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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

DEVOCIONAL - 31 DE AGOSTO DE 2018

Bem-aventurados os que não viram, e creram. (Jo 20.29)

Como é forte a cilada das coisas visíveis, e como é necessário que Deus nos conserve voltados para as invisíveis! Se Pedro vai andar sobre as águas, precisa andar; se vai nadar, precisa nadar; mas não pode fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Se um pássaro vai voar, precisa afastar-se das cercas e árvores e confiar em suas asas. Mas se procurar conservar o chão ao seu alcance, seu voo será bem precário.

Deus teve que levar Abraão ao limite de suas próprias forças; mostrando-lhe que em seu próprio corpo ele nada podia. Abraão precisou chegar a considerar seu corpo como amortecido, para depois esperar que Deus realizasse a obra toda; e quando tirou os olhos de si mesmo e confiou só em Deus, então ficou inteiramente persuadido de que, se Deus havia feito a ele a promessa, era também poderoso para cumpri-la.

É isso que Deus está nos ensinando, e muitas vezes Ele tem que afastar da nossa vida os resultados positivos, até que aprendamos a nEle confiar, sem o apoio deles. Então terá prazer em tornar a Sua Palavra bem real para nós por meio de fatos visíveis, assim como já nos é real por meio da fé.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

RUACH

O termo hebraico ruach, geralmente traduzido em Gênesis 1.2 por “espírito”, tem o sentido básico de “ar em movimento”. O termo pode denotar tanto o sopro ou fôlego, como também um vento fraco ou tempestuoso, ou mesmo o sentido em que se usa o termo “espírito”. Eruditos têm refletido muito sobre a especificação do termo empregado neste contexto, a conclusão geral identificando algum aspecto da atividade e presença do Criador no meio do tumulto caótico. Para facilitar a compreensão do conceito bíblico expresso por ruach, é proveitoso empregar o termo “sopro” sempre que encontrar um dos seguintes termos nas traduções da Bíblia em português: “fôlego”, “espírito”, “vento”. O termo “sopro” facilita a compreensão do conceito expresso em Gênesis 1.2, por exemplo, de que Deus estava presente, tal que o seu sopro era o que movia as águas. Deus não pode ser visto, como o vento também não se ve, mas percebe-se a sua existência, presença e atuação presente como se sentisse o sopro de suas próprias narinas.
Assim o termo indica a presença divina que vai além da compreensão humana, expressa em ação dinâmica: “É Deus em movimento”.
Em Gênesis 1.2, Levenson traduz a frase em questão como “um vento da parte de Deus”.
Enquanto não é necessário seguir a sua tradução do termo, deve-se lembrar que nada impede que seja traduzida dessa forma. O termo usado, ruach, é mais ampla em termos de seu significado do que qualquer termo à disposição no português, o mais perto sendo o termo “sopro”. Sendo que o termo tem o significado básico de “ar em movimento”, é interessante manter esse conceito na tradução e interpretação da passagem. A preferência deste autor é de usar a frase “o sopro de Deus”, já que este sopro poderia ser concebido em forma de vento ou de expressão de sua presença ativa e efetiva.
Pode ser de ajuda para o leitor lembrar que no Português também existem termos que são um tanto indefinidos a não ser por um contexto específico ou pela presença de outras palavras usadas em conjunto com o termo. A exemplo, coloca-se o termo “pé”, qual todos sabem que referencia a parte da anatomia humana na extremidade da perna, sobre o qual se anda. Porém, o termo realmente não é tão específico como parece, pois pode referir-se ao pé de uma mesa, uma árvore frutífera, ou até a um doce (pé-de-moleque). Assim também o termo ruach refere-se essencialmente a “ar em movimento”, porém pode especificar em alguma dada ocasião qualquer de vários aspectos desse ar (Gênesis 6.3). É no sentido do respirar que o hebreu começa a identificar o chamado “princípio vital” do ser humano. Quando alguém para de respirar, morre, e quando alguém morre, o seu respiro vai embora. Esse vínculo do respirar com a vida deu-se a uma vaga compreensão de que esse respiro tinha vínculo não somente com a vida, mas de alguma forma com uma vivência além do corpo. Nos textos mais antigos, não encontra-se um ensino direto sobre o que se denomina hoje por espírito (sentido de existência além-túmulo e além-corpo). Mesmo assim, existe a noção de que o homem é mais do que um corpo, pois um corpo pode estar morto e já não exibe tudo o que é ser humano. Por outro lado, o hebreu podia identificar a existência e atuação de Deus, mesmo que não o conseguia enxergar. Como o vento sopra e sacode as árvores, percebe-se a existência e a atividade de YHWH, mesmo quando não é visível e não tenha corpo físico. YHWH é intangível como o vento, porém ativo e presente como o vento também é. No próprio respirar do hebreu ele percebia a sua dependência em YHWH que o dava o fôlego de vida que respirava pelas suas narinas. YHWH estava presente e ativo como o vento e como o seu próprio sopro. Esse “ar em movimento”, o ruach, então, tornou-se aparentemente num símbolo para representar a presença e ação divina no mundo no meio do povo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

DEVOCIONAL- 27 DE AGOSTO DE 2018

Jesus, tirando-o da multidão, à parte... (Mc 7.33)

Paulo não só suportou as provas no meio do serviço ativo, como na solidão da prisão. É possível suportar-se a pressão de um trabalho intenso, acompanhado de severo sofrimento, e depois não resistir quando deixado à parte, fora de toda atividade religiosa; quando forçado a um estreito confinamento em uma prisão.

Aquela ave nobre, que corta as maiores alturas, alçando-se acima das nuvens, conseguindo voar extensões enormes, mergulha no desespero quando é lançada numa gaiola, e forçada a bater contra as barras da sua prisão as asas impotentes. Você já viu uma grande águia definhar em uma pequena cela, com a cabeça curvada e as asas pendidas? Que imagem da tristeza e inatividade!

Paulo na prisão — uma outra visão da vida. Quer ver como ele enfrenta a situação? Eu o vejo olhando por cima das paredes da prisão e por cima da cabeça de seus inimigos. Vejo-o escrever um documento e assinar seu nome, não o prisioneiro de Festo, nem de César; não a vítima do Sinédrio; mas — o "preso do Senhor".

Ele via só a mão de Deus, em tudo aquilo. Para ele a prisão se torna um palácio. Em seus corredores ecoam brados de triunfante louvor e gozo.

Impedido de realizar o trabalho missionário que ele tanto amava, agora constrói um púlpito — uma nova tribuna de testemunho — e daquele lugar de cativeiro, vêm alguns dos mais maravilhosos e mais úteis serviços acerca de liberdade cristã. Que preciosas mensagens de luz vêm daquelas sombras escuras da prisão.

Pense na longa linha de santos aprisionados que se sucederam no rastro do apóstolo. Durante doze longos anos, os lábios de Bunyan estiveram silenciados na prisão de Bedford. E foi ali que ele fez a maior e melhor obra de sua vida. Lá ele escreveu "O Peregrino'', o livro mais lido depois da Bíblia. Assim nos fala: "Na prisão, eu me sentia como em casa; sentava-me e escrevia, escrevia... pois a alegria me fazia escrever."

O sonho maravilhoso da longa noite de Bunyan tem iluminado o caminho de milhões de peregrinos cansados. Uma mulher francesa, cheia do Espírito Santo, Madame Gyuon, ficou muito tempo entre as paredes de uma prisão. Como alguns pássaros cativos cujo canto é mais belo quando estão confinados, a música de sua alma voou para muito longe daquelas paredes escuras e tem feito dissipar-se a desolação de muitos corações desalentados.

Oh, a consolação celeste que se tem elevado de tantos lugares de solidão! — S. C. Rees

domingo, 19 de agosto de 2018

DEVOCIONAL - 19 DE AGOSTO DE 2018

Entristecidos, mas sempre alegres. (2 Co 6.10)

A Tristeza era bela, mas sua beleza era como a beleza do luar, quando passa através dos ramos das árvores na mata e forma pequenas poças de prata pelo chão.

Quando a Tristeza cantava, suas notas soavam como o doce e suave gorjeio do rouxinol, e em seus olhos havia aquele ar de quem cessou de esperar pela vinda da alegria. Ela sabia, compadecidamente, chorar com os que choram; mas alegrar-se com os que se alegram era-lhe desconhecido.

A Alegria era linda também, e a sua beleza era como a beleza radiante de uma manhã de verão. Seus olhos ainda traziam o riso alegre da meninice, e em seus cabelos pousava o brilho do sol. Quando a Alegria cantava, sua voz se lançava aos ares como a da cotovia, e seus passos eram como os passos do vencedor que jamais conheceu derrota. Ela podia alegrar-se com os que se alegram, mas chorar com os que choram era-lhe desconhecido.

"Nós nunca podemos estar unidas", disse a Tristeza pensativa.

"Não, nunca.", E os olhos da Alegria ficaram sérios, quando respondeu. "O meu caminho atravessa campos ensolarados; as roseiras mais lindas florescem quando eu passo, para que as colha, e os melros e tordos esperam minha passagem, para derramar seus mais alegres trinados."

"O meu caminho", disse a Tristeza afastando-se vagarosamente, "atravessa a mata sombria; minhas mãos só podem encher-se das flores noturnas. Contudo, toda a beleza e valor que a noite encerra me pertencem! Adeus, Alegria, adeus."

Quando ela acabou de falar, ambas tiveram consciência de uma presença próxima; indistinta, mas com um aspecto de realeza. E uma atmosfera de reverência e santidade as fez ajoelharem-se perante Ele.

"Eu O vejo como o Rei da Alegria", murmurou a Tristeza, "pois sobre a Sua cabeça estão muitas coroas, e as marcas das Suas mãos e pés são sinais de uma grande vitória. Diante dEle toda a minha tristeza está se transformando em amor e alegria imortais, e eu me dou a Ele para sempre."

"Não, Tristeza", sussurrou a Alegria, "eu o vejo como o Rei da dor; Sua coroa é de espinhos, e as marcas das Suas mãos e pés são marcas de uma grande agonia. Eu também me dou a Ele para sempre, pois a tristeza com Ele deve ser muito mais doce do que qualquer alegria que eu conheço."

"Então, nele, nós somos uma" exclamaram com júbilo; "pois somente Ele poderia unir Alegria e Tristeza."

De mãos dadas, saíram elas para o mundo, para segui-lO na tempestade e na bonança, na desolação do inverno e na alegria do verão, "entristecidos, mas sempre alegres".

O servo do Senhor,
Embora entristecido
Pelas coisas que oprimem
E a batalha cerrada
(Porque os dias são maus.
E os tempos, trabalhosos!)
Conhece uma alegria
E uma paz interior
Que o mundo não conhece,
E que ninguém lhe tira;
O gozo e a paz de Deus!

terça-feira, 7 de agosto de 2018

ARGUMENTO SOBRE DEUS (12)

Argumento moral

1. A obrigação moral é um fato. Nós somos verdadeira, real e objetivamente obrigados a fazer o bem e a evitar o mal.

2. Só uma visão pode estar correta: ou a visão ateísta da vida ou a visão “religiosa”.

3. Todavia, a visão ateísta é incompatível com a existência de uma obrigação moral.

4. Portanto, a visão religiosa da realidade é a correta.

Temos de falar com bastante clareza a respeito da primeira premissa. Ela não diz meramente que é possível encontrarmos pessoas ao nosso redor que afirmam ter certos deveres. Tampouco afirma que já houve muitas pessoas que se consideravam obrigadas a cumprir certos “deveres”, fazendo certas coisas e evitando determinadas atitudes: o que a primeira premissa almeja afirmar, é que nós seres humanos, realmente temos essa obrigação. Nós seres humanos reagimos a certas coisas boas, a valores reais que descobrimos – como o valor da vida, do amor, da honestidade -, embora não tenhamos criado esses valores. Se Deus criou tanto as coisas como a 'natureza humana' que reage a essas boas coisas, é razoável pensar em Deus como um Projetista Inteligente, que gera congruência ente o que somos e o bem que necessitamos para nos sentir plenos.

ARGUMENTO SOBRE DEUS (11)

Argumento da experiência religiosa

A maioria das pessoas que afirma ter algum tipo de fé religiosa teve algum tipo de experiência marcante. Essa realização, no entanto, não é em si um argumento a favor da existência de Deus; mas este argumento parte do amplo fato da experiência religiosa, levando à afirmação de que apenas uma realidade divina pode explicá-la adequadamente.

Podemos apresentá-lo de forma satisfatória como a seguir:

1. Pessoas em diferentes épocas da história e de culturas bastante distintas afirmam ter tido uma experiência com o divino.

2. É inconcebível que tantas pessoas estivessem totalmente erradas a respeito da natureza e do conteúdo de sua própria experiência.

3. Portanto, existe uma realidade divina que muitas pessoas de diferentes épocas e de culturas bastante distintas experimentaram.

Por acaso essa experiência prova que existe um Deus Criador Inteligente? Parece impossível, porque tal Deus não parece ser o objeto de todas as experiências que chamamos de religiosas. E ainda assim, Ele é o objeto de muitas delas. Ou seja, muitas pessoas compreendem sua experiência pessoal dessa maneira. Elas se sentem unidas, ou são levadas a ter contato com um Conhecimento e Amor ilimitados sem precedentes; um Amor que as preenche com si próprio, mas que excede infinitamente a capacidade de cada indivíduo de recebê-lo. (É assim que elas descrevem).

A pergunta é: “Devemos acreditar nessas pessoas?”

Existem muitas afirmações semelhantes. Ou elas são verdadeiras ou são falsas. Ao avaliá-las, devemos levar em consideração: (1) a “consistência” das afirmações [elas são consistentes em si mesmas e de acordo com o que sabemos ser verdadeiro?]; (2) o “caráter” das pessoas que fazem as afirmações [as pessoas parecem ser sinceras, decentes e confiáveis?]; e (3) o “efeito” da experiência na vida delas e de outros [essas pessoas se tornaram mais amorosas como resultado do que experimentaram? Ou tornaram-se ainda mais egoístas?].

ARGUMENTO SOBRE DEUS (10)

Argumento da origem da ideia sobre Deus

Esse argumento se tornou famoso com René Descartes, e possui certa semelhança com o argumento ontológico. Ele começa com a ideia sobre Deus, e procura demonstrar que apenas o próprio Deus poderia ter feito essa ideia surgir em nossa mente. Seria impossível reproduzirmos todo o contexto que Descartes apresenta a favor dessa argumentação, e seria inútil adotar seu vocabulário erudito. Apresentamos a seguir um resumo sucinto de seu argumento e uma discussão a respeito:

1. Temos ideias sobre muitas coisas.

2. Essas ideias necessariamente têm de surgir de nós mesmos ou a partir de coisas externas a nós.

3. Uma das ideias que temos é sobre Deus – um Ser infinito e totalmente perfeito.

4. Essa ideia não poder ter sido produzida por nós mesmos, pois temos ciência de que somos limitados e imperfeitos, e nenhum efeito pode ser maior do que sua causa.

5. Portanto, a ideia sobre Deus tem de ser produzida por algo externo a nós, que possua as mesmas qualidades de Deus.

6. Mas apenas o próprio Deus tem essas qualidades.

7. Portanto, o próprio Deus tem de ser a Causa da ideia que temos a respeito dele.

8. Logo, Deus existe.

Analisemos a seguir uma objeção a este argumento bastante comum. A teoria de que a ideia sobre Deus poderia surgir facilmente ao notarmos os graus de aperfeiçoamento entre os seres finitos – alguns são mais (ou menos) complexos do que outros. Logo, para alcançarmos a idéia sobre Deus, poderíamos simplesmente projetar esta escala de perfeição ao infinito. Sendo assim, não haveria necessidade de que Deus realmente existisse para provarmos a existência dessa ideia; tudo o que necessitaríamos seria uma experiência com seres e fenômenos em vários graus de complexidade e uma mente capaz de avaliar as limitações perceptíveis de cada um. Todavia, será que isto bastaria? Como poderíamos avaliar tais limitações e imperfeições a menos que primeiro as “reconhecêssemos”? E como seria possível reconhecê-las desta maneira, a menos que já tivéssemos alguma noção de perfeição infinita? - Para reconhecermos algo como sendo imperfeito e finito, precisaríamos possuir um padrão de pensamento que tornasse esse reconhecimento possível. Isso não significa que crianças já poderiam pensar sobre Deus, (pois estas, estão incapacitadas de pensar sobre qualquer coisa que não conhecem ou não aprenderam ainda). Entretanto, significa que, a qualquer momento da vida que aplicássemos esse padrão, independente de quanto tempo levasse para que isso se tornasse explícito em nossa consciência, ainda assim, esse padrão precisaria existir para que pudéssemos aperceber-nos dele. Todavia, de onde teria vindo esse padrão? Certamente não de nossa experiência com nós mesmos ou com o mundo que existe fora de nós, porque a ideia de uma perfeição infinita já está presente em nosso pensamento a respeito de todas as coisas quando as consideramos imperfeitas. Portanto, nenhuma delas poderia ter originado a ideia sobre Deus; apenas o próprio Deus pode ser o responsável por esta ideia em nossa mente.

ARGUMENTO SOBRE DEUS (9)

Argumento do desejo

1. Todo desejo inato e natural em nós corresponde a um objeto real que pode satisfazer esse desejo.

2. Entretanto, existe em nós um desejo que nada ao longo do tempo, nada nesta terra e nenhuma criatura pode satisfazer.

3. Portanto, tem de existir algo mais ‒ do que o tempo, esta terra e as criaturas ‒ que possa satisfazer tal desejo.

4. Isso é algo que as pessoas chamam de Deus e de vida eterna com Deus.

I → A primeira premissa implica uma distinção entre dois tipos de desejo: o inato (natural) e o externamente condicionado (artificial). Naturalmente desejamos coisas como alimento, bebida, sexo, descanso, conhecimento, amizade e beleza; e evitamos coisas como a fome, a solidão, a ignorância e a feiúra. Também desejamos – de uma forma não natural – coisas como um carro, um ótimo cargo, poder voar, ver nosso time ser campeão, desejarmos ir à Londres, à terra de Oz, etc.

Existem diferenças cruciais entre esses dois tipos de desejos. A maioria de nós não sente a privação dos desejos artificiais. Não sentimos a falta de Oz, mas sentimos muito a falta de descanso. Além de serem mais importantes, os 'desejos naturais' vêm de dentro, de nossa natureza; enquanto os 'artificiais' vêm de fora, sugeridos pela sociedade, pela época, propagandas ou pela ficção. Assim sendo, isto gera uma terceira diferença entre esses dois tipos de desejos: os desejos naturais estão presentes em todos nós, mas os artificiais variam de acordo com o indivíduo.

A existência dos desejos artificiais não significa necessariamente que os objetos por eles desejados existam. Alguns sim, outros não. Existem carros e Londres, mas não a terra de Os. Entretanto, a existência dos desejos naturais significa, em cada caso, que os objetos de desejo existem. Todo desejo natural corresponde a um objeto real, (e este tipo de desejo está naturalmente em todo ser humano). Ninguém nunca ouviu falar de um desejo inato para com um objeto inexistente.

II → A segunda premissa exige apenas uma introspecção sincera. Alguém poderia dizer que, nem todos sentem o desejo por Deus (visto que a crença em Deus varia de acordo com o indivíduo), e que, portanto, o desejo por Deus seria algo “artificial”. Esta porém, é uma interpretação equivocada, pois de fato, este desejo inato que todos possuímos e que nada neste mundo pode satisfazer, em última instância, é o desejo por Deus, como veremos. Por isso, esta premissa exige honestidade para consigo mesmo da parte do leitor. Alguém pode dizer que é uma pessoa perfeitamente feliz, em todos os momentos da vida, e em todas as possíveis e diversas situações. É possível encontrar indivíduos assim na história humana. Neste caso, podemos apenas perguntar: Isso é verdade mesmo? Ou podemos apenas fazer um apelo à pessoa para pensar, refletir melhor, mas nunca criticá-la. Até mesmo o ateu Jean-Paul Sartre admitiu que “chega uma hora em que a pessoa mais satisfeita com a sua vida, se pergunta: Há algo mais? Isso é tudo o que há?” E esta é uma realidade: por mais bens que possuamos, por mais objetivos que conquistemos, chega um momento em que nos cansamos daquilo, e nos perguntamos se isto é tudo o que há, se não existe algo mais, - pois sentimos a falta desse “algo mais”.

Todos (de Aristóteles a Freud) que já observaram amplamente o comportamento humano e pensaram profundamente sobre ele notaram que agimos por fins, metas e propósitos e também que o único fim, objetivo e propósito que motiva todos o tempo inteiro é a felicidade. “Todos sentimos falta de uma felicidade maior, como se a felicidade não pudesse ser completamente satisfeita apenas neste mundo”, disseram alguns pensadores. O Argumento do Desejo defende apenas que haja um Algo mais que possa satisfazer em nós o desejo que nada ao longo do tempo, nada nesta terra e nenhuma criatura pode satisfazer. Existe em nós um desejo que nada nesta vida pode satisfazer, - seu objeto é inatingível, inalcançável nesta vida; e a mera presença desse desejo na alma é sentido como mais prazeroso do que qualquer outra satisfação. Por mais inadequada que seja nossa maneira de entender o que queremos, nós todos queremos o paraíso, o céu, a eternidade, uma vida eterna; algo profundo em nossa alma não fica satisfeito com esse mundo inteiro de tempo e mortalidade.

Também reclamamos do tempo. Nunca parece haver tempo suficiente – mesmo agora, muito menos quando estivermos morrendo; portanto, deve haver mais tempo: deve haver a eternidade. Nós nos queixamos desse mundo. Ele não é suficientemente bom. Portanto, deve haver outro mundo que seja “suficientemente bom”.

ARGUMENTO SOBRE DEUS (8)

Argumento da percepção

Quando nos damos conta da tremenda ordem e inteligibilidade presente no universo, travamos contato que nossa inteligência pode apreender. A inteligência é parte do que encontramos no mundo. Entretanto, o universo não é, por si mesmo, intelectualmente consciente. Por maiores que sejam as possibilidades da natureza, ela não sabe avaliar sua própria existência. No entanto, nós seres humanos temos a capacidade intelectual de conhecer as possibilidades da natureza e a nós mesmos. O fato de o universo ser organizado de forma tão inteligente e harmônica, e de nós, seres humanos, sermos dotados de inteligência racional ratifica o “Argumento do desígnio divino”. Existem similaridades entre estes ambos argumentos.

1. De acordo com nossa experiência, percebemos que o universo é inteligível. Esta inteligibilidade significa que o universo pode ser assimilado pela nossa inteligência.

2. O universo inteligível e a nossa mente finita adequada para assimilá-lo são produtos de uma inteligência superior.

3. Tudo isso não veio a existir por mero acaso.

4. Portanto, o universo finito e nossa mente adequada para assimilá-lo são produtos de uma inteligência superior; de Deus.

Queremos focar agora nossa atenção na terceira premissa, a de que tudo o que existe não surgiu por mero acaso. Na obra “Milagres”, de C.S. Lewis, o autor apresenta no terceiro capítulo, um forte argumento contra o naturalismo (a filosofia naturalista) e sua visão de que tudo – incluindo nosso pensamento e nosso julgamento – pertence a um sistema vasto e interligado de causas e efeitos meramente naturais. Lewis mostra que o  naturalismo não oferece um bom motivo para acreditarmos que sua concepção do mundo seja verdadeira, porque todos os julgamentos seriam igualmente e em última instância, resultados de forças naturais não-racionais. Se a doutrina naturalista fosse verdadeira, o que chamamos de mero acaso seria a maneira como a natureza física operaria em última instância – isenta de qualquer plano racional e propósito. Portanto, o argumento de C.S. Lewis é coerente, e a terceira premissa de nosso argumento se sustenta, pois o mero acaso não pode ser a fonte de nossa inteligência; não pode ter produzido-a.

ARGUMENTO SOBRE DEUS (7)

Argumento contra a ideia de um universo eterno

Este é um argumento de origem árabe, (também conhecido como “Kalam”), contém argumentos de que o mundo não pode ser infinitamente antigo, e portanto, tem de ter sido criado por Deus. Ele contesta a teoria que a maioria dos ateus deseja manter: a de que o universo surgiu a partir de um todo de matéria auto-sustentada em mudança infinita, em um tempo eterno. Este tipo de argumento tem tido um apelo amplo e duradouro entre muçulmanos e cristãos. Sua forma é simples e direta:

1. Seja o que for que venha a existir, precisa de uma causa para que possa existir.

2. O universo começou a existir.

3. Portanto, o universo tem uma causa.

Vejamos a primeira premissa. A maioria das pessoas considera a primeira premissa não apenas como provavelmente verdadeira, mas como certa e obviamente verdadeira.

E a segunda premissa? É verdadeira? O universo – a coleção de todas as coisas restritas ao espaço e ao tempo – teria começado a existir num determinado momento? Essa premissa nos últimos séculos recebeu um forte apoio da ciência natural, principalmente com a cosmologia do Big Bang. Mas há também argumentos filosóficos a favor dela. Vejamos.

Se o universo não começou a existir, teríamos um passado infinito. Surgem algumas questões para pensarmos: Por que algo (o universo) que não tivera início, teria um fim? Por que algo que tivera um “passado infinito”, teria um “futuro finito”?

Será que uma tarefa infinita poderia ser realizada ou completada? Se, para alcançar determinado fim, etapas infinitas tivessem de antecedê-lo, será que algum dia poderemos alcançar o fim? É claro que não – nem mesmo em um tempo infinito. Isso porque o “tempo infinito” não teria fim, assim como as etapas. Em outras palavras, nunca alcançaríamos o fim da sequência. A tarefa infinita nunca poderia e nunca seria completada.

Se o universo nunca teve início, ele sempre teria existido. Então, seria infinitamente antigo. Mas, para isso ser verdade, uma quantidade infinita de tempo teria de ter passado antes do dia de hoje, por exemplo. E um número infinito de dias deveriam ter sido completados para que o dia atual pudesse acontecer. Entretanto, isso cria um paralelo idêntico ao problema da tarefa infinita, pois, se o dia de hoje foi alcançado, então uma seqüência infinita de eventos históricos o teria levado a este ponto no presente. Isto significa que se a tarefa foi completada até este ponto do presente, o todo do passado precisa ter acontecido. Contudo, uma sequência “infinita” de etapas nunca poderia ter alcançado esse momento presente. Logo, ou o dia atual não foi alcançado, ou o processo para que isso acontecesse não foi infinito. É muito óbvio que o dia de hoje está acontecendo, portanto, o processo para alcançá-lo não foi infinito. Em outras palavras, o universo teve início, portanto ele tem de ter uma causa para que viesse a existir, ou seja, um Criador.

Primeira questão: Como podemos saber que a Causa geradora do universo ainda existe? Talvez, ela tenha dado início ao universo e deixado de existir.

Resposta: Lembremos que buscamos uma Causa para a existência espaço-temporal. Essa Causa criou todo o universo de espaço e de tempo, e estes, em si mesmos, têm de ser parte dessa criação. Portanto, a Causa não pode ser outro ser espaço-temporal; ela tem de estar, de alguma maneira, fora dos limites e das limitações do espaço e do tempo. É difícil compreender a um Ser assim. Mas sabemos que um ser que pertence ao nosso universo, certamente deixará de existir um dia; chega um instante no tempo em que este é fatalmente afetado por algum agente externo. Contudo, essa realidade é apropriada para nós e para os seres que estão limitados ao espaço e ao tempo. Um Ser que não esteja limitado não pode deixar de ser, mas tem de existir eternamente.

Segunda questão: Mas essa Causa seria Deus, um Ser, e não simplesmente uma coisa?

Resposta: Suponhamos que a causa do universo tenha existido eternamente e que NÃO fosse pessoal; que ela teria dado origem ao universo não por escolha própria (visto não poder escolher), mas simplesmente por existir (ou por acaso). Nesse caso, seria difícil imaginar um universo que não fosse infinitamente antigo, uma vez que todas as condições necessárias para a existência dele (contidas nessa coisa) existiriam por toda a eternidade. Mas de acordo com o argumento que estamos estudando, o universo não pode ser infinitamente antigo. Portanto, a hipótese de uma causa eterna impessoal parece levar a uma contradição. Então, qual a solução para a questão? Um universo que tenha surgido como resultado de uma escolha pessoal. Uma causa eterna poderia ter dado início a um efeito temporalmente limitado. Como já dito, uma causa que gera seres inteligentes e capazes de raciocinar, não poderia ser algo irracional e não-inteligente; e sendo algo racional e inteligente (em maior escala que o seu efeito), não seria simplesmente uma coisa, mas um Ser.

Terceira questão: Os cristãos crêem que irão viver para sempre com Deus. Logo, eles crêem num futuro infinito. Por que então o passado não pode ser sem fim?

Resposta: É diferente. Os cristãos acreditam que sua vida com Deus nunca irá terminar. Entretanto, isso só pode ser verdade se toda a realidade criada teve início num determinado momento. O futuro infinito que aguarda os cristãos será operado pelo Ser que está fora das limitações do espaço e do tempo, pela mesma causa que gerou o espaço e o tempo. O que se encontra limitado ao espaço e ao tempo é a matéria, não Deus. A matéria não é capaz de ser autossuficiente, nem de por si mesma possuir uma existência infinita, (sendo que sua eternidade seria causada pelo ACASO). Nada existe eternamente pelo acaso! Somente Deus é capaz de ser autossustentável e existir eternamente. Ele pode sim, nos levar para uma nova dimensão criada, que não esteja limitada ao espaço e ao tempo, no futuro. Os cristãos não estarão na eternidade na mesma dimensão criada que conhecemos hoje, e que está limitada a tais condições.

ARGUMENTO SOBRE DEUS (6)

Argumento dos graus de perfeição

Ao observarmos o mundo, notamos que as coisas variam de diversas maneiras. Uma cor, por exemplo, pode ser mais clara ou mais escura do que outra; uma torta de maçã que acabou de sair do forno está mais quente que outra que foi retirada horas antes; a vida de uma pessoa que oferece e recebe amor é melhor do que a de outra que não age assim. Então, designamos as coisas com base em elas terem um grau maior ou menor de determinada característica. Quando o fazemos, naturalmente pensamos nelas com base numa escala, que varia de um valor menor até outro maior. Pensamos, por exemplo, que um objeto mais claro aproxima-se do branco puro, e outro mais escuro está mais próximo da opacidade do preto. Isso significa que pensamos com base em várias “distâncias” a partir dos extremos, no grau (maior ou menor) em relação aos extremos. Às vezes, a distância é literal a partir de um extremo que faz toda a diferença entre ter ou ser mais ou menos. Os objetos, por exemplo, são mais quentes quando estão mais próximos de uma fonte de calor. Essa fonte comunica aos objetos o calor que estes possuem. Isso significa que a quantidade de calor é causada por uma fonte externa.

Agora, pensando na bondade dos seres, parte do que queremos dizer está relacionado simplesmente àquilo que eles são. Cremos por exemplo, que uma existência relativamente estável e permanente é melhor do que uma que se mostre precária e efêmera. Todos reconhecemos que um ser inteligente é melhor que um não-inteligente; que um ser capaz de dar e receber amor é melhor do que um que não pode fazer isso; que nossa existência é melhor, mais rica e mais completa do que a de uma pedra, uma flor, uma minhoca, uma formiga, etc. Entretanto, se esses graus de perfeição estão relacionados ao ato de existir e se esse ato é causado em criaturas finitas, então é necessário que exista um Ser melhor, uma fonte e um padrão verdadeiros de toda a perfeição que reconhecemos. Este Ser absolutamente perfeito — a “Existência de todos os seres”, a “Perfeição de todas as perfeições” — é Deus.

Questão: O argumento pressupõe a existência de algo melhor e verdadeiro. Entretanto, todos os nossos julgamentos de valor comparativo não são meramente subjetivos?

Resposta: A própria formulação dessa pergunta já serve para respondê-la. O questionador não teria feito a pergunta a menos que pensasse ser melhor fazê-la do que não fazê-la; e realmente é melhor tentar encontrar a “verdadeira” resposta do que não procurá-la. Ora, se todos os nossos julgamentos de valor comparativos fossem “meramente subjetivos”, não seria subjetivo, apenas uma opinião pessoal, julgar que não existe algo melhor e verdadeiro? Como o questionador busca a “verdadeira” resposta, se supõe que todos nossos julgamentos e avaliações não passam de opiniões subjetivas, e que não há “verdades” universais? Os nossos julgamentos de valores comparativos não são meramente subjetivos, nem dependem da opinião de cada um, porque, de fato, existem diferentes níveis (graus) de valores de ética e moralidade.

ARGUMENTO SOBRE DEUS (5)

Argumento do desígnio divino

Esse argumento tem um apelo amplo e perene. Praticamente todas as pessoas admitem que uma reflexão acerca da ordem e da beleza da natureza estimula algo em nosso íntimo. Entretanto, será que a ordem e a beleza são produtos de um desígnio inteligente e um propósito consciente?
Para os teístas, a resposta é afirmativa. Os argumentos a favor do desígnio divino são tentativas de defender essa resposta; de demonstrar por que ela é a mais razoável a ser oferecida. Tais argumentos foram formulados de maneiras tão ricamente variadas quanto a experiência na qual estão arraigados.

As declarações a seguir, demonstram seu âmago, sua ideia central.

1. O universo revela uma quantidade surpreendente de inteligibilidade tanto no interior das coisas que observamos como na maneira como essas coisas se relacionam com outras externas. Podemos, então, dizer que a maneira como elas existem e coexistem demonstram uma ordem bela e intricada e uma regularidade que pode deixar perplexo até mesmo o observador mais casual. É a norma natural que muitos seres diferentes trabalhem em conjunto para produzir o mesmo fim valoroso — por exemplo, os órgãos em nosso corpo trabalham para manter nossa vida e nossa saúde.

2. Essa ordem inteligível é produto de um desígnio inteligente, não de mero acaso.

3. Nada acontece por mero acaso.

4. Portanto, o universo é produto de um desígnio inteligente.

5. O desígnio surge da mente de alguém que o estabelece.

6. Portanto, o universo é produto de um Projetista inteligente.

A premissa 1 é verdadeira. Até mesmo os que discordam do argumento concordam com ela. Só uma pessoa extremamente patética e obtusa não concordaria. Uma molécula de proteína possui uma ordem impressionante, e mais ainda uma célula. E muito mais ainda um órgão como o olho, em que as partes ordenadas de enorme e delicada complexidade trabalham juntas com inúmeras outras para alcançar um único fim. Até mesmo os elementos químicos são ordenados para combinar com outros elementos de determinada maneira e sob certas condições. A aparente desordem encontrada em certas situações na natureza é um problema exatamente por causa da imensa abrangência da ordem e da regularidade. Portanto, a premissa 1 se sustenta. Se toda esta ordem, não é de alguma maneira o produto de um desígnio inteligente, então o que seria? Obviamente, ela teria simplesmente acontecido; e as coisas alcançado o estágio em que se encontram por mero acaso. Mas, se toda essa ordem não é produto de forças sem propósito e ocasionais, ela resulta de algum tipo de propósito; que só pode ser um desígnio inteligente. A inteligência não surge da não-inteligência. Portanto, a segunda premissa também se sustenta. Obviamente é a premissa 3 que se mostra crucial. Em última instância, os não-crentes afirmam que é realmente pelo acaso, e não por desígnio divino, que o universo de nossa experiência existe, da maneira como o conhecemos. Para estes, ele simplesmente passou a ter essa ordem, e fica a nosso cargo o dever de provar como isso não poderia ter acontecido apenas por mero acaso. Entretanto, a afirmação dos incrédulos é incorreta. Logo, são eles que deveriam produzir uma alternativa mais crível que a ideia do desígnio divino.
Um computador não seria confiável se fosse programado pelo acaso, e não por um ser racional. O cérebro e o sistema
nervoso humano, apesar de muito mais complexos e superiores que um computador, igualmente não seriam confiáveis se fossem programados pelo acaso. A teoria do acaso é simplesmente insatisfatória. Não podemos compreender o acaso apenas analisando-o sobre um pano de fundo ordenado. Dizer que algo aconteceu por acaso é irracional e ilógico. É afirmar que algo aconteceu de maneira diferente do que havíamos esperado, de um modo que não tínhamos imaginado. Em vez de pensarmos no acaso, analisando-o sobre um pano de fundo ordenado, somos convidados a pensar sobre a ordem – que se mostra intricada e presente – sobre o pano de fundo sem propósito e aleatório do acaso. Francamente, isso não é crível! Portanto, é perfeitamente razoável validar a terceira premissa: nada acontece por acaso. Assim, a única conclusão lógica é que o universo é produto de um desígnio inteligente. O que deseja o questionador que pensemos? Que não é necessário existir algo que traga todas as coisas à existência? Que o efeito precederia a causa?

Objeção: Talvez apenas em nossa região no universo passamos encontrar a ordem. Talvez haja outras partes deste totalmente caóticas, e desconhecidas por nós. Como então, ficaria o argumento?

Resposta: O nosso mundo de experiência comum apresenta uma ordem abrangente e inteligível. Não temos como negar este fato. Mas antes de especular a respeito do que pode existir, precisamos lidar sinceramente com o que temos diante de nossos olhos; precisamos reconhecer de maneira resoluta a extensão surpreendente da ordem e inteligibilidade que há em nosso universo.

Podemos perguntar: É possível supor que habitamos uma pequena ilha de ordem, cercada por um oceano de caos? Consideremos como através da ciência temos alcançado um conhecimento fantástico sobre o universo nas últimas décadas; atentemos para os diversos elementos microscópicos – todos eles, complexos – que o compõem. O que essa expansão de nossos horizontes revelou? Sempre a mesma coisa: mais, e não menos inteligibilidade; mais, e não menos ordem complexa e intrincada. Não existe razão para crermos em um caos que nos rodeie; e ao mesmo tempo, há muitas razões para não fazer isso.

ARGUMENTO SOBRE DEUS (4)

Argumento do milagre

Esse argumento não funciona como prova, mas como um indício poderoso da existência de Deus.

1. Um milagre é um evento cuja única explicação adequada é a intervenção direta e extraordinária de Deus.

2. Existem inúmeros milagres bem testificados.

3. Portanto, existem inúmeros eventos cuja única explicação adequada é a intervenção direta e extraordinária de Deus.

4. Portanto, Deus existe.

Obviamente, se acreditamos que algum evento extraordinário é um milagre, então acreditamos na atuação divina e acreditamos que tal atuação estava operando para que o evento acontecesse. Mas a questão é: esse evento foi realmente um milagre? Se os milagres existem, então Deus tem de existir. Mas será que milagres realmente existem? Que eventos escolhemos para caracterizar como milagres?

Em primeiro lugar, milagres precisam ser feitos sobrenaturais ou acontecimentos extraordinários. Existem muitos acontecimentos extraordinários (como as chuvas de granito ou de meteoros) que não se qualificam como milagres. Por que não? Primeiro, porque eles podem ser causados por algum fenômeno natural; em segundo lugar, porque o contexto em que ocorreram não era religioso. Esses eventos podem ser qualificados como singulares, estranhos, mas para serem considerados um milagre, precisam ter conotação religiosa, estar relacionado à fé que alguém depositou em Deus.

Agora, suponha que um homem santo se dirija para o centro de uma cidade, e comece a exortar seus habitantes ao arrependimento, e como sinal de sua mensagem, ele declara que Deus fará chover pedras do céu. Então, momentos depois, - tum, tum, tum! - pedras começam a cair do céu.

A palavra “milagre” pode vir facilmente à nossa mente, pelo acontecimento estar relacionado à mensagem (e à fé) religiosa. Isso não significa que todos precisam acreditar em Deus para testemunhar um evento como esse; mas se aquele homem pareceu um profeta genuíno e sua mensagem tocara as pessoas, fazendo-as pensar que ele estava falando a verdade, seria muito difícil considerar o que aconteceu como um mero engano ou uma coincidência extraordinária.

As circunstâncias de um suposto milagre, o caráter e a mensagem da pessoa com quem o evento está relacionado, também são extremamente importantes. Existe um caminho mental desde o acontecimento de um milagre até sua interpretação como tal. E o que estimula esse raciocínio não é apenas o evento em si, mas os muitos fatores que o circundam e que estimulam tal interpretação.

Os milagres acontecem. E realmente existem vários testemunhos confiáveis a respeito deles em muitas épocas, muitos lugares e muitas culturas. Portanto, a Causa dos milagres também existe. E a única Causa admissível para eles é Deus. Portanto, Deus existe.