainda quer dizer ao seu credor que
embora deva dez mil talentos, tem alguns centavos consigo. Ele não percebe que
a soma total já foi enviada à sua casa.
O
homem não tem ideia do que Deus realizou por intermédio de Seu Filho. Por isso,
o apóstolo Paulo nos diz qual atitude o homem deve tomar. Com respeito à
justiça de Deus, precisamos atentar para duas passagens na Bíblia. A primeira
passagem está em Romanos 10. Os versículos 3 e 4 dizem: “Porquanto,
desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se
sujeitaram à que vem de Deus. Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de
todo aquele que crê”. Eu amo estes dois versículos. Quando lemos tais
versículos relacionados com o evangelho, nosso coração deve animar-se. Esses
versículos dizem que os judeus não sabiam que a justiça de Deus tinha sido
firmada; eles ainda estavam procurando estabelecer sua própria justiça. Eles
faziam o máximo que podiam para ser bons, para trocar suas obras pela salvação
e para trocar sua justiça pela vida e tudo o que Deus lhes tem dado. Mas Paulo
disse que todos os que procuram estabelecer a sua própria justiça não se
sujeitam à justiça de Deus. Não se sujeitar à justiça de Deus é não se sujeitar
à obra que Deus cumpriu em Seu Filho Jesus. A justiça de Deus é consumada em
Seu Filho Jesus. A cruz de Jesus é tanto uma manifestação do amor de Deus como
o cumprimento da justiça de Deus. Na cruz de Jesus, a justiça de Deus foi
cumprida. Se algum homem quiser estabelecer sua justiça hoje, ele estará
negando a suficiência da obra do Senhor na cruz. Nunca pense que podemos
acrescentar algo à obra que o Senhor Jesus cumpriu. Nunca pense que podemos
ajudá-la ou remendá-la um pouco. Todos os que buscam estabelecer sua própria
justiça não se sujeitam à justiça de Deus. Se alguém envia uma soma de dinheiro
à minha casa para pagar um empréstimo que me fez e ainda tento economizar
alguns trocados para saldá-lo, eu realmente estou desprezando o que ele me deu.
Todos os que buscam estabelecer sua própria justiça estão blasfemando contra
Deus.
Por
que “o fim da lei é Cristo”? O fato de Cristo ser o fim da lei significa que
Cristo inclui tudo o que a lei tem. Em outras palavras, Deus não lhe deu
somente dez mil talentos; todo o dinheiro do mundo foi dado a você. Como pode
você economizar uns poucos trocados? O fim da lei é Cristo. Como achará outra
justiça maior? Se um homem é muito grande e ocupa toda a cadeira, será que você
pode apertar-se com ele na mesma cadeira? O fim da lei é Cristo. Como você vai
estabelecer sua justiça? Louvamos ao Senhor porque Ele nos deu o melhor!
Gostaria de dizer uma palavra forte numa maneira mais reverente: Deus “esgotou”
Sua onipotência em Seu Filho Jesus. O fim da lei é Cristo. Todo o que crer Nele
deve receber justiça. Os que creem em Jesus são obrigados a receber. Não há
possibilidade de não receberem. Eu gosto dessa ideia. É impossível não sermos
salvos. Deus nos deu Seu Filho, o qual não apenas possui o pouco que você
necessita, mas possui todas as coisas. Deus nunca pode desamparar-nos, os que
cremos em Seu Filho. Deus não tem como nos rejeitar. Todos os que vão a Deus
por meio do Filho devem receber justiça. Não há o que discutir; a garantia é
certa.
A
outra passagem da Escritura é 2 Coríntios 5.21. Nós fomos salvos, mas ainda
vivemos como humanos. É verdade que agora estamos salvos e que nossos pecados
estão perdoados, mas que fazer enquanto vivemos na terra? Hoje somos todos
cristãos e somos todos filhos do Senhor. Observando Seus filhos, Deus declara
algo mais espantoso aqui: “Àquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por
nós”. Deus fez o Senhor Jesus pecado. Originalmente, o Senhor Jesus era
completamente sem pecado; Ele nada tinha a ver com o pecado. Agora, Deus O
julgou enquanto julgava o próprio pecado. Deus O julgou dessa forma “para que
nele fôssemos feitos justiça de Deus”. Hoje, no Senhor Jesus Cristo, você e eu
somos o exemplo da justiça de Deus. Quando as pessoas nos veem, elas veem a
justiça de Deus. Porque o Senhor Jesus se tornou pecado por nós e carregou os
nossos pecados para nos perdoar, nós, os pecadores, tornamo-nos agora a justiça
de Deus no Senhor Jesus Cristo. Somos a justiça viva de Deus andando na terra.
Em Cristo, somos os representantes da justiça de Deus. Se você não sabe o que é
a justiça de Deus, tudo o que precisa fazer é encontrar uma pessoa salva e dar
uma boa olhada nela. Você então saberá o que é a justiça de Deus. Se quiser
conhecer a justiça de Deus, basta encontrar um cristão e saberá que Deus não
lida com os nossos pecados irresponsavelmente. Ele fez pecado Àquele que não
conheceu pecado. Porque o Senhor Jesus morreu, a obra da redenção foi cumprida.
Estarmos hoje no Senhor Jesus é uma expressão da justiça de Deus. Quando uma
pessoa vê alguém que crê no Senhor Jesus, ela vê a justiça de Deus. Se alguém
quiser conhecer a justiça de Deus, posso levantar-me e dizer: “Simplesmente
olhe para mim. Deus me ama muito. Ele me ama ao máximo. Ele não é negligente
com o pecado. Eis por que Ele levou o Senhor Jesus a morrer na cruz. Olhe para
mim, um pecador salvo hoje. Eu sou uma amostra da justiça de Deus em Cristo”.
Hoje, nós proclamamos duas grandes verdades ao mundo. Todas as duas são o que o
mundo desesperadamente necessita. A primeira é que Deus ama ao homem. Esse é um
fato maravilhoso. Mas não é tudo. A outra grande verdade é que Deus em Sua
justiça perdoou os pecados do homem. Agora o homem pode vir a Deus com toda
intrepidez e cheio de fé, lembrando-O de que Ele perdoou seus pecados.
Finalmente, gostaria de fazer uma pergunta. Por que há a parábola do filho
pródigo em Lucas 15? Parece que falta algo nessa parábola. Após o rapaz
desperdiçar seus bens e voltar para casa, o pai realmente deveria amá-lo, mas
deveria ter dito pelo menos algumas palavras de repreensão ao filho, talvez
algo assim: “Você tomou todos os seus bens e os gastou; agora até seu estômago
está vazio”. Mas o pai não disse nenhuma palavra como essa. Não é de se admirar
que o filho mais velho dissesse algo. Até nós temos algo a dizer. Não é
injustiça quando há pecado e ele não é tratado? Se Lucas 15 tivesse apenas a
parábola do filho pródigo, concluiríamos que Deus não é justo, que Deus não
julgou o pecado, mas que o encobriu. Na parábola do filho pródigo, não há algo
como uma palavra de repreensão. Mas graças ao Senhor que há três parábolas em
Lucas 15. A primeira é a parábola do pastor salvando a ovelha. A segunda é a da
mulher procurando a dracma perdida. A terceira é a do pai recebendo o filho
pródigo. Já na primeira parábola, temos o bom pastor dando sua vida pela
ovelha. O Senhor Jesus já veio e morreu. O pecado do pródigo já foi julgado na
primeira parábola. Em razão do que aconteceu na primeira parábola, há a
segunda, na qual uma mulher acende uma candeia para procurar a dracma perdida.
Uma vez que o Senhor Jesus cumpriu a salvação, o Espírito Santo pode vir
iluminar-nos com Sua luz. Depois disso, o Pai não vê mais o problema do pecado.
O problema do pecado foi esclarecido na parábola do pastor dando sua vida pela
ovelha. E mais, a percepção interior foi iluminada na parábola da mulher
acendendo a candeia. Os erros já foram percebidos. Quando o Pai vem, tudo o que
Ele precisa fazer é dar as boas vindas ao pródigo. O Senhor Jesus perdoou
nossos pecados. O Espírito Santo nos iluminou e nos convenceu do pecado, da
justiça e do juízo. Assim, quando o Pai vem, a questão do pecado não precisa
mais ser mencionada; Ele somente tem o trabalho de nos dar as boas-vindas.
Nas
duas parábolas anteriores, a justiça de Deus assim como Seu amor já se
manifestaram. Suponha que uma pessoa ainda não tenha se achegado a Deus, mas vê
que é um pecador e reconhece que o Senhor Jesus julgou seus pecados. O bom
Pastor levou seus pecados embora e o Espírito Santo o iluminou a respeito
deles. Quando tal pessoa volta para casa, ela tem de perceber que a questão do
pecado acabou para sempre; foi tratada na cruz. Lembre-se de que a casa do Pai
não é lugar para se falar sobre pecado. Não é lugar para se falar sobre nosso
desperdício. A cruz é o lugar para se falar sobre pecado; é o lugar para se
falar sobre a nossa queda. Se você estiver em casa, Deus pode mui justamente
não preferir falar sobre seus pecados. Podemos comer e beber para deleite de
nosso coração. Podemos viver, usar as vestes mais caras, descansar e festejar
para o deleite do nosso coração. Deus disse que uma vez estivemos perdidos, mas
agora fomos achados; que uma vez estivemos mortos, mas agora voltamos para a
vida. Não há mais problemas aqui. Aleluia! A graça de Deus é-nos suficiente.
Desse modo, percebemos que a graça de Deus é fiel e justa.
A Justiça da Salvação
Uma
coisa que devemos saber é que antes de o Senhor Jesus morrer, seria injusto
Deus perdoar nossos pecados, mas depois da Sua morte seria igualmente injusto
Deus não perdoar nossos pecados. Sem a morte do Senhor Jesus, o perdão de Deus
seria injustiça de Sua parte; Ele nunca poderia fazê-lo. Com a morte do Senhor
Jesus, Ele continuaria igualmente injusto se não quisesse perdoar. Por favor,
lembre-se, uma redenção sem sangue é injusta. Por outro lado, quando alguém tem
o sangue e lhe é negada a salvação, isso
também é injusto. Uma vez, fui com um irmão a Quiuquiam. Enquanto estávamos
viajando no barco e partilhando a Palavra com outros, comecei a falar com uma
pessoa sobre nossa fé. Ao mesmo tempo, nosso irmão falava com outra pessoa, que
era muçulmana. Durante a conversa, nosso irmão perguntou ao homem se ele tinha
algum pecado. O homem tentou dizer-lhe quão bom é o islamismo e quão grande foi
Maomé. Mas nosso irmão disse: “Não estou lhe perguntando sobre essas coisas.
Minha pergunta é esta: ‘Você tem algum pecado?’ Ele confessou que sim. Nosso
irmão então lhe perguntou: “Então, que vai fazer sobre isso? Há algum modo de
você ser perdoado?” O homem respondeu que se ele quisesse ser perdoado, tinha
de sentir remorso no coração e fazer o bem, e fazer isto e aquilo e muitas
outras coisas. Depois que o homem relacionou todas as coisas que deveria fazer,
nosso irmão disse: “Este é exatamente o ponto da controvérsia. Você disse que
quando alguém peca, o remorso pode trazer-lhe o perdão. Mas eu digo que quando
alguém peca deve haver punição. Sem punição, não pode haver perdão. Você acha
que um sentimento de remorso trará perdão a alguém. Mas digo que o perdão
somente vem pelo julgamento. Se eu pecar nesta cidade e fugir para um país
distante, posso ter remorso lá e praticar muita caridade. Posso ser um bom
homem lá. Mas nada disso removerá meu pecado. Seu Deus é um Deus que perdoa sem
julgamento. Mas meu Deus é um Deus que perdoa somente após julgar”. O muçulmano
então perguntou: “Então, como você pode ser perdoado?” “É por isso que”, disse
nosso irmão, “você precisa crer em Jesus. Somente crendo em Jesus você será
perdoado. Seus pecados foram julgados no Senhor Jesus e quando crer Nele, você
será perdoado”. Aqui está a justiça de Deus. Hoje os homens consideram se Deus
é amor ou não. Eles não percebem que Deus não é apenas amor, mas Ele também é
justo. Não é que Deus queira somente perdoar os pecados do homem. Ele tem de
perdoá-los de maneira que não conflitem com Sua natureza e Sua justiça. É isso
que os homens não veem.
As Aplicações da Justiça de Deus
Devemos
agora perguntar: como a justiça de Deus é aplicada a nós? A justiça de Deus é
aplicada a nós de duas formas. A justiça de Deus pode primeiro ser aplicada
dando paz ao nosso coração. Os sentimentos são indignos de confiança; por isso,
podemos não confiar nos sentimentos de Deus. O amor é igualmente indigno de
confiança. Se o amor de alguém mudar, ninguém pode culpá-lo ou culpá-la por
isso. Mas podemos valer-nos da justiça e fazer reclamações baseados na justiça.
Se Deus somente nos ama, Ele pode poupar-nos do julgamento dos pecados ou pode
deixar-nos facilmente, se for algo que Ele consiga fazer. Mas como será se um
dia Deus não estiver mais satisfeito conosco e não quiser continuar conosco? Se
Deus não nos amasse mais e se tornasse bravo e insatisfeito conosco, nós
sofreríamos. Sob tais circunstâncias, não poderíamos ter qualquer segurança a
respeito de Deus e nosso coração nunca estaria em paz. Mas agora que Deus nos
deu Sua justiça, estamos em paz, pois sabemos que nossos pecados foram julgados
na pessoa de Cristo. Assim, podemos ter uma consciência ousada e uma segurança
definitiva quando nos achegamos a Deus, e nosso coração pode ter paz. A paz não
pode ser obtida pelo amor; a paz somente pode ser obtida por meio da justiça.
Embora, em realidade, o amor de Deus seja confiável, do ponto de vista humano,
ele não é tão confiável quanto a justiça de Deus. Logo que uma pessoa começa a
crer em Deus, ela deve aprender a confiar mais em Sua justiça do que em Seu
amor. Mais tarde, enquanto progride, ela deve aprender a confiar mais no amor
de Deus do que em Sua justiça. Tal confiança pertence a um estágio avançado da
vida cristã. Essa é a vida de pessoas como Madame Guyon. Mas, no começo,
devemos tomar a justiça como a base de nossa fé. Sem justiça, a fé não tem
base. Graças a Deus que nossos pecados foram perdoados. Agradecemos-Lhe porque
Ele nunca mais nos julgará. Como o hino diz: Não cobra duas vezes Deus:
Primeiro de Seu Filho e Depois então de mim. Nosso coração está tranqüilo, pois
nossos pecados foram julgados. A justiça de Deus tem outra aplicação: Ela nos
leva a perceber a repugnante natureza do pecado. A fim de preservar Sua
justiça, Deus se dispôs até mesmo a sacrificar Seu Filho na cruz. Deus preferiu
antes sacrificar Seu Filho à Sua justiça, Sua verdade e Sua lei. Deus não faria
algo que fosse contrário à Sua natureza. Assim, podemos ver quão repugnante é o
pecado. Se Deus não pode ser indiferente ao pecado e prefere antes julgar Seu
Filho para tratar com o pecado, também não podemos ser indiferentes em relação
ao pecado. Aos olhos de Deus, Seu Filho pode ser sacrificado, mas o pecado não
pode deixar de ser tratado. Todo o que crê no Senhor Jesus deve ver então que
nenhum pecado pode ser ignorado. A atitude de Deus em relação ao pecado é muito
rígida.
Agora
todos os nossos pecados estão perdoados. O Senhor Jesus morreu, fomos
perdoados, e todas as coisas estão resolvidas. Neste ponto, gostaria de fazer
mais uma ilustração. Um dia, eu estava no Parque Hsiao-feng lendo minha Bíblia.
De repente, o céu escureceu e houve um trovão. Parecia que ia chover
imediatamente. Fechei a Bíblia rapidamente e corri até uma pequena casa atrás
do parque. Mas pouco depois a chuva ainda não havia chegado e, então, fui para
casa apressadamente. A caminho de casa, o céu ainda estava bem escuro;
trovejava e as nuvens estavam muito carregadas. Ainda assim a chuva não caiu.
Nenhuma gota caiu sobre mim em todo o caminho para casa. Em outra ocasião,
algum tempo mais tarde, fui de novo ao mesmo parque para ler. Dessa vez, também
o céu escureceu como da vez anterior. Começou a trovejar novamente e as nuvens
estavam pesadas e densas. Então, considerei minha experiência anterior, fiquei
calmo e caminhei lentamente. Mas infelizmente, dessa vez, a chuva veio e me
molhei. Não tive escolha a não ser correr para a pequena casa outra vez. Quando
cheguei na casa, a chuva desabou. Não sabia quão forte a chuva seria. Mas,
finalmente, o céu clareou, as nuvens se dispersaram, cessaram os trovões e
voltei para casa. Dessa vez, assim como na anterior, não caiu uma gota de chuva
enquanto voltava para casa. Mas deixe-me fazer-lhe uma pergunta: Em qual
ocasião meu coração teve mais paz? Em ambas as ocasiões a chuva não caiu sobre
mim quando eu voltava para casa. Mas em qual das vezes tive mais paz? Foi da
primeira ou da segunda vez? Embora na primeira vez não tenha chovido a caminho
de casa, não sabia quando a chuva viria; em decorrência disso, meu coração
ficou de sobreaviso. Na segunda ocasião, também não houve chuva a caminho de
casa, mas meu coração estava em paz, porque a chuva já tinha passado e o céu
estava claro. Muitas pessoas esperam que a graça de Deus encubra seus pecados.
Elas são como eu em minha primeira volta ao lar. Embora não haja chuva, a
escuridão ainda se mantém, troveja e as nuvens são densas. Seu coração ainda
fica ansioso. Elas não sabem o que lhes acontecerá. Mas graças ao Senhor, pois
a salvação que recebemos é algo que já “passou pela chuva”. É uma salvação que
“passou pelo trovão”. Nossa “chuva” já foi derramada no Calvário, e nosso
“trovão” já aconteceu no Calvário. Agora, tudo passou. Regozijamo-nos não
somente porque nossos pecados foram perdoados, mas porque eles foram perdoados
após terem sido tratados. Eles não foram encobertos. Deus tratou com o problema
dos nossos pecados. A ressurreição de Seu Filho tornou-se a evidência dessa
obra. Hoje é dia de graça. Mas devemos lembrar-nos de que a graça reina pela
justiça (Rm 5.21). A graça não pode vir diretamente; ela deve vir pela justiça.
A graça de Deus não vem a nós diretamente. Ela vem a nós pelo Calvário. Hoje, alguns
dizem que se Deus nos ama, Ele pode perdoar-nos sem julgamento. Isso seria a
graça reinando sem justiça. Mas a graça está reinando pela justiça. A graça
precisa da justiça do Calvário antes de poder reinar. Hoje, nosso receber da
graça está unicamente baseado na justiça de Deus. Nossos pecados são perdoados
após terem sido tratados. Quando vemos a cruz, é correto dizer que ela é a
justiça de Deus. É também certo dizer que ela é a graça de Deus. A cruz
significa a justiça de Deus e ela também significa a graça de Deus. Para Deus,
a cruz é justiça; para nós, ela é graça. Hoje quando vemos a cruz, nosso
coração descansa, pois sabemos que a graça que recebemos foi recebida mediante
a maneira justa de Deus. Sabemos que a nossa salvação é clara, completa, adequada
e justa. Nossa salvação não vem mediante contrabando ou fraude. Pelo contrário,
ela vem pelo julgamento sobre o pecado. Louvado seja o Senhor! A cruz resolveu
o problema do pecado e a ressurreição confirmou que a solução é de fato
verdadeira.
A Obra de Cristo — Redenção
Pela
graça de Deus, vimos nos capítulos anteriores deste livro, o que é a salvação
de Deus. Este é o sexto capítulo. Espero fazer uma breve revisão do que
tratamos nos cinco capítulos anteriores e, então, continuaremos. Vimos o pecado,
a lei, o amor de Deus, Sua graça e Sua justiça. Vimos como o homem se tornou
pecador e como a lei veio expor os pecados do homem. Vimos também que embora
esteja provado que o homem é pecador, Deus ainda o ama. Deus não somente nos
amou, mas Ele também nos mostrou misericórdia e graça. Vimos também que a graça
de Deus se manifestou, qual é a natureza dessa graça, como ela ocorreu e que
ela nunca pode ser misturada com esforço humano. No capítulo A Justiça de Deus,
vimos que, apesar do amor de Deus e de Seu desejo de nos dar graça, havia um
obstáculo para a vinda da graça até nós. Se uma única coisa ficasse sem ser
tratada, a graça de Deus não poderia ter vindo até nós. Embora a graça esteja,
agora aqui, para prevalecer, ela predomina apenas pela justiça (Rm 5.21). A
graça não pode prevalecer por si só. Assim, o Senhor nos mostrou como a justiça
foi manifestada. Sua justiça lidou com nossos pecados. Ao mesmo tempo, ela nos
capacita a receber graça de Deus. Vimos isso nos capítulos anteriores. Agora,
prosseguiremos com o evangelho de Deus e Sua salvação. Mencionamos como a
salvação realizada por Deus por intermédio do Senhor Jesus manifestou a graça
de Deus. Ao mesmo tempo, ela satisfez as justas exigências de Deus. Agora,
enfocaremos a obra do Senhor Jesus. Esse assunto é excelente e doce. Ele trata
da maneira pela qual o Senhor Jesus cumpriu a salvação de Deus. Vimos como o
Senhor Jesus satisfez a exigência de Deus e como Ele manifestou a graça de
Deus. Ao mesmo tempo, precisamos ver como o Senhor Jesus satisfaz o coração do
cristão a fim de que também possamos ser satisfeitos com Sua obra. Como diz um
hino que cantamos: “O coração de Deus está satisfeito com a obra do Senhor
Jesus, e nosso coração também descansa com Sua obra”. Deus está satisfeito e
nós estamos satisfeitos. Se o tempo permitir, espero poder tratar desses
dois aspectos.
O Senhor Jesus é Deus e Homem para o Cumprimento da Redenção
A
primeira coisa que temos de ver é que o Senhor Jesus é Deus. Podemos dizer que
somente Deus pode levar o pecado do homem. Nunca considere o Senhor Jesus como
uma terceira pessoa vindo para sofrer uma morte substituta. Não pense que Deus
seja uma parte, nós outra parte e o Senhor Jesus a terceira parte. A Bíblia
nunca considera o Senhor Jesus como uma terceira parte. Pelo contrário, ela O
considera como a primeira parte. Podem terlhe dito que o evangelho é comparado
a um devedor, um credor e o filho do credor. O devedor não tem dinheiro para
quitar seu débito; o credor, sendo muito severo, insiste no pagamento. Mas o
filho do credor se prontifica a pagar o débito em lugar do devedor e o devedor
fica livre.
Esse
é o evangelho que o homem prega hoje. Mas não é o verdadeiro evangelho. Se esse
fosse o caso, pelo menos dois pontos não seriam corretos e seriam contrários à
Bíblia. Primeiro, esse tipo de entendimento mostra Deus como o malvado, e o
Senhor Jesus o bondoso. Em tal ilustração, não vemos Deus amando o mundo.
Antes, vemos apenas Sua justa exigência e a exigência da lei. Vemos um Deus
severo, Alguém sem a graça e cujas palavras para o homem são sempre ásperas; e
vemos que é o Senhor Jesus quem nos ama e nos dá graça. Esse evangelho está
errado. Contudo, embora seja um evangelho errado, Deus ainda o usa. Na verdade,
eu mesmo fui salvo por esse tipo de ilustração. Mas embora fosse salvo, nos
três primeiros anos, nunca consegui louvar a Deus. Eu sempre sentia que o
Senhor Jesus era bom, que deveria agradecer-Lhe e louvá-Lo, que sem Ele tudo
era sem esperança e que foi uma felicidade Ele ter vindo. Mas eu sentia que Deus
era muito severo, bravo e mau. Ele não era tão amável. Parecia que todas as
coisas boas estavam com o Senhor Jesus e todas as ruins estavam com Deus,
parecia que Deus era terrível e o Senhor Jesus, amável.
Mas
isso não é a Bíblia. A Bíblia diz que Deus amou o mundo de tal maneira que nos
deu Seu Filho (Jo 3.16). Deus enviou Seu Filho porque nos amou. Eis por que
fomos levados de volta a Deus após o Senhor Jesus ter cumprido Sua obra na
cruz. Se Deus não nos tivesse amado e não nos tivesse enviado o Senhor Jesus, o
máximo que o Senhor Jesus poderia ter feito era levar as pessoas de volta a Si
mesmo; Ele não poderia levar as pessoas de volta a Deus. Graças ao Senhor
porque quem nos amou foi Deus. Agradecemos-Lhe porque foi o próprio Deus quem
enviou Seu Filho a nós. O Pai é quem foi movido por compaixão. O Pai é quem nos
amou. Foi o Pai quem planejou a salvação. Foi o Pai quem teve uma vontade na
eternidade passada. Primeiramente, o Pai propôs todas as coisas e, então, o
Filho veio. Assim, é errado o homem pensar que há três partes. Há somente duas
partes: Deus e o homem. O Senhor Jesus é a dádiva de Deus ao homem. Contudo,
essa dádiva é algo vivo e com uma vontade, não sem vida e sem vontade. Graças a
Deus porque a salvação é algo entre Deus e o homem. O Senhor Jesus é uma
dádiva. Hoje, é a Deus que devemos voltar-nos. Nós nos achegamos a Deus por
meio do Senhor Jesus. Essa é a primeira coisa que temos de perceber.
Segundo,
se houvesse três partes, o Senhor Jesus não teria sido qualificado a morrer por
nós. É verdade que quando o Senhor Jesus morreu por nós, a justiça de Deus foi
cumprida e os pecados humanos foram perdoados. Mas foi justo para o Senhor
Jesus? Suponha que tenhamos dois irmãos aqui. Suponha que um dos irmãos tenha
cometido um crime capital e tenha sido condenado à morte. O outro irmão quis
muito morrer por ele e, por isso, foi executado em seu lugar. Ele é inocente, e
também uma terceira parte. Agora, ele morre em lugar do outro. A Bíblia nunca
nos mostra que o Senhor Jesus morreu por nós deste modo. Ela nunca nos mostra
que Deus tinha uma exigência, que Sua lei tinha de ser satisfeita e que para
que o homem cumprisse a exigência da lei, o Senhor Jesus veio para cumprir a
lei de Deus. Não há tal coisa. Que posição o Senhor Jesus tomou quando Ele veio
cumprir a redenção? Temos de considerar essa questão cuidadosa e precisamente
conforme a Bíblia.
Gostaria
que vocês estivessem cientes de uma coisa. O mundo pensa que há apenas um modo
de lidar com o problema do pecado. Os pregadores que pregam ensinamentos
errados dizem que há três maneiras de lidar com o pecado. Mas para Deus há
somente dois modos de lidar com o pecado. Alguma explicação se faz necessária
aqui. Antes de ler a Palavra de Deus, alguém pode pensar que um desses três
modos pode resolver o problema: o homem pode resolvê-lo, Deus pode resolvê-lo
ou uma terceira parte também pode resolvê-lo por substituição. Os que não são
salvos, que não conhecem a Deus, consideram que há apenas uma solução: que é o
homem quem deve resolver o problema por si mesmo. Mas a justiça de Deus
mostra-nos que há somente dois modos de resolver o problema: Um é pelo próprio
Deus e o outro é pelo próprio homem. Que quero dizer com isso? Vamos primeiro
considerar o que o homem pensa. Ele pensa que é pecador e deve, portanto,
sofrer o julgamento do pecado e da ira de Deus. Ele pensa que deveria perecer e
ir para a perdição. A única maneira é ele resolver o problema por si mesmo,
indo para o inferno. Ele se responsabilizará pelo que fez. Se alguém peca, vai
para o inferno e sofre julgamento do pecado. Essa é uma maneira de resolver o
problema. Quando alguém deve dinheiro, ele vende tudo o que tem. Ele pode até
mesmo ter de vender sua esposa, filhos, casa e terra, se isso for necessário
para resolver o problema. Isso é justo. Então, há outro conceito errado. Para
os que ouviram o evangelho, há a consideração de que o Senhor Jesus é a
terceira parte vindo tomar nosso lugar e resolver o problema do nosso pecado. O
homem pecou e incorreu no julgamento do pecado. Agora, todo o julgamento está
sobre o Senhor Jesus; Ele sofre todo o julgamento. Tal ensinamento parece
correto. Mas vocês verão resumidamente que ele não é exato.
Primeiramente
direi uma palavra para os que têm conceitos obscuros. Na Bíblia, há duas
importantes doutrinas, que são: levar os pecados e o resgate pelos pecados. Por
favor, não pensem que não creio na substituição. Mas a substituição sobre a
qual alguns falam não é a substituição na Bíblia, porque é um tipo de
substituição que envolve injustiça. Se o Jesus imaculado deve ser um substituto
para nós, homens pecadores, é claro que isso nos é um bom negócio. Mas é justo
tratar o Senhor Jesus dessa maneira? Ele não pecou. Por que Ele deveria ser
morto? Esse não é o tipo de substituição que a Bíblia fala. Se o Senhor Jesus
veio morrer em lugar de todos os pecadores do mundo, então os que crêem em
Jesus, assim como os que não crêem Nele, serão igualmente salvos. O Senhor
morreu por ambos, quer creiam ou não. Não se pode voltar atrás e revogar a
morte do Senhor apenas porque alguns não crêem. Pode-se voltar atrás em outras
coisas. Mas isso não é algo reversível. Por que a Bíblia diz que os que não
crêem foram julgados e perecerão? (Jo 3.16,18). A razão é que o Filho de Deus
teve apenas uma morte substitutiva por nós os que cremos. Ele não é um
substituto para os que não crêem. Qual, então, é a maneira de resolver o
problema do pecado de acordo com a Bíblia? Há somente duas maneiras justas para
resolver o problema. Uma é tratar com quem pecou e a outra é tratar com aquele contra
quem se pecou. Há apenas duas partes que são qualificadas para lidar com esse
problema. Há apenas duas pessoas no mundo que têm o direito de tratar com o
problema do pecado. Uma é aquela que pecou contra outra. A outra é aquela
contra quem se pecou. Quando uma pessoa processa outra num tribunal, nenhuma
outra parte tem o direito de dizer coisa alguma. No proceder do tribunal,
somente os dois envolvidos têm o direito de falar. A respeito da salvação do
pecador, se ele mesmo não cuida disso, então Deus o faz por ele. O pecador é a
parte pecaminosa e Deus é a parte contra quem se pecou. Ambos podem lidar com o
problema do pecado da maneira mais justa. Do lado do pecador, é justo que ele
sofra o julgamento e a punição, pereça e vá para a perdição. Mas há uma outra
maneira que é igualmente justa: a parte contra quem se pecou pode assumir a
punição. Isso pode ser totalmente inconcebível para nós, mas é um fato. É a
parte contra quem se pecou que suporta os pecados. Não é uma terceira parte que
leva nossos pecados. Uma terceira pessoa não tem autoridade ou direito de
intervir. Se uma terceira pessoa intervier, é injustiça. Somente quando a parte
contra quem se pecou está disposta a sofrer a perda, é que o problema pode ser
solucionado. Visto que Deus tem amor e também tem justiça, Ele não permitiria
que um pecador carregasse os próprios pecados, pois isso significaria que Deus
é justo, mas sem amor. A única alternativa é a parte contra quem se pecou
carregá-los. Somente por Deus suportar nossos pecados é que a justiça será
mantida.
Você
sabe o que significa o perdão? No mundo, nós temos perdão. Entre pessoas, há
perdão. Entre um governo e seu povo também há perdão. Até entre nações há
perdão. Entre Deus e o homem também há perdão. O perdão é algo universalmente reconhecido
como um fato. Ninguém pode dizer que o perdão seja algo injusto. É algo que
alguém concede alegremente ao outro. Mas a questão é: quem tem o direito de
perdoar? Se um irmão me roubou dez dólares, e eu o perdôo, isso significa que
eu tenho de suportar a consequência do seu pecado. Eu assumi a perda desses dez
dólares. Também como outro exemplo, digamos que você me bateu no rosto. A força
foi tanta que sangrou. Se eu disser que o perdôo, significa que você comete o
pecado de bater e eu sofro a consequência do golpe. O pecado foi cometido por
você, mas eu sofro a consequência dele. Isso é perdão. Perdoar significa que
alguém peca e outro sofre a consequência desse pecado. Perdão é assumir a
responsabilidade da parte pecadora pela parte contra quem se pecou. Uma
terceira parte não tem o direito de intervir para perdoar. Ela não pode
interferir na retribuição. Se uma terceira parte intervém para perdoar e para
retribuir, isso é injustiça. Se o Senhor Jesus interferisse como uma terceira
parte para substituir o pecador, poderia ser bom para o pecador e Deus também
poderia não ter problemas com isso, mas haveria um problema com o Senhor Jesus.
Ele não tem pecado. Por que Ele teve de sofrer o julgamento? Somente o pecador
pode suportar a consequência do pecado; ele tem o direito de assumir a
responsabilidade e sofrer o julgamento pelo seu pecado. E há somente um que
pode levar os pecados do pecador — aquele contra quem se pecou. Somente aquele
contra quem se pecou pode assumir o pecado do pecador. Isso é justiça. Esse é o
princípio do perdão. Tanto a lei de Deus como a lei do homem reconhecem que
isso é justo. O homem tem a obrigação de sofrer a perda. Visto que o homem tem
livre arbítrio, Deus também tem livre arbítrio. Uma pessoa com livre arbítrio
tem o direito de escolher sofrer a perda. Então, que é a redenção de Cristo? A
obra redentora de Cristo é o próprio Deus vindo para levar o pecado do homem
cometido contra Si. Esta palavra é mais amável de se ouvir do que todas as
músicas do mundo. Que é a obra redentora de Cristo? É Deus suportando o que o
homem pecou contra Si. Em outras palavras, se Jesus de Nazaré não fosse Deus,
Ele não estaria qualificado a levar nossos pecados de maneira justa. Jesus de
Nazaré era Deus. Ele é o próprio Deus contra quem pecamos. Nosso Deus desceu à
terra pessoalmente e tomou nossos pecados. Hoje, é Deus quem leva os nossos
pecados em lugar do homem. Eis por que foi uma ação justa. Não podemos
suportá-los por nós mesmos. Se fôssemos tomá-los, estaríamos acabados. Graças a
Deus que Ele mesmo veio ao mundo para suportar os nossos pecados. Essa é a obra
do Senhor Jesus na cruz. Por que, então, Deus teve de tornar-se um homem? Já é
suficiente que Deus ame ao mundo. Por que Ele teve de dar Seu Filho unigênito?
É preciso perceber que o homem pecou contra Deus. Se Deus exigisse que o homem
suportasse seu pecado, como o homem faria isso? O salário do pecado é a morte.
Quando o pecado induz e age, ele acaba em morte. A morte é a cobrança justa do
pecado (Rm 5.12). Quando o homem peca contra Deus, ele tem de suportar a
consequência do pecado, que é a morte. Por isso, Deus é a outra parte. Se Ele
viesse e assumisse nossa responsabilidade e sofresse a consequência do nosso
pecado, Ele teria de morrer. Mas em 1 Timóteo 6.16 é-nos dito que Deus é
imortal; Ele não pode morrer. Mesmo que Deus quisesse vir ao mundo tomar nossos
pecados, morrer e ir para a perdição, para Ele seria impossível fazê-lo. A
morte simplesmente não tem efeito em Deus. Não há a possibilidade de Deus
morrer. Portanto, para Deus sofrer o julgamento do pecado do homem contra Si,
Ele teve de tomar o corpo de um homem. Por isso Hebreus 10.5 diz-nos que quando
Cristo veio ao mundo, Ele disse: “Corpo me formaste”.
Deus preparou um corpo para Cristo, com o propósito de Cristo se oferecer como
oferta queimada e oferta pelo pecado. O Senhor diz: “Não te deleitaste com
holocaustos e ofertas pelo pecado” (v. 6). Agora Ele oferece Seu próprio corpo
para tratar com o pecado do homem. Então, o Senhor Jesus se tornou um homem e
veio ao mundo para ser crucificado. O Senhor Jesus não é uma terceira parte;
Ele é a parte primeira. Por ser Deus, Ele é qualificado para ser crucificado.
Por ser homem, Ele pode morrer na cruz em nosso lugar. Devemos fazer clara
distinção entre essas duas declarações. Ele é qualificado para ser crucificado
porque é Deus, e pode ser crucificado porque é homem. Ele é a parte oposta; Ele
se colocou ao lado do homem para sofrer punição. Deus se tornou um homem. Ele
habitou entre os homens, uniu-se ao homem, tomou o fardo do homem e levou todos
os pecados do homem. Se a redenção tem de ser justa, Jesus de Nazaré deve ser
Deus. Se Jesus de Nazaré não for Deus, a redenção não é justa. Todas as vezes
que olho para a cruz, digo a mim mesmo: “Este é Deus”. Se Ele não for Deus, Sua
morte se torna injusta e não pode salvar-nos, pois Ele não é senão uma terceira
parte. Mas agradecemos e louvamos ao Senhor, pois Ele é a outra parte. Por isso
declarei que apenas duas partes são capazes de lidar com os pecados. Uma parte
somos nós mesmos, e nesse caso temos de morrer. A outra parte é Deus, contra
quem pecamos, e nesse caso Ele morre por nós. Além dessas duas partes, não há
uma terceira que tenha direito ou autoridade para lidar com nossos pecados.
O Homem Jesus tem a Justiça Segundo a Lei e está Qualificado Para Redimir o Homem
Jesus
de Nazaré veio ao mundo. Enquanto esteve na terra, Suas obras demonstraram que
Deus nos ama. Mas ao mesmo tempo, Ele cumpriu a lei. Ele foi verdadeiramente
submisso a Deus. Ele foi um homem santo e submisso. Nele vemos um homem
perfeito. Jesus de Nazaré é pleno de justiça. Ele foi um homem justo. Em toda a
história, houve apenas um homem que poderia ser salvo pela lei. Esse foi Jesus
de Nazaré. Ele não precisava guardar a lei; no entanto, Ele a guardou. A Bíblia
diz que somente os que guardam a lei podem herdar a justiça que provém da lei.
Com justiça, há vida. A lei diz que quem a guardar, viverá. Guardá-la é
manter-se fiel à lei. Todo aquele que tem a justiça da lei tem vida. O único
propósito de Deus em dizer isso a todo o mundo é condenar o homem e provar-lhe
que é pecador. Deus nos deu a lei para provar a nós que somos pecadores. Graças
ao Senhor. Há somente Um aqui que tem vida pela lei: é Jesus de Nazaré. Por um
momento coloquemos de lado o fato de que Ele é Deus e O consideremos como um
homem, um homem muito comum. Ele guardou a lei e viveu. Ele viveu na terra por
mais de trinta e três anos. Ele não somente não pecou, como nem mesmo conheceu
o pecado. Ele foi tentado em todas as coisas, mas não foi tentado pelo pecado.
Anote isso: O Senhor Jesus não foi tentado pelo pecado. Muitos quando lêem o
livro de Hebreus adquirem um entendimento errado baseado numa tradução errada.
O texto grego mostra-nos claramente que, embora o Senhor Jesus tenha sido
tentado em todas as coisas, Ele nunca foi tentado pelo pecado. Ele estava em
carne e, portanto, tinha fraqueza. Mas Ele não conheceu pecado. Ele nunca foi
tentado pelo pecado. Se você consultar uma tradução precisa verá isso
claramente. Os atos de justiça do Senhor Jesus têm alguma vantagem para nós?
Claro que sim. Os atos de justiça do Senhor Jesus provam que Ele é Deus. Por
causa desses atos de justiça, o Senhor Jesus não teve de morrer por Si mesmo.
Os atos de justiça do Senhor Jesus O qualificam a morrer na cruz pelos nossos
pecados. Se o Senhor Jesus tivesse algum pecado, Sua morte teria sido para Si
mesmo; Ele não seria capaz de morrer por nós. Uma vez que o Senhor não teve
qualquer pecado, Ele foi qualificado para ser oferecido como um sacrifício por
nossos pecados. A teologia cristã diz que Deus fez nossa a justiça do Senhor
Jesus. Deus transferiu a justiça do Senhor para nós da mesma maneira que um
banco transfere o dinheiro de uma conta para outra. O Senhor guardou a lei por
nós. Nós desobedecemos a lei. Mas a obediência do Senhor Jesus nos fez
merecedores da satisfação de Deus. Mas permitam-me perguntar-lhes
enfaticamente: a Bíblia alguma vez mencionou a “justiça do Senhor Jesus”? Quem
pode achar uma passagem no Novo Testamento que fale da “justiça do Senhor
Jesus”? Se ler todo o Novo Testamento, inclusive o texto grego, você descobrirá
que o Novo Testamento nunca menciona as palavras a justiça de Cristo. Uma
passagem parece dizer isso, mas ela não se refere à justiça própria da pessoa
de Cristo hoje. Os homens não gostam de ler a Palavra de Deus. Eles gostam de
estudar teologia. A teologia, contudo, é criada pelo homem. Ela não vem da
Palavra de Deus. A teologia diz-nos que Deus imputou a justiça de Cristo a nós.
A Bíblia nunca transmite esse conceito. Pelo contrário, a Bíblia se opõe a esse
conceito. A justiça de Jesus de Nazaré é Sua própria justiça. Ela é realmente
justiça, mas é a justiça de Jesus de Nazaré. Esta justiça O qualifica a morrer
por nós e ser nosso Salvador. Mas Deus não tem a intenção de transferir a
justiça de Jesus para nós.
João
12.24 é um versículo precioso na Bíblia. Lá diz que se um grão de trigo
não cair na terra e morrer, fica ele só. Um homem como o Senhor Jesus foi
exatamente um grão diante de Deus. Somente após Ele ter morrido, houve os
muitos grãos. A salvação começa com a cruz. Embora devamos ter Belém antes de
podermos ter o Gólgota, somos salvos por meio do Gólgota, não por meio de
Belém. O Filho de Deus é totalmente justo. Ele foi o grão justo. Mas Sua
justiça não nos pode salvar. Ela não pode ser imputada a nós. Deus faz menção
da justiça de Cristo na Bíblia. Mas Ele nunca diz que a justiça de Cristo deve
ser nossa. A Bíblia diz que Cristo é nossa justiça. Ela nunca diz que a justiça
de Cristo é nossa justiça. Gostaria de salientar isso, pois isso exaltará a
cruz do Senhor Jesus Cristo. A Bíblia diz que Cristo é a nossa justiça. O
próprio Cristo é a nossa justiça. Nós nos achegamos a Deus em Cristo. Cristo é
nossa justiça. Certa vez, perguntei a uma irmã ocidental o que ela veste quando
chega diante de Deus. Ela disse que veste a justiça de Cristo para ir até Deus.
Ela tomou a justiça de Cristo como sua veste para ir até Deus. Eu lhe perguntei
onde ela encontrou isso na Bíblia. Não é a justiça de Cristo que se tornou
nossa justiça. Cristo nunca transferiu Sua justiça a nós. Antes, é o próprio
Cristo quem se tornou nossa justiça. Fomos salvos pela justiça de Deus e não
pela justiça de Cristo. Vimos o que é a justiça de Deus. É a justiça de Deus
que nos traz o perdão e nos livra do julgamento. Não é a justiça de Cristo que
faz isso. A justiça de Cristo é somente a qualificação para que Ele seja nosso
Salvador. Cristo nunca transferiu-nos Sua justiça. Se a justiça do Senhor Jesus
fosse transferível a nós, Ele poderia tê-lo feito enquanto vivia na terra. Ele
não teria de ir à cruz e nós, assim, poderíamos ter sido salvos. Se o caso
fosse esse, Sua vida se tornaria nossa vida resgatadora. Mas não há tal
doutrina como vida resgatadora. Há somente a doutrina da morte resgatadora.
Somente a morte do Senhor Jesus nos salvará. Sua vida é nosso exemplo. Não
podemos ser salvos por Sua vida. Sua justiça nos condena. Quanto mais justo Ele
é, mais embaraçados ficamos. Não há maneira alguma de Sua justiça ser imputada
a nós. Se Deus nos colocasse lado a lado com a justiça do Senhor, somente
poderíamos ir para o inferno. Mas graças a Deus porque Ele morreu e se tornou
nossa justiça. Eis por que somos salvos. A salvação vem da cruz. Ela não veio
da manjedoura. A salvação vem do Gólgota; ela não vem de Belém. Se a justiça do
Senhor Jesus pudesse salvar-nos, Ele não precisaria ter morrido. Por isso,
quando lemos a Bíblia, não devemos ser afetados pela teologia. Ficaremos muito
mais esclarecidos se formos ensinados pela Bíblia do que pela teologia. A palavra
do homem pode ajudar, mas ela também pode danificar. Devemos colocar de lado a
palavra do homem. Vamos prosseguir passo a passo. Primeiro vimos que deve ser
Deus quem toma nossos pecados. Então, vimos que Jesus de Nazaré veio para levar
nossos pecados. Mas Sua justiça na terra foi mais que uma condenação para nós.
Quando fomos salvos por meio do Senhor Jesus?
Consideremos um tipo na Bíblia. No tabernáculo, entre o Lugar Santo e o Santo dos Santos, havia um véu. Deus estava além do véu no Santo dos Santos. Fora do véu estava o mundo. A Bíblia nos diz que esse véu significa a carne do Senhor Jesus (Hb 10.20). Em outras palavras, o Santo dos Santos somente pode ser visto pelo Senhor Jesus como um homem na terra e pelos que têm uma vida igual à do Senhor Jesus. Nem todos podem ver Deus. Somente o Senhor Jesus podia ver Deus. Ninguém, em todo o mundo, pode ver o Santo dos Santos. Ele estava velado. Quando pôde o homem ver o Santo dos Santos? Quando Deus removeu o véu do céu e uniu o Santo dos Santos, o Lugar Santo e o átrio exterior a fim de que o homem fosse capaz de vê-Lo. Isso aconteceu quando o Filho de Deus foi crucificado na cruz. Naquela hora, o caminho para o Santo dos Santos foi aberto. Por isso Hebreus 10.19-20 diz que temos intrepidez para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus pelo véu. Este véu rasgado é a carne do Senhor Jesus. Agora, temos intrepidez e a plena certeza de fé para nos achegar a Deus. A justiça do Senhor Jesus na terra não tem relação direta conosco. Graças ao Senhor, pois Ele não ficou na terra para sempre. Se tivesse permanecido na terra para sempre, Ele ainda seria um grão. Graças a Deus porque Ele morreu e nos produziu, os muitos grãos. Graças ao Senhor pela cruz.
Consideremos um tipo na Bíblia. No tabernáculo, entre o Lugar Santo e o Santo dos Santos, havia um véu. Deus estava além do véu no Santo dos Santos. Fora do véu estava o mundo. A Bíblia nos diz que esse véu significa a carne do Senhor Jesus (Hb 10.20). Em outras palavras, o Santo dos Santos somente pode ser visto pelo Senhor Jesus como um homem na terra e pelos que têm uma vida igual à do Senhor Jesus. Nem todos podem ver Deus. Somente o Senhor Jesus podia ver Deus. Ninguém, em todo o mundo, pode ver o Santo dos Santos. Ele estava velado. Quando pôde o homem ver o Santo dos Santos? Quando Deus removeu o véu do céu e uniu o Santo dos Santos, o Lugar Santo e o átrio exterior a fim de que o homem fosse capaz de vê-Lo. Isso aconteceu quando o Filho de Deus foi crucificado na cruz. Naquela hora, o caminho para o Santo dos Santos foi aberto. Por isso Hebreus 10.19-20 diz que temos intrepidez para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus pelo véu. Este véu rasgado é a carne do Senhor Jesus. Agora, temos intrepidez e a plena certeza de fé para nos achegar a Deus. A justiça do Senhor Jesus na terra não tem relação direta conosco. Graças ao Senhor, pois Ele não ficou na terra para sempre. Se tivesse permanecido na terra para sempre, Ele ainda seria um grão. Graças a Deus porque Ele morreu e nos produziu, os muitos grãos. Graças ao Senhor pela cruz.
Os Dois Aspectos da Cruz do Senhor
Aqui
há uma questão: O Senhor morreu na cruz, mas qual o significado de Sua morte?
Quem O enviou à cruz? Todos os que leem os Evangelhos sabem que foram os judeus
que O entregaram aos gentios e foram os gentios que O crucificaram na cruz. Se
me lembro corretamente, Pilatos era um espanhol. Como podemos dizer que o
Senhor Jesus morreu para levar nossos pecados? Ele foi claramente crucificado
pelo homem. Em Atos 2.23, Pedro disse aos judeus que eles pregaram Jesus na
cruz por mãos de iníquos. Aqui é dito que foram os judeus que pregaram o Senhor
Jesus na cruz. Mas que fez o Senhor Jesus na cruz? Antes de ir à cruz, Ele
esteve orando no jardim do Getsêmani. Sua oração, junto com suor com gotas como
de sangue, foi causada pela perseguição e oposição do homem? Foi porque Judas
trouxe homens para prendê-Lo? Ou foi porque Ele tinha de ir à cruz para nos
redimir do pecado? Não foi porque Deus fez com que Aquele que não tinha pecado
se tornasse pecado por nós e carregasse os pecados de todo o mundo sobre Si,
para que Ele pudesse levar nossos pecados sobre o madeiro? Ali, Ele orou: “Pai,
se queres, afasta de Mim este cálice” (Lc 22.42). Se a cruz fosse algo da mão
do homem, se ela fosse apenas o instrumento para alguns homens maus matarem-No,
e se houvesse apenas o aspecto humano do Senhor Jesus, então eu não gostaria de
ouvir essa oração do Senhor. Não gostaria de ouvir Jesus de Nazaré ajoelhado
ali orando ao Pai para, se possível, afastar Dele o cálice. No decorrer de dois
mil anos, muitos mártires e discípulos do Senhor tiveram um grito mais forte
que Ele ao se defrontarem com a morte. Muitos mártires, quando trancados em
celas e masmorras, oraram para que o Pai os glorificasse, que queriam morrer
pelo Filho e testificar a Palavra do Senhor com o sangue deles. Se não tivesse
sido Deus quem começou a pôr o encargo pelos pecados sobre o Senhor no
Getsêmani, e se não tivesse sido Deus quem tivesse colocado sobre o Senhor
Jesus o encargo de tomar os nossos pecados, teríamos de dizer que o Senhor
Jesus nem mesmo teve tanta coragem como aqueles que creram Nele. Assim, o
problema é que a cruz tem o aspecto humano e o aspecto de Deus. O homem
crucificou o Senhor Jesus na cruz. Mas o Senhor disse que nenhum homem tira Sua
vida; Ele espontaneamente a entregou (Jo 10.17-18). O homem podia crucificar o
Senhor mil vezes ou dez mil vezes, mas a não ser que Ele desse Sua vida, nada
poderia ter sido feito a Ele. O homem crê que Ele foi crucificado pelo homem.
Nós cremos que Ele foi crucificado por Deus para redimir os pecados em nosso
favor.
Temos
de descobrir na Bíblia o que Deus fez na cruz. Primeiro, leiamos Isaías
53.5-10: “Mas ele foi transpassado pelas nossas transgressões e moído
pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e
pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como
ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a
iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca;
como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores,
ele não abriu a boca. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem,
quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da
transgressão do meu povo, foi ele ferido. Designaram-lhe a sepultura com os
perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça,
nem dolo algum se achou em sua boca. Todavia, ao Senhor agradou moê-lo,
fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a
sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas
suas mãos”. Os apóstolos citam Isaías 53 muitas vezes no Novo Testamento. A
pessoa falada nessa passagem das Escrituras é o Senhor Jesus. Que disse o
profeta quando escreveu essa porção da Escritura? A última frase no versículo 4
diz: “Nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido”. No começo, o
profeta achava que Ele fora ferido e afligido por Deus, que fora punido por
Seus próprios pecados e ferido por Deus por Suas transgressões. Mas no
versículo 5 há uma volta. Deus lhe deu uma revelação através da palavra mas.
Achávamos que Ele estivesse meramente sofrendo punição e ferimento. Mas Ele não
estava sofrendo punição e ferimento: “Mas ele foi traspassado pelas nossas
transgressões e moído pelas nossas iniqüidades: o castigo que nos traz a paz
estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho” (vs. 5-6). A frase
seguinte é muito preciosa: “Mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós
todos” (v. 6). Isso é o que o Senhor fez. Vemos que em relação à cruz há o
aspecto do homem e o aspecto de Deus. Embora tenham sido as mãos humanas que
pregaram o Senhor Jesus, manifestando o ódio do homem por Deus, foi também Deus
quem colocou todos os nossos pecados sobre Ele e O crucificou. A cruz foi obra
de Deus; foi algo que Jeová cumpriu.
Que aconteceu na cruz? “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca”. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido” (vs. 7-8). Ser cortado da terra dos viventes é morrer. Os que estavam ao pé da cruz quando o Senhor foi crucificado admiravam-se e queriam saber por que esse homem estava sendo crucificado. Eles não sabiam a razão de aquilo estar acontecendo. O profeta disse que “ele não abriu a boca”, e que “como cordeiro foi levado ao matadouro; e como ovelha muda perante os seus tosquiadores”. Quem sabia que Ele estava sendo cortado da terra dos viventes pelo pecado do povo? Quem sabia que era Deus operando Nele para cumprir a obra de redenção? A cruz foi a maneira pela qual o Senhor cumpriu a redenção por meio de Sua morte. O versículo 9 diz: “Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca”. O versículo 10 é muito precioso: “Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado”. A cruz é uma obra de Deus. Foi o próprio Deus quem levou nossos pecados na cruz. Foi Ele quem solucionou nosso problema de pecado. Nunca dê qualquer crédito a Judas por entregar o Senhor Jesus aos judeus. Nunca pense que sem Judas o Senhor não poderia ser o Salvador. Mesmo se mil ou dez mil Judas tivessem existido, ainda seriam inúteis. Foi o próprio Senhor Jesus quem suportou nossos pecados.
Quando
o Senhor Jesus estava orando no jardim do Getsêmani, Ele pode ter parecido o
mais fraco de todos os homens, sem qualquer coragem. Ele orou ao Pai para que
passasse Dele o cálice (Lc 22.42). Mas quando saiu do jardim e encontrou muitos
homens maus, Ele disse: “Sou eu”, e eles “recuaram e caíram por terra” (Jo
18.6). Por favor, lembrem-se de que Ele não caiu quando se confrontou com os
homens maus. Pelo contrário, Ele os fez cair. Mas enquanto Ele estava no
Getsêmani, considerando o sofrimento que envolvia tomar os pecados do homem,
como é que Aquele que não tem pecado seria feito pecado e como Ele iria tomar
sobre Si o julgamento do pecado, Ele orou para que, se possível, o cálice fosse
passado de Si. Não fosse pela questão da redenção, o Senhor Jesus nem mesmo
seria comparado a um mártir. Quão fortes foram os muitos mártires cristãos
quando marchavam para a arena dos leões. Mas o Senhor Jesus rogou que o cálice
fosse, se possível, removido Dele. Fisicamente falando, o Senhor Jesus foi
imensamente diferente de todos os mártires. Mas para a redenção, para
solucionar o problema do pecado, para Deus vir ao homem e levar o pecado do
homem, até mesmo Ele teve de pedir que, se possível, o cálice fosse removido. A
Bíblia diz que Jeová foi quem fez Dele uma oferta pelo pecado. Foi Jeová quem
pôs sobre Ele a iniquidade de todos nós. Isso foi algo que Jeová fez. A cruz
foi obra de Deus; não foi obra do homem. A cruz é o próprio Deus vindo à terra
para levar os pecados do homem. A cruz não é o homem crucificando o Filho de
Deus.
Você
se lembra do que a Bíblia diz que aconteceu entre a hora sexta e a nona? O sol
escureceu (Lc 23.44-45). Os judeus escarneceram Dele, e os gentios conseguiram
açoitá-Lo e humilhá-Lo. Mas o sol estava além do controle dos judeus, e os
gentios não tinham autoridade para manipular o sol. O homem protestou e tocou
trombeta; mas o terremoto não foi algo que Pilatos conseguisse ordenar. Por que
o céu escureceu? Esse fenômeno aconteceu porque o próprio Deus veio tomar
nossos pecados. Isso não foi algo feito pelo homem. Se tivesse sido algo feito
pelo homem, teria Deus aumentado a dor de Seu Filho quando Ele estava pregado
na cruz? Deus não teria enviado doze legiões de anjos para vir e salvá-Lo? Tal
fato sem dúvida aconteceria se não fosse pela redenção dos pecados. Agradecemos
e louvamos a Deus porque foi Seu Filho quem veio para nos redimir dos pecados.
Eis por que Ele disse: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” (Mt
27.46). Nenhum cristão por todos estes dois mil anos disse essas terríveis
palavras quando estava para morrer. Por dois mil anos, quer os cristãos tenham
morrido em paz quer em aflição, eles foram mais ousados que Ele. Por que o
Filho de Deus foi ali rejeitado por Deus? Se tivesse sido meramente a mão do
homem e a crucificação pelo homem, essa teria sido a ocasião em que Ele mais
precisaria da presença de Deus. Quando o homem conspirou para persegui-Lo e
matá-Lo, Deus deveria ter manifestado mais Sua presença. Esse foi o momento
mais crucial e Deus tinha de estar com Ele. Por que Deus O abandonou, então?
Foi unicamente porque o Filho de Deus tinha se tornado pecado e tinha suportado
o julgamento. Essa é a razão de Ele ter clamado: “Deus Meu, Deus Meu, por que
Me desamparaste?” Deus O desamparara. Nós, que cremos na obra da redenção,
sabemos que o trabalhar da cruz foi para que Ele fosse julgado pelo pecado. A
cruz do Senhor mostra-nos como o pecado é maligno e quão grande preço Deus
pagou pela obra de redenção.
Além
de Isaías 53, podemos encontrar outro testemunho claro da Escritura. Romanos
3.25 diz que Deus propôs Cristo como propiciação. Isso também mostra claramente
que a obra foi feita por Deus. Deuteronômio 21.23 diz-nos que o que é levantado
no madeiro é maldito de Deus. Quando o Senhor foi pregado na cruz, Ele não foi
maldito do homem. Antes, Ele foi maldito de Deus. Eis por que Ele pode
livrar-nos da maldição. Em 1 João 4.10 é dito que Deus nos amou e enviou Seu
Filho como propiciação pelos nossos pecados. Foi Deus quem enviou Seu Filho
como propiciação. Não foi o homem quem O crucificou. Em 2 Coríntios 5.21 também
é dito: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós”. Isso foi
algo que Deus fez. A cruz é o trabalhar de Deus. Foi Deus quem enviou o Senhor
Jesus para passar pela cruz. Atos 2.23 menciona tanto o aspecto de Deus como o
aspecto do homem. “Este [homem] entregue pelo determinado desígnio e
presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos”. O
Senhor Jesus foi morto pelos judeus por mãos de iníquos. No entanto, tal morte
foi de acordo com o desígnio de Deus. Isso mostra-nos que tudo foi feito por
Deus. Nós temos pecado e o pecado somente pode ser tratado por Deus. Por essa
razão, Deus veio ao mundo para ser um homem. Enquanto homem, Ele foi
verdadeiramente justo. Mas essa justiça não foi imputada a nós. Foi a morte do
Senhor Jesus que nos livrou da maldição da lei (Gl 3.13). Ele não nos livrou do
pecado enquanto estava vivo, mas quando morreu. Na cruz, foi Deus quem O
crucificou, não o homem. A mão do homem é inútil. Foi Deus quem aproveitou a
oportunidade ali para manifestar o pecado do homem.
Redenção e Substituição
Agora
temos de fazer uma pergunta. Uma vez que o Senhor Jesus morreu na cruz e uma
vez que Deus O fez propiciação, como, então, podemos ser salvos? Qual a
diferença entre redenção e substituição? São fatores semelhantes? Temos de
reconhecer que a obra do Senhor Jesus é uma obra de redenção. Mas o resultado
dessa obra redentora é a substituição. A redenção é a causa e a substituição é
o resultado. A extensão da redenção é muito grande. Mas a extensão da
substituição não é tão grande assim. É muito interessante que a Bíblia nunca
diz que o Senhor Jesus morreu pelos pecados de todos. Ela somente diz que o
Senhor Jesus morreu por todos (2 Co 5.14). Sua obra redentora foi para
satisfazer as justas exigências de Deus. Quando o Senhor cumpriu a redenção na
cruz, essa obra de redenção não tinha absolutamente nada a ver com o homem.
Quero impressioná-los fortemente com esta palavra: a redenção não está
absolutamente relacionada conosco. A obra de redenção é entre Deus e o pecado.
Que é a obra de redenção? É o próprio Deus vindo ao mundo para resolver o
problema do pecado. Uma vez que o problema do pecado foi resolvido, a obra da
redenção foi cumprida. O sangue do cordeiro pascal era aspergido nas ombreiras
e nas vergas das portas (Êx 12.7). Deus disse que quando visse o sangue, Ele
passaria pela casa (v. 13). O sangue foi para Deus ver. Não foi para os
primogênitos verem. Os primogênitos não necessitavam ver o sangue; eles ficavam
dentro das casas. O sangue foi para cumprir as justas exigências de Deus; não
foi para cumprir as exigências dos primogênitos. Para os primogênitos não houve
algo como a redenção. Se lermos o Antigo Testamento, descobriremos que o sangue
para a expiação (isto é, redenção) do pecado deveria ser levado para dentro do
Santo dos Santos. Era para ser aspergido sobre o véu sete vezes (Lv 16.14-15).
No dia da Expiação, o sumo sacerdote tinha de trazer o sangue e aspergi-lo
sobre o propiciatório da arca. O sangue era para ser oferecido a Deus. É
verdade que o sangue tinha de ser colocado sobre o polegar, a orelha e o dedo
do pé de um leproso. Mas isso era feito com respeito à consagração. Era uma
questão de consagração a Deus. O homem não tinha tal exigência. A redenção tem
a ver com Deus. É Deus vindo para solucionar o que o homem não pode solucionar
por si mesmo. Eis por que a Bíblia diz: “E ele é a propiciação pelos nossos
pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro”
(1 Jo 2.2). A redenção inclui todo o mundo. Em tal redenção, todos, até os que
não foram salvos, estão incluídos.
Deus
veio e lidou com nossos pecados. O Senhor Jesus satisfez as justas exigências
de Deus para que nós pudéssemos receber a substituição do Senhor Jesus. Sua
redenção é uma preparação abstrata. Pelo crer Nele, essa redenção se torna uma
substituição para nós. Diante de Deus, não foi uma substituição, mas uma
redenção. É importante saber isso. Se não tivermos clareza desse assunto,
ficaremos confusos a respeito de muitas outras doutrinas. A redenção é para
Deus e a substituição é para nós. A redenção é para satisfazer as exigências de
Deus e a substituição é para recebermos o benefício. O que Ele cumpriu foi
redenção; o que nós recebemos é substituição. Eu não quero dizer que não haja
tal ensinamento como substituição na Bíblia. Sem dúvida, há tal ensinamento.
Mas todos os ensinamentos na Bíblia concernentes à substituição são escritos
para os cristãos. Eles não são escritos para incrédulos. Para os gentios, dizemos
que Jesus morreu por eles e cumpriu a redenção. Para os cristãos, dizemos que o
Senhor Jesus os substituiu tomando seus pecados.
Na
passagem em que lemos de Isaías 53, notamos que ela diz: “Mas ele foi transpassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados” (v. 5). Por favor, observem que lemos nossas em vez de vossas. Ele
levou o sofrimento pelos nossos pecados. Assim, nossos pecados são perdoados. É
por nós, e não por todo o mundo. Quando Pedro citou Isaías 53, ele disse:
“Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1 Pe
2.24). É sempre nossos e não vossos. Por isso, temos de ser cuidadosos quando
pregamos o evangelho. É melhor que sejamos mais fiéis à Bíblia.
A
Bíblia nunca diz aos pecadores que Jesus morreu pelos pecados deles. A Bíblia
diz que Jesus morreu por eles (Rm 5.8). Existe tal fato: Jesus morreu por eles.
Mas não há nada sobre Jesus ter morrido pelos pecados deles. Jesus morrer por
eles é um fato. Mas o problema do pecado ainda não ficou resolvido. É verdade
que todos os problemas do pecado já estão resolvidos diante de Deus. Mas se
alguém não tiver participação nessa obra, seus pecados ainda não estão solucionados
e esse não tem parte na substituição de Jesus. Quando alguém recebe o Senhor
Jesus, seu problema de pecado é resolvido. Isso é substituição. Sem isso, não
há substituição. Em outras palavras, a redenção foi realizada, mas a salvação
ainda não. Se eu lhes perguntasse quando vocês foram redimidos, vocês
responderiam que isso aconteceu há dois mil anos; mas se eu lhes perguntasse
quando vocês foram salvos, vocês diriam que foi em determinado dia, mês e ano.
A redenção foi algo que aconteceu há muito tempo. A salvação é algo presente. A
redenção foi cumprida por Cristo. A salvação é realizada em nós. Fomos
redimidos há dois mil anos, mas podemos ter sido salvos há poucos anos. Não sei
como dizer isso mais claramente, contudo para mim está muito claro. A obra de
redenção de Deus é uma questão referente a Ele mesmo; é para satisfazê-Lo e
nada tem a ver conosco. É algo absolutamente relacionado com Deus. O próprio
Deus foi O que fez a obra. Quando vemos o que Deus cumpriu, e cremos e
aceitamos, recebemos essa substituição.
Usemos
outra ilustração. Há uma passagem que une as margens leste e oeste do rio
Whampoa. É uma passagem gratuita. O lugar é conhecido como Passagem Gratuita.
Suponha que eu fosse um ladrão que tivesse roubado e assaltado muitas vezes
ali. Contudo, agora eu sou diferente. Que deveria eu fazer se quisesse fazer um
tratamento completo em relação ao meu passado de roubos e assaltos? Mesmo se eu
quisesse reembolsar, aonde eu deveria ir? É difícil encontrar aqueles a quem
assaltei. Que devo fazer? Por causa da justiça e para reembolsar, posso começar
um serviço gratuito para transportar as pessoas pelo rio. Qualquer pessoa pode
fazer a travessia e nada lhe será cobrado. Posso fazer isso para devolver o
dinheiro que roubei das pessoas nesse lugar. Ofereço esse tipo de serviço
grátis como uma solução para o problema de minha injustiça. Esse serviço
gratuito é para mim uma solução para a injustiça. Mas para os outros é uma
substituição; estou pagando a passagem no lugar dos outros. Esse é o modo de o
Senhor Jesus lidar com o problema da punição. Deus enviou o Senhor Jesus para
cumprir a redenção a fim de que Sua própria santidade e justiça bem como o
problema do pecado fossem cuidados. Quando alguém crê, ele entra nessa obra, e
o Senhor Jesus leva embora seus pecados.
Então,
o Novo Testamento diz: “Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo
pelos injustos” (1 Pe 3.18). Ele mesmo carregou em Seu corpo, sobre o madeiro,
os nossos pecados (1 Pe 2.24). Tudo isso foi feito por nós. Na noite em que o
Senhor Jesus foi traído, Ele tomou o cálice e deu graças, e o deu aos
discípulos, dizendo: “Porque isto é o Meu sangue da aliança, que é derramado
por muitos, para perdão de pecados” (Mt 26.28). Foi por muitos, não por todos.
No futuro, veremos incontáveis pessoas, com palmas nas mãos, lavados pelo
sangue (Ap 7.9, 14). Graças ao Senhor. Ele cumpriu a redenção por Sua própria
causa, para que nós pudéssemos ser substituídos. Nada podemos dizer a não ser
agradecer-Lhe e louvá-Lo.
A Obra De Cristo — Ressurreição Por Causa de Nossa Justificação
Já
mencionamos que o Senhor Jesus morreu por nós e por nossos pecados (Rm 5.8;1 Co
15.3). Também vimos como o Senhor cumpriu a justiça de Deus e, ao mesmo tempo,
manifestou a graça de Deus. Aqui precisamos perguntar: Como sabemos que a obra
redentora do Senhor Jesus foi realizada? Como sabemos que tal obra foi aceita
por Deus? Embora digamos que o Senhor Jesus cumpriu as justas exigências de
Deus, que Deus tem a dizer sobre isso? De que modo Deus pode mostrar-nos que
Seu Filho realmente cumpriu a obra de redenção e verdadeiramente satisfez Suas
exigências? É verdade que o Senhor Jesus morreu por nós e por nossos pecados e
que Sua obra foi realizada. Na cruz, antes de morrer, Ele disse claramente:
“Está consumado!” (Jo 19.30). É verdade que Ele consumou a obra de redenção que
se propôs fazer na terra. Ele foi capaz de dizer que estava consumado. Todos
nós que olhamos para Sua salvação também podemos dizer que ela está consumada.
Mas como sabemos que a obra de redenção do Senhor é aceitável a Deus quando
apresentada diante Dele? Como sabemos que a obra redentora do Senhor Jesus foi
aprovada por Deus? É correto dizer que a obra do Senhor passou no teste. Mas
que disse Deus? Podemos dizer que Jesus morreu na cruz e cumpriu a obra de
redenção. Mas como sabemos que o nosso Deus está plenamente satisfeito com tal
obra? Sabemos que a obra de redenção do Senhor é justa para nós. Mas como
sabemos que o mesmo é verdade para Deus? Nós dizemos que a obra de redenção é
inteiramente justa, mas Deus também diria que ela é justa? Quando olhamos para
a cruz, dizemos que todas as coisas estão resolvidas. Mas quando Deus olha para
a cruz, aos Seus olhos tudo está resolvido? Temos de perceber que não há
maneira de saber se Deus está ou não satisfeito baseado somente na cruz do
Senhor Jesus. Não há como descobrir se Deus a considera ou não como a
consumação. Se houvesse apenas a cruz, se tivéssemos somente a morte do Senhor
por nós, se apenas a cruz permanecesse conosco até hoje e se o sepulcro do Senhor
não estivesse vazio, nunca saberíamos o que a morte do Senhor realizou por nós.
Ao olhar a obra redentora do Senhor, não há somente o aspecto da cruz, mas
também o aspecto da ressurreição.
A RESSURREIÇÃO DO SENHOR É A PROVA DE QUE DEUS ACEITOU SUA REDENÇÃO
Não
vamos falar sobre todos os fatos relacionados com a ressurreição do Senhor
Jesus, assim como também não detalhamos os fatos relacionados com a Sua morte.
Anteriormente falamos apenas sobre o aspecto objetivo de Sua morte. Agora
também consideraremos apenas o aspecto objetivo da ressurreição do Senhor.
Objetivamente, o Senhor teve uma morte substitutiva por nós; Ele morreu em
lugar de todos (1 Pe 3.18; 2 Co 5.14). Ao mesmo tempo, Ele morreu por nossos
pecados (1 Co 15.3). Isso é o que a morte do Senhor cumpriu. Qual é, então, o
propósito de Sua ressurreição? Deus ressuscitou o Senhor Jesus dentre os mortos
como prova de que a obra de redenção foi cumprida. Deus a justificou e a
aprovou. Agora Ele está satisfeito. Muitos de nós temos tido experiência
trabalhando com negócios. Suponha que você tenha uma secretária que lhe
apresentou um projeto. Após olhá-lo, você pode escrever “Muito Bem” nele. Isso
significa que o trabalho está aprovado; está tudo certo. Agora ele pode ser
concretizado. O Senhor morreu por nós e a obra foi consumada. A ressurreição do
Senhor é o sinal de “Muito Bem” de Deus na obra e na morte do Senhor Jesus.
Isso significa que essa morte está agora aprovada. O problema do pecado do
homem está agora resolvido. Assim, uma vez que o Senhor ressuscitou, o problema
dos nossos pecados está completamente resolvido. Se o Senhor não tivesse
ressuscitado, embora a redenção tivesse sido cumprida, nosso coração seria
mantido em suspense. Ainda haveria certa inquietação em nós, pois apesar de sabermos
que a redenção tinha sido cumprida, não saberíamos se ela tinha sido aceita.
Quando percebemos que fomos totalmente redimidos de nossos pecados? Quando
vimos que o Senhor Jesus ressuscitou. A ressurreição é a prova. Ela nos mostra
que a cruz foi justa e a redenção foi aprovada. A ressurreição é a prova de que
a obra da cruz foi aceita e recebida por Deus. Consideremos uma ilustração.
Suponha que eu deva a uma pessoa certa quantia. Eu posso dever-lhe tanto que
não haja meios de pagar meu débito. Essa, naturalmente, não é uma boa
ilustração, mas vamos usá-la aqui com o propósito de esclarecer um aspecto da
verdade. Isso não deve ser aplicado a todos os aspectos da verdade. Digamos que
eu vá a um irmão e lhe diga: “Você conhece muito bem a pessoa para quem estou
devendo. Vocês dois são bons amigos. Por favor, interceda por mim. Não tenho
meios de pagar o que devo, mesmo se penhorar tudo numa loja de penhores. Estou
com dificuldade até para meu próprio sustento hoje. Faça-me esse favor de
qualquer maneira”. Meu credor não mora aqui em Xangai; ele mora em Soochow. A
meu pedido, o irmão faz uma viagem especial a Soochow e diz ao homem: “O sr.
Nee é verdadeiramente pobre. Ele não pode nem se sustentar. Esta pequena soma
de dinheiro nada significa para você. Por que não o libera de sua dívida?”
Suponha que meu credor seja muito generoso. Ele diz: “Uma vez que você veio
pedir pelo débito do sr. Nee, eu esquecerei o assunto. Ele não precisa
devolver-me coisa alguma. Devolva-lhe esta nota promissória”. Então, ele prossegue
e diz a esse irmão: “Não nos encontramos há anos. Uma vez que somos bons amigos
e uma vez que você está aqui em Soochow, você deve fazer uma visita ao Monte
Tigre e ao santuário da Montanha de Inverno. Por que você não fica aqui por
alguns dias?” Ele o convida a ficar em Soochow e prodigamente o hospeda.
Suponha que esse irmão tenha partido no dia 10 de maio e acertou a questão
naquele dia. No entanto, até 20 de maio, ele ainda não voltou a Xangai.
Enquanto ele está festejando em Soochow, eu estou aflito em Xangai. Eu não sei
se o irmão resolveu o assunto ou não. Talvez ele não tenha voltado por alguma
dificuldade. Ele não voltou no trem noturno do dia 10 de maio. Talvez o assunto
não tenha sido resolvido. Ele não voltou em 11 de maio. Nem em 19 ou 20.
Enquanto ele não volta, meu coração não pode ter paz, pois não sei se tudo está
certo. O assunto foi resolvido em 10 de maio, mas eu ainda não recebi notícias
até 20 de maio. Enquanto ele não volta, meu assunto não está resolvido. Eu
ainda me considero um devedor e meu coração ainda está desassossegado. Quando
tratarão do assunto? Somente quando ele voltar de Xangai eu saberei se o
assunto foi resolvido. Amigos, isso ilustra a ressurreição do Senhor Jesus.
Quando Ele morreu por nós, Ele resolveu o problema do pecado. Assim que Ele
morreu, a questão do pecado foi solucionada. Mas se Ele não tivesse
ressuscitado dentre os mortos e se não tivesse voltado, então nosso coração
estaria em suspense; não saberíamos o que tinha acontecido. O Senhor Jesus
passou pela morte por nós. Ele sofreu a punição da lei e a ira de Deus por nós
(Gl 3.13). Mas, se o Senhor Jesus não tivesse voltado, não saberíamos se a obra
tinha sido concluída ou não. Não saberíamos se Deus tinha aceito a obra do
Senhor. Por essa razão, o Senhor Jesus tinha de voltar. Ele tinha de
ressuscitar. Assim nós soubemos que a obra foi realizada. Louvado seja o
Senhor. A obra está cumprida. Se ela não tivesse sido cumprida, o Senhor não
teria saído e ressuscitado. Sua ressurreição prova que nossos pecados foram
totalmente solucionados.
Romanos
4.25 diz: “O qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e
ressuscitou por causa da nossa justificação”. Por que o Senhor Jesus foi
entregue? Por causa das nossas transgressões. Se não tivéssemos nenhuma transgressão,
o Senhor jamais precisaria ter sido entregue. Foi por causa das transgressões
que o Senhor foi entregue ao homem. Do mesmo modo, Sua ressurreição foi por
causa de nossa justificação. No grego, as duas frases têm a mesma estrutura.
Jesus foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa
da nossa justificação. Alguns tradutores da Bíblia têm interpretado mal a
explicação de Paulo. Eles pensam que a ressurreição é para que o homem seja
justificado. Eles pensam que primeiro vem a ressurreição do Senhor, então nossa
justificação. Mas o que Paulo estava dizendo e o que o Espírito Santo estava
dizendo, é que Ele ressuscitou porque fomos justificados. Resumindo, o Senhor
ressuscitou porque fomos justificados. Algumas versões dizem que a ressurreição
vem primeiro, então a justificação. Mas o Espírito Santo diz que a justificação
ocorreu antes da ressurreição. Primeiro, há a questão das nossas ofensas.
Depois há a morte do Senhor. Do mesmo modo, primeiro há nossa justificação,
depois há Sua ressurreição. Ele foi entregue por causa das nossas transgressões
e ressuscitou por causa da nossa justificação. Isso significa que a
ressurreição do Senhor Jesus é a prova da nossa justificação. É porque fomos
justificados que Deus ressuscitou o Senhor Jesus. Uma vez que o Senhor satisfez
a justa exigência de Deus, Deus O ressuscitou.
Meu
amigo, agora devo anunciar-lhe algumas notícias muito boas. Embora alguns
tenham crido no Senhor, ainda estão com medo e tremendo. Eles se sentem como se
estivessem caminhando à beira de um precipício ou sobre uma fina camada de
gelo. Eles pensam que depositaram sua alma, sua vida e seu futuro na cruz do
Senhor. Eles não sabem se confiar no Senhor dessa forma é seguro ou não. Se
descobrirem mais tarde que essa confiança não resulta em salvação, então
estarão em apuros. Eu posso crer na cruz de Jesus para a redenção dos meus
pecados hoje. Mas se naquele dia ela não produzir efeito, então estarei em
apuros. Hoje posso dizer que não é uma questão de fazer o bem ou guardar a lei
e que tudo o que tenho de fazer é confiar na cruz de Jesus. Mas que acontecerá
se naquele dia Deus disser que não está tudo bem? Que vou fazer? Como posso
saber hoje que a cruz do Senhor é suficiente? Meu amigo, você não deveria olhar
para a cruz; não deveria preocupar-se se a cruz faz sentido ou não e se está
certa ou não. Tudo o que você precisa contemplar é a ressurreição do Senhor. Se
a obra da cruz do Senhor não fosse adequada ou correta, Deus não O teria
ressuscitado. Portanto, Ele ressuscitou porque nós fomos justificados. Visto
que fomos justificados quando cremos no sangue de Jesus, o Senhor Jesus foi
ressuscitado.
RESSURREIÇÃO POR CAUSA DE NOSSA JUSTIFICAÇÃO
Eu
não sei se a redenção do Senhor é adequada ou apropriada. Não sei se a obra
redentora do Senhor foi totalmente resolvida. Mas uma vez que o Senhor saiu da
morte, eu reconheço que todas as coisas foram solucionadas.
No
ano passado, quando estávamos comprando um terreno, algumas vezes eu mesmo
levei o dinheiro ao banco. Uma parte foi em cédulas. A outra parte foi em
moedas. Eu as embrulhei num grande pacote e escrevi num documento de depósito
do banco a quantia total do depósito. Então entreguei o embrulho. Pensei que se
alguma nota ou moeda fosse falsa, eu teria de preencher outro formulário de
depósito. Enquanto esperava no balcão, eu estava apreensivo. Como saber se a
quantia estava correta? Como saber se todas as cédulas eram verdadeiras? Como
saber se todas as moedas eram verdadeiras? O caixa às vezes tomava uma nota e a
examinava sob a luz. Após ter contado todo o dinheiro, ele pôs sua assinatura
no papel e o passou a um funcionário superior que também o assinou. O papel
então foi passado a um outro homem sentado do lado oposto a ele e que também o
assinou. Finalmente, o papel me foi devolvido. Aí, então, tive certeza de que a
transação fora concretizada e levei o documento para casa. Não tinha de me
preocupar se as notas eram genuínas ou as moedas verdadeiras. Uma vez que as
três assinaturas eram verdadeiras, tudo estava certo. Se depois de voltar para
casa ainda estivesse preocupado por alguma nota ser falsa e não pudesse comer
ou dormir por causa disso, haveria algo errado com a minha mente. A questão não
é mais se as notas tinham a cor certa, a impressão certa ou a textura exata do
papel. Uma vez que o banco pegou o dinheiro e autenticou o recibo, o dinheiro
era verdadeiro e todos os problemas acabaram. Do mesmo modo, uma vez que vemos
o Senhor ressurreto, tudo está certo. A ressurreição do Senhor nos diz que
fomos justificados. Que significa para nós o fato de sermos justificados?
Significa que Deus reconheceu a redenção de Jesus, Seu Filho. Depois disso, Ele nos
justificou e, então, ressuscitou Seu Filho. A ressurreição testifica que Sua
morte foi adequada. Assim, se você ainda não tem paz e não conhece qual o ponto
de vista de Deus sobre sua salvação e se pode ser salvo diante de Deus por meio
do Senhor Jesus, tudo o que você precisa perguntar é se o Senhor ressuscitou.
Sua morte é para a redenção. Sua ressurreição é para a justificação. Sem
justificação, Ele não poderia ressuscitar. Eis por que sempre digo que a
ressurreição é o recibo emitido por Deus pelo sacrifício que o Senhor Jesus
ofereceu. A ressurreição é o recibo de Deus para nós. Ela reconhece o pagamento
como adequado.
Se
acredita em determinada pessoa e sabe que ela tem bom crédito, não precisa
necessariamente de um recibo dela para que você lhe empreste cem, mil ou até dez
mil dólares. Você sabe que ela não vai fraudá-lo. Mas se é uma pessoa que você
não conhece, alguém com quem você não tem afinidade e de cujo crédito nada
sabe, você decididamente exigirá uma garantia. Você não sabe o que ela pode
fazer com seu dinheiro. Graças ao Senhor. Ele sabe que somos de pequena fé. Ele
sabe que duvidaríamos e que não acreditaríamos Nele imediatamente. Embora nos
tenha dado Seu Filho e O tenha levado a sofrer um julgamento e a cumprir a
redenção e até mesmo tenha declarado que todo aquele que receber Seu Filho seja
justificado, Ele sabia que o homem ainda não creria Nele. Eis por que Ele
ressuscitou Seu Filho dentre os mortos para ser uma prova de nossa
justificação. Seu Filho é a prova de nossa justificação diante Dele. Meu amigo,
agora você tem um recibo em seu bolso. Suponha que eu seja salvo agora, mas
após alguns anos Deus diga: “Agora você deve ir para o inferno. Você deve
entrar na perdição eterna”. Evidentemente, isso é algo que nunca acontecerá. Eu
perguntaria: “Por quê?” Suponha que Ele dissesse: “Porque você pecou. Você não
é bom”. Eu diria: “O Senhor Jesus não cumpriu a redenção?” Suponha que Ele
dissesse: “A redenção de Jesus não é suficiente, você deve ir para o inferno”.
Eu então diria: “Por que a redenção do Senhor não é suficiente?” Deus poderia
dizer: “Não pense que Eu sei tudo. Quando Eu digo que não é suficiente,
significa que não é suficiente”. Que diria eu então? Eu diria que realmente
havia agido errado, mas que creio na redenção do Senhor. Mas Deus diz que apesar
de a redenção do Senhor ter sido realizada, ela não seria completa. Eu então
lhe diria: “Se a obra de redenção do Senhor não foi totalmente suficiente, o
Senhor não deveria tê-Lo ressuscitado. Ao ressuscitá-Lo, o Senhor nos está
dizendo pela ressurreição que tudo está certo. Como pode dizer agora que não é
suficiente?” Se eu dissesse isso a Deus, até Ele teria de reconhecer que eu
estou certo. Aleluia! O propósito de Sua ressurreição é mostrar-nos que Suas
obras são adequadas.
Se
não houver ressurreição entre nós, então, como saber o que aconteceu na cruz?
Como saber o que o Senhor negociou com Deus na cruz? Ouvimos estas palavras na
cruz: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” (Mt 27.46). Outra palavra
que ouvimos é: “Está consumado!” (Jo 19.30). Uma passagem nos diz que Deus O
abandonou; outra nos diz que estava consumado. Se o Senhor tivesse apenas
morrido, então todo o mundo poderia apenas ter esperança Nele; não poderia ter
segurança Nele. O homem poderia ter esperança de receber vida eterna Nele.
Poderia ter esperança de ser justificado e perdoado Nele. Mas nunca poderia ter
a segurança para dizer que está salvo ou que recebeu a vida eterna ou que seus
pecados foram perdoados ou que Deus o justificou. A razão de eu ter hoje a
segurança de que meus pecados foram perdoados e que fui salvo pela fé é que eu
vi a ressurreição do Senhor Jesus. Sua ressurreição mostra-nos que a cruz
satisfez o coração de Deus.
A BÍBLIA NOS LEVA A CRER NA RESSURREIÇÃO
Eu
sou alguém que prega a cruz. Entre nós, muitos cooperadores também pregam a
cruz. Hoje, todos nós somos os que creem na cruz. Todos cremos que a morte do
Senhor nos salvou. Ele não morreu para Si mesmo. Antes, Ele morreu para nos
redimir. Mas deixe-me fazer-lhe uma pergunta. Você pode encontrar algum lugar
em toda a Bíblia que diga que deveríamos crer que o Senhor Jesus morreu por
nós? Onde, em todo o Novo Testamento, diz que devemos crer na morte do Senhor
por nós? Não há tal citação. Isso é muito especial. Não há um único versículo
em todo o Novo Testamento que nos diga que devemos crer na morte do Senhor por
nós. Não se confundam, pensando que eu desprezo a obra da cruz. Sou totalmente
a favor da obra da cruz. Mas devemos prestar atenção às palavras da Bíblia. Não
há um único trecho no Novo Testamento que diga que deveríamos crer na morte do
Senhor Jesus por nós. Há muitas passagens na Bíblia que nos dizem que o Senhor
Jesus morreu por nós e por nossos pecados. Mas não há um trecho sequer que nos
diga para tomar Sua morte como o objeto de nossa fé. O Evangelho de João nos
diz que temos de crer (3.15-16, 18, 36). Mas ele não diz sobre crer na cruz.
Somente fala sobre crer no Senhor.Há outra coisa que é igualmente especial. O
Novo Testamento nos diz para crer que Deus ressuscitou a Jesus dentre os mortos.
A Bíblia não diz que a cruz ou a morte do Senhor sejam o objeto de nossa fé.
Antes, ela diz que a ressurreição é o objeto de nossa fé. Creio que todos
conhecemos o versículo em Romanos 10.9: “Se, com a tua boca confessares Jesus
como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos,
serás salvo”. Por que a Bíblia não nos pede para crer na cruz do Senhor, mas
nos pede para crer em Sua ressurreição? Por que a Bíblia nunca nos pede para
crer na cruz do Senhor Jesus, mas nos pede para crer que Deus O ressuscitou
dentre os mortos? Devemos considerar um pouco essa questão. Isso é algo muito
crucial. Se dependesse de nossa leitura da Bíblia, pensaríamos que a cruz é a
coisa mais importante, e que deve haver ao menos uma palavra que diga que
devemos crer na morte do Senhor na cruz. Mas não há uma palavra sequer sobre
isso. Por que é assim? Um irmão pode alegar que se Cristo não ressuscitou, a
nossa fé é vã. É verdade que por duas vezes em 1 Coríntios 15 é dito que se
Cristo não ressuscitou, então nossa fé é vã (vs. 14, 17). Mas essa palavra não
nos ajuda a resolver o problema. Pelo contrário, torna nosso problema ainda
mais difícil. Se não há ressurreição,
a nossa fé é vã. Portanto, a ressurreição é algo em que devemos crer. Sabemos
que a redenção é uma questão entre Deus e o Senhor Jesus. Não é uma exigência
de Deus sobre o homem. A redenção não é algo que o Senhor tenha feito para
satisfazer o coração do homem. Ela é o Senhor satisfazendo a exigência de Deus
quanto à santidade, justiça e glória. A morte do Senhor e a obra redentora que
Ele realizou são transações que se deram entre Deus e o Senhor Jesus. Não é
algo que é anunciado como objeto de nossa fé. A base de nossa fé é o fato de
Deus haver ressuscitado Jesus, dentre os mortos. Assim, hoje nossa fé não está
no sangue do Senhor Jesus redimindo-nos dos pecados. Nunca poderemos
compreender plenamente essa questão. Até mesmo um homem tão espiritual como
Andrew Murray, que conhecia tão bem a Deus, disse que não sabia quanto valor há
no sangue do Senhor Jesus. Mesmo quando ia diante de Deus, somente podia orar:
“Deus, não sei qual o valor do sangue do Teu Filho diante de Ti. Mas eu Te peço
que todo o valor do sangue do Teu Filho seja percebido em mim”. O sangue do
Senhor é de tal importância que se eu pudesse dizer tudo, não seria capaz de
receber tudo o que Ele fez e Sua obra seria limitada pelo meu falar.
Não
conhecemos o valor do sangue, mas conhecemos o valor da ressurreição. O sangue
do Senhor satisfez a exigência de Deus e não sabemos quão grande é tal
exigência. Mas sabemos quão grande é a satisfação. Não sei quanto eu devia.
Talvez fossem dez talentos ou talvez dez milhões de talentos. Mas eu sei que a
morte do Senhor é suficiente para me salvar. Como sei disso? Porque Ele
ressuscitou. Não estou confiando se o dinheiro que depositei no banco é
suficiente ou não. Não é nisso que confio. Nem mesmo tenho de confiar se todo o
dinheiro que eu pus no banco era verdadeiro. O que creio é que Deus não me
daria um recibo falso. Mesmo que a redenção do Senhor fosse errada, quaisquer
que fossem os erros, Deus nunca emitiria um recibo incorreto. Assim, embora não
saiba o quanto o sangue cumpriu a exigência de Deus, sei que ele satisfez a
exigência de Deus. Se o Senhor não tivesse satisfeito a Deus, Deus não O teria
ressuscitado. Portanto, hoje você pode crer da maneira mais ignorante. Você não
tem de perguntar se o sangue do Senhor é suficiente ou se a obra de redenção do
Senhor foi aprovada. Você somente tem de perguntar se Deus ressuscitou o
Senhor. Uma vez que o Senhor Jesus ressuscitou, tudo o que você tem de fazer é
crer. Nós cremos na ressurreição. É por isso que a Bíblia exige somente que
creiamos na ressurreição; ela não exige que creiamos na cruz. A obra da cruz é
transmitida a nós somente para sabermos o que o Senhor fez diante de Deus. É a
ressurreição do Senhor Jesus que pregamos e cremos. Ela inclui Sua morte e Sua
vida. Uma vez que eu vejo o recibo, imediatamente sei que a quantia é adequada
e que todas as notas são genuínas.
Esta
noite posso dormir bem porque o Senhor Jesus ressuscitou. Se o Senhor não
tivesse ressuscitado, mesmo que Ele tivesse morrido e nos redimido, ainda não
poderíamos dormir em paz. Como sei que Seu sangue é suficiente? Como sei que o
problema do pecado foi resolvido? Aleluia! Há a ressurreição. Porque fomos
justificados, Ele ressuscitou. Portanto, cremos na ressurreição. Não sei
quantos estão sentados aqui esta noite que ainda estão preocupados com a
salvação, que ainda duvidam e não estão seguros. Quando você se pergunta se
confia em Jesus, pode dizer que sim. Quando se pergunta se crê que Jesus morreu
por você, também pode dizer que sim. Mas você ainda tem uma pergunta. Você pode
pensar que crer em Jesus não é suficiente para ser perdoado dos seus pecados,
que você tem de fazer ainda algumas boas obras. Ainda pode pensar isso e
aquilo. Mas você só precisa saber de uma coisa. Por que Deus ressuscitou o
Senhor Jesus? Por que Deus emitiu um recibo? O fato de Deus querer emitir um
recibo para você, prova que a quantia que você depositou está correta. Quando
Deus ressuscitou a Seu Filho dentre os mortos, foi uma prova de que a redenção
que Seu Filho realizou foi algo correto. Deus não pode fazer nada injusto. A
ressurreição prova que a obra do Senhor Jesus é eficaz diante de Deus. Eis por
que o Novo Testamento enfatiza tanto nosso crer que Deus ressuscitou Seu Filho
dentre os mortos.Os dois versículos que mencionamos anteriormente em 1
Coríntios 15 são muito preciosos. O versículo 14 diz: “E, se Cristo não
ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé”. O versículo 17 então
diz: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé”. Se Cristo não houvesse
ressuscitado, ninguém saberia o que aconteceu com as coisas em que creu. Outra
coisa maravilhosa é vista em 1 Coríntios 15.3 que diz: “Cristo morreu pelos
nossos pecados, segundo as Escrituras”. Mas no versículo 17, é dito: “E, se
Cristo não ressuscitou, (...) ainda permaneceis nos vossos pecados”. Os dois
versículos acima não são contraditórios? O versículo 3 diz que Ele morreu pelos
nossos pecados. Isso significa que Ele resolveu o problema dos nossos pecados.
Por que o versículo 17 diz que se Cristo não ressuscitou, ainda permanecemos
nos nossos pecados? Esse versículo é muito especial. Talvez você o mudasse para
“Se Cristo não morreu por vós, ainda permaneceis nos vossos pecados”. Se
mudássemos a palavra ressuscitou para morreu, imediatamente seríamos capazes de
entendê-lo. Uma vez que Cristo morreu por nós, não mais estamos em pecado. Mas
o versículo 3 diz que Cristo já morreu por nossos pecados. Agora o versículo 17
diz que sem a ressurreição de Cristo, ainda estamos nos nossos pecados. Que
significa isso? Meu amigo, a questão é realmente muito clara. Por um lado,
Cristo morreu por nossos pecados. Mas quando sei que não permaneço no pecado, e
quando sei que fui libertado do pecado? Quando o Senhor ressuscitou. Foi quando
o Senhor ressuscitou que percebi que fui redimido dos meus pecados. Temos de
distinguir entre esses dois. A redenção e a libertação do pecado diante de Deus
são devidas à morte do Senhor; não são devidas à Sua ressurreição. Mas para nós
é a ressurreição do Senhor que percebemos em vez de Sua morte. Para meu credor,
o débito é saldado no momento em que ele vê o dinheiro. Mas para mim é saldado
quando vejo o recibo. Meu credor somente olha para o dinheiro e eu, para o
recibo. Os olhos de Deus apenas vêem a morte do Senhor Jesus, e os nossos, a
Sua ressurreição. Deus não precisa da ressurreição do Senhor como prova para
Si. Ele sabe muito bem que a morte do Senhor é adequada para a redenção. O
problema é que nós não sabemos. Não se entrega um recibo a quem recebe o
pagamento. Entrega-se para quem paga. Não se prepara recibo para o credor.
Todos os recibos são feitos para os devedores. Eles são emitidos para dar tranquilidade
ao devedor. Consequentemente, para Deus, a morte do Senhor é suficiente para os
nossos pecados. Assim que Ele morreu, Deus ficou satisfeito. A ressurreição nos
diz que Ele está satisfeito, que a morte do Senhor nos redimiu dos pecados. Mas
se o Senhor não ressuscitasse, apesar de termos sido redimidos de nossos
pecados, nós ainda não o saberíamos. Com a morte do Senhor, o problema do
pecado está resolvido para sempre diante de Deus. Mas, sem a ressurreição, do
nosso lado não teríamos a certeza de que os nossos pecados estão
realmente solucionados. O fato do perdão repousa em Sua morte. A certeza do
perdão está em Sua ressurreição. A morte do Senhor nos redime dos pecados e a
ressurreição do Senhor nos permite saber que fomos redimidos dos nossos pecados.
Esta noite posso dormir bem porque o Senhor Jesus ressuscitou
Assim,
há esses dois lados na Bíblia. Sem a morte do Senhor Jesus por nós, não
teríamos sido redimidos de nossos pecados. A Bíblia diz que Jesus morreu pelos
nossos pecados. Mas vemos que nós mesmos permanecemos nos pecados. Embora Deus
tenha terminado Sua parte da obra, do nosso lado, os problemas ainda não se
resolveram. Por essa razão o Senhor Jesus teve de ressuscitar antes de sabermos
que nossos pecados foram perdoados. A morte é para Deus, e a ressurreição é
para nós. A morte é exigência de Deus e a ressurreição é exigência dos
pecadores. A morte é a solução do pecado diante de Deus e a ressurreição é a
remoção da dúvida no coração do homem. Com a morte, o registro do pecado é
extinto. Com a ressurreição, ganhamos a prova do perdão e o veredito de
inocentes. Graças ao Senhor pela ressurreição. Que acontece quando alguém se
achega a Deus e quer saber se está salvo ou não? Tal pessoa pode ter crido
verdadeiramente no Senhor Jesus Cristo. Mas ela ainda pode ter dúvida se está
realmente salva. Agora, diante de Deus, o recibo já foi emitido. Se tal pessoa
ainda quer duvidar, é porque ela escolheu a dúvida. Mas, se o Senhor Jesus
ressuscitou, então nossos problemas foram resolvidos. Por favor, lembrem-se
dessas três passagens — Romanos 4.25, 10.9 e 1 Coríntios 15.17. Esses três
versículos nos mostram que a ressurreição foi cumprida por nós objetivamente.
Até agora, vimos alguns itens: o pecado, a lei, a graça, a justiça de Deus, a
obra realizada pela morte do Senhor Jesus e a obra realizada por Sua
ressurreição. Um irmão perguntou: Que significa 1 João 2.2? Eu responderia da
seguinte maneira: As palavras “os pecados de” na frase “Pelos [pecados] do
mundo inteiro” em algumas versões
não existem no texto original. A versão revista e atualizada de João Ferreira
de Almeida diz: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos
nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro”. Se esse fosse realmente o
caso, então todo o mundo já teria sido salvo, pois o Senhor Jesus se tornou
propiciação pelos pecados do mundo todo. Mas no grego se lê: “E Ele mesmo é a
propiciação pelos nossos pecados: e não só pelos nossos, mas também por todo o
mundo”. Para um leitor do Novo Testamento entender a redenção do Senhor e Sua
substituição, primeiro ele tem de saber a distinção entre nós mesmos e nossos
pecados, isto é, entre o pecador e os pecados do pecador. Segundo, ele tem de
saber a diferença entre todos e muitos. Terceiro, ele deve saber a diferença entre
pecado e pecados. Há diferença entre os três pares de coisas: nós mesmos e
nossos pecados, todos e muitos, e pecado e pecados. A Bíblia diz muitas vezes
que o Senhor Jesus morreu por todos. Mas nem uma vez ela disse que o Senhor
Jesus morreu pelos pecados de todos. Em 2 Coríntios 5.14 diz-se que: “Um morreu
por todos; logo todos morreram”. Paulo não podia dizer que desde que Um morreu
pelos pecados de todos, todos morreram. O Senhor Jesus morreu por todos. Mas
Ele não morreu pelos pecados de todos. Se o Senhor Jesus tivesse morrido pelos
pecados de todos, então, crendo ou não, a pessoa poderia ser salva, pois todos
os problemas de pecados estariam resolvidos. Mas o Senhor Jesus morreu por
todos. Se formos a Ele, recebê-Lo-emos como nosso substituto e receberemos Sua
redenção. A Bíblia realmente diz que o Senhor Jesus morreu pelos pecados. Mas
nesses casos, ela diz que Ele morreu pelos pecados de muitos e não pelos
pecados de todos. Na noite passada, um irmão testou-me com um versículo. Ele me
perguntou por que o livro de Hebreus diz que o Senhor Jesus foi oferecido por
nossos pecados. Hebreus 9.28 diz: “Assim também Cristo, tendo-se oferecido uma
vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem
pecado, aos que o aguardam para a salvação”. Você pode ver que aqui, quando
fala sobre Cristo tirar os pecados, é dito “para tirar os pecados de muitos”, e
não “para tirar os pecados de todos”. A seguir, ele dá uma explicação: “Segunda
vez aos que o aguardam”. Isso diz respeito a todos os que foram comprados pelo
sangue. Estes são a grande multidão em Apocalipse 7.9-17. Esses são os muitos.
Eis por que é dito que Ele foi oferecido pelos pecados deles. Mas não se pode
dizer que Ele foi oferecido pelos pecados de todos. As palavras na Bíblia nunca
são vagas, indefinidas. Se Cristo veio para tirar os pecados de todos, se Ele
veio para tirar todos os pecados de todos no mundo, então não mais temos de
pregar o evangelho. Mas este não é o caso. O que nós temos são os muitos.
Então, Mateus 26.28 relata que quando o Senhor Jesus tomou o cálice, Ele disse:
“Porque isto é o Meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos,
para perdão de pecados”. Novamente aqui temos muitos, e não todos. Se fossem
todos, então os pecados de todas as pessoas estariam perdoados. A Bíblia apenas
diz que o Senhor Jesus morreu por todos. Esta palavra simplesmente nos mostra
que a morte do Senhor é algo aberto e que todos podem receber o benefício de
Sua morte. Se houver alguém aqui que não seja salvo, esta noite eu gostaria de
dizer que Cristo morreu por você. Mas, quanto a mim, o Senhor Jesus morreu
pelos meus pecados. Assim que pedir isso, a eficácia da morte do Senhor operará
sobre você e você terá parte nela. Mas você deve vir a Ele antes que a eficácia
da morte do Senhor possa ser sua e possa operar em você. O Senhor Jesus morreu
por todos, e Ele morreu pelos pecados de muitos. Há uma distinção entre os
dois. Temos de atentar para isso. Vamos ler mais duas passagens. Romanos
5.18-19 diz: “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os
homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça
sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela
desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por
meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Se quisermos entender
esses dois versículos, devemos ponderar sobre eles e prestar atenção a eles. Os
leitores da Bíblia concordam que esses dois versículos são alguns dos mais difíceis
no Novo Testamento. Devemos prestar atenção às palavras deles: Primeiro, no
versículo 18 é dito: “todos os homens”, mas no versículo 19, é dito “muitos”.
Segundo, no versículo 18 há a palavra grega eis, que é equivalente à palavra
portuguesa para ou em direção a. Uma versão traduziu essa porção da seguinte
maneira: “Pela ofensa de um, o juízo veio sobre todos os homens para
condenação; da mesma forma, pela justiça de um o dom gratuito veio sobre todos
os homens para justificação de vida”. Essa não é uma tradução muito fiel. O
versículo pode ser assim traduzido: “Por meio de uma ofensa para condenação a
todos os homens, assim também foi por meio de um ato justo para justificação de
vida a todos os homens”. Agora devemos atentar mais minuciosamente nesse assunto.
O versículo 18 fala sobre uma ofensa e o versículo 19 fala sobre um homem. A
ofensa denota o pecado de Adão (Rm 5.14). O pecado de Adão foi para a
condenação de todos os homens. Isso significa que aquela ofensa foi para a
condenação de todos os homens. Perceberam que uma única vez foi o bastante? É
como dizer que uma vez que uma pessoa faça fortuna, ela está preparada para
comprar muitas coisas. A ofensa única foi para a condenação de todos os homens.
Do mesmo modo, o ato único de justiça de Cristo foi para a justificação a fim
de dar vida a todos os homens. Não é correto traduzir o versículo como a versão
anteriormente mencionada o faz, pois isso significaria que por meio do único
ato de justiça de Cristo, todos foram justificados e receberam vida. Qual é o
significado de eis traduzido por “para” nesse versículo? Significa uma
preparação. É como a impressão de muitas cédulas pelo governo no Banco Central.
É uma preparação para, mais tarde, serem usadas para trocas. Mesmo que todos
venham trocar as notas, o governo está preparado. O versículo 18 diz todos os
homens. Isso significa que todos podem receber vida. Não há problema a esse
respeito. Mas o versículo 19 é diferente; ele diz: “Porque, como, pela
desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por
meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Aqui temos os muitos.
Pela desobediência de um homem, que é Adão, os muitos são feitos pecadores.
Aqui não diz que todos os homens se tornaram pecadores. Por que isso é assim?
Deixem-me dar-lhes um testemunho honesto. Pode parecer que eu esteja brincando.
Mas seis anos atrás, quando li pela primeira vez sobre a diferença entre muitos
e todos, eu estava um pouco preocupado com o apóstolo Paulo. Enquanto procurava
o texto original, pensava que se Paulo usasse as palavras da forma que nossos
tradutores fizeram, seria um desastre. Eu estava quase orando ali: “Não permita
tal palavra ser todos, mas muitos”. Finalmente, descobri que realmente é
muitos. Que significa dizer que pela desobediência de um todos os homens foram
condenados? Isso significaria que todo o que está em Adão é pecador. Não
haveria um justo sequer. Isso não seria tão sério. Mas a frase seguinte seria
mais séria: Por um só ato de justiça, todos os homens foram justificados. Isso
significaria que o evangelho não precisa mais ser pregado a quem quer que
fosse, pois todos estavam salvos e justificados. Não há aqui menção da questão
de crer ou não, e receber ou não. Por meio da obediência de um todos foram
salvos. Até os incrédulos seriam salvos. Mas esse, logicamente, não é o caso. O
que diz aqui é: “Por meio da obediência de um, muitos se tornarão justos”. Por
isso, o que a obra do Senhor Jesus fez é para os muitos. Aqui, deve-se
diferenciar todos e os muitos. Ao mesmo tempo, devemos diferenciar entre nós
mesmos e nossos pecados. Romanos 5.8 diz que Cristo morreu por nós, sendo nós
ainda pecadores. Mas 1 Coríntios 15.3 diz que “Cristo morreu pelos nossos
pecados, segundo as Escrituras”. “Por nós” é uma preparação. Mas “pelos nossos
pecados” é uma espécie de percepção. Mesmo que uma pessoa não tenha sido salva,
ela pode até pregar o evangelho. Mas ela só pode dizer que Deus
enviou Seu Filho para morrer por nós. Isso está absolutamente certo. Mas
somente os que foram salvos podem dizer que Deus enviou Seu Filho para
morrer por nossos pecados. Isso é porque nosso relacionamento com o
Senhor Jesus é na questão dos pecados. Assim, podemos dizer que o Senhor Jesus
morreu por nossos pecados. Em 1 Pedro 2.24 diz-se: “Carregando ele mesmo em seu
corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados”. Há uma diferença aqui. Podemos
apenas dizer para um pecador que o Senhor Jesus morreu por ele; não podemos
dizer-lhe que o Senhor Jesus morreu por seus pecados. Se eu ilustrar isso por
meio de um simples exemplo, isso irá ajudá-lo a entender melhor. Suponha que
tomei dinheiro emprestado, mas não tenho como pagar. Um irmão sabe que o número
da minha conta no Banco de Xangai é 51. Suponha que ele deposite uma quantia
nessa conta. Então ele me escreve dizendo que depositou para mim uma quantia no
banco e que agora posso reparar minha dívida. Ele depositou o dinheiro e
sacrificou-se para arrumar esse dinheiro para mim. Mas deixem-me
perguntar-lhes: A minha dívida já foi quitada? Eu posso saldar a dívida. O
dinheiro está no banco. Mas o débito não foi quitado ainda. Somente quando eu
for pessoalmente ao banco e retirar o dinheiro e quitar o débito é que posso
dizer que esse irmão pagou o débito por mim. Da mesma forma, o Senhor Jesus
morreu por nós. Essa morte foi preparada para nós. Mas é somente quando
recebemos o Senhor Jesus que podemos dizer que Ele morreu por nossos pecados.
Então, irmão, quando você citar 1 João 2.2, você deve ser cuidadoso com as
palavras. Jesus Cristo se tornou a propiciação pelos nossos pecados, e não
somente por nós, mas também por todo o mundo1. Vocês podem ver quão minucioso o
Espírito Santo é ao escolher as palavras por intermédio de Seu apóstolo. O
Senhor Jesus morreu por nossos pecados. Mas a morte do Senhor Jesus não foi
apenas por nós, mas por todo o mundo, para que todo o mundo possa receber essa
morte. É necessário atentar nisto: Não acrescente as palavras os pecados a
“todo o mundo”. É uma pena que muitos não tenham visto isso. Não podemos
acrescentar coisa alguma à Palavra de Deus nem podemos subtrair coisa alguma
dela (Ap 22.18-19).
Finalmente,
ainda há uma coisa que precisamos enfatizar. É a diferença entre pecado e
pecados. Não podemos dizer que o Senhor Jesus morreu pelos pecados de todo o
mundo, pois pecados significam todas as transgressões e todas as punições que
devemos sofrer. Se o Senhor Jesus veio morrer pelos pecados de todo o mundo,
então todas as transgressões de todo o mundo foram removidas. Se um homem crer
ou não, ele está salvo. Mas a Bíblia é muito cuidadosa no uso das palavras. Ela
somente diz o pecado do mundo. Ela não diz os pecados do mundo. Em João 1.29
diz-se: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” A palavra pecado
está no singular. O problema do pecado foi introduzido no mundo por meio de um
homem e foi retirado do mundo por intermédio de um homem. O que é mencionado
aqui é como o Filho de Deus lida, de modo “abstrato”, com o problema do pecado.
Objetivamente falando, o pecado entrou no mundo de maneira “abstrata” por
intermédio de Adão. Hoje, o Senhor Jesus está tirando e lidando com o problema
do pecado de maneira “abstrata”. Isso não significa que Ele tomou a culpa do
pecado de cada indivíduo. Se Ele tivesse tomado a culpa do erro de cada
indivíduo, então todo o mundo já teria sido salvo. Agradecemos e louvamos ao
Senhor porque a Palavra de Deus não deixa nenhuma brecha e nunca comete erros.
A Obra do Espírito Santo — Iluminação e Comunhão
Já
vimos anteriormente como Deus manifestou Sua graça e cumpriu Sua justiça. Vimos
também como Deus, por meio de Seu Filho Jesus, morreu por nós e por nossos
pecados, cumprindo assim a obra de redenção (Rm 5.8; 1 Co 15.3). Sua obra de
redenção nos justifica diante de Deus pela fé no Seu sangue (Rm 3.24-25). Sua
ressurreição dentre os mortos se torna a segurança da nossa fé. Por meio da Sua
ressurreição, sabemos que Deus aceitou o sacrifício do Senhor Jesus. A obra do
Senhor Jesus satisfez às exigências de Deus. Sua ressurreição é uma prova para
nós de tal fato. Todo o que crê no sangue de Seu Filho e vem a Ele mediante a
Sua redenção está agora justificado. Neste capítulo, trataremos de outro
aspecto da obra do Senhor, que é Sua ascensão. Uma vez que muitos irmãos já
sabem disso, irei mencioná-lo apenas resumidamente. A ascensão do Senhor Jesus
é Seu comparecer diante de Deus a nosso favor, a fim de que possamos ser
aceitos em Cristo. Que é a ascensão do Senhor? Na Bíblia, a ascensão significa
objetivamente apenas uma coisa: ela é para que sejamos aceitos diante de Deus.
Hoje, o Senhor Jesus já compareceu diante de Deus (Hb 9.24). Nós também
comparecemos diante de Deus Nele. Dessa maneira, Deus nos aceita do mesmo modo
que aceitou a Cristo.
A OBRA DO ESPÍRITO SANTO — ILUMINAR PARA BUSCAR PECADORES
Vejamos
agora outra questão. O evangelho é inadequado se ele menciona apenas a obra do
Pai e do Filho sem mencionar a obra do Espírito Santo. Deve haver menção do
Espírito Santo também. A obra do evangelho tem três aspectos. Lucas 15 nos
mostra três parábolas. Por um lado, vemos o Pai amoroso esperando para receber
os pecadores. Por outro, vemos o bom Pastor vindo ao mundo para buscar a ovelha
perdida. Vê-se o Pai em casa esperando pelo pecador arrependido e salvo, e
vê-se também o Filho vindo ao mundo para salvar pecadores. Mas após a obra do
Senhor completar-se e antes de o pecador chegar em casa, há uma outra parábola,
que é a da mulher que, paciente e cuidadosamente, procura, com a candeia acesa,
a dracma perdida. Primeiro, vê-se o Senhor Jesus vindo à terra para buscar os
pecadores. Segundo, vê-se a mulher acendendo a candeia para iluminar, varrer e
procurar a dracma perdida. Assim, o Espírito Santo está trabalhando juntamente
com o Pai e o Filho para achar o pecador para o cumprimento da obra do
evangelho. O Filho veio para morrer pelo pecador; o Pai recebe o pecador em
casa; e o Espírito Santo trabalha para iluminar o coração do homem e mostrar ao
homem sua verdadeira posição.
Se
uma pessoa não tem a luz do Espírito Santo, é possível que ela seja como Judas,
que viu seu pecado, estava sofrendo e não tinha paz interiormente, mas não via
sua própria posição diante de Deus. Sem a luz, ele não poderia ver sua situação
de perdição. O sentimento do homem em relação ao pecado perdura somente até ele
perceber que agiu errado. Ele não percebe que diante de Deus é um perdido.
Estamos dispostos a admitir que somos pecadores. Mas sem o iluminar do Espírito
Santo não admitiremos que, como resultado do pecado, diante de Deus nos
tornamos pessoas perdidas. Aos olhos de Deus, somos pessoas perdidas.
Existe
a possibilidade de uma imitação por parte da carne na questão da consciência do
pecado. A carne pode substituir a atuação do Espírito Santo. Muitas lágrimas em
reuniões de reavivamento nada são senão o resultado da carne do homem. Elas não
são produzidas pela obra do Espírito Santo no homem. Uma coisa é o homem saber
que pecou. Outra coisa, é saber que seu relacionamento com Deus está errado. O
Espírito Santo paciente e cuidadosamente ilumina o homem e mostra-lhe que ele
está perdido. O que o Espírito Santo faz é mostrar ao homem que sua posição
está errada. Então, o primeiro sentimento de alguém que experimentou a obra do
Espírito Santo de Deus não é algo relacionado com o pecado, mas o sentimento de
que ele está longe de casa. Seu relacionamento com Deus está cortado. Ele
desenvolveu um problema com Deus. Ele é um homem perdido.
Nosso
problema diante de Deus não é meramente quanto temos destruído a nós mesmos com
comida, bebida, fornicação ou jogos. O problema é estar afastado numa terra
distante. Quando o Espírito Santo ilumina o homem, a primeira coisa que Ele faz
é mostrar ao homem que ele está numa terra distante. Quando alguém lê a última
parábola de Lucas 15, deve observar o que o filho pródigo disse ao pai. Ele não
disse que tinha desperdiçado toda a fortuna de seu pai com prostitutas. A
primeira coisa que percebeu quando caiu em si, foi que na casa de seu pai havia
abundância de pão. Por que, então, ele estava vivendo em meio aos porcos numa
terra longíqua e não conseguia sequer matar sua fome com as alfarrobas que eram
para os porcos? Quando o Espírito Santo ilumina uma pessoa, ela percebe que tem
um problema com Deus, que deixou a casa de seu Pai e que está longe Dele. Meu
amigo, quando uma pessoa no mundo chega ao fim de si mesma em sua condição
pecaminosa, ela pode, como Judas, tornar-se ciente de seus pecados. Mas sem a
luz do Espírito Santo, ela não sentirá que deixou a casa do Pai e que está numa
terra distante. Não estou dizendo que os pecados não sejam sérios. Pecados são
pecados. Mas a Bíblia nos mostra que o principal pecado do homem reside no fato
de ele estar perdido. Ele está posicionado numa base inadequada, mesmo que não
esteja em uma condição inadequada. Naturalmente, todos os que estão numa
condição inadequada devem estar numa base inadequada. Quando o Espírito Santo
nos ilumina, primeiro Ele nos mostra que estamos numa base inadequada. Então
Ele nos mostra nossa condição inadequada. Isso é o iluminar do Espírito Santo.
Assim, embora haja o amor do Pai e a obra do Senhor, ainda há a necessidade de
o Espírito Santo preparar o coração do homem. Ele ainda tem de trabalhar no
coração do homem a fim de que o homem receba tudo o que o Senhor Jesus fez.
Pode-se dizer que o Senhor Jesus é nosso Salvador objetivo vindo de Deus, e que
o Espírito Santo é nosso Salvador subjetivo vindo de Deus. O Senhor Jesus é o
Salvador que cumpriu a redenção por nós exteriormente e o Espírito Santo é o
Salvador que cumpriu a salvação por nós interiormente. Todos nós aqui fomos
iluminados pelo Espírito Santo. Todos sabemos que somos a ovelha perdida, que
todos nos desviamos para os nossos próprios caminhos (Is 53.6). Todos nós, como
ovelhas, nos perdemos. Nosso problema não é doença ou defeito físico, mas é
tomar um caminho errado. O caminho que a pessoa toma é muito importante. Em
João 16.8-9, o Senhor Jesus nos disse que quando o Espírito Santo vier, Ele
“convencer á o mundo do pecado, da justiça e do juízo”. Que significa ser
convencido do pecado? Fomos convencidos do pecado “porque eles não crêem em
Mim”. Desenvolvemos um problema com Ele e entramos em conflito com Ele. Fomos
convencidos do pecado porque não vimos Seu sangue e Sua autoridade, porque não
satisfizemos às Suas exigências, e porque agora temos um problema com Ele. O
maior pecado do homem é recusar-se a crer no Senhor Jesus. O Espírito
Santo vem mostrar-nos que desenvolvemos um problema com o Senhor Jesus e com
Deus. Nossa posição está errada. Mas deixe-me fazer-lhe uma pergunta. É
possível que uma pessoa numa terra distante possa ser um bom filho? É possível que
ela possa ser econômica e próspera? É possível que possa ser um trabalhador
diligente? É possível que seja prudente em fazer amigos? Sabemos que isso é
impossível. Se uma pessoa se desviou para uma terra distante e está errada em
seu relacionamento com seu pai, ela deve estar errada em todos os seus outros
relacionamentos. Eis por que o filho pródigo começou a viver dissolutamente.
Quando o Espírito Santo ilumina uma pessoa, Ele não somente lhe mostrará que
ela está numa posição perdida, mas também que sua conduta anterior estava
errada. O Espírito Santo não ignora os pecados passados. Ele atenta para todos
os pecados. No entanto, Ele chama a atenção de alguém quanto a todos os seus
pecados somente após lhe ter mostrado sua posição caída. O Espírito Santo primeiro
mostra a você quão perigosa é a posição em que você está, aí, e só então Ele
lhe mostra quantos pecados você tem. A luz do Espírito Santo ilumina e expõe
todas as áreas nas quais você transgrediu em relação aos outros. Ela expõe toda
injustiça e todos os pecados ocultos em nossas palavras e pensamentos. O
castigo de Deus é para o Seu curar. A repreensão do Espírito Santo é para o Seu
confortar. Deus não se apraz em castigar e punir Seus filhos sem motivo. A
única razão pela qual Deus pune é para que o homem possa obter paz. A razão de
o Espírito Santo brilhar sobre o homem e mostrar-lhe seus defeitos e suas
desobediências é para que o homem aceite toda a obra do Senhor Jesus Cristo na
cruz. Sem a iluminação do Espírito Santo, não somos capazes de ver nem mesmo
nossos pecados.
DEUS DERRAMA O ESPÍRITO SANTO SOBRE O HOMEM PARA SUA SALVAÇÃO
Que
devemos fazer, agora que o Espírito Santo iluminou e enxergamos nossa posição?
Há uma coisa que continuamente negligenciamos em nossa pregação do evangelho, à
qual a Bíblia dá atenção o tempo todo. Temos de perceber que a obra do Senhor
Jesus para os pecadores é deveras preciosa e crucial. Mas a obra do Espírito
Santo para os pecadores é igualmente preciosa e crucial. A Bíblia mostra-nos
que o Espírito Santo não apenas vem para nos iluminar e mostrar nossos pecados,
nossa posição perdida e nossa injustiça diante de Deus e dos homens, mas este
Espírito é também enviado de Deus e derramado sobre toda a carne com o
propósito de que o homem, em todo lugar, seja salvo por Sua atuação (At
2.17-18, 21). Alguns que conhecem um pouco mais que os outros a verdade da
Bíblia, pensam que é fácil receber o perdão e aceitar o Senhor Jesus como
Salvador. Tudo o que precisam fazer é ajoelhar-se, orar e aceitá-Lo de coração.
Talvez nem mesmo tenham de ajoelhar-se; apenas devem aceitar em seu coração.
Porém muitas pessoas não têm esse conhecimento. Elas podem ser fracas ou podem
vir de terras longínquas e podem não ter tido a chance de ouvir a verdade.
Podem pensar que é uma coisa muito difícil ser salva. Elas podem pensar que
precisam orar por longo tempo, e não têm certeza se Deus ouviria suas orações.
Se eu lhe perguntasse hoje se você é salvo, você poderia responder rapidamente
que sim. Mas tal declaração soaria estranho às pessoas de uma terra longínqua.
Elas desejariam saber como você conseguiu ser salvo. Ser salvo para elas é uma
coisa muito difícil. Elas diriam que têm orado por muitos anos e ainda não
estão certas se estão salvas. Elas esperam ser salvas e se esforçam ao máximo
para consegui-lo. Mas elas ainda não sabem se são salvas. Parece que ainda não
estão salvas. Para elas, a salvação é algo muito difícil de ser alcançado. Mas
meu amigo, assim como a obra do Senhor Jesus é completa, também a obra do
Espírito Santo em nos levar a apossar-nos da obra do Senhor, é completa. A
Bíblia mostra-nos claramente que Deus enviou o Espírito Santo com o propósito
de que nós, pecadores, recebêssemos a obra do Espírito Santo e fôssemos salvos.
O Filho de Deus veio por causa do mundo todo. Da mesma maneira, a vinda do
Espírito Santo também é para toda a carne. Desde que sejamos um homem na carne,
podemos obter a obra que o Senhor fez por nós.
TODO AQUELE QUE INVOCAR O NOME DO SENHOR SERÁ SALVO
Vamos
ler Romanos 10.13: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo”. O
assunto de Romanos 10 é que Deus levou o Senhor Jesus a morrer e ressuscitar
por nós. Nos poucos versículos anteriores a esse, Deus pergunta se há alguém
que possa trazer a Cristo do céu para morrer por nós e se há alguém que possa
descer ao abismo para ressuscitar a Cristo por nós (vs. 6-7). Não há tal
pessoa. Tal obra somente pode ser feita por Deus. Foi o próprio Deus quem levou
Cristo a morrer por nós. Foi também Deus quem O ressuscitou por nós. Assim,
todo aquele que hoje invocar o nome do Senhor é salvo. Não sei se você percebe
que é a coisa mais maravilhosa ser salvo apenas por invocar o nome do Senhor.
Na língua original, a palavra invocar significa que somente precisamos dizer
Seu nome. Hoje, para contatar um irmão, tudo o que tenho de fazer é ir até sua
casa e bater duas vezes na porta. Isso é chamá-lo. Não preciso pedir-lhe para
ouvir nem tenho de implorar-lhe. Somente preciso ir até ele e avisá-lo com uma
palavra. Esse é o significado de invocar. A versão chinesa traduz esta palavra
para implorar. É incorreto. Embora não se possa dizer que a palavra grega não
exprima sentido de implorar, ela significa muito mais uma invocação. Uma vez
que Deus levou o Senhor Jesus a morrer e ressuscitar por nós, todos os que desejam
ser salvos só precisam ir até Deus e dizer a Ele. Eles, então, serão salvos.
Logo que vai ao Senhor Jesus e invoca o Seu nome uma vez, você é salvo. Tudo o
que precisa fazer é abrir a boca uma vez. Você não precisa fazer mais nada
porque Ele já completou toda obra. Toda a obra foi concluída. Eis por que
dizemos que somos justificados por fé e não por obras (Gl 2.16). Se você pensa
que até mesmo invocar uma vez é uma obra, então Deus diz apenas para crer um
pouco em seu coração e isso será o bastante. O versículo 8 de Romanos 10 diz:
“A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração”. Uma vez que o
Senhor realizou a obra da morte e da ressurreição, nada temos a fazer. Desde
que abramos nossa boca uma vez, tudo está feito. Todo aquele que invocar o nome
do Senhor será salvo.
Você
pode perguntar por que isso ocorre tão rapidamente. É verdade que a obra de
Cristo foi cumprida. Mas por que eu seria salvo apenas invocando? Como pode a
obra do Senhor na morte, ressurreição e ascensão ser aplicada a mim tão
rapidamente? Atos 2 é uma explicação adicional a esse respeito. O versículo 17
diz: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu
Espírito sobre toda a carne”. Devemos lembrar-nos de que nos últimos dias Deus
derramará do Seu Espírito sobre toda a carne. Qual é o resultado disso? O
versículo 21 diz: “E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo”. O versículo 17 está ligado ao 21. Deus diz que derramará do Seu
Espírito sobre toda a carne. Então Ele diz que todo aquele que invocar o nome
do Senhor será salvo. Por que será salvo todo aquele que invocar o nome do
Senhor? Porque Deus derramou do Seu Espírito sobre toda a carne. O Espírito
Santo está agindo agora sobre toda a carne. Se houver alguém hoje cujos pecados
não foram perdoados, e que ainda não sabe como ser salvo e como receber a vida
eterna, que não sabe que o Senhor Jesus é seu Salvador, essa pessoa deve
lembrar-se de que Deus derramou o Espírito Santo. O Espírito Santo está sobre
você agora; Ele está esperando por você. Uma vez que invoque, você será salvo.
Deus diz que derramaria do Seu Espírito sobre toda a carne. Por que existe o
Pentecoste? Deus nos deu o Pentecoste porque Ele queria derramar o Espírito
Santo sobre toda a carne. Agora basta abrir a boca e dizer “Ó Senhor”. e o
Espírito Santo virá para o seu interior. O Espírito Santo é como a luz. Se
houver uma brecha, a luz entrará. Você pode não perceber quão facilmente a luz
passa por uma fenda. Se não acredita nisso, apenas vá até a sala ao lado. Se
fizer um furo na parede, assim que retirar a broca, a luz entra. Você não
precisa buscá-la, porque ela entra imediatamente. Desde que haja uma brecha, a
luz entra. Hoje Deus derramou o Espírito Santo sobre toda carne. Uma vez que
você esteja vivo, o Espírito Santo está sobre você. Assim que disser: “Ó
Senhor”, o Espírito Santo começa a agir. Este é o significado de invocar o nome
do Senhor. Os chineses de antigamente diziam que se deve suplicar aos céus, à
terra e aos pais. Agora, apenas precisamos suplicar ao Senhor uma única vez.
Quando alguém fala sobre oração, pensa-se sempre mais em súplica do que em
invocar. Na verdade, tudo o que precisamos fazer é invocá-Lo. Assim que abrimos
a boca, o Espírito Santo entra. Quando Ele entra, a obra completa do Senhor
Jesus é trazida até nós.
A OBRA DO ESPÍRITO SANTO — COMUNHÃO
A
obra do Espírito Santo é a comunhão. A característica de Deus é Seu amor. A
característica do Senhor Jesus é Sua graça, e a característica do Espírito
Santo é Sua comunhão. Segunda Coríntios 13.13 diz: “A graça do Senhor Jesus
Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós”.
Deus é amor e Sua característica é amor. O Senhor Jesus é graça e Sua
característica é graça. Finalmente, a característica do Espírito Santo é
comunhão. O Espírito Santo nada tem em Si mesmo. Ele traz para você o amor de
Deus e a graça do Senhor Jesus mediante a comunhão. Essa é a obra do Espírito
Santo. O Espírito Santo não realizou uma obra de amor. Ele não realizou uma
obra de graça. O Espírito Santo transmite a você aquilo que Deus e o Senhor
Jesus realizaram. Assim, a obra do Espírito Santo é comunhão. O Espírito Santo,
após a ascensão do Senhor Jesus, simplesmente está pleno da obra do Senhor
Jesus. Ele é como a luz! Desde que haja brecha, Ele entrará. Quando entra, Ele
traz a graça do Senhor Jesus e o amor de Deus para dentro de você. Esta
salvação é verdadeiramente completa. Algum tempo atrás, um famoso servo do
Senhor morreu na Inglaterra. Naturalmente, sua morte estava sob a soberania de
Deus. Nenhum de nós pode falar coisa alguma sobre isso. Mas, humanamente
falando, podemos dizer algo sobre sua morte. Ele era muito fraco e esteve
doente por anos. Os médicos haviam prescrito determinada medicação para ele.
Sempre que inalava aquele remédio, ele ficava forte novamente. Ele colocava o
medicamento em seu criado mudo. Muitas vezes, quando sofria muito e sentia que
ia morrer, ele aspirava esse remédio e ficava bom. Apesar de o remédio não ter
um cheiro bom, era muito eficaz. Na noite de sua morte, ele se sentiu
desconfortável outra vez. Tentou alcançar o remédio, mas estava muito fraco
para abrir a gaveta. Na manhã seguinte, as pessoas o encontraram em sua cama
com a mão estendida para o remédio. Ele morreu ali com a metade do corpo fora
da cama. Não foi uma questão da falta do remédio melhor e mais eficaz. Ele
viveu com aquele remédio por oito ou nove anos. Todas as vezes que se sentia
mal, ele aspirava o medicamento e ficava bem novamente. Por que ele morreu
naquela hora? Não foi porque não havia o remédio, nem porque ele não queria o
remédio. Foi porque o remédio não estava ao alcance de sua mão. Da mesma forma,
somos aqueles que estão para morrer. O Senhor Jesus cumpriu a obra. O remédio
de Deus foi preparado. Uma vez que o tomarmos, ficaremos curados. Mas quem dará
esse remédio a você? Há o médico que prescreve a receita. Deve haver também
quem dê o remédio. A obra do Espírito Santo é transmitir a nós a obra do Senhor
Jesus. O amor de Deus está na graça do Senhor Jesus, e a graça do Senhor Jesus
está na comunhão do Espírito Santo. Assim, todos aqueles que receberam a
comunhão do Espírito Santo recebem a graça do Senhor Jesus, e todos os que
receberam a graça do Senhor Jesus experimentam o amor de Deus. Quando o
Espírito Santo vem, Ele nos dá a luz e nos mostra nossas falhas e degradação.
Ele nos mostra que estamos perdidos. Deus trabalhou de tal maneira que uma vez
que você abra a boca e diga uma palavra e uma vez que seu coração tenha um
lugar para o Senhor e O invoque, você será salvo. Você não precisa ir a uma
grande catedral para ser salvo. Não precisa orar para ser salvo. Você não
precisa ficar defronte a um altar para ser salvo. O Espírito Santo já foi
derramado sobre toda carne. Onde você está, ali está o Espírito Santo. Aleluia!
Isso é um fato! Hoje, o Espírito Santo já foi derramado sobre toda carne. Não
precisamos procurar por Ele. Ele está procurando por nós. Você pode invocar na
rua ou em casa. Pode receber a salvação de Deus estando no lugar mais agradável
ou nomais indesejável. Você pode tê-la no lugar mais barulhento ou no mais
quieto. O Espírito Santo foi derramado sobre toda carne. Não importa onde você
esteja, desde que invoque o nome do Salvador, você será salvo.
Romanos
10 fala sobre o fato e Atos 2 fala sobre o motivo. Romanos 10 apenas nos diz
que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Ele não nos diz o
motivo. Atos 2 nos diz que o Espírito Santo está sobre todos os homens. Assim,
uma vez que alguém abrir a boca, será salvo. O Espírito Santo já entrou nele.
Quando o homem invoca o Seu nome, ele é salvo.
O ESPÍRITO SANTO E A PALAVRA DE DEUS
Há
outra coisa que o Espírito Santo faz e que diz respeito à Palavra de Deus.
Muitas pessoas não veem a relação entre o Espírito Santo e a Palavra de Deus.
Assim, elas não valorizam tanto as palavras da Bíblia. Como pode o homem
receber a obra da cruz do Senhor? Muitos estão confusos sobre isso. Muitos
pecadores até mesmo oram: “Senhor Jesus, seja misericordioso para comigo e
morra por mim”. Eles não sabem que a redenção é completa. Vemos aqui a
preciosidade da Palavra de Deus. Após Deus ter cumprido Sua obra por meio de
Seu Filho, Ele a declara a nós e no-la mostra mediante as palavras da Bíblia.
Em outras palavras, Deus colocou a graça que o Senhor cumpriu por nós em Sua
própria Palavra e enviou-nos essa Palavra. Se retirássemos a obra do Senhor
Jesus da Palavra de Deus, que teríamos? Se extraíssemos a obra do Senhor Jesus
da Palavra de Deus, a Palavra de Deus se tornaria nula; não restaria nada. A
razão de a Palavra de Deus ser a Palavra de Deus é que nela há o fato da obra
do Senhor. Que é uma palavra? Uma palavra é um fato relatado. Sem fatos, as
palavras tornam-se mentiras. Com os fatos, as palavras tornam-se verdadeiras.
Se a obra do Senhor por nós não é verdadeira, a Palavra de Deus não é
fidedigna. Mas se a obra do Senhor
Jesus é um fato, se Deus cumpriu Sua justiça por meio do Senhor Jesus, e se
Deus nos aceitou no Senhor Jesus, a Palavra de Deus deve ser digna de
confiança. Por isso, devemos lembrar-nos de que a obra do Senhor Jesus está
contida na Palavra de Deus. Aqui vemos a relação entre o Espírito Santo e a
Palavra de Deus.
O
Espírito Santo é o guardião da Palavra de Deus. Eu gosto do meu nome inglês,
Watchman. Significa aquele que guarda e vigia. Deus colocou a obra realizada do
Senhor no Espírito Santo. Hoje o Espírito Santo está vigiando cuidadosamente.
Ele é como um porteiro. Assim que uma pessoa recebe o Senhor, imediatamente Ele
esclarece as questões da Palavra de Deus para ele.
Poucos
dias atrás, um irmão me mandou uma caixa de bombons. A caixa era muito grande e
tinha flores impressas nela. Estava embrulhada em um papel cor-de-pêssego com
um bilhete afixado, dizendo que os bombons eram um presente para mim. Posso
dizer que o que eu recebi foi uma caixa de papel. Não recebi os bombons em si.
Eu nem mesmo havia experimentado os bombons. O que estava em minha mão era uma
caixa de papel. Mas o que verdadeiramente havia recebido eram os bombons porque
os bombons estavam na caixa. O que levei para casa foi a caixa. Mas ao mesmo
tempo, levei os bombons que vieram com a caixa. O que recebemos hoje é a
Palavra de Deus. Mas o que nós recebemos em nosso interior é a obra do Senhor
Jesus. Quando recebemos a Palavra de Deus, nós ganhamos a obra do Senhor, pois
a obra do Senhor está na Palavra de Deus. Hoje quando alguém crê, não está
crendo que o Senhor fez algo por ele. Ele está crendo na Palavra de Deus. Mas
quando alguém crê na Palavra de Deus, a obra do Senhor é automaticamente
aplicada a ele. Portanto se você disser que não é muito inteligente e que não
pode entender a obra do Senhor, eu lhe direi que Deus não exige que você creia
na obra do Senhor. Ele somente exige que você creia na Palavra de Deus. Quando
crer na Palavra de Deus, você obterá Sua obra na Palavra. Aparentemente, o que
levei para casa foi uma caixa de papelão. Como sei que ela continha bombons?
Quando cheguei em casa, tirei o papel colorido, abri a caixa e tirei os
bombons. Graças ao Senhor. Eis como o Espírito Santo trabalha. Recebemos a
Palavra de Deus pela fé, e o Espírito Santo revela a obra do Senhor que está
contida na Palavra de Deus. Por isso, devemos perceber que a obra do Espírito
Santo é a comunhão. O Espírito Santo transmite a nós a obra do Senhor contida
na Palavra de Deus. Sem a transmissão do Espírito Santo, a palavra de Deus
permanece apenas a Palavra. Mas quando o Espírito Santo vem, a Palavra é
revelada. Assim, Deus preparou o Senhor Jesus. Ele também preparou o Espírito
Santo para essa obra de comunhão.
O ESPÍRITO SANTO TRANSMITE A OBRA DO SENHOR E O PRÓPRIO SENHOR A NÓS
Agora
devemos ver como o Espírito Santo transmite a obra do Senhor a nós. A obra do
Senhor incluiu tudo o que Ele fez: na cruz, em Sua ressurreição, em Sua
ascensão, em Sua segunda vinda e em todas as coisas que Ele concede a nós. Não
podemos entrar em detalhes a respeito de todos esses itens. Há muito a dizer
sobre eles. Para falar sobre eles, teríamos de mencionar a obra do Espírito
Santo em todo o Novo Testamento. Desta vez podemos apenas mencioná-la
resumidamente. A vinda do Espírito Santo não é meramente para transmitir a obra
do Senhor a nós. É também para transmitir o próprio Senhor a nós. O propósito
da comunhão do Espírito Santo é transmitir o Senhor Jesus e Sua obra a nós. Se
um homem não recebeu a obra do Senhor, o Espírito Santo transmite essa obra a
ele. Se um homem não recebeu o Senhor Jesus, o Espírito Santo transmite o
próprio Senhor ao homem. Quando fomos salvos, a obra do Espírito Santo foi
transmitir a nós a obra do Senhor. Posteriormente, Sua obra é transmitir-nos o
próprio Senhor. O ministério do Espírito Santo é manifestar o Senhor Jesus.
Uma
semana atrás, duas irmãs vieram perguntar-me como traduzir para o chinês a
expressão inglesa ministrar com Cristo. Esta é uma frase de difícil tradução.
Ela significa servir aos outros com Cristo, da mesma forma que alguém serve uma
xícara de chá ou uma tigela de arroz a outra pessoa. A obra do Espírito Santo é
servir o Senhor Jesus a nós. Quando recebemos o Senhor, o Espírito Santo
transferiu a obra de Jesus a nós. Consequentemente, toda a obra que o Senhor
cumpriu, tal como o dom do arrependimento, do perdão, da purificação, da
justificação, da santificação e do desfrute, é realizada pelo Espírito Santo em
nós. Questões tais como a regeneração ou o receber da vida eterna se cumprem em
nós por meio do Espírito Santo. A obra do Espírito Santo é transmitir a vida do
Senhor Jesus a nós. Ela é similar ao fio que transmite eletricidade da usina de
força em Willow Tree Creek a nós. Por meio do Espírito Santo, recebemos uma
nova vida, um coração novo e um espírito novo (Ez 36.26). Quando recebemos um
espírito novo e um coração novo, o Senhor Jesus tem como habitar em nós por
intermédio do Espírito Santo. Por isso, a regeneração é o Espírito Santo
preparando um novo templo para o Senhor. Uma vez que estamos na carne, o Senhor
Jesus não pode habitar em nós. Somos como o mundo sob julgamento da época de
Noé. Depois que a água baixou, Noé soltou uma pomba da arca (Gn 8.8-9). Mas a
pomba não achou lugar de descanso; ela não encontrou lugar algum para habitar.
Da mesma maneira, somos cheios de pecados. O Senhor Jesus não conseguia
encontrar lugar para habitar em nós. Sendo este o caso, Deus nos deu o Espírito
Santo. O Senhor realizou todas as coisas objetivamente. Agora, o Espírito Santo
nos deu um novo espírito subjetivamente, para que o Filho de Deus possa habitar
em nosso espírito. O Espírito Santo veio primeiramente preparar uma habitação
para o Senhor Jesus. Então o Senhor veio morar em nós. Por um lado, o Espírito
Santo nos deu uma nova vida interior. Por outro, dia após dia, Ele transmite a
verdade e o propósito de Deus a nós. Eis por que o Senhor disse que quando o
Espírito da realidade viesse, Ele nos guiaria a toda verdade (Jo 16.13). Além
disso, há outro item da obra do Espírito Santo, que é trazer-nos os dons tais
como profecia, línguas, cura, milagres, revelações, palavras de sabedoria e
palavras de conhecimento, fé e todos os outros tipos de dons.
O ESPÍRITO SANTO PRESERVA O ETERNO FRESCOR DA OBRA DO SENHOR
Não
quero enumerar em detalhes todos os itens da obra de comunhão do Espírito
Santo. Aqui nós enfatizaremos apenas uma coisa: toda a obra do Senhor Jesus
é-nos transmitida hoje por intermédio do Espírito Santo. Até mesmo o próprio
Senhor Jesus é-nos transmitido por meio da obra do Espírito Santo. Essa é a
salvação de Deus. Muitas pessoas não entendem a obra de comunhão do Espírito
Santo. Elas me perguntam como a obra do Senhor que foi cumprida há mil e
novecentos anos pode ser aplicada a nós hoje. Na verdade, se não houvesse a
obra do Espírito Santo, essa pergunta teria pleno fundamento. Como pode uma
obra cumprida há mil e novecentos anos ser aplicada a nós hoje? O que o Senhor
cumpriu há mil e novecentos anos não foi abandonado “ao sabor do vento e do
sol”. Deus preservou e alimentou essa obra no Espírito Santo. Eis porque ela
permanece tão fresca hoje. Hoje podemos receber a obra do Senhor Jesus. Ela é a
mesma de antes. Certa vez, fui a uma loja e o balconista me deu uma lata de
sopa de vegetais importada. A lata parecia velha e feia exteriormente. Ela
estava coberta de pó. O balconista falou muito bem dela e queria vendê-la para
mim com um desconto. Comprei-a e levei-a para casa. Mais tarde quando a
examinei a data de fabricação, descobri que era mais velha que eu. Depois,
quando a abri e esquentei-a, vi que a sopa ainda tinha bom sabor. Se a obra do
Senhor Jesus não fosse preservada no Espírito Santo, surgiria a questão de
tempo e espaço. Como poderia entrar em mim o Salvador que morreu no calvário há
mil e novecentos anos? Mas com o Espírito Santo, não há questão de tempo e
espaço. Deus preservou a obra do Senhor no Espírito Santo. Agora a obra do
Senhor é viva. Desse modo o Espírito Santo é capaz de transmitir a obra do
Senhor a nós. Tenho um irmão que estuda bioquímica. Ele mexe com experiências o
tempo todo. Para cultivar determinada bactéria, ele precisa usar certa
substância química. Enquanto ele mantém determinada temperatura, a bactéria
vive. Se a temperatura se torna muito elevada ou muito baixa ou se outros
elementos são adicionados à cultura, a bactéria morre. O melhor meio para
preservar a obra do Senhor é o Espírito Santo. A obra do Senhor sem o Espírito
Santo não conseguirá viver e morrerá. O mesmo é verdade com relação à vida
cristã. Uma vida cristã nunca pode ser separada do Espírito Santo. Se as
verdades compreendidas pelos filhos do Senhor estiverem separadas do Espírito
Santo, elas gradualmente secarão e morrerão. Assim, todos os assuntos
espirituais têm de estar no Espírito Santo. Fora do Espírito Santo, tudo
morrerá. Nada sobreviverá. Temos de ver que o Espírito Santo é a fonte da vida.
Nele está a vida. Fora Dele, tudo está morto. Por meio do Espírito Santo, Deus
transmite tudo de Si e da obra do Senhor para dentro de nós. Deus preparou tudo
relacionado com a nossa salvação. Além disso, o Espírito Santo veio e está
pronto a transmitir-nos tudo o que Deus preparou. Se houver alguém ainda não
salvo, esse alguém não pode dizer que Deus não o amou ou que o Senhor Jesus não
cumpriu a redenção por ele. Ele não pode dizer que a palavra está muito longe
dele e é inatingível.
Meu
amigo, você tem boca? Algumas pessoas podem argumentar que são mudas e não têm
boca. Mas elas têm coração. Elas podem não ter boca, mas não conseguem deixar
de ter coração. Romanos 10.8-9 diz: “A palavra está perto de ti, na tua boca e
no teu”. coração (...) se, com a tua boca, confessares a Jesus como Senhor, e
em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.
Por que é assim? Porque Deus disse que todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo. Talvez você queira saber como pode ser tão simples e como é que
alguém pode ser salvo apenas invocando. Isso é possível porque o Espírito Santo
veio. Ele salvará você assim que você invocar. Como se invoca? Se você tem
boca, pode usar essa boca. Se você não tem boca, invoque com o coração. Essa
palavra não está longe de nós. Ela está em nossa boca e até mesmo em nosso
coração. Essa palavra é a palavra da justificação pela fé sobre a qual temos
falado.
O Caminho da Salvação — A Fé Versus a Lei e as Obras
Nos
capítulos anteriores deste livro, vimos que tudo o que o homem tem é pecado.
Também vimos que é Deus que realiza tudo. Foi Ele que nos amou. Foi Ele que nos
concedeu graça. Foi Deus que cumpriu a justiça, que levou o Senhor Jesus a
morrer e ressuscitar por nós. Foi ainda Deus que enviou o Espírito Santo para
nos convencer, iluminar e dar força para aceitarmos a obra de Deus. Deixe-me
fazer-lhe uma pergunta muito comum. Que deve o homem fazer para ser salvo,
visto que Deus completou toda a Sua obra? Deus fez toda a Sua parte. Hoje Ele
colocou esta obra concluída diante do homem. Qual é, então, a condição para
sermos salvos? Deus levou a cabo a obra da redenção. Como pode o homem agora
receber a salvação? Como a redenção pode tornar-se salvação? Como pode a
propiciação tornar-se substituição? Como pode o dom de Deus para nós, em Seu
Filho, ser transmitido a nós no Espírito Santo? Aqui, estamos falando acerca da
condição para a salvação. Que devemos fazer, de nossa parte, antes que o que é
da parte de Deus seja transmitido a nós?
A CONDIÇÃO PARA A SALVAÇÃO — FÉ
Todos
os que leem a Bíblia sabem que a condição para a salvação é a fé. Não há outra
condição senão a fé. O homem, por ter caído e ser corrupto, por seus
pensamentos serem tortuosos e por estar a sua carne na esfera da lei, pensa que
deve fazer algo para que seja salvo. Contudo, a Bíblia nos mostra que a única
condição para nossa salvação é a fé. Além da fé não há outra condição. O Novo
Testamento diz-nos claramente, pelo menos cento e quinze vezes, que quando o
homem crê, ele é salvo, tem a vida eterna e é justificado. Quando o homem crê,
ele tem todas essas coisas. Somando-se a essas cento e quinze vezes, outras
trinta e cinco vezes a Bíblia diz que o homem é justificado pela fé, ou
torna-se justo por meio da fé. No primeiro caso, temos o verbo crer. No segundo
caso, temos o substantivo fé. O verbo crer é usado cento e quinze vezes. Uma
vez que o homem crê, ele é salvo (At 16.31). Uma vez que o homem crê, tem a
vida eterna (Jo 3.36). Uma vez que o homem crê, ele é justificado. Além desses
versículos, há trinta e cinco ocorrências em que o substantivo fé é usado. O
homem é salvo mediante a fé. Ele recebe vida eterna pela fé, e é justificado
mediante a fé. Portanto, em todo o Novo Testamento, pelo menos cento e
cinquenta vezes é dito que o homem é salvo, justificado, e tem vida eterna
unicamente por meio da fé. Não é uma questão de quem a pessoa seja, do que ela
faça ou do que possa fazer. Tudo depende do crer. Tudo depende da fé. Outra
questão que merece especial atenção é que em todas essas cento e cinquenta
ocorrências da fé e do crer, nenhuma outra condição é adicionada. Esses
versículos não dizem que o homem deve crer e a seguir fazer algo para receber a
vida eterna. Eles não dizem que o homem deve crer e fazer algo antes que possa
ser justificado. Tampouco dizem que o homem deve crer e fazer algo antes que
possa ser salvo. A Palavra do Senhor menciona a fé de maneira clara e definida.
Nada além é misturado ou vinculado à condição da fé. Portanto, a Bíblia nos
mostra claramente que do ponto de vista de Deus, não há outra condição para a
salvação além de crer.
Um
dos livros mais lidos e apreciados no Novo Testamento é o Evangelho de João. Se
alguém o ler cuidadosamente, verá que João escreveu esse livro com o único
propósito de dizer-nos como o homem pode receber vida e ser salvo e como pode
ser libertado da condenação. O Evangelho de João menciona oitenta e seis vezes
que é por fé somente, e por nada mais, que o homem recebe a vida, é
justificado, e não entra em condenação. Portanto, a Bíblia nos mostra clara,
adequada e simplesmente que a salvação não é baseada no que o homem é, no que
ele tem tampouco no que fez. A Bíblia nos mostra que quando o homem crê, ele
recebe (Jo 1.12). Ele recebe por meio de crer. Dissemos que a salvação e a
redenção são realizadas por Deus. Mesmo a maneira e o plano para cumpri-las são
arranjados por Deus. Também vimos que a graça é cumprida por Deus por meio do
Senhor Jesus. Temos de lembrar que se do lado de Deus é graça, então do nosso
lado deve ser fé. Se estendo minhas mãos para dar uma xícara de chá a um irmão,
ele não pode recebê-la estendendo seus pés. A maneira que os outros utilizam
para dar-lhe algo deve ser a mesma que você usa para recebê-lo deles. A maneira
de receber deve ser a mesma usada para dar. Se as pessoas o chamam pelo
telefone, então você tem de responder usando o telefone. Se lhe escreverem uma
carta, você tem de receber a carta. A maneira como algo é recebido deve ser a
mesma como foi enviado.
De
acordo com a Bíblia, graça é o que Deus nos deu por intermédio de Jesus Cristo
(1 Co 1.4). Para Ele, fazer isso está no princípio da graça. Uma vez que esteja
no princípio da graça do lado de Deus, então, do nosso lado, está no princípio
da fé. Fé e graça são dois princípios inseparáveis. Graça é Deus dando algo a
nós, e fé é o nosso receber algo da parte de Deus. Fé nada mais é que receber o
que Deus nos deu em espírito. Isso é totalmente independente de obra. Somente
dessa maneira o homem pode receber a graça de Deus. Se recorrermos a quaisquer
outros meios, não seremos capazes de receber a graça de Deus. Embora a Bíblia
nos mostre que é pela fé que se recebe a graça de Deus, muitas doutrinas têm
surgido como resultado da má interpretação por parte do homem. O homem cria
teorias baseadas em seus próprios pensamentos e em sua mente obscurecida. Elas
envolvem o que ele deve fazer para que seja salvo. Assim como o homem tem
criado ídolos com seu coração tortuoso e os considera deuses, da mesma forma
ele tem estabelecido condições para a salvação com seu coração tortuoso e
pensamentos obscurecidos. Por essa razão, devo chamar sua atenção para as
diferentes condições que o homem estabeleceu para a salvação e considerar se
esses caminhos de salvação são confiáveis ou não. Se o homem não vê a verdade
de Deus e não compreende Sua Palavra, ele não perceberá que a condição para
salvação é a fé. Contudo, se o homem vê a luz de Deus e compreende a verdade de
Deus, ele não será capaz de contrariar o fato do Novo Testamento de que a
salvação é mediante a fé. O problema hoje é que depois de reconhecer a fé como
a condição da salvação, ele adiciona algo mais à fé. A controvérsia entre Deus
e o homem não é a de crer ou não crer, mas é a de crer com arrependimento, crer
com as obras da lei, crer com batismo, ou crer com testemunho, como um
pré-requisito para a salvação. A Palavra de Deus diz-nos que uma vez que
creiamos, somos salvos. Porém, o homem hoje acrescenta a palavra com. De acordo
com sua mente obscurecida, ele proclama que o homem é salvo mediante a fé com
alguma coisa. O que iremos considerar não é se alguém pode ser salvo pela fé.
Essa questão já está resolvida. A questão hoje é se a fé é suficiente ou não.
Precisamos adicionar com à fé para que sejamos salvos?
A SALVAÇÃO NÃO É A FÉ COM AS OBRAS DA LEI
A
primeira questão é se o homem é salvo por meio da fé com o guardar da lei. A
maneira do homem para a salvação é a fé mais o guardar a lei. Já falamos sobre
a questão da lei, mas vamos repetir novamente. A Bíblia dedica muito tempo para
tratar dessa questão. Os pregadores, portanto, também devem dedicar muito tempo
para lidar com essa questão. Visto que o homem presta muita atenção à lei, a
Bíblia dedica dois livros para tratar desse problema. Temos de conhecer o
motivo pelo qual Deus deu a lei. Deus deu a lei aos israelitas, não para que a
guardassem, mas para expor seus pecados. Originalmente, os israelitas tinham
pecados, mas estes não se haviam tornado transgressões. De Adão a Moisés, o
homem tinha pecados (Rm 5.14), mas não tinha qualquer transgressão. Deus deu a
lei para tornar os pecados do homem em transgressões (Rm 5.13, 20a). Como foram
os pecados do homem transformados em transgressões? Suponha que haja uma pessoa
que tem a disposição e o temperamento de caminhar de um lado para outro, do
lado de fora do salão de reuniões, todos os dias. É algo que ele gosta de
fazer. Ele tem de fazer isso todos os dias, todas as semanas, todos os meses e
todos os anos. Ninguém consegue explicar por que ele faz isso. Mas em seu
temperamento, disposição e vida, há tal coisa que o impele a andar de um lado
para outro, do lado de fora do salão de reuniões. Embora ele tenha esse hábito,
não podemos dizer que isso signifique qualquer transgressão. Você pode não
gostar do que ele faz e pode achar que esteja errado, mas ele não tem percepção
de que isso está errado. Quando ele perceberá que é errado? Suponha que você
tome duas fitas vermelhas brilhantes e as amarre naquele espaço obstruindo a passagem.
Quando ele vier no dia seguinte, verá as duas fitas e perceberá que não deve
passar por elas. Seu hábito sempre foi o de andar por ali. Há algo nele que o
compele a andar por ali. Suponha que ele dê uma olhada nas duas fitas e
contemple a cor brilhante, a textura de seda, o belo laço, e em seguida as
desamarre e passe direto por elas. Nesse caso, o seu caminhar é diferente do
anterior. Seu caminhar anterior era um pecado sem transgressão.
Agora é o mesmo caminhar, mas ele caminha em transgressão.
Deus
diz que a lei é perfeita. Ela é boa, justa, santa e excelente (Rm 7.12).
Contudo, o homem é cheio de pecado. Ele é cheio de pecado por dentro e por
fora. Entretanto, de Adão a Moisés, embora o homem tivesse pecado, ele não
tinha transgressões. Deus estabeleceu a lei, não para que o homem não pecasse,
mas para expor os pecados do homem e torná-los em transgressões. Hoje a lei
está aqui. Uma vez que uma pessoa quebre a lei, ela percebe que pecou.
Portanto, podemos dizer que Deus deu a lei ao homem não para que este a guarde,
mas para que veja que pecou. Quando não havia a lei, ele não percebia que tinha
pecado. Agora ele sabe. O estranho é que o homem toma a lei, que está ali para
provar seu pecado, a fim de tentar provar que é justo. Ele inverte o objetivo
da lei. Deus quer que pela lei saibamos que pecamos, mas nós queremos provar
pela lei que somos justos. Deus quer mostrar-nos pela lei que estamos
perecendo, mas queremos provar pela lei que estamos salvos. O homem não se
enxerga. Seus pensamentos estão cheios da lei. Ele não vê que é corrompido
interiormente e que não consegue guardar a lei. A carne do homem não consegue
guardar a lei de Deus. Ela não se submeterá à lei de Deus. Entretanto, o homem
ainda quer procurar justiça na lei e ganhar vida por meio dela. Deus usa a lei
para mostrar ao homem que ele está desamparado e que necessita receber a
salvação. Mas quando ele vê as ordenanças, tenta obter um pouco de justiça por
meio delas e ser salvo. Romanos 3.19 diz: “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz,
aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja
culpável perante Deus”. Esse versículo diz que a lei foi dada com o fim de
calar toda boca, para que ninguém possa dizer qualquer coisa, e para que todos
estejam sujeitos ao julgamento de Deus. Em seguida, há um veredito com respeito
a nós: “Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em
razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (v. 20). Pode-se ver
que a intenção original da lei foi expor o pecado, não justificar o homem. Está
muito claro que o propósito da lei de Deus era expor o pecado e não estabelecer
nossa própria justiça. No Antigo Testamento, Deus não somente deu a lei ao
homem, como também os tipos, os quais eram as leis cerimoniais. Elas explicavam
como alguém deveria oferecer sacrifícios e como pagar o valor para a expiação.
Essas questões tipificam o cumprimento da redenção do Senhor Jesus e da Sua
subsequente salvação para nós no Novo Testamento. Isso é o que Deus nos tem
mostrado. É tão estranho que o homem tente estabelecer sua própria justiça não
só por meio da lei, mas também por meio desses tipos. Ele tenta estabelecer sua
justiça por meio dessas ordenanças. Nós até mesmo encontramos um fariseu que,
orando, dizia que jejuava duas vezes por semana e que ofertava a Deus a décima
parte do que possuía (Lc 18.11, 12). Ele pensava que essa era a sua justiça e
que por meio dela poderia ser salvo. O homem não vê o propósito pelo qual Deus
estabeleceu a lei. Ele compreende mal o propósito de Deus. O homem duvida que
seja tão fácil ser salvo. Ele acha que é verdade que o homem de fato é salvo
por crer no Senhor Jesus. Nós, que somos cristãos, acima de tudo reconhecemos a
necessidade de crer. É correto crer, mas muitos dizem que deveríamos também
guardar a lei. O que o homem está dizendo hoje não é se alguém pode ser salvo
pela lei ou não. O que ele está dizendo é que os que crêem em Jesus devem
também guardar a lei para ser salvos. A fé em Jesus é uma doutrina indiscutível
na Bíblia. Contudo, os cristãos dizem que se deve acrescentar a isso o guardar
a lei. O homem não vê que crer em Jesus e guardar a lei são duas coisas
totalmente contraditórias. Elas jamais podem ser juntadas. A diferença entre a
fé em Jesus e as obras da lei é a mesma entre o céu e o inferno. Assim como o
céu é imensamente diferente do inferno, a fé em Jesus é imensamente diferente
das obras da lei.
A
quem foi dada a lei? Foi dada aos judeus. Por que, então, o Novo Testamento
menciona repetidas vezes o guardar a lei? No Novo Testamento, os apóstolos, ou
melhor dizendo, o Espírito Santo, sabia claramente que seus leitores podiam não
ser necessariamente todos judeus. Somente uma minoria dos que creram em Jesus
bem no início eram judeus. Alguém perguntou-me certa vez: “Você diz que os
judeus são os que receberam a lei. Mas quem são os judeus?” Eu lhe disse que os
judeus eram como porquinhos-da-índia. Quando um pesquisador de produtos
farmacêuticos não tem segurança sobre um remédio, ele não o experimentará em
seres humanos. Em vez disso, ele primeiramente o injeta em porquinhos-da-índia.
Se os porquinhos-da-índia morrem imediatamente, então o remédio não pode ser
utilizado. Somente após o remédio provar que é eficaz é que será injetado em
seres humanos. O mesmo é verdade para remédios administrados por via oral.
Primeiro, ele é dado aos porquinhos-da-índia. Se funcionar, então o remédio é
usado. Caso contrário, ele é descartado. O mesmo é feito para imunização contra
bactérias. Se funcionar no porquinho-da-índia, funcionará no homem. Se não
funcionar no porquinho-da-índia, não funcionará no homem. Eu diria, do modo
mais respeitoso possível, que os judeus são os porquinhos-da-índia. Deus testou
a lei nos judeus. Se os judeus pudessem cumpri-la, então poderia ser usada. Se
não pudessem cumpri-la, então ela não poderia ser usada. Deus aplicou a lei nos
judeus e eles não conseguiram cumpri-la. Isso significa que o mundo todo não
pode cumpri-la. Os judeus foram selecionados por Deus como objetos de uma
experiência. Os judeus são os representantes do homem no mundo todo. Portanto,
vê-se que a lei foi oficialmente dada aos judeus. Mas o princípio da lei é dado
a todos os homens. É dado a toda carne. Deus deu a lei ao homem para preveni-lo
de que o homem é proveniente da carne e é carnal. Que é o cristianismo? O
cristianismo não diz aos filhos de Adão que façam o bem. Isso não é o
cristianismo. O cristianismo diz que Adão está crucificado e eliminado, e que a
raça adâmica é aniquilada pela cruz do Senhor Jesus. O homem em Cristo recebe
uma nova vida e torna-se uma nova raça. A lei é inútil para a nova raça, pois
não existe coisa semelhante à lei na nova raça. A lei foi dada por Deus aos
filhos de Adão para expor os seus pecados. Se alguém quiser ser salvo por
guardar a lei, ele deve perceber a séria consequência das palavras guardar a
lei. Uma vez que o homem guarde a lei, ele obterá justiça. Contudo, essa
justiça será proveniente da carne. Em outras palavras, significaria que os
filhos de Adão, isto é, a raça adâmica, não precisam morrer. Significaria que o
homem pode agradar a Deus com sua carne. Talvez alguém argumente que o homem
não pretende guardar toda a lei, que ele compreende que é impossível guardá-la
na sua totalidade, que o que ele pretende é crer em Jesus, e então, guardar a
lei. Todavia, se a obra da lei tiver uma milionésima fração de aceitação diante
de Deus, isso significa que Adão não precisaria morrer. Isso anularia a própria
natureza do cristianismo. O cristianismo não está aqui para estabelecer uma
base para Adão. Não está aqui para manter a velha criação. Ele está aqui para
transferir-nos para a nova criação. Somos carne, e não podemos obter a justiça
que provém de guardar a lei. Desde a queda do homem, havia o querubim e a
espada flamejante guardando a árvore da vida no jardim do Éden (Gn 3.24). Por
que o querubim e a espada flamejante estavam guardando o caminho para a árvore
da vida? Para evitar que o homem comesse da árvore da vida. Após o homem ter se
tornado pecador e ter comido do fruto da árvore do conhecimento do bem e do
mal, não havia outro caminho para ele voltar à árvore da vida e comer do seu
fruto exceto ser julgado pelo querubim e morto pela espada flamejante. Deus nos
mostra que o homem não pode comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e
do mal e ao mesmo tempo comer do fruto da árvore da vida. O homem não pode
comer de ambos. O homem não pode receber a semente do pecado em uma das mãos e
tomar a salvação do Senhor na outra. Aqui reside a diferença entre o
cristianismo e o judaísmo. O judaísmo diz ao homem na carne que pelo fato de
guardar a lei ele viverá. Mas o cristianismo diz que ele não pode viver, pois
não consegue guardar a lei. O cristianismo afirma claramente que o homem não
consegue fazê-lo. Não há possibilidade de ele guardar a lei. Portanto, podemos
ver que no Antigo Testamento, Deus deu a lei para que o homem a guardasse. No
Novo Testamento, vemos que o homem não consegue guardar a lei de modo nenhum,
tampouco deve guardá-la. Essa é uma das maiores verdades na Bíblia. Agora o
perigo é que se juntamos a fé com a lei, anulamos o princípio da Bíblia.
Imediatamente Adão terá a base, e o homem carnal será capaz de viver novamente.
O julgamento de Deus é que o homem deve morrer. Por meio de Jesus Cristo, Deus
eliminou o homem. Ele não quer que o homem carnal consiga coisa alguma. Hoje,
se o homem ainda tenta produzir algo a partir da carne, ele subverte o
princípio do Novo Testamento. Se for dado terreno à lei, então a carne também
terá terreno. Mas Deus diz que a carne não tem terreno, que todos os terrenos
foram removidos.
Podemos
indagar se isso é anular a lei. Precisamos lembrar que, de acordo com a Bíblia,
a lei exige duas coisas de nós. Primeiro, a lei diz que aquele que a guardar,
viverá (Rm 10.5). A lei requer que a guardemos e façamos algo. Uma vez que o
homem a guarde, obterá justiça. Se tivermos justiça, teremos a recompensa, que
é a vida. Mas há um segundo aspecto. A lei diz que no dia em que comermos da
árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente morreremos (Gn 2.17). Por um
lado, a lei requer que o homem guarde algo. Por outro, sua punição é a morte
para todos os que não guardam a lei. Todos os que não guardam a lei recebem a
retribuição por não guardar a lei. Portanto, no Antigo Testamento, em
princípio, vemos que a lei exigia que o homem a guardasse e que fosse justo. Os
que não a guardassem eram condenados e punidos. Em Xangai, o departamento de
Trânsito tem muitas leis. Por exemplo, para dirigir ao escurecer, a pessoa deve
ter faróis na sua bicicleta. Se não houver farol na bicicleta, então haverá uma
multa de sessenta centavos. Esse regulamento requer duas coisas: que a pessoa
instale um farol e que aqueles que não o fizerem sejam punidos. Que é, então,
anular a lei? Anular a lei significa que alguém não tem um farol e tampouco tem
de ser punido. Que é guardar a lei? Guardar a lei é satisfazer uma das
exigências. Os que têm um farol, estão guardando a lei. Os que não têm um
farol, mas estão dispostos a pagar sessenta centavos, também estão guardando a
lei.
O
problema hoje é que não conseguimos guardar a lei. A lei de Deus requer que
sejamos justos. Se não somos justos, então falhamos. Somente sendo justos
podemos viver. Mas nenhum homem é capaz de guardar a lei. Ninguém entre nós
pode ter justiça diante de Deus pelo fato de guardar a lei. Uma vez que o homem
toque a lei de Deus, ele falhará. Paulo disse em Romanos 7.7 que mesmo que Deus
tivesse somente uma lei, o homem não seria capaz de guardá-la. Paulo não
transgredia todas as leis. Ele mencionou somente uma lei, acerca da cobiça. Na
língua original, a cobiça é concupiscência. Paulo disse: “Estou desamparado. A
concupiscência insiste em voltar todas as vezes. Para mim é impossível não ter
concupiscência”. Ele não podia fazer o farol da sua bicicleta funcionar,
contudo ele tinha de andar pela cidade. Para alguns, o problema não é que o
farol não funciona. Eles simplesmente não querem ter a luz. Essas pessoas nem
mesmo querem acender o farol. Que é anular a lei? É quando alguém argumenta com
Deus dizendo: “Ó Deus, não posso guardar Sua lei hoje. Por favor, deixe-me ir,
por conta do Senhor Jesus. Fiz o melhor que pude. Por favor, não me castigue”.
Todos que suplicam ao Senhor Jesus, que seja brando, ou a Deus, que tenha
misericórdia deles, estão anulando a lei. Por um lado, eles não querem guardar
a lei. Por outro, não querem a punição da lei. Eles não querem ter o farol,
contudo, ao mesmo tempo, querem evitar a multa de sessenta centavos. E quanto a
nós hoje? Temos nossos faróis? Se temos os faróis, então podemos andar
sossegados pela cidade. Mas nenhum de nós é capaz de ter o farol. Portanto, a
única maneira é pagar os sessenta centavos. Isso é o que o Senhor Jesus fez por
nós. Esse é o julgamento que experimentamos em Cristo. Devemos dizer: “Louvamos
e agradecemos ao Senhor, pois já fomos julgados em Cristo!” Fomos punidos em
Cristo. Deus já nos puniu em Cristo. Uma vez que o Senhor Jesus morreu,
ressuscitou e ascendeu, a salvação que agora recebemos é equivalente à que
obteríamos se guardássemos a lei. Aqueles que têm o farol, estão livres. Os que
foram punidos também estão livres. Hoje, se um homem conseguir guardar todas as
leis, ele será justificado e será salvo, da mesma maneira que nós, os que
cremos em Jesus, somos salvos e justificados. É claro que não somos apenas
salvos quando cremos em Jesus; ao salvar-nos, o Senhor Jesus concedeu-nos
muitas outras coisas além de conceder-nos também a lei.
Paulo
disse em Romanos 3.31: “Anulamos, pois, a lei, pela fé? Não, de maneira
nenhuma! Antes, confirmamos a lei”. Portanto, quando somos salvos pela fé em
Jesus, não anulamos a lei. Uma vez que encontramos a exigência da lei em nós, a
lei nada tem a dizer. Nunca pense que deveríamos adicionar a obra da lei à
nossa fé. Para nós, crer é como pagar os sessenta centavos. Para nós, guardar a
lei é como ter o farol. Ninguém no mundo inteiro teria o farol e pagaria
sessenta centavos ao mesmo tempo. Isso é ilógico. Por que alguém teria de pagar
sessenta centavos e ao mesmo tempo ter o farol? Se ele pode ter o farol, então
não tem de pagar os sessenta centavos. Se existir a palavra da fé, então não
pode haver a lei. Se existir a lei, não pode haver a palavra da fé. Ninguém
pode ter a fé e guardar a lei ao mesmo tempo, pois fazer isso seria desprezar o
Senhor Jesus. Isso significaria que a pessoa não consegue ver sua completa
fraqueza e imundícia. Por favor, leia novamente Gálatas 2.16, 17: “Sabendo,
contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em
Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados
pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois por obras da lei, ninguém será
justificado. Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos
também achados pecadores, dar-se-á o caso de ser Cristo ministro do pecado?
Certo que não”. O livro de Gálatas nos mostra que alguns na Galácia contendiam
sobre não ser suficiente o homem ser justificado pela fé no Senhor Jesus; ele
ainda devia guardar a lei. Eles não estavam dizendo que o homem não deveria
crer. Eles certamente reconheciam que um homem é justificado em Cristo. Mas
estavam dizendo que ele ainda precisava guardar a lei. Paulo estava dizendo uma
palavra muito dura aqui. Ele estava dizendo que se enquanto procuramos ser
justificados em Cristo somos achados pecadores, significa que após termos crido
no Senhor Jesus, nós ainda não fomos justificados, ainda somos pecadores, e
ainda devemos guardar a lei para ser salvos. Por exemplo, suponha que eu esteja
doente e passe dez dias sob os cuidados de um médico. Depois disso, porque a
doença ainda permanece, tenho de consultar outro médico. Se busco ser
justificado em Cristo e ao mesmo tempo tento guardar a lei, significa que ainda
sou um pecador e que ainda não fui salvo. Se já não sou pecador, então nunca
mais deveria guardar a lei. Se ainda sou pecador, Cristo é ministro do pecado?
Paulo perguntava: Se ele não era justificado depois de ter crido no Senhor
Jesus, aquilo significava que Cristo era um ministro do pecado? A resposta é:
“De modo nenhum!” No Novo Testamento, Paulo disse “De modo nenhum” muitas
vezes. No grego, essa é uma expressão peculiar. É traduzida na versão King
James como “Deus não permita”. É equivalente à expressão “os céus não
permitam”, uma palavra muito forte. Isso significa que até mesmo os céus
rejeitariam isso. Não há razão debaixo do sol para que isso sucedesse.
Portanto, está claro que o homem não pode ter fé em Jesus e ao mesmo tempo
guardar a lei.
Em
Romanos 3, Paulo fez outra afirmação clara. O versículo 28 diz: “Concluímos,
pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei”.
Essa é uma afirmação conclusiva. Agora é uma questão de fé. Nada tem a ver com
a lei, absolutamente. Graças ao Senhor! Jesus é suficiente. Para a Bíblia, dar
atenção à fé é dar atenção à graça de Deus. Isso nos mostra que tudo vem pelo
receber. Alguns gostam de exaltar os homens em sua pregação do evangelho. Mas
se conhecemos a Bíblia, veremos que fora de Deus o homem é totalmente
desamparado. Lembre-se, destas duas sentenças: o homem não é salvo pela lei,
tampouco é salvo pela fé com a lei. Este é o primeiro e mais comum engano do
homem. O homem misturou a fé com a lei.
A SALVAÇÃO NÃO É A FÉ COM BOAS OBRAS
“As
obras da lei” é uma expressão que encontramos na Bíblia (Gl 2.16). Já tratamos
desse aspecto. A compreensão mais frequente da condição da salvação é que a
salvação é pela fé e também pelas obras. Salvação pela fé é uma doutrina da
Bíblia, e o homem não pode argumentar contra ela (Ef 2.8). Contudo, o homem diz
que ela é também pelas obras. Consideremos agora o que a Bíblia diz sobre isso.
Frequentemente somos brandos e complacentes em nosso falar, mas a Bíblia não é
branda no seu falar. Ela é muito precisa. Efésios 2.8 e 9 dizem: “Porque pela
graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras,
para que ninguém se glorie”. Aqui ela nos diz que a salvação é absolutamente
pela graça e mediante a fé. A palavra mediante significa atravessar. É como
dizer que a luz elétrica brilha pela eletricidade e mediante o fio condutor. É
também como dizer que a água da torneira vem do reservatório no departamento de
águas e mediante os encanamentos. O homem é salvo pela graça, mas o canal
mediante o qual a salvação vem a nós é a fé. O canal não são as obras, mas a
fé. É mediante a fé e nada tem a ver com as obras. Não é adicionar a fé às
obras. É preciso saber que a fé e as obras são basicamente opostas entre si. A
graça do Senhor Jesus é baseada no amor de Deus. Quando cremos, a graça e o
amor fluem para dentro de nós. Como resultado, somos salvos, temos vida, e
somos justificados. Nada disso é transmitido a nós por meio das obras. Graças
ao Senhor que não é por causa das obras! Por que deveria sê-lo? A resposta aqui
é que ninguém deve vangloriar-se. O que Efésios 1 nos diz é que Deus quer ter
toda a glória. É por isso que Ele faz toda a obra. Suponha que certo irmão seja
muito capaz e educado e tenha sofrido muito pelo Senhor. Se outro irmão vem a
mim e diz: “Irmão Nee, eu louvo você e o glorifico pela excelente obra que esse
irmão realizou”, certamente diríamos que ele está mentalmente doente. A glória
só pode ir para aquele que realizou a obra. Não existe tal coisa no mundo, como
alguém trabalhar e outro receber a glória. Os que trabalham merecem o
pagamento. Quem quer que trabalhe, este mesmo recebe a glória. Por que Deus fez
toda a obra de nos salvar? É para que Ele tenha toda a glória. A razão de Deus
nos ter concedido a graça é que Ele receba toda a glória. Ele não quer que
trabalhemos para que não nos vangloriemos. Vangloriar-se é glorificar a si mesmo.
Se fizermos qualquer coisa que mereça alguma glória, não agradeceremos nem
louvaremos a Deus diante Dele. Imediatamente diremos: “Sem dúvida, a salvação é
concedida a mim por Ti. É a Tua obra. Mas acrescentei minha parte a ela. Se não
tivesse acrescentado minha parte, não seria como sou hoje”. O homem gosta de
superestimar seus próprios méritos. Ele gosta de superenfatizar suas próprias
virtudes. Se Deus dissesse que cumpriria noventa e nove por cento da obra da
salvação e que deixaria um por cento para nós, este um por cento
Silenciaria os céus. Os anjos não louvariam mais, e as pedras não
clamariam mais. Em vez de as pedras se tornarem os filhos de Abraão, os filhos
de Abraão tornar-se-iam as pedras, pois de cem por cento, alguns reivindicariam
um por cento. Eles, então, contariam a maravilha de sua própria obra e
diriam: “Eu passei por aquilo desta maneira ou daquela maneira. Como você
conseguiu passar? Qual foi sua contribuição?” Cada um estaria se gabando de sua
própria obra e Deus não teria possibilidade de obter a glória. Agradecemos e
louvamos ao Senhor! Uma vez que Ele quer obter toda a glória, Ele não deixou
uma única coisa para fazermos. Quando alcançarmos o céu, teremos de dizer que
ainda somos pessoas desamparadas. Somos capazes de chegar lá por causa da graça
“gratuita”. Essa palavra “gratuita” calará no céu todas as súplicas e o encherá
com ações de graça e louvor. Tudo será ações de graça e louvor, porque tudo é
realizado por Deus. Devemos ver que esta é a verdade da Bíblia. A obra do homem
e a graça de Deus não podem ser misturadas. Uma vez que o homem trabalhe, isso
entra em conflito com a glória. Portanto, se estou na rua, em minha casa, ou na
reunião do partir o pão, posso dizer de coração: “Deus, agradeço e louvo a Ti,
porque nada tenho a ver com minha salvação. Minha salvação provém cem por cento
de Ti. Portanto, que posso fazer senão louvar a Ti?” Deus se agrada do louvor.
A Bíblia chama determinado tipo de oração de repugnante, mas a Bíblia nunca
chama qualquer tipo de louvor de repugnante. Algumas orações são rejeitadas por
Deus, mas Deus nunca rejeita qualquer louvor. Deus quer ter toda a glória, pois
Ele realizou toda a obra. Isso significa que podemos ser relaxados e que não
precisamos mais fazer o bem?
Efésios
2.10 explica: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas
obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Os
versículos 8 e 9 nos mostram o que Deus fez por nós objetivamente. O versículo
10 imediatamente nos mostra as questões subjetivas. Deus não nos salvou de
maneira tola. Ele nos deu nova vida, nova natureza e novo espírito
interiormente. O Senhor Jesus está vivendo em nós por meio do Espírito Santo e
nos preparou para toda boa obra. Lembre-se de que Deus não incluiu essas boas
obras nos dois versículos anteriores. Não importa quantas boas obras você tenha
feito após ser salvo. A salvação ainda provém da graça. Não importa quão rápido
você avance espiritualmente, pois a salvação ainda provém da graça gratuita do
Senhor Jesus. Mesmo que tenha uma obra como a de Paulo, um resultado como o de
Pedro, amor como o de João, e sofrimento como o de Tiago — mesmo que tenha
todas estas quatro coisas — você ainda é salvo por meio da graça gratuita. No
futuro, embora sua obra possa mostrar que é salvo, ela jamais será sua condição
para salvação. Minha fé não significa muito. Ela é apenas um receptor da obra
de Deus. O homem não é salvo por obras. Ninguém pode argumentar contra isso.
Mas o homem é muito miserável. Por ser seu coração obscurecido e cheio de
pecado, por ser sua carne má e cheia da lei, embora ele reconheça a fé, ele
pressupõe que deve também adicionar obras. O homem não vê que é depois de ser
salvo pela fé que alguém tem as obras. A salvação nada tem a ver com obras. Não
estou dizendo que não precisamos das obras. Nós damos atenção à obra. Contudo,
essa não é a condição para a salvação. A salvação é um problema totalmente
diferente. Não devemos esquecer que a Bíblia diz que se dermos mesmo uma
pequena atenção à obra, a graça de Deus é anulada (Gl 2.21). Uma vez que é
graça, ela deve provir somente da fé e não da obra.
Todos
os que me conhecem bem sabem que gosto de molho de soja. Se não houver muitos
pratos à mesa está tudo bem, contanto que eu tenha molho de soja, posso passar
muito bem. Certa vez, alguém que me servia viu que meu molho de soja estava quase
no fim. Ele foi ao mercado e comprou mais. A seguir misturou-o com o molho de
soja bom. Quando experimentei, notei que o sabor era diferente. Perguntei por
que o molho de soja estava com um sabor diferente aquele dia. Verifiquei com o
que servia se ele havia posto o molho de soja da mesma garrafa. Ele respondeu
que sim. Eu queria descobrir se meu paladar havia mudado. Parecia pouco
provável. Então perguntei-lhe se havia misturado com alguma coisa mais. Ele
teve de admitir que tinha. Hoje, o homem faz a mesma coisa com a obra de Deus e
a Sua graça. Ele tenta misturar algo mais a elas. Uma vez que misturamos algo
dessa maneira, a graça se torna algo diferente da graça. Isso é porque Deus diz
que se é proveniente da graça, então não mais é proveniente da obra (Rm 11.6).
Se é proveniente de obra, então não mais é proveniente da graça. A obra jamais
pode ser misturada com a graça. Portanto, não apenas devemos dizer que a
salvação é proveniente da fé, mas dizer que a salvação é proveniente unicamente
da fé. Amo Romanos 3.27. Essa palavra é baseada nos versículos 25 e 26. Ali diz
como o Senhor Jesus se tornou um lugar de propiciação e como Deus justificou os
que crêem Nele. Não é injusto que Deus faça isso. Portanto, o versículo 27 diz:
“Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída”. Não há maneira de nos
vangloriarmos. Não há mais possibilidade de nos gabarmos.
A frase seguinte é muito importante. Ela diz: “Por que lei?” Isso significa que
não temos mais nada de que nos gabar. Por qual maneira estamos livres de nos
vangloriar? Por qual princípio estamos livres de nos gabar? O versículo 27
continua: “Das obras? Não, pelo contrário, pela lei da fé”. Paulo perguntou
como o homem pode ficar livre de se gabar e como a jactância pode ser removida.
Sua resposta é pelo princípio da fé. Se alguém estiver no princípio da fé,
então ele não estará no princípio das obras. Se é pelo princípio das obras,
então a jactância não pode ser excluída. Mas agradecemos ao Senhor. Hoje, temos
o princípio da fé. Portanto, não podemos gabar-nos. Podemos somente louvar.
Filipenses 2.12 diz: “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só
na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, desenvolvei a
vossa salvação com temor e tremor”. Muitos nos têm dito que Paulo disse
explicitamente em Filipenses que temos de desenvolver nossa própria salvação.
Se temos de desenvolver nossa salvação, isso não significa que temos de fazer
alguma coisa? É verdade que o Senhor realizou a obra, mas o homem também tem de
fazer algo. É como dizer que Ele supre o material, nós suprimos o trabalho, e
com os dois, desenvolvemos nossa salvação.
Uma
pessoa diz isso porque não compreende a palavra da Bíblia. Se temos de
complementar nossa salvação, então, que o Senhor Jesus fez na cruz? Que Ele cumpriu
na cruz? Se algo foi cumprido, não pode ser cumprido novamente. Se você é filho
de Deus, não pode tornar-se filho de Deus novamente. Na cruz, o Senhor Jesus
disse claramente: “Está consumado!” (Jo 19.30). A cruz do Senhor Jesus cumpriu
a obra da salvação. Ela cumpriu a obra de redenção. Uma vez que a obra da
salvação e da redenção foram cumpridas, não há mais possibilidade de
desenvolvermos essa salvação. Se ainda quisermos desenvolver nossa salvação,
devemos primeiro destruir a obra do Senhor na cruz. Devemos declarar que a obra
do Senhor Jesus não foi consumada, que a obra do Senhor não foi concluída. Eis
por que temos de desenvolvê-la. Muitas vezes, não sabemos o que significa
envergonhar os outros. Mas uma vez que tenha experimentado isso, você saberá o
que é. Por exemplo, aqui está uma irmã. Alguém pediu a ela que lavasse alguns
lenços. Após tê-los lavado, ela os pendura para secar. Mas outra pessoa vem e
leva os lenços embora. Quando ela pergunta o motivo, é-lhe dito que foram
tirados para ser lavados. Essa é uma vergonha pública para a irmã, pois isso
significa que a outra pessoa não acredita que os lenços foram lavados.
Significa que eles acham que a irmã mentiu. Da mesma forma, desenvolvermos
nossa salvação não é uma glória para Cristo, mas uma vergonha para Cristo. A
Bíblia diz claramente que Cristo completou toda a obra.
Por
que, então, Filipenses 2.12 diz que devemos desenvolver nossa salvação? A
palavra desenvolver na língua original carrega o significado de para fora.
Devemos operar para fora nossa salvação em temor e tremor. A palavra de Paulo
parou aqui? Se tivesse parado aqui, não saberíamos o que ele quis dizer. O que
se segue é o versículo 13, que diz: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o
querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”. Uma vez que Deus operou em
você, agora você o desenvolve. Se Deus não operou em, não temos como operar
para fora. Desde que Deus tenha operado em, podemos operar para fora. Deus já
nos salvou interiormente e nos deu vida. Agora não há outra maneira, exceto
deixá-lo vir para fora. Deus não quer que trabalhemos. Ele quer que operemos
para fora. Portanto, essa não é uma questão de salvação ou perdição, vida
eterna ou morte eterna. Essa é uma questão de se alguém recebe ou não
recompensa após sua salvação. Deus já operou em você, levando-o a querer e
realizar pelo Seu bom prazer. Portanto, você tem de desenvolvê-la. Esta é a
condição adequada de um cristão. Em outras palavras, esta é nossa obra após a
salvação. Se um homem ainda não foi salvo, ele não pode desenvolver sua
salvação. Se um homem não tem vida, ele não pode expressá-la. Somente após o
homem ter sido salvo, ele pode desenvolver sua salvação. Portanto, vê-se que
não existe tal coisa como ser salvo por meio de boas obras.
A DIFERENÇA ENTRE A VIDA ETERNA E O REINO
Há
uma coisa que precisa estar clara para nós. Ter vida eterna é diferente de
entrar no reino dos céus. Todos os que não conseguem ver a diferença entre vida
eterna e o reino dos céus jamais terão clareza acerca do caminho da salvação e
do caminho da preservação. O Senhor Jesus disse que de João Batista até agora o
reino dos céus é tomado por violência (Mt 11.12). Os violentos o tomam. A lei e
as profecias dos profetas terminaram com João (11.12, 13). Baseados nessa
palavra, alguns têm dito que precisamos ser violentos, isto é, devemos
esforçar-nos para ser salvos. Se não nos esforçarmos, não seremos salvos. Uma
pessoa diz isso porque não consegue dizer qual a diferença entre o reino dos
céus e a vida eterna. Existe uma diferença entre a vida eterna e o reino dos
céus. A primeira diferença entre ambos é em relação ao tempo. A vida eterna é
para a eternidade, mas o reino não é para a eternidade. Quando o novo céu e a
nova terra vierem, o reino dos céus passará. O reino dos céus denota o governo
de Deus. O período do governo de Deus é o período do reino dos céus. A
soberania de Deus na terra e Seu governo sobre a terra serão manifestados por
somente mil anos. Que são os céus? O livro de Daniel fala sobre o governo dos
céus (7.27). Portanto, o reino dos céus é a esfera na qual os céus governam.
Quando o Senhor Jesus vier reger a terra, aquele será o tempo em que os céus
governarão. Hoje quem governa a terra é o diabo, Satanás. A política e a
autoridade mundial hoje em dia são de Satanás. O Senhor Jesus não reinará senão
no período do reino dos céus. Mas o período no qual a autoridade dos céus será
efetuada é muito curto. Em 1 Corintios 15.24 é dito: “E, então, virá o fim,
quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado,
bem como toda potestade e poder”. O reino será entregue
a Deus Pai. Portanto, há um limite temporal para o reino. Contudo, a vida
eterna é para sempre. Todo o que lê 1 Coríntios 15 sabe que no início do novo
céu e nova terra, isto é, na conclusão do milênio, o reino será entregue.
Portanto, há uma diferença temporal entre a vida eterna e o reino dos céus. A
segunda diferença reside no método pelo qual o homem entra no reino dos céus e
na maneira pela qual ele obtém a vida eterna. O recebimento da vida eterna é o
assunto de todo o Evangelho de João. A maneira de se obter a vida eterna é por
meio do crer. Uma vez que cremos, obtemos. Nunca lemos de outra forma. Contudo,
entrar no reino dos céus não é uma questão simples. Todo o Evangelho de Mateus menciona
o reino dos céus trinta e duas vezes. Nenhuma vez é dito que o reino dos céus é
recebido pela fé. Como um homem ganha o reino dos céus? Mateus 7.21 diz: “Nem
todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que
faz a vontade de Meu Pai, que está nos céus”. Pode-se ver que a entrada no
reino dos céus é mais uma questão de obra do que de fé. Mateus 5.3 também nos
diz: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus”.
Aqui não diz vida eterna, mas o reino dos céus. Para ter o reino dos céus, a
pessoa precisa ser pobre no espírito. O Senhor também diz: “Bem-aventurados os
que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”
(v.10). Não é necessário ser perseguido para receber a vida eterna, mas o reino
é para os que têm sido perseguidos por causa da justiça. Mesmo se um homem
tiver a vida eterna, se ele não tem sido perseguido por causa da justiça hoje e
não é pobre no espírito, ele ainda pode não ter parte no reino.
Há
uma terceira diferença. É quanto à atitude que os cristãos devem ter acerca da
vida eterna e do reino dos céus. Com relação à vida eterna, Deus nunca nos
disse para procurarmos obtê-la. Pelo contrário, toda vez que é mencionada, Ele
nos mostra que já a temos. Entretanto, com relação ao reino, a palavra da
Bíblia diz que devemos procurar obtê-lo e buscá-lo diligentemente. Hoje, em se
tratando do reino, estamos no estágio de busca; ainda não o obtivemos. Ainda
temos de empregar esforço para buscar e persistir em obter o reino.
A
quarta diferença reside na maneira como Deus considera o reino e a vida eterna.
Deus considera a vida eterna como um presente; ela é dada a nós (Rm 6.23). Não
se vê uma pessoa indo ao Senhor para buscar vida eterna. Nunca houve tal coisa,
pois a vida eterna é uma graça gratuita; ela é dada por meio do Senhor Jesus
para todos aqueles que creem Nele. Não existe diferença entre alguém que busca
e alguém que não está buscando. Contudo, o mesmo não ocorre com o reino.
Lembre-se da mãe dos dois filhos de Zebedeu que veio ao Senhor Jesus querendo
que o Senhor fizesse com que seus dois filhos se sentassem um de cada lado Dele
no reino (Mt 20.21). Mas o Senhor Jesus disse: “O assentar-se à Minha direita e
à Minha esquerda não Me compete concedê-lo; mas é para aqueles a quem está
preparado por Meu Pai” (v. 23). A graça é obtida uma vez que O invocamos. Mas o
reino depende se alguém pode ser batizado em Seu batismo e pode beber o cálice
que Ele bebeu. Ambos os discípulos disseram que podiam. Todavia, o Senhor disse
que apesar de terem prometido que o fariam, a questão não cabia a Ele decidir.
O Pai é Aquele que o concede.
Além
disso, o criminoso que foi crucificado juntamente com o Senhor disse a Ele:
“Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu reino”. (Lc 23.42). O Senhor
Jesus ouviu sua oração? Sem dúvida que sim. Mas Ele não concedeu seu pedido. O
criminoso pediu que o Senhor se lembrasse dele quando o Senhor recebesse o
reino. O Senhor Jesus não lhe respondeu que ele estaria com Ele no reino. Pelo
contrário, Ele respondeu-lhe: “Hoje estarás Comigo no Paraíso”. (v. 43). O
Senhor não lhe respondeu sobre o reino. Mas Ele lhe deu uma resposta com
relação ao paraíso. Uma vez que O invoquemos, podemos ir ao Paraíso. Contudo,
não é tão simples ir ao reino. Portanto, há uma grande diferença aqui. A
atitude de Deus para com a vida eterna e o reino dos céus é diferente: um é o
presente de Deus e o outro é a recompensa de Deus.
Com
respeito à diferença entre o reino dos céus e a vida eterna, existem outras
passagens na Bíblia que são muito interessantes. Agora, chegamos à quinta
diferença. Apocalipse 20 mostra-nos que os mártires recebem o reino, embora não
diga que sejam os únicos a receberem o reino (v. 4). A Bíblia, entretanto,
nunca nos mostra que o homem deva ser martirizado a fim de receber a vida
eterna. Se esse fosse o caso, o cristianismo tornar-se-ia uma religião de morte,
posto que o homem deveria morrer. Contudo, não se vê coisa semelhante.
Entretanto, o reino é diferente. O reino requer esforço. Até mesmo requer o
martírio para obtê-lo. Por exemplo, a pobreza é uma condição para o reino dos
céus. Para obter o reino dos céus, a pessoa precisa perder suas riquezas. A
Bíblia nos mostra claramente que nenhuma pessoa na terra que seja rica segundo
seus próprios meios pode entrar no reino dos céus. Não podemos dizer que nenhum
rico possa ser salvo. Não podemos dizer que ninguém pode entrar na vida eterna
se não quiser perder suas riquezas. Assim como é difícil um camelo passar pelo
fundo de uma agulha, da mesma forma é difícil um rico entrar no reino dos céus
(Mt 19.24). Todavia, você já ouviu dizer que por ser impossível um camelo
passar pelo fundo de uma agulha, da mesma forma é impossível que um rico seja
salvo e tenha a vida eterna? Graças ao Senhor. O pobre pode ser salvo. Assim
como o rico pode. O pobre pode herdar a vida eterna e o rico também pode.
Contudo, entrar no reino dos céus é um problema para o rico. Se acumularmos
riquezas na terra, não seremos capazes de entrar no reino dos céus. É óbvio que
isso não significa que alguém tenha de desistir de toda a sua riqueza hoje.
Estou dizendo que a pessoa tem de entregar toda a sua riqueza ao Senhor. Somos
apenas os administradores. Não somos o dono da casa. A Bíblia nunca reconhece
um cristão como o dono de seu dinheiro. Cada um é apenas um
administrador do dinheiro que é para o Senhor. Todos nós somos apenas os
administradores do Senhor. Existe esta condição para entrar no reino.
Há
outra coisa muito peculiar. Não se vê as questões de casamento e família
envolvendo a questão da vida eterna. Mas o evangelho de Mateus diz que alguns
não se casam por causa do reino dos céus. Alguns até mesmo se fizeram eunucos
por causa do reino dos céus (Mt 19.12). A fim de entrar no reino dos céus e
ganhar um lugar no reino, eles escolheram permanecer virgens. Ninguém vê a vida
eterna ser negada a uma pessoa casada. Se esse fosse o caso, Pedro teria sido o
primeiro a ter problema, pois ele tinha sogra (Mt 8.14). Vemos que a questão da
vida eterna não está de forma nenhuma relacionada à família e ao casamento, mas
a questão do reino está muitíssimo relacionada à família e ao casamento. Essa é
a razão de a Bíblia dizer que aqueles que têm esposa devem ser como se não a
tivessem. Os que se utilizam do mundo devem ser como se dele não utilizassem, e
os que compram como se nada possuíssem (1 Co 7.29-31). Isso tem muito a ver com
nossa posição no reino dos céus. Finalmente, temos de mencionar outra
diferença. No reino, há diversos níveis de graduação. Mesmo que os homens sejam
capazes de entrar no reino, há diferença na posição
que eles ocupam ali. Alguns receberão dez cidades, outros receberão cinco
(Lc19.17-19). Alguns receberão meramente uma recompensa, mas outros receberão
um galardão. Alguns ganharão uma rica entrada no reino (2 Pe 1.11). Alguns
entrarão no reino sem uma rica entrada. Portanto, existe uma diferença de
graduação no reino. Mas nunca haverá uma questão de graduação com relação à
vida eterna. A vida eterna é a mesma para todos. Ninguém receberá dez anos a
mais que o outro. Não existe diferença na vida eterna, todavia no reino há
diferença. Se alguém ponderar um pouco, perceberá que na Bíblia, o reino e a
vida eterna são duas coisas absolutamente diferentes. A condição para a
salvação é a fé no Senhor. Além da fé, não há outra condição, pois todos os
requisitos já foram cumpridos pelo Filho de Deus. A morte de Seu Filho satisfez
todas as exigências de Deus. Mas entrar no reino dos céus é outra questão:
requer obras. Hoje um homem é salvo pela justiça de Deus. Mas não podemos
entrar no reino dos céus a menos que nossa justiça exceda a dos escribas e
fariseus (Mt 5.20). A justiça no viver e na conduta de uma pessoa deve
ultrapassar a dos escribas e fariseus para que ela possa entrar no reino dos
céus. Portanto, pode-se ver que a questão da vida eterna é completamente
baseada no Senhor Jesus. Contudo, a questão do reino está baseada nas obras do
homem. Não estou dizendo que reino é melhor que vida eterna, mas Deus tem um
lugar tanto para um como para outro.
O CAMINHO DA SALVAÇÃO — A Relação entre Fé e Obra em Tiago 2
A
Palavra de Deus é muito clara com respeito à condição para a salvação. Deus nos
mostra que a salvação é por fé e não por obras. Lemos as Escrituras o
suficiente e vimos razões suficientemente claras por que nossas obras não podem
ser levadas em consideração. Por crermos na obra de Deus por meio do Seu Filho,
nossas próprias obras não devem existir. Contudo, alguns que não compreendem as
palavras da Bíblia têm vindo a mim, perguntando: “Não é verdade que o livro de
Tiago diz-nos claramente que um homem não é justificado pela fé, mas pelas
obras? É possível que Tiago e Paulo se contradigam? É possível que o homem seja
justificado tanto pela fé como pelas obras?” Essas pessoas acham que Tiago e
Paulo não concordam um com o outro. Eles pensam que os livros de Romanos,
Gálatas e Tiago também não concordam entre si. Tenho de usar a expressão de
Paulo: “Certo que não!” Vamos ao livro de Tiago e vejamos o que ele mesmo tinha
a dizer. Quando lemos o livro de Tiago, devemos tomar cuidado com uma coisa.
Podemos ler somente o que está dito; não podemos adicionar a ele nossos
próprios conceitos. O que deve ser levado em conta é o que Tiago disse. O que
for acrescentado não deve ser considerado. Não leia seus próprios pensamentos
no livro de Tiago. Você deve ver o que Tiago disse e não o que ele não disse.
O TEMA DE TIAGO É MISERICÓRDIA — JUSTIFICAÇÃO É SECUNDÁRIO
Vamos
ler Tiago 2.14-26. Contudo, antes de lermos essa passagem, quero fazer uma
pergunta: Qual é o contexto desses versículos? Paulo escreveu o livro de
Romanos com um tema em mente. Ele também escreveu Gálatas com um tema em
mente. Romanos diz que o homem é justificado pela fé; Gálatas diz que o homem
não é justificado pelas obras.
Romanos
fala do lado positivo; Gálatas fala do lado negativo. Romanos declara
positivamente como o homem é justificado; Gálatas argumenta, do lado negativo,
como ser justificado e como não ser justificado. Portanto, os dois livros,
Romanos e Gálatas, complementam-se. O tema desses livros é estritamente a
justificação. Eles tratam especificamente do problema da justificação. Um trata
do problema do lado positivo; o outro, do lado negativo.
Muitas
pessoas acham que Tiago 2 é um capítulo difícil. Qual é o tema de Tiago 2? O
tema de Romanos é a justificação e o de Gálatas também é justificação. Mas qual
é o tema de Tiago 2? O tema desse capítulo compreende pelo menos a misericórdia
e a ajuda aos outros. Que dizem os versículos anteriores a essa porção?
Começando do versículo 6, Tiago diz: “Entretanto, vós outros menosprezastes o
pobre. Não são os ricos que vos oprimem, e não são eles que vos arrastam para
tribunais? Não são eles os que blasfemam o bom nome que sobre vós foi invocado?
Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo, fazeis bem; se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis
pecado, sendo argüidos pela lei como transgressores. Pois qualquer que guarda
toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. Porquanto,
aquele que disse: Não adulterarás, também ordenou: Não matarás. Ora, se não
adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai de tal maneira e
de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da
liberdade. Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de
misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo” (vs. 6-13). O tema desses
versículos é a demonstração de misericórdia. Tiago diz-nos não para favorecer o
rico, mas, pelo contrário, para cuidar dos humildes e mostrar misericórdia para
com o pobre. Isso é o que os versículos de 1 a 13 dizem. Além disso, o
versículo 1 é uma continuação do capítulo 1. O último versículo do capítulo 1
diz: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta:
visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se
incontaminado do mundo” (v. 27). Esse é o tema de Tiago. Se um homem disser que
é um cristão piedoso, sua piedade deve ser manifestada no seu cuidado pelos
órfãos e viúvas e na sua oferta a eles. Ele não deve convidar alguém que use
vestes ricas para sentar-se em um bom lugar e pedir que os órfãos, as viúvas e
o pobre sentem-se debaixo do estrado de seus pés. Ele deve cuidar, mostrar
misericórdia e suprir os desprezados. O assunto de Tiago é a religião pura e
sem mácula. A religião pura e sem mácula é manifestada para com o pobre, o
humilde e o desprezado. Após 2.14, ele continua a falar sobre o suprir: “Se um
irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento
cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e
fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito
disso?” (vs. 15-16). No final do capítulo um, o tema de Tiago é revelado, qual
seja,
cuidar dos órfãos e viúvas. Ao final da primeira seção do capítulo dois, ele
diz que devemos mostrar misericórdia para com os outros, que devemos suprir o
pobre e não desprezá-lo. Na segunda seção do capítulo dois, Tiago nos diz o que
alguém deveria fazer quando vir um irmão ou irmã sem vestimenta e carente do
sustento diário. Todas essas palavras têm a ver com dar aos outros, mostrar
misericórdia para com outros, não desprezar o pobre e ajudar os outros. Os
versículos de 14 a 26 falam superficialmente sobre justificação. A questão da
justificação é mencionada somente de passagem. Por ser a misericórdia, o dar e
o cuidar dos órfãos e viúvas o tema, a justificação é mencionada somente de
passagem, como meio de chegar à meta no desenvolvimento de seu tema. Portanto,
vemos que Tiago não está ensinando a questão da justificação no seu livro. O
tema de nossas reuniões nessas duas semanas passadas tem sido a salvação de
Deus. Mas suponha que nesse período eu me levante na manhã de domingo e dê uma
mensagem, não sobre salvação, mas sobre vencer ou sobre o reino ou sobre como
reinar com o Senhor Jesus no milênio. Aquele seria o tema da minha mensagem.
Enquanto falasse, poderia mencionar de passagem oito ou nove sentenças sobre
salvação. Se você desejasse compreender a doutrina da salvação, não consideraria
as outras mensagens que dei no restante das duas semanas? Você ignoraria tudo
aquilo que foi falado em duas semanas e tomaria apenas as oito ou nove
sentenças que ouviu naquela única mensagem? Romanos e Gálatas tratam
especificamente de justificação, enquanto Tiago somente menciona umas poucas
palavras sobre ela. O seu tema não é a justificação, tampouco é seu propósito
ensinar justificação. Seu objetivo é exortar os outros a dar; a questão da
justificação é mencionada apenas de passagem. Uma pessoa não pode destruir
Romanos e Gálatas com as poucas palavras de Tiago sobre justificação. Tiago,
então, está em conflito com Romanos e Gálatas? Em breve você verá que não. Mas
desde o início, quero que compreenda precisamente o tema de Tiago. Ele não
falou sobre justificação. Ele falou sobre misericórdia, sobre cuidar e sobre o
que alguém deve fazer pelos órfãos e viúvas.
A FÉ SEM OBRAS É DE NENHUM PROVEITO
O
versículo 14 diz: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé,
mas não tiver obras?” Repare que Tiago não diz que esse homem tem fé em Deus.
Não acrescente a esse versículo o que Tiago não diz. Tiago não diz se esse
homem é cristão ou não. Ele só diz que esse homem diz ter fé. Não levando em
conta se ele tem obras ou não, esse homem não deveria dizer que tem fé. Se você
de fato tiver fé diante de Deus, não há necessidade de falar sobre isso. Paulo
diz que o que crê é justificado. Ele nunca diz que o que diz ter fé é
justificado. Certamente ninguém é justificado apenas por dizê-lo. Não sei como
é o homem mencionado aqui. Não sei se ele tem fé ou não. Tiago não diz que ele
verdadeiramente tem fé. O que vemos, entretanto, é um homem orgulhoso. Ele pode
ou não ter algo dentro dele. Contudo, quer tenha algo ou não, ele gosta de se
mostrar diante dos outros. Ele gosta de imprimir fé em seu cartão de visita e
mostrar às pessoas que tem fé. Portanto, Tiago diz: “Meus irmãos, (...) se
alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé
salvá-lo?” Se você vir um homem que não se preocupa o mínimo com seu
comportamento, que é livre para fazer qualquer coisa, mas diz que crê em Jesus,
você diria a mesma coisa que Tiago. Você também perguntaria que proveito há se
alguém diz ter fé, mas não tem as obras. Talvez ele estivesse brigando ou
discutindo com alguém há um minuto, e agora diz que tem fé. Se essa pessoa não
tivesse dito nada acerca de ter fé, Tiago não teria dito nada a ela. O motivo
de Tiago ter dito algo, é que alguns não têm as obras e, no entanto, se gabam.
Você já encontrou pessoas assim? Estes tais gostam de se gabar. Gostam de ser
exaltados e glorificados. Não somente Tiago teve de subjugar esse tipo de
pessoa; também nós devemos subjugá-las.
Portanto,
Tiago não está falando sobre ter fé ou não ter fé. Tampouco está falando de
obras para os que têm fé. Tiago está falando especificamente sobre obras para
os que dizem ter fé. Ele não trata das obras de cristãos, mas das obras dos que
se dizem cristãos. Ele está tratando das obras dos membros nominais da igreja e
dos cristãos nominais que dizem ter fé. Tiago 2 diz “se alguém”. Não diz “se
algum cristão”. O versículo 14 prossegue dizendo: “Pode, acaso, semelhante fé
salvá-lo?” Que é “semelhante fé”? Se a fé não pode salvá-lo, que pode, então?
Tiago refere-se à “semelhante fé”, não simplesmente à “fé”. Se a fé não pode
salvar-nos, não precisamos mais pregar. Contudo, Tiago refere-se à “semelhante
fé”, isto é, a fé que alguém tem em seus lábios. Não distorça o que Tiago está
dizendo. Ele não está falando sobre a fé salvando esse homem. Ele está falando
sobre aquele tipo de fé salvando-o, isto é, o tipo de fé que alguém tem somente
nos lábios. Não sei se você já conheceu pessoas assim. Eu conheci. Dizem que
são cristãos, que creem nisso e naquilo, e que sua fé é isso e aquilo. Pode essa
fé salvá-los?
A FÉ SEM OBRAS É MORTA
Quando
Deus o viu nu, faminto e pobre, foi assim que Ele disse: “Fique aquecido e
saciado. Que você nunca vá para o inferno. Que você vá para o céu”? Se a fé de
Deus fosse como a sua, ninguém seria salvo na terra. Mas, que fez Deus? Quando
Ele nos viu pobres, famintos, nus, e mortos em pecado, Ele veio cumprir a obra
da redenção a fim de que pudéssemos ser salvos. Graças ao Senhor. Primeiramente,
Ele demonstrou Sua obra diante de nós; a seguir nós a recebemos. A sua fé para
com os irmãos e irmãs é uma fé vã? Se Deus fosse vão com você, tudo sem dúvida
seria vaidade. E, se você é fútil para com Deus, sua fé, sem dúvida, também é
vazia. Sabemos que somos justificados e salvos e que temos a vida eterna. Por
que é assim? É porque Deus não está assentado nas nuvens dizendo: “Que todos em
todo o mundo sejam salvos e que ninguém vá para o lago de fogo”. Pelo
contrário, Deus desceu pessoalmente do céu para levar a cabo a Sua justiça e
tratar com o pecado na cruz. Por Deus ter realizado uma obra concreta, hoje
podemos ter fé. Essa é a razão de nossa fé, hoje, ser digna de confiança. O
versículo 17 diz: “Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está
morta”. Tiago não diz que um homem não é salvo pelo crer. Ele não quer dizer
que um homem não é justificado ou não tem a vida eterna pelo crer. Ele quer
dizer que ao ouvir tais palavras desse tipo de pessoa, você sabe que a fé dela
é morta. Se você pedisse a Paulo para vir aqui hoje e comentar sobre isso, até
ele mesmo diria que esse tipo de fé é morta. Se alguém simplesmente
diz que tem fé, mas não tem uma expressão exterior disso, essa fé deve ser
morta. Pois não importa quão grande seja a fé de alguém, os outros ainda
precisam de veste e comida. Eles não podem cobrir sua nudez com a luz do céu.
Tampouco podem comer o ar para satisfazer sua fome. Portanto, uma fé sem obras
é vazia e morta.
DEMONSTRAR FÉ POR MEIO DAS OBRAS
O
versículo 18 diz: “Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me
essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé”. Se uma
pessoa fútil e arrogante ficar se gabando, alguém por fim se levantará e dirá:
“Você diz que tem fé. Mas onde está ela? Fique quieto. Você tem fé, mas eu
tenho obras”. Note que esta pessoa não diz que tem somente obras; ela não diz
que não tem fé. Isso não é o que um cristão diria. Ele diz: “Você tem fé e eu
tenho obras. Hoje dei de comer a alguém. Hoje dei roupas a alguém. Por favor,
mostre-me sua fé sem obras. Que benefício há se você apenas fala sobre essas
coisas?” Você pode ver o significado dessas palavras? Ao lê-las, você deve dar
atenção ao tom. Quando lê Tiago, a coisa mais importante é considerar o tom. Se
prestar atenção ao tom aqui, terá de admitir que essa palavra é dita para uma
pessoa fútil e arrogante. Tiago, aqui, está falando da prática; ele não está
tratando da justificação pela fé. Devemos considerar a palavra mostrar aqui.
Essa pessoa diz: “Mostra-me” e “te mostrarei”. Portanto, Tiago 2 não fala de um
homem ter fé ou não perante Deus. Tampouco trata de nossa fé perante Deus; pelo
contrário, trata da nossa fé diante dos homens. Se alguém se vangloria diante
do homem de que tem fé, você deve dizer a tal pessoa: “Mostre-me sua fé sem
obras”. Tiago 2 trata do problema da fé diante dos homens. Ninguém pode ver se
você tem fé ou não. Outros vêem somente se você tem obras, isto é, se alimenta
os outros e dá roupas para que se vistam. Você percebe que isso também requer
fé? Suponha que haja um irmão ou irmã aqui, nesta noite, que tenha carência de
roupas ou comida. Se disser a ele ou a ela que, uma vez que creiamos, seremos
vestidos e alimentados, isso não é suficiente. Tiago diz que temos de
alimentá-lo e vesti-lo e ao mesmo tempo devemos ter fé. Você percebe que a fé é
necessária para se dar sustento aos outros? Essa fé provém de dois lados. Se
não tiver muito dinheiro, talvez umas poucas moedas em meu bolso, e vir alguém
sem comida e roupa, tenho de exercitar a fé. Não preciso ter fé pelos outros;
para com eles preciso de obras somente. Todavia, por mim mesmo, preciso de fé.
Se não tiver fé, provavelmente não serei capaz de dar essas poucas moedas até
que tenha reconsiderado e contado algumas vezes mais. Vou querer saber se serei
capaz de conseguir de volta o que vou dar. Mas se puder dar espontaneamente as
poucas moedas, isso deve significar que tenho fé. Portanto, ao ver um homem
pobre e dar-lhe comida e veste, você deve ter fé antes que possa ter as obras.
Sem as obras, sua fé não pode ser manifestada. Além disso, mesmo que você seja
rico e que não precise de muita fé para dar um pouco, como sabe que após ter
dado o dinheiro, isso não prejudicará aquele que recebeu, levando-o a
procurá-lo novamente a fim de que você carregue o fardo dele? Se fizer o bem
aos outros indiscriminadamente, isso não faria com que buscassem ajuda no homem
continuamente? Muitas vezes não damos nada aos pedintes por temer que agindo
assim façamos deles eternos pedintes. Assim, mesmo que seja uma pessoa rica,
você deve ter fé de que Deus pode impedir que a pessoa desenvolva o mau hábito
de dependência e confiança nos outros. Você deve crer que Deus não quer fazê-lo
carregar o fardo dessa pessoa continuamente. Isso é uma obra, mas é uma obra de
fé. É uma obra que provém da fé. Aquele que faz grandes promessas e profere
palavras vazias parece ter uma grande fé. Contudo, na verdade, ele não tem fé
alguma. Se você tiver fé, deve tirar seu casaco e deixar que outro o vista.
Deve convidar outros a comerem sua comida. Se apenas falar de fé, você não a
tem. Portanto, Tiago concluiu que este tipo de falar é pecado. O ponto aqui não
é que fé é errado, mas que falar palavras vazias é errado. No capítulo anterior
falamos sobre fé. No penúltimo também falamos sobre fé. Contudo, ainda não
demos atenção a esse tipo de fé. Visto que Tiago era contra ela, nós também nos
opomos a ela. É inútil falar palavras vazias.
O
versículo 19 diz: “Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios creem, e tremem”. Essa é uma palavra dura. Você crê que Deus é único. Faz bem
em crer assim. Os demônios creem nisso também, contudo eles tremem. Por favor,
considerem a palavra e. A questão hoje não é se você crê ou não. Se disser que
crê, ninguém pode dizer o contrário. O problema é que até mesmo os demônios
creem. Todavia, eles não têm paz. Os apóstolos não escreveram aos demônios,
dizendo: “Paz seja convosco. Que Deus possa abençoá-los e aos anjos caídos”.
Apesar de os demônios crerem, eles tremem. Esse tipo de fé não faz bem a eles.
Sua fé faz com que tremam e percam a paz. Se você diz que crê, o seu crer é do
mesmo tipo que os demônios têm? As palavras de Tiago são muito fortes e
afiadas. Sem dúvida, você crê em Deus. Contudo, os demônios também o creem.
Você diz que crê, mas ao mesmo tempo treme, sente medo e fica nervoso.
Portanto, você está na mesma posição dos demônios. Ao continuar a leitura,
compreendemos a que Tiago se opõe. Tiago não é absolutamente contra a fé. Ele é
contra certo tipo de fé. Tiago não está dizendo que a fé não justifica. Ele
está simplesmente dizendo que este tipo de fé não justifica. No versículo 20,
Tiago chama essas pessoas pelo nome. Ele as chama pelo que são. Ele não as
chama de irmãos e irmãs. Ele não as chama de seus amados, como Paulo fazia;
tampouco as chama de pais ou filhinhos, como fazia João. Pelo contrário, ele as
chama de insensatas. “Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé
sem as obras é inoperante?” Note as palavras queres, pois. Por Tiago ter dito
isso prova quão insuportável era a atitude delas. Quando outros falavam a
Palavra de Deus a elas e as admoestavam, ainda assim não criam. Portanto, Tiago
pergunta se elas queriam ficar certas de que essa espécie de fé é morta. Não
que fossem incapazes de saber ou de ter clareza. Não é que ninguém as
ensinasse. É simplesmente uma questão de não estarem interessadas em saber.
Suponha que eu tente falar a um irmão, e ele olha para outro lado. Ao tentar
novamente, ele olha para outra direção. Tentando pela terceira vez, ele começa
a falar com outro irmão. Então eu diria: “Irmão, você quer ouvir-me ou não?”
Isso é o que Tiago está falando aqui. Vocês estão dispostos a entender que esse
tipo de fé sem obras é morta? Ao lermos a Bíblia, devemos pedir a Deus que nos
mostre as circunstâncias em que aquela porção foi escrita. Tiago chama esse
tipo de pessoa de insensatos. Eles colocam tudo às claras para que outros vejam
e comentem, e assim exibem a si mesmos. Eles querem tomar parte em tudo. Querem
falar alto onde quer que estejam. Tiago diz que esse tipo de pessoa deve ser
subjugado. ‘Ó homem insensato, você está disposto a saber que esse tipo de fé é
inútil?’ Visto que não ouviram após ter-lhes falado tanto, ele tem de ironizar
e gritar um pouco com eles.
O EXEMPLO DA JUSTIFICAÇÃO DE ABRAÃO
Nos
versículos de 21 a 25, há dois exemplos. Ambos são muito significativos. Eles
nos mostram o que a justificação pela fé realmente é. O versículo 21 diz: “Não
foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o
altar o próprio filho, Isaque?” Tiago 2 menciona o exemplo de Abraão. Gálatas 3
e Romanos 4 também mencionam o exemplo de Abraão. Paulo diz que o homem é
justificado pela fé, não por obras, e usa o exemplo de Abraão como prova. Tanto
Romanos 4 como Gálatas 3 provam que o homem é justificado pela fé e não por
obras. Tiago também menciona o exemplo de Abraão, mas ele o usa para provar que
o homem é justificado não somente pela fé, mas também pelas obras. Se ele
tivessse mencionado exemplos de outras pessoas, poderíamos não compreender essa
questão. Contudo, ao mencionar o exemplo de Abraão, podemos seguramente
entender o que a justificação pela fé realmente é. Ao usar o exemplo de Abraão,
Paulo refere-se a Gênesis 15, enquanto Tiago refere-se a Gênesis 22. Em Gênesis
15 Deus prometeu a Abraão que a sua descendência seria como as estrelas do céu.
Em Gálatas 3, Paulo enfatiza intensamente a promessa de Deus a Abraão. No livro
de Gálatas, Paulo repetidamente fala da promessa. A palavra promessa é usada
com muita frequência no livro de Gálatas. Paulo exalta a promessa em Gálatas.
Você sabe o que é uma promessa? Em todo o mundo, há somente uma única maneira
para o homem receber uma promessa, que é pela fé. Não existe outra maneira para
o homem recebê-la. Há somente essa única condição. Se Deus disser que devemos
fazer algo e nós o fizermos, isso é obra. Mas Deus não disse a Abraão que lhe
daria algo caso fizesse isso ou aquilo. Pelo contrário, Deus disse que lhe
daria descendentes. Como Abraão recebeu a promessa? Não havia outra maneira
senão por meio da fé. Suponha que um irmão diga a seu filho que se ele
memorizar uma lista de palavras esta noite, receberá cinco doces amanhã. Se o
filho quiser receber os cinco doces, ele tem de memorizar as palavras. Isso é
obra. Contudo, se o pai simplesmente promete ao filho os cinco doces, que seu
filho tem de fazer? Dirá ele: “Tenho de fazer isso ou aquilo antes de conseguir
o doce?” O menino não tem de fazer nada. Tudo o que tem a fazer é acreditar que
seu pai fará isso para ele. Em Gênesis 15 Deus não deu a Abraão uma única coisa
para fazer. É como se Deus dissesse: “Eu o farei para você. Dar-lhe-ei
descendentes”. Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça (Gn
15.6). Voltando ao exemplo do filho do irmão, o menino poderia dizer: “Meu pai
realmente me dará cinco doces? Não parece que uma coisa boa assim possa
acontecer”. Se pensar assim, ele não tem fé. Todos os que querem entender o
livro de Gálatas devem perceber que uma promessa não implica condição nem obra.
A pessoa não tem de fazer coisa alguma. O Pai fez tudo. Graças ao Senhor que
tudo o que Deus promete Ele cumprirá. Já que Deus é fidedigno, tudo está bem.
Mesmo que alguém tente fazer uma obra, ela não terá utilidade.
Em
Gênesis 15 Deus prometeu a Abraão que lhe daria muitos descendentes. Abraão
tinha tudo. Todavia ele não tinha filho. Ele possuía gado, ovelhas e tendas.
Contudo, ele não tinha filho. Entretanto, Abraão creu em Deus. Ele creu que
Deus lhe daria um filho. Ele simplesmente creu em Deus. Ele não fez nenhuma
obra. No capítulo vinte e dois, após ter lhe dado um filho, Deus disse a Abraão:
“Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de
Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei”
(v. 2). Então Abraão levantou-se cedo de manhã e levou seu filho ao monte
Moriá. Ele colocou a lenha para o holocausto nas costas de seu filho Isaque e
este a carregou, da mesma forma como o Senhor Jesus carregou a cruz. Quando
chegaram ao monte, Abraão erigiu um altar, pôs seu filho sobre este, e estava
prestes a matá-lo. Este é o acontecimento que Tiago relembra ao referir-se à
justificação de Abraão. Em Gênesis 15 a justificação de Deus a Abraão estava
relacionada com seu filho. E, em Gênesis 22, a justificação de Deus para ele
também estava relacionada com seu filho. Em Gênesis 15 Abraão não tinha filho.
Contudo ele creu em seu coração que se Deus disse que lhe daria um filho, ele
certamente teria um filho. No capítulo vinte e dois ele de fato teve um filho,
mas Deus quis que ele oferecesse esse filho. Se Abraão não tivesse tido fé, ele
teria dito: “Deus, Tu me disseste que me darias muitos descendentes. Ora, se eu
matar meu filho, não perderei a todos? Não é que não queira fazer isso; apenas
quero ver Tua promessa cumprida. Não que eu tema fazê-lo; simplesmente quero
preservar Tua fidelidade”. Você acha que Abraão oferecer Isaque foi uma obra ou
um ato de fé? Que boa obra é essa, matar o filho de alguém? Que há para se
louvar em matar o próprio filho? O fato de Abraão levantar o cutelo para
sacrificar seu filho mostra que ele ainda cria na promessa do capítulo quinze.
Deus havia prometido dar-lhe muitos descendentes, e para esse fim Ele lhe havia
dado um filho. Agora, se Deus queria que ele matasse o filho, devia ser porque
Deus o ressuscitaria dentre os mortos. Isso é o que Abraão pensou quando estava
prestes a matar seu filho. Sua prontidão em matar o filho mostra que ele cria
que Isaque seria ressuscitado dentre os mortos. A fé em Gênesis 15 é a fé
Naquele que chama à existência as coisas que não existem, enquanto a fé em
Gênesis 22 é a fé Naquele que ressuscita as pessoas dentre os mortos (Rm 4.17).
Em ambos os casos, o que Abraão fez não foi algo de obra, mas de fé. O ato de
Abraão provou que ele tinha fé. Isso não significa que Abraão podia ser
justificado matando seu filho. Significa que ao sacar o cutelo, ele provou que
tinha fé. A prova da fé de Abraão estava na sua disposição de oferecer seu
filho. Portanto, Tiago não disse que não se pode ser justificado pela fé. Paulo
diz firmemente que justificação não é por obras, mas Tiago não poderia dizer
firmemente que a justificação não é pela fé. Se ambos se contradissessem,
esperaríamos que um deles dissesse: “Justificação é proveniente da fé, não de
obras”, e o outro: “Justificação é proveniente de obras, não de fé”. Contudo,
Tiago não diz isso. Não devemos dizer o que Tiago não disse. Tiago não diz que
não devemos ter fé; ele diz que alguém deveria demonstrar sua fé com sua obra.
Paulo é alguém que fala do princípio, assim ele pode ousadamente declarar que a
justificação é proveniente da fé e não de obras. Tiago é um homem de prática.
Assim, ele diz que a pessoa deve ter não somente a fé, mas deve ter as obras
igualmente. Somente quando existem obras o homem demonstra que sua fé é
genuína. Leiamos Tiago 2.21 novamente: “Não foi por obras que Abraão, o nosso
pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?” A
oferta de seu filho foi uma obra, e foi essa obra que demonstrou que ele tinha
fé. O versículo 22 diz: “Vês como a fé operava juntamente com as suas obras”.
Paulo ousa dizer que alguém pode ter apenas a fé, sem as obras. Contudo, Tiago
não ousa dizer que alguém deve ter somente as obras, sem a fé. Ele indica que a
fé em Gênesis 15 e a obra em Gênesis 22 andam de mãos dadas. Então ele
acrescenta outra frase. Ele não diz que a justificação vem por meio da fé
acrescida da obra. Pelo contrário, ele diz: “Foi pelas obras que a fé se
consumou”. Em Gênesis 15 vemos que por Abraão ter fé, ele foi justificado
perante Deus. Em Gênesis 22 vemos que por Abraão ter as obras, ele foi
justificado perante os homens. A justificação de Abraão foi consumada pela sua
obra em Gênesis 22. A oferta de Isaque em Gênesis 22 manifestou a fé em Gênesis
15, e a fé em Gênesis 15 foi consumada pela obra em Gênesis 22.
No
versículo 23 nosso irmão Tiago também faz citação de Gênesis 15. Em Romanos 4
Paulo cita Gênesis 15 para provar que a pessoa precisa de fé somente, não de
obras. Agora nosso irmão Tiago cita a mesma palavra que Paulo: “E se cumpriu a
Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para
justiça”. Em Tiago a palavra isso refere-se ao ato no monte em Gênesis 22.
Abraão ter oferecido Isaque em Gênesis 22 foi uma oferta de fé. Foi uma obra que
manifestou sua fé. Foi um cumprimento das palavras em Gênesis 15, que diz que
Abraão creu em Deus e foi-lhe isso imputado para justiça. Em Gênesis 15 Deus
justificou Abraão devido à sua fé. A obra de Abraão em Gênesis 22 cumpriu a
promessa de Deus em Gênesis 15. Portanto, não podemos dizer que a fé somente não
salva e que há necessidade de obras também. A condição para a salvação é a fé,
não as obras. Todavia se existir fé, então espontaneamente haverá uma mudança
em obras. Suponha que haja um homem cuja ocupação seja a de fazer dinheiro de
imitação para ser queimado a ídolos. Um dia ele ouve o evangelho e crê.
Contudo, após crer, ele continua a fazer dinheiro de imitação. Isso está
errado? Ele compreende no seu íntimo que o dinheiro de imitação é para adoração
a ídolos e que um cristão não pode fazer tal trabalho. Se você perguntar se ele
crê ou não no Senhor Jesus, ele diria que sim. Mas se ele desistir do seu
negócio com dinheiro de imitação, como irá sustentar-se? Ele confessa que é
cristão, mas não podemos dizer com certeza que seja salvo. Não sabemos se ele
foi salvo perante Deus, se ele tem fé ou não. Se virmos uma pessoa que crê que
o Senhor Jesus é o Filho de Deus e que Ele foi crucificado por ele, e que crê
no evangelho de Deus plenamente, no entanto não desiste de tal negócio por
temor de perder sua subsistência, não há como dizer se ele é realmente salvo.
Talvez ele tenha fé diante de Deus. Embora a semente tenha sido semeada, o
broto ainda não saiu. Somente podemos saber com certeza após as folhas saírem.
Não digo que ele não seja salvo. Digo apenas que não estamos certos se ele é
salvo ou não. Aqui está a diferença. Não existe questionamento sobre o ser
salvo pela fé. Todavia, se nenhuma obra resultar da fé, os outros não saberão
acerca desta fé. Isso não é absolutamente uma questão de bom ou mau
comportamento. Perceba isso com muito cuidado. Tiago 2 não fala absolutamente
sobre bom ou mau comportamento. A ênfase em Tiago 2 é sobre as obras que provam
a fé de alguém. Tiago 2 não nos diz para focalizar nossa atenção em boas ou más
obras. O que ele enfatiza são as obras que resultam da fé. Muitas pessoas são
muito boas em suas obras. Contudo, essas obras não manifestam sua fé. São obras
sem fé; não era com elas que Tiago se preocupava. O versículo 24 é muito bom:
“Uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente”. Você vê como Tiago é
cuidadoso? Ele diz que uma pessoa é justificada por obras e não apenas pela fé.
Paulo foi capaz de dizer que um homem é justificado pela fé e jamais pelas obras.
Mas Tiago nunca disse que o homem é justificado somente pelas obras e jamais
pela fé. Se ele dissesse isso, concluiríamos que os dois apóstolos têm
divergências na doutrina. Tiago diz que o homem é justificado por obras.
Contudo, em seguida acrescenta outra palavra: "e não por fé somente".
Quando alguém tem as obras, isso prova que ele tem fé. Isso não significa que
alguém deva ter somente as boas obras, mas a pessoa deve ter obras de fé.
O EXEMPLO DA JUSTIFICAÇÃO DE RAABE
Tiago
temia que não tivéssemos clareza sobre o exemplo de Abraão; assim, no versículo
25 vemos outra ilustração. Ele menciona o exemplo de uma prostituta. Raabe não
era uma mulher honrada. Nada havia de valoroso em suas obras. Portanto, vemos
que justificação não é uma questão de boas obras, mas de obras de fé. Já repeti
isso algumas vezes. O que está em questão são as obras de fé, não as obras de
moralidade. “De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz
Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?” Que
tipo de boas obras é esse? Os israelitas estavam atravessando o rio Jordão para
atacar Jericó. Se Raabe tivesse sido ao menos um pouco patriota, teria entregue
os dois espias. Todavia, quando o rei de Jericó enviou homens para procurá-los,
Raabe os escondeu no eirado. Mais tarde ela os deixou fugir. Tiago nos diz que
a obra dessa mulher a justificou. Que obra ela praticou? Sua obra foi mentir.
Os homens obviamente estavam ali, mas ela disse que não estavam. Mentir é uma
boa obra? Todo cristão sabe que mentir não é bom. Contudo, Raabe foi
justificada por sua obra de mentir. Se alguns dizem que isso é justificação por
obras, é algo que dizem por si mesmos; não é o que Tiago está dizendo. Eles
estão simplesmente dizendo em nome de Tiago o que querem dizer. Mas que o
próprio Tiago diz? Ele diz que quando Raabe deixou fugir os dois homens que
espionavam Jericó, isso foi imputado a ela para justiça. Que Tiago quer dizer
com isso? Quando os israelitas saíram do Egito e foram para o deserto, eles não
puderam estabelecer-se em lugar algum, mas tiveram de vagar por quarenta anos.
Que há de bom em tal nação? Pelo menos havia uma muralha ao redor da Jericó de
Raabe. Tudo o que os israelitas tinham era areia debaixo dos pés. Ao menos
havia casas em Jericó. Tudo o que os israelitas tinham eram tendas; até mesmo o
Deus deles tinha de habitar em uma tenda. Que havia de tão especial com essa
nação? Entretanto, quando os dois espias vieram e contaram-lhe como Deus havia
cuidado deles, realizado milagres por eles, e havia prometido que Jericó e até
mesmo toda a terra de Canaã seriam entregues a eles, as suas palavras fizeram
com que Raabe cresse. Ela pôs seu próprio futuro, sua vida, e mesmo toda sua
família sob a custódia deles. Ela até mesmo estava disposta a fazer algo contra
seu próprio país. Deus não diz que isso foi uma boa obra; Ele diz que essa obra
foi a expressão da sua fé. Se os muros de Jericó tivessem sido feitos de palha
ou penas de galinha poderíamos achar que os muros poderiam de fato cair. Mas as
muralhas de Jericó eram tão altas como o céu. Seus portões eram fortificados
com barras de bronze. Como poderia ser tomada facilmente? Como Raabe pôde
ter-se confiado aos dois espias? Isso foi uma obra proveniente da fé, e Deus
diz que o que justifica uma pessoa é esse tipo de obra. Não é uma questão de
bem ou mal. Não se trata de ter ou não boas obras. A carne é absolutamente
inútil diante de Deus. Ela não tem lugar. Toda obra em Adão, seja boa ou má, é
rejeitada por Deus. Se um homem disser aos outros que somente as boas obras
salvam, essa pessoa não sabe o que é a carne. Portanto, não é uma questão de
obras. Boas obras não podem justificar. Tampouco as más obras podem. Portanto,
Tiago 2 fala sobre obras da fé. Nada além disso. Raabe estava ali arriscando
sua vida. Se os homens enviados pelo rei de Jericó tivessem encontrado os
espias em sua casa, ela imediatamente teria perdido a vida. Mas a sua esperança
era ser salva por intermédio dos espias de Israel. Ela entregou a própria vida
e futuro nas mãos deles. Portanto, a questão não é boas obras ou más obras, mas
o ter fé ou não ter fé. É a fé que justifica. Apesar de Tiago dizer que Raabe
foi justificada por obras, suas obras foram nada mais que uma manifestação da
sua fé. Finalmente, o versículo 26 diz: “Porque, assim como o corpo sem
espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta”. Nosso espírito habita
dentro do nosso corpo. Portanto, podemos dizer que nosso espírito é o espírito
do nosso corpo. Dizemos que os espíritos
malignos são espíritos que deixaram seu corpo, pois eles não têm um corpo. Há
um tipo de obra que requer fé e que deve estar unido à fé. Há um tipo de obra
que provém da fé e que resulta da fé. Se a fé for sem obras, ela é morta, da
mesma forma que um corpo sem espírito é morto. Portanto, somos salvos por meio
da fé, somos justificados por meio da fé e também recebemos vida por meio da
fé. Embora haja muitas diferentes maneiras de expressar a fé, a fonte ainda é a
fé. Alguns expressam-na abandonando sua profissão. Outros expressam-na por não seguir
os passos de seus pais. Ainda outros expressam-na por não acompanhar o marido
em certas coisas ou por abandonar sua posição. Existem todos os tipos de
expressões da fé. A questão não é de boas ou más obras, mas de fé. O que Tiago
está dizendo é que quando a oportunidade surge, nossa fé deve ser expressa.
Portanto, não podemos dizer que a salvação é proveniente de obras. Hebreus 6.1
menciona os princípios elementares da doutrina de Cristo. O fundamento da
doutrina de Cristo é o arrependimento de obras mortas. Que é o arrependimento
de obras mortas? É o arrependimento do que fizemos quando estávamos mortos. Na
Bíblia, existem duas coisas das quais devemos nos arrepender. Uma é o pecado; a
outra são as obras mortas. Tudo o que é moralmente errado é pecado e
transgressão. Se um homem crê no Senhor, ele deve realmente se arrepender e
lidar com esses pecados. Além do mais, devemos também odiar e nos arrepender do
que fizemos como pessoas mortas. Que são essas obras mortas? São todas as boas
obras que fomos capazes de fazer por nós mesmos antes de sermos salvos, antes
de nos tornarmos filhos de Deus, antes de recebermos a nova vida e antes de nos
tornarmos uma nova raça. As pessoas vêem seus pecados e transgressões pelo que
elas são. Mas não vêem as coisas que consideram morais e nobres como algo de
que se devam arrepender. Deus diz que são obras mortas. Elas foram realizadas
quando estávamos mortos. Devemos arrepender-nos de todas essas obras, não
dependendo delas para a salvação.
Ao
sermos salvos, existem dois grandes arrependimentos. Um é o arrependimento por
todas as coisas que não deveriam ter sido feitas. Todavia, quando a pessoa
entende o evangelho e vê a obra completa da cruz do Filho de Deus, ela se
arrepende por outras coisas também, que são todas as boas obras que realizou
anteriormente. Antes dávamos o melhor de nós para fazer o bem, como se Deus
fosse salvar-nos somente se ficasse bastante impressionado pelas nossas boas
obras. Hoje, entretanto, tornamo-nos cristãos. Devemos arrepender-nos não somente
dos nossos pecados, como também das nossas obras mortas. Por conseguinte, as
obras mortas não podem ajudar-nos a ser salvos. Você pode dizer que alguém
deveria crer no Senhor Jesus, mas também deveria ter boas obras. Mas Deus vê
você como um trapo rasgado. A justiça que Deus nos concede excede em muito à
justiça da lei. Portanto, se queremos achegar-nos a Deus, não somente não
devemos trazer nossos pecados conosco, como também não devemos trazer as nossas
obras. Se desejamos falar sobre obras, então, antes que possam ser aceitáveis,
nossas obras devem ser tão perfeitas como são as de Cristo perante Deus. Meu
amigo, você deve ver que a salvação não vem de você mesmo. Deve perceber de
coração que tudo é proveniente do Senhor Jesus. A fé não é uma virtude. Fé é
simplesmente receber. Um dos nossos hinos diz: “Trabalhar não me salvará” e
“Prantear não me salvará”. A última estrofe diz: “A fé em Cristo me salvará”.
Quando vi pela primeira vez essa linha, imediatamente risquei e substituí por
“Somente Jesus me salvará”. A fé não é uma virtude. Fé é apenas permitir que o
Senhor nos salve. É como uma pessoa que cai no mar. Quando alguém chega para
salvá-la atirando-lhe uma rede, ela não tem de fazer nada. Desde que não pule
para fora da rede, estará bem. Tudo foi feito pelo Senhor Jesus. Aleluia! Digo
novamente, nunca entenda mal Tiago 2. Obra em Tiago 2 não é uma questão de ser
bom ou mau, mas de ter fé ou não.
O Caminho da Salvação — Fé Versus Arrependimento
Nos
dois capítulos anteriores deste livro vimos que, da parte do homem, o caminho
da salvação é pela fé, e não pela lei ou obras. Vimos que a salvação é somente
pela fé. Não é pela fé com a lei nem pela fé com obras (Ef 2.8, 9). Porém, além
da lei e obras, o homem ainda tenta usar outras maneiras para obter a salvação
de Deus. Embora não possamos tratar detalhadamente dessas maneiras, esperamos
poder enumerá-las todas nos próximos dois capítulos. Além da lei e das obras,
arrependimento também é sempre considerado pelo homem como uma condição muito
importante. O homem pensa que se não se arrepender, não será salvo. Os que
conhecem a Bíblia não ousariam dizer que arrependimento é a única condição para
a salvação, mas eles diriam que um homem é salvo pela fé com arrependimento ou
pelo arrependimento e por crer. Admito que o tema arrependimento não é fácil de
ser entendido no Novo Testamento. Mas se alguém considerasse a palavra de Deus,
entenderia o verdadeiro significado do arrependimento e perceberia rapidamente
se o arrependimento é uma condição para a salvação.
OS TRÊS LIVROS SOBRE SALVAÇÃO NA BÍBLIA NÃO MENCIONAM O ARREPENDIMENTO COMO CONDIÇÃO PARA A SALVAÇÃO
Antes
de falarmos sobre o significado do arrependimento na Bíblia e sua relação com
fé e salvação, devemos primeiramente esclarecer algumas coisas sobre o
arrependimento. Depois disso, consideraremos o que a Bíblia diz sobre
arrependimento. Em toda a Bíblia existe somente um livro que nos diz como
recebemos a vida eterna. Esse livro é o Evangelho de João. Do começo ao fim do
Evangelho de João, não podemos achar uma simples menção da palavra
arrependimento. A palavra arrependimento nunca aparece nesse livro. Esse livro
nos diz como podemos ter vida eterna (3.15, 16b, 36), mas nada é mencionado a
respeito de arrependimento. Repetidamente menciona-se que o homem recebe a vida
eterna pela fé. Quando um homem crê, ele tem a vida eterna. Ele nunca menciona
arrependimento. Não menciona arrependimento diretamente nem mesmo indireta ou
metaforicamente. Este é um fato que temos de lembrar. Segundo, existem dois livros
que nos contam como o homem é justificado perante Deus. Eles são Romanos e
Gálatas. O livro de Romanos menciona arrependimento, mas nunca faz do
arrependimento uma condição para a salvação. Nenhum desses livros alguma vez
faz do arrependimento uma condição para salvação e promessa. Portanto, temos de
lembrar que dos três livros da Bíblia que tratam especificamente de salvação,
vida eterna e justificação, o arrependimento não é mencionado nem uma vez
sequer como condição para salvação. Em todos os três livros, a fé é mencionada
o tempo todo como a única condição. Isso nos mostra claramente que o homem é
salvo pela fé e não por obras.
O HOMEM ENFATIZA O ARREPENDIMENTO POR MEIO DE UMA MENTE SATURADA DA LEI E DAS OBRAS
Por
que o homem dá tanta atenção ao arrependimento? Isso acontece porque permanece
na mente do homem o veneno da lei e das obras. A salvação é gratuita, mas
porque a mente do homem está cheia de leis e obras, ele nunca considera que
Deus lhe daria salvação gratuitamente. Ele nunca pensa que Deus iria
gratuitamente carregar o seu fardo. Ele sempre acha que tem de fazer algo bom
para poder ser salvo. Seja o cumprimento da lei, fazer boas obras ou a
necessidade de arrependimento, o homem sempre acha que tem de fazer alguma
coisa. Parece que ele nunca quer ser um beneficiário incondicional. Nunca quer
permanecer numa posição de receber. Embora perceba que é impossível, ele acha
que tem pelo menos de fazer alguma coisa. É precisamente esse “fazer” que
distorceu o significado bíblico de arrependimento. Isso faz do arrependimento o
nosso arrependimento.
Por
favor, lembre-se de que o arrependimento mencionado na Bíblia e o
arrependimento do qual estamos falando são duas coisas diferentes. Que é
arrependimento de acordo com a mente do homem? De acordo com o conceito humano,
arrependimento é aprimoramento. De acordo com sua mente, arrependimento é
alguma coisa relacionada com o passado, mas é algo para lidar com o presente e
o futuro. Anteriormente, eu era pecador, caído, degenerado e fraco. Agora quero
ser salvo. Por isso tenho de me aperfeiçoar de hoje em diante e fazer com que
eu pareça melhor. A palavra chinesa para arrependimento é hwei-kai. Hwei
significa lastimar e kai significa mudar. Alguns inventaram uma nova doutrina
estranha ao Novo Testamento, baseada nessa palavra chinesa, dizendo que algumas
pessoas têm somente hwei, mas não kai. Por esse motivo, eles dizem que não é
suficiente somente lastimar-se; deve haver também uma mudança. Por que o homem
presta tanta atenção à mudança? É porque seu pensamento está cheio de obras. É
por isso que ele enfatiza muito as obras. Ele diz que desde que tudo o que
havia feito antes estava errado, ele não deve errar mais. Ele percebe que
era mau e que era um pecador, mas agora, não deve mais ser mau nem um pecador.
Anteriormente ele pecou e diante de Deus estava vestido de trapos, havia
desperdiçado todos os bens de seu Pai. Como poderá ser aceito quando retornar
ao lar? Certamente ele tem de negociar e ganhar algum dinheiro. Certamente ele
tem de estar vestido com a melhor roupa e com um par de sapatos antes de
retornar ao lar. O conceito do homem é de que ele necessita de determinado grau
de melhoria antes que possa voltar para casa. Se suas roupas não estiverem
adequadas e ele parecer o mesmo de antes, talvez o Pai não o aceite. Se ele
melhorasse um pouco, embora não tenha certeza se o Pai o aceitará ou não, pelo
menos existe uma oportunidade melhor e maior. O homem nunca considera que é
possível ir a Deus e receber salvação em sua presente condição. Ele sempre quer
aperfeiçoar-se. Ele admite que não pode ser perfeito em sua conduta. Mas acha
que ainda deve ter alguma coisa e, quanto ao resto, confiar no Senhor. Para ele
é como jogar, ele tem de fazer uma aposta antes que possa jogar. A aposta que o
homem faz é o arrependimento sobre o qual ele próprio fala.
O ARREPENDIMENTO NA MENTE DO HOMEM É DIFERENTE DO ARREPENDIMENTO NA BÍBLIA
O
arrependimento que o homem proclama simplesmente fala de uma coisa: Ele não
está disposto a rebaixar-se ao degrau mais baixo. Ele acha que deve estar pelo
menos um degrau acima, antes que Deus lhe dê a salvação. Isso é arrependimento
de acordo com a mente do homem. Não é o arrependimento na Bíblia. Não estou
dizendo que não há doutrina de arrependimento na Bíblia. Existe a doutrina de arrependimento
na Bíblia. A Bíblia até pede que o homem se arrependa. Mas o arrependimento do
qual a Bíblia fala é diferente do arrependimento de que falamos hoje. Qual é,
então, o arrependimento do qual a Bíblia fala?
Vamos
agora atentar para isso. Primeiro, o significado da palavra arrependimento em
grego é “mudança de mente”. A mente é o órgão pensante dentro do homem. O
arrependimento como ensinado na Bíblia não é mudança de conduta, mas mudança na
mente. A palavra arrependimento significa somente mudança nos pensamentos da
pessoa e não tem nada a ver com obras. Não tem nenhuma conotação de mudança na
conduta. Esse é o alcance do significado da palavra. Em segundo lugar, no Novo
Testamento arrependimento é sempre usado em referência ao nosso passado. Isso
diz respeito ao que fizemos no passado, o que pensamos e dissemos e ao que
éramos no passado. Anteriormente, tínhamos certos tipos de conceitos e certos
pontos de vista que considerávamos bons e gloriosos. Agora, pelo iluminar de
Deus, nossa mente deu uma grande virada. Não é uma virada visando a
comportamento futuro, mas uma mudança das coisas do passado. Mudamos nossa
visão e avaliação a respeito de muitas coisas. Originalmente, pensávamos que
era uma glória e alegria enganar os outros e que quem foi enganado era um bobo
porque não sabia que estava sendo iludido. Alguém podia deleitar-se, gloriar-se
nisso. Mas o que ele uma vez considerou glorioso, agora considera vergonhoso.
Arrependimento não é para o certo de amanhã, mas para o errado de ontem. Arrependimento
não é dizer o que alguém deve fazer no futuro: é uma reavaliação na mente, uma
visão modificada e um julgamento diferente a respeito das coisas do passado. Em
Lucas 13.3 o Senhor Jesus falou aos judeus que se eles não se arrependessem do
que fizeram, iriam morrer como os galileus. Portanto, arrependimento é ter uma
visão diferente da anterior. É ver as coisas na luz de Deus, a luz que vem do
alto. Vamos continuar. Em Atos vemos a palavra arrependimento usada várias
vezes. Atos 8.22 diz: “Arrepende-te, pois, da tua maldade, e roga ao Senhor;
talvez que te seja perdoado o intento do coração”. Aqui Simão estava tentando
comprar o dom do Espírito Santo com dinheiro. Pedro replicou com uma palavra
muito forte. Ele falou a Simão que este tinha de se arrepender da sua maldade.
Isso não significa que Simão deveria agir melhor no futuro. Isso significa que
Simão deveria arrepender-se do que ele tinha feito, do que tinha falado e dos
seus pensamentos. Arrependimento é lidar com os problemas do passado. Isso significa
que havia grandes erros naquilo que fizemos e que devemos agora ter uma visão
diferente. Anteriormente, o pensamento era o de gastar um pouco de dinheiro
para comprar o Espírito Santo. Agora, isso é visto como pecado. Que deve ser
feito? Existe agora a necessidade de uma nova visão e uma avaliação renovada.
Isso é arrependimento. Por meio disso recebemos perdão.
A
palavra arrependimento aparece frequentemente em Apocalipse 2 e 3 de um modo
particular. Lá, o Senhor estava lidando com as obras do passado. Ele estava
chamando os homens a ter um ponto de vista diferente no que se refere às suas
obras passadas. Apocalipse 2.5 diz: “Lembra-te, pois, de onde caíste,
arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e
moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas”. O Senhor disse
isso porque eles tinham deixado o primeiro amor. Não praticavam as primeiras
obras. Eles tinham de se lembrar de onde tinham caído. Isso é arrependimento.
Depois disso, tinham de voltar às primeiras obras que é alguma coisa do futuro.
Uma pessoa precisa se arrepender do que fez no passado. As obras no futuro são
um assunto completamente diferente.
O
versículo 16 diz: “Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem
demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca”. O Senhor estava
falando à igreja em Pérgamo. Alguns seguiram o ensinamento dos nicolaítas. Eles
consideraram bom esse ensinamento. Por isso o Senhor disse que tinham de se
arrepender. Eles tinham de considerar que as obras dos nicolaítas eram más;
eles deviam mudar sua visão e conceitos. O versículo 21 diz: “Dei-lhe tempo
para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua
prostituição”. Ela cometeu fornicação, mas não considerou isso algo impróprio.
O versículo 22 diz: “Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação
os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita”.
Isso novamente nos mostra que eles tinham de se arrepender das obras passadas.
Se não se arrependessem Deus iria lançá-los em grande tribulação. Apocalipse
3.3 diz: “Lembra-te, pois, de como tens recebido e ouvido, guarda-o e
arrepende-te”. Aqui, o Senhor está novamente chamando-os ao arrependimento,
isto é, para que eles mudassem a visão sobre a conduta deles. O versículo 19
diz: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e
arrepende-te”.
Depois
de ver como a palavra é usada em Lucas, Atos e Apocalipse, podemos entender
agora o que arrependimento realmente significa na Bíblia. Arrependimento é uma
mudança de mente, mas é sempre usado em referência às obras do passado e jamais
usado em referência à conduta no futuro. Arrependimento é a mudança na mente de
uma pessoa, que lida com as falhas, os pecados, os erros, a falta de zelo e a
impiedade do passado. Isso significa que agora vemos todas essas coisas como
erradas e impróprias. Esse é o significado do arrependimento. Podemos dizer que
fé é olhar para Cristo e arrependimento é olhar para nós mesmos na luz de
Cristo. Enquanto ainda somos pecadores, o Espírito Santo brilha em nós e nos
expõe diante de nós mesmos. Isso é arrependimento. Isso é o mais necessário e
indispensável. Sem o iluminar do Espírito Santo e a percepção de nós mesmos,
não podemos levantar os olhos ao Senhor Jesus. A obra do arrependimento é
similar às obras da lei que abordamos nos capítulos anteriores. O propósito de
Deus é que o homem receba Sua graça. Mas o homem pecou. Ele não tem luz. Ele
não sabe que tipo de pessoa é. Não sabe que está condenado perante Deus, que é
absolutamente inútil e, portanto, incapaz de receber a graça de Deus. Vamos
supor que você esteja muito doente e que seus dois pulmões estejam
completamente infectados. Você pode dizer que tem uma boa aparência e está
corado. Você não acha que um bom remédio ou um médico sejam necessários. Agora
suponha que faça uma radiografia. Depois de ver o resultado, admitirá que é um
homem doente e que necessita de descanso e tratamento. Portanto, arrependimento
é o objetivo de Deus ao dar a lei. Pelo arrependimento, pelo iluminar de Deus,
o brilhar do Espírito Santo e a Palavra de Deus, vemos que nossas obras
passadas estavam todas erradas e que nosso modo de vida era impróprio. Deus
diagnosticou nossa doença e devemos admitir que estamos errados. Isso é
arrependimento. Havia um irmão que sempre carregava as pesadas bagagens dos
outros que viajavam com ele. Ele se oferecia porque achava que os outros não
eram saudáveis e que ele tinha uma boa saúde. Uma vez, depois de haver feito um
serviço pesado, sugeri que ele fosse ao hospital e fizesse uma radiografia. No
começo ele se recusou. Argumentamos que não lhe causaria nenhum mal, mesmo se
não estivesse doente. Ele, então, foi. Descobriu que tinha tuberculose. Daí em
diante, seu comportamento mudou completamente. Não tinha coragem para fazer
mais nada. Quando pedíamos a ele para fazer alguma coisa, ele fazia de tudo
para recusar. Sua mudança foi tão drástica como se ele fosse duas pessoas
diferentes no mesmo dia. Em um momento pensava que ele era tão saudável e que
tinha pulmões tão bons. No outro momento sua avaliação de si mesmo mudou
completamente. Ele tinha uma visão e uma avaliação diferentes de si mesmo. Isso
é chamado de arrependimento. Arrependimento é necessário. Esse é o objetivo que
Deus quer alcançar mediante a lei.
Se
não compreendermos o arrependimento e pensarmos que é uma mudança do nosso
comportamento futuro, somos absolutamente ignorantes a respeito da salvação de
Deus. A salvação de Deus nunca tenta melhorar a natureza adâmica. Se o
arrependimento se referisse ao futuro, isso significaria que o velho Adão e o
homem carnal ainda teriam possibilidade de aprimoramento e progresso. Mas o
Senhor Jesus disse: “O que é nascido da carne é carne” (Jo 3.6). A carne nunca
irá avançar para se tornar o espírito. Só o que é nascido do Espírito é
espírito. Se o arrependimento refere-se ao futuro, então o fundamento da
salvação de Deus é derrubado. Não somente não somos capazes de melhorar-nos,
como necessitamos ser eliminados. A salvação de Deus não deixa lugar para o
homem carnal. Ela elimina o homem completamente. Quando o Senhor Jesus foi
crucificado, todos os homens foram crucificados com Ele. Nosso velho homem foi
crucificado na cruz. Graças a Deus que o Senhor Jesus é um alfaiate que faz
roupas. Ele não é um remendeiro, que remenda roupas. Não que nossa roupa esteja
rasgada e o Senhor Jesus vem remendá-la por nós. O Senhor Jesus somente faz
roupas novas; Ele não remenda roupas velhas. Talvez sejamos pobres e estejamos
dispostos a usar roupas velhas. Mas na casa de Deus ninguém usa roupa
remendada. Não há tal coisa na salvação de Deus. Deus disse que o primeiro Adão
está terminado e que todo o comportamento no primeiro Adão também está
terminado. Agora, estamos no último Adão. Hoje, tudo foi realizado pelo Senhor
Jesus. Ele quer ser a nova vida em nós. Portanto, arrependimento na Bíblia não
se refere a um comportamento futuro; ao contrário, refere-se a uma mudança no
conceito relacionado com o passado. Arrependimento bíblico é uma mudança de
visão em relação ao passado. Arrependimento bíblico é antes uma visão a
respeito de obras passadas em vez de estar relacionado com um comportamento
futuro.
É NECESSÁRIO ARREPENDIMENTO AO RECEBER A SALVAÇÃO DE DEUS
Quando
um fazendeiro planta uma semente, ele pode semear num campo sem ter feito nada
na terra? O trigo cresce muito facilmente. Até para fazer o trigo crescer,
primeiro devemos arar o campo e cultivar o solo. Do mesmo modo, deve haver
primeiro a obra do cultivo na salvação de Deus antes de as plantas crescerem de
maneira profunda. Por isso, os que nunca sentiram que pecaram jamais irão ser
salvos nem os que nunca sentiram que estão errados. Talvez depois que alguém
ouvisse o evangelho completo como estamos pregando agora, seria esclarecido a
respeito da obra de Deus em Cristo e iria alegremente receber o evangelho. Não
ousaria dizer que ele não se arrependeu. Talvez ele tenha se arrependido. Mas o
arrependimento não é profundo. Não há muito da operação do Espírito Santo nele.
Ele não vê que é fraco, imundo e um inútil pecador diante de Deus. Tal pessoa
tem de passar pela experiência de Romanos 7 em seus anos posteriores. Qual é a
experiência de Romanos 7? É uma lição fictícia para quem não se arrependeu. Se
um homem passou pelo arrependimento quando veio a Deus, não há necessidade da
experiência de Romanos 7. Se um homem não se arrependeu e não sabe que está
arruinado diante de Deus, mas recebe o evangelho completo prontamente quando o
escuta, em sua experiência futura, Deus ainda precisa mostrar a ele sua ruína.
É necessário conhecer a si mesmo, do início ou em algum ponto ao longo do
caminho. Deus nunca permite que um cristão não se conheça. Portanto
podemos ver o verdadeiro significado de arrependimento segundo a Bíblia. É um
novo conceito do passado do homem. O arrependimento vê alguém do mesmo modo que
a fé vê o Senhor Jesus. Quando o homem crê, ele vê o que o Senhor Jesus fez por
ele. Quando se arrepende vê as obras que ele mesmo fez no passado. Ver o que
alguém fez no passado é arrependimento, ver o que o Senhor Jesus fez na cruz é
fé. Se quisermos ver o que o Senhor Jesus fez por nós, precisamos primeiro ver
o que nós próprios fizemos. A menos que o ladrão que foi crucificado ao lado de
Jesus tivesse dito claramente com a própria boca que o que ele estava sofrendo
era o que ele merecia, ele não poderia ter dito para Aquele crucificado ao seu
lado: “Lembra-te de mim quando vieres no teu reino” (Lc 23.42). Se estivesse
amaldiçoando os magistrados como agentes dos imperialistas e se não tivesse
visto que o que ele sofreu foi o que merecia, ele não teria visto quem o Senhor
era. Quando não nos vemos, não vemos o Senhor. Quando vemos a nós mesmos, vemos
o Senhor. Isso é arrependimento. Portanto, podemos ver que o arrependimento não
implica nenhum elemento de nós mesmos, de nosso trabalho, de nosso
comportamento. Muitas pessoas dizem que eu não acredito em arrependimento. Isso
não é verdade. Acredito em arrependimento de todo o meu coração, mas acredito
no arrependimento bíblico. Não acredito no arrependimento mental que alguns
tiveram. Se for arrependimento segundo a Bíblia, acreditarei alegremente porque
é real. Ele nos dá uma nova visão e uma nova percepção. Somente desse modo
podemos receber o Senhor pela fé na presença de Deus.
O ARREPENDIMENTO ESTÁ NA FÉ E NA SALVAÇÃO
Como,
então, o homem é salvo? O Evangelho de João nos diz claramente que é pela fé.
Os livros de Romanos e Gálatas também dizem claramente que é pela fé. Gálatas
nos afirma que é somente pela fé. No Novo Testamento existem esses três livros
que tratam da questão da salvação. Todos os três livros dizem que a salvação é
somente pela fé e não pela lei. O arrependimento não é levado em consideração.
Então, qual posição o arrependimento ocupa? Se lermos a Bíblia, veremos que
arrependimento nunca está isolado da fé. Arrependimento nunca está separado da
fé. Isso não significa que uma pessoa é salva pela fé e pelo arrependimento. O
arrependimento está incluído na fé e já está incluído na salvação. Quando um
homem crê no Senhor Jesus, o elemento de arrependimento já está incluído nesse
crer. Se alguém diz que é salvo, então a sua salvação já inclui arrependimento.
O arrependimento nunca está separado da fé. Está sempre incluído na salvação.
Agora
consideremos se o arrependimento é uma condição. No Novo Testamento, na época
do livro de Atos, o Espírito Santo veio e o evangelho completo foi pregado. O
livro de Atos parece mostrar-nos que arrependimento é uma condição para a
salvação. Muitos não interpretaram adequadamente o assunto, porque não viram a
posição do arrependimento. Sem dúvida, o Antigo Testamento também fala sobre
arrependimento. Jonas pregou aos homens de Nínive que se eles não se
arrependessem, Deus iria destruí-los (Jonas 1.1-2). Eles se arrependeram,
vestiram-se de panos de saco, cobriram-se de cinzas e jejuaram. Isso foi por
causa das suas obras passadas. O fato de vestir-se de panos de saco e cobrir-se
com cinzas não foi por causa dos atos futuros. Se fosse, que pano de saco e
cinzas teriam a ver com isso? Arrependimento é lamentar e condenar o
comportamento passado de uma pessoa. Uma pessoa veste-se com pano de saco e
cobre-se com cinzas porque percebe que está errada perante Deus. Anteriormente
ela pensava que estava viva. Agora fica sabendo que estava morta. Portanto
lamenta por suas obras erradas do passado. Isso é arrependimento. Foi isso que
Jonas pregou. Antes que o evangelho do Senhor Jesus viesse, não víamos a
salvação pela fé. O que tínhamos então era somente o arrependimento de obras
passadas.
Mais
tarde João Batista veio. Ele não pregou fé. Somente pregou arrependimento, isto
é, um arrependimento dos atos e das transgressões do passado. Em Mateus 3.8,
ele disse uma coisa muito boa: “Produzi, pois, frutos dignos do
arrependimento”. Ele também disse que: “Quem tiver duas túnicas, reparta com
quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo” (Lc 3.11). Temos de perceber
que isso não é arrependimento. Antes, é o fruto do arrependimento.
Arrependimento refere-se ao passado e o fruto do arrependimento refere-se ao
futuro. No tempo de João, o evangelho completo não tinha ainda sido pregado, e
a luz da verdade não tinha sido ainda totalmente revelada. Para conduzir os
homens a Deus, ele tinha de levá-los a uma visão diferente do passado. Logo
após, o próprio Senhor Jesus veio. O Evangelho de João é diferente dos outros
três evangelhos. Os primeiros três evangelhos falam sobre o que Ele fez na
eternidade. Todo leitor da Bíblia sabe que o Evangelho de João não fala de
coisas relacionadas com o tempo; ao contrário, fala de coisas da eternidade.
Começa com “No princípio” e termina com o recebimento da vida eterna (1.1;
20.22). Os primeiros três livros falam sobre o Filho de Davi, o Filho de Abraão
(Mt 1.1). Isso nos mostra o Cristo no tempo. João nos fala sobre o Cristo na
eternidade (3.13). Os primeiros três livros são transitórios. Portanto, eles
falam sobre arrependimento. Mas por que o Senhor também fala sobre
arrependimento? (Mt 4.17).
Porque
o reino dos céus se aproximara. Pelo fato de o reino dos céus ter se aproximado
temos de arrepender-nos. Mas no Evangelho de João, depois da pregação do
evangelho completo, não há mais nenhuma menção de arrependimento. Em Atos,
alguns versículos também dizem que salvação tem de ser pela fé. Atos 16.31 diz:
“Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa”. Porém em alguns pontos em
Atos, o arrependimento é mencionado sozinho; não há menção da fé. É por isso
que alguns cristãos compreendem mal o arrependimento como condição para a
salvação.
O VERDADEIRO SIGNIFICADO DO ARREPENDIMENTO
Vamos
estudar algumas passagens para ver o que é o arrependimento. Atos 2.37-38 diz:
“Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e
aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Respondeu-lhes Pedro:
Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão
dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo”. Quando alguns leem
esses versículos, eles podem dizer que a fé não é sequer mencionada. Tudo o que
é mencionado é arrepender-se, ser batizado em nome de Jesus Cristo para o
perdão dos pecados e receber o Espírito prometido. Aqui, a fé não é
absolutamente mencionada; em vez disso, somente é mencionado o arrependimento.
Mas não foi o que foi falado anteriormente. O apóstolo não começa com
arrependimento, batismo, perdão dos pecados e recebimento do Espírito Santo.
Esse não era o dia do Pentecoste. Não foi a primeira palavra que Pedro pregou.
Essa foi a última palavra que Pedro falou depois da sua mensagem. Antes disso,
Pedro disse: “Varões israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varão
aprovado por Deus diante de vós, com milagres, prodígios e sinais, os quais o
próprio Deus realizou por intermédio dele entre vós, como vós mesmos sabeis,
(...) vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus
ressuscitou” (vs. 22-24). Pedro estava dizendo: “Esse é o nosso testemunho.
Deus O exaltou até aos céus e O fez Senhor e Cristo. Esse é o testemunho do
Espírito Santo. Deus nos enviou, os apóstolos, para testificar a ressurreição
de Jesus de Nazaré. O Espírito Santo foi derramado concedendo a cento e vinte
pessoas o dom de línguas. Esse é o testemunho do Espírito Santo, testificando
que o Senhor Jesus foi glorificado”. Há dois testemunhos aqui. Os apóstolos
testificam da ressurreição, enquanto o Espírito Santo testifica da glorificação.
O apóstolo Pedro pregou-lhes a palavra de Deus e mostrou o que fizeram ao
Senhor Jesus e o que Deus fez a Ele. O versículo 36 diz: “Esteja absolutamente
certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes,
Deus o fez Senhor e Cristo”. A palavra de Deus foi pregada e os apóstolos
mostraram o que Deus fez e o que eles fizeram. Lembre-se de que um pouco mais
de um mês antes do Pentecoste, o mesmo grupo de pessoas estava gritando: “Fora!
Fora! Crucifica-O!” (Jo 19.15) Eles foram instrumentos no Seu assassinato e
crucificação. Anteriormente, consideraram o Senhor Jesus como digno de morte e
gritaram para crucificá-Lo e soltar Barrabás (Lc 23.18). Que aconteceu? Atos
2.37 diz: “Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram
a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos irmãos?” Isso é acreditar na
palavra de Deus. A palavra de Deus foi pregada e eles a receberam. Eles
perceberam que o que Deus fez ao Senhor Jesus foi muito diferente do que os
homens fizeram a Ele. Além do mais, o Espírito Santo também estava lá
testificando. Eles não podiam recusar esse testemunho. Então, falaram palavras
suplicantes, perguntando o que deveriam fazer agora que tinham crucificado o
Senhor Jesus. Se eles não tivessem crucificado o Senhor, ainda haveria
oportunidade de restituição. Mas uma vez que o Senhor Jesus foi crucificado,
que deveriam fazer? Eles aceitaram o testemunho do apóstolo. Como resultado, o
apóstolo falou que eles deveriam arrepender-se; deveriam arrepender-se por
causa dos conceitos e da visão que tinham a respeito do Senhor Jesus. Além
disso, tinham de ser batizados no nome de Jesus Cristo. Ser batizado é
recebê-Lo, acreditar Nele e confessá-Lo. O significado de estar no nome Dele é
acreditar no Senhor. Quando eles fazem isso, os pecados deles serão perdoados e
eles receberão o dom do Espírito Santo.
Podemos
agora perceber que esse é um grupo de pessoas que receberam a palavra de Deus.
Desde que acreditaram nisso, o apóstolo estava apto a dizer-lhes que se arrependessem.
Isso não atingia o comportamento deles, mas a visão. O apóstolo não estava
dizendo que se eles não mudassem a conduta anterior, não poderiam ser salvos.
Essa não é, absolutamente, uma maneira de lidar com a conduta de uma pessoa. O
que deveriam fazer era julgar a si próprios e ser batizados no nome do Senhor
Jesus como expressão de sua fé Nele. Desse modo, os pecados deles seriam
perdoados e o Espírito Santo seria recebido por eles. Portanto a condição para
a nossa salvação é somente a fé. A salvação nos é dada gratuitamente. Não
fazemos nada para vir a Deus. É o próprio Deus que veio salvar-nos por causa do
Seu Filho, Jesus Cristo. Atos 3.19-20 diz: “Arrependei-vos, pois, e
convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença
do Senhor venham tempos de refrigério”.
Quando
lemos esse versículo, podemos pensar que arrependimento é uma condição para a
salvação. É verdade que o versículo 19 parece indicar que o arrependimento é
uma condição de salvação. Mas precisamos prestar atenção a toda a passagem, do
versículo 1 em diante. Não podemos ler o versículo 19 e explicar de acordo com
o nosso pensamento. Do versículo 1 em diante, temos a história de um homem coxo
sendo curado. Quando esse homem coxo olhou para Pedro, este lhe disse: “Não
possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus
Cristo, o Nazareno, anda!” Quando as pessoas viram um homem que nasceu coxo
começar a andar, elas se maravilharam. Pedro, então, levantou-se para dar uma
mensagem. Primeiro ele explicou que isso não era obra sua, e que não era por
meio da sua piedade que tal pessoa fora levada a andar. Nos versículos 15-20,
ele disse: “Destarte, matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre
os mortos, do que nós somos testemunhas. Pela fé em o nome de Jesus, esse mesmo
nome fortaleceu a este homem (...) arrependei-vos, pois, e convertei-vos para
serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença do Senhor Jesus
venham tempos de refrigério”. Que estava Pedro dizendo? Ele falava sobre fé.
Ele estava falando que cremos que Jesus ressuscitou dos mortos, que cremos em
Seu nome e que esse nome fortaleceu o homem. Aqui estava o homem coxo que todos
conheciam. Foi a fé procedente do Senhor que tornou esse homem são. Se queremos
crer, assim como eles creram, temos de nos arrepender. Se queremos fé, temos de
atentar ao arrependimento. Se queremos recebê-Lo, devemos ter uma nova visão e
avaliação a respeito Dele. Temos de ter essa qualificação. Mencionei antes que
arrependimento jamais pode ser separado da fé, ele está incluído na fé. Antes
de o homem se arrepender, ele não pode crer. Depois que o homem tem fé, ele tem
de se arrepender. Se um homem tem certo grau de fé na palavra de Deus, ele tem
de se arrepender. Não se pode cortar essa questão com uma tesoura, deixando de
um lado a fé e do outro o arrependimento. Isso assemelha-se à experiência de
salvação de muitas pessoas. Se perguntar a cem pessoas quando foram salvas,
talvez cinquenta por cento possa dar-lhe a data e ano exatos da salvação deles.
A outra metade não saberia quando foi salva. Tais pessoas não sabem como
receberam a salvação de Deus. Para elas pouco importa como foram salvas. O
importante é que foram salvas. Tudo bem se não sabem a data do nascimento
delas. Contanto que tenham nascido, acham que está suficientemente bom.
Portanto podemos ver que, no começo, a palavra de Deus era pregada primeiro
(2.16). Se eles não cressem, por que deveriam ser afligidos no coração?
Podemos
perguntar: Se eles realmente creram, por que Pedro lhes disse que deveriam
arrepender-se e ser batizados antes que seus pecados fossem perdoados e o
Espírito Santo derramado? Se haviam crido, por que os pecados deles não foram
perdoados, e por que o Espírito Santo não havia sido derramado ainda? Se disseram
que eles ainda não haviam crido, por que ficaram tão preocupados depois que
ouviram a palavra de Deus? Por que perguntaram o que deveriam fazer? Precisamos
perceber que quando a palavra de Deus é pregada, pessoas diferentes têm reações
diferentes de acordo com a própria condição delas. A condição em Atos era
diferente. Alguns pecadores sentem que pecaram e sentem-se pesarosos por seus
pecados. Quando pregamos o evangelho a tais pessoas, pode ser que nunca
mencionemos arrependimento. Mas algumas pessoas vêm a crer Nele sem perceber
seus próprios pecados. Tais pessoas devem ser reconduzidas ao ponto do
arrependimento. Portanto, quando pregamos o evangelho, temos de prestar atenção
a essa diferença. Alguns chegaram ao Senhor por meio do arrependimento. Nós
somente devemos pedir-lhes que creiam. Outros, precisam ser conduzidos ao
arrependimento e ao reconhecimento do seu estado de pecado. Até mesmo, depois
que Deus concedeu-lhes fé e eles creram, ainda devemos persuadi-los a ser
batizados e ter um coração de arrependimento antes que seus pecados possam ser
perdoados e o Espírito Santo derramado sobre eles. Portanto vemos que o
arrependimento pode ser incluído na fé. Se um homem não se arrepende, como
poderá crer? Se um homem não percebe que está doente, não desejará ver um
médico. Além do mais, o arrependimento também pode ser incluído na salvação. O
homem deve crer na palavra de Deus, ser perdoado e receber o Espírito Santo
depois que se arrepender. Assim vemos que Atos 3 fala também de fé. Esse homem
é salvo e curado pela fé. Está muito claro que aqui se trata de fé. Quando
chegamos ao capítulo 17 vemos algo mais. Atos 17.30 diz: “Ora, não levou Deus
em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos,
em toda parte, se arrependam”. Aqui, Deus não fala ao homem para crer. Se
dependesse de nós, teríamos certamente mudado a palavra “arrependam” para
“creiam”. Mas o que Paulo estava falando nos versículos seguintes não era uma
questão de fé. Se ele nos contasse que esse homem pecou e que o Filho de Deus
cumpriu a obra de redenção e resolveu o problema do pecado, então ele teria de
mencionar a fé. Mas aqui Paulo estava falando sobre julgamento. O versículo 31
diz: “Porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por
meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o
dentre os mortos”. Deus designou o Senhor Jesus como Juiz para julgar todos os
homens. Ao mesmo tempo, para que todos soubessem que Ele designou o Senhor
Jesus como Juiz, Deus ressuscitou a Jesus de entre os mortos como prova da fé
deles. É por isso que diz que precisamos arrepender-nos. Então, não se trata
aqui de uma questão de fé. Por meio da Sua ressurreição dentre os mortos, o
Senhor Jesus tornou-se prova da nossa fé. Ele é digno do nosso crer. Agora já
não há mais necessidade de falar sobre fé. A ressurreição do Senhor Jesus já
está aqui, como prova; é clara e não deixa dúvidas. Agora o que devemos fazer é
arrepender-nos das coisas que fizemos. Então poderemos crer. O Senhor Jesus é
digno do nosso crer. Contanto que nos arrependamos, podemos crer. Atos 26:19-20
diz: “Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas
anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da
Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus,
praticando obras dignas de arrependimento”. Se lêssemos somente esses dois
versículos, pensaríamos que a única coisa que Paulo estava pregando era
arrependimento. Paulo confessou perante o julgamento o rei Agripa que sua
obra era levar os homens a se arrepender, voltar-se para Deus e fazer obras
dignas de arrependimento. Se isso fosse tudo, então o evangelho, de acordo com
Atos, não seria um evangelho de fé. Para entender esse versículo, precisamos
observar a passagem anterior. Não podemos tomar uma porção da Bíblia fora do
contexto. É incorreto fazer isso. Os versículos 14-20 dizem: “E, caindo todos
nós por terra, ouvi uma voz que me falava em língua hebraica: Saulo, Saulo, por
que me persegues? Dura cousa é recalcitrares contra os aguilhões. Então, eu
perguntei: Quem és tu, Senhor? Ao que o Senhor respondeu: Eu sou Jesus, a quem
tu persegues. Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te
apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das cousas em que me
viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos
gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e converteres
das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam
eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em
mim. Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas
anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da
Judeia, e aos gentios, que se arrependessem”. Por que eles deveriam
arrepender-se? Porque o Senhor Jesus completou a obra de redenção. Todos os que
creem Nele certamente obterão essa redenção. Arrependimento é algo para os
cristãos. Tudo está feito. Agora, tudo o que é necessário é arrepender-se. Que
é arrepender-se? Anteriormente, uma pessoa dizia que não havia necessidade de
crer. Agora, ela diz que irá crer. Isso é arrependimento. Suponha que eu veja
uma pessoa hoje e lhe pregue o evangelho contando que o Senhor Jesus realizou
todas as coisas. Posso dizer: “Meu amigo, você tem de se arrepender e crer no
Senhor. Assim que crer, será salvo. Você tem de ter uma visão diferente em
relação ao pecado. Também precisa ter uma visão diferente em relação à fé no
Senhor Jesus. Você deve arrepender-se da sua condição interior; dessa maneira
será capaz de crer”. Podemos ver que o arrependimento abordado aqui não é uma
questão de obras. Como sabemos que não é uma questão de obras? É porque o
arrependimento está incluído na salvação de Deus. Arrependimento é parte da
salvação. Tal arrependimento nada tem a ver com a obra do homem e também se
torna um item dentro da extensão da fé. Nos poucos versículos que acabamos de
ler, podemos ver uma coisa misteriosa — que o arrependimento é parte do ato de
crer. Sem arrependimento, não pode haver fé. Portanto, fé inclui
arrependimento, e o arrependimento está na fé.
O ARREPENDIMENTO É DADO POR DEUS
Outro
versículo nos fala que o arrependimento não está relacionado somente com a fé,
mas está igualmente relacionado com a salvação; é Atos 5.31, que diz: “Deus,
porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a
Israel o arrependimento e a remissão de pecados”. Vemos aqui que o
arrependimento é dado por Deus, da mesma maneira que o perdão é dado por Ele.
Poucas vezes na Bíblia arrependimento e perdão estão colocados juntos. Atos 2
diz que o arrependimento é para remissão de pecados (v. 38). Atos 3 diz que o
arrependimento resulta na remissão dos nossos pecados (v. 19). Dois outros
lugares mencionam somente o arrependimento, sem perdão. Em dois desses quatro
exemplos, arrependimento e perdão são colocados juntos. O arrependimento está
ligado à salvação. A remissão é algo que Deus inicia. O arrependimento também é
algo que Deus inicia. O dom do perdão é dado por Deus. Portanto o
arrependimento é parte da fé e parte da salvação; ambos são algo que Deus
inicia. Deus dá arrependimento ao homem do mesmo modo que Ele dá o perdão. É a
palavra de Deus que vem a nós. É Deus que nos ilumina e nos diz que o nosso
passado estava errado. É Deus que nos dá um coração de arrependimento, que nos
leva ao arrependimento. Fico maravilhado com isso. Isso é salvação! Visto que
não conseguimos ver nosso passado, Deus nos ilumina com Sua luz. Essa é a
maneira de Deus trabalhar.
Se
o rosto de uma criança estiver sujo, sua mãe não lhe pedirá que arranje
dinheiro para comprar uma toalha para limpá-lo. Em vez disso, a mãe encontrará
uma toalha e dirá à criança que a use. Quando Deus quer que nos arrependamos,
Ele próprio nos dá o arrependimento do mesmo modo como Ele nos dá o perdão.
Deus mesmo nos dá arrependimento e, então, podemos ver nosso passado e perceber
quão baixos, fracos e corruptos nós éramos. Depois disso, Ele nos diz para nos
arrepender. Lucas 24.45-47 é a passagem mais surpreendente. Ela diz: “Então
lhes abriu a mente para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está
escrito que o Cristo havia de sofrer e ressuscitar dentre os mortos ao terceiro
dia e que em Seu nome se proclamasse arrependimento para perdão de pecados”.
Aos que são mencionados aqui foi pregado arrependimento para perdão. Nós
devemos pregar perdão em Seu nome. Também devemos pregar arrependimento em Seu
nome. Hoje podemos arrepender-nos no nome do Senhor porque o Senhor nos deu arrependimento.
É como se Deus criasse dois olhos em nós e, então, nos pedisse para ver. Se não
tivéssemos dois olhos, ser-nos-ia difícil ver. Graças ao Senhor que primeiro
Ele nos dá olhos e depois nos pede para ver. Primeiro Ele nos dá pés e depois
nos pede para andar. É a mesma coisa com arrependimento. Primeiro Ele nos
concede arrependimento, e depois nos pede para que nos arrependamos. Tudo isso
é feito por Deus. Portanto, quando pregamos o evangelho, podemos dizer que
assim como tivemos perdão por intermédio do Senhor Jesus, da mesma maneira
temos arrependimento por meio Dele. Se um homem diz que não pode arrepender-se,
que ele ainda considera o pecado atrativo e que ainda não sente que é um
pecador, podemos dizer-lhe: “Está bem. Eu estou agora pregando o evangelho para
você no nome de Jesus. Deus lhe dará o arrependimento. É uma parte da salvação.
Assim como recebe vida e é justificado diante de Deus, do mesmo modo você
recebe arrependimento”.
O Caminho da Salvação — Não é a Confissão ou a Oração
Vimos
nos capítulos anteriores que o caminho para uma pessoa ser salva não é por meio
do cumprimento da lei, das boas obras ou do arrependimento. Aqui devo
esclarecer um ponto: estamos somente discutindo o modo da salvação e não a
condição para a salvação. Isso é devido ao fato de que simplesmente não se
requer nada do homem para ele ser salvo. Deus preencheu todos os requisitos. A
pergunta diante de nós agora é: Qual é o caminho para sermos salvos? Não estamos
tratando da questão da condição, pois isso implica que a pessoa tem de labutar
por sua salvação.
O CAMINHO DA SALVAÇÃO NÃO É A CONFISSÃO
Agora
iremos considerar o quarto “não é”. Agradecemos a Deus porque, nos últimos
anos, Ele se moveu em vários lugares e fez com que várias pessoas se
conscientizassem do que é o pecado e da necessidade de o Senhor Jesus ser o
Salvador delas. Porém, sem entendimento da Bíblia, frequentemente
elas adicionam suas próprias palavras às das Escrituras. Fazendo assim, elas
inventam diferentes maneiras para a salvação, tal como o cumprimento da lei,
boas obras, arrependimento e assim por diante. O método popular hoje é a
confissão dos pecados. Existem alguns que defendem que salvação é pela
confissão, que é necessário ao homem não somente se arrepender, mas confessar
seus pecados. Certa vez ouvi uma pessoa, muito usada pelo Senhor, dizer que
quando Jesus morreu, Ele pregou na cruz pedaços de papel nos quais nossos
pecados foram escritos, e em cada folha foi escrito um dos nossos pecados. Ele
disse que quando recebemos o Senhor Jesus como Salvador, temos de confessar
nossos pecados diante de Deus ou diante dos homens. Uma vez que a confissão é
feita com relação a certo pecado, o registro daquele pecado é removido da cruz.
Em cada confissão adicional seria removido outro pedaço de papel. Você seria
finalmente salvo quando todos os seus pecados tivessem sido confessados e todas
as folhas de papel fossem rasgadas. O que esse homem pregava não era o
evangelho de Deus nem o do Novo Testamento; ele introduziu um evangelho humano,
o qual afirma que se uma pessoa confessar ao homem e a Deus, seus pecados ainda
terão que ser removidos da cruz. Ele falhou totalmente em não perceber o que o
Senhor Jesus cumpriu. Ainda posso lembrar-me do caso de um irmão de Kulim que
não tinha estudo e que estava em Xangai há algumas semanas. Ele era
eletricista. Era semi-analfabeto até recentemente. Algum tempo atrás podia
somente identificar o pronome “Eu” e não “Nós”. Não era capaz de reconhecer a maioria
das palavras num versículo bíblico, e precisava pedir ajuda sete ou oito vezes
para ler um simples versículo. Certa vez ele me disse: “Fui ouvir um sermão de
uma pessoa muito famosa. Esse homem afirmava que devemos confessar nossos
pecados em público; assim, cada pecado que confessamos será pregado na cruz. Se
não confessarmos nossos pecados abertamente para crucificá-los, não poderemos
ser salvos. Ele disse que precisamos crer na palavra da cruz e se não pregarmos
nossos pecados na cruz pela confissão, não haverá maneira de sermos salvos,
pois isso significaria que não confiamos na cruz. Depois do sermão, o pregador
fez perguntas para a audiência para ver se havia algum ponto que não estava
claro”. “Sr. Nee”, continuou o irmão, “eu não estudei. Se tivesse de me
levantar na reunião para ler um versículo das Escrituras, as pessoas iriam
provavelmente corrigir-me sete ou oito vezes. Mas quanto mais eu ouvia o homem
falar, mais sentia algo a me incomodar. Senti que o Espírito Santo não me
deixaria ir, a menos que eu me levantasse. Mas realmente não sabia o que falar.
Finalmente levantei-me. Lá estava o pregador no púlpito e aqui estava eu em pé.
Eu perguntei: ‘De acordo com sua pregação somos salvos pela nossa própria cruz
ou pela cruz de Cristo?’ e sentei-me. Sr. Nee, pode me dizer se fiz a pergunta
certa?” Eu falei ao irmão que nem um doutor em teologia ou um supervisor
paroquial teria tal Clareza. Essa é a questão-chave: Somos salvos por nossa
própria cruz ou pela cruz de Cristo? É a cruz de Cristo ou a minha própria cruz
que me salva? Aquele sermão foi, sem dúvida, a palavra da cruz, mas qual cruz?
Quando Paulo disse: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e
este crucificado” (1 Co 2.2), ele não fez alusão a Cristo e à cruz, mas a Cristo
e a Sua cruz. Caro leitor, não somos salvos por nossas próprias obras, mas pela
cruz de Cristo. Todavia o homem equipara confissão de pecados com obras e tenta
ser salvo por meio de tal confissão. Essa é a razão pela qual devemos
considerar agora o que a Bíblia nos diz sobre confissão. Devemos examinar toda
a Bíblia para achar a posição adequada que devemos tomar quanto a esse assunto.
CONFISSÃO NA BÍBLIA
Permitam-me
primeiramente dizer algumas palavras a fim de que não pensem que não creio em
confissão ou restituição. Os cristãos devem confessar seus pecados e fazer
restituição. Admito que essas são verdades na Bíblia e, como tais, devem ser
aplicadas. Mas tenho de acrescentar que a Bíblia nunca considera a confissão
como um caminho para a salvação. Se pensamos que podemos ser salvos por meio da
confissão, então a solução para o problema dos nossos pecados ainda não está
clara para nós. Estamos presumindo que há outro método de redenção fora a cruz
de Cristo. Podemos até imaginar que podemos lidar com nossos próprios pecados
diante de Deus e dos homens sem a cruz de Cristo.
1 JOÃO 1.9
Vejamos
um versículo que muitas pessoas gostam de citar, 1 João 1.9, que diz: “Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça”. Há algumas pessoas que, baseadas nesse
versículo, afirmam ser a confissão realmente um requisito para a salvação.
Porém tenho de chamar a sua atenção para alguns pontos nesse versículo.
Primeiro, o que é mencionado aqui, definitivamente não é uma confissão pública.
A Primeira Epístola de João, capítulo 1, versículo 9, trata de nossos problemas
diante de Deus quando diz: “Se confessarmos os nossos pecados”. Isso é
diferente da prática comum de confissão diante dos homens. Em 1 João 1.9 nada é
dito sobre confissão pública. Segundo, o pronome nós nesse versículo não é o
mesmo pronome usado nos livros de Romanos e Gálatas. Em 1 João 1.9, esse
pronome nada tem a ver com os judeus. A Primeira Epístola de João também é
diferente do evangelho de João. O Evangelho de João mostra-nos como um
incrédulo pode obter vida, enquanto sua epístola conta-nos como alguém que tem
vida demonstra diante do homem que de fato possui essa vida. Seu evangelho
revela a maneira de receber vida, enquanto sua epístola revela como alguém que
possui tal vida demonstra o que possui. Então, devidamente explicado, o “nós”
no versículo 9 de 1 João 1 não se refere aos pecadores, mas aos cristãos. O
Evangelho de João descreve como um pecador é justificado por Deus, mas a Primeira
Epístola de João mostra como um cristão pode restaurar sua comunhão com Deus. A
palavra na epístola não discute como o mundo pode crer em Jesus para obter a
vida eterna. Ela indica como podem ser perdoados por Deus os pecados de alguém
que tem a vida eterna, e como tal filho de Deus que falhou pode ser purificado
de sua injustiça. Portanto, esse versículo faz referência somente aos cristãos,
aos que foram salvos e justificados, que possuem a vida eterna. Lembre-se de
que alguém salvo é perdoado pelo fato de confessar seus pecados, ao passo que
uma pessoa não-salva é perdoada dos seus pecados pela fé. Pecadores são
perdoados por crerem no Senhor e os cristãos são perdoados por confessarem seus
pecados diante do Pai. O versículo 9 de 1 João 1 não trata dos pecados de um
pecador, mas com os de um cristão; não com os pecados cometidos antes da
salvação de uma pessoa, mas com os cometidos depois de a pessoa ter sido salva.
Consequentemente, esse versículo nada tem a ver com o nosso assunto do momento.
Agora,
eu não seria tão rigoroso em dizer que esse versículo pode somente ser aplicado
aos cristãos. Pelo contrário, admitiria que alguém pode tomá-lo emprestado das
Escrituras e utilizá-lo para fazer com que as pessoas sejam salvas.
Recentemente uma irmã contou-me que certa senhora foi salva ao ler a frase: “A
semente é a palavra de Deus” (Lc 8.11). Não sei como isso pode ter acontecido.
Quando eu preguei o evangelho pela primeira vez, estava convencido de que temos
de usar porções esclarecedoras das Escrituras a fim de salvar as pessoas. Porém
muitas experiências recentes ensinaram-me, digo isso reverentemente, que muitos
são salvos por meio de versículos estranhos. Não se pode imaginar que alguns
versículos tão estranhos podem salvar as pessoas. Não estou insistindo que
nenhum pecador pode ser salvo por meio de 1 João 1.9. Estou dizendo que quando
João foi movido pelo Espírito Santo para escrever sua Epístola, em sua mente
esse versículo referia-se aos cristãos e não aos pecadores. Originalmente ele
escreveu para os cristãos. Embora alguém possa temporariamente tomar emprestada
essa palavra e aplicá-la a um pecador, ele não pode continuar tomando-a
emprestada. Estritamente falando, tal versículo refere-se aos cristãos e não
implica que alguém tenha de confessar seus pecados publicamente e fazer
restituição aos outros para ser perdoado.
MATEUS 3.5 e 6
Existem
ainda outros dois versículos que parecem ser até mais óbvios do que 1 João
1.9; são os versículos 5 e 6 de Mateus 3, que dizem: “Então, saíam a ter com ele
Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhança do Jordão; e eram por ele
batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados”. Aqui nos é dito que
quando as pessoas ouviram o testemunho de João e perceberam sua própria
pecaminosidade, foram até João para serem batizadas por ele e confessaram os
pecados enquanto eram batizadas. Novamente, alguns pontos devem ser notados
nesses versículos. Primeiro, nenhum dos dois versículos indica que as pessoas
tomaram a confissão como o caminho da salvação. Elas não tentaram obter
salvação pela confissão. É simplesmente dito que elas escutaram a pregação de
João sobre arrependimento, foram compelidas pelo Espírito a ser batizadas e a
confessar os pecados. Elas estavam, de fato, olhando para o próprio Senhor, que
estava para passar pela morte e ressurreição, e em quem esperavam para a
salvação. Embora João batizasse, suas mãos estavam, na verdade, conduzindo-as
ao Senhor Jesus que estava entre elas. Foi ele que disse: “Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29). O batismo da igreja e o de João
Batista referem-se ao Cristo que morreu e ressuscitou. João prontamente admitiu
quão pequeno era, declarando: “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo
3.30) e que o povo não devia crer nele, mas Naquele que viria. Embora tivesse
preparado o caminho, ele não era o caminho; o caminho era Aquele que viria, o
qual ele anunciava. Como, então, as confissões eram feitas? Como João não falou
para eles confessarem seus pecados, seus ouvintes devem tê-lo feito por si
mesmos. Suponhamos que um de nós, um obreiro, acabou de testemunhar pelo
Senhor, e sem nenhum tipo de persuasão, ordenança, exigência ou sugestão, os
ouvintes tenham sido profundamente iluminados por Deus na consciência em
relação aos seus pecados. Eles são compelidos a levantar para admitir que
cometeram certos pecados específicos. Em resposta a isso, eu diria simplesmente
“Amém” e “Aleluia”. Louvaria e nunca me oporia a esse tipo de confissão aberta
diante dos homens. Se João tivesse dito que um homem não poderia ser salvo ou
perdoado a menos que confessasse seus pecados, e se João realmente tivesse
encorajado, impelido, ordenado e induzido as pessoas a confessarem seus
pecados, então suas ações dificilmente iriam igualar-se ao que está registrado
em Mateus 3.6. De acordo com esse versículo, os ouvintes confessaram seus
pecados por conta própria, eles não foram encorajados por João.
Não
presumam que não creio na confissão de pecados. Temos sempre encorajado irmãos
e irmãs a fazerem confissões uns aos outros. Porém recusamo-nos a aceitar a
confissão como o meio para a pessoa ser salva. Existe somente um meio de
salvação determinado nas Escrituras que é a fé. O “antigo” João Batista nunca
induziu ninguém a confessar seus pecados. Nem deveria algum “moderno” João
Batista constranger qualquer homem a fazer o mesmo. É claro que, se a pessoa ao
conscientizar-se dos seus pecados levantar-se para fazer uma confissão, devemos
deixá-la fazer assim. Você deve ter ouvido sobre o grande reavivamento do País
de Gales. Tive oportunidade de estudar, em detalhes, registros sobre aquele
reavivamento. Muitos fizeram estudos sobre ele. Esse foi o maior de todos os
reavivamentos, e começou entre os anos de 1904 e 1905. Um correspondente de um
famoso jornal britânico foi realmente ao País de Gales em 1909, a fim de
conduzir uma investigação sobre o evento. O País de Gales não era um lugar
pequeno. Os pastores de uma das cidades disseram ao repórter que o número de
almas salvas havia diminuído para quase nenhuma nos dois anos anteriores.
Quando o correspondente perguntou se o reavivamento estava em declínio, eles
responderam: “Sim. Não existe mais ninguém aqui querendo ser salvo, porque
todos já foram salvos”. Sabendo que o reavivamento começou com Evan Roberts,
ele então perguntou sobre seu paradeiro. Eles responderam: “Não temos ideia”.
Quando perguntou-lhes sobre a hora das reuniões, responderam “não sabemos”. Do
mesmo modo, quando inquiriu-os sobre o local de reuniões, repetiram “não
sabemos”. Eles não sabiam onde estava o líder do reavivamento nem a hora e o
lugar das reuniões. O repórter, então, perguntou o que ele deveria fazer, ao
que responderam: “Nós nos reunimos a qualquer hora, até mesmo à meia-noite ou
de manhã cedo. Não sabemos onde Evan Roberts está, mas ele pode aparecer a
qualquer hora. Há reuniões de reavivamento em quase todos os lares. Você
encontra pessoas orando em vários lares e em horários diferentes durante a
noite. Mas é difícil achar Evan Roberts. Ninguém sabe onde ele estará”. O
repórter comentou que nunca havia testemunhado um reavivamento como esse em
toda a sua vida. Ele estava determinado a achar Evan Roberts. Seus esforços nas
semanas seguintes, porém, não produziram resultado algum. Um dia, quando alguém
contou-lhe que Evan Roberts estava em uma pequena capela, ele imediatamente foi
ao lugar. Ele comentou que a reunião que presenciou foi a mais caótica. Uma mãe
estava amamentando seu bebê; alguns estavam correndo para dentro e fora da
reunião como se fossem vendedores de alguma coisa; uma mãe estava consolando
uma criança que chorava, enquanto outra, usando uma cadeira como berço,
balançava o filho para dormir. O lugar estava uma bagunça. E ainda parecia
haver um inexplicável e único elemento no ambiente. “Onde está Evan Roberts?”
perguntou o repórter. “O quarto homem da terceira fileira”, alguém respondeu.
“A senhorita Penn -Lewis também está aqui. Lá está ela naquela fileira”.
Estavam todos em silêncio nos seus assentos. De vez em quando alguém se
levantava para pedir um hino ou outro se levantava para ler alguns versículos
das Escrituras. Quando uma ou duas horas se passaram sem uma única palavra das
pessoas, ninguém pediu licença para sair. Em certos momentos alguns se
levantaram para confessar seus pecados sem serem admoestados para fazer assim.
Amigos, tal obra é a obra de Deus. É diferente dos sermões de púlpito onde se
contam histórias de pessoas em seu leito de morte com a intenção de convencer o
público de que eles têm de confessar os pecados ou não serão salvos totalmente.
Não estou proibindo a confissão. Existem momentos em que uma pessoa deve
confessar seus pecados.
Em certas ocasiões alguém deve até declarar a uma multidão que tipo de pessoa
ele foi e como Deus trabalhou nele. Porém, nada disso deve ser o resultado do
estímulo do pregador no púlpito. Algumas vezes há mais do que estímulo; é como
se alguns estivessem ordenando. O que está em Mateus 3.6 é realmente uma
confissão pública, mas é o resultado espontâneo da obra do Espírito Santo e não
o resultado de uma ordem de João. Não estou me opondo à confissão aberta; estou
meramente opondo-me a esse tipo de confissão obrigatória; e muito menos estou
me opondo à obra do Espírito Santo. Gostaria que existisse mais de tal obra! Se
uma pessoa é conduzida pelo Espírito a confessar seus pecados, todos temos de
dizer: “Ó Deus, agradecemos-Te e louvamos-Te, porque tens trabalhado no nosso
meio”. Mas temos de nos opor a qualquer ensinamento que diga que a confissão
precisa ser feita de certa maneira e até certo nível antes de certos resultados
serem conseguidos. Não podemos trocar confissão por salvação. Não temos de
tomar confissão de pecados como nossa maneira de salvação.
Temos
de notar que na sentença: “E eram por ele batizados no rio Jordão, confessando
os seus pecados”, o principal predicado segundo a língua original não é
“confessando”, mas “eram por ele batizados”. Então, as pessoas estavam sendo
batizadas por João no rio Jordão e enquanto estavam sendo batizadas, também
confessavam seus pecados. Podemos dizer que “ele falou, andando”, que significa
que alguém estava falando e andando ao mesmo tempo. Enquanto ambos, “falar” e
“andar”, são verbos, “falou” é o principal predicado e ”andando” o verbo
subordinado. Portanto, alguém falava, mas fazia isso enquanto andava. Do mesmo
modo, em Mateus 3 as pessoas foram batizadas no rio Jordão enquanto
confessavam, significando que ao serem batizadas elas estavam simultaneamente
confessando os pecados. Esse é o sentido original em grego. Então, vemos que
não existe um método para a confissão, mas uma ação que ocorreu. Enquanto as
pessoas estavam sendo batizadas, estavam admitindo que estavam erradas nisso e
naquilo. O quadro aqui é do Espírito Santo trabalhando no meio delas, mais do
que uma obra reguladora. Elas estavam sendo batizadas e confessando, como o
exemplo de alguém falando e andando ao mesmo tempo. De nenhum modo nesse
versículo a confissão é tratada como uma maneira de salvação.
ATOS 19.18 E 19
Existem
somente três trechos no Novo Testamento que registram esse assunto de confissão
de pecados. Chegamos agora ao terceiro trecho, que é Atos 19.18 e 19, que diz:
“Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando publicamente as suas
próprias obras. Também muitos dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo
os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculados os seus preços,
achou-se que montavam a cinquenta mil denários”. Embora aqui exista somente a
palavra “confessando” sem a menção de “pecados” é a eles que se refere. Em 1
João 1.9, diz “confessar nossos pecados”, em Mateus 3.6, diz “confessando os
seus pecados” e aqui diz “confessando” e “fazendo conhecidas as suas práticas”.
Primeiro, a confissão e a divulgação das suas práticas não foram consideradas
como uma maneira de salvação. Segundo, os que confessaram e narraram as
práticas não eram pecadores, mas cristãos, pessoas que eram de Cristo. Isso
pode ser comparado a alguns irmãos e irmãs levantarem-se nas reuniões para dar
um testemunho confessando o que fizeram no passado. Isso pode também ser
comparado a alguns que testemunham no seu batismo as coisas que fizeram no
passado. Nós também não somos salvos por meio desse tipo de confissão. Alguns
creram e tornaram-se do Senhor. Eles agora confessam o seu passado. Admitem que
foram malignos. Não têm mais receio de contar aos santos que foram transferidos
do barro lamacento para uma rocha sólida. Quando os efésios queimaram os seus
livros de magia, eles estavam fazendo uma demonstração pública de que, embora
tivessem praticado essas coisas, agora pertenciam ao Senhor. Terceiro, “E
muitos dos que creram vieram”. Nem todos vieram. Nem todas as pessoas salvas
precisam confessar nas reuniões. Quando isso ocorre é porque o Espírito Santo
se move fortemente para impelir as pessoas a se levantarem para expor suas
práticas a fim de glorificar a Deus mostrando a extensão da salvação de Deus
nelas. Amigo, você pode descobrir por intermédio dessas três porções da Palavra
que o caminho da salvação é mediante a fé e não pela confissão pública.
Essas
são as três porções do Novo Testamento onde a confissão de pecados é tratada
especificamente. Existe outro lugar, em Tiago 5.16, onde confessar os pecados
uns aos outros é mencionada. Tiago nos fala que quando um irmão ou irmã está
doente, os presbíteros da igreja devem ser chamados para orar sobre a pessoa
doente e ungi-la. E se alguns pecados estão envolvidos, deve haver confissão
mútua e perdão. Essa é uma questão diferente do assunto deste livro. Vimos
todas as passagens no Novo Testamento a respeito da confissão de pecados. Você
vê agora qual é a maneira de alguém ser salvo? É mediante a fé e não pela
confissão de pecados.
SOBRE A PRÁTICA DA CONFISSÃO
Deixem-me falar um pouco a respeito da prática da confissão de pecados. Todos nós sabemos a quem ofendemos e defraudamos antes de ser salvos. Depois que fomos salvos, sentimos tristeza no coração e desejamos confessar àquelas pessoas. Isso é algo que devemos fazer. Deus ordena, até mesmo nos compele a fazê-lo. Isso é ensinado nas Escrituras. Tendo visto a justiça de Deus e a glória em Sua presença, agora percebemos que é injusto dever algo aos outros. Que faremos, então? Nós nos recusamos a ser pessoas injustas. Até falamos a nós mesmos: “Eu sou salvo. Vou ser um homem justo. Vou lidar totalmente com todas as áreas nas quais fui injusto ou errado com os outros para que então possam perdoar-me”. Bem, não há problema com seus pecados perdoados diante de Deus, mas você tem de confessar aos homens as suas ofensas. Tal confissão e restituição absolutamente não são o caminho para a salvação. Você não precisa fazer confissão e indenização para que seja salvo. Como uma pessoa salva e alguém que é justo, você está meramente pedindo perdão às pessoas que enganou. O ladrão na cruz deve ter roubado e pecado contra muitos. Porém não teve oportunidade de confessar e restituir a ninguém, porque mal podia mover-se na cruz. Ele não podia devolver nenhum item que roubara dos outros. Porém, sem nenhuma confissão ou restituição, ele ainda pôde ser salvo. O Senhor Jesus disse para ele: “Hoje estarás Comigo no Paraíso” (Lc 23.43). Podemos considerar esse ladrão como a primeira pessoa a ser salva no Novo Testamento. Ele foi o primeiro a ser salvo depois da morte do Senhor. Portanto, o problema não é de confissão. O ladrão na cruz, embora privado da oportunidade de fazer restituições, foi, contudo, salvo. Se ele vivesse, deveria fazer restituições por causa da justiça. A questão da sua salvação foi resolvida na cruz num instante. Confissão é algo que segue a salvação. Ele já foi salvo na cruz; sua salvação não foi absolutamente devida a nenhum tipo de confissão ou restituição. Se ele confessasse seus pecados mais tarde, isso não o teria salvo ainda mais. Aqui é mostrado claramente que a salvação é pela fé, enquanto a confissão é uma expressão espontânea do viver cristão. Já que agora conhecemos nosso Deus justo, desejamos clarificar o problema dos nossos pecados diante do homem. Nossa salvação é totalmente uma questão entre nós e o Senhor Jesus; ela é resolvida somente por meio Dele.
Há
três fatos aqui sobre os quais devemos ter clareza. Primeiro, confessar nossos
pecados diante de Deus, julgando-nos, arrependendo-nos e conscientizando-nos de
que somos pecadores. Tudo isso é feito diante de Deus. Isso nos leva a ter fé e
receber o Senhor Jesus como nosso Salvador. Segundo, depois que fomos salvos, tornamo-nos
conscientes de nossas ofensas contra outros e desejamos clarificá-las.
Desejamos fazer restituições e confessar àqueles que defraudamos, e então
poderemos viver uma vida justa na terra. Terceiro, depois que fomos salvos,
quando o Espírito Santo trabalha em nós, queremos contar aos outros que tipo de
pecadores éramos e quantos pecados cometemos. Podemos fazer isso durante nosso
batismo e podemos fazê-lo depois do batismo. Não sei se isso está claro ou não
para você. Nunca valorize demais a confissão de pecados. Temos de colocá-la no
lugar estabelecido pela Bíblia. Já que a Bíblia nunca a considera como um
caminho para a salvação, também não devemos considerar. Graças a Deus foi o
Senhor Jesus que me salvou. Não me salvei . Graças a Deus foi a cruz de Cristo
que me salvou. Não sou salvo por minha própria cruz; a cruz de Cristo fez a
obra de salvação.
O CAMINHO DA SALVAÇÃO NÃO É A ORAÇÃO
Chegamos
agora ao quinto "não é". Existem muitas pessoas que irão adicionar
outra condição para a salvação. Não é guardar a lei ou o bom comportamento, nem
é arrependimento ou confissão. Elas dizem que uma pessoa tem de orar para ser
salva. Elas baseiam sua afirmação em Romanos 10: “Todo aquele que invocar o nome
do Senhor será salvo” (v. 13). Como resultado, alguns acreditam que têm de
implorar diante de Deus antes que possam ser salvos. Em várias ocasiões
encontrei algumas pessoas que queriam ser salvas. Elas disseram: “Diariamente
eu peço ao Senhor para salvar-me e ainda não sei quando fará isso. Tenho orado
por três meses sem nenhuma sensação interior. Não sei se Deus achará
conveniente salvar-me”. Também encontrei outras que disseram “Estou esperando
que o Espírito Santo venha e me leve a ajoelhar-me para pedir a Jesus que me
salve. Eu ainda não sou salvo. Devo esperar que o Espírito me inspire a orar
antes que possa ser salvo”. Por esta razão, precisamos ver se um homem precisa
orar antes que possa ser salvo. Primeiro, tal pessoa busca ser salva por meio
de oração e súplica por ser totalmente ignorante quanto ao amor e à graça de
Deus. Ela pensa que Deus odeia o homem e, portanto, tem de orar para Deus mudar
de ideia antes que possa salvá-la. Ela se entrega à oração sem saber o quanto
tem de orar para que Deus a ouça. Você se lembra como Elias desafiou os
profetas de Baal no monte Carmelo? Ele os desafiou a pedir ao seu deus para
mandar fogo. Os profetas “clamavam em altas vozes e se retalhavam com facas e
com lancetas, segundo o seu costume, até derramarem sangue” (1 Rs 18.26-29).
Eles supunham que Baal iria ouvi-los somente se infligissem mais dores a seu
corpo. Hoje há os que também pensam que se trouxerem angústia sobre si mesmos e
clamarem suficientemente a Deus, Ele terá compaixão deles. Esse tipo de
pessoa nunca viu o evangelho. Porque nunca viram Deus na luz do evangelho,
acreditam que sua súplica perante Deus irá voltar Seu coração a eles. Na
verdade não há necessidade de Deus voltar Seu coração. Seu coração já está
voltado a eles há muito tempo. Nós é que necessitamos uma mudança de coração,
porque rejeitamos e opusemo-nos a Ele, e não acreditamos Nele. Em 2 Coríntios
5.19 diz-se: “A saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o
mundo”. Deus não ofendeu o homem; foi o homem que ofendeu a Deus. Nunca houve
necessidade de Deus ser reconciliado com o homem. Todos os que desejam entender
o evangelho devem saber que Deus é amor e que Ele ama o mundo. Ele não tem
problema conosco e nenhum de nós tem de suplicar diante Dele. Além disso, o
homem pensa que tem de orar e suplicar para que seja salvo, simplesmente porque
não percebe que o Senhor Jesus veio; Ele morreu e ressuscitou; todos os
problemas de pecado estão resolvidos e todos os obstáculos à salvação estão
removidos.
Não
somente o Senhor Jesus veio, mas o Espírito Santo também veio. Ele veio para
manifestar no homem o que Deus e o Senhor Jesus realizaram. Muitos pecadores
oram pela própria salvação como se estivessem pedindo ao Senhor Jesus para
morrer por eles novamente. Eles não percebem que Ele completou a obra de
redenção. Como Ele terminou Sua obra, não há razão para suplicar diante Dele.
Hoje é o tempo de ações de graça e louvores; não é tempo de fazer súplicas e
petições. Suponha que seus pais tenham trazido algo que você pediu. Você pode
talvez, com sinceridade, curvar-se para agradecer a eles. Certamente não iria
ajoelhar-se e suplicar, dizendo:“Por favor dê-me isto porque eu preciso”. É
simplesmente incoerente e sem sentido que continue a suplicar depois que seus
pais já deram algo a você. Hoje Deus não está falando sobre a gravidade dos
nossos pecados. Se estivesse, então haveria razão para suplicarmos. Ao
contrário, Deus está agora dizendo que Ele deu Seu Filho a você gratuitamente.
Seria bem estranho se alguém lhe desse algo e você ainda lhe suplicasse em vez
de agradecer! Se conhecesse o coração de Deus e se tivesse clareza sobre a obra
do Senhor Jesus, nunca tentaria ser salvo pela oração. Não há lugar para a
oração nessa questão. É melhor ajoelhar-se para agradecer a Deus. Certa vez,
depois que compartilhei o evangelho com um homem, perguntei se ele cria. Ele
disse que sim. Quando eu disse: “Vamos ajoelhar-nos”, ele perguntou se iríamos
orar. Disse-lhe que não. Ele perguntou: “Qual o propósito, então?” Respondi:
“Simplesmente para informar o Senhor Jesus”. Não há necessidade de pedir ao Senhor
Jesus para morrer novamente ou pedir a Deus para amar, ser gracioso ou
perdoar-nos. O Senhor já levou nossos pecados na cruz. Agora, nossa única
necessidade é notificá-Lo, dizendo: “Eu cri no Filho de Deus e recebi a cruz de
Cristo. Ó Deus, eu Te agradeço”. Não é fácil? Sim, receber a salvação é algo
fácil. Claro que para Deus não foi fácil completar a salvação; Deus levou
quatro mil anos para completá-la. Depois que o homem caiu, Deus levou quatro
mil anos para fazer com que o homem percebesse seus pecados. Ele então fez com
que Seu Filho nascesse de uma mulher e fosse pendurado na cruz para ser julgado
pelo pecado. No final, Ele mandou também o Espírito Santo. Foi somente depois
que Deus trabalhou muito e fez bastante esforço que recebemos a salvação de
maneira tão fácil. Ele pagou o maior preço para realizar tudo. Agora se você
creu e recebeu, tudo o que precisa fazer é dizer: “Obrigado”. Esse é o caminho
da salvação. Não há lugar para oração aqui.
Por
que então Romanos 10 enfatizou o assunto da oração? Em Romanos 10.5-7 lê-se:
“Ora, Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça decorrente da lei
viverá por ela. Mas a justiça decorrente da fé assim diz: Não perguntes em teu
coração: Quem subirá ao céu?, isto é, para trazer do alto a Cristo ou: Quem descerá
ao abismo?, isto é, para levantar Cristo dentre os mortos”. Dois tipos de
justiça são mencionados aqui. Uma é a justiça decorrente da lei e a outra é a
justiça decorrente da fé. A justiça decorrente da lei resulta das obras de uma
pessoa diante de Deus, e a justiça decorrente da fé é cumprida em nós pelo
nosso crer no Senhor Jesus Cristo. A primeira tem relação conosco e a última
tem relação com Cristo.
É
absolutamente impossível para um homem obter a justiça decorrente da lei porque
ela requer que ele não tenha pecado nos pensamentos, intenções, palavras e
comportamento a cada ano, hora, minuto e segundo de sua vida desde a hora em
que nasceu. Se ele quebra algum item da lei, ele transgride todos. Para nós,
isso é simplesmente uma proposta sem esperança. Desde que não possamos agora
ter a justiça decorrente da lei, precisamos ter a justiça decorrente da fé.
Essa justiça, como mencionamos, é a justiça pela qual Cristo foi julgado. Desde
que Cristo sofreu a punição, temos a justiça mediante a fé. Essa justiça não
tem relação conosco. As Escrituras dizem: “Não perguntes em teu coração: Quem
subirá ao céu?, isto é, trazer do alto a Cristo; ou: Quem descerá ao abismo?,
isto é, para levantar Cristo dentre os mortos”. Não há necessidade de fazermos
isso. Não há necessidade de ascender aos céus. Isso significa que não há
necessidade de pedir que Cristo venha à terra e morra por nós. Não há também
necessidade de descer ao abismo.
Isso
implica que a ressurreição de Cristo é a base da nossa justificação. Deus já fez
com que o Senhor Jesus morresse e ressuscitasse, e Sua ressurreição tornou-se a
base de nossa justificação. Tudo o que nos resta fazer é crer. O versículo 8
diz: “Porém que se diz?” “Se”, aqui, refere-se à palavra de Moisés. Paulo citou
Moisés para mostrar que até Moisés pregava a justificação pela fé. Isso é
surpreendente, visto que Moisés foi o promotor da lei e das suas exigências.
Mas Paulo apresentou Moisés, dizendo que Moisés também falou a respeito da
justificação pela fé quando disse: “A palavra está perto de ti, na tua boca e
no teu coração”. Essa é a palavra da fé que proclamamos. Paulo defendia que as
palavras de Moisés referem-se à justificação pela fé. Para entender essa
referência, necessitamos voltar para Deuteronômio 29 e 30, no Antigo Testamento.
Lá, Moisés passou toda a lei e os mandamentos aos israelitas, falando a eles
que se falhassem em obedecer àqueles mandamentos e em guardar a lei, Deus iria
puni-los, dispersando-os entre as nações; e se o coração deles se aproximasse
de Deus na dispersão, a palavra estaria perto deles, até mesmo na boca e no
coração deles. Moisés estava dizendo que o julgamento de Deus estaria presente
sempre que o homem quebrasse a lei e a transgredisse. Que o homem deve fazer,
então? Ele precisa receber uma justiça separada da lei, a que está na sua boca
e no seu coração. Tal graça separada da lei é um presente para nós. Quando
Deuteronômio foi citado em Romanos 10, uma palavra de explicação foi
adicionada: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração” que é,
“a palavra da fé que pregamos”. Não há nenhum pensamento de obra aqui. A
justiça proveniente da lei foi completamente transgredida. Quando o povo foi
disperso entre as nações da terra, como predito em Deuteronômio 30, eles não
poderiam mais reivindicar ter realizado obras. A questão de obras havia
terminado. A única palavra que eles tinham então era a palavra que estava na
boca e no coração deles. Outrora, era uma questão de obras e o resultado foi a
dispersão. Agora, não mais há obras. Portanto, é fé. Paulo continuou a definir
o significado de “com a tua boca” e “em teu coração” no versículo 9 dizendo:
“Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres
que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. Caro amigo, onde está
sua boca? Cada um de nós leva a boca para onde vai. Ninguém a deixa em casa.
Onde está nosso corpo também está nossa boca. No momento em que cremos no
Senhor Jesus, espontaneamente O confessamos com nossa boca. As primeiras
palavras da boca de Paulo, quando o Senhor confrontou-o na estrada, foram:
“Quem és tu, Senhor?” Ele não havia crido no Senhor antes. Mas naquela
conjuntura, ele creu. Nossa confissão de Jesus como Senhor é feita muito mais
espontaneamente a partir do nosso coração do que diante das pessoas.
Surpreende-me pensar que um povo inculto que nunca fora exposto ao evangelho
antes, ao ouvir as boas novas, possa dizer, “Ó Senhor”. Isso não pode ser uma
obra. Trata-se de uma manifestação espontânea. Crer no coração não é uma
questão de obra. Não há necessidade de dar alguns passos ou gastar dinheiro. É
necessário dizer “Ó Senhor” exatamente onde se está, e ser salvo. Pode-se dizer
isso audível ou inaudivelmente. Contanto que se creia que Deus O trouxe dos
céus e O levantou do Hades, tudo irá ocorrer normalmente. Isso provará que se
está justificado e salvo. Nossa confissão nunca pode levar o elemento do
mérito. Confissão não é um caminho para salvação; é meramente uma expressão da
salvação. É algo muito espontâneo. Se dissermos “Senhor” com nossa boca e
crermos Nele no nosso coração, seremos salvos. Não há nenhum problema.
O
versículo 10 segue e explica o versículo 9. Por que alguém é salvo quando
confessa com a boca Jesus como Senhor e crê no coração que Deus O ressuscitou
de entre os mortos? “Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se
confessa a respeito da salvação”. Eu sempre ficava perplexo sobre como esse
assunto poderia ser colocado no coração das pessoas. Encontrei duas pessoas
hoje que consideram esta palavra de salvação muito longe delas. Para elas, essa
palavra está mais longe do que as províncias de Yunnam e do Tibet; está mais
longe que um país estranho. É simplesmente uma palavra dos céus. Parece que a
palavra de salvação está tão longe que a frustra. Contudo, Deus diz que o
caminho para a salvação não está no céu nem nas profundezas da terra. Está
muito perto, na nossa boca e até no nosso coração. Se tivéssemos subido aos
céus ou descido abaixo da terra, quereríamos saber como alguém poderia ser
salvo. Hoje, a palavra está na sua boca e no seu coração. Contanto que uma
pessoa abra a boca e creia no coração, ela será salva. Deus fez essa salvação
tão completamente disponível e conveniente que se uma pessoa crê no coração e
confessa com a boca, é salva. Justificação aqui é mais uma questão diante de
Deus que diante dos homens. Quando os homens vêem você confessando, eles
perceberão que você é salvo. Quando Deus vê você crendo, Ele o justifica. O
versículo 11 diz: “Todo aquele que nele crê não será confundido”. Somente
a fé é suficiente.
Embora
a Palavra de Deus seja abundantemente clara, ainda há os que gostam de
argumentar contra ela. Eles insistem em que a confissão é a maneira de alguém
ser salvo. Gostaria de perguntar a eles: “Se é assim, que você fará com Romanos
10.8? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração”? Aqui diz a
palavra da fé, não a palavra de confissão. As Escrituras dizem “crer”, elas não
dizem “confessar”. O versículo 6 diz: “Mas a justiça decorrente da fé assim
diz”. O versículo 6 menciona a justiça decorrente da fé e o versículo 8 a
palavra da fé. Há uma confissão no versículo 9 e outra no 10. Ambas são com a
boca. Porém, o versículo 11 não diz: “Todo aquele que O confessar não será
confundido”. Ao contrário, diz: “Todo aquele que nele crê não será confundido”.
Temos de reconhecer a ênfase aqui. Os versículos 6, 8 e 11 mencionam “crer” e
os versículos 9 e 10 mencionam “confessar”. O versículo 9, primeiro diz
“confessar” e, então, “crer”; enquanto no versículo 10 está primeiro crer e,
então, confessar. Nessa passagem “crer” é usado cinco vezes e “confessar” duas.
No final, a ordem “confessar” e “crer” é invertida. Tudo isso significa que a
salvação deve ser decorrente da fé e não da confissão. Confissão resulta da fé.
O que crê no coração, fala espontaneamente com a boca. Uma pessoa diz
espontaneamente “papai” quando vê seu pai. Onde há fé, a confissão vem
imediatamente a seguir. O final do versículo 12 mostra-nos que confissão aqui é
a confissão de Jesus como Senhor. Essa confissão vem da fé. Como podemos provar
isso? Podemos não ver isso do versículo 1 até o 11. Mas o versículo 12 diz:
“Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de
todos, rico para com todos os que o invocam”. O versículo 13 diz: “Todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo”. Invocar o nome do Senhor é equivalente a
confessar o Senhor Jesus nos versículos anteriores. Invocar o nome do
Senhor
é confessar Jesus como Senhor, chamá-Lo de Senhor e dirigir-se a Ele como
Senhor. Analisando cuidadosamente o contexto dessa passagem, perceberemos que
invocar é simplesmente confessar. O versículo 14 diz: “Como, porém, invocarão
aquele em que não creram?” Essa é uma palavra maravilhosa. Isso mostra que
invocar vem de crer. Naturalmente ninguém pode invocar sem crer. Podemos ver
que confessar com a boca resulta da fé no coração. Porque um homem crê no
coração, ele invoca com a boca. Ele invoca porque crê. Tudo resulta da fé; fé é
o caminho da salvação. Embora seja mencionada a confissão com a boca, essa
confissão é baseada na fé no coração. Invocar é espontâneo para os que creem.
Creio
que os leitores sejam salvos e que receberam o Senhor Jesus. Posso perguntar
como você O recebeu? Nós O recebemos pela fé. Você também orou? A salvação é
decorrente da fé. Oração é a expressão dessa fé. Todos no mundo são salvos pela
fé. Porém, essa fé é expressa em oração. A fé é interior e oração é exterior.
Quando você crê no coração que Jesus é o Salvador, espontaneamente irá orar com
a boca que Jesus é o Senhor. Qualquer um que crer no seu coração irá confessar
com sua boca. Mas precisamos sempre lembrar que confissão não é o caminho para
a salvação. Embora a palavra diga “Todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo”, entretanto, invocar não é a maneira da salvação. A razão é que
invocar vem da fé; é uma ação espontânea, algo dito espontaneamente diante de
Deus.
Voltemos
ao versículo 12: “Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o
mesmo é o Senhor de todos”. Eu amo a frase “não há distinção”. Romanos 3.22 e
23 diz: “Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre
todos] os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram”. Aqui diz:
“Pois não há distinção entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor de
todos”. Cada um tem de invocar o Senhor, confessar com a boca e crer no coração
antes de ser salvo. Que o Senhor seja misericordioso para conosco e nos mostre
que o único caminho para a salvação, de acordo com a Bíblia é a fé e nada mais.
A salvação não é pela fé mais o cumprimento das leis e boas obras,
arrependimento, confissão ou oração. Essa é a verdade bíblica. Temos de nos
posicionar sobre a Bíblia. A Bíblia revela-nos claramente que o caminho para a
salvação é somente pela fé.
Continua em ESTUDO DA PALAVRA 2
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