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sexta-feira, 4 de março de 2011


Atualmente não gostamos de contemplar o horror da cruz; por isso nós a enfeitamos e quase a deixamos bela. Transformamos a cruz numa linda joia cheia de brilhantes e pedras preciosas. Devemos lembrar, que para suas vítimas, a crucificação significava vergonha, tortura, uma morte lenta e agonizante. No momento em que pessoas se vêem confrontadas com a morte, muitas perdem suas máscaras e tornam-se verdadeiras.

A história registra as últimas palavras de grandes homens:
DAVID HUME, o ateu, gritou: “Estou nas chamas! ” Seu desespero foi uma cena terrível.
HOBBES, um filósofo inglês: “Estou diante de um terrível salto nas trevas.”
GOETHE: “Mais luz!”
NIETZSCHE: “Se realmente existe um Deus vivo, sou o mais miserável dos homens.”
JESUS CRISTO: “Está consumado.”

Esta foi a sexta palavra que Jesus disse na cruz, está registrada em Jo 19.30. Quando comparamos os registros do Evangelho, descobrimos que Ele gritou em voz alta: “Está consumado!” Esta declaração não foi o gemido de um homem derrotado, mas o grito triunfante da vitória do Filho de Deus, nosso Salvador. Aos trinta e três anos, a maioria das pessoas costuma afirmar: “É o começo”. Mas, nessa mesma idade, Jesus dizia: “Está consumado!” Ele não disse: “Estou acabado”. Não se tratava do lamento de uma vítima vencida pelas circunstâncias, mas o grito de um vencedor derrotando todos os seus adversários. Na língua grega, o significado destas palavras é: “Está consumado, permanece consumado e estará sempre consumado”.

“Tetélestai” – Um termo familiar

Embora esta palavra não seja conhecida de muitas pessoas dos dias atuais, ela era familiar quando o Senhor Jesus ministrava na terra. Os arqueólogos descobriram diversos documentos gregos antigos que continham esta expressão. Quando o Espírito Santo inspirou os escritores do N.T, guiou-os para usarem uma linguagem comum do povo dos dias de Jesus. E esta expressão: “Está consumado” fazia parte da vida diária das pessoas. Vamos explorar estas palavras que eram usadas por alguns indivíduos daquela época, e assim, entender melhor o que significa as palavras de Jesus na cruz.

Servos

Os servos e escravos usavam esta palavra sempre que terminavam um trabalho e levavam o fato ao conhecimento de seus senhores. O servo dizia: “Tetélestai” – Terminei a tarefa que me deste para fazer”. Isto significa que o serviço fora feito como o senhor determinara e na hora que estabelecera.
Jesus Cristo é o Servo santo de Deus (Fp. 2.5-11). O profeta Isaías o descreveu como o servo sofredor de Deus (Is. 42.1-4; 49.1-6; 50.4-9; 52.13 – 53.12). O Dr. John Stott lança luz sobre este tema quando diz que nos textos acima, temos quatro cânticos conhecidos como Cânticos do Servo. Em seus primeiros sermões, registrados no livro de Atos, Pedro se refere a Jesus como “servo” por quatro vezes. Os quatro Cânticos do Servo oferecem diferentes imagens do servo do Senhor. No primeiro, (Is. 42.1-4) o servo é retratado como um mestre, ensinando com mansidão, dotado do Espírito e alcançando os povos. No segundo, (Is 49.1-6) o servo é retratado como um evangelista. A ênfase agora está nas nações distantes. No terceiro, o servo é retratado como um discípulo (Is. 50.4-9), pois é evidente que não se pode ensinar sem primeiro ouvir e aprender. É por esta razão que Iavé desperta o ouvido do seu servo “manhã após manhã” (v. 4). Ele primeiro precisa abrir seu ouvido antes de abrir a boca, mesmo que o que ele aprenda ou ensine seja impopular ou provoque perseguição. Por fim, o servo é retratado como o Salvador sofredor (Is. 52.13 – 53.12), aquele que (falando profeticamente) foi ferido pelas nossas iniquidades e carregou em seu corpo os nossos pecados.
Jesus Cristo veio à terra como servo por ter uma obra especial a fazer. “Consumei a obra que me confiaste para fazer” (Jo. 17.4). Quando os seus discípulos estavam discutindo sobre qual deles era o maior, Jesus censurou-lhes o egoísmo, dizendo: “Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve” (Lc. 22.27). Ele tomou até o lugar de servo e lavou os pés deles (Jo. 13.1-17), mas seu maior ato de serviço foi quando morreu por eles e por nós na cruz.

Sacerdotes

Os sacerdotes gregos também usavam esta palavra. Sempre que os adoradores levavam ao templo sacrifícios dedicados ao deus ou deusa que adoravam, os sacerdotes tinham de examinar o animal para certificar-se de que era perfeito. Se o sacrifício fosse aceitável, o sacerdote dizia: “Tetélestai – não tem defeito”. Os sacerdotes judeus seguiam um procedimento similar no templo e usavam o equivalente em hebraico ou aramaico deste termo. Era importante que o sacrifício fosse perfeito.
Jesus Cristo é o sacrifício perfeito e imaculado de Deus. O Cordeiro de Deus que morreu para tirar o pecado do mundo (Jo. 1.29). Como sabemos que Cristo é um sacrifício perfeito? Deus Pai afirmou isso. Quando o Senhor Jesus foi batizado, o Pai falou do céu, dizendo: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt. 3.17). Com estas palavras, Deus Pai colocou o selo da aprovação sobre Deus Filho. A seguir, Deus, o Espírito Santo, desceu como pomba e pousou sobre Jesus, acrescentando assim seu testemunho ao do Pai. (Mt. 3.16)
Os inimigos de Cristo tiveram que admitir que Ele “foi” irrepreensível, pois se viram obrigados a alugar mentirosos para dar falso testemunho d’Ele em seu julgamento. Nenhum dos apóstolos jamais disse: “ouvi Jesus contar uma mentira”, ou “vimos Jesus cometer um pecado”. Ele é o Salvador perfeito, o Cordeiro de Deus “sem mancha e sem mácula” (I Pe. 1.19).
Pilatos, o governador romano, admitiu: “Não vejo neste homem crime algum” (Lc. 23.4). Até o traidor Judas confessou: “Pequei, traindo sangue inocente” (Mt. 27.4). Todos os que conheceram a Jesus podiam dizer: “Tetélestai! – Ele é o sacrifício perfeito, impecável”.

Artistas

Quando um artista ou escritor completava seu trabalho, eles davam um passo para trás, contemplavam a obra, e diziam: “Tetélestai! – "está pronto!" Isso significava que a morte de Jesus na cruz “completa o quadro” que Deus estava pintando, a história que vinha escrevendo havia séculos.
Para a pessoa que não conhece a Jesus Cristo, o A.T. será algo muito difícil e sombrio de se entender. No A.T. você encontra cerimônias, símbolos e profecias que não parecem ajustar-se a um padrão lógico. O A.T. é um livro de muitas cerimônias não explicadas e profecias que se cumpririam no futuro. Portanto, você não consegue a “chave hermenêutica” até que conheça a Jesus Cristo. A menos que você conheça a Jesus, o A.T. é como andar numa galeria de pintura com as luzes apagadas. Quando Jesus veio ao mundo, Ele completou o quadro e acendeu as luzes! Na sua vida, morte, ressurreição e ascensão, Jesus cumpriu os símbolos, profecias, e explica o significado da “pintura” que estava sendo confeccionada pelo Pai.
O evangelho de Lucas, no capítulo 24, ilustra esta verdade. Dois discípulos desanimados estão andando pela estrada de Emaús, discutindo a morte de Cristo e tentando descobrir o que ela significava. De repente, o Cristo ressurreto se junta a eles e os discípulos lhe contam sobre suas esperanças desfeitas e mentes confusas. Então, Jesus lhes disse: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo que os profetas disseram!” (Lc. 24.25). Depois, começando com Moisés e todos os profetas, o Senhor falou sobre as Escrituras do A.T. e explicou o panorama geral. Ele acendeu as luzes. Sua obra no Calvário havia completado o quadro, de modo que o grande plano da salvação de Deus estava agora claro para todos. Hoje podemos ler o A.T. e ver este quadro maravilhoso, embora ainda haja certas dificuldades e coisas difíceis de entender. Por causa da obra consumada de Jesus na cruz, podemos ver a tela completa pintada por Deus.

Mercadores

“Tetélestai” era uma palavra usada por servos, sacerdotes e artistas, mas os mercadores também a empregavam. Para eles, o termo significava “a dívida está completamente paga”. Se você comprasse algo “a prazo”, quando fizesse o último pagamento, o negociante lhe daria um recibo com a palavra “tetelestai”, ou seja, “quitado”. O débito fora totalmente pago.
Os pecadores incrédulos têm uma dívida com Deus e não podem pagar a conta. Por terem quebrado a lei de Deus, estão falidos e impossibilitados de quitar essa dívida. Mas Jesus pagou-a quando morreu na cruz. É isso que “tetélestai” significa: a divida foi paga, ela permanece paga e estará paga para sempre (Cl. 2.14-15). Nossa dívida com Deus era infinita. Jamais poderíamos saldá-la. Todos estamos aquém das exigências da lei. Ela requer perfeição, e nós somos imperfeitos. Nada que seja contaminado pode entrar no céu (Ap. 21.27).
Contudo, o que não podíamos fazer, Jesus fez por nós. Em Cristo, ficamos quites com a lei de Deus; as demandas da justiça divina foram satisfeitas. O sangue de Jesus nos justificou. Agora já não há mais nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. Jesus se fez pecado por nós para que fôssemos feitos justiça de Deus.

Conclusão

“Tetélestai” era uma palavra familiar, dita por um salvador fiel sobre uma obra consumada. Quando Ele gritou a palavra, isso significou que todas as profecias do A.T. referentes à sua obra na cruz estavam então cumpridas e terminadas. A partir de Gênesis 3.15, Deus prometera que um Salvador derrotaria Satanás. Todos os retratos de Cristo existentes nos rituais e objetos do tabernáculo, do ministério sacerdotal e do sistema sacrificial estavam completamente terminados e cumpridos. Os símbolos e profecias do A.T. foram cumpridos. O véu do templo se rasgou em dois, e o homem pôde então entrar na presença de Deus. O caminho da salvação foi aberto.
“Está consumado” significa que a Lei da Antiga Aliança estava terminada. Não vivemos mais sob a escravidão da lei; em vez disso, vivemos na liberdade da graça de Deus (Rm. 6.15). A palavra importante do Evangelho não é “faça”, mas “está feito”. A obra da redenção terminou. Amém!

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