Tipologia
Bíblica
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Márcio Klauber Maia
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INTRODUÇÃO
O
apóstolo Paulo afirma, em Rm 15.4: “Porque tudo que dantes foi escrito
para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das
Escrituras, tenhamos esperança.” Ele estava dizendo que tudo o que foi
escrito tinha a finalidade de trazer algum ensinamento para a igreja.
Isto nos ajuda a entender que, algumas passagens bíblicas que falam de
leis e rituais, por exemplo, que não são mais aplicados à igreja do Novo
Testamento, possuem um ensinamento válido para os nossos dias. Eles
eram mandamentos para o povo de Israel, durante a dispensação da Lei,
mas também apresentam verdades ético-espirituais e princípios
relevantes, cujo significado apontava para coisas que haveriam de vir.
A
Tipologia Bíblica é uma área de estudo da Hermenêutica, e utiliza o
método histórico-gramatical, isto é, o princípio de interpretação
literal ou textual da Bíblia, utilizado de forma sistemática, o qual
permite que a própria Escritura interprete a si mesma, através da
progressão da revelação, sem fantasias e simbolismos complexos. Não
devemos, portanto, confundir o estudo dos tipos com o método alegórico
de interpretação da Bíblia, o qual pretende dar ao texto um significado
que ele não possui. Sobre este assunto, Charles Ryrie1 afirma:
“Os
dispensacionalistas reclamam para si a interpretação literal na
hermenêutica. Isso significa uma interpretação que dá o mesmo
significado a toda palavra que teria em seu uso normal, quer empregado
na escrita, fala ou no pensamento. Às vezes é chamado de interpretação
histórica gramatical, pois o significado de cada palavra é determinado
por considerações históricas e gramaticais. O princípio pode também ser
chamado de interpretação normal, pois o significado literal das palavras
é a abordagem normal para o seu entendimento em todas as línguas. Pode
ser designado também de interpretação simples, já que ninguém recebe a ideia errada de que o princípio literal elimine o uso de figuras de
linguagem. Símbolos, figuras de linguagem e tipos são todos
interpretados de maneira simples neste método, e não são contrários à
interpretação literal. Afinal de contas, a existência de uma figura de
linguagem depende da realidade do significado literal dos termos usados.
Muitas vezes as figuras tornam mais claro o significado literal, normal
e simples que elas transmitem ao leitor”.
A
Tipologia é uma das áreas mais importantes do estudo bíblico, por sua
riqueza de conteúdo e ensinamentos para a igreja. Entretanto, poucos
cristãos aprofundam-se neste vasto campo dos tipos bíblicos. Talvez isto
se dê por causa da especulação fantasiosa de alguns, que exageram na
imaginação e criatividade quanto aos tipos bíblicos ou ainda pelo
secularismo que tenta desacreditar o fator sobrenatural das Escrituras
Sagradas. Apesar disto, a Tipologia Bíblica continua sendo um excelente
auxílio na compreensão do plano redentor divino e no conhecimento de
nosso Senhor Jesus Cristo.
Disse
um antigo escritor: “Através dos tipos, na dispensação passada, Deus
estava ensinando aos seus filhos as letras. Nesta dispensação Ele está
ensinando como juntar as letras, as quais organizadas como eles querem,
soletram Cristo, e nada mais que Cristo”.
I. A TIPOLOGIA BÍBLICA
A respeito desta relação declarou o Pr. Luiz Sayão2:
Pr. Luiz Sayão |
Entre
as questões mais fascinantes dessa relação entre os dois testamentos
está a questão da tipologia. Trata-se do estudo criterioso de como
Cristo e sua obra são prefigurados no Antigo Testamento. Na verdade tal
tarefa não é nada simples. Discorrendo sobre a importância do tema, Ada
Habershon3, afirma:
Ada Habershon |
Há
certa divergência entre os estudiosos das regras de interpretação
bíblica, no tocante aos tipos, indo desde a exigência de uma declaração
explícita dos tipos no NT, até a completa negação do significado deles. A
respeito desta divergência, Roy Zuck4 explica:
Roy B. Zuck |
a) PORQUE ESTUDAR TIPOLOGIA BÍBLICA?
- O estudo dos tipos bíblicos facilita o entendimento do Antigo Testamento, que é repleto de situações e rituais enigmáticos e de difícil compreensão para os cristãos de hoje, trazendo à luz a revelação de ensinos para a igreja. Utilizando a figura do Tabernáculo, um dos tipos mais completos de Cristo, explica Kevin Conner5:
“O
Novo Testamento nos dá a exposição doutrinária dos tipos. Declarações
abstratas da verdade são muito mais fáceis de serem compreendidas
através de algumas representações visíveis, como as usadas no
Tabernáculo. Assim, o Tabernáculo é repleto de tipos ilustrativos.
Tipos, como já dissemos, são sombras, e sombras envolvem substâncias.
Todos esses elementos são lições objetivas, símbolos materiais para
expressar verdades espirituais”.
Além
disto, ajuda a estabelecer uma ligação perfeita entre o Antigo e o Novo
Testamento, ressaltando a unidade das Escrituras e sua inspiração
divina e sobrenatural, apresentando a pessoa de Cristo como o centro da
Palavra de Deus. Sobre este aspecto divino do estudo dos tipos, Roy Zuck6 destaca:
“Uma
das vantagens é que nos permite enxergar o traçado divino da história,
pelo fato de ele escolher pessoas, acontecimentos e elementos de Israel
para retratar e predizer aspecto de Cristo e de seu relacionamento com
os crentes de hoje. Enxergar essas relações tipo – antítipo ajuda-nos a
ver a mão de Deus na história”.
É
o estudo das figuras e símbolos da Bíblia, com os quais Deus procura
mostrar, por meio de coisas terrestres, as coisas espirituais. Visto a
incapacidade da mente humana de compreender as coisas divinas, nos
mesmos termos encontramos no Antigo Testamento Deus falando das glórias
celestiais através de coisas terrestres.
A
interpretação das profecias depende da significação dos símbolos. Por
meio de símbolos, o Velho Testamento contém as doutrinas do Novo. A
tipologia baseia-se na suposição de que há um padrão na obra de Deus
através da história da salvação. Deus prefigurou sua obra redentora no
Antigo Testamento e a cumpriu no Novo; o Antigo Testamento contém
sombras de coisas que seriam reveladas de modo mais pleno no Novo. Como
disse Agostinho: “O Novo está contido no Velho e o Velho explica o
Novo”.
Os
tipos se baseiam em linguagem figurada, como as alegorias e parábolas,
com uma diferença: na alegoria, assim como na parábola, a narrativa tem a
finalidade de ilustrar uma verdade maior que se deseja transmitir, sem a
necessidade de ser o registro fiel de algum fato passado. O tipo,
entretanto, é um fato histórico, apresentado exatamente como aconteceu,
mas que possui uma mensagem profética.
A
prefiguração é chamada TIPO e o cumprimento é chamado ANTÍTIPO. O tipo é
o objeto da lição, a revelação temporária de uma pessoa, um
acontecimento ou uma instituição vindoura. O antítipo é o cumprimento
daquilo que havia sido predito.
c) TERMOS BÍBLICOS
Existem algumas palavras no grego do Novo Testamento utilizadas para
fazer referência aos tipos:
Existem algumas palavras no grego do Novo Testamento utilizadas para fazer referência aos tipos:
- A palavra skia, traduzida como sombra, que aparece em Cl 2.17 e Hb 10.1.
- A palavra upodeigma, traduzida como figura, como em Hb 9.23.
- A palavra parabole, traduzida como parábola ou alegoria, que aparece em Hb 9.9.
- A palavra antitypos, traduzida como figura em Hb. 9.24 e 1Pe 3.21.
d) CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS
Embora
algumas variações de menor importância com referência ao número e nomes
das várias classes de tipos, apresentamos a seguir um modo rápido de
classificar os tipos:
Tipos Históricos:
- Pessoais: quando certos personagens do Velho Testamento têm alguma semelhança com a pessoa de Jesus Cristo ou ilustram alguma revelação da doutrina do Evangelho.
- Coletivos: aplicação dos acontecimentos da vida dum povo ou duma coletividade à Igreja aqui no mundo ou como sinalização para o modo de proceder dos crentes. Alguns objetos e animais do Antigo Testamento são inseridos nesta classe porque só possuem significado tipológico quando inseridos no evento que envolve a coletividade de Israel, como por exemplo, a rocha de Horebe, que não é tipo por ser uma rocha, mas pela situação que foi criada com o povo.
Tipos Rituais
- Quando os detalhes da Lei Mosaica prefiguram o ensino do Novo Testamento. Aqui estão inseridos os rituais e festas do povo judeu e os aspectos relacionados ao Tabernáculo e o sacerdócio.
e) TIPO x SÍMBOLO
Os
tipos assemelham-se aos símbolos e podem até ser considerados uma
espécie particular de símbolo. Entretanto, duas características os
diferenciam:
- Os símbolos servem de sinais de algo que representam sem necessariamente ser semelhantes em qualquer respeito. Podemos citar como exemplo o vento e o fogo, símbolos do Espírito Santo, que também matam e destroem.
- Os tipos apontam para o futuro, enquanto os símbolos podem não fazê-lo. Um tipo sempre precede historicamente o seu antítipo, ao passo que um símbolo pode preceder, coexistir, ou vir depois daquilo que ele simboliza. Um exemplo disto é a pomba, símbolo do Espírito Santo, que continua existindo mesmo depois da descida do Espírito Santo.
f) CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO TIPO
Um
cuidado que precisamos ter na interpretação bíblica baseada em tipos é o
de atentar para as regras da tipologia, para evitar o exagero de
transformar a Bíblia em um livro místico, recheado de enigmas e
incertezas, cometendo extravagâncias, com a finalidade de encontrar
figuras e tipos onde não existem. Para que algum personagem, evento ou
objeto do Antigo Testamento possa ser considerado um tipo e não possamos
estar à mercê da criatividade e invencionice de muitos, algumas regras
precisam ser consideradas.
Roy Zuck7 apresenta
cinco regras para uma perfeita interpretação dos tipos bíblicos:
Semelhança, Realidade histórica, Prefiguração, Elevação e Planejamento
divino.
1) Semelhança:
Deve
haver algum ponto notável de semelhança ou analogia entre o seu
antítipo. O tipo precisa ser profético em todos os pontos de semelhança
com o antítipo, e precisa verdadeiramente prefigurar as coisas
vindouras. No caso do cordeiro pascoal ele era macho, sem defeitos,
assim como Cristo não possuía pecados; foi separado no dia 10, assim
como Cristo faz a entrada em Jerusalém; era sacrificado no dia 14, à
tarde, como também o foi Jesus Cristo, e assim por diante. Ou seja, é
necessária uma correspondência relevante entre o tipo e o antítipo. É o
que Sidney Greidanus8 chama de “analogia significativa”. Ele cita David Baker:
“A
tipologia implica uma verdadeira correspondência. Não está interessada
em paralelos de detalhes, mas somente na concordância de princípios e
estruturas fundamentais. Deve haver uma correspondência na história e na
teologia, ou o paralelo será trivial e sem valor para o entendimento da
Bíblia”.
Cita ainda Louis Berkof, no livro Principles, pág. 145:
“O
tipo deverá ser designado por apontamento divino para ter semelhança
com o antítipo. Semelhança acidental entre uma pessoa ou um
acontecimento do Antigo e do Novo Testamento não faz com que seja um
tipo do outro”.
2) Realidade histórica:
Os
tipos não são imaginários, mas fatos reais e pessoas que existiram, de
fato. Logo, a interpretação do tipo deve levar em consideração o fato
histórico e os acontecimentos relatados na Bíblia, apenas. Roy Zuck9 assim afirma:
“Quando
ao estudioso da Bíblia se depara um tipo no Antigo Testamento, não deve
procurar no texto sentidos ocultos ou mais profundos. Ele deve ater-se
aos fatos históricos conforme registrados no Antigo Testamento. Em
outras palavras, o tipo deve surgir naturalmente do texto em vez de ser
algo que o intérprete acrescente ao texto. O Tabernáculo é um tipo (Hb
8.5; 9.23, 24), o que não significa que cada pormenor de sua construção
represente, de alguma forma, uma verdade neo-testamentária”.
3) Prefiguração:
O
simbolismo ou analogia que o tipo apresenta precisa ser preditiva, ou
seja, ele sempre aponta para o futuro, pois o tipo vem sempre antes do
antítipo. Sendo o tipo um elemento profético, esta correspondência com o
antítipo precisa indicar uma prefiguração, algo que aponta para frente,
para o futuro.
Não
significa que os personagens do Antigo Testamento tivessem consciência
sobre este fato, ou que os israelitas soubessem que as festas,
sacrifícios e rituais que praticavam, fossem algum tipo de profecia.
Quando, porém, observamos o correspondente tipológico, percebemos as
características preditivas do tipo. Roy Zuck10 apresenta desta forma:
“O
que Deus via em antecipação, o homem via posteriormente em
retrospectiva. O homem percebe as semelhanças quando olha para trás e
compara o tipo com o antítipo. Os tipos eram placas de sinalização que
falavam de pessoas, acontecimentos ou fatos futuros”.
Sidney Greidanus11, falando sobre o caráter profético dos tipos, vistos em retrospectiva, afirma:
“Suspeito
que a maioria dos tipos não seja profético, mas pessoas e
acontecimentos específicos são vistos mais tarde como tendo significado
tipológico. Por exemplo, não é provável que Israel durante o reinado do
rei Davi visse o rei Davi como predição de um rei maior. O rei Davi só
se tornou um tipo séculos depois que viveu, quando os profetas começaram
a anunciar a vinda de um novo rei pastor. É claro, quando os profetas
usaram a tipologia ao prometer um novo rei Davi, o tipo, agora ligado a
uma promessa, tornou-se profético. Mas esse elemento de predição não
está presente quando o texto da pregação é, por exemplo, 1 Samuel
5.1-12. Quando Davi é ungido rei de todo Israel e domina Jerusalém como
sua capital, não há no texto indicação de que Davi seja um tipo. Mas
isso muda quando olhamos esse acontecimento da perspectiva do Novo
Testamento. Agora descobrimos que o rei ungido de Deus, que reinava
sobre o povo unido a partir de Jerusalém, cidade de paz, é o modelo de
Deus para trazer o seu reino sobre a terra. No Novo Testamento, vemos
Jesus, o filho de Davi, ungido pelo Espírito Santo, o novo pastor e rei,
chorando sobre a cidade de Deus: “Jerusalém, Jerusalém... quantas vezes
quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos
debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23.37)... Consequentemente, 2 Samuel 5, tomado isoladamente, não é profético, mas
olhando na perspectiva do Novo Testamento, o rei Davi é claramente um
tipo de Cristo”.
4) Elevação:
Sendo
o tipo uma representação, o antítipo lhe é superior. Na relação entre
tipo e antítipo ocorre uma elevação, uma intensificação. O sacerdócio de
Cristo é superior ao de Melquisedeque; o reinado de Cristo é superior
ao de Davi; o sacrifício de Cristo é superior aos sacrifícios realizados
no tabernáculo. Vejamos uma comparação com o cordeiro da Páscoa: o
cordeiro foi sacrificado em lugar do primogênito de cada casa, provendo,
assim, a salvação da morte para a cada na qual o seu sangue foi
aspergido. O cordeiro, entretanto, não se ofereceu para este sacrifício,
nem entendia a razão porque estava sendo sacrificado. O sacrifício de
Jesus Cristo, porém, foi voluntário, pois ele mesmo afirmou: “dou a
minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim
mesmo a dou” (Jo 10.17,18). O sacrifício do cordeiro foi suficiente
apenas para aquele momento; em outras ocasiões, nas quais se fazia
necessário um sacrifício, outro cordeiro teve que dar a sua vida. O
sacrifício de Cristo, entretanto, foi definitivo, provendo salvação para
sempre. O escritor aos Hebreus afirma que ele efetuou uma “eterna
redenção” (Hb 9.12).
O
próprio Jesus demonstrou a relação de progressão entre tipo e antítipo,
quando declarou, a respeito de si mesmo: “E eis aqui está quem é maior
do que Jonas.... E eis aqui está quem é maior do que Salomão. (Mt
12.41,42).
5) Planejamento divino:
Os
tipos são similaridades planejadas por Deus. Ele ordenou o tipo e
projetou o antítipo para ser seu cumprimento. Sidney Greidanus12 diz que “um tipo autêntico é fundamentado no desígnio divino”. Ele cita John Breker:
“A
tipologia não é simplesmente um modo humano de interpretação. É
primeiramente um modo de atividade divina dentro da história. Deus age
em termos de promessa e cumprimento, coordenando os acontecimentos
históricos de modo que seu cumprimento futuro está sendo continuamente
realizado através da história de Israel e subsequente história da
Igreja”.
A
melhor forma de identificarmos quais personagens ou objetos do Antigo
Testamento foram escolhidos por Deus para serem tipos, é observarmos a
evidência bíblica declarada no Novo Testamento, ou seja, quando o texto
declara a relação tipológica entre o tipo e seu antítipo, estabelecendo o
relacionamento profético entre eles.
Deve
haver evidência que o objeto de tipificação representa o tipo que Deus
indicou. Há certa discordância entre os estudiosos acerca de quão
explicita deve ser a declaração divina. Um ponto de vista moderado, que
conta com apoio da maioria dos estudiosos do assunto, diz que para a
semelhança ser tipo deve haver alguma evidência de afirmação divina da
correspondência entre tipo e antítipo, embora tal afirmação não precise
ser formalmente declarada. São necessários um ou mais pontos de
afinidade entre o tipo e o antítipo, à luz do texto bíblico. O cordeiro
pascoal é declarado claramente um tipo pelo apóstolo Paulo em 1Cor 5.7:
“Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”.
Desde que tipo e antítipo, ou seja, figura e cumprimento, necessitam ser preordenados
como parte de um mesmo plano divino, eles não podem ser escolhidos pelo
homem. Por isso, a autoridade dos tipos e sua aplicação provém da
Bíblia e foram determinados por Deus.
Encontramos a seguinte tabela, apresentada por Roy Zuck13,
para demonstrar a diferença entre o tipo bíblico, a ilustração ou
símbolo e a alegorização, isto é, o fato de dar ao texto um significado
que ele não possui, criando uma relação tipológica que não existe:
Tipologia
|
Ilustração
|
Alegorização
|
O tipo e o antítipo possuem uma correspondência ou semelhança exata.
|
A ilustração e o fato possuem uma correspondência ou
semelhança exata. |
Não há correspondência exata. Procura-se no texto um sentido oculto, forçado.
|
O tipo possui historicidade. (a relação tipo-antítipo depende do sentido literal)
|
A relação entre a ilustração e o fato depende da autenticidade histórica da primeira.
|
A autenticidade histórica do AT é desconsiderada ou negada. O significado literal não é importante.
|
O tipo é uma prefiguração ou prenunciação doa ntítipo. É profético; volta-se para o futuro e aponta para o antítipo.
|
Na ilustração não existe prefiguração. Não é profética; é apenas um exemplo. O fato remonta ao exemplo do AT.
|
A alegorização consiste na formação de conceitos ocultos, estranhos e subjacentes ao texto do AT. Ela procura o que está por trás, não adiante.
|
O tipo encontra cumprimento (ou conclusão,elevação) no antítipo. Este é maior e superior àquele.
|
A ilustração não encontra cumprimento (ou conclusão, elevação) no fato que ilustra.
|
A alegorização não “cumpre” os textos do Antigo Testamento.
|
O tipo é divinamente instituído. É planejado por Deus.
|
A ilustração é divinamente instituída para retratar um fato.
|
A alegorização é fruto da imaginação do intérprete, não dos desígnios de Deus.
|
O tipo e o antítipo são especificados como tais no NT.
|
O conjugado fato-ilustração não é chamado de tipo.
|
A alegorização não é indicada no texto.
|
Também chamados de Tipos Humanos, os tipos pessoais consistem em personagens do Antigo Testamento. Deus usou detalhes das suas vidas, características suas, eventos nos quais foram envolvidos e o seu caráter, para profetizar a respeito de Jesus Cristo. São pessoas cujas vidas e obras são uma verdadeira profecia, com a qual podemos aprender sobre a vida e obra de Jesus.
II. TIPOS HISTÓRICOS PESSOAIS
É importante observar que cada tipo é insuficiente e incapaz de representar sozinho o todo a respeito de Jesus Cristo.
É importante observar que cada tipo é insuficiente e incapaz de representar sozinho o todo a respeito de Jesus Cristo.
Quando, porém, estudamos o conjunto de personagens tipológicos, percebemos que cada uma vai acrescentar mais detalhes a esta apresentação tipológica. Davi destaca o reinado, Melquisedeque, o sacerdócio, Isaque, o filho e noivo, Moisés, o líder e libertador, José, a humilhação e exaltação, e assim por diante. Aprendemos com todos a respeito do grande antítipo: Cristo.
a) Moisés
Moisés ocupa um lugar destacado entre os personagens do
Antigo Testamento, não apenas por ter sido o libertador e legislador de Israel,
mas, também, pelo relacionamento tipológico com Cristo. São muitas as
semelhanças encontradas entre Jesus e Moisés, tanto na vida, quanto na obra de
ambos. Além disto, a Bíblia declara haver uma relação profética muito explícita
entre eles.
Moisés
declarou que Deus levantaria, no futuro, um profeta também judeu, cuja
vida seria semelhante à sua. Para ter a certeza de que este seria o
profeta levantado por Deus, os judeus deveriam verificar se a sua vida
era semelhante à de Moisés. Ele assim declarou: “O SENHOR, teu Deus, te
despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele
ouvireis” (Dt 18.15).
Quando
João Batista apareceu, acharam que ele poderia ser este profeta, então
lhe perguntaram: “És tu o profeta?” (Jo 1.21). Quando, porém o povo viu
Jesus realizando o milagre da multiplicação dos pães, afirmaram: “Este
é, verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo” (Jo 6.14).
Declaração semelhante foi feita por Felipe, ao dirigir-se a Natanael, a
respeito de Jesus: “Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na Lei
e de quem escreveram os Profetas: Jesus de Nazaré, filho de José” (Jo
1.45), e por Estevão, em seu discurso: “Este é aquele Moisés que disse
aos filhos de Israel: O Senhor vosso Deus vos levantará dentre vossos
irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis” (Atos 7.37).
Grant Jeffrey14, apresenta muitas semelhanças entre Jesus e Moisés:
“A
vida de Jesus foi similar à de Moisés: ambos foram profetas,
sacerdotes, legisladores, mestres, líderes de homens. Ambos ensinaram
novas verdades de Deus e confirmaram seus ensinos com milagres. Ambos
passaram seus primeiros anos de vida no Egito, miraculosamente
protegidos daqueles que procuravam tirar suas vidas. A família de
Moisés, inicialmente, não aceitava sua função. Entretanto, mais tarde
seu irmão Arão e sua irmã Miriã o ajudaram. A mãe de Jesus, seus irmãos e
suas irmãs inicialmente erraram em não segui-lo. No entanto, mais tarde
seu irmão Tiago tornou-se um dos líderes da igreja em Jerusalém.
Cada
um deles foi considerado o homem mais sábio de seus dias. Ambos
confrontaram poderes demoníacos e os subjugaram com sucesso. Assim como
Moisés determinou setenta juízes
sobre Israel, Jesus ungiu setenta discípulos para ensinar as nações.
Moisés enviou doze espias para Canaã; Jesus enviou doze apóstolos para
alcançar o mundo. A Bíblia não diz que algum deles tenha experimentado
alguma doença. E os corpos de ambos não permaneceram em seus túmulos.
Ambos jejuaram quarenta dias e experimentaram crises espirituais no topo
de montes. Assim como Moisés estendeu a sua mão sobre o Mar Vermelho
para exercer autoridade sobre ele, Jesus repreendeu o Mar da Galiléia e
aquietou as suas ondas. As faces de ambos brilharam com a glória dos
céus, Moisés no monte Sinai e Jesus no monte da transfiguração.
Moisés
resgatou Israel de sua religiosidade morta no Egito pagão; Jesus
resgatou Israel da letra morta e da tradição da Lei. Moisés e Jesus
curaram leprosos e provaram sua autoridade através de milagres, os quais
fizeram diante de muitos. Assim como Moisés teve vitória sobre o grande
inimigo de Israel, os amalequitas, com seus braços levantados, Jesus
teve vitória sobre os nossos grandes inimigos, o pecado e a morte, ao
levantar seus braços na cruz. Moisés levantou a serpente de bronze no
deserto, a fim de curar as pessoas; Jesus foi levantado na cruz para
curar dos pecados a todos aqueles que creem.
O
povo foi ingrato e se rebelou contra a liderança de ambos. As gerações
que se rebelaram contra eles morreram por falta de fé: uma no deserto, e
a outra, no cerco de Jerusalém em 70 d.C. Moisés e Jesus morreram num
monte. Moisés prometeu que outro profeta viria; Jesus prometeu à Igreja
que seu Pai enviaria outro "consolador", o Espírito Santo.
No
Mês de Nisã, no décimo-quarto dia, que era a festa da Páscoa, tanto
Moisés quanto Jesus libertaram aqueles que neles creram. No septuagésimo
dia, na festa das Primícias, Moisés trouxe a ressurreição para os
filhos de Israel quando passaram pelo Mar Vermelho; na mesma data Jesus
trouxe as primícias da ressurreição, quando levantou dentre os mortos. Cinquenta
dias mais tarde, na festa de Pentecostes, Deus concedeu um grande
presente a Israel e a todas as nações, dando-lhes a Torá, a Lei. Cinquenta dias após a ressurreição de Jesus, Deus deu à Igreja o grande Dom do batismo do Espírito Santo”.
b) Davi
O
rei Davi também merece destaque, entre os personagens de Israel, pelo
aspecto profético e tipológico que apresenta. Sendo pastor de ovelhas,
rei de Israel, nascido em Belém de Judá, ele possui muitas semelhanças
com o Senhor Jesus. A promessa feita a Israel, a respeito de um rei, que
Deus levantaria, no futuro, sobre o seu povo, é descrita por Ezequiel:
“E suscitarei sobre elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo
Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor. E eu, o SENHOR,
lhes serei por Deus, e o meu servo Davi será príncipe no meio delas; eu,
o SENHOR, o disse” (Ez 34.23, 24), é ratificada na fala do anjo Gabriel a
Maria, falando a respeito de Jesus: “e o Senhor Deus lhe dará o trono
de Davi, seu pai” (Lc 1.32).
A respeito das características tipológicas de Davi, afirma Groningen15:
“Israel
recebeu um rei segundo o coração de Deus, que provou ser um governante
compassivo, um administrador efetivo, um líder destemido contra os
inimigos de Yahweh e de seu povo. Além disto, repetidas vezes o
julgamento de Deus foi executado. Esses julgamentos foram antecipações
do julgamento que veio sobre Israel no exílio, na dispersão, e do
julgamento final que virá sobre toda e quaisquer pessoas descrentes e
desobedientes de todas as terras e nações. Finalmente, esse período
prepara a cena para o reino messiânico típico de Davi, o “Leão” de Judá
(cf. Ap 5.5), o governador prometido que haveria de ter o cetro de
realeza (Gn 49.8-12), da semente de Abraão (Gn 15.17) e da linha de Sem
(Gn 9.27). Ele foi o homem que seria mais semelhante ao Adão real como
Deus o criou, do que qualquer outra pessoa, exceto seu antítipo, Jesus
Cristo”.
Apesar
de ter cometido falhas, Davi é escolhido por Deus para ser um tipo de
seu filho, Jesus Cristo. Davi não era perfeito, mas tinha um coração
voltado para Deus e soube reconhecer suas falhas e pedir perdão por
elas. Sobre esta característica de Davi, é importante verificar o que
afirma Kevin Conner16:
“Antes
de mais nada, devemos reconhecer que não existe um tipo ou figura
“perfeito” ou completo. A natureza das pessoas usadas por Deus como
tipos era marcada por imperfeições e fraquezas. Deus teve que usar o que
era imperfeito para simbolizar o seu filho até que este viesse. Isso
pode ser visto claramente na vida de pessoas como Moisés, o profeta,
Arão, o sumo-sacerdote e outros juízes, profetas, sacerdotes e reis.
Todos tiveram suas vidas marcadas por fraqueza moral, imperfeição e
enfermidade, mas Deus usou-os para tipificar e prefigurar os aspectos do
ministério de seu filho unigênito.
Isso
também vale para o rei Davi. Davi, embora marcado pela imperfeição e
pelas fraquezas de sua natureza pecaminosa, é usado pelo Senhor Deus
para simbolizar o Messias, o verdadeiro Filho de Davi”.
c) Melquisedeque
Melquisedeque
é uma figura muito enigmática. Há quem ache que se tratava do próprio
Sem, filho de Noé, visto que o mesmo viveu por 600 anos, isto é, tempo
suficiente para estar vivo na época de Abraão. A Bíblia, entretanto,
afirma que ele era “sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo
princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho
de Deus” (Hb 7.3). Isto significa que não sabemos a sua origem, nem
destino. O escritor aos Hebreus indica que isto era uma representação da
eternidade de Cristo e de seu sacerdócio.
Jesus
não poderia ser sacerdote da linhagem levítica, pois era da tribo de
Judá. Assim sendo, seu sacerdócio é representado pelo de Melquisedeque:
rei e sacerdote, de uma linhagem superior à de Levi, visto que Abraão,
ascendente de Levi, o reconhece como superior. Sobre esta interpretação
do capítulo 7 da Epístola aos Hebreus, declara o Rev. Josivaldo de
França Pereira17:
“Quando
o texto sagrado diz que ele não tinha pai e mãe, nem princípio nem fim,
significa tão somente que ele não tinha genealogia no sentido de não
existir registro algum de sua origem, de sua descendência (se porventura
teve filhos) ou de sua morte. O próprio Deus determinou que fosse assim
para que Melquisedeque simbolizasse o sacerdócio perfeito de Cristo. Ou
como o próprio Davi declarou: "O Senhor jurou e não se arrependerá: tu
és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque" (Sl 110.4;
cf. Hb 5.6; 6.20; 7.17,21).
Quando
o autor da carta aos Hebreus diz em 7.3 que Melquisedeque "permanece
sacerdote perpetuamente" também não está dizendo que Melquisedeque seja o
próprio Senhor Jesus. O texto bíblico diz que ele "foi feito semelhante
ao Filho de Deus". A palavra "semelhante" significa parecido e não a
mesma pessoa. Melquisedeque foi feito por Deus semelhante a Jesus quanto
ao fato de não ter princípio nem fim (figuradamente falando) e, consequentemente,
em seu aspecto sacerdotal. Portanto, a expressão "permanece sacerdote
perpetuamente" refere-se à ordem sacerdotal de Melquisedeque cumprida na
pessoa de Cristo. Com sua encarnação, morte e exaltação, Jesus
tornou-se nosso eterno sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.
Por
não existir registro da origem e do fim da vida de Melquisedeque, seu
sacerdócio é tido como superior ao sacerdócio levítico, como foi o de
Jesus. Veja Hebreus 7.4-19.
Vale
destacar ainda que a expressão "não teve princípio de dias, nem fim de
existência" também aponta para a natureza divina da pessoa de Cristo.
Como Deus eterno Jesus não teve princípio e não terá fim”.
Joel Leitão de Melo18 apresenta algumas semelhanças entre Melquisedeque e Cristo:
“Abraão
reconheceu que Melquisedeque era sacerdote de Deus. Deu-lhe o dízimo e
foi abençoado por ele. Abraão, sendo pai do povo judeu, foi abençoado
por aquele a cuja ordem Jesus pertence.
A
exposição de Hebreus 7 é para provar que Jesus Cristo é superior ao
sumo-sacerdote Arão, tanto que antes de Arão, aparece aquele tipo de
Jesus.
É
mencionado Melquisedeque sem pai, sem mãe, sem genealogia. Os judeus
davam grande valor à genealogia. Só podiam exercer um cargo importante,
sendo conhecida a origem familiar. Quando voltaram do cativeiro, no
tempo de Esdras e Neemias, alguns que não provaram o registro da
genealogia foram rejeitados, considerados imundos e proibidos de comerem
das coisas sagradas (Ed 2.62,63; Ne 7.64,65).
Cremos
que Melquisedeque era homem descendente de Adão e Noé; sua genealogia
era desconhecida e Deus não quer que o identifiquemos. Pela mentalidade
dos judeus, não devia ser o sacerdote de Deus. Mas ele foi aceito como
tal por Abraão e da sua ordem vem Jesus. Ele era Rei de Salém e Rei de
Paz. Salém quer dizer paz e é o nome de Jerusalém; Jesus Cristo, depois
de destruir o reino do anticristo reinará em Jerusalém como Rei da Paz”.
d) José
Há
certa polêmica envolvendo a pessoa de José, como sendo um tipo de
Cristo. Ele apresenta muitas semelhanças com a pessoa de Cristo. Sua
vida apresenta muita similaridade com o ministério de Cristo. Desde o
fato de ser rejeitado pelos irmãos e amado pelo pai, ter sido vendido
pelos que lhe eram chegados, e sua humilhação, na casa de Potifar e no
cárcere, ainda que mantendo a integridade, até a exaltação e poder no
Egito, apontam para e humilhação e glorificação de Cristo. Ada Habershon
afirma, a respeito de José19:
“Os
treze capítulos que narram a bela história da vida de José estão
repletos de Cristo. À medida que um versículo atrás do outro apresenta o
conhecido quadro do AT, podemos comparar com eles muitas passagens do
NT que descrevem a vida e o caráter daquele que José tipifica tão
maravilhosamente. É amado por seu pai, vestido por ele e enviado numa
missão para seus irmãos. É odiado e invejado por eles, que lhe recusam
lealdade, conspiram contra ele, despojam-no de suas roupas e o entregam
nas mãos dos gentios. As tristezas, os sofrimentos e a vergonha pelos
quais passou são retratados numa série de quadros. A cova, o preço da
compra, a casa de Potifar e o cárcere mostram como José foi levado,
passo a passo, pelo caminho da humilhação abaixo. A cova nos lembra o
clamor do Senhor no Salmo 69: “nas profundezas lamacentas eu me afundo;
não tenho onde firmar os pés [...] nem deixes que a cova feche sobre mim
a sua boca!” (v. 2.15). Quando José foi vendido como escravo, o preço
que se pagou por ele foi trinta moedas de prata. De forma semelhante, o
Senhor Jesus foi traído por trinta moedas de prata, o preço de um
escravo (Ex 21.32). Em seguida, José se torna servo na casa de Potifar,
capitão da guarda. Semelhantemente a Jesus, de quem lemos em Is 49.7,8:
“aquele que foi desprezado e detestado pela nação [...] servo de
governantes”.
A
dificuldade, porém, de muitos é gerada pelo fato de não encontrarmos
uma declaração explícita da relação tipológica de José com Cristo, no
Novo Testamento. Apesar das questões relacionadas a tempo, semelhança e
elevação serem satisfeitas, muitos sentem falta de uma evidência bíblica
declarada.
e) Isaque
Isaque
possui características semelhantes a José, no que tocante à tipologia:
muitas semelhanças e pouca evidência. Isaque era filho de Abraão,
chamado por Deus de “único filho” (Gn 22.2, 12,16), apesar da existência
de Ismael. O fato de ter uma noiva, a qual foi preparada e trazida de
uma terra distante por um enviado de seu pai, já aponta para a relação
entre Cristo e a Igreja. O evento mais significativo, porém, no aspecto
tipológico, é o que ocorreu no Monte Moriá, quando, a pedido de Deus,
Abraão o coloca em um altar, com a finalidade de oferece-lo em
sacrifício. A respeito da relação profética deste evento, escreveu o
Rev. José Maurício Passos Nepomuceno20:
“Algumas
características de Isaque revelam o seu caráter messiânico, como tipo
de Jesus Cristo. A mais forte de todas essas características foi a
submissão de Isaque ao seu Pai. Como pode ser percebida na passagem de
Gênesis 22: “Abraão tomou a lenha para o holocausto e a colocou sobre
Isaque, seu filho; ele carregava o fogo e o cutelo. Assim caminhavam
ambos juntos”. Um diálogo tomou conta da cena: Isaque questiona a seu
pai: “Meu pai! — Eis me aqui, meu filho! — Eis o fogo e a lenha, mas
onde está o cordeiro para o holocausto?”. Naquele momento, podemos
imaginar as muitas coisas que se passaram na mente de Abraão: “...como
se cumprirá a promessa desse jeito? Como farei o que Deus me pediu?
Tenho de continuar, pois Deus mandou!” Quem sabe uma daquelas orações
que ninguém ouve, somente Deus que ouve os corações: “...meu Deus estou
sofrendo com isso tudo!”. A resposta de Abraão a Isaque foi um simples
“Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto”. E a
Escritura nos diz: “seguiam ambos juntos”.
Em
tudo isso, vemos a submissão do menino Isaque. Assim como Jesus foi
submisso, Isaque não se negou a obedecer ao seu pai, mesmo com o risco à
sua própria vida. Foi nesse contexto que Deus reafirmou a Aliança com
Abraão e com sua descendência. Assim, manteve-se viva a esperança
messiânica do nascimento do Descendente que esmagaria a cabeça da
serpente.
Jesus,
o Senhor humilde e submisso à vontade do Pai, haveria de entregar-se
voluntariamente para ser ferido em lugar de muitos homens e mulheres,
como nós. Seremos, para sempre, gratos por sua submissão.”
A
exemplo de José, considerar Isaque como um tipo de Cristo, para alguns,
apresenta uma dificuldade, pela ausência de uma declaração mais
explícita do Novo Testamento, concernente a este relacionamento
tipológico. A respeito disto, entretanto, declara Gerard von Groningen21:
“[...]
muitos cristãos admitem que Isaque, o filho único e amado, posto sobre o
altar por seu pai Abraão, como um sacrifício a Deus, é um tipo claro e
definido de Cristo, o qual, como único e amado filho do Pai celeste, foi
enviado por seu pai para morrer na cruz. Quando, entretanto, é
necessário explicar precisamente de que modo Isaque era um símbolo de
Cristo e de sua morte sacrificial pelos pecadores e, portanto, um tipo
real de Cristo na cruz, há dificuldades persistentes que não foram ainda
superadas. [...] O caráter passivo de Isaque, mostrado por sua
obediência voluntária e terna submissão a Abraão, seu pai, deve ser
encarado como evidência tipológica do jovem, um dos ancestrais do
Messias. O fato de Isaque ter sido colocado sem objeção sobre o altar é
uma demonstração concreta de seu caráter e de suas qualidades. Mas
Isaque não foi sacrificado; não foi entregue à morte; não foi queimado
como oferta de incenso a Deus; e não fez nem expiação, nem propiciação
do outro. Foi o carneiro provido no momento próprio que se tornou um
sacrifício substitutivo no altar, substituindo, de fato, a Isaque.[...]
Isaque como pessoa, demonstrou tipologicamente qualidades messiânicas; o
ato de ser colocado e amarrado ao altar não deve ser considerado
tipologicamente messiânico”.
III. TIPOS HISTÓRICOS COLETIVOS
São chamados também de Tipos Não-humanos.
Em geral, são objetos e eventos, registrados no Antigo Testamento, os
quais Deus usou para apresentar características de seu filho, Jesus
Cristo. Os tipos são chamados de coletivos, porque são apresentados em
um evento que envolve a coletividade de Israel. Assim sendo, o tipo é
marcado não apenas por suas próprias características, mas pela ocasião
nas quais elas se apresentam.
O
cordeiro, por exemplo, não é declarado como sendo um tipo apenas por
suas características, mas por causa dos eventos que envolvem a Páscoa e
seu significado. O que vai caracterizar a relação tipológica não é
apenas a figura do cordeiro, mas o cordeiro sacrificado na Páscoa, cujo
significado estará associado a detalhes como local, data, pessoas
envolvidas e finalidade do evento. De igual modo, a Rocha de Horebe e a
Serpente de Bronze, entre outros, têm sua relação tipológica apresentada
durante os eventos nos quais estão inseridos.
a) O Cordeiro Pascoal
Após
haver castigado o Egito com nove pragas, destruindo o país e castigando
Faraó e seu povo, Deus prepara um ato final, para consumar o juízo e
libertar o povo de Israel do cativeiro. Esta última praga atingiria
todos os primogênitos do Egito, “desde os homens até aos animais” (Ex
12.12), causando a morte em todos os lares.
O
povo de Israel, entretanto, deveria ser poupado da morte. Assim sendo,
Deus deu ordens a Moisés para que, no décimo dia do mês de Nisã (chamado
mês de Abibe, antes do Exílio Babilônico), o qual seria, a partir de
então, o primeiro mês do novo calendário, que o Senhor estava
determinando para os hebreus, cada família deveria separar para si um
cordeiro ou cabrito macho, de um ano, sem máculas ou defeitos, o qual
deveria ser sacrificado, em um ritual coletivo, ao cair da tarde do dia
quatorze, do mesmo mês.
Uma
vez sacrificado o cordeiro, seu sangue deveria ser recolhido e
aspergido nos umbrais e na verga da porta de cada hebreu, e a carne
deveria ser assada (nenhuma parte poderia ser cozida) e comida, à noite,
com pães asmos, isto é, sem fermento, e ervas amargosas. Cada pessoa
presente à mesa deveria estar devidamente trajada, como cajado na mão,
pronta para partir.
Naquela
mesma noite, o Senhor traria a morte sobre os primogênitos do Egito e
apenas as casas dos hebreus, nas quais houvesse o sangue aspergido,
seriam poupadas. A recomendação divina foi esta: “E aquele sangue vos
será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei
por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu
ferir a terra do Egito” (Ex 12.13).
A
relação tipológica do cordeiro pascoal com Cristo é uma das mais belas e
completas, dentre os tipos coletivos. A relação do Senhor Jesus Cristo
com o cordeiro, é apresentada no Novo Testamento, em muitas passagens.
João Batista afirma que ele é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo” (Jo 1.29); o livro do Apocalipse o apresenta como tal, muitas
vezes (Ap 5.6,8,12,13; 6.1,16; 7.9,10,14; 12.11; 13.8; 14.1, entre
outras); o apóstolo João faz referência ao cordeiro, quando aplica a
Cristo a profecia que dizia: “Nenhum dos seus ossos será quebrado” (Jo
19.36); o apóstolo Pedro faz referência ao “o precioso sangue de Cristo,
como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1Pe 1.19). É o apóstolo
Paulo, porém, que apresenta a declaração tipológica mais explícita,
quando afiram: “Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”
(1Cor 5.7), numa alusão direta à correspondência entre tipo e antítipo.
Muitas são as semelhanças apresentadas pelo cordeiro da Páscoa, com relação a Cristo:
- O cordeiro deveria ser macho, de um ano (Ex 12.5), uma referência à idade adulta de Cristo em seu ministério terreno;
- Não poderia possuir defeitos ou manchas (Ex 12.5), indicando a condição de Jesus sem pecados (Hb 4.15);
- O cordeiro deveria ser guardado desde o décimo dia (Ex 12.3,6), uma referência ao que Pedro afirmou sobre Cristo: “conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos” (1 Pe 1.20);
- O cordeiro deveria ser sacrificado ao décimo quarto dia, ao cair da tarde (Ex 12.6), uma referência ao momento da morte de Cristo, no Calvário (Jo 19.14);
- O sacrifício deveria ser feito por toda a congregação (Ex 12.6), demonstrando o caráter universal do sacrifício de Cristo;
- O sangue do cordeiro deveria ser aspergido, nas portas e isto seria o sinal para a libertação (Ex 12.7), uma referência à redenção através do sangue de Cristo (Ap 5.9, 10);
- A carne do cordeiro deveria ser assada no fogo (Ex 12.8, 9), o que indica o juízo divino executado na pessoa de Cristo (2 Cor 5.21);
- Nenhum osso do cordeiro deveria ser quebrado (Ex 12.46), o que foi uma profecia concernente a Cristo (Jo 19.36);
- O cordeiro deveria ser sacrificado em lugar do primogênito, isto é, um sacrifício substitutivo, uma alusão ao sacrifício vicário de Cristo (Is 53.4-6).
Muito
ainda poderia ser dito a respeito das ervas amargosas, dos pães asmos,
do ritual da Páscoa e de quem dela poderia participar, dos trajes e da
forma apressada que comeram e outras coisas que podem ter relação
tipológica, na festa da Páscoa. Uma coisa, porém, é importante observar:
a salvação da morte naquela noite não era uma questão de mérito
pessoal, ou de posição social, mas de obediência. Os que foram salvos,
não o foram por serem desta ou daquela tribo ou família, nem por serem
bons e merecedores. Apenas a obediência ao mandamento divino de
sacrificar o cordeiro e cumprir o ritual garantia a salvação e
libertação. Esta mesma verdade aplica-se à redenção por intermédio de
Cristo, que não é por mérito próprio, mas através da obediência, pela
fé.
Como
o antítipo é maior do que o tipo, há algumas deficiências do tipo que o
faz insuficiente, como, por exemplo, o fato que o cordeiro foi morto
pela vontade do hebreu, dono da casa, mas Cristo deu a sua vida
voluntariamente (Jo 10.18). Igualmente, o cordeiro foi morte, assado e
comido. Cristo, entretanto, morreu mas ressuscitou e ascendeu aos céus.
b) A Rocha de Horebe
Quando
os filhos de Israel chegam a Horebe, não há água suficiente para
dessedentar a grande multidão de gente e gado. Logo, como
costumeiramente faziam, os israelitas põem-se a murmurar contra o
Senhor. Quando Moisés consulta a Deus e lhe apresenta as queixas do
povo, ele lhe responde: “Eis que eu estarei ali diante de ti sobre a
rocha, em Horebe, e tu ferirás a rocha, e dela sairão águas e o povo
beberá” (Ex 17.6).
O
apóstolo Paulo apresenta a evidência bíblica da relação tipológica da
rocha com Cristo, quando afirma: “E beberam todos de uma mesma bebida
espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra
era Cristo” (1 Cor 10.4). Ele mostra que Cristo, ao ser ferido, trouxe o
refrigério e vida para todos, assim como ocorreu com a rocha, em
Horebe. Joel Leitão22 apresenta esta relação tipológica nos seguintes termos:
“A
rocha é o tipo de Jesus Cristo, que foi ferido pelo juízo de Deus para
nos dar a água da vida: “mas aquele que beber da água que eu lhe der
nunca terá sede...” (Jo 4.14a). Moisés executou a ordem de Deus e a água
saiu da rocha ferida. “E beberam todos de uma mesma bebida espiritual,
porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo”
(1Cor 10.4).
Continuou
a viagem pelo deserto. Os israelitas depois de 20 paradas, chegaram a
Cades (Nm 20.1-6). Outra vez é a rocha que vai dar de beber aos
sedentos, mas a ordem de Deus é diferente: “...e falai à rocha...e dará a
sua água...” (Nm 20.8a).
Em
Horebe a pedra foi ferida para fazer o povo beber, como Jesus Cristo
foi ferido por nós. Merece atenção a vara que Moisés empunhava, por
ordem de Deus: “toma a vara, e ajunta a congregação tu e Arão, teu
irmão, e falai à rocha...” (Nm 20.8a). A vara era a autoridade. Com ela
Moisés feriu o rio no Egito e a água se transformou em sangue. Com ela
Moisés feriu a rocha em Horebe e jorrou a água. Mas a vara já tinha
feito a sua obra. Agora não devia ser usada. Jesus Cristo só podia ser
ferido uma vez. “Porque também Jesus Cristo padeceu uma vez pelos
pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus...” (1Pe 3.18a).
Para receber a água da vida, a salvação perfeita, só é preciso falar ao Filho de Deus”.
c) A Serpente de Bronze
Partindo
do Monte Hor, rodeando a terra dos edomitas, o povo de Israel comete
grande pecado contra o Senhor ao murmurar reclamando da comida e fazendo
referência ao maná, enviado por Deus todos os dias, dizendo: “a nossa
alma tem fastio deste pão tão vil” (Nm 21.5). Por sua rebeldia, Deus os
castiga enviando serpentes ardentes ou abrasadoras, as quais trouxeram a
morte a muitos.
Arrependidos
do seu pecado o povo pede a Moisés que interceda por eles a Deus, para
que ele retire as serpentes. Como solução para o problema, Deus ordenou:
“Faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste; e será que viverá
todo mordido que olhar para ela” (Nm 21.8).
Deus
estava usando a figura daquilo que trouxe a morte para trazer a vida.
De igual modo, ele nos mandou Cristo, para ser morto, a fim de
manifestar a vida de Deus para nós. Cada israelita que fosse picado por
uma serpente deveria olhar para a figura da serpente, para que vivesse.
De nada adiantaria olhar para si, para a serpente, para a ferida ou para
os que estavam ao seu redor. Deveria olhar, por fé, para a serpente de
metal, colocada na haste, a fim de obter vida. Victor P. Hamilton23 fala sobre o pedido dos israelitas, no caso da serpente, dizendo:
“A
resposta de Deus é interessante. Moisés ora, mas Deus não retira as
serpentes. Ele providencia uma cura: uma serpente ardente a ser erguida
numa vara. A presença dessa serpente de bronze não garante proteção
contra os ataques, porém serve como tratamento. Ao ser picada, a pessoa
devia olhar para ela.
É
fácil verificar que o Novo Testamento estabelece um paralelo com esse
evento: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa
que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crer
não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3.14,15).
Deus
não se livrou das serpentes, como também (ainda!) não baniu todo o
pecado. Ele, contudo, providenciou o socorro para o problema; um socorro
que, embora semelhante, é diferente do problema. No Novo Testamento, o
verbo “olhar” é substituído por “crer”. Tais verbos, aqui, são
sinônimos. A fé, como disse A.W.Tozer, é “a contemplação de uma alma
diante de um Deus salvador”.
IV. TIPOS RITUAIS
Os
objetos e rituais da lei mosaica, assim como os que lidavam com eles,
foram dados não apenas como uma regra de culto e de relacionamento com
Deus, mas também como uma mensagem profética, que apontava para Cristo. O
escritor aos Hebreus afirma, a respeito deles: “Os quais servem de
exemplo e sombra das coisas celestiais” (Hb 8.5).
Muito
poderia ser estudado a respeito de cada sacrifício, ritual ou festa.
Neste estudo, porém, vamos nos deter no maior dos tipos rituais, onde
todos os outros eram inseridos: o tabernáculo do deserto. É importante
observar que, apesar de cada peça do tabernáculo apontar para Cristo,
não podemos afirmar que cada uma delas, separadamente, é um tipo
bíblico. O tabernáculo, como um todo, sim, é, declaradamente, um tipo de
Cristo.
a) O Tabernáculo
Estudar
o Tabernáculo é uma tarefa de extrema importância para a igreja dos
dias atuais, para que possamos aprender o significado de cada uma das
peças que formavam este santuário no deserto, sabendo que cada uma delas
foi planejada por Deus, que recomendou a Moisés que as construísse
conforme o modelo que Ele mesmo deu, pois havia uma mensagem e um
exemplo a ser mostrado em cada uma delas.
Neste
estudo podemos aprender mais sobre este santuário e a mensagem contida
em cada detalhe do Tabernáculo,a respeito dos quais, afirmou o escritor
aos Hebreus: "Os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais,
como Moisés
divinamente foi avisado, estando já para acabar o Tabernáculo; porque
foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se to mostrou."
(Hebreus 8.5)
1. O local
A planta do Tabernáculo foi dada a Moisés
no Monte Sinai. A sua construção determinou o inicio do cerimonial
religioso entre o povo de Israel. Cerca de dois milhões de israelitas
que haviam saído do Egito estavam ao pé do monte, onde Deus manifestou a
sua glória a Moisés, entregou os 10 mandamentos e deu a ordem para construir cada peça, detalhadamente.
"Então disse o Senhor a Moisés:
Sobe a mim ao monte, e fica lá: e dar-te-ei tabuas de pedra, e a lei, e
os mandamentos que tenho escrito para ensinar.” (Ex 24.12).
2. O propósito
O
Tabernáculo foi construído para que o Senhor fosse adorado pelo seu
povo e para que estivesse sempre presente entre eles. A expressão divina
foi: "E me farão um santuário, e habitarei no meio deles" (Ex 25.8).
3. Os materiais
Os
materiais utilizados eram duráveis, já que o Tabernáculo seria
conduzido pelo deserto e as peças seriam montadas e desmontadas. Também
foram utilizados materiais que estavam disponíveis na região. Os
materiais preciosos foram trazidos do Egito, quando os filhos de Israel
"saquearam" o povo egípcio, e ofertaram para a construção (Ex 3.21,22;
12.35,36; 25.1,2; 36.5-7).
- Madeira de Acácia (ou cetim):
Era
encontrada no deserto do Sinai e ao redor do Mar Vermelho. Era uma
madeira dura e não destruída por insetos. Ela simboliza a humanidade de
Cristo, sem aparência, nem formosura, mas não corrompida pelo pecado (SI
16.10). Cristo é chamado em Is 4.2 de "fruto da terra".
- Bronze:
Foi
o metal escolhido para esta finalidade por ser altamente resistente a
alta temperatura. O ponto de fusão do bronze e de 1.985°C. Bronze é uma
liga de cobre e zinco. Ele representa juízo, sofrimento ou julgamento
(Dt 28.23; Dn 10.6; Ap 2.18; SI 89.14).
- Prata
É
um símbolo da redenção (Zc 11.12; Mt 26.15,16). Ela representa o preço
pago por Cristo como resgate dos pecadores. Quando era feita a contagem
dos filhos de Israel, cada israelita pagava um resgate: meio siclo de
prata. Este prego era igual para todos, pobres e ricos (Ex 30.11-16).
- Ouro:
Como metal precioso e nobre, o ouro representa a divindade. Ouro fala do céu, da glória de Deus (Ap 3.18; Jo 22.25; Dn 10.5).
- Linho:
O
linho fino era fabricado no Egito. Era usado pela realeza e por pessoas
de destaque. Ele fala de pureza e santidade (Ap 19.6-8,14 , Is 64.6;
59.21). Aponta para a retidão de Cristo, o cordeiro imaculado (I Jo
3.3-5).
4. A localização
O
Tabernáculo era o centro do acampamento e a partir dele era feita a
organização das tribos. Ao Norte estavam as tribos de Dã, Aser e
Naftali. Ao sul estavam as tribos de Rubem, Gade e Simeão. Ao leste
estavam as tribos de Judá, Issacar e Zebulom. Ao oeste estavam a tribo
de Efraim, Benjamim e Manassés.
As
tendas dos levitas e sacerdotes eram armadas ao redor do Tabernáculo,
na seguinte ordem: Ao norte os filhos de Merari, ao sul os filhos de
Coate, a oeste os filhos de Gérson e a leste Moisés, Arão e os
sacerdotes Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar (Nm 2 e 3).
5. O Tabernáculo
Era
uma tenda portátil, com uma armação de madeira, cercada por uma cerca,
formando um pátio, que era de acesso exclusivo dos levitas e sacerdotes,
que ministravam o serviço diário.
6. A cerca
Era
formada por 60 estacas, sendo 20 em cada lado, sendo 10 na parte de
trás e 10 na frente, com 5 côvados de altura (cerca de 2,5 m), cada,
mantendo uma distância de 5 côvados entre si, unidas por um pano de
linho puro. As estacas eram de bronze e tinham uma cobertura de prata,
estando presas por uma corda de pelos de cabras entrelaçados a uma peça
de bronze, que era enterrada pela metade (I Pe 1.3; 1 Cor 15.17).
"Fareis
também o pátio do Tabernáculo; ao lado do meio-dia, para o sul, o pátio
tem cortinas de linho tino torcido; o comprimento de cada lado será de
cem côvados. Também as suas vinte colunas e as suas vinte bases serão de
cobre; os colchetes das colunas e as suas faixas serão de prata. Assim
também do lado do norte as cortinas na largura serão de cem côvados de
comprimento; e as suas vinte colunas e as sues vinte bases serão de
cobre; os colchetes das colunas e as suas faixas serão de prata. E na
largura do pátio do lado do ocidente haverá cortinas de cinquenta
côvados; as suas colunas, dez, e as suas bases, dez. Semelhantemente, a
largura do pátio do lado oriental, para o levante, será de cinquenta
côvados, de maneira que haja quinze côvados de cortinas de um lado;
suas colunas, três, e as suas bases, três; e quinze côvados de cortinas
do outro lado; as suas colunas, três, e as suas bases, três.” (Ex
27.9-15).
A
cerca separava o Tabernáculo do restante do arraial, impedindo que
homens não habilitados tivessem acesso ao pátio. O linho puro fala da
santidade de Deus, que afasta o pecado (Is 59.2). As estacas de bronze
falam do juízo de Deus sobre Cristo para justificação e remissão, e o
resultado dela foi a redenção do homem, mediante pagamento de um
resgate, representado pela cobertura de prata. A corda que fixa esta
estaca era de pelo de cabra, símbolo do pecado do homem, que foi expiado
(Lv 16.5,20-22). O selo desta redenção foi a ressurreição de Cristo,
representado pela peça de bronze fincada ao solo pela metade (I Pe 1.3; 1
Cor 15.17).
7. A porta
O
único acesso ao pátio era pelo lado oriental, através da porta. Era
formada por quatro estacas, com base de bronze e cobertura de prata como
as da cerca, cobertas por um reposteiro de linho puro branco, pintado
de azul, púrpura e carmesim.
"E
a porta do pátio haverá uma coberta de vinte côvados, de pano azul, e
púrpura, e carmesim, e linho fino torcido, de obra de bordador; as suas
colunas, quatro, e as suas bases, quatro.” (Ex 27.16).
A
porta fala-nos que o único acesso ao Pai é através de Jesus (Jo 10.9).
Ela estava no lado oriental do Tabernáculo, isto é, defronte ao nascente
(Gn 3.24; Ez 43.1-5; Ap 22.16), que fala de Cristo como o Sol da
Justiça (MI 4.2); defronte também à tribo de Judá, que aponta para
Cristo como o Leão da Tribo de Judá (Ap 5.5). As 4 estacas falam do
aspecto universal da graça (Tt 2.11; Jo 1.12; Rm 10.11,12; 3.21-24).
8. As cores
- Azul
Esta
cor era extraída de um molusco. Ela fala do céu, pois é a cor celeste
(Dt 22.12). Aponta para Cristo, que veio "do alto" (Jo 3.31).
- Carmesim (Vermelho)
É
descrito na Bíblia como referência ao pecado (Lv 14.4-6; Is 1.18; Nm
19.2,6). Ele fala de Cristo que, apesar de não ter cometido pecado, foi
feito pecado por nós.
- Púrpura
Era
obtida ao misturar-se o azul e o carmesim ou escarlata. Era uma cor
usada nas roupas dos ricos. Ela fala da realeza de Cristo (Dn 5.7; Lc
16.19; Mc 15.17,18). Aponta para Cristo como o Rei dos reis e Senhor dos
senhores (Ap 19.16). Fala também de Cristo que, sendo do céu (azul),
tomou sobre si os nossos pecados (carmesim).
- Branco
Fala da pureza e santidade de Cristo (como no linho).
9. O Altar de Bronze
Era
de madeira de acácia, revestido de bronze, medindo 5 x 5 x 3 côvados
(cerca de 2,5 x 2,5 x 1,5 m). Ali eram queimados todos os animais
sacrificados ao Senhor. Era oco, com uma grade de bronze no meio, para
sustentar as vítimas. Tinha 4 pontas e era suspenso em uma base de
terra. O fogo aceso uma vez pelo Senhor (Lv 9.24) e deveria permanecer
sempre aceso (Lv 6.13). Havia também outros instrumentos de bronze para
apanhar as cinzas, limpar os animais, etc. Possuía duas varas laterais
utilizadas para o transporte.
"Fareis
também o altar de madeira de cetim; cinco côvados será o comprimento, e
cinco côvados, a largura (será quadrado o altar), e três côvados, a sua
altura. E fareis as suas pontas nos seus quatro cantos; as suas pontas
serão uma só peça com o mesmo, e o cobrirás de cobre. Far-lhe-ás também
as suas caldeirinhas, para recolher a sua cinza, e as suas pás, e as
suas bacias, e os seus garfos, e os seus braseiros; todos os seus
utensílios fareis de cobre. Far-lhe-ás também um crivo de cobre em forma
de rede, e fareis a esta rede quatro argolas de metal aos seus quatro
cantos, e as poreis dentro do cerco do altar para baixo, de maneira que a
rede chegue até ao meio do altar. Fareis também varais para o altar,
varais de madeira de cetim, e os cobrirás de cobre. E os varais se
meterão nas argolas, de maneira que os varais estejam de ambos os lados
do altar quando for levado. Oco, de tábuas, o farás; como se to mostrou
no monte, assim o farão." (Ex 27. 1-8).
O
altar de madeira da acácia fala de Cristo encarnado (Is 53.2) e
humilhado (Fp 2.7,8), que foi crucificado por nós. O bronze fala do
juízo de Deus sobre Ele, por causa dos nossos pecados (II Cor 5.21). Os
chifres, símbolo de poder, falam do poder redentor da morte de Cristo
(Ap 5.6). Ele foi preso a cruz, assim como as vítimas do holocausto eram
amarradas às pontas do altar (SI 118.27). O animal oferecido era
suspenso na grade, assim como Cristo foi erguido na cruz (Lv 9.22b; Jo
3.14,15).
As
cinzas eram símbolo de humilhação (Gn 18.27; Jo 42.6) e apontam para a
humilhação de Cristo (Fp 2.7,8; Mt 27.39-44). Estas cinzas eram
apanhadas e depositadas em um local limpo, fora do arraial (Lv 6.10,11),
assim como Cristo foi colocado em um sepulcro novo (Jo 19.41) e morto
fora da cidade (Hb 13.11-13). A vítima era oferecida em sacrifício,
assim como Cristo, o cordeiro de Deus (GI 5.24; Rm 12.2; GI 2.20). O
fogo que queimava a vitima é símbolo do juízo de Deus (Lv 6.12,13;
16.12,13; 10.1-3; Jz 6.21; Gn 19.24; Hb 12.28,29; Ez 39.6; Nm 11.1).
10. A pia de Bronze
Era
uma bacia posta sobre uma base, onde era armazenada água para uso dos
sacerdotes. Não foram especificadas as suas medidas, nem o modo como era
transportada. Ela foi construída com o bronze dos espelhos das mulheres
(Ex 38.8). Os sacerdotes lavavam as mãos e os pés na pia antes e depois
de entrar no santuário.
"Farás
também uma pia de cobre com a sua base de cobre, para lavar, e a porás
entre a tenda da congregação e o altar e deitarás água nela. E Arão e
seus filhos nela lavará as suas mãos e os seus pés. " Lv 30.18,19
A
pia estava colocada entre o altar e o santuário. O altar fala da
redenção e a pia de purificação, assim como a santificação é o processo
que sucede à experiência da salvação. No altar o crente é colocado em
Cristo, enquanto que na pia ele mantém-se com Cristo.
O
bronze para a sua construção foi retirados dos espelhos das mulheres
que estavam a porta da tenda, que lembra a capacidade de refletir a luz,
o que aponta para o nosso crescimento espiritual (I Cor 13.12; II Cor
3.18), como também a capacidade da Palavra de Deus de apresentar a nossa
verdadeira identidade (Tg 1.23-25). A água ali utilizada é símbolo da
Palavra de Deus, que nos purifica e santifica (Ef 5.25,26; Jo 15.3;
17.17; SI 26.6,7; 24.3,4; Hb 10.22).
Os
sacerdotes lavavam as mãos, que representam o nosso serviço para o
Senhor (SI 24.3,4; Jó 17.9; II Sm 22.21; Tg 4.8), e os pés, que falam do
caminhar do cristão (SI 119.9,105). Eles mantinham-se limpos, ao entrar
no santuário, para continuarem vivos (Ex 30.20), o que também acontece
com cada cristão (Jo 4.14), que obtém a vida eterna através da
purificação pela palavra.
11. A Tenda da Congregação
Também
chamada de Santuário, era uma tenda formada de tábuas de madeira de
acácia, revestidas de ouro. Ao todo eram 48 tábuas, sendo 20 de cada
lado, 6 no fundo e 2 nos cantos. Estas tábuas estavam fixadas de duas em
duas em uma base de prata, de cerca de 43 Kg e unidas por travas
horizontais. Haviam cortinas de linho, com querubins bordados, que eram
cobertas por 3 camadas de couro e pêlo. Um reposteiro das mesmas cores
do portão estava na entrada sobre 5 colunas de bronze e um véu dividia
os dois compartimentos: o lugar santo e o santo dos santos ou lugar
santíssimo.
“Também
fez, de madeira de acácia, tábuas levantadas para o tabernáculo, que
foram colocadas verticalmente. O comprimento de cada tábua era de dez
côvados, e a largura de um côvado e meio. Cada tábua tinha duas cavilhas
pregadas uma a outra; assim fez com todas as tábuas do tabernáculo.”
(Ex 36.20-22).
O
corpo do santuário era erguido com tábuas de madeira. Isto fala de
Cristo, que teve corpo humano, e também fala da igreja, o corpo místico
de Cristo. As tábuas eram iguais; foram cortadas, aplainadas e
preparadas e passaram a ter as mesmas medidas, o que aponta para a
igualdade no corpo e Cristo, onde não há acepção de pessoas (Cl 3.11; Rm
2.11; At 10.34,35). Estas tábuas foram revestidas de ouro, que
representa a glória de Deus (Ap 5.10; I Pe 2.9; II Ts 2.13,14), na qual
fomos feitos sacerdotes (Rm 8.30, Ef 1.11-14). As tábuas estavam fixas
no solo sobre bases de prata, que representam o preço do resgate pago
para comprar a igreja (Ap 5.9; I Co 6.20; 3.11). Elas estavam unidas
umas às outras por travessas também de madeira, revestidas de ouro. Isto
fala da união que deve haver no corpo de Cristo (Sl 133; Jo 17.22,23).
Por
sobre as tábuas eram colocadas cortinas de linho puro, que falam da
santidade necessária à igreja (I Pe 1.15). Os querubins bordados nas
cortinas são os guardiões da santidade e da glória de Deus (I Sm 4.4; Gn
3.24; Ez 10). As cortinas cobriam o santuário e ficavam a 1 côvado do
solo, sem tocá-lo. Elas representam o Cristo ressurreto, que não tocará o
solo, em sua segunda vinda.
Sobre
as cortinas era colocada a primeira cobertura, que era de pêlo de cabra
entrelaçado e representa a expiação pelo pecado. A segunda cobertura
era de peles de carneiro, tingidas de vermelho, que apontam para a
redenção pelo sangue de Cristo. A terceira cobertura era de couro de
animal. Há uma indefinição quanto ao animal aqui referido. Algumas
versões falam de texugo e outras de golfinho ou animal marinho. Dada a
dificuldade de se encontrar estes animais naquela região, alguns
consideram que o animal era o dugão, um animal marinho da família do
peixe-boi, facilmente encontrado na região do Mar Vermelho. O importante
é que era uma pele escura e sem nenhuma beleza aparente. Como esta era a
cobertura final, era isto que era visto quando se olhava de fora para a
tenda. Isto aponta para o Cristo sem aparência (Is 53.2). Vendo o
exterior não se percebiam as peças de ouro que estavam dentro. Da mesma
forma, o evangelho só faz efeito quando penetra no interior do homem. (Sl 73.17).
12. A mesa dos pães da proposição
Dentro
do santuário, à direita de quem entrava, estava uma mesa de madeira de
acácia, revestida de ouro, com uma moldura, em forma de anteparo e duas
varas laterais, presas em argolas de ouro, para ser transportada,
medindo 2 x 1 x 1,5 côvados. Em cima dela estavam duas pilhas de 6 pães,
e um depósito de incenso. Eram os pães da proposição, ou presença, que
deveriam ser substituídos a cada sábado.
"Também
farás uma mesa de madeira de cetim; o seu comprimento será de dois
côvados, e a sua largura dum cavado, e a sua altura de um côvado e meio,
e cobri-la-ás com ouro puro: também lhe farás uma coma de ouro ao
redor. Também lhe farás uma moldura ao redor, da largura duma mão, e lhe
farás uma coroa de ouro ao redor da moldura. Também lhe farás quatro
argolas de ouro; e porás as argolas aos quatro cantos, que estão nos
seus quatro pés." (Ex 25.23-26).
O
pão é um gênero de primeira necessidade. Ele é servido na mesa do rico e
do pobre todos os dias e em todos os países. Ele fala de Cristo, o pão
da vida (Jo 6.35, 51-58) e da sua carne (Jo 6.47-51). Isto lembra-nos a
Santa Ceia, o memorial da comunhão, quando todos sentamos à mesa do
Senhor para comer o pão (I Cor 11.23,24). Os pães eram do mesmo tamanho,
o que fala da unidade na comunhão (Rm 12.5). Eram pães asmos, isto é,
sem fermento, o que fala da santificação necessária aquele que se senta à
mesa do Senhor (I Cor 5.6-8).
Os
doze pães representam as 12 tribos de Israel, isto é, todo o povo, e
deveria ser comido pelos sacerdotes, os representantes do povo. Eles
lembravam a cada israelita sua constante dependência da presença de
Deus. O pão era feito de trigo, que era queimado e moído (Jo
12.24,27,31-33). A mesa possuía uma moldura da largura de uma mão, para
evitar que os pães caíssem, o que fala da proteção de Cristo. Sobre os
pães era colocado um vasilhame com incenso; um perfume utilizado apenas
para este fim. Este incenso é um tipo de Cristo, sempre presente a mesa
(Ct 1.12; II Cor 2.14,15).
13. O candelabro
Do lado esquerdo do santuário, em frente à mesa, estava o candelabro ou candeeiro, chamado em hebraico menorah.
Ele era a única fonte de luz dentro do santuário, que não possuía
janelas. O candelabro era de ouro puro batido, tendo uma haste central,
presa a uma base e seis hastes laterais.
As
sete lâmpadas estavam acesas ininterruptamente (Lv 24.2) e eram
abastecidas pela manhã e tarde. Havia espevitadores de ouro
especialmente para aparar o pavio das lâmpadas. Não são especificadas as
suas medidas, nem como era transportado.
"Também
farás um castiçal de ouro puro; de ouro batido se fará este castiçal: o
seu pé, as suas canas, as suas copas, as suas maçãs, e as suas flores
serão do mesmo. E dos seus lados sairão seis canas: três canas do
castiçal dum lado dele, e três canas do castiçal do outro lado dele".
(Ex 25.31,32).
O
candelabro fala de Cristo, a luz do mundo (Jo 8.12; 9.5; 1.4-9). Ele e a
haste ou castiçal principal, pois é a única luz que dissipa as trevas
do pecado. As hastes laterais são a igreja. São seis hastes e este
número representa o homem (Ap 21.15-17; 13.18). Elas falam que somos luz
do mundo (Mt 5.14-16; 1Ts 5.51), andamos na luz (I Jo 1.7) e precisamos
dar testemunho de vida (Ef 5.8).
Os
espevitadores eram utilizados para aparar o pavio desgastado
diariamente. Isto fala da necessidade constante de permitirmos que o
Senhor trabalhe em nossas vidas e molde o nosso caráter.
O
combustível do candelabro era o azeite de oliva, que é um símbolo do
Espírito Santo (Zc 4.1-6), que ilumina a vida do crente (1Cor 2.12-14).
14. O Altar do Incenso
Defronte
ao véu estava a peça mais alta do santuário: o altar do incenso. Era
uma peça de madeira de acácia, revestida de ouro, que media 2 x 1 x 2
côvados. Ele também possuía varas laterais para o transporte, também
revestidas de ouro. Sobre o altar do incenso era queimado um incenso,
cuja fórmula foi dada por Deus, para ser utilizado exclusivamente neste
serviço.
15. O incenso
Era confeccionado com três substâncias aromáticas:
o estoraque, uma substância extraída de uma planta chamada benjoeiro,
que goteja espontaneamente uma substância aromática. Isto fala da
espontaneidade da nossa oração e interseção (SI 100.2; Fp 1.4); a
onicha, extraído de um molusco chamado strombus, encontrado no fundo do
mar, que fala da profundidade do nosso relacionamento com Deus em oração
(Jr 29.13); e o gálbano, extraído do esmagamento de galhos e folhas de
uma planta da mesma família da erva-doce, que fala do quebrantamento que
precisa haver em nós quando nos dirigimos a Deus (SI 51.7). Era
adicionada à fórmula uma resina branca, que era o próprio incenso e sal,
que fala da nossa temperança (Cl 4.6).
O
altar do incenso era de madeira, revestido de ouro. Ele fala de oração e
interseção (SI 141.2; Ap 5.8; Lc 1.11-13). Nele era queimado incenso
pelos sacerdotes (2Cr 26.16-21). Ele aponta para Cristo como o sacerdote
e mediador perfeito (Hb 4.14-16; 1Tm 2.5) e intercessor dos homens (Jo
17.9,10; 1Jo 2.1; Rm 8.34). Este altar era quadrado, o que fala da sua
universalidade (Hb 7.23-25). O mesmo também possuía chifres, o que
aponta para o poder da oração.
Consistia
em erro oferecer nele incenso estranho (Ex 30.9), oferecido por
intercessor estranho (Nm 16.40; 2Cr 26.16) ou a deus estranho (2Rs
22.16,17). Isto fala da sinceridade e do objetivo que há em nossa
oração. O incenso deveria ser queimado com brasas do altar (Lv 16.12), o
que fala da necessidade da unção do Espírito sobre nós, pois Deus não
aceita orações "frias".
16. O véu e o Santo dos Santos
Separando o lugar santo do lugar santíssimo havia um véu, de linho puro, com querubins bordados.
"Depois
farás um véu de azul, e púrpura, e carmesim, e de linho fino torcido;
com querubins de obra prima se fará. E o porás sobre quatro colunas de
madeira de cetim, cobertas de ouro: seus colchetes serão de ouro, sobre
quatro bases de prata." (Ex 26.31,32).
O véu impedia o acesso ao Santo dos santos, que era visitado apenas pelo Sumo-sacerdote, uma vez por ano, por ocasião do Yom Kippur,
o dia do perdão (Hb 9.7). O véu fala da carne de Cristo (Hb 10.19,20),
que foi rasgado na cruz (Mt 27.50,51). Este ato abriu o acesso ao Pai. O
véu foi rasgado de cima para baixo, o que indica uma iniciativa divina.
O cristão agora tem acesso a Deus e as bênçãos espirituais da graça (Ef
2.5,6; 1.3).
17. A arca do Testemunho
O
único móvel dentro do santo dos santos era uma arca de madeira de
acácia, revestida de ouro, medindo 2,5 x 1,5 x 1,5 côvados. Assim como
outras peças, a arca possuía varas laterais para o transporte. Dentro da
arca estavam as tábuas da lei, entregues a Moisés no Monte Sinai, a
vara de Arão que floresceu e um vaso de ouro contendo uma porção de
maná.
18. O propiciatório
A
tampa da arca era uma peça única de ouro puro batido onde estavam dois
querubins, um de frente para o outro, com as asas para a frente e os
rostos voltados para baixo.
"Também
farão uma arca de madeira de cetim: o seu comprimento será de dois
côvados e meio, e a sua largura dum côvado e meio, e dum côvado e meio a
sua altura. E cobri-la-ás de ouro puro, por dentro e por fora a
cobriras: e farás sobre ela uma coroa de ouro ao redor; e fundiras para
ela quatro argolas de ouro, e as porás nos quatro cantos dela: duas
argolas num lado dela, e duas argolas noutro lado dela. E farás varas de
madeira de cetim, e as cobriras de ouro, e meterás as varas nas
argolas, aos lados da arca, para se levar com elas a arca" (Ex
25.10-14).
A
arca era o objeto mais sagrado do Tabernáculo; era o símbolo da
presença de Deus entre o povo. Ela desempenhou um papel importante, em
muitas ocasiões, a frente do povo (Nm 10.33; Js 3.4; 6). Era o símbolo
do pacto entre Deus e os filhos de Israel. Ela foi a primeira peça cuja
construção foi ordenada por Deus. Isto fala que Deus quer trabalhar no
homem de dentro para fora e que e a presença de Deus no interior do
homem que vai fazer a diferença na vida deste.
As
tábuas da lei que estavam no interior da arca falam da aliança de Deus
com os homens (Hb 8.6,7,13). O maná, como alimento fornecido
diariamente, fala da fidelidade e do cuidado de Deus (2Tm 2.13). A vara
de Arão fala da autoridade dada por Deus (Rm 13.17). O propiciatório
representa o trono de Deus, guardado pelos querubins (Sl 99.1). Deus
fala com o povo daquele lugar (Ex 25.22). O povo estaria sendo levado à
presença de Deus pelo sacerdote. Isto aponta para Cristo, que foi feito a
nossa propiciação (Rm 3.25; 1Jo 2.2).
CONCLUSÃO
Concluindo
o estudo da Tipologia Bíblica, podemos verificar a soberania de Deus,
escrevendo profecias através de pessoas, objetos e eventos, e as
cumprindo na pessoa de Cristo, e a perfeita relação entre o Antigo e o
Novo Testamento, apresentado o tipo e o antítipo, em perfeita harmonia.
Além disto, podemos observar a riqueza de material e significado que o
Antigo Testamento nos dá, a fim de nos ensinar profundas verdades
espirituais.
Não
devemos abrir mão desta riqueza de significado que os tipos bíblicos
nos mostram, tendo o cuidado de não ferir os princípios de interpretação
da Bíblia, evitando a alegorização dos tipos bíblicos e verificando o
significado e a relação tipológica que a própria Bíblia nos apresenta.
BIBLIOGRAFIA
MELO, Joel Leitão de, Sombras, Tipos e Mistérios da Bíblia, CPAD, Rio de Janeiro, 7ª edição, 1997.
ZUCK, Roy B., A Interpretação Bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia, Edições Vida Nova, São Paulo, 1ª edição, 1994.
HABERSHON, Ada R., Manual de Tipologia Bíblica: como reconhecer e interpretar símbolos, tipos e alegorias das Escrituras Sagradas, Editora Vida, São Paulo, 2003.
GRONINGEN, Gerard van, Revelação Messiânica no Antigo Testamento, Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2ª edição, 2003.
GREIDANUS, Sidney, Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento, Editora Cultura Cristã, São Paulo, 1ª edição, 2006.
PAGANELLI, Magno, Onde Estava o Cristo: identificando Cristo nas figuras do Antigo Testamento, Editora Arte Editorial, São Paulo, 1ª edição, 2003.
SPRECHER, Alvin, Estudo Devocional do Tabernáculo no Deserto, CPAD, Rio de Janeiro, 1ª edição, 2002.
GILBERT, Floyd Lee, A Pessoa de Cristo no Tabernáculo, Editora Fiel, São José dos Campos-SP, 4ª edição, 1999.
CONNER, Kevin J., Os Segredos do Tabernáculo de Moisés, Editora Atos, Belo Horizonte-MG, 1ª edição, 2004.
CONNER, Kevin J., Os Segredos do Tabernáculo de Davi, Editora Atos, Belo Horizonte-MG, 1ª edição, 2004.
HAMILTON, Victor P., Manual do Pentateuco, CPAD. Rio de Janeiro, 1ª edição, 2006.
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
1 Dispensacionalismo: ajuda ou heresia, Charles C. Ryrie, ABECAR, pág. 95, 96.
2 Prefácio do livro Onde Estava o Cristo, de Magno Paganelli, Editora Arte Editorial.
3 Manual de Tipologia Bíblica, Ada Habershon, Editora Vida, págs. 18 e 19.
4 A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Edições Vida Nova, pág. 197.
5 Os Segredos do Tabernáculo de Moisés, Kevin J. Conner, Editora Atos, pág. 13.
6 A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Edições Vida Nova, Pág. 212.
7 A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Edições Vida Nova, Págs.200-203.
8 Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento, Sidney Greidanus, Editor Cultura Cristã, pág. 291.
9 A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Edições Vida Nova, Pág. 201.
10 A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Edições Vida Nova, Pág. 202.
11 Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento, Sidney Greidanus, Editor Cultura Cristã, págs. 285, 286.
12 Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento, Sidney Greidanus, Editor Cultura Cristã, pág. 290.
13 A Interpretação Bíblica, Roy B. Zuck, Edições Vida Nova, Pág. 208
14 Céu – Mistério dos anjos, de Grant Jeffrey, Editora Bom Pastor.
15 Revelação Messiânica no Antigo Testamento, Gerard von Groningen, Editora Cultura Cristã, Págs. 274, 275.
16 Os Segredos do Tabernáculo de Davi, Kevin J. Conner, Editora Atos, págs. 47, 48.
17 Artigo "Segundo a Ordem de Melquisedeque", do Rev. Josivaldo de França Pereira, publicado no site Bíblia World Net (http://www1.uol.com.br/bibliaworld/igreja/mensag/josfp030.htm).
18 Sombras, tipos e Mistérios da Bíblia, Joel Leitão de Melo, CPAD, págs 34 e 35.
19 Manual de Tipologia Bíblica, Ada Habershon, Editora Vida, págs. 123,124.
20 Artigo “Cristo no Período Patriarcal”, do Rev. José Maurício Passos Nepomuceno, publicado no site Monergismo (http://www.monergismo.com/textos/teologia_pacto/cristo_patriarcal_nepomuceno.htm).
21 Revelação Messiânica no Antigo Testamento, Gerard von Groningen, Editora Cultura Cristã, págs. 138 e 139.
22 Sombras, tipos e Mistérios da Bíblia, Joel Leitão de Melo, CPAD, Pág. 47.
23 Manual do Pentateuco, Victor P. Hamilton, CPAD, págs. 394 e 395.
DEIXE UM COMENTÁRIO, PELO AMOR DE DEUS.
PELO MENOS DIGA SE ESTÁ BOM OU RUIM.
MANIFESTEM-SE EM NOME DE JESUS!!!
Parabéns por esse excelente estudo! Esse trabalho é muito importante para o aprimoramento e aprofundamento da Hermenêutica Bíblica. Deus o abençõe! Estarei fazendo referência e reconhecendo seu devido crédito. Deus o abençoe!
ResponderExcluirObrigado pela visita Ana Lúcia.
ResponderExcluirDeus abençoe.
gOSTEI MUITO DO ESTUDO. AUXILIOU NO MEU TRABALHO DO CURSO DE TEOLOGIA. qUE DEUS O ABENÇOE.
ResponderExcluirExcelente material! Conteúdo rico e maravilhoso!
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