Peter Colón
“A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o
testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices [...] são mais
desejáveis do que ouro, [...] em os guardar há grande recompensa [...] Para mim
vale mais a lei que procede de tua boca do que milhares de ouro ou de prata”
(Salmo 19.7,10-11; Salmo 119.72).
Muhammad estava agitado e inquieto. Sua cabra
travessa tinha sumido. Ao vaguear sem rumo longe de seu rebanho e de seus
amigos, o beduíno chegou a uma caverna que ficava em posição elevada e dava frente
para a costa noroeste do Mar Morto. Por pensar que o animal desgarrado tivesse
se perdido dentro da caverna, o beduíno começou a jogar pedras pela entrada da
gruta a fim de fazê-lo sair lá de dentro. Quando ele ouviu o ruído das pedras
que batiam em peças de cerâmica, ficou intrigado. Será que lá dentro da caverna
poderia haver um tesouro escondido? Com toda a empolgação, ele correu até a
entrada da caverna, porém, no interior dela não encontrou ouro, nem prata,
apenas jarros grandes e antigos ao longo das paredes, os quais continham rolos
de pergaminhos despedaçados. Ele pensou: “pelo menos os pergaminhos de couro
vão servir para fazer correias e tiras de sandálias”. Lamentavelmente, Muhammad
não conseguiu perceber a real importância daquele momento. A teimosia de sua
cabra o levara àquela que pode ser considerada, nos tempos modernos, a maior
descoberta de manuscritos: uma incalculável reserva entesourada da Palavra
escrita – os Manuscritos do Mar Morto.
Beduínos não marcam o tempo como os ocidentais, mas
assemelham-se aos seus antepassados; sua concepção de tempo e momento está
relacionada com outros acontecimentos. Assim, não se pode datar essa descoberta
com precisão. Após uma revisão, a nova data para a descoberta do primeiro rolo
de manuscritos é a de 1935 ou 1936. A partir de então até o ano de 1956, muitos
outros manuscritos foram achados. Esses manuscritos são de
datas diferentes, as quais variam do século III a.C. até o século I d.C. Eles foram descobertos em cavernas de formação calcária em Qumran,
situadas exatamente a noroeste do Mar Morto. A maioria dos pergaminhos é
escrita em hebraico; o restante deles é escrito em aramaico e grego. Foram
achados mais de 900 documentos, que correspondem a 350 obras distintas em suas
múltiplas cópias. Muitos dos escritos bíblicos e extrabíblicos estão
representados em pequeníssimos fragmentos. Só em uma caverna foram encontrados
520 textos, na forma de 15 mil fragmentos. Como se pode imaginar, juntar todos
esses pedaços de pergaminho na sua respectiva posição para que se faça a
tradução tem se constituído numa tarefa gigantesca.
A descoberta dos Manuscritos do Mar Morto confirma
aquilo que as pessoas que creem na Bíblia sempre souberam, ou seja, que a
Bíblia, tal qual a temos na atualidade, é um texto que passa nos testes de
fidedignidade.
Apesar dos ataques contra a Bíblia, a Palavra de Deus permanece
para sempre: “O caminho de Deus é perfeito; a palavra do Senhor é provada; ele
é escudo para todos os que nele se refugiam” (2 Samuel 22.31).
Sempre houve pessoas que questionaram a
confiabilidade das Escrituras. Uma vez que o texto foi copiado e recopiado ao
longo dos séculos, os críticos alegam que é impossível saber-se com certeza o
que os escritores bíblicos escreveram ou queriam dizer originalmente. Os
Manuscritos do Mar Morto invalidam tal hipótese ou suposição no que se refere
ao Antigo Testamento. Foram achadas entre 223 e 233 cópias das Escrituras
Hebraicas, as quais foram comparadas com o texto atual. O único livro do Antigo
Testamento que não foi encontrado nessa descoberta é o livro de Ester. É
possível que ele esteja oculto numa caverna ainda não identificada de algum
lugar isolado.
Antes dessa descoberta, os manuscritos mais antigos
das Escrituras Hebraicas datavam do século IX d.C. ao século XI d.C. Tais
manuscritos constituem aquele que é chamado de Texto Massorético, termo este
originado da palavra hebraica masorah que significa “tradição”. Os escribas
judeus de Tiberíades, denominados massoretas, procuraram meticulosamente
padronizar o texto hebraico e sua pronúncia; a obra que realizaram ainda é
considerada uma referência confiável nos dias de hoje. Os manuscritos de Qumran
são, no mínimo, mil anos mais antigos que o Texto Massorético. Na realidade,
esses manuscritos são até mesmo mais antigos que a Septuaginta, uma tradução
grega do Antigo Testamento elaborada no Egito.
Vasos encontrados em Qumran.
Comparações minuciosas têm sido feitas entre o Texto Massorético e os Manuscritos do Mar Morto. Encontraram-se diferenças insignificantes de ortografia e gramática. Os críticos e céticos em relação à Bíblia ficaram surpresos quanto à maneira pela qual o texto daqueles manuscritos se assemelha ao texto atual. Eles não encontraram nenhuma objeção evidente às principais doutrinas das Escrituras Sagradas. A parte bíblica da literatura descoberta em Qumran confirma o estilo de expressão verbal e o significado do Antigo Testamento que temos em nossas mãos na atualidade: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (João 5.39).
Além das cópias das Escrituras do Antigo
Testamento, as cavernas do Mar Morto também nos proporcionaram outras obras
escritas. Esses documentos descrevem o estilo de vida e as crenças da
misteriosa comunidade que viveu na região de Qumran. Embora não sejam escritos
bíblicos, são registros valiosos que possibilitam a compreensão do contexto de
vida e da cultura na época do Novo Testamento. Infelizmente os estudiosos dão
mais atenção a essas obras de menor relevância do que às Escrituras, ainda que
os textos bíblicos sejam mais importantes para os problemas da vida, pois o
legítimo plano de Deus para a redenção da humanidade só se encontra no texto da
Bíblia.
Uma Exatidão Maravilhosa
O Manuscrito do Livro [i.e., rolo] de Isaías
encontrado na caverna 1 da região de Qumran oferece um sensacional exemplo da
transmissão exata do texto na tradução.
Acredita-se que esse extraordinário manuscrito date de cem anos antes do nascimento de Jesus Cristo. Foi um manuscrito semelhante a esse que Jesus utilizou na sinagoga da aldeia de Nazaré, quando leu a seguinte passagem das Escrituras: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres” (Lucas 4.18; Isaías 61.1). Ele continuou a leitura até determinado ponto. Em seguida, devolveu o livro [i.e., rolo] ao assistente da sinagoga e se sentou. Enquanto todos tinham os olhos fitos em Jesus, Ele declarou que aquela porção das Escrituras acabara de se cumprir diante dos ouvintes. Dessa forma, Jesus afirmou claramente ser Ele mesmo o Messias de Deus, vindo ao mundo para conceder a salvação a todo aquele que O receber.
Acredita-se que esse extraordinário manuscrito date de cem anos antes do nascimento de Jesus Cristo. Foi um manuscrito semelhante a esse que Jesus utilizou na sinagoga da aldeia de Nazaré, quando leu a seguinte passagem das Escrituras: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres” (Lucas 4.18; Isaías 61.1). Ele continuou a leitura até determinado ponto. Em seguida, devolveu o livro [i.e., rolo] ao assistente da sinagoga e se sentou. Enquanto todos tinham os olhos fitos em Jesus, Ele declarou que aquela porção das Escrituras acabara de se cumprir diante dos ouvintes. Dessa forma, Jesus afirmou claramente ser Ele mesmo o Messias de Deus, vindo ao mundo para conceder a salvação a todo aquele que O receber.
A mesma passagem bíblica traduzida diretamente a
partir do Manuscrito do Livro de Isaías descoberto em Qumran (o qual é cerca de
mil anos mais antigo do que o manuscrito hebraico [i.e., o Texto Massorético]
no qual se basearam as outras traduções), é praticamente idêntica: “O Espírito
do Senhor Deus está sobre mim, porque YHVH [N. do T., o tetragrama sagrado em
hebraico que se refere ao nome supremo de Deus: Yahveh ou Javé] me ungiu para
pregar as boas novas aos quebrantados”. A integridade da reivindicação de
Cristo, conforme está escrita em nossas Bíblias, se confirma.
É fascinante que os manuscritos achados com mais frequência
em Qumran, sejam completos, seja na forma de pequenos fragmentos, referem-se
aos mesmos livros da Bíblia geralmente citados no Novo Testamento:
Deuteronômio, Isaías e Salmos. Tal fato desperta um interesse ainda maior à luz
das próprias palavras de Jesus concernentes às Escrituras Hebraicas:
“A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras
que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de
mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lucas 24.44).
Muitos outros exemplos poderiam ser citados. O fato
principal acerca da Bíblia e desses rolos de manuscritos resume-se naquilo que
um grande expositor das Escrituras, o inglês G. Campbell Morgan (1863-1945),
certa feita compartilhou: “Não existe vida nas Escrituras em si mesmas, porém,
se seguirmos a direção para onde as Escrituras nos levam, elas nos conduzirão
até Ele e assim encontraremos a vida, não nas Escrituras, mas nEle através
delas”.
“Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de
nosso Deus permanece eternamente” (Is 40.8).
Infindáveis argumentações e debates têm surgido
acerca desses manuscritos. Contudo, os crentes em Cristo podem estar certos de
que tais manuscritos bíblicos antigos ratificam, apóiam e dão credibilidade à
Bíblia que temos nos dias de hoje. A Palavra de Deus continua a ser a única
fonte legítima da fé e da doutrina para todo aquele que busca recompensa
eterna.
“São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito
ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o destilar dos favos. Além
disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar, há grande recompensa”
(Salmo 19.10-11).
Sendo assim, pobre Muhammad! Ele tinha esperança de
encontrar os tesouros deste mundo, mas achou apenas pergaminhos despedaçados
que só prestavam para fazer correias de sandálias! Lamentavelmente o lucro
deste mundo é uma prioridade que absorve a pessoa completamente. O mundo
considera as Escrituras Sagradas como algo sem valor; ou com alguma utilidade,
de vez em quando, para serem citadas como “palavras da boca pra fora”, mas
nunca para serem aceitas pela fé e praticadas. Todavia, nós, os salvos em
Cristo, temos um conhecimento mais apurado. Temos conhecimento suficiente para
não desprezar o tesouro verdadeiro e incalculável que só pode ser descoberto quando
se faz uma escavação no solo da Palavra de Deus:
“E, se clamares por inteligência, e por
entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a
tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do Senhor e acharás
o conhecimento de Deus” (Provérbios 2.3-5).
A Mais Antiga das Antiguidades
A cópia mais antiga das Escrituras do Antigo
Testamento conhecida até o dia de hoje foi descoberta em 1979. São dois
minúsculos rolos de manuscritos feitos de prata, que eram usados como talismãs
e foram descobertos dentro de um túmulo em Jerusalém. O texto de sua inscrição
foi cunhado em hebraico antigo. O manuscrito, surpreendentemente, continha uma
citação da benção sacerdotal registrada em Números 6.24-26:
“O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça
resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti
levante o rosto e te dê a paz”.
A inscrição data do século VII a.C., por volta da
época do templo de Salomão e do profeta Jeremias. Portanto, esses versículos,
provenientes do quarto livro da Torah [i.e., do Pentateuco], são cerca de 400
anos mais antigos do que os Manuscritos do Mar Morto.
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Extraído de Revista Notícias de Israel julho de
2007
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