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TIPOLOGIA BÍBLICA

Tipologia
Bíblica
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Márcio Klauber Maia
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INTRODUÇÃO

 

O apóstolo Paulo afirma, em Rm 15.4: “Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança.” Ele estava dizendo que tudo o que foi escrito tinha a finalidade de trazer algum ensinamento para a igreja. Isto nos ajuda a entender que, algumas passagens bíblicas que falam de leis e rituais, por exemplo, que não são mais aplicados à igreja do Novo Testamento, possuem um ensinamento válido para os nossos dias. Eles eram mandamentos para o povo de Israel, durante a dispensação da Lei, mas também apresentam verdades ético-espirituais e princípios relevantes, cujo significado apontava para coisas que haveriam de vir.
A Tipologia Bíblica é uma área de estudo da Hermenêutica, e utiliza o método histórico-gramatical, isto é, o princípio de interpretação literal ou textual da Bíblia, utilizado de forma sistemática, o qual permite que a própria Escritura interprete a si mesma, através da progressão da revelação, sem fantasias e simbolismos complexos. Não devemos, portanto, confundir o estudo dos tipos com o método alegórico de interpretação da Bíblia, o qual pretende dar ao texto um significado que ele não possui. Sobre este assunto, Charles Ryrie1 afirma:

Os dispensacionalistas reclamam para si a interpretação literal na hermenêutica. Isso significa uma interpretação que dá o mesmo significado a toda palavra que teria em seu uso normal, quer empregado na escrita, fala ou no pensamento. Às vezes é chamado de interpretação histórica gramatical, pois o significado de cada palavra é determinado por considerações históricas e gramaticais. O princípio pode também ser chamado de interpretação normal, pois o significado literal das palavras é a abordagem normal para o seu entendimento em todas as línguas. Pode ser designado também de interpretação simples, já que ninguém recebe a ideia errada de que o princípio literal elimine o uso de figuras de linguagem. Símbolos, figuras de linguagem e tipos são todos interpretados de maneira simples neste método, e não são contrários à interpretação literal. Afinal de contas, a existência de uma figura de linguagem depende da realidade do significado literal dos termos usados. Muitas vezes as figuras tornam mais claro o significado literal, normal e simples que elas transmitem ao leitor”.

A Tipologia é uma das áreas mais importantes do estudo bíblico, por sua riqueza de conteúdo e ensinamentos para a igreja. Entretanto, poucos cristãos aprofundam-se neste vasto campo dos tipos bíblicos. Talvez isto se dê por causa da especulação fantasiosa de alguns, que exageram na imaginação e criatividade quanto aos tipos bíblicos ou ainda pelo secularismo que tenta desacreditar o fator sobrenatural das Escrituras Sagradas. Apesar disto, a Tipologia Bíblica continua sendo um excelente auxílio na compreensão do plano redentor divino e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo.
Disse um antigo escritor: “Através dos tipos, na dispensação passada, Deus estava ensinando aos seus filhos as letras. Nesta dispensação Ele está ensinando como juntar as letras, as quais organizadas como eles querem, soletram Cristo, e nada mais que Cristo”.


I. A TIPOLOGIA BÍBLICA

O estudo dos tipos é uma das áreas mais ricas da teologia bíblica, não apenas pela riqueza de detalhes e significados que ela apresenta, mas porque apresenta o caráter sobrenatural da revelação divina, através da Bíblia Sagrada, quando demonstra a apresentação de verdades tratadas no Novo Testamento, através de personagens e objetos descritos no Antigo Testamento, mostrando que, somente o Espírito Santo, que conduziu o processo de produção do texto sagrado, poderia construir uma relação tão perfeita e tão fora do alcance dos que viveram nos tempos vetero-testamentários.

A respeito desta relação declarou o Pr. Luiz Sayão2:

Pr. Luiz Sayão
Um dos assuntos que merece reflexão aprofundada no contexto atual da igreja evangélica brasileira é a relação entre Antigo e Novo Testamentos. A questão por si só já é um grande desafio hermenêutico. Em função do aspecto ainda pueril da igreja e da teologia brasileira, a questão torna-se ainda mais relevante.

Entre as questões mais fascinantes dessa relação entre os dois testamentos está a questão da tipologia. Trata-se do estudo criterioso de como Cristo e sua obra são prefigurados no Antigo Testamento. Na verdade tal tarefa não é nada simples. Discorrendo sobre a importância do tema, Ada Habershon3, afirma:

Ada Habershon
Nosso Senhor tinha os tipos em alta estima. Repetidas vezes se referia a eles e demonstrava como apontavam para ele mesmo. Que estudo bíblico maravilhoso deve ter dado àqueles dois discípulos no caminho de Emaús, quando “começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras”; e pelas mesmas Escrituras responde à sua própria pergunta: “não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?”. Os sofrimentos e a glória foram preditos nos tipos, tanto quanto nas profecias diretas; e não era de se admirar que o coração ardia dentro deles naquela caminhada memorável, e, mais tarde, ao anoitecer, quando “lhes abriu o entendimento para que pudessem compreender as Escrituras”. Os eventos que tinham acabado de acontecer, estavam todos prefigurados nas Escrituras; mas não tinham compreendido os antigos textos familiares até Jesus lhes mostrar como era “necessário que se cumprisse tudo a respeito [de Jesus] estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. Aqueles que negligenciam o estudo dos tipos, deixam de perceber o quanto de Cristo se acha na Lei de Moisés”.

Há certa divergência entre os estudiosos das regras de interpretação bíblica, no tocante aos tipos, indo desde a exigência de uma declaração explícita dos tipos no NT, até a completa negação do significado deles. A respeito desta divergência, Roy Zuck4 explica:

Roy B. Zuck

Os intérpretes da Bíblia, contudo, possuem opiniões muito divergentes no tocante à ocorrência dos tipos nas Escrituras. Alguns dizem que estes se evidenciam em quase todo o Antigo Testamento. Afirma-se que inúmeros elementos e acontecimentos retratam verdades neo testamentárias. Por exemplo, diz-se que as dobradiças da porta do Templo de Salomão representam as duas naturezas de Cristo. Outros sustentam que os tipos ou estão explicitamente identificados no Novo testamento, ou encontram-se implícitos. Alguns estudiosos da Bíblia acreditam que tipos são aqueles que o Novo Testamento assim identifica, ou seja, aqueles que se afirma explicitamente serem tipos. Outros ainda entendem que não existe tipologia na Bíblia.”


a) PORQUE ESTUDAR TIPOLOGIA BÍBLICA?
  1. O estudo dos tipos bíblicos facilita o entendimento do Antigo Testamento, que é repleto de situações e rituais enigmáticos e de difícil compreensão para os cristãos de hoje, trazendo à luz a revelação de ensinos para a igreja. Utilizando a figura do Tabernáculo, um dos tipos mais completos de Cristo, explica Kevin Conner5:
O Novo Testamento nos dá a exposição doutrinária dos tipos. Declarações abstratas da verdade são muito mais fáceis de serem compreendidas através de algumas representações visíveis, como as usadas no Tabernáculo. Assim, o Tabernáculo é repleto de tipos ilustrativos. Tipos, como já dissemos, são sombras, e sombras envolvem substâncias. Todos esses elementos são lições objetivas, símbolos materiais para expressar verdades espirituais”.

Além disto, ajuda a estabelecer uma ligação perfeita entre o Antigo e o Novo Testamento, ressaltando a unidade das Escrituras e sua inspiração divina e sobrenatural, apresentando a pessoa de Cristo como o centro da Palavra de Deus. Sobre este aspecto divino do estudo dos tipos, Roy Zuck6 destaca:

Uma das vantagens é que nos permite enxergar o traçado divino da história, pelo fato de ele escolher pessoas, acontecimentos e elementos de Israel para retratar e predizer aspecto de Cristo e de seu relacionamento com os crentes de hoje. Enxergar essas relações tipo – antítipo ajuda-nos a ver a mão de Deus na história”.


b) O QUE É TIPOLOGIA BÍBLICA?

É o estudo das figuras e símbolos da Bíblia, com os quais Deus procura mostrar, por meio de coisas terrestres, as coisas espirituais. Visto a incapacidade da mente humana de compreender as coisas divinas, nos mesmos termos encontramos no Antigo Testamento Deus falando das glórias celestiais através de coisas terrestres.

A interpretação das profecias depende da significação dos símbolos. Por meio de símbolos, o Velho Testamento contém as doutrinas do Novo. A tipologia baseia-se na suposição de que há um padrão na obra de Deus através da história da salvação. Deus prefigurou sua obra redentora no Antigo Testamento e a cumpriu no Novo; o Antigo Testamento contém sombras de coisas que seriam reveladas de modo mais pleno no Novo. Como disse Agostinho: “O Novo está contido no Velho e o Velho explica o Novo”.
O tipo bíblico é uma representação real preordenada, pela qual pessoas, eventos e instituições do Antigo Testamento prefiguram pessoas, eventos e instituições do Novo Testamento. São figuras, ou lições, pelas quais Deus tem ensinado seu povo acerca do seu plano redentor e de seus elevados propósitos para a vida cristã.
Os tipos se baseiam em linguagem figurada, como as alegorias e parábolas, com uma diferença: na alegoria, assim como na parábola, a narrativa tem a finalidade de ilustrar uma verdade maior que se deseja transmitir, sem a necessidade de ser o registro fiel de algum fato passado. O tipo, entretanto, é um fato histórico, apresentado exatamente como aconteceu, mas que possui uma mensagem profética.
A prefiguração é chamada TIPO e o cumprimento é chamado ANTÍTIPO. O tipo é o objeto da lição, a revelação temporária de uma pessoa, um acontecimento ou uma instituição vindoura. O antítipo é o cumprimento daquilo que havia sido predito.

c) TERMOS BÍBLICOS 

Existem algumas palavras no grego do Novo Testamento utilizadas para fazer referência aos tipos:

  1. O termo tipo vem da palavra typos, que é traduzido como figura, e aparece em Rm 5.14; 1Cor 10.6,11.
  2. A palavra skia, traduzida como sombra, que aparece em Cl 2.17 e Hb 10.1.
  3. A palavra upodeigma, traduzida como figura, como em Hb 9.23.
  4. A palavra parabole, traduzida como parábola ou alegoria, que aparece em Hb 9.9.
  5. A palavra antitypos, traduzida como figura em Hb. 9.24 e 1Pe 3.21.

d) CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS

Embora algumas variações de menor importância com referência ao número e nomes das várias classes de tipos, apresentamos a seguir um modo rápido de classificar os tipos:

Tipos Históricos:
  1. Pessoais: quando certos personagens do Velho Testamento têm alguma semelhança com a pessoa de Jesus Cristo ou ilustram alguma revelação da doutrina do Evangelho. 
  1. Coletivos: aplicação dos acontecimentos da vida dum povo ou duma coletividade à Igreja aqui no mundo ou como sinalização para o modo de proceder dos crentes. Alguns objetos e animais do Antigo Testamento são inseridos nesta classe porque só possuem significado tipológico quando inseridos no evento que envolve a coletividade de Israel, como por exemplo, a rocha de Horebe, que não é tipo por ser uma rocha, mas pela situação que foi criada com o povo.
Tipos Rituais
  1. Quando os detalhes da Lei Mosaica prefiguram o ensino do Novo Testamento. Aqui estão inseridos os rituais e festas do povo judeu e os aspectos relacionados ao Tabernáculo e o sacerdócio.

e) TIPO x SÍMBOLO

Os tipos assemelham-se aos símbolos e podem até ser considerados uma espécie particular de símbolo. Entretanto, duas características os diferenciam:
  1. Os símbolos servem de sinais de algo que representam sem necessariamente ser semelhantes em qualquer respeito. Podemos citar como exemplo o vento e o fogo, símbolos do Espírito Santo, que também matam e destroem.
  1. Os tipos apontam para o futuro, enquanto os símbolos podem não fazê-lo. Um tipo sempre precede historicamente o seu antítipo, ao passo que um símbolo pode preceder, coexistir, ou vir depois daquilo que ele simboliza. Um exemplo disto é a pomba, símbolo do Espírito Santo, que continua existindo mesmo depois da descida do Espírito Santo.

f) CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO TIPO 

Um cuidado que precisamos ter na interpretação bíblica baseada em tipos é o de atentar para as regras da tipologia, para evitar o exagero de transformar a Bíblia em um livro místico, recheado de enigmas e incertezas, cometendo extravagâncias, com a finalidade de encontrar figuras e tipos onde não existem. Para que algum personagem, evento ou objeto do Antigo Testamento possa ser considerado um tipo e não possamos estar à mercê da criatividade e invencionice de muitos, algumas regras precisam ser consideradas.
Roy Zuck7 apresenta cinco regras para uma perfeita interpretação dos tipos bíblicos: Semelhança, Realidade histórica, Prefiguração, Elevação e Planejamento divino.

1) Semelhança:

Deve haver algum ponto notável de semelhança ou analogia entre o seu antítipo. O tipo precisa ser profético em todos os pontos de semelhança com o antítipo, e precisa verdadeiramente prefigurar as coisas vindouras. No caso do cordeiro pascoal ele era macho, sem defeitos, assim como Cristo não possuía pecados; foi separado no dia 10, assim como Cristo faz a entrada em Jerusalém; era sacrificado no dia 14, à tarde, como também o foi Jesus Cristo, e assim por diante. Ou seja, é necessária uma correspondência relevante entre o tipo e o antítipo. É o que Sidney Greidanus8 chama de “analogia significativa”. Ele cita David Baker:

A tipologia implica uma verdadeira correspondência. Não está interessada em paralelos de detalhes, mas somente na concordância de princípios e estruturas fundamentais. Deve haver uma correspondência na história e na teologia, ou o paralelo será trivial e sem valor para o entendimento da Bíblia”.

Cita ainda Louis Berkof, no livro Principles, pág. 145:

O tipo deverá ser designado por apontamento divino para ter semelhança com o antítipo. Semelhança acidental entre uma pessoa ou um acontecimento do Antigo e do Novo Testamento não faz com que seja um tipo do outro”.

2) Realidade histórica:

Os tipos não são imaginários, mas fatos reais e pessoas que existiram, de fato. Logo, a interpretação do tipo deve levar em consideração o fato histórico e os acontecimentos relatados na Bíblia, apenas. Roy Zuck9 assim afirma:

Quando ao estudioso da Bíblia se depara um tipo no Antigo Testamento, não deve procurar no texto sentidos ocultos ou mais profundos. Ele deve ater-se aos fatos históricos conforme registrados no Antigo Testamento. Em outras palavras, o tipo deve surgir naturalmente do texto em vez de ser algo que o intérprete acrescente ao texto. O Tabernáculo é um tipo (Hb 8.5; 9.23, 24), o que não significa que cada pormenor de sua construção represente, de alguma forma, uma verdade neo-testamentária”.

3) Prefiguração:

O simbolismo ou analogia que o tipo apresenta precisa ser preditiva, ou seja, ele sempre aponta para o futuro, pois o tipo vem sempre antes do antítipo. Sendo o tipo um elemento profético, esta correspondência com o antítipo precisa indicar uma prefiguração, algo que aponta para frente, para o futuro.
Não significa que os personagens do Antigo Testamento tivessem consciência sobre este fato, ou que os israelitas soubessem que as festas, sacrifícios e rituais que praticavam, fossem algum tipo de profecia. Quando, porém, observamos o correspondente tipológico, percebemos as características preditivas do tipo. Roy Zuck10 apresenta desta forma:

O que Deus via em antecipação, o homem via posteriormente em retrospectiva. O homem percebe as semelhanças quando olha para trás e compara o tipo com o antítipo. Os tipos eram placas de sinalização que falavam de pessoas, acontecimentos ou fatos futuros”.

Sidney Greidanus11, falando sobre o caráter profético dos tipos, vistos em retrospectiva, afirma:

Suspeito que a maioria dos tipos não seja profético, mas pessoas e acontecimentos específicos são vistos mais tarde como tendo significado tipológico. Por exemplo, não é provável que Israel durante o reinado do rei Davi visse o rei Davi como predição de um rei maior. O rei Davi só se tornou um tipo séculos depois que viveu, quando os profetas começaram a anunciar a vinda de um novo rei pastor. É claro, quando os profetas usaram a tipologia ao prometer um novo rei Davi, o tipo, agora ligado a uma promessa, tornou-se profético. Mas esse elemento de predição não está presente quando o texto da pregação é, por exemplo, 1 Samuel 5.1-12. Quando Davi é ungido rei de todo Israel e domina Jerusalém como sua capital, não há no texto indicação de que Davi seja um tipo. Mas isso muda quando olhamos esse acontecimento da perspectiva do Novo Testamento. Agora descobrimos que o rei ungido de Deus, que reinava sobre o povo unido a partir de Jerusalém, cidade de paz, é o modelo de Deus para trazer o seu reino sobre a terra. No Novo Testamento, vemos Jesus, o filho de Davi, ungido pelo Espírito Santo, o novo pastor e rei, chorando sobre a cidade de Deus: “Jerusalém, Jerusalém... quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23.37)... Consequentemente, 2 Samuel 5, tomado isoladamente, não é profético, mas olhando na perspectiva do Novo Testamento, o rei Davi é claramente um tipo de Cristo”.

4) Elevação:
Sendo o tipo uma representação, o antítipo lhe é superior. Na relação entre tipo e antítipo ocorre uma elevação, uma intensificação. O sacerdócio de Cristo é superior ao de Melquisedeque; o reinado de Cristo é superior ao de Davi; o sacrifício de Cristo é superior aos sacrifícios realizados no tabernáculo. Vejamos uma comparação com o cordeiro da Páscoa: o cordeiro foi sacrificado em lugar do primogênito de cada casa, provendo, assim, a salvação da morte para a cada na qual o seu sangue foi aspergido. O cordeiro, entretanto, não se ofereceu para este sacrifício, nem entendia a razão porque estava sendo sacrificado. O sacrifício de Jesus Cristo, porém, foi voluntário, pois ele mesmo afirmou: “dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou” (Jo 10.17,18). O sacrifício do cordeiro foi suficiente apenas para aquele momento; em outras ocasiões, nas quais se fazia necessário um sacrifício, outro cordeiro teve que dar a sua vida. O sacrifício de Cristo, entretanto, foi definitivo, provendo salvação para sempre. O escritor aos Hebreus afirma que ele efetuou uma “eterna redenção” (Hb 9.12).
O próprio Jesus demonstrou a relação de progressão entre tipo e antítipo, quando declarou, a respeito de si mesmo: “E eis aqui está quem é maior do que Jonas.... E eis aqui está quem é maior do que Salomão. (Mt 12.41,42).

5) Planejamento divino:

Os tipos são similaridades planejadas por Deus. Ele ordenou o tipo e projetou o antítipo para ser seu cumprimento. Sidney Greidanus12 diz que “um tipo autêntico é fundamentado no desígnio divino”. Ele cita John Breker:

A tipologia não é simplesmente um modo humano de interpretação. É primeiramente um modo de atividade divina dentro da história. Deus age em termos de promessa e cumprimento, coordenando os acontecimentos históricos de modo que seu cumprimento futuro está sendo continuamente realizado através da história de Israel e subsequente história da Igreja”.

A melhor forma de identificarmos quais personagens ou objetos do Antigo Testamento foram escolhidos por Deus para serem tipos, é observarmos a evidência bíblica declarada no Novo Testamento, ou seja, quando o texto declara a relação tipológica entre o tipo e seu antítipo, estabelecendo o relacionamento profético entre eles.
Deve haver evidência que o objeto de tipificação representa o tipo que Deus indicou. Há certa discordância entre os estudiosos acerca de quão explicita deve ser a declaração divina. Um ponto de vista moderado, que conta com apoio da maioria dos estudiosos do assunto, diz que para a semelhança ser tipo deve haver alguma evidência de afirmação divina da correspondência entre tipo e antítipo, embora tal afirmação não precise ser formalmente declarada. São necessários um ou mais pontos de afinidade entre o tipo e o antítipo, à luz do texto bíblico. O cordeiro pascoal é declarado claramente um tipo pelo apóstolo Paulo em 1Cor 5.7: “Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”.
Desde que tipo e antítipo, ou seja, figura e cumprimento, necessitam ser preordenados como parte de um mesmo plano divino, eles não podem ser escolhidos pelo homem. Por isso, a autoridade dos tipos e sua aplicação provém da Bíblia e foram determinados por Deus.
Encontramos a seguinte tabela, apresentada por Roy Zuck13, para demonstrar a diferença entre o tipo bíblico, a ilustração ou símbolo e a alegorização, isto é, o fato de dar ao texto um significado que ele não possui, criando uma relação tipológica que não existe: 

Tipologia
Ilustração
Alegorização
O tipo e o antítipo possuem uma correspondência ou semelhança exata.
A ilustração e o fato possuem uma correspondência ou
semelhança exata.
Não há correspondência exata. Procura-se no texto um sentido oculto, forçado.
O tipo possui historicidade. (a relação tipo-antítipo depende do sentido literal)
A relação entre a ilustração e o fato depende da autenticidade histórica da primeira.
A autenticidade histórica do AT é desconsiderada ou negada. O significado literal não é importante.
O tipo é uma prefiguração ou prenunciação doa ntítipo. É profético; volta-se para o futuro e aponta para o antítipo.
Na ilustração não existe prefiguração. Não é profética; é apenas um exemplo. O fato remonta ao exemplo do AT.
A alegorização consiste na formação de conceitos ocultos, estranhos e subjacentes ao texto do AT. Ela procura o que está por trás, não adiante.
O tipo encontra cumprimento (ou conclusão,elevação) no antítipo. Este é maior e superior àquele.
A ilustração não encontra cumprimento (ou conclusão, elevação) no fato que ilustra.
A alegorização não “cumpre” os textos do Antigo Testamento.
O tipo é divinamente instituído. É planejado por Deus.
A ilustração é divinamente instituída para retratar um fato.
A alegorização é fruto da imaginação do intérprete, não dos desígnios de Deus.
O tipo e o antítipo são especificados como tais no NT.
O conjugado fato-ilustração não é chamado de tipo.
A alegorização não é indicada no texto.


Também chamados de Tipos Humanos, os tipos pessoais consistem em personagens do Antigo Testamento. Deus usou detalhes das suas vidas, características suas, eventos nos quais foram envolvidos e o seu caráter, para profetizar a respeito de Jesus Cristo. São pessoas cujas vidas e obras são uma verdadeira profecia, com a qual podemos aprender sobre a vida e obra de Jesus.

 II. TIPOS HISTÓRICOS PESSOAIS

É importante observar que cada tipo é insuficiente e incapaz de representar sozinho o todo a respeito de Jesus Cristo.
É importante observar que cada tipo é insuficiente e incapaz de representar sozinho o todo a respeito de Jesus Cristo. Quando, porém, estudamos o conjunto de personagens tipológicos, percebemos que cada uma vai acrescentar mais detalhes a esta apresentação tipológica. 
Davi destaca o reinado, Melquisedeque, o sacerdócio, Isaque, o filho e noivo, Moisés, o líder e libertador, José, a humilhação e exaltação, e assim por diante. Aprendemos com todos a respeito do grande antítipo: Cristo.

a) Moisés

Moisés ocupa um lugar destacado entre os personagens do Antigo Testamento, não apenas por ter sido o libertador e legislador de Israel, mas, também, pelo relacionamento tipológico com Cristo. São muitas as semelhanças encontradas entre Jesus e Moisés, tanto na vida, quanto na obra de ambos. Além disto, a Bíblia declara haver uma relação profética muito explícita entre eles.
Moisés declarou que Deus levantaria, no futuro, um profeta também judeu, cuja vida seria semelhante à sua. Para ter a certeza de que este seria o profeta levantado por Deus, os judeus deveriam verificar se a sua vida era semelhante à de Moisés. Ele assim declarou: “O SENHOR, teu Deus, te despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis” (Dt 18.15).
Quando João Batista apareceu, acharam que ele poderia ser este profeta, então lhe perguntaram: “És tu o profeta?” (Jo 1.21). Quando, porém o povo viu Jesus realizando o milagre da multiplicação dos pães, afirmaram: “Este é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo” (Jo 6.14). Declaração semelhante foi feita por Felipe, ao dirigir-se a Natanael, a respeito de Jesus: “Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na Lei e de quem escreveram os Profetas: Jesus de Nazaré, filho de José” (Jo 1.45), e por Estevão, em seu discurso: “Este é aquele Moisés que disse aos filhos de Israel: O Senhor vosso Deus vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis” (Atos 7.37).
Grant Jeffrey14, apresenta muitas semelhanças entre Jesus e Moisés:

A vida de Jesus foi similar à de Moisés: ambos foram profetas, sacerdotes, legisladores, mestres, líderes de homens. Ambos ensinaram novas verdades de Deus e confirmaram seus ensinos com milagres. Ambos passaram seus primeiros anos de vida no Egito, miraculosamente protegidos daqueles que procuravam tirar suas vidas. A família de Moisés, inicialmente, não aceitava sua função. Entretanto, mais tarde seu irmão Arão e sua irmã Miriã o ajudaram. A mãe de Jesus, seus irmãos e suas irmãs inicialmente erraram em não segui-lo. No entanto, mais tarde seu irmão Tiago tornou-se um dos líderes da igreja em Jerusalém.
Cada um deles foi considerado o homem mais sábio de seus dias. Ambos confrontaram poderes demoníacos e os subjugaram com sucesso. Assim como Moisés determinou setenta juízes sobre Israel, Jesus ungiu setenta discípulos para ensinar as nações. Moisés enviou doze espias para Canaã; Jesus enviou doze apóstolos para alcançar o mundo. A Bíblia não diz que algum deles tenha experimentado alguma doença. E os corpos de ambos não permaneceram em seus túmulos. Ambos jejuaram quarenta dias e experimentaram crises espirituais no topo de montes. Assim como Moisés estendeu a sua mão sobre o Mar Vermelho para exercer autoridade sobre ele, Jesus repreendeu o Mar da Galiléia e aquietou as suas ondas. As faces de ambos brilharam com a glória dos céus, Moisés no monte Sinai e Jesus no monte da transfiguração.
Moisés resgatou Israel de sua religiosidade morta no Egito pagão; Jesus resgatou Israel da letra morta e da tradição da Lei. Moisés e Jesus curaram leprosos e provaram sua autoridade através de milagres, os quais fizeram diante de muitos. Assim como Moisés teve vitória sobre o grande inimigo de Israel, os amalequitas, com seus braços levantados, Jesus teve vitória sobre os nossos grandes inimigos, o pecado e a morte, ao levantar seus braços na cruz. Moisés levantou a serpente de bronze no deserto, a fim de curar as pessoas; Jesus foi levantado na cruz para curar dos pecados a todos aqueles que creem.
O povo foi ingrato e se rebelou contra a liderança de ambos. As gerações que se rebelaram contra eles morreram por falta de fé: uma no deserto, e a outra, no cerco de Jerusalém em 70 d.C. Moisés e Jesus morreram num monte. Moisés prometeu que outro profeta viria; Jesus prometeu à Igreja que seu Pai enviaria outro "consolador", o Espírito Santo.
No Mês de Nisã, no décimo-quarto dia, que era a festa da Páscoa, tanto Moisés quanto Jesus libertaram aqueles que neles creram. No septuagésimo dia, na festa das Primícias, Moisés trouxe a ressurreição para os filhos de Israel quando passaram pelo Mar Vermelho; na mesma data Jesus trouxe as primícias da ressurreição, quando levantou dentre os mortos. Cinquenta dias mais tarde, na festa de Pentecostes, Deus concedeu um grande presente a Israel e a todas as nações, dando-lhes a Torá, a Lei. Cinquenta dias após a ressurreição de Jesus, Deus deu à Igreja o grande Dom do batismo do Espírito Santo”.

b) Davi

O rei Davi também merece destaque, entre os personagens de Israel, pelo aspecto profético e tipológico que apresenta. Sendo pastor de ovelhas, rei de Israel, nascido em Belém de Judá, ele possui muitas semelhanças com o Senhor Jesus. A promessa feita a Israel, a respeito de um rei, que Deus levantaria, no futuro, sobre o seu povo, é descrita por Ezequiel: “E suscitarei sobre elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor. E eu, o SENHOR, lhes serei por Deus, e o meu servo Davi será príncipe no meio delas; eu, o SENHOR, o disse” (Ez 34.23, 24), é ratificada na fala do anjo Gabriel a Maria, falando a respeito de Jesus: “e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai” (Lc 1.32).
A respeito das características tipológicas de Davi, afirma Groningen15:
Israel recebeu um rei segundo o coração de Deus, que provou ser um governante compassivo, um administrador efetivo, um líder destemido contra os inimigos de Yahweh e de seu povo. Além disto, repetidas vezes o julgamento de Deus foi executado. Esses julgamentos foram antecipações do julgamento que veio sobre Israel no exílio, na dispersão, e do julgamento final que virá sobre toda e quaisquer pessoas descrentes e desobedientes de todas as terras e nações. Finalmente, esse período prepara a cena para o reino messiânico típico de Davi, o “Leão” de Judá (cf. Ap 5.5), o governador prometido que haveria de ter o cetro de realeza (Gn 49.8-12), da semente de Abraão (Gn 15.17) e da linha de Sem (Gn 9.27). Ele foi o homem que seria mais semelhante ao Adão real como Deus o criou, do que qualquer outra pessoa, exceto seu antítipo, Jesus Cristo”.

Apesar de ter cometido falhas, Davi é escolhido por Deus para ser um tipo de seu filho, Jesus Cristo. Davi não era perfeito, mas tinha um coração voltado para Deus e soube reconhecer suas falhas e pedir perdão por elas. Sobre esta característica de Davi, é importante verificar o que afirma Kevin Conner16:

Antes de mais nada, devemos reconhecer que não existe um tipo ou figura “perfeito” ou completo. A natureza das pessoas usadas por Deus como tipos era marcada por imperfeições e fraquezas. Deus teve que usar o que era imperfeito para simbolizar o seu filho até que este viesse. Isso pode ser visto claramente na vida de pessoas como Moisés, o profeta, Arão, o sumo-sacerdote e outros juízes, profetas, sacerdotes e reis. Todos tiveram suas vidas marcadas por fraqueza moral, imperfeição e enfermidade, mas Deus usou-os para tipificar e prefigurar os aspectos do ministério de seu filho unigênito.
Isso também vale para o rei Davi. Davi, embora marcado pela imperfeição e pelas fraquezas de sua natureza pecaminosa, é usado pelo Senhor Deus para simbolizar o Messias, o verdadeiro Filho de Davi”.

c) Melquisedeque

Melquisedeque é uma figura muito enigmática. Há quem ache que se tratava do próprio Sem, filho de Noé, visto que o mesmo viveu por 600 anos, isto é, tempo suficiente para estar vivo na época de Abraão. A Bíblia, entretanto, afirma que ele era “sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus” (Hb 7.3). Isto significa que não sabemos a sua origem, nem destino. O escritor aos Hebreus indica que isto era uma representação da eternidade de Cristo e de seu sacerdócio.
Jesus não poderia ser sacerdote da linhagem levítica, pois era da tribo de Judá. Assim sendo, seu sacerdócio é representado pelo de Melquisedeque: rei e sacerdote, de uma linhagem superior à de Levi, visto que Abraão, ascendente de Levi, o reconhece como superior. Sobre esta interpretação do capítulo 7 da Epístola aos Hebreus, declara o Rev. Josivaldo de França Pereira17:

Quando o texto sagrado diz que ele não tinha pai e mãe, nem princípio nem fim, significa tão somente que ele não tinha genealogia no sentido de não existir registro algum de sua origem, de sua descendência (se porventura teve filhos) ou de sua morte. O próprio Deus determinou que fosse assim para que Melquisedeque simbolizasse o sacerdócio perfeito de Cristo. Ou como o próprio Davi declarou: "O Senhor jurou e não se arrependerá: tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque" (Sl 110.4; cf. Hb 5.6; 6.20; 7.17,21).
Quando o autor da carta aos Hebreus diz em 7.3 que Melquisedeque "permanece sacerdote perpetuamente" também não está dizendo que Melquisedeque seja o próprio Senhor Jesus. O texto bíblico diz que ele "foi feito semelhante ao Filho de Deus". A palavra "semelhante" significa parecido e não a mesma pessoa. Melquisedeque foi feito por Deus semelhante a Jesus quanto ao fato de não ter princípio nem fim (figuradamente falando) e, consequentemente, em seu aspecto sacerdotal. Portanto, a expressão "permanece sacerdote perpetuamente" refere-se à ordem sacerdotal de Melquisedeque cumprida na pessoa de Cristo. Com sua encarnação, morte e exaltação, Jesus tornou-se nosso eterno sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.
Por não existir registro da origem e do fim da vida de Melquisedeque, seu sacerdócio é tido como superior ao sacerdócio levítico, como foi o de Jesus. Veja Hebreus 7.4-19.
Vale destacar ainda que a expressão "não teve princípio de dias, nem fim de existência" também aponta para a natureza divina da pessoa de Cristo. Como Deus eterno Jesus não teve princípio e não terá fim”.

Joel Leitão de Melo18 apresenta algumas semelhanças entre Melquisedeque e Cristo:

Abraão reconheceu que Melquisedeque era sacerdote de Deus. Deu-lhe o dízimo e foi abençoado por ele. Abraão, sendo pai do povo judeu, foi abençoado por aquele a cuja ordem Jesus pertence.
A exposição de Hebreus 7 é para provar que Jesus Cristo é superior ao sumo-sacerdote Arão, tanto que antes de Arão, aparece aquele tipo de Jesus.
É mencionado Melquisedeque sem pai, sem mãe, sem genealogia. Os judeus davam grande valor à genealogia. Só podiam exercer um cargo importante, sendo conhecida a origem familiar. Quando voltaram do cativeiro, no tempo de Esdras e Neemias, alguns que não provaram o registro da genealogia foram rejeitados, considerados imundos e proibidos de comerem das coisas sagradas (Ed 2.62,63; Ne 7.64,65).
Cremos que Melquisedeque era homem descendente de Adão e Noé; sua genealogia era desconhecida e Deus não quer que o identifiquemos. Pela mentalidade dos judeus, não devia ser o sacerdote de Deus. Mas ele foi aceito como tal por Abraão e da sua ordem vem Jesus. Ele era Rei de Salém e Rei de Paz. Salém quer dizer paz e é o nome de Jerusalém; Jesus Cristo, depois de destruir o reino do anticristo reinará em Jerusalém como Rei da Paz”.

d) José

Há certa polêmica envolvendo a pessoa de José, como sendo um tipo de Cristo. Ele apresenta muitas semelhanças com a pessoa de Cristo. Sua vida apresenta muita similaridade com o ministério de Cristo. Desde o fato de ser rejeitado pelos irmãos e amado pelo pai, ter sido vendido pelos que lhe eram chegados, e sua humilhação, na casa de Potifar e no cárcere, ainda que mantendo a integridade, até a exaltação e poder no Egito, apontam para e humilhação e glorificação de Cristo. Ada Habershon afirma, a respeito de José19:

Os treze capítulos que narram a bela história da vida de José estão repletos de Cristo. À medida que um versículo atrás do outro apresenta o conhecido quadro do AT, podemos comparar com eles muitas passagens do NT que descrevem a vida e o caráter daquele que José tipifica tão maravilhosamente. É amado por seu pai, vestido por ele e enviado numa missão para seus irmãos. É odiado e invejado por eles, que lhe recusam lealdade, conspiram contra ele, despojam-no de suas roupas e o entregam nas mãos dos gentios. As tristezas, os sofrimentos e a vergonha pelos quais passou são retratados numa série de quadros. A cova, o preço da compra, a casa de Potifar e o cárcere mostram como José foi levado, passo a passo, pelo caminho da humilhação abaixo. A cova nos lembra o clamor do Senhor no Salmo 69: “nas profundezas lamacentas eu me afundo; não tenho onde firmar os pés [...] nem deixes que a cova feche sobre mim a sua boca!” (v. 2.15). Quando José foi vendido como escravo, o preço que se pagou por ele foi trinta moedas de prata. De forma semelhante, o Senhor Jesus foi traído por trinta moedas de prata, o preço de um escravo (Ex 21.32). Em seguida, José se torna servo na casa de Potifar, capitão da guarda. Semelhantemente a Jesus, de quem lemos em Is 49.7,8: “aquele que foi desprezado e detestado pela nação [...] servo de governantes”.

A dificuldade, porém, de muitos é gerada pelo fato de não encontrarmos uma declaração explícita da relação tipológica de José com Cristo, no Novo Testamento. Apesar das questões relacionadas a tempo, semelhança e elevação serem satisfeitas, muitos sentem falta de uma evidência bíblica declarada.

e) Isaque 

Isaque possui características semelhantes a José, no que tocante à tipologia: muitas semelhanças e pouca evidência. Isaque era filho de Abraão, chamado por Deus de “único filho” (Gn 22.2, 12,16), apesar da existência de Ismael. O fato de ter uma noiva, a qual foi preparada e trazida de uma terra distante por um enviado de seu pai, já aponta para a relação entre Cristo e a Igreja. O evento mais significativo, porém, no aspecto tipológico, é o que ocorreu no Monte Moriá, quando, a pedido de Deus, Abraão o coloca em um altar, com a finalidade de oferece-lo em sacrifício. A respeito da relação profética deste evento, escreveu o Rev. José Maurício Passos Nepomuceno20:

Algumas características de Isaque revelam o seu caráter messiânico, como tipo de Jesus Cristo. A mais forte de todas essas características foi a submissão de Isaque ao seu Pai. Como pode ser percebida na passagem de Gênesis 22: “Abraão tomou a lenha para o holocausto e a colocou sobre Isaque, seu filho; ele carregava o fogo e o cutelo. Assim caminhavam ambos juntos”. Um diálogo tomou conta da cena: Isaque questiona a seu pai: “Meu pai! — Eis me aqui, meu filho! — Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?”. Naquele momento, podemos imaginar as muitas coisas que se passaram na mente de Abraão: “...como se cumprirá a promessa desse jeito? Como farei o que Deus me pediu? Tenho de continuar, pois Deus mandou!” Quem sabe uma daquelas orações que ninguém ouve, somente Deus que ouve os corações: “...meu Deus estou sofrendo com isso tudo!”. A resposta de Abraão a Isaque foi um simples “Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto”. E a Escritura nos diz: “seguiam ambos juntos”.
Em tudo isso, vemos a submissão do menino Isaque. Assim como Jesus foi submisso, Isaque não se negou a obedecer ao seu pai, mesmo com o risco à sua própria vida. Foi nesse contexto que Deus reafirmou a Aliança com Abraão e com sua descendência. Assim, manteve-se viva a esperança messiânica do nascimento do Descendente que esmagaria a cabeça da serpente.
Jesus, o Senhor humilde e submisso à vontade do Pai, haveria de entregar-se voluntariamente para ser ferido em lugar de muitos homens e mulheres, como nós. Seremos, para sempre, gratos por sua submissão.”

A exemplo de José, considerar Isaque como um tipo de Cristo, para alguns, apresenta uma dificuldade, pela ausência de uma declaração mais explícita do Novo Testamento, concernente a este relacionamento tipológico. A respeito disto, entretanto, declara Gerard von Groningen21:

[...] muitos cristãos admitem que Isaque, o filho único e amado, posto sobre o altar por seu pai Abraão, como um sacrifício a Deus, é um tipo claro e definido de Cristo, o qual, como único e amado filho do Pai celeste, foi enviado por seu pai para morrer na cruz. Quando, entretanto, é necessário explicar precisamente de que modo Isaque era um símbolo de Cristo e de sua morte sacrificial pelos pecadores e, portanto, um tipo real de Cristo na cruz, há dificuldades persistentes que não foram ainda superadas. [...] O caráter passivo de Isaque, mostrado por sua obediência voluntária e terna submissão a Abraão, seu pai, deve ser encarado como evidência tipológica do jovem, um dos ancestrais do Messias. O fato de Isaque ter sido colocado sem objeção sobre o altar é uma demonstração concreta de seu caráter e de suas qualidades. Mas Isaque não foi sacrificado; não foi entregue à morte; não foi queimado como oferta de incenso a Deus; e não fez nem expiação, nem propiciação do outro. Foi o carneiro provido no momento próprio que se tornou um sacrifício substitutivo no altar, substituindo, de fato, a Isaque.[...] Isaque como pessoa, demonstrou tipologicamente qualidades messiânicas; o ato de ser colocado e amarrado ao altar não deve ser considerado tipologicamente messiânico”.

III. TIPOS HISTÓRICOS COLETIVOS


São chamados também de Tipos Não-humanos. Em geral, são objetos e eventos, registrados no Antigo Testamento, os quais Deus usou para apresentar características de seu filho, Jesus Cristo. Os tipos são chamados de coletivos, porque são apresentados em um evento que envolve a coletividade de Israel. Assim sendo, o tipo é marcado não apenas por suas próprias características, mas pela ocasião nas quais elas se apresentam.
O cordeiro, por exemplo, não é declarado como sendo um tipo apenas por suas características, mas por causa dos eventos que envolvem a Páscoa e seu significado. O que vai caracterizar a relação tipológica não é apenas a figura do cordeiro, mas o cordeiro sacrificado na Páscoa, cujo significado estará associado a detalhes como local, data, pessoas envolvidas e finalidade do evento. De igual modo, a Rocha de Horebe e a Serpente de Bronze, entre outros, têm sua relação tipológica apresentada durante os eventos nos quais estão inseridos.

a) O Cordeiro Pascoal


Após haver castigado o Egito com nove pragas, destruindo o país e castigando Faraó e seu povo, Deus prepara um ato final, para consumar o juízo e libertar o povo de Israel do cativeiro. Esta última praga atingiria todos os primogênitos do Egito, “desde os homens até aos animais” (Ex 12.12), causando a morte em todos os lares.
O povo de Israel, entretanto, deveria ser poupado da morte. Assim sendo, Deus deu ordens a Moisés para que, no décimo dia do mês de Nisã (chamado mês de Abibe, antes do Exílio Babilônico), o qual seria, a partir de então, o primeiro mês do novo calendário, que o Senhor estava determinando para os hebreus, cada família deveria separar para si um cordeiro ou cabrito macho, de um ano, sem máculas ou defeitos, o qual deveria ser sacrificado, em um ritual coletivo, ao cair da tarde do dia quatorze, do mesmo mês.
Uma vez sacrificado o cordeiro, seu sangue deveria ser recolhido e aspergido nos umbrais e na verga da porta de cada hebreu, e a carne deveria ser assada (nenhuma parte poderia ser cozida) e comida, à noite, com pães asmos, isto é, sem fermento, e ervas amargosas. Cada pessoa presente à mesa deveria estar devidamente trajada, como cajado na mão, pronta para partir.
Naquela mesma noite, o Senhor traria a morte sobre os primogênitos do Egito e apenas as casas dos hebreus, nas quais houvesse o sangue aspergido, seriam poupadas. A recomendação divina foi esta: “E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu ferir a terra do Egito” (Ex 12.13).
A relação tipológica do cordeiro pascoal com Cristo é uma das mais belas e completas, dentre os tipos coletivos. A relação do Senhor Jesus Cristo com o cordeiro, é apresentada no Novo Testamento, em muitas passagens. João Batista afirma que ele é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29); o livro do Apocalipse o apresenta como tal, muitas vezes (Ap 5.6,8,12,13; 6.1,16; 7.9,10,14; 12.11; 13.8; 14.1, entre outras); o apóstolo João faz referência ao cordeiro, quando aplica a Cristo a profecia que dizia: “Nenhum dos seus ossos será quebrado” (Jo 19.36); o apóstolo Pedro faz referência ao “o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1Pe 1.19). É o apóstolo Paulo, porém, que apresenta a declaração tipológica mais explícita, quando afiram: “Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós” (1Cor 5.7), numa alusão direta à correspondência entre tipo e antítipo.
Muitas são as semelhanças apresentadas pelo cordeiro da Páscoa, com relação a Cristo:
  1. O cordeiro deveria ser macho, de um ano (Ex 12.5), uma referência à idade adulta de Cristo em seu ministério terreno;
  2. Não poderia possuir defeitos ou manchas (Ex 12.5), indicando a condição de Jesus sem pecados (Hb 4.15);
  3. O cordeiro deveria ser guardado desde o décimo dia (Ex 12.3,6), uma referência ao que Pedro afirmou sobre Cristo: “conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos” (1 Pe 1.20);
  4. O cordeiro deveria ser sacrificado ao décimo quarto dia, ao cair da tarde (Ex 12.6), uma referência ao momento da morte de Cristo, no Calvário (Jo 19.14);
  5. O sacrifício deveria ser feito por toda a congregação (Ex 12.6), demonstrando o caráter universal do sacrifício de Cristo;
  6. O sangue do cordeiro deveria ser aspergido, nas portas e isto seria o sinal para a libertação (Ex 12.7), uma referência à redenção através do sangue de Cristo (Ap 5.9, 10);
  7. A carne do cordeiro deveria ser assada no fogo (Ex 12.8, 9), o que indica o juízo divino executado na pessoa de Cristo (2 Cor 5.21);
  8. Nenhum osso do cordeiro deveria ser quebrado (Ex 12.46), o que foi uma profecia concernente a Cristo (Jo 19.36);
  9. O cordeiro deveria ser sacrificado em lugar do primogênito, isto é, um sacrifício substitutivo, uma alusão ao sacrifício vicário de Cristo (Is 53.4-6).

Muito ainda poderia ser dito a respeito das ervas amargosas, dos pães asmos, do ritual da Páscoa e de quem dela poderia participar, dos trajes e da forma apressada que comeram e outras coisas que podem ter relação tipológica, na festa da Páscoa. Uma coisa, porém, é importante observar: a salvação da morte naquela noite não era uma questão de mérito pessoal, ou de posição social, mas de obediência. Os que foram salvos, não o foram por serem desta ou daquela tribo ou família, nem por serem bons e merecedores. Apenas a obediência ao mandamento divino de sacrificar o cordeiro e cumprir o ritual garantia a salvação e libertação. Esta mesma verdade aplica-se à redenção por intermédio de Cristo, que não é por mérito próprio, mas através da obediência, pela fé.
Como o antítipo é maior do que o tipo, há algumas deficiências do tipo que o faz insuficiente, como, por exemplo, o fato que o cordeiro foi morto pela vontade do hebreu, dono da casa, mas Cristo deu a sua vida voluntariamente (Jo 10.18). Igualmente, o cordeiro foi morte, assado e comido. Cristo, entretanto, morreu mas ressuscitou e ascendeu aos céus.

b) A Rocha de Horebe


Quando os filhos de Israel chegam a Horebe, não há água suficiente para dessedentar a grande multidão de gente e gado. Logo, como costumeiramente faziam, os israelitas põem-se a murmurar contra o Senhor. Quando Moisés consulta a Deus e lhe apresenta as queixas do povo, ele lhe responde: “Eis que eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe, e tu ferirás a rocha, e dela sairão águas e o povo beberá” (Ex 17.6).
O apóstolo Paulo apresenta a evidência bíblica da relação tipológica da rocha com Cristo, quando afirma: “E beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo” (1 Cor 10.4). Ele mostra que Cristo, ao ser ferido, trouxe o refrigério e vida para todos, assim como ocorreu com a rocha, em Horebe. Joel Leitão22 apresenta esta relação tipológica nos seguintes termos:

A rocha é o tipo de Jesus Cristo, que foi ferido pelo juízo de Deus para nos dar a água da vida: “mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede...” (Jo 4.14a). Moisés executou a ordem de Deus e a água saiu da rocha ferida. “E beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo” (1Cor 10.4).
Continuou a viagem pelo deserto. Os israelitas depois de 20 paradas, chegaram a Cades (Nm 20.1-6). Outra vez é a rocha que vai dar de beber aos sedentos, mas a ordem de Deus é diferente: “...e falai à rocha...e dará a sua água...” (Nm 20.8a).
Em Horebe a pedra foi ferida para fazer o povo beber, como Jesus Cristo foi ferido por nós. Merece atenção a vara que Moisés empunhava, por ordem de Deus: “toma a vara, e ajunta a congregação tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha...” (Nm 20.8a). A vara era a autoridade. Com ela Moisés feriu o rio no Egito e a água se transformou em sangue. Com ela Moisés feriu a rocha em Horebe e jorrou a água. Mas a vara já tinha feito a sua obra. Agora não devia ser usada. Jesus Cristo só podia ser ferido uma vez. “Porque também Jesus Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus...” (1Pe 3.18a).
Para receber a água da vida, a salvação perfeita, só é preciso falar ao Filho de Deus”.

c) A Serpente de Bronze


Partindo do Monte Hor, rodeando a terra dos edomitas, o povo de Israel comete grande pecado contra o Senhor ao murmurar reclamando da comida e fazendo referência ao maná, enviado por Deus todos os dias, dizendo: “a nossa alma tem fastio deste pão tão vil” (Nm 21.5). Por sua rebeldia, Deus os castiga enviando serpentes ardentes ou abrasadoras, as quais trouxeram a morte a muitos.
Arrependidos do seu pecado o povo pede a Moisés que interceda por eles a Deus, para que ele retire as serpentes. Como solução para o problema, Deus ordenou: “Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo mordido que olhar para ela” (Nm 21.8).
Deus estava usando a figura daquilo que trouxe a morte para trazer a vida. De igual modo, ele nos mandou Cristo, para ser morto, a fim de manifestar a vida de Deus para nós. Cada israelita que fosse picado por uma serpente deveria olhar para a figura da serpente, para que vivesse. De nada adiantaria olhar para si, para a serpente, para a ferida ou para os que estavam ao seu redor. Deveria olhar, por fé, para a serpente de metal, colocada na haste, a fim de obter vida. Victor P. Hamilton23 fala sobre o pedido dos israelitas, no caso da serpente, dizendo:

A resposta de Deus é interessante. Moisés ora, mas Deus não retira as serpentes. Ele providencia uma cura: uma serpente ardente a ser erguida numa vara. A presença dessa serpente de bronze não garante proteção contra os ataques, porém serve como tratamento. Ao ser picada, a pessoa devia olhar para ela.
É fácil verificar que o Novo Testamento estabelece um paralelo com esse evento: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crer não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3.14,15).
Deus não se livrou das serpentes, como também (ainda!) não baniu todo o pecado. Ele, contudo, providenciou o socorro para o problema; um socorro que, embora semelhante, é diferente do problema. No Novo Testamento, o verbo “olhar” é substituído por “crer”. Tais verbos, aqui, são sinônimos. A fé, como disse A.W.Tozer, é “a contemplação de uma alma diante de um Deus salvador”.

IV. TIPOS RITUAIS


Os objetos e rituais da lei mosaica, assim como os que lidavam com eles, foram dados não apenas como uma regra de culto e de relacionamento com Deus, mas também como uma mensagem profética, que apontava para Cristo. O escritor aos Hebreus afirma, a respeito deles: “Os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais” (Hb 8.5).
Muito poderia ser estudado a respeito de cada sacrifício, ritual ou festa. Neste estudo, porém, vamos nos deter no maior dos tipos rituais, onde todos os outros eram inseridos: o tabernáculo do deserto. É importante observar que, apesar de cada peça do tabernáculo apontar para Cristo, não podemos afirmar que cada uma delas, separadamente, é um tipo bíblico. O tabernáculo, como um todo, sim, é, declaradamente, um tipo de Cristo.

a) O Tabernáculo

Estudar o Tabernáculo é uma tarefa de extrema importância para a igreja dos dias atuais, para que possamos aprender o significado de cada uma das peças que formavam este santuário no deserto, sabendo que cada uma delas foi planejada por Deus, que recomendou a Moisés que as construísse conforme o modelo que Ele mesmo deu, pois havia uma mensagem e um exemplo a ser mostrado em cada uma delas.
Neste estudo podemos aprender mais sobre este santuário e a mensagem contida em cada detalhe do Tabernáculo,a respeito dos quais, afirmou o escritor aos Hebreus: "Os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o Tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se to mostrou." (Hebreus 8.5)

1. O local

A planta do Tabernáculo foi dada a Moisés no Monte Sinai. A sua construção determinou o inicio do cerimonial religioso entre o povo de Israel. Cerca de dois milhões de israelitas que haviam saído do Egito estavam ao pé do monte, onde Deus manifestou a sua glória a Moisés, entregou os 10 mandamentos e deu a ordem para construir cada peça, detalhadamente.
"Então disse o Senhor a Moisés: Sobe a mim ao monte, e fica lá: e dar-te-ei tabuas de pedra, e a lei, e os mandamentos que tenho escrito para ensinar.” (Ex 24.12).

2. O propósito

O Tabernáculo foi construído para que o Senhor fosse adorado pelo seu povo e para que estivesse sempre presente entre eles. A expressão divina foi: "E me farão um santuário, e habitarei no meio deles" (Ex 25.8).

3. Os materiais

Os materiais utilizados eram duráveis, já que o Tabernáculo seria conduzido pelo deserto e as peças seriam montadas e desmontadas. Também foram utilizados materiais que estavam disponíveis na região. Os materiais preciosos foram trazidos do Egito, quando os filhos de Israel "saquearam" o povo egípcio, e ofertaram para a construção (Ex 3.21,22; 12.35,36; 25.1,2; 36.5-7).

- Madeira de Acácia (ou cetim):
Era encontrada no deserto do Sinai e ao redor do Mar Vermelho. Era uma madeira dura e não destruída por insetos. Ela simboliza a humanidade de Cristo, sem aparência, nem formosura, mas não corrompida pelo pecado (SI 16.10). Cristo é chamado em Is 4.2 de "fruto da terra".

- Bronze:
Foi o metal escolhido para esta finalidade por ser altamente resistente a alta temperatura. O ponto de fusão do bronze e de 1.985°C. Bronze é uma liga de cobre e zinco. Ele representa juízo, sofrimento ou julgamento (Dt 28.23; Dn 10.6; Ap 2.18; SI 89.14).

- Prata
É um símbolo da redenção (Zc 11.12; Mt 26.15,16). Ela representa o preço pago por Cristo como resgate dos pecadores. Quando era feita a contagem dos filhos de Israel, cada israelita pagava um resgate: meio siclo de prata. Este prego era igual para todos, pobres e ricos (Ex 30.11-16).

- Ouro:
Como metal precioso e nobre, o ouro representa a divindade. Ouro fala do céu, da glória de Deus (Ap 3.18; Jo 22.25; Dn 10.5).

- Linho:
O linho fino era fabricado no Egito. Era usado pela realeza e por pessoas de destaque. Ele fala de pureza e santidade (Ap 19.6-8,14 , Is 64.6; 59.21). Aponta para a retidão de Cristo, o cordeiro imaculado (I Jo 3.3-5).

4. A localização

O Tabernáculo era o centro do acampamento e a partir dele era feita a organização das tribos. Ao Norte estavam as tribos de Dã, Aser e Naftali. Ao sul estavam as tribos de Rubem, Gade e Simeão. Ao leste estavam as tribos de Judá, Issacar e Zebulom. Ao oeste estavam a tribo de Efraim, Benjamim e Manassés.
As tendas dos levitas e sacerdotes eram armadas ao redor do Tabernáculo, na seguinte ordem: Ao norte os filhos de Merari, ao sul os filhos de Coate, a oeste os filhos de Gérson e a leste Moisés, Arão e os sacerdotes Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar (Nm 2 e 3).

5. O Tabernáculo

Era uma tenda portátil, com uma armação de madeira, cercada por uma cerca, formando um pátio, que era de acesso exclusivo dos levitas e sacerdotes, que ministravam o serviço diário.

6. A cerca

Era formada por 60 estacas, sendo 20 em cada lado, sendo 10 na parte de trás e 10 na frente, com 5 côvados de altura (cerca de 2,5 m), cada, mantendo uma distância de 5 côvados entre si, unidas por um pano de linho puro. As estacas eram de bronze e tinham uma cobertura de prata, estando presas por uma corda de pelos de cabras entrelaçados a uma peça de bronze, que era enterrada pela metade (I Pe 1.3; 1 Cor 15.17).
"Fareis também o pátio do Tabernáculo; ao lado do meio-dia, para o sul, o pátio tem cortinas de linho tino torcido; o comprimento de cada lado será de cem côvados. Também as suas vinte colunas e as suas vinte bases serão de cobre; os colchetes das colunas e as suas faixas serão de prata. Assim também do lado do norte as cortinas na largura serão de cem côvados de comprimento; e as suas vinte colunas e as sues vinte bases serão de cobre; os colchetes das colunas e as suas faixas serão de prata. E na largura do pátio do lado do ocidente haverá cortinas de cinquenta côvados; as suas colunas, dez, e as suas bases, dez. Semelhantemente, a largura do pátio do lado oriental, para o levante, será de cinquenta côvados, de maneira que haja quinze côvados de cortinas de um lado; suas colunas, três, e as suas bases, três; e quinze côvados de cortinas do outro lado; as suas colunas, três, e as suas bases, três.” (Ex 27.9-15).
A cerca separava o Tabernáculo do restante do arraial, impedindo que homens não habilitados tivessem acesso ao pátio. O linho puro fala da santidade de Deus, que afasta o pecado (Is 59.2). As estacas de bronze falam do juízo de Deus sobre Cristo para justificação e remissão, e o resultado dela foi a redenção do homem, mediante pagamento de um resgate, representado pela cobertura de prata. A corda que fixa esta estaca era de pelo de cabra, símbolo do pecado do homem, que foi expiado (Lv 16.5,20-22). O selo desta redenção foi a ressurreição de Cristo, representado pela peça de bronze fincada ao solo pela metade (I Pe 1.3; 1 Cor 15.17).

7. A porta

O único acesso ao pátio era pelo lado oriental, através da porta. Era formada por quatro estacas, com base de bronze e cobertura de prata como as da cerca, cobertas por um reposteiro de linho puro branco, pintado de azul, púrpura e carmesim.
"E a porta do pátio haverá uma coberta de vinte côvados, de pano azul, e púrpura, e carmesim, e linho fino torcido, de obra de bordador; as suas colunas, quatro, e as suas bases, quatro.” (Ex 27.16).
A porta fala-nos que o único acesso ao Pai é através de Jesus (Jo 10.9). Ela estava no lado oriental do Tabernáculo, isto é, defronte ao nascente (Gn 3.24; Ez 43.1-5; Ap 22.16), que fala de Cristo como o Sol da Justiça (MI 4.2); defronte também à tribo de Judá, que aponta para Cristo como o Leão da Tribo de Judá (Ap 5.5). As 4 estacas falam do aspecto universal da graça (Tt 2.11; Jo 1.12; Rm 10.11,12; 3.21-24).

8. As cores

  1. Azul
Esta cor era extraída de um molusco. Ela fala do céu, pois é a cor celeste (Dt 22.12). Aponta para Cristo, que veio "do alto" (Jo 3.31).

  1. Carmesim (Vermelho)
É descrito na Bíblia como referência ao pecado (Lv 14.4-6; Is 1.18; Nm 19.2,6). Ele fala de Cristo que, apesar de não ter cometido pecado, foi feito pecado por nós.

  1. Púrpura
Era obtida ao misturar-se o azul e o carmesim ou escarlata. Era uma cor usada nas roupas dos ricos. Ela fala da realeza de Cristo (Dn 5.7; Lc 16.19; Mc 15.17,18). Aponta para Cristo como o Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.16). Fala também de Cristo que, sendo do céu (azul), tomou sobre si os nossos pecados (carmesim).

  1. Branco
Fala da pureza e santidade de Cristo (como no linho).

9. O Altar de Bronze

Era de madeira de acácia, revestido de bronze, medindo 5 x 5 x 3 côvados (cerca de 2,5 x 2,5 x 1,5 m). Ali eram queimados todos os animais sacrificados ao Senhor. Era oco, com uma grade de bronze no meio, para sustentar as vítimas. Tinha 4 pontas e era suspenso em uma base de terra. O fogo aceso uma vez pelo Senhor (Lv 9.24) e deveria permanecer sempre aceso (Lv 6.13). Havia também outros instrumentos de bronze para apanhar as cinzas, limpar os animais, etc. Possuía duas varas laterais utilizadas para o transporte.
"Fareis também o altar de madeira de cetim; cinco côvados será o comprimento, e cinco côvados, a largura (será quadrado o altar), e três côvados, a sua altura. E fareis as suas pontas nos seus quatro cantos; as suas pontas serão uma só peça com o mesmo, e o cobrirás de cobre. Far-lhe-ás também as suas caldeirinhas, para recolher a sua cinza, e as suas pás, e as suas bacias, e os seus garfos, e os seus braseiros; todos os seus utensílios fareis de cobre. Far-lhe-ás também um crivo de cobre em forma de rede, e fareis a esta rede quatro argolas de metal aos seus quatro cantos, e as poreis dentro do cerco do altar para baixo, de maneira que a rede chegue até ao meio do altar. Fareis também varais para o altar, varais de madeira de cetim, e os cobrirás de cobre. E os varais se meterão nas argolas, de maneira que os varais estejam de ambos os lados do altar quando for levado. Oco, de tábuas, o farás; como se to mostrou no monte, assim o farão." (Ex 27. 1-8).
O altar de madeira da acácia fala de Cristo encarnado (Is 53.2) e humilhado (Fp 2.7,8), que foi crucificado por nós. O bronze fala do juízo de Deus sobre Ele, por causa dos nossos pecados (II Cor 5.21). Os chifres, símbolo de poder, falam do poder redentor da morte de Cristo (Ap 5.6). Ele foi preso a cruz, assim como as vítimas do holocausto eram amarradas às pontas do altar (SI 118.27). O animal oferecido era suspenso na grade, assim como Cristo foi erguido na cruz (Lv 9.22b; Jo 3.14,15).
As cinzas eram símbolo de humilhação (Gn 18.27; Jo 42.6) e apontam para a humilhação de Cristo (Fp 2.7,8; Mt 27.39-44). Estas cinzas eram apanhadas e depositadas em um local limpo, fora do arraial (Lv 6.10,11), assim como Cristo foi colocado em um sepulcro novo (Jo 19.41) e morto fora da cidade (Hb 13.11-13). A vítima era oferecida em sacrifício, assim como Cristo, o cordeiro de Deus (GI 5.24; Rm 12.2; GI 2.20). O fogo que queimava a vitima é símbolo do juízo de Deus (Lv 6.12,13; 16.12,13; 10.1-3; Jz 6.21; Gn 19.24; Hb 12.28,29; Ez 39.6; Nm 11.1).

10. A pia de Bronze

Era uma bacia posta sobre uma base, onde era armazenada água para uso dos sacerdotes. Não foram especificadas as suas medidas, nem o modo como era transportada. Ela foi construída com o bronze dos espelhos das mulheres (Ex 38.8). Os sacerdotes lavavam as mãos e os pés na pia antes e depois de entrar no santuário.
"Farás também uma pia de cobre com a sua base de cobre, para lavar, e a porás entre a tenda da congregação e o altar e deitarás água nela. E Arão e seus filhos nela lavará as suas mãos e os seus pés. " Lv 30.18,19
A pia estava colocada entre o altar e o santuário. O altar fala da redenção e a pia de purificação, assim como a santificação é o processo que sucede à experiência da salvação. No altar o crente é colocado em Cristo, enquanto que na pia ele mantém-se com Cristo.
O bronze para a sua construção foi retirados dos espelhos das mulheres que estavam a porta da tenda, que lembra a capacidade de refletir a luz, o que aponta para o nosso crescimento espiritual (I Cor 13.12; II Cor 3.18), como também a capacidade da Palavra de Deus de apresentar a nossa verdadeira identidade (Tg 1.23-25). A água ali utilizada é símbolo da Palavra de Deus, que nos purifica e santifica (Ef 5.25,26; Jo 15.3; 17.17; SI 26.6,7; 24.3,4; Hb 10.22).
Os sacerdotes lavavam as mãos, que representam o nosso serviço para o Senhor (SI 24.3,4; Jó 17.9; II Sm 22.21; Tg 4.8), e os pés, que falam do caminhar do cristão (SI 119.9,105). Eles mantinham-se limpos, ao entrar no santuário, para continuarem vivos (Ex 30.20), o que também acontece com cada cristão (Jo 4.14), que obtém a vida eterna através da purificação pela palavra.

11. A Tenda da Congregação

Também chamada de Santuário, era uma tenda formada de tábuas de madeira de acácia, revestidas de ouro. Ao todo eram 48 tábuas, sendo 20 de cada lado, 6 no fundo e 2 nos cantos. Estas tábuas estavam fixadas de duas em duas em uma base de prata, de cerca de 43 Kg e unidas por travas horizontais. Haviam cortinas de linho, com querubins bordados, que eram cobertas por 3 camadas de couro e pêlo. Um reposteiro das mesmas cores do portão estava na entrada sobre 5 colunas de bronze e um véu dividia os dois compartimentos: o lugar santo e o santo dos santos ou lugar santíssimo.
Também fez, de madeira de acácia, tábuas levantadas para o tabernáculo, que foram colocadas verticalmente. O comprimento de cada tábua era de dez côvados, e a largura de um côvado e meio. Cada tábua tinha duas cavilhas pregadas uma a outra; assim fez com todas as tábuas do tabernáculo.” (Ex 36.20-22).
O corpo do santuário era erguido com tábuas de madeira. Isto fala de Cristo, que teve corpo humano, e também fala da igreja, o corpo místico de Cristo. As tábuas eram iguais; foram cortadas, aplainadas e preparadas e passaram a ter as mesmas medidas, o que aponta para a igualdade no corpo e Cristo, onde não há acepção de pessoas (Cl 3.11; Rm 2.11; At 10.34,35). Estas tábuas foram revestidas de ouro, que representa a glória de Deus (Ap 5.10; I Pe 2.9; II Ts 2.13,14), na qual fomos feitos sacerdotes (Rm 8.30, Ef 1.11-14). As tábuas estavam fixas no solo sobre bases de prata, que representam o preço do resgate pago para comprar a igreja (Ap 5.9; I Co 6.20; 3.11). Elas estavam unidas umas às outras por travessas também de madeira, revestidas de ouro. Isto fala da união que deve haver no corpo de Cristo (Sl 133; Jo 17.22,23).
Por sobre as tábuas eram colocadas cortinas de linho puro, que falam da santidade necessária à igreja (I Pe 1.15). Os querubins bordados nas cortinas são os guardiões da santidade e da glória de Deus (I Sm 4.4; Gn 3.24; Ez 10). As cortinas cobriam o santuário e ficavam a 1 côvado do solo, sem tocá-lo. Elas representam o Cristo ressurreto, que não tocará o solo, em sua segunda vinda.
Sobre as cortinas era colocada a primeira cobertura, que era de pêlo de cabra entrelaçado e representa a expiação pelo pecado. A segunda cobertura era de peles de carneiro, tingidas de vermelho, que apontam para a redenção pelo sangue de Cristo. A terceira cobertura era de couro de animal. Há uma indefinição quanto ao animal aqui referido. Algumas versões falam de texugo e outras de golfinho ou animal marinho. Dada a dificuldade de se encontrar estes animais naquela região, alguns consideram que o animal era o dugão, um animal marinho da família do peixe-boi, facilmente encontrado na região do Mar Vermelho. O importante é que era uma pele escura e sem nenhuma beleza aparente. Como esta era a cobertura final, era isto que era visto quando se olhava de fora para a tenda. Isto aponta para o Cristo sem aparência (Is 53.2). Vendo o exterior não se percebiam as peças de ouro que estavam dentro. Da mesma forma, o evangelho só faz efeito quando penetra no interior do homem. (Sl 73.17).

12. A mesa dos pães da proposição

Dentro do santuário, à direita de quem entrava, estava uma mesa de madeira de acácia, revestida de ouro, com uma moldura, em forma de anteparo e duas varas laterais, presas em argolas de ouro, para ser transportada, medindo 2 x 1 x 1,5 côvados. Em cima dela estavam duas pilhas de 6 pães, e um depósito de incenso. Eram os pães da proposição, ou presença, que deveriam ser substituídos a cada sábado.
"Também farás uma mesa de madeira de cetim; o seu comprimento será de dois côvados, e a sua largura dum cavado, e a sua altura de um côvado e meio, e cobri-la-ás com ouro puro: também lhe farás uma coma de ouro ao redor. Também lhe farás uma moldura ao redor, da largura duma mão, e lhe farás uma coroa de ouro ao redor da moldura. Também lhe farás quatro argolas de ouro; e porás as argolas aos quatro cantos, que estão nos seus quatro pés." (Ex 25.23-26).
O pão é um gênero de primeira necessidade. Ele é servido na mesa do rico e do pobre todos os dias e em todos os países. Ele fala de Cristo, o pão da vida (Jo 6.35, 51-58) e da sua carne (Jo 6.47-51). Isto lembra-nos a Santa Ceia, o memorial da comunhão, quando todos sentamos à mesa do Senhor para comer o pão (I Cor 11.23,24). Os pães eram do mesmo tamanho, o que fala da unidade na comunhão (Rm 12.5). Eram pães asmos, isto é, sem fermento, o que fala da santificação necessária aquele que se senta à mesa do Senhor (I Cor 5.6-8).
Os doze pães representam as 12 tribos de Israel, isto é, todo o povo, e deveria ser comido pelos sacerdotes, os representantes do povo. Eles lembravam a cada israelita sua constante dependência da presença de Deus. O pão era feito de trigo, que era queimado e moído (Jo 12.24,27,31-33). A mesa possuía uma moldura da largura de uma mão, para evitar que os pães caíssem, o que fala da proteção de Cristo. Sobre os pães era colocado um vasilhame com incenso; um perfume utilizado apenas para este fim. Este incenso é um tipo de Cristo, sempre presente a mesa (Ct 1.12; II Cor 2.14,15).

13. O candelabro

Do lado esquerdo do santuário, em frente à mesa, estava o candelabro ou candeeiro, chamado em hebraico menorah. Ele era a única fonte de luz dentro do santuário, que não possuía janelas. O candelabro era de ouro puro batido, tendo uma haste central, presa a uma base e seis hastes laterais.
As sete lâmpadas estavam acesas ininterruptamente (Lv 24.2) e eram abastecidas pela manhã e tarde. Havia espevitadores de ouro especialmente para aparar o pavio das lâmpadas. Não são especificadas as suas medidas, nem como era transportado.
"Também farás um castiçal de ouro puro; de ouro batido se fará este castiçal: o seu pé, as suas canas, as suas copas, as suas maçãs, e as suas flores serão do mesmo. E dos seus lados sairão seis canas: três canas do castiçal dum lado dele, e três canas do castiçal do outro lado dele". (Ex 25.31,32).
O candelabro fala de Cristo, a luz do mundo (Jo 8.12; 9.5; 1.4-9). Ele e a haste ou castiçal principal, pois é a única luz que dissipa as trevas do pecado. As hastes laterais são a igreja. São seis hastes e este número representa o homem (Ap 21.15-17; 13.18). Elas falam que somos luz do mundo (Mt 5.14-16; 1Ts 5.51), andamos na luz (I Jo 1.7) e precisamos dar testemunho de vida (Ef 5.8).
Os espevitadores eram utilizados para aparar o pavio desgastado diariamente. Isto fala da necessidade constante de permitirmos que o Senhor trabalhe em nossas vidas e molde o nosso caráter.
O combustível do candelabro era o azeite de oliva, que é um símbolo do Espírito Santo (Zc 4.1-6), que ilumina a vida do crente (1Cor 2.12-14).

14. O Altar do Incenso

Defronte ao véu estava a peça mais alta do santuário: o altar do incenso. Era uma peça de madeira de acácia, revestida de ouro, que media 2 x 1 x 2 côvados. Ele também possuía varas laterais para o transporte, também revestidas de ouro. Sobre o altar do incenso era queimado um incenso, cuja fórmula foi dada por Deus, para ser utilizado exclusivamente neste serviço.

15. O incenso

Era confeccionado com três substâncias aromáticas: o estoraque, uma substância extraída de uma planta chamada benjoeiro, que goteja espontaneamente uma substância aromática. Isto fala da espontaneidade da nossa oração e interseção (SI 100.2; Fp 1.4); a onicha, extraído de um molusco chamado strombus, encontrado no fundo do mar, que fala da profundidade do nosso relacionamento com Deus em oração (Jr 29.13); e o gálbano, extraído do esmagamento de galhos e folhas de uma planta da mesma família da erva-doce, que fala do quebrantamento que precisa haver em nós quando nos dirigimos a Deus (SI 51.7). Era adicionada à fórmula uma resina branca, que era o próprio incenso e sal, que fala da nossa temperança (Cl 4.6).
O altar do incenso era de madeira, revestido de ouro. Ele fala de oração e interseção (SI 141.2; Ap 5.8; Lc 1.11-13). Nele era queimado incenso pelos sacerdotes (2Cr 26.16-21). Ele aponta para Cristo como o sacerdote e mediador perfeito (Hb 4.14-16; 1Tm 2.5) e intercessor dos homens (Jo 17.9,10; 1Jo 2.1; Rm 8.34). Este altar era quadrado, o que fala da sua universalidade (Hb 7.23-25). O mesmo também possuía chifres, o que aponta para o poder da oração.
Consistia em erro oferecer nele incenso estranho (Ex 30.9), oferecido por intercessor estranho (Nm 16.40; 2Cr 26.16) ou a deus estranho (2Rs 22.16,17). Isto fala da sinceridade e do objetivo que há em nossa oração. O incenso deveria ser queimado com brasas do altar (Lv 16.12), o que fala da necessidade da unção do Espírito sobre nós, pois Deus não aceita orações "frias".


16. O véu e o Santo dos Santos

Separando o lugar santo do lugar santíssimo havia um véu, de linho puro, com querubins bordados.
"Depois farás um véu de azul, e púrpura, e carmesim, e de linho fino torcido; com querubins de obra prima se fará. E o porás sobre quatro colunas de madeira de cetim, cobertas de ouro: seus colchetes serão de ouro, sobre quatro bases de prata." (Ex 26.31,32).
O véu impedia o acesso ao Santo dos santos, que era visitado apenas pelo Sumo-sacerdote, uma vez por ano, por ocasião do Yom Kippur, o dia do perdão (Hb 9.7). O véu fala da carne de Cristo (Hb 10.19,20), que foi rasgado na cruz (Mt 27.50,51). Este ato abriu o acesso ao Pai. O véu foi rasgado de cima para baixo, o que indica uma iniciativa divina. O cristão agora tem acesso a Deus e as bênçãos espirituais da graça (Ef 2.5,6; 1.3).

17. A arca do Testemunho

O único móvel dentro do santo dos santos era uma arca de madeira de acácia, revestida de ouro, medindo 2,5 x 1,5 x 1,5 côvados. Assim como outras peças, a arca possuía varas laterais para o transporte. Dentro da arca estavam as tábuas da lei, entregues a Moisés no Monte Sinai, a vara de Arão que floresceu e um vaso de ouro contendo uma porção de maná.


18. O propiciatório

A tampa da arca era uma peça única de ouro puro batido onde estavam dois querubins, um de frente para o outro, com as asas para a frente e os rostos voltados para baixo.
"Também farão uma arca de madeira de cetim: o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura dum côvado e meio, e dum côvado e meio a sua altura. E cobri-la-ás de ouro puro, por dentro e por fora a cobriras: e farás sobre ela uma coroa de ouro ao redor; e fundiras para ela quatro argolas de ouro, e as porás nos quatro cantos dela: duas argolas num lado dela, e duas argolas noutro lado dela. E farás varas de madeira de cetim, e as cobriras de ouro, e meterás as varas nas argolas, aos lados da arca, para se levar com elas a arca" (Ex 25.10-14).
A arca era o objeto mais sagrado do Tabernáculo; era o símbolo da presença de Deus entre o povo. Ela desempenhou um papel importante, em muitas ocasiões, a frente do povo (Nm 10.33; Js 3.4; 6). Era o símbolo do pacto entre Deus e os filhos de Israel. Ela foi a primeira peça cuja construção foi ordenada por Deus. Isto fala que Deus quer trabalhar no homem de dentro para fora e que e a presença de Deus no interior do homem que vai fazer a diferença na vida deste.
As tábuas da lei que estavam no interior da arca falam da aliança de Deus com os homens (Hb 8.6,7,13). O maná, como alimento fornecido diariamente, fala da fidelidade e do cuidado de Deus (2Tm 2.13). A vara de Arão fala da autoridade dada por Deus (Rm 13.17). O propiciatório representa o trono de Deus, guardado pelos querubins (Sl 99.1). Deus fala com o povo daquele lugar (Ex 25.22). O povo estaria sendo levado à presença de Deus pelo sacerdote. Isto aponta para Cristo, que foi feito a nossa propiciação (Rm 3.25; 1Jo 2.2).

CONCLUSÃO


Concluindo o estudo da Tipologia Bíblica, podemos verificar a soberania de Deus, escrevendo profecias através de pessoas, objetos e eventos, e as cumprindo na pessoa de Cristo, e a perfeita relação entre o Antigo e o Novo Testamento, apresentado o tipo e o antítipo, em perfeita harmonia. Além disto, podemos observar a riqueza de material e significado que o Antigo Testamento nos dá, a fim de nos ensinar profundas verdades espirituais.
Não devemos abrir mão desta riqueza de significado que os tipos bíblicos nos mostram, tendo o cuidado de não ferir os princípios de interpretação da Bíblia, evitando a alegorização dos tipos bíblicos e verificando o significado e a relação tipológica que a própria Bíblia nos apresenta.

BIBLIOGRAFIA


MELO, Joel Leitão de, Sombras, Tipos e Mistérios da Bíblia, CPAD, Rio de Janeiro, 7ª edição, 1997.
ZUCK, Roy B., A Interpretação Bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia, Edições Vida Nova, São Paulo, 1ª edição, 1994.
HABERSHON, Ada R., Manual de Tipologia Bíblica: como reconhecer e interpretar símbolos, tipos e alegorias das Escrituras Sagradas, Editora Vida, São Paulo, 2003.
GRONINGEN, Gerard van, Revelação Messiânica no Antigo Testamento, Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2ª edição, 2003.
GREIDANUS, Sidney, Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento, Editora Cultura Cristã, São Paulo, 1ª edição, 2006.
PAGANELLI, Magno, Onde Estava o Cristo: identificando Cristo nas figuras do Antigo Testamento, Editora Arte Editorial, São Paulo, 1ª edição, 2003.
SPRECHER, Alvin, Estudo Devocional do Tabernáculo no Deserto, CPAD, Rio de Janeiro, 1ª edição, 2002.
GILBERT, Floyd Lee, A Pessoa de Cristo no Tabernáculo, Editora Fiel, São José dos Campos-SP, 4ª edição, 1999.
CONNER, Kevin J., Os Segredos do Tabernáculo de Moisés, Editora Atos, Belo Horizonte-MG, 1ª edição, 2004.
CONNER, Kevin J., Os Segredos do Tabernáculo de Davi, Editora Atos, Belo Horizonte-MG, 1ª edição, 2004.
HAMILTON, Victor P., Manual do Pentateuco, CPAD. Rio de Janeiro, 1ª edição, 2006.

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS


1 Dispensacionalismo: ajuda ou heresia, Charles C. Ryrie, ABECAR, pág. 95, 96.
2 Prefácio do livro Onde Estava o Cristo, de Magno Paganelli, Editora Arte Editorial.
3 Manual de Tipologia Bíblica, Ada Habershon, Editora Vida, págs. 18 e 19.
4 A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Edições Vida Nova, pág. 197.
5 Os Segredos do Tabernáculo de Moisés, Kevin J. Conner, Editora Atos, pág. 13.
6 A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Edições Vida Nova, Pág. 212.
7 A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Edições Vida Nova, Págs.200-203.
8 Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento, Sidney Greidanus, Editor Cultura Cristã, pág. 291.
9 A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Edições Vida Nova, Pág. 201.
10 A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Edições Vida Nova, Pág. 202.
11 Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento, Sidney Greidanus, Editor Cultura Cristã, págs. 285, 286.
12 Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento, Sidney Greidanus, Editor Cultura Cristã, pág. 290.
13 A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Edições Vida Nova, Pág. 208
14 Céu – Mistério dos anjos, de Grant Jeffrey, Editora Bom Pastor.
15 Revelação Messiânica no Antigo Testamento, Gerard von Groningen, Editora Cultura Cristã, Págs. 274, 275.
16 Os Segredos do Tabernáculo de Davi, Kevin J. Conner, Editora Atos, págs. 47, 48.
17 Artigo "Segundo a Ordem de Melquisedeque", do Rev. Josivaldo de França Pereira, publicado no site Bíblia World Net (http://www1.uol.com.br/bibliaworld/igreja/mensag/josfp030.htm).
18 Sombras, tipos e Mistérios da Bíblia, Joel Leitão de Melo, CPAD, págs 34 e 35.
19 Manual de Tipologia Bíblica, Ada Habershon, Editora Vida, págs. 123,124.
20 Artigo “Cristo no Período Patriarcal”, do Rev. José Maurício Passos Nepomuceno, publicado no site Monergismo (http://www.monergismo.com/textos/teologia_pacto/cristo_patriarcal_nepomuceno.htm).
21 Revelação Messiânica no Antigo Testamento, Gerard von Groningen, Editora Cultura Cristã, págs. 138 e 139.
22 Sombras, tipos e Mistérios da Bíblia, Joel Leitão de Melo, CPAD, Pág. 47.
23 Manual do Pentateuco, Victor P. Hamilton, CPAD, págs. 394 e 395.

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4 comentários:

  1. Parabéns por esse excelente estudo! Esse trabalho é muito importante para o aprimoramento e aprofundamento da Hermenêutica Bíblica. Deus o abençõe! Estarei fazendo referência e reconhecendo seu devido crédito. Deus o abençoe!

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  2. Obrigado pela visita Ana Lúcia.
    Deus abençoe.

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  3. gOSTEI MUITO DO ESTUDO. AUXILIOU NO MEU TRABALHO DO CURSO DE TEOLOGIA. qUE DEUS O ABENÇOE.

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  4. Excelente material! Conteúdo rico e maravilhoso!

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