- O AMOR
- Um dia, quem sabe,
- Ela que também gostava de bichos,
- apareça numa alameda do zoo,
- sorridente,
- tal como agora está no retrato sobre a mesa.
- Ela é tão bela, que por certo, hão de ressuscitá-la
- Vosso Trigésimo século ultrapassará o exame de mil nadas,
- que dilaceravam o coração.
- Então, de todo amor não terminado
- seremos pagos em enumeráveis noites de estrelas.
- Ressuscita-me,
- nem que seja porque te esperava
- como um poeta,
- repelindo o absurdo cotidiano!
- Ressuscita-me,
- nem que seja só por isso!
- Ressuscita-me!
- Quero viver até o fim que me cabe!
- Para que o amor não seja mais escravo de casamentos,
- concupiscência,
- salários.
- Para que, maldizendo os leitos,
- saltando dos coxins,
- o amor se vá pelo universo inteiro.
- Para que o dia,
- que o sofrimento degrada,
- não vos seja chorado, mendigado.
- E que ao primeiro apelo:
- - Camaradas!
- Atenta se volte a terra inteira.
- Para viver
- livre dos nichos das casas.
- Para que doravante
- a família seja
- o pai,
- pelo menos o universo;
- a mãe,
- pelo menos a terra.
- (1923)
Páginas
▼
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Você é muito bem-vindo. Deixe seu comentário para podermos ir melhorando.