"Filho de peixe, peixinho é". No mundo animal, a frase tem seu fundo de verdade, aplica-se plenamente. Todavia, perde todo efeito no mundo dos homens. Nem sempre o filho de um professor será um professor. Ou de médico será também um médico. Ou ainda, de um pintor de paredes será um pintor de paredes igualmente. Cada atividade profissional exercida por esses pais pode ou não ser desejada por seus filhos. E mesmo os que escolherem a profissão de seu pai, não significa que a exercerão com a mesma capacidade e profissionalismo, se for este o caso.
No mundo eclesiástico mais ainda, este ditado, esta frase de efeito, nunca deveria ser objeto de maiores considerações. Todavia, um exame mais de perto nos levará a perceber que em muitas igrejas, o filho de pastor muitas vezes é considerado pastor também. O pai o consagra, o eleva ao ministério e isto muitas vezes por puro desejo de um pai que deseja passar o cajado para seu filho e não para outro componente do ministério.
Desnecessário dizer que este outro, muitas vezes, pode realmente ter o chamado, as qualificações e principalmente a unção que o filho do pastor não tem. Mesmo assim, ele é preterido. É deixado de lado. Tudo porque o favoritismo, infelizmente, no caso do pai, o pastor-presidente, está acima de quaisquer qualificações bíblicas que o outro companheiro de ministério tenha. O filho é o herdeiro. O filho tem a prioridade. O filho é o primeiro (e o único) na linha de sucessão.
Dinastias eclesiásticas (termo infeliz mas que não há como usar outro), tem surgido por todo este país. Igrejas onde filhos de pastores, sem ter a devida chamada para a função, mesmo que tenham uma vida piedosa, mas que não foram chamados por Deus, são consagrados ao ministério e com isso muitas vezes vem a dividir a igreja porque o Espírito Santo habita em meio ao povo de Deus e este por isso pode exercer o discernimento necessário para perceber a defraudação a que está sendo submetido.
O nepotismo não contribui para a causa do Evangelho de Cristo. Ao contrário, é fator desagregador do rebanho. Gera insatisfação e tristeza em obreiros realmente chamados que militam por anos em determinadas igrejas e ministérios e não são honrados porque o pastor-presidente resolve que o cajado deve estar com alguém de sua família, preferencialmente seu próprio filho.
Não se consagra alguém ao ministério por favoritismos mesquinhos. Ou ainda, por favores pessoais. Em espírito de oração e com muito temor ao Senhor da Igreja, o pastor deve consagrar indivíduos realmente chamados, que verdadeiramente possuam o dom pastoral (Ef 4.11), que reúnam as qualificações de 1Tm 3.1-7 e Tt 1.5-9. O apóstolo Paulo ainda recomendou a Timóteo: "Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus. E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem a outros" (2Tm 2.1,2).
Outra recomendação muito séria é esta: "A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro" (1Tm 5.22). Todo pastor deveria ler e pensar muito bem sobre a tolice e o prejuízo que causará ao Corpo de Cristo em favorecer um membro de sua própria família, consagrando-o ao ministério caso o mesmo não tenha uma chamada confirmada da parte de Deus.
É evidente que existe a realidade do filho de um pastor ser ele mesmo também um servo de Deus chamado ao santo ministério pastoral. Nesse caso, seria conveniente que o mesmo fosse provado por seu pai e pela igreja e de nenhuma forma fosse favorecido, para que ficasse evidente de que ele estaria sendo consagrado porque realmente aos olhos de toda aquela congregação, também ele tinha um chamado de Cristo para ser pastor de Seu rebanho, assim como fora seu pai.
É triste, muito triste, constatar a realidade do nepotismo em muitas igrejas no Brasil. Tanto para o ministério pastoral como para qualquer outro. Favorecer algum parente (mesmo que não seja filho, pode ser a esposa, o irmão, o primo, o cunhado, tio, pai ou mãe, etc) em detrimento de outros, que não são parentes do pastor-presidente, mas que tenham um real chamado e verdadeiras qualificações espirituais, é um acinte à igreja e é ofensivo ao Espírito de Cristo.
A Bíblia diz: "Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus" (1Co 10.31). Nem é preciso dizer que agindo o pastor-presidente de algum ministério, de alguma igreja, dessa maneira errônea e pecaminosa, atrairá sobre si o desagrado e o desfavor divino para sua vida e a igreja que preside sofrerá por causa desse capricho pessoal.
Gostaria de saber qual o pastor que possa ter cometido tal erro mas que, convencido pelo Supremo Pastor possa ter se arrependido e, movido por um zelo renovado pela honra de Deus e o bem-estar de Seu rebanho, tenha a coragem de destituir seu filho ou qualquer outro de sua parentela (podemos nesta reflexão até incluir amigos chegados) que ele tenha galgado à posição indevida, pelo fato de não ter um chamado claro da parte do Senhor.
Onde estarão os pastores que farão isso? Terão a coragem de reconhecer seu erro e voltar atrás no que fizeram ou deixarão as coisas seguirem seu rumo, mesmo que comecem a perceber o naufrágio daquela igreja por uma escolha errada e a provável e lamentável desconstrução daquele mesmo ministério que levou anos e lágrimas para ser erigido?
Que todos os estimados servos de Deus em nossa pátria, pastores mas também pais, pensem sobre isso.
Enviado pelo seminarista Jorge.
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