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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A CRIANÇA E A FAMÍLIA

Pr. Jonas Rodrigues Ferreira

Texto: Deuteronômio 11. 18-21

18 – Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por testeiras entre os vossos olhos,
19 – e ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te;
20 – e escreve-as nos umbrais de tua casa e nas tuas portas,
21 – para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o Senhor jurou a vossos pais dar-lhes, como os dias dos céus sobre a terra.

“Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo”, Efésios 6.1.

Introdução

A criança, ser humano em desenvolvimento, necessita ser formada e moldada para, ao atingir a idade adulta, poder cumprir os sublimes propósitos divinos estabelecidos para o homem. Deus criou a família, exatamente, para que haja esta formação e desenvolvimento. A família é o ambiente em que a criança deve ter a máxima valorização, pois, de certo modo, uma das razões de ser da instituição familiar é a própria geração e formação das crianças para a perpetuidade da espécie humana na Terra.

Pais e Filhos.

Já vimos, na lição anterior, que os pais têm uma autoridade dada por Deus na família, autoridade esta que, como toda autoridade humana, é uma verdadeira mordomia, ou seja, os pais recebem, da parte de Deus, uma responsabilidade, algo que os juristas denominam de “poder-dever”. Sendo verdade que os pais têm uma posição de superioridade em relação aos filhos, os quais, devem obedecer aos seus pais e lhes devotarem honra, não é menos verdadeiro que, em correspondência a esta honra e submissão, os pais, também, assumem compromissos diante dos filhos e, o que é muito mais relevante, diante de Deus, uma vez que terão de educar, sustentar (material e espiritualmente) seus filhos até que eles próprios formem novas famílias, consoante a própria determinação divina expressa em Gn 2.24. Os pais cristãos precisam ter como base para o relacionamento com os seus filhos, o próprio relacionamento que Deus, como Pai celestial, mantém com os seus filhos espirituais. A Bíblia demonstra que o relacionamento entre Deus e os primeiros pais era um relacionamento marcado por algumas características, que podemos aqui salientar, visto que tais características devem estar presentes em toda relação entre pais e filhos, a saber:

“BÊNÇÃO”

– A primeira atitude divina em relação ao homem, após a criação, relatada nas Escrituras é a bênção, Gn 1.27,28. Assim como o primeiro casal foi de imediato, abençoado por Deus, temos hoje, o costume dos noivos comparecerem no altar a fim de receberem a bênção de Deus para o seu enlace nupcial; contudo, não podemos esquecer que os filhos também são bênçãos que Deus concede aos pais, e os pais, enquanto verdadeiros instrumentos divinos para a formação deste novo ser, devem, antes de tudo, abençoar seus filhos. Os pais são abençoados para serem abençoadores. Este, aliás, o sentido do velho costume de os filhos pedirem a bênção de seus pais, costume este que, lamentavelmente, é, hoje, raríssimo, mesmo no meio do povo de Deus. A palavra hebraica usada no Velho Testamento para bênção é uma das mais importantes da Bíblia. Ela é usada cerca de 640 vezes no Antigo Testamento. Na vida da família judaica, os filhos levavam muito a sério o fato de serem abençoados pelos seus pais; Abraão pronunciou bênção para seu filho Isaque. Isaque pronunciou bênção para seu filho Jacó. Jacó pronunciou bênção para seus filhos. É bom que se diga que palavras negativas podem destruir os filhos emocionalmente. No costume judaico, antes que as crianças aprendam a andar, elas são levadas nos braços pelos seus pais, aos sábados e nos dias santos, para receberem a sua bênção. Quando já sabem andar, devem ir de vontade própria com o corpo inclinado e a cabeça baixa e receber a bênção. Desde os tempos do Antigo Testamento até os nossos dias, a bênção tem sido uma dádiva importante oferecida às crianças judaicas. Na realidade, ela é um dever dos pais para com os filhos.

“INSTRUÇÃO”

– Deus jamais castigou ou puniu o homem sem antes lhe ensinar o que deveria fazer. Vemos que as primeiras palavras que Deus dirigiu aos seres humanos foram palavras de orientação, foram prescrições de regras, com indicação das conseqüências pela sua inobservância, Gn 1. 26,28-30; 2.16,17. Ser pai é ser modelo. Permita-se admitir estar errado, quando falhar na presença dos filhos. Eles precisam de “PAIS HUMANOS” e saber que “ERRAR É HUMANO”. Não se mostre onipotente na presença dos filhos. Eles precisam de pais ao alcance, e não de ídolos distantes. Permita-se dizer “NÃO SEI”, em vez de dizer: “agora não tenho tempo, ou não posso, ou pergunte para…” Com certeza eles ficarão mais felizes por ter um pai ao alcance de seu conhecimento, “um pai presente”. Não desrespeite “NORMAS” na presença de seus filhos, pois eles vão aprimorar os erros vistos nos pais.

“LIBERDADE COM RESPONSABILIDADE”

– Quando Deus prescreveu ordens e regras para o primeiro casal, fê-lo de forma a garantir a liberdade para o casal primordial. “De toda a árvore do jardim, comerás livremente”, Gn 2.16b, disse o Senhor, garantindo, assim, que os nossos primeiros pais teriam o livre-arbítrio, ou seja, o poder de escolher entre obedecer, ou não, ao Senhor. Assim, os pais devem, também, relacionar-se com seus filhos de modo a preservar-lhes a liberdade. Deus nunca foi um ditador ou um tirano cruel e os pais não devem se comportar desta maneira com relação a seus filhos. Entretanto, liberdade não se confunde com libertinagem.

“CUIDADO CONTÍNUO”

– Deus não criou o primeiro casal e o deixou à própria sorte. Muito pelo contrário, Deus tratou de criar condições para que o casal cumprisse com o papel a ele destinado. Deus fez um jardim no Éden e nele colocou o homem, havendo, no jardim, todo o necessário para a sobrevivência com qualidade do ser humano, Gn 2.8-14. Os pais, também, não devem, simplesmente, gerar os filhos e deixá-los à própria sorte, na escola do “Deus te crie” ou, como dizem outros, na “escola da vida”, mas devem criar as condições para que as crianças possam se desenvolver e se formar como homens e mulheres de caráter e de habilidades mínimas para viverem em sociedade. Os pais devem criar o “jardim” no qual, os filhos possam se tornar fisicamente sadios, onde também possam se tornar adultos com virtudes espirituais e morais.

“INTERESSE E ACOMPANHAMENTO”

– Deus não se contentou, apenas, em criar condições para que o casal primordial vivesse bem, mas também, diariamente, ia ao encontro do casal, para com ele dialogar, Gn 3.8, permitindo aos nossos primeiros pais que apresentassem suas dúvidas, angústias, desejos. Deus, dia após dia, fazia o acompanhamento do casal primordial e se colocava à sua disposição para todo e qualquer assunto, orientando-os, ensinando-lhes e aprofundando a comunhão que existia entre o Criador e suas mais sublimes criaturas terrenas. Os pais, também, devem se apresentar, diariamente, a seus filhos, mostrando interesse, companheirismo e elucidando todas e quaisquer questões que se apresentem ao longo da vida. É interessante que os pais estejam sempre atentos ao comportamento dos seus filhos, a fim de evitar desvios de rota. Foi devido ao interesse e acompanhamento que Deus detectou o problema, antes mesmo que o homem dele tomasse consciência, pois, viu Deus que não era bom que o homem estivesse só, Gn 2.18, criou, desta forma, uma estratégia para solucioná-lo.

“ENSINO PRÁTICO”

– Deus, apesar de ser onipotente, não é um ser que prive o homem de iniciativas e de ações em geral. No episódio da criação da mulher e da família, Deus, embora tenha previsto o problema, não trouxe, de imediato, a solução, nem impediu que o homem solitário, por si só, entendesse a problemática e tirasse importantes lições a respeito dela. Ao ver que o homem estava solitário, o Senhor fê-lo saber, em primeiro lugar, que tinha inteligência, algo que mostrou de forma prática, pois fez o homem nomear todos os animais, Gn 2.19,20. O homem, assim, percebeu sua importância na ordem da criação, sua inteligência e, simultaneamente, conscientizou-se de que estava solitário. Só, então, Deus providenciou o aparecimento da mulher e da família, Gn 2.21. Com esta atitude, Deus nos mostra que os pais não devem fazer tudo para seus filhos, mas, sempre sob sua orientação, permitir que os filhos, paulatinamente, através de ações próprias, venham a adquirir independência e façam o que está ao seu alcance. É um grave erro a super proteção que caracteriza a educação de certas famílias, que cria homens e mulheres dependentes, sem iniciativa. Deus nunca faz aquilo que o homem pode fazer. O treinamento da criança no processo de educação deve responder a três importantes perguntas:

A criança deve fazer isso? (uma questão de valor)
A criança pode fazer isso? (uma questão de competência)
A criança quer fazer isso? (uma questão de motivação).

O ensino jamais deve faltar na família. Verdade é que, à medida que os filhos vão crescendo e adquirindo independência, a intervenção dos pais vai diminuindo, mas jamais os pais deixarão de ser mestres dos seus filhos. Até à hora da morte, os pais têm algo a ensinar a seus filhos, como se vê nas Escrituras, como nos casos de Jacó, Gn 49 e Davi, I Rs 2.1-11.

Promessas de Deus aos Pais.

Toda promessa de Deus é condicional, ou seja, Deus promete derramar as suas bênçãos, desde que o homem o agrade, ou seja, para que desfrutemos das promessas de Deus, faz-se necessário preenchermos alguns requisitos, pois Deus criou o homem com o livre-arbítrio e a promessa somente alcança aquele que se dispuser a obedecer a Deus e a lhe ser submisso. Para os pais alcançarem as promessas de Deus, é necessário que sejam, eles próprios, servos de Deus, um homem e uma mulher que esteja fazendo a vontade do Senhor. Nas passagens que a Bíblia nos fala das responsabilidades de educação dos pais em relação aos filhos, sempre temos, antes destas considerações, afirmações a respeito da necessidade de os pais, eles próprios, serem fiéis ao Senhor. Em Dt 6.6, por exemplo, é dito que os pais devem, em primeiro lugar, ter as palavras do Senhor em seus corações, para, então, intimá-las a seus filhos, o que é repetido em Dt 11.18. Não é possível, como vimos há pouco, que os pais criem seus filhos na doutrina e admoestação do Senhor se, em primeiro lugar, não viverem de acordo com esta doutrina. A autoridade da doutrinação paterna está vinculada à vida em conformidade com a doutrina exposta, pois é isto que causa admiração e credibilidade às palavras que proferimos aos nossos filhos, MT 7.28,29.
Outrossim, para o pai alcançar as promessas de Deus é necessário que haja o ensino da doutrina divina aos filhos. Quando os pais, em todas as circunstâncias da vida, ensinam a Palavra a seus filhos, Deus faz promessas a quem assim agir, Dt 11.19,20. A obrigação do ensino, portanto, como vimos supra, não é apenas um encargo, um fardo, mas, também, uma fonte de promessas. Preenchidas estas condições, Deus promete aos pais vida longa sobre a terra: “… para que se multipliquem os vossos dias”, Dt 11.21. A vida é um dom de Deus, I Sm 2.6 e, portanto, Deus dá a quem quer, tira de quem quer e prolonga ou encurta conforme a sua vontade. Entretanto, quando nos tornamos pais fiéis a ele e que ensinamos nossos filhos a doutrina do Senhor, temos de Deus a promessa de que teremos vida longa, “muitos dias” , como dizem algumas versões, como a NVI. Outra promessa dada por Deus é o de vida longa aos filhos, a saber, “… [para que se multipliquem] e os dias de vossos filhos na terra…”, Dt 11.21. Os filhos já têm uma promessa de vida longa, constante dos dez mandamentos, Ex 20.12; Dt 5.16, decorrente de ato próprio, ou seja, se honrarem a seus pais. A promessa que Deus dá aos pais é que esta vida longa não será apenas uma vida de quantidade, mas, também, uma vida de qualidade, já que se diz que estes dias multiplicados serão como os dias dos céus sobre a terra “, ou em outra versão”, os dias durante os quais os céus estão acima da terra “, Dt 11.21 (NVI). Ora, os dias em que os céus estão acima da terra são os dias ensolarados, os dias em que o tempo está bom, em que não há tempestades ou escuridão, pois em dias de tempestade e de escuridão, os céus não são vistos de quem está aqui na terra. Não só vida longa, mas uma vida de qualidade, uma vida de felicidade, uma vida de paz com Deus e com os homens. Certo é que, neste mundo, sempre teremos aflições, Jo 16.33, mas, os pais que são fiéis a Deus e criam seus filhos na doutrina e admoestação do Senhor, terão a paz e a alegria em relação aos filhos, como estes também gozarão do fruto de seu trabalho e se regozijarão freqüentemente, pois serão como á arvore plantada junto ao ribeiro de águas, que dá o seu fruto na estação própria e que tudo quanto fizer, prosperará, Sl 1.3.

Ensinando no Lar Pela disciplina.

A palavra “disciplina” tem origem latina e significa “ensino metódico”, “ensino continuado”, “ensino voltado para a obtenção de uma boa ordem”. “Disciplina” é palavra derivada de “docere”, que significa “ensinar” (daí, por exemplo, “corpo docente”, ou seja, corpo de professores, de ensinadores). Logo, portanto, vemos que “disciplina” não se confunde com castigo, nem com punição, castigo e punição são apenas uma das formas de disciplina. A disciplina envolve, deste modo, a ação de ensino, a ação de ensino com método, de um ensino voltado para um objetivo. Segundo o Dicionário Teológico, disciplina é o regime de ordem imposta por força da lei, ou consentida por um pacto, ou aliança, livremente estabelecido. A correção é a essência da disciplina. E o amor, a alma da correção, pois o Senhor Deus castiga a todos quantos ama, e aqueles a quem toma por filhos. Nas Sagradas Escrituras, a disciplina é uma das prerrogativas que Jeová usa para preservar os termos da aliança que ele firmou primeiramente com os filhos de Israel, e, mais tarde, com os que vieram a receber a Cristo. Para que a disciplina vingue seus objetivos, os judeus contavam com os Dez Mandamentos e as outras legislações do Pentateuco. Na Igreja Primitiva, havia normas congregacionais para se manter a ordem e a decência entre os salvos, I Co 5. 1-13. Disciplinar não é banir; é tornar o santo mais santo. Os pais não têm a função de serem os “eternos bonzinhos”, os “eternos saciadores de desejos”, mas devem ser aqueles que ensinam e que, na medida do necessário, verifiquem se está havendo o aprendizado por parte dos seus alunos, que são, precisamente, os seus filhos. Nunca podemos retirar a disciplina da criança, Pv 23.13, inclusive a parte da disciplina relativa à correção, pois a correção é uma demonstração de amor, Hb 12.6. Contudo, não devemos confundir disciplina ou correção, com violência familiar. A violência familiar pode vir através do uso da intimidação verbal ou não-verbal. Precisamos alertar os pais para o fato de que eles podem esconder-se atrás de textos bíblicos que falam da disciplina, mas assim mesmo estarem praticando a violência familiar, pois seu tratamento e sua conduta vão além das normas e dos princípios da Palavra de Deus.

O Efeito do Ensino da Palavra de Deus.

Vemos, assim, que o ensino da Palavra de Deus produz, já para os membros da família, bênçãos divinas que têm sido cada vez mais raras, mesmo em lares que se dizem cristãos. A crise da família, na atualidade, é, em grande parte, resultado da falta de cumprimento, por parte dos pais, deste dever de ensino da Palavra de Deus, estando aí um dos principais pontos que devem ser relevados e enfrentados pela igreja junto às suas famílias e às famílias das pessoas que estão em sua área de atuação (falamos aqui da igreja local). Isto nos mostra que uma educação firmada na Palavra de Deus produz um caráter que não se quebrará ao longo dos anos de vida que a pessoa educada terá na vida em sociedade.

A Criança no Enfoque Geral

Jesus manteve a mesma preocupação que Deus havia revelado a Moisés com relação às crianças. Se Moisés se preocupava em que as crianças fossem devidamente ensinadas na lei do Senhor, Jesus, em mais de uma oportunidade, mostrou a relevância que deve ter a criança na Igreja. Ele repreendeu os discípulos que impediam que as crianças tivessem acesso a ele, Mt 19.13-15. As crianças não podem ser impedidas de irem em direção a Jesus, pois são elas o modelo de como devem ser os salvos, já que se trata de inocentes, de pessoas que têm, precisamente, o caráter que devem ter aqueles que querem seguir ao Senhor. Inferimos deste texto que há uma tendência na igreja a marginalizar as crianças.
Portanto, não devemos criar obstáculos de nenhuma natureza para que as crianças se cheguem a Cristo. Isto nos impõe que, nas nossas igrejas locais, criemos condições para que as crianças, dentro de suas peculiaridades, venham a ter o devido conhecimento do Salvador. Em razão disto, não podemos nos conformar em manter nossas crianças numa mesma liturgia que a dos adultos. É indispensável que as crianças, em nossas reuniões, tenham alguma participação logo no início do culto e sejam levadas a outras dependências da igreja, onde possam adorar ao Senhor de uma forma mais compatível com as suas idades, o chamado “culto infantil”. Não podemos descansar enquanto não promovermos um real encontro entre a criança e o Senhor Jesus, até porque, quem ganha uma criança para Cristo, ganha uma vida inteira para o Reino de Deus.

Conclusão

É dever dos filhos obedecer e honrar aos seus pais, Ef 6.1-3, contudo, para que tenhamos filhos obedientes que honrem aos seus pais, é necessário que, antes dos filhos ter condições de obedecer ou não, aos pais, estes assumam a responsabilidade de ensiná-los no caminho em que devem andar, Pv 22.6. Significa que apesar de obedecer e honrar aos pais, ser um mandamento bíblico, as atitudes dos filhos em relação a este mandamento, será sempre uma conseqüência da atitude dos pais, em relação à responsabilidade que têm de ensiná-los.

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