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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A IMPORTANCIA DA SABEDORIA HUMILDE

Texto: Tiago 1.5; 3.13-18.

O QUE É SABEDORIA?

A palavra sabedoria provém do termo grego sophia, com 71 ocorrências no NT, 44 só nas epístolas paulinas. Ela possui muitos equivalentes, tanto no hebraico, como no grego, que podem ser compreendidos como: entendimento, discernimento, inteligência, capacidade de entender e pensar, percepção, instrução para formar hábitos adequados de comportamento, disciplina, prudência, conselhos, entre tantos outros.

Tiago enxerga a sabedoria como sendo uma necessidade para as pessoas, mas faz questão de mostrar os tipos de sabedoria que podemos encontrar à nossa volta. E para o apóstolo, mais do que ter, ou não, sabedoria, é imprescindível saber a quem pedir, é preciso utilizá-la. 

Tiago 1.5 "Ora, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não censura, e ser-lhe-á dada".
"... tem falta de sabedoria (leipetai sophias). Aqui há uma combinação que podemos transliterar como: “Se alguém não chega á estatura ou medida da sabedoria”. Peça (aiteitö). Aqui temos o presente do imperativo ativo de aiteö,que persista em pedir”. A Deus (para tou theou).

Para Tiago, o mestre cristão com um quadro de fundo judeu, a sabedoria é uma coisa praticas. Não é a especulação filosófica ou o conhecimento intelectual; sua esfera são coisas da vida. Os estoicos definiam a sabedoria como “o conhecimento do humano e o divino”.  A sabedoria cristã é um conhecimento tal que passa que passa à ação nas decisões e relações pessoais da vida cotidiana.

Tiago propõe que os cristãos busquem a sabedoria vinda da parte de Deus: “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida.” (v.5). Esta sabedoria não é conhecimento científico ou teológico. É possível que Tiago tenha em mente a visão do Antigo Testamento sobre a sabedoria, em que a fonte dela é o conhecimento do Senhor.

A sabedoria perfeita de Deus

A sabedoria de Deus, de modo geral, pode ser definida como “um entendimento adquirido sobre Deus e as suas verdades reveladas, que como consequência nos traz uma aplicação prática na nossa vida em todas as suas esferas (Jó 10.4; 26.6; Pv 5.21; 15.3), revelando a .sabedoria de Deus ao mundo através do nosso testemunho, cuja base é, antes de tudo, o temor a Deus, que envolve obediência à Sua Palavra.” Essa sabedoria em tudo contrasta com a sabedoria do mundo. A sua essência e a sua fonte estão somente em Deus (Jó 12.13ss; Is 13.2; Dn 2.20-23). Em Jesus temos o seu modelo perfeito. Essa sabedoria está ao nosso alcance e deve ser buscada.

A sabedoria de Deus não é subjetiva, mas objetiva e presente na criação do universo (Pv 3.19ss; 8.22-31; Jr 10.12), no homem (Jó 10.8ss; Sl 104.24; Pv 14.31; 22.2). Ele governa através da Sua sabedoria os processos naturais (Is 28.23-29) e históricos (Is 31.2). Tal sabedoria não pode ser apreendida pelo homem de forma natural (Jó 28.12-21), mas Deus a revela para ele (Jó 28.23,28). Isto é, toda sabedoria desprovida da revelação de Deus torna-se empobrecida, mesmo nos seus melhores aspectos (cf. 1 Co 1.17; 2.4; 2 Co 1.12 – O Novo dicionário da Bíblia, Edições Vida Nova, SP, 1999).

O homem só é realmente sábio quando Deus graciosamente lhes outorga a sua sabedoria, daí a exortação de Tiago para que busquemos essa sabedoria (Tg 1.5-8). Ela esteve presente na vida de Salomão (1 Rs cap. 3ss; Mt 12.42; Lc 11.31), Estevão (At 6.10), Paulo (2 Pe 3.15), José (At 7.10). Essa sabedoria divina é necessária ao ser humano, para que ele possa compreender os oráculos de Deus (Ap 13.18; 17.9), liderar a igreja do Senhor (At 6.3), perceber os propósitos de Deus na redenção (Ef 1.8,9), andar de maneira digna diante de Deus (Cl 1.9; Tg 1.5; 3.13-17).

Muitas pessoas buscam a sabedoria de Deus, esquecendo-se do seu princípio áureo: o temor do Senhor (Sl 111.10; Pv 9.10). É interessante notar, porém, que não tememos a Deus para ter sabedoria, mas o temor do Senhor transforma e guia os nossos pensamentos e ações, tornando-nos justos e retos, e dessa forma se revela a sabedoria de Deus em nós. Nossas ações, quando praticadas no temor do Senhor, são ações dignas e sábias.

“O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência.” (Provérbios 9.10).
O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino.” (Provérbios 1.7).
“Porque o SENHOR dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; é escudo para os que caminham na sinceridade...” (Provérbios 2.6,7).

Além destes versículos existem muitos outros no Antigo Testamento que refletem a fonte da sabedoria: Deus. Tiago explica que se pedirmos a Deus sabedoria, Ele nos dará livremente. Aqui a palavra “haplos”, significa também “simplesmente, incondicionalmente, sem barganha”. A ideia é de franqueza, de coração aberto. Deus está pronto para nos ajudar a viver uma vida cristã mais firme e constante. Esta sabedoria representa também o discernimento que o Senhor nos dá para vivermos mais na dimensão espiritual do que na dimensão deste tempo presente.

Deve lembrar como Deus dá liberalmente, generosamente e sem humilhar a ninguém. Os sábios judeus sabiam perfeitamente que o melhor presente do mundo pode perder-se pela forma de ser dado.

Filemon, o poeta grego, chamava a Deus de “aquele que ama os presentes”, não no sentido de que Ele goste de receber presentes, mas de que adorava dá-los. E Deus não lança em cara nada que dá, ou seja, não censura. Dá com todo o esplendor de Seu amor. É interessante a palavra “sem censura” (me oneidizontos). Havia o mal hábito de lançar palavras ferinas junto com o dinheiro, como é ilustrado em Sirac 41.22. Diz mais: “E lhe será dado” (kai dothesetai autöi), aqui significando, não só sabedoria, mas todos os bons dons, incluindo o Espírito Santo.

E finalmente dos versos 6 a 8, Tiago nos dá a principal exigência para termos sabedoria: Fé. “Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não pense tal pessoa que receberá coisa alguma do Senhor, pois tem mente dividida e é instável em tudo o que faz.”.

A fé consiste na confiança em Deus numa entrega total e plena nas mãos de Cristo. Porém, no relacionamento com Deus às vezes passaremos por momentos de dúvida. Porém o oposto da fé não é a dúvida, mas o medo. Por quê? Porque o medo paralisa, tira a perspectiva do alvo. A dúvida nos mostra o risco, e sem o elemento risco não há fé.

Quando Tiago fala em dúvida aqui no texto, a palavra grega é diakrinomenos e significa “dividir, duvidar, vacilar, estar em dúvida consigo mesmo”. 

Tiago 3.13-18 "Ninguém, sendo tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência;  então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.  Não vos enganeis, meus amados irmãos. Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas".

A SABEDORIA HUMILDE E A FALSA SABEDORIA

O temor do SENHOR é a instrução da sabedoria, e a humildade precede a honra.” Provérbios 15.33.

Uzias tinha somente 16 anos quando seu pai foi assassinado e ele subitamente se tornou rei de Judá, no oitavo século antes de Cristo. A história de seu reinado, que é registrada em 2 Crônicas 26, ensina uma lição poderosa sobre a importância da humildade. Uzias começou bem. Ele respeitava o Senhor e sua palavra; e Deus o abençoou abundantemente. O reino se expandiu e o rei fiel conseguiu dominar seus inimigos de todos os lados. Sua reputação se espalhou a outros países. Uzias se fortaleceu.
Então, tudo mudou. "Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração para a sua própria ruína, e cometeu transgressões contra o Senhor, seu Deus, porque entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar do incenso" (2 Crônicas 26.16). Uzias era um homem especialmente escolhido por Deus para conduzir seu povo. Durante muitos anos, Uzias serviu o Senhor fielmente. Porém não estava autorizado a entrar no templo para queimar incenso. Esse papel estava reservado para outros homens escolhidos por Deus, os sacerdotes, que serviam no templo. Uzias, não estando mais contente com o desempenho do papel que Deus lhe havia dado, tentou assumir uma função extra e foi fortemente repreendido por seu erro.
O sacerdote Azarias e 80 outros sacerdotes seguiram Uzias até o templo e desafiaram seu ato presunçoso. Uzias enraiveceu-se e Deus respondeu imediatamente ao seu erro. O rei ficou leproso ali mesmo no templo diante dos olhos dos sacerdotes. Eles imediatamente o atiraram fora do templo, e Uzias correu da casa de Deus, percebendo que o Senhor tinha punido sua arrogância. Seu filho assumiu os negócios do Estado e deixou o leproso Uzias isolado em sua casa pelo resto de sua vida. A vida abençoada de um grande homem foi arruinada por um ato de desobediência, pela falta de humildade.

A HUMILDADE É FUNDAMENTAL PARA NOSSA COMUNHÃO COM DEUS

Quando Jesus pregou o sermão que define o caráter do verdadeiro discípulo, suas palavras iniciais foram diretas ao coração: "Bem aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mateus 5.3). Ele continuou a pregar durante mais três capítulos, mas muitos ouvintes não o ouviram porque nunca passaram da linha de partida. Mesmo hoje, a maior parte da mensagem do evangelho cai em ouvidos surdos de homens e mulheres arrogantes que não querem mesmo reconhecer a posição de Jesus como Senhor.
Mas Jesus não reduziu os padrões. Ele não abriu uma porta extra para entrarem os arrogantes ou os "quase" humildes. Ele manteve intacto o seu requisito fundamental porque ele reflete a exigência eterna de Deus. Deus nunca aceitou o homem cheio de orgulho que pensava fazer as coisas a seu próprio modo. Ao contrário de toda a sabedoria dos homens carnais, tendentes a adquirir poder e posição, Deus aceita exclusivamente os humildes. Uma geração depois de Uzias, o profeta Miquéias pegou perfeitamente a ideia quando ele citou as palavras de Deus: "Ele te declarou, ó homem, o que é bom e o que é que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus" (Miquéias 6.8). As Escrituras deixam perfeitamente claro que não há  outra maneira de caminhar com Deus. Ou andamos humildemente com nosso Deus, ou não andamos de modo nenhum com ele!
Jesus andou no meio de homens carnais e enfrentou tremendo desafio. Como poderia ele capturar seus corações para moldá-los como os servos humildes que o Pai quer? Não foi uma tarefa fácil. Ele falava frequentemente de humildade, e mostrava em sua vida de serviço o que significa elevar os outros acima de nós mesmos. Quem poderia exemplificar melhor a humildade voluntária do que o próprio Deus, que deixou sua habitação celestial para servir e mesmo morrer pelos homens pecadores? (Esta é a essência do apelo irresistível de Paulo em Filipenses 2.3-8).
Há exemplos que mostram claramente como Jesus ressaltava a humildade para seus apóstolos. O um deles está em Mateus 18.1-4. Os apóstolos frequentemente disputavam entre si sobre a grandeza. Dois deles uma vez foram tão ousados a ponto de pedir que fossem colocados acima de seus colegas no reino. Jesus respondeu à atitude deles chamando uma criança. Enquanto estes homens crescidos olhavam, Jesus começou a pregar um sermão memorável: "Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus" (Mateus 18.3-4).

COMO A ARROGÂNCIA IMPEDE AS BENÇÃOS DE DEUS.

Podemos tirar algumas conclusões claras e importantes do ensinamento da Bíblia, mostrando o porquê a falta de humildade impede as bênçãos de Deus. Considere como o orgulho é absolutamente oposto às qualidades e comportamentos que Deus quer que demonstremos.
Sem humildade, não serviremos a outros como deveríamos, porque aqueles que são arrogantes e egoístas querem ser servidos, e não servir.
Sem humildade, não seremos seguidores. Os orgulhosos querem ser chefes e cobiçam a posição e a influência de outros. Este foi o problema que Arão e Miriã tiveram em Números 12, e o mesmo pecado que custou as vidas de quase 15.000 pessoas, em Números 16.
Sem humildade não buscaremos realmente a verdade. O homem orgulhoso pensa que já conhece as respostas, e não quer depender de quem quer que seja, nem mesmo do próprio Deus. A arrogância também impede nosso entendimento da verdade. Se não queremos admitir a necessidade de mudança, ou não queremos aceitar o fato que alguma outra pessoa sabe mais do que nós, nosso orgulho será um bloqueio fatal para o estudo eficaz da Bíblia.

Sem humildade, não reconheceremos nossos próprios defeitos. Somos até capazes de enganar nossos próprios corações para não vermos nosso próprio pecado. Saul fez isto quando defendeu sua desobediência na batalha contra os amalequitas. Ele argumentou que tinha obedecido o Senhor e que o povo tinha errado (1 Samuel 15.20-21). Deus não aceitou esta desculpa esfarrapada, e não aceita a nossa.
Um outro problema relacionado com a arrogância  e a falta de humildade é a dificuldade em aceitar a correção. Provérbios 15.31-33 mostra a consequência de tal orgulho: "Os ouvidos que atendem à repreensão salutar no meio dos sábios têm a sua morada. O que rejeita a disciplina menospreza a sua alma, porém o que atende à repreensão adquire entendimento. O temor do Senhor é a instrução da sabedoria, e a humildade precede a honra." Provérbios 12.1 é mais direto: "Quem ama a disciplina ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é estúpido."

O MODELO DE JESUS

"Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus" (Mateus 18.3-4).
Outro  exemplo dado por Jesus, ainda mais tocante, é registrado em João 13.1-17. Quando se preparavam para partilhar a refeição da Páscoa, Jesus aproveitou o momento para ensinar uma lição necessária. Os apóstolos jamais esqueceriam esta noite, e Jesus não perdeu a oportunidade para ensinar. Ele tomou uma toalha e  água e foi, de discípulo em discípulo, lavando seus pés. Isto era, por costume, serviço dos servos mais humildes, mas aqui o Criador do universo estava se humilhando diante de simples galileus. Quando terminou, ele voltou-se para os apóstolos e perguntou? "Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes" (João 13.12-17).
Não é de se admirar que outros homens inspirados falassem da importância da humildade. Tiago disse: "Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós... Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará" (Tiago 4.6)
“Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria.” Tiago 3.13.

A pergunta — "Quem entre vós é sábio e entendido?" — é de fato um desafio: se você diz ser sábio, demonstre sua sabedoria pelas obras que a verdadeira sabedoria produz. Muitos comentaristas acham que a pergunta de Tiago dirige-se especialmente aos mestres mencionados no versículo 1. Mas nem sophos (sábio, “pessoa sábia”) nem epistêmõn (“instruído”, “cheio de entendimento”) são aplicados como títulos ao mestre. Eles aparecem juntos várias vezes na Septuaginta, uma vez em referência às qualidades que os líderes devem possuir (Dt 1.13,15), mas também é aplicado a todo o Israel (Dt 4.6; Dn 5.12 aplica-os ao profeta). Está claro que Tiago considera a “sabedoria” uma virtude à disposição de todos (1.5), e mesmo 3.1 realmente não se dirige a mestres, mas àqueles que queriam se tomar mestres. Portanto, a exortação de Tiago é melhor compreendida como se fosse dirigida a todos os crentes em geral, mas especialmente àqueles que se orgulhavam de seu conhecimento superior.

É necessário observar os três elementos que compõe o versículo: "Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria".

Mostre pelo seu bom trato – (trato: tratamento; ajuste, pacto, tratado; convivência; passadio, alimentação; procedimento, modos, etc). Aquele que se sentisse sábio e entendido deveria ter uma boa convivência, bons modos e procedimento;

As suas obras – ‘as obras’ constituem o motivo pela qual alguém se gaba; observe que ‘bom trato’ não é ‘boas obras’ (aquelas que são feitas em Deus), e que ‘boas obras’ também não é ‘as suas obras’, que o versículo faz referência; a pessoa que estivesse se gloriando deveria mostrar a sua realização (suas obras);

•Em mansidão de sabedoria – Porém, deveria demonstrar as suas obras segundo a sabedoria descrita no versículo dezessete: em mansidão de sabedoria que do alto vem.

“...sábio e entendido...”. (sophos kai epistemön). ‘Sophos’ se usa para definir o mestre prático (v.1), e ‘epistemön’ de um experto, uma pessoas destra e cientifica com um tom de superioridade.

Sabedoria é um assunto típico da literatura hebraica. Há três livros no Antigo Testamento que se enquadram na categoria de “livros de sabedoria”. 
Ao contrário do que acontecia com os gregos, a sabedoria para os judeus era sempre prática, vivencial e se focalizava em como aplicar ä vida as verdades de Deus. Por isso Tiago desafia seus leitores a mostrarem pelas suas obras que tipo de sabedoria eles têm.

UM NOVO CONCEITO DE SABEORIA

Sabedoria em Tiago tem mais que ver com uma conduta que reflete a natureza e a vontade de Deus do que com um intelecto aguçado. Tiago lança um desfio: “Quem é sábio e tem entendimento entre vocês?” Tanto sabedoria como entendimento andam bem juntos. Sabedoria direciona os passos, e entendimento informa o destino das decisões. Segundo Tiago, ela é demonstrada pelo bom procedimento. A questão não é o quanto sabemos na nossa mente, mas quanto esse conhecimento é refletido no nosso procedimento.

Conforme Dibelius destaca, a exortação de Tiago à “pessoa sábia” parece desajeitada, pelo fato de ele combinar duas ideias nela: a sabedoria deve produzir obras e a sabedoria deve ser caracterizada pela humildade. A primeira ideia dá-nos uma forte lembrança da exigência anterior de Tiago, no sentido de que a fé se manifesta em obras. A verdadeira sabedoria, assim como a fé real, é uma qualidade prática e vital que tem a ver tanto (ou mais) com o modo pelo qual vivemos como com aquilo que pensamos ou dizemos. Neste sentido, Tiago é fiel ao conceito veterotestamentário da sabedoria como um modo de vida, a atitude e conduta típicas de uma pessoa piedosa. Mas Tiago está muito mais interessado na segunda ideia mencionada acima, as qualidades que devem ser manifestadas pela sabedoria. Em mansidão de sabedoria deve ser entendido como um qualificativo de obras. Estas devem ser praticadas “em mansidão” que caracteriza a “sabedoria” ou nasce dela (vendo o genitivo como descritivo ou indicador de origem). Mansidão (praütês), na mente da maioria dos gregos, dificilmente era uma virtude a ser buscada: ela sugeria um rebaixamento servil e ignóbil. Mas Jesus, que pessoalmente foi “manso” (Mt 11.29), pronunciou uma bênção sobre aqueles que fossem mansos (Mt 5.5). Tal mansidão cristã envolve uma compreensão sadia acerca de nossa falta de méritos diante de Deus e uma respectiva humildade e falta de orgulho no trato com nossos semelhantes.

“Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade.” 3.14.

O problema encontra-se no coração do homem e a língua torna evidente este mal “...sentimento faccioso em vosso coração...”.
Este versículo demanda um exercício de interpretação de texto para uma melhor compreensão. Observe:

Uma pergunta – “Quem entre vós é sábio e entendido?”. O contexto nos mostra que só quem quer ser mestre se considera sábio e entendido;
Uma determinação a quem respondesse afirmativamente que é sábio e entendido – “Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria”. A determinação do apóstolo só é cabível a quem presume ser sábio e entendido; porém, a determinação é impossível de ser cumprida por quem se arroga na condição de sábio e entendido;

Uma conclusão – “Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração...”. Este versículo é uma conclusão do apóstolo, e aponta os elementos que consta do coração daqueles que se acham sábios e entendidos. Observe que o argumento fica inconsistente quando se tenta combinar a primeira e a segunda parte do versículo ao se enfatizar a partícula ‘se’: “Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso...”, e; “...não vos glorieis, nem mintais contra a verdade”. O indivíduo pode se gloriar de uma alta posição, porém, jamais alguém vai querer se gloriar de ser invejoso e faccioso. A Bíblia Vida Nova da Editora Vida Nova reza o seguinte: “Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade”. Para enfatizar a partícula ‘se’, trocam o ‘não’ pelo ‘nem’, o que dá a entender que alguém se gloria em ser invejo e faccioso (‘glorieis disso’, disso o quê?).

A pergunta persiste: quem é sábio e entendido? Um sábio e entendido deve mostrar através do seu bom comportamento suas obras em mansidão de sabedoria. Quando alguém que se diz sábio e entendido não consegue cumprir com a determinação anterior, só pode estar acometido de amarga inveja e um sentimento faccioso no coração.

A determinação é clara e precisa: “...não vos glorieis nem mintais contra a verdade”.

Não vos glorieis – Com relação a gloriar-se, a primeira determinação do apóstolo é oposta: “Glorie-se o irmão de condição humilde (...) o rico, porém, glorie-se na sua insignificância...”; O apóstolo Tiago dá um bom motivo para os irmãos se gloriarem (Tg 1.9-10), e reitera que todos devem estar prontos a ouvir, tardios em falar (Tg 1.19). Se alguém estava procurando a posição de mestre com a intenção de gloriar-se, a determinação é clara: não vos glorieis; pois os mestres receberão maior juízo (Tg 3.1); a língua se gaba de grandes coisas (Tg 3.5); e, quem entre eles era sábio e entendido, a ponto de gloriar-se? (Tg 3.13);
Muitos dentre os cristãos se sentiam mestres, sábios e entendidos, porém a sabedoria que neles estava não vinha de Deus (Tg 3.1 e 13).

A pretensa sabedoria que alguns possuíam não era a sabedoria que vem do alto.
A sabedoria terrena, animal e diabólica é a que está vinculada à velha natureza. Eles ainda eram carnais (1Co 3.3).

v.16 "Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa".

A partir do v. 17, surge a descrição da sabedoria que vem do alto.
Vejamos rapidamente o que significa cada uma dessas características:

Pura é uma sabedoria que não está contaminada pelas imundícias que desagradam a Deus. Pura, em grego, hágnos e o sentido desta raiz contem a ideia de suficientemente puro para acercar-se aos deuses.  

Pacífica porque onde o Senhor está, há paz. A sabedoria diabólica, por outro lado, produz confusão e toda má obra. Moderada: o termo sugere moderação, equilíbrio, gentileza. É uma forma de autêntico cavalheirismo, é fazer aquilo que é justo, mesmo que isso implique em abrir mão de seus direitos.

 A sabedoria divina é ainda cheia de misericórdia. A palavra aqui usada significa “compaixão pelos desgraçados”. Uma pessoa que tenha sabedoria que vem do alto terá profundo interesse pelas pessoas e irá se condoer com os que sofrem. Cheia de misericórdia e de bons frutos tem sido interpretado por alguns como uma redundância: os frutos que a misericórdia produz. No entanto, pode ser mais amplo. Não basta a misericórdia. Além dela, bons frutos devem ser apresentados. Sem parcialidade: a questão da acepção de pessoas tratada no capítulo 2 é aqui retomada. Quando na igreja há atitudes de favoritismo está havendo pecado.

Por tudo isso a sabedoria do alto é sem hipocrisia. A palavra “hipócrita” tem uma origem bem interessante: ela vem das peças teatrais gregas onde o ator representava uma personagem. O hipócrita é aquele que não age com sinceridade, mas toma suas atitudes de acordo com os seus próprios interesses do momento.

“Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz”. V. 18
Ao concluir este capitulo Tiago mostra através deste versículo um vínculo de conexão entre o que temos estado analisando e o que virá nos capítulos finais.
Mais uma vez Tiago tem que colocar nossa fé a prova, esta vez concernente à classe de sabedoria que manifestamos em nossa vida cotidiana.

O apóstolo Tiago chega a uma conclusão: o fruto da justiça semeia-se na paz! O que ele quis dizer?

Não se semeia o fruto, e sim a semente, pois devemos ter em mente que a semente dará o seu fruto no devido tempo. Ou seja, para se obter o fruto da justiça devemos lançar a semente na paz. Mas, qual é a semente que produz o fruto da justiça? Para se obter o fruto da justiça faz-se necessário semear a semente apropriada, que é a palavra de Deus (1Pe 1.23).
Nada bom pode crescer em um ambiente no qual as pessoas estão em constante rivalidade e desacordo.

CONCLUSÃO

Entendemos, que a sabedoria do alto é muito mais que um conhecimento profundo de Deus. Ela se desdobra em ações praticadas pela justiça, mediante um santo proceder, fruto de uma mente renovada pela graça de Deus. É uma sabedoria que não permanece estática diante da revelação de Cristo, mas que reage a essa revelação de maneira positiva, com o intuito de aprender dele para servi-lo. Ela às vezes pode confundir os que se deparam com ela (Mc 6.2), mas a ela ninguém pode resistir (Lc 21.15; At 6.10). Ela deve estar presente nos servos de Deus (At 6.3), como sabedoria dada por Ele (1 Co 1.17), porque somente o poder de Deus ode produzir em nós a verdadeira fé (1 Co 2.1-13). A sabedoria de Deus nos impede de cometer erros terríveis (1 Co 2.8) e nos traz pleno conhecimento dele (Ef 1.17).
A humildade, a pouca solvência faz parte  do plasmar da verdadeira sabedoria oriunda de Deus.

Que sejamos sábios, que sejamos humildes, que sejamos SERVOS DO DEUS ALTÍSSIMO.

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Pr. Adaylton de Almeida Conceição (Th.B.Th.M.Th.D.)


(R.I.P.)
foi meu amigo


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