John Wesley
Susana marcava o quinto aniversário de cada filho como o dia em que deviam aprender o alfabeto; e todos, a não ser dois, cumpriram a tarefa no tempo marcado. No dia seguinte, a criança que completava cinco anos e aprendia o alfabeto, começava o estudo da leitura, iniciando-o com o primeiro versículo da Bíblia."Os meninos no lar de Samuel Wesley aprenderam o valor que há em observar fielmente os cultos. Não há em outras histórias fatos tão profundos e atraentes como o que consta acerca dos filhos de Samuel e Susana Wesley, pois antes de saberem ajoelhar-se ou falar, eram instruídos a dar graças pelo alimento, por meio de acenos apropriados. Logo que aprendiam a falar, repetiam a Oração Dominical de manhã e à noite; e eram ensinados, também, a acrescentar outros pedidos, conforme o seu desejo... Ao chegarem à idade própria, um dia da semana era designado a cada filho, para conversar sobre as 'dúvidas e dificuldades'. Na lista aparecem os nomes de John, para quarta-feira, e o de Carlos, para o sábado. E para os filhos, o dia de cada um tornou-se precioso e memorável... É comovente ler o que John Wesley, vinte anos depois de sair da casa paterna disse à sua mãe: "Em muitas coisas a senhora tem intercedido por mim e tem prevalecido. Quem sabe se agora também, na intercessão para que eu renuncie inteiramente o mundo, terá bom êxito?... Sem dúvida será tão eficaz para corrigir o meu coração, como era então para formar o meu caráter."
John se esforçava para levantar-se todos os dias às quatro horas. Por meio de anotações que escrevia diariamente de tudo que fazia durante o dia, conseguia dar conta de seu tempo para não desperdiçar um momento. Continuou a observar esse costume até quase o último dia da sua vida.
Como era característico em sua vida, a bordo do navio em viagem à América do Norte, observava, com outros de seu grupo, um programa para não desperdiçar um momento durante o dia; levantava-se às quatro horas e deitava-se depois das vinte e uma. As primeiras três horas do dia eram dedicadas à oração e estudo das Escrituras. Depois de cumprir tudo que estava indicado no programa do dia, o cansaço era tanto que, não obstante o bramido do mar e o balanço do navio, dormiam sem perturbação, deitados sobre um cobertor estendido no convés. Na Geórgia, a população inteira afluía à igreja para ouvir a sua pregação. A influência de seus sermões foi tal que, depois de dez dias, uma sala de baile ficou quase inteiramente abandonada, enquanto a igreja se enchia de pessoas que oravam e eram salvas.
Whitefield, que desembarcou na Geórgia alguns meses depois de Wesley voltar à Inglaterra, assim descreveu o que viu: "O êxito de John Wesley na América é indizível. Seu nome é precioso entre o povo, onde lançou os alicerces que nem os homens nem os demônios podem abalar. Oh! que eu possa segui-lo como ele seguiu a Cristo!" Contudo, a Wesley faltava uma coisa muito importante, conforme se vê pelos acontecimentos que o levaram a sair da Geórgia, como ele mesmo escreveu: "Faz dois anos e quase quatro meses que deixei a minha terra natal para pregar Cristo aos índios da Geórgia; entretanto, o que cheguei eu a saber? Ora, vim a saber o que eu menos esperava: fui à América para converter outros, mas nunca fora realmente convertido a Deus."
"Eram quase cinco horas, hoje, quando abri o Novo Testamento e encontrei estas palavras: 'Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas para que por elas fiqueis participantes da natureza divina" (2 Pedro 1.4). Antes de sair, abri mais uma vez o Novo Testamento para ler estas outras palavras: 'Não estás longe do reino de Deus...' (Marcos 12.34). À noite, senti-me impelido a assistir em Aldersgate... Senti o coração abrasado; confiei em Cristo, somente em Cristo, para a salvação: foi-me dada a certeza de que Ele levara os meus pecados e de que me salvara da lei do pecado e da morte. Comecei a orar com todas as minhas forças... e testifiquei a todos os presentes do que sentia no coração."
Mas a perseguição da parte da igreja decadente era a sua maior cruz. Foram denunciados como "falsos profetas", "paroleiros", "impostores arrogantes", "homens destros na astúcia espiritual", "fanáticos", etc. Ao voltar para visitar Epworth, onde nascera e se criara, John assistiu, no domingo, ao culto da manhã e ao culto da tarde, na igreja onde seu pai fora fiel pastor durante muitos anos, mas não lhe foi concedida a oportunidade de falar ao povo. Às dezoito horas, John , em pé, sobre o monumento, que marcava o lugar em que enterraram seu pai, ao lado da igreja, pregou ao maior auditório jamais visto em Epworth - e Deus salvou muitas almas.
Tocha tirada do fogo
(1703-1791)
O céu, à
meia-noite, era iluminado pelo reflexo sombrio das chamas que devoravam
vorazmente a casa do pastor Samuel Wesley. Na rua, ouviam-se os gritos:
"Fogo! Fogo!" Contudo, a família do pastor continuava a dormir tranquilamente, até que os escombros ardentes caíram sobre a cama de uma
filha, Hetty. A menina acordou sobressaltada e correu para o quarto do
pai.
A ama, ao
ser despertada pelo alarme, arrebatou a criança menor, Carlos, do berço.
Chamou os outros meninos, insistindo que a seguissem, desceu a escada;
porém, John, que então contava cinco anos e meio, ficou dormindo.
Três vezes
a mãe, Susana Wesley, que se achava doente, tentou, debalde, subir a
escada. Duas vezes o pai tentou, em vão, passar pelo meio das chamas,
correndo. Sentindo o perigo, ajuntou a família no jardim, onde todos
caíram de joelhos e suplicaram a favor da criança presa pelo fogo.
Enquanto a
família orava, John acordou e, depois de tentar descer pela escada,
subiu numa mala que estava em frente a uma janela, onde um vizinho o viu
em pé. O vizinho chamou outras pessoas e conceberam o plano de um deles
subir nos ombros de um primeiro enquanto um terceiro subia nos ombros
do segundo, e alcançaram a criança. Dessa maneira, John foi salvo da
casa em chamas, apenas instantes antes de o teto cair com grande fragor.
O menino
foi levado, pelos intrépidos homens que o salvaram, para os braços do
pai. "Cheguem, amigos!", clamou Samuel Wesley, ao receber o filhinho,
"ajoelhemo-nos e agradecemos a Deus! Ele me restituiu todos os meus
filhos; deixem a casa arder; os meus recursos são suficientes." Quinze
minutos depois, casa, livros, documentos e mobiliários, não existiam
mais.
Anos
depois, em certa publicação, apareceu o retrato de John Wesley e embaixo
a representação de uma casa ardendo, com as palavras: "Não é este um
tição tirado do fogo?" (Zacarias 3.2).
Encontra-se
nos escritos de Wesley, a seguinte referência interessante, desse
histórico sinistro: "Em 9 de fevereiro de 1750, durante um culto de
vigília, cerca das onze horas da noite, lembrei-me de que era esse o dia
e a hora, havia quarenta anos, em que me tiraram das chamas.
Aproveitei-me do ensejo para relatar a maravilhosa providência. Os
louvores e as ações de graças subiram às alturas e grande foi o regozijo
perante o Senhor". Tanto o povo, como John Wesley, já sabiam naquele
tempo porque o Senhor o poupara do incêndio.
O
historiador Lecky, nomeia o Grande Avivamento como sendo a influência
que salvou a Inglaterra de um-a revolução, igual à que, na mesma época,
deixou a França em ruínas. Dos quatro vultos que se destacaram no Grande
Avivamento, John Wesley era o maior. Jônatas Edwards, que nasceu no
mesmo ano de Wesley, faleceu trinta e três anos antes dele; Jorge
Whitefield, nascido onze anos depois de Wesley, faleceu vinte anos antes
dele; e Carlos Wesley continuou o seu itinerário efetivo somente
dezoito anos, enquanto John continuou durante meio século.
Mas a
biografia deste célebre pregador, para ser completa, deve incluir a
história de sua mãe, Susana. De fato, é como certo biógrafo escreveu:
"Não se pode traçar a história do Grande Avivamento do século passado
(1700), na Inglaterra, sem dar uma grande parte da herança merecida à
mãe de John e Carlos Wesley; isso não somente por causa da instrução que
inculcou profundamente aos filhos, mas por causa da direção que deu ao
avivamento."
A mãe de
Susana era filha de um pregador. Esforçada na obra de Deus, casou-se com
o eminente ministro, Samuel Annesley. Dos vinte e cinco filhos deste
enlace, Susana era a vigésima quarta. Durante a vida, seguiu o exemplo
da sua mãe, passando uma hora de madrugada e outra à noite, orando e
meditando sobre as Escrituras. Pelo que ela escreveu certo dia, vê-se
como se dedicava à oração: "Que Deus seja louvado por todos os dias em
que nos comportamos bem. Mas estou ainda descontente, porque não
desfruto muito de Deus; sei que me conservo demasiadamente longe dele;
anseio ter a alma mais intimamente ligada a Ele pela fé e amor".
John era o
décimo-quinto filho dos dezenove filhos de Samuel e Susana Wesley. O
que vamos transcrever, escrito pela mãe de John, mostra como ela era
fiel em "ordenar a seus filhos e a sua casa depois" dela (Gênesis
18.19): "Para formar a mente da criança, a primeira coisa é vencer-lhe a
vontade. A obra de instruir o intelecto leva tempo e deve ser gradual,
conforme a capacidade da criança. Mas o subjugar-lhe a vontade deve ser
feito de uma vez, e quanto mais cedo tanto melhor... Depois, pode-se
governar a criança pela razão e piedade dos pais, até chegar o tempo de a
criança poder, também exercer o raciocínio."
Acerca de
Samuel e Susana Wesley e seus filhos, o célebre comentador da Bíblia,
Adão Clark, escreveu: "nunca li nem ouvi falar duma família; não conheço
e nem existe outra, desde os dias de Abraão e Sara, de José e Maria de
Nazaré, à qual a raça humana deve tanto."
Susana
Wesley acreditava que "aquele que poupa a vara, aborrece a seu filho"
(Provérbios 13.24), e não consentia que seus filhos chorassem em voz
alta. Assim, apesar de a casa estar repleta de crianças, nunca havia
tempos tristonhos nem balbúrdia no lar do pastor. Um filho jamais ganhou
coisa alguma chorando, na casa de Susana Wesley.
Susana marcava o quinto aniversário de cada filho como o dia em que deviam aprender o alfabeto; e todos, a não ser dois, cumpriram a tarefa no tempo marcado. No dia seguinte, a criança que completava cinco anos e aprendia o alfabeto, começava o estudo da leitura, iniciando-o com o primeiro versículo da Bíblia."Os meninos no lar de Samuel Wesley aprenderam o valor que há em observar fielmente os cultos. Não há em outras histórias fatos tão profundos e atraentes como o que consta acerca dos filhos de Samuel e Susana Wesley, pois antes de saberem ajoelhar-se ou falar, eram instruídos a dar graças pelo alimento, por meio de acenos apropriados. Logo que aprendiam a falar, repetiam a Oração Dominical de manhã e à noite; e eram ensinados, também, a acrescentar outros pedidos, conforme o seu desejo... Ao chegarem à idade própria, um dia da semana era designado a cada filho, para conversar sobre as 'dúvidas e dificuldades'. Na lista aparecem os nomes de John, para quarta-feira, e o de Carlos, para o sábado. E para os filhos, o dia de cada um tornou-se precioso e memorável... É comovente ler o que John Wesley, vinte anos depois de sair da casa paterna disse à sua mãe: "Em muitas coisas a senhora tem intercedido por mim e tem prevalecido. Quem sabe se agora também, na intercessão para que eu renuncie inteiramente o mundo, terá bom êxito?... Sem dúvida será tão eficaz para corrigir o meu coração, como era então para formar o meu caráter."
Depois do
espetacular salvamento de John do incêndio, sua mãe, profundamente
convencida de que Deus tinha grandes planos para seu filho, resolveu
firmemente criá-lo para servir e ser útil na obra de Cristo. Susana
escreveu estas palavras nas suas meditações particulares: "Senhor,
esforçar-me-ei mais definitivamente em prol desta criança, a qual
salvaste tão misericordiosamente. Procurarei transmitir-lhe fielmente ao
coração os princípios da tua religião e virtude. Senhor, dá-me a graça
necessária para fazer isso sincera e sabiamente, e abençoa os meus
esforços com grande êxito!"
Ela era tão fiel, em cumprir sua resolução, que John foi admitido a participar da Ceia do Senhor, com a idade de oito anos. Nunca se
omitia o culto doméstico do programa do dia, no lar de Samuel Wesley.
Fosse qual fosse a ocupação dos membros da família, ou dos criados,
todos se reuniam para adorar a Deus. Na ausência do marido, Susana, com o
coração aceso pelo fogo dos céus, dirigia os cultos. Conta-se que,
certa vez, quando ele prolongou a ausência mais do que de costume,
trinta e quarenta pessoas assistiram aos cultos no lar dos Wesley e a
fome pela Palavra de Deus aumentou, a ponto de a casa ficar repleta das
pessoas da vizinhança que assistiam aos cultos.
A família do pastor Samuel Wesley vivia rodeada de pobreza, mas pela influência do Duque de Buckinghan, conseguiram um lugar para John na Charterhouse, em Londres. Assim, o menino, antes de completar onze anos, deixou a atmosfera fragrante de oração ardente, para enfrentar as porfias de uma escola pública. Contudo, não cedeu ao ambiente de pecado de que estava rodeado. Conservava, também, as suas forças físicas, obedecendo fielmente o conselho de seu pai, que corresse três vezes, de madrugada, em redor do grande jardim da Charterhouse. Tomou como regra da sua vida, dali em diante, manter o vigor do corpo. Aos 80 anos, apesar de seu físico franzino, considerava coisa insignificante andar de pé uma légua e meia, para pregar.
A família do pastor Samuel Wesley vivia rodeada de pobreza, mas pela influência do Duque de Buckinghan, conseguiram um lugar para John na Charterhouse, em Londres. Assim, o menino, antes de completar onze anos, deixou a atmosfera fragrante de oração ardente, para enfrentar as porfias de uma escola pública. Contudo, não cedeu ao ambiente de pecado de que estava rodeado. Conservava, também, as suas forças físicas, obedecendo fielmente o conselho de seu pai, que corresse três vezes, de madrugada, em redor do grande jardim da Charterhouse. Tomou como regra da sua vida, dali em diante, manter o vigor do corpo. Aos 80 anos, apesar de seu físico franzino, considerava coisa insignificante andar de pé uma légua e meia, para pregar.
Conta-se
um exemplo da influência que John exercia sobre seus colegas de
Charterhouse. Certo dia o porteiro sentiu falta dos meninos no terraço
de recreio e foi achá-los em uma das salas, congregados em redor de John. Este contava-lhes histórias instrutivas, as quais atraíam mais do
que o recreio.
Acerca
deste tempo, John Wesley escreveu: "Eu participava de várias coisas que
reconhecia como sendo pecado, embora não fossem escandalosas aos olhos
do mundo. Contudo, continuei a ler as Escrituras e a orar de manhã e à
noite. Baseava a minha salvação sobre os seguintes pontos:1) Não me
considerava tão perverso como o próximo. 2) Conservava a inclinação de
ser religioso. 3) Lia a Bíblia, assistia aos cultos e fazia oração".
Depois de
estudar seis anos na Charterhouse, Wesley cursou em Oxford, tornando-se
proficiente no latim, grego, hebraico e francês. Mas seu interesse
principal não era o intelecto. Sobre esse assunto ele escreveu: "Comecei
a reconhecer que a religião verdadeira tem a sua fonte no coração...
reservei duas horas, todos os dias, para ficar sozinho com Deus.
Participava da Ceia do Senhor de oito em oito dias. Guardei-me de todo o
pecado, quer de palavras, quer de atos. Assim, na base das boas obras
que praticava, eu me considerava um bom crente".
John se esforçava para levantar-se todos os dias às quatro horas. Por meio de anotações que escrevia diariamente de tudo que fazia durante o dia, conseguia dar conta de seu tempo para não desperdiçar um momento. Continuou a observar esse costume até quase o último dia da sua vida.
Certo dia,
quando ainda jovem, assistiu a um enterro em companhia de um moço, e
conseguiu levá-lo a Cristo, ganhando, assim, a primeira alma para seu
Salvador. Alguns meses depois, com a idade de 24 anos, e depois de um
período de oração, foi separado para o diaconato.
Enquanto
estudava em Oxford, ajuntava-se ali um pequeno grupo dos estudantes para
orar, estudar as Escrituras juntos diariamente, jejuar às quartas e
sextas-feiras, visitar os doentes e encarcerados e confortar os
criminosos na hora da execução. Todas as manhãs e todas as noites cada
um passava uma hora orando sozinho em oculto. Nas orações paravam de vez
em quando para observarem se oravam com o devido fervor. Sempre oravam
ao entrar e ao sair dos cultos na igreja. Três dos membros desse grupo,
mais tarde tornaram-se famosos entre os crentes: 1) John Wesley, que
talvez tenha feito mais que qualquer outro para aprofundar a vida
espiritual, não somente de então, mas também de nosso tempo; 2) Carlos
Wesley, que chegou a ser um dos mais espirituais e famosos escritores de
hinos evangélicos; e 3) Jorge Whitefield, que se tornou o comovente
pregador ao ar livre.
Naquele
tempo, sentia-se a influência de John Wesley em muitas partes das
Américas, e hoje ainda é sentida. Contudo, passou menos que dois anos
neste continente, e isto durante o período da sua vida, quando se achava
perturbado por causa de dúvidas. Aceitou a chamada para pregar o
Evangelho aos silvícolas na colônia de Geórgia, desejoso de ganhar sua
salvação por meio de boas obras. Pensou que vaidade e ostentação mundana
não se encontrariam nas matas da América.
Como era característico em sua vida, a bordo do navio em viagem à América do Norte, observava, com outros de seu grupo, um programa para não desperdiçar um momento durante o dia; levantava-se às quatro horas e deitava-se depois das vinte e uma. As primeiras três horas do dia eram dedicadas à oração e estudo das Escrituras. Depois de cumprir tudo que estava indicado no programa do dia, o cansaço era tanto que, não obstante o bramido do mar e o balanço do navio, dormiam sem perturbação, deitados sobre um cobertor estendido no convés. Na Geórgia, a população inteira afluía à igreja para ouvir a sua pregação. A influência de seus sermões foi tal que, depois de dez dias, uma sala de baile ficou quase inteiramente abandonada, enquanto a igreja se enchia de pessoas que oravam e eram salvas.
Whitefield, que desembarcou na Geórgia alguns meses depois de Wesley voltar à Inglaterra, assim descreveu o que viu: "O êxito de John Wesley na América é indizível. Seu nome é precioso entre o povo, onde lançou os alicerces que nem os homens nem os demônios podem abalar. Oh! que eu possa segui-lo como ele seguiu a Cristo!" Contudo, a Wesley faltava uma coisa muito importante, conforme se vê pelos acontecimentos que o levaram a sair da Geórgia, como ele mesmo escreveu: "Faz dois anos e quase quatro meses que deixei a minha terra natal para pregar Cristo aos índios da Geórgia; entretanto, o que cheguei eu a saber? Ora, vim a saber o que eu menos esperava: fui à América para converter outros, mas nunca fora realmente convertido a Deus."
Depois de
voltar à Inglaterra, John Wesley começou a servir a Deus com a fé de um
filho e não mais com a fé dum simples servo. Acerca desse assunto, eis o
que ele escreveu: "Não reconhecia que esta fé era dada instantaneamente,
que o homem podia sair das trevas para a luz imediatamente, do pecado e
da miséria para a justiça e gozo do Espírito Santo. Examinei de novo as
Escrituras sobre este ponto, especialmente Atos dos Apóstolos. Fiquei
grandemente surpreendido ao ver quase que somente conversões
instantâneas; quase nenhuma tão demorada como a de Saulo de Tarso".
Desde então começou a sentir mais e mais fome e sede de justiça, a
justiça de Deus pela fé.
Fracassara
na sua primeira tentativa de pregar o Evangelho na América, porque,
apesar de seu zelo e bondade de caráter, o cristianismo que possuía era
uma coisa que recebera por instrução. Mas a segunda etapa de seu
ministério destacou-se por um êxito fenomenal. E porque o fogo de Deus
ardia na sua alma, chegara a ter contato direto com Deus por uma
experiência pessoal.
Relatamos
aqui, com suas próprias palavras, a sua experiência na qual o Espírito
testificou ao seu espírito que era filho de Deus. Essa experiência
transformou completamente a sua vida.
"Eram quase cinco horas, hoje, quando abri o Novo Testamento e encontrei estas palavras: 'Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas para que por elas fiqueis participantes da natureza divina" (2 Pedro 1.4). Antes de sair, abri mais uma vez o Novo Testamento para ler estas outras palavras: 'Não estás longe do reino de Deus...' (Marcos 12.34). À noite, senti-me impelido a assistir em Aldersgate... Senti o coração abrasado; confiei em Cristo, somente em Cristo, para a salvação: foi-me dada a certeza de que Ele levara os meus pecados e de que me salvara da lei do pecado e da morte. Comecei a orar com todas as minhas forças... e testifiquei a todos os presentes do que sentia no coração."
Depois
dessa experiência em Aldersgate, Wesley aspirava a bênçãos ainda maiores
do Senhor, conforme ele mesmo escreveu: "Eu suplicava a Deus que
cumprisse todas as suas promessas na minha alma. O Senhor honrou este
anelo, em parte, não muito depois, enquanto eu orava com Carlos,
Whitefield e cerca de sessenta outros crentes em Fetter Lane". São de John Wesley também estas palavras: "Cerca das três horas da madrugada,
enquanto perseverávamos em oração (Romanos 12.12), o poder de Deus nos
sobreveio de tal maneira, que bradamos impulsionados de grande gozo e
muitos caíram ao chão. A seguir, ao passar um pouco o temor e a surpresa
que sentimos na presença da majestade divina, rompemos em uma só voz:
'Louvamos-te, ó Deus, aceitamos-te como Senhor'".
Essa unção
do Espírito Santo dilatou grandemente os horizontes espirituais de
Wesley; o seu ministério tornou-se excepcionalmente frutuoso e ele
trabalhou ininterruptamente durante 53 anos, com o coração abrasado pelo
amor divino.
Um pastor
prega, em média, cem vezes por ano, mas John Wesley pregou cerca de 780
Vezes por ano, durante 54 anos. Esse homenzinho, com a altura de apenas
um metro e sessenta e seis centímetros e pesando menos de sessenta
quilos, dirigia-se a grandes multidões e sob as maiores provações.
Quando as igrejas lhe fecharam as portas, levantou-se para pregar ao ar
livre.
Apesar de
enfrentar a apatia espiritual quase geral nos crentes, a par de uma onda
de devassidão e crimes no país inteiro, multidões de 5 mil a 20 mil
afluíam para ouvir seus sermões. Tornou-se comum, nesses cultos, os
pecadores acharem-se tão angustiados, que gritavam e gemiam. Se célebres
materialistas, tais como Voltaire e Tomaz Paine, gritaram de convicção
ao se encontrarem com Deus no leito de morte, não é de admirar que
centenas de pecadores gemessem, gritassem e caíssem ao chão, como
mortos, quando o Espírito Santo os levava a sentir a presença de Deus.
Multidões de perdidos, assim, tornavam-se novas criaturas em Cristo
Jesus, nos cultos de John Wesley. Muitas vezes os ouvintes eram levados
às alturas de amor, gozo e admiração; recebiam também visões da
perfeição divina e das excelências de Cristo, até ficarem algumas horas
como mortos. (Ver Apocalipse 1.17.)
Como todos
que invadem o território de Satanás, os irmãos Carlos e John Wesley,
tinham de sofrer terríveis perseguições. Em Moorfield os inimigos do
Evangelho acabaram com o culto, destruindo a mesa em que John subira
para pregar e o insultaram e maltrataram. Em Sheffield, a casa foi
demolida sobre a cabeça dos crentes. Em Wednesbury, destruíram as casas,
roupas e móveis dos crentes, deixando-os desabrigados, expostos à neve e
ao temporal. Diversas vezes John Wesley foi apedrejado e arrastado como
morto, na rua. Certa vez foi espancado na boca, no rosto e na cabeça
até ficar coberto de sangue.
Mas a perseguição da parte da igreja decadente era a sua maior cruz. Foram denunciados como "falsos profetas", "paroleiros", "impostores arrogantes", "homens destros na astúcia espiritual", "fanáticos", etc. Ao voltar para visitar Epworth, onde nascera e se criara, John assistiu, no domingo, ao culto da manhã e ao culto da tarde, na igreja onde seu pai fora fiel pastor durante muitos anos, mas não lhe foi concedida a oportunidade de falar ao povo. Às dezoito horas, John , em pé, sobre o monumento, que marcava o lugar em que enterraram seu pai, ao lado da igreja, pregou ao maior auditório jamais visto em Epworth - e Deus salvou muitas almas.
- Qual a
causa de tão grande oposição? Entre os crentes da igreja dormente ,
alegava-se que eram as suas pregações sobre a justificação pela fé, e a
santificação. Os descrentes não gostavam dele porque "levou o povo a se
levantar para cantar hinos às cinco da madrugada."
John Wesley não somente pregava mais que os outros pregadores, mas os excedia
como pastor, exortando e confortando os crentes, e visitando de casa em
casa.
Nas suas
viagens, andava tanto a cavalo, como a pé, ora em dias ensolarados, ora
sob chuvas, ora em temporais de neve. Durante os 54 anos do seu
ministério, andou, em média, mais de 7 mil quilômetros por ano, para
alcançar os pontos de pregação.
Esse
homenzinho que andava 7 mil quilômetros por ano, ainda tinha tempo para a
vida literária. Leu não menos de 1.200 tomos, a maior parte enquanto
andava a cavalo. Escreveu uma gramática hebraica, outra de latim, e
ainda outras de francês e inglês. Serviu durante muitos anos como
redator dum jornal de 56 páginas. O dicionário completo que compilou da
língua inglesa era muito popular, e seu comentário sobre o Novo
Testamento ainda tem grande circulação. Revisou e republicou uma
biblioteca de cinqüenta volumes, reduzindo-a para trinta volumes. O
livro que escreveu sobre a filosofia natural teve grande aceitação entre
o ministério. Compilou uma obra de quatro volumes sobre a história da
Igreja. Escreveu e publicou um livro sobre a história de Roma e outro
sobre a da Inglaterra. Preparou e publicou três volumes sobre medicina e
seis sobre música para os cultos. Depois da sua experiência em Fetter
Lane, ele e seu irmão Carlos, escreveram e publicaram 54 hinários.
Diz-se que ao todo escreveu mais que 230 livros.
Esse homem
de físico franzino, ao completar 88 anos, escreveu: "Durante mais de 86
anos não experimentei qualquer debilidade de velhice; os olhos nunca
escureceram, nem perdi o meu vigor". Com a idade de 70 anos, pregou a um
auditório de 30 mil pessoas, ao ar livre, e foi ouvido por todos. Aos
86 anos fez uma viagem à Irlanda, na qual, além de pregar seis vezes ao
ar livre, pregou cem vezes em sessenta cidades. Certo ouvinte assim se
referiu a Wesley: "Seu espírito era tão vivo como aos 53 anos, quando o
encontrei pela primeira vez".
Atribuiu a
sua saúde às seguintes regras: 1) Ao exercício constante e ar fresco.
2) Ao fato de nunca, mesmo doente ou com saúde, em terra ou no mar,
haver perdido uma noite de sono desde o seu nascimento. 3) À habilidade
de dormir, de dia ou de noite, ao sentir-se cansado. 4) Ao fato de
observar a regra por mais que sessenta anos de se levantar às 4 horas da
manhã. 5) Ao costume de sempre orar às 5 da manhã, durante mais que
cinqüenta anos. 6) Ao fato de quase nunca sofrer de dor, desânimo ou
cuidado durante a vida inteira.
Não nos
devemos esquecer da fonte desse vigor que John Wesley manifestava.
Passava duas horas diariamente em oração, e muitas vezes mais. Iniciava o
dia às quatro horas. Certo crente que o conhecia intimamente, assim
escreveu acerca dele: "Considerava a oração a coisa mais importante da
sua vida e eu o tenho visto sair do quarto com a serenidade de alma
visível no rosto até quase brilhar".
A qualquer
história da vida de John Wesley faltará o ponto principal, se não se
fizer menção dos cultos de vigília que se realizavam uma vez por mês
entre os crentes. Esses cultos se iniciavam às 20 horas e continuavam
até depois da meia-noite - ou até cair o Espírito Santo sobre eles.
Baseavam tais cultos sobre as referências no Novo Testamento, de noites
inteiras passadas em oração. Foi assim que alguém se referiu ao sucesso:
"Explica-se o poder de Wesley pelo fato de ele ser 'homo unius libri',
isto é, um homem de um livro, e esse Livro é a Bíblia".
Pouco
antes da sua morte, escreveu: "Hoje passamos o dia em jejum e oração
para que Deus alargasse a sua obra. Só encerramos depois de uma noite de
vigília, na qual o coração de muitos irmãos foi grandemente
confortado".
No seu
diário, John Wesley escreveu, entre outras coisas, sobre oração e jejum,
o seguinte: "Enquanto cursava em Oxford... jejuávamos às quartas e às
sextas-feiras, como faziam os crentes primitivos em todos os lugares.
Escreveu Epifânio (310-403): 'Quem não sabe que o jejum das quartas e
das sextas-feiras é observado pelos crentes do mundo inteiro?"' Wesley
continuou: "Não sei porque eles guardavam esses dois dias, mas é boa a
regra; se lhes servia, também me serve. Contudo, não quero dar a
entender que o único tempo de jejuar seja esses dois dias da semana,
porque muitas vezes é necessário jejuar mais do que dois dias. É
necessário permanecer sozinho e na presença de Deus, enquanto jejuamos e
oramos, para que Deus possa mostrar-nos a sua vontade e dar-nos
direção. Nos dias de jejum devemos afastar-nos, o mais possível, de todo
serviço, de fazer visitas e das diversões, apesar dessas coisas serem
lícitas em outras ocasiões".
Seu gozo
em pregar ao ar livre não diminuiu na velhice: Em 7 de outubro de 1790,
pregou pela última vez fora de casa, sobre o texto: "O reino de Deus
está próximo, arrependei-vos, e crede no Evangelho". "A palavra
manifestou-se com grande poder e as lágrimas do povo corriam em
torrentes".
Um por um,
seus fiéis companheiros de luta, inclusive sua esposa, foram chamados
para o descanso, mas John Wesley continuava a trabalhar. Com a idade de
85 anos, seu irmão, Carlos, foi chamado pelo Senhor e John sentou-se
perante a multidão, cobrindo o rosto com as mãos, para esconder as
lágrimas que lhe corriam pelas faces. Seu irmão a quem amava tanto
durante tão longo tempo, partira e ele, agora, tinha de trabalhar
sozinho.
Em 2 de
março de 1791, com a idade de quase 88 anos, completou a sua carreira
terrestre. Durante toda a noite anterior, não cessaram em seus lábios o
louvor e a adoração, pronunciando estas palavras: "As nuvens distilam a
gordura". Sua alma saltou de alegria com a antecipação das glórias do
lar eterno e exclamou: "O melhor de tudo é que Deus está conosco".
Então, levantando a mão, como se fosse o sinal da vitória, novamente
repetiu: "O melhor de tudo é que Deus está conosco". Às 10 horas da
manhã, enquanto os crentes rodeavam o leito, em oração, ele disse:
"Adeus!", e assim passou para a presença do Senhor.
Um crente
que assistiu à sua morte, assim relatou o ato: "A presença divina
pairava sobre todos nós; não existem palavras para descrever o que vimos
no seu semblante! Quanto mais o fitávamos, tanto mais víamos parte dos
indizíveis céus".
Calcula-se
que dez mil pessoas em desfile passaram diante do ataúde para ver o
rosto que ainda retinha um sorriso celestial. Por causa das grandes
massas que afluíram para honrá-lo, foi necessário enterrá-lo às cinco
horas da manhã.
John Wesley nasceu e criou-se em um lar onde não havia abundância de pão. Com
a venda dos livros da sua autoria ganhou uma fortuna, com a qual
contribuía para a causa de Cristo; ao falecer, deixou no mundo "duas
colheres, uma chaleira de prata, um casaco velho" e dezenas de milhares
de almas, salvas em épocas de grande decadência espiritual.
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