Após haver castigado o Egito com nove pragas, destruindo o país e castigando Faraó e seu povo, Deus prepara um ato final, para consumar o juízo e libertar o povo de Israel do cativeiro. Esta última praga atingiria todos os primogênitos do Egito, “desde os homens até aos animais” (Ex 12.12), causando a morte em todos os lares.
O
povo de Israel, entretanto, deveria ser poupado da morte. Assim sendo,
Deus deu ordens a Moisés para que, no décimo dia do mês de Nisã (chamado
mês de Abibe, antes do Exílio Babilônico), o qual seria, a partir de
então, o primeiro mês do novo calendário, que o Senhor estava
determinando para os hebreus, cada família deveria separar para si um
cordeiro ou cabrito macho, de um ano, sem máculas ou defeitos, o qual
deveria ser sacrificado, em um ritual coletivo, ao cair da tarde do dia
quatorze, do mesmo mês.
Uma
vez sacrificado o cordeiro, seu sangue deveria ser recolhido e
aspergido nos umbrais e na verga da porta de cada hebreu, e a carne
deveria ser assada (nenhuma parte poderia ser cozida) e comida, à noite,
com pães asmos, isto é, sem fermento, e ervas amargosas. Cada pessoa
presente à mesa deveria estar devidamente trajada, como cajado na mão,
pronta para partir.
Naquela
mesma noite, o Senhor traria a morte sobre os primogênitos do Egito e
apenas as casas dos hebreus, nas quais houvesse o sangue aspergido,
seriam poupadas. A recomendação divina foi esta: “E aquele sangue vos
será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei
por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu
ferir a terra do Egito” (Ex 12.13).
A
relação tipológica do cordeiro pascoal com Cristo é uma das mais belas e
completas, dentre os tipos coletivos. A relação do Senhor Jesus Cristo
com o cordeiro, é apresentada no Novo Testamento, em muitas passagens.
João Batista afirma que ele é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo” (Jo 1.29); o livro do Apocalipse o apresenta como tal, muitas
vezes (Ap 5.6,8,12,13; 6.1,16; 7.9,10,14; 12.11; 13.8; 14.1, entre
outras); o apóstolo João faz referência ao cordeiro, quando aplica a
Cristo a profecia que dizia: “Nenhum dos seus ossos será quebrado” (Jo
19.36); o apóstolo Pedro faz referência ao “o precioso sangue de Cristo,
como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1Pe 1.19). É o apóstolo
Paulo, porém, que apresenta a declaração tipológica mais explícita,
quando afiram: “Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”
(1Cor 5.7), numa alusão direta à correspondência entre tipo e antítipo.
Muitas são as semelhanças apresentadas pelo cordeiro da Páscoa, com relação a Cristo:
- O cordeiro deveria ser macho, de um ano (Ex 12.5), uma referência à idade adulta de Cristo em seu ministério terreno;
- Não poderia possuir defeitos ou manchas(Ex 12.5), indicando a condição de Jesus sem pecados (Hb 4.15);
- O cordeiro deveria ser guardado desde o décimo dia (Ex 12.3,6), uma referência ao que Pedro afirmou sobre Cristo: “conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos” (1Pe 1.20);
- O cordeiro deveria ser sacrificado ao décimo quarto dia, ao cair da tarde (Ex 12.6), uma referência ao momento da morte de Cristo, no Calvário (Jo 19.14);
- O sacrifício deveria ser feito por toda a congregação (Ex 12.6), demonstrando o caráter universal do sacrifício de Cristo;
- O sangue do cordeiro deveria ser aspergido, nas portas e isto seria o sinal para a libertação (Ex 12.7), uma referência à redenção através do sangue de Cristo (Ap 5.9,10);
- A carne do cordeiro deveria ser assada no fogo (Ex 12.8,9), o que indica o juízo divino executado na pessoa de Cristo (2Cor 5.21);
- Nenhum osso do cordeiro deveria ser quebrado (Ex 12.46), o que foi uma profecia concernente a Cristo (Jo 19.36);
- O cordeiro deveria ser sacrificado em lugar do primogênito, isto é, um sacrifício substitutivo, uma alusão ao sacrifício vicário de Cristo (Is 53.4-6).
Muito
ainda poderia ser dito a respeito das ervas amargosas, dos pães asmos,
do ritual da Páscoa e de quem dela poderia participar, dos trajes e da
forma apressada que comeram e outras coisas que podem ter relação
tipológica, na festa da Páscoa. Uma coisa, porém, é importante observar:
a salvação da morte naquela noite não era uma questão de mérito
pessoal, ou de posição social, mas de obediência. Os que foram salvos,
não o foram por serem desta ou daquela tribo ou família, nem por serem
bons e merecedores. Apenas a obediência ao mandamento divino de
sacrificar o cordeiro e cumprir o ritual garantia a salvação e
libertação. Esta mesma verdade aplica-se à redenção por intermédio de
Cristo, que não é por mérito próprio, mas através da obediência, pela
fé.
Como
o antítipo é maior do que o tipo, há algumas deficiências do tipo que o
faz insuficiente, como, por exemplo, o fato que o cordeiro foi morto
pela vontade do hebreu, dono da casa, mas Cristo deu a sua vida
voluntariamente (Jo 10.18). Igualmente, o cordeiro foi morte, assado e
comido. Cristo, entretanto, morreu mas ressuscitou e ascendeu aos céus.
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