Definição Verbete: Pentateuco
Do grego pentáteukhos (de pent[a] = cinco) + teuckhos = "livro", pelo latim Pentateuchus. Os cinco primeiros livros do Velho Testamento, atribuídos a Moisés: o Gênese, o Êxodo, o Levítico, o Números e o Deuteronômio; Tora.
Introdução
Gostaria em primeiro lugar, de deixar claro que a minha opinião é bastante concisa em relação a inspiração e revelação de Deus acerca do Cânon bíblico, principalmente em relação ao nosso objeto de estudo “O Pentateuco”.
O que trataremos a seguir são fundamentos bíblicos, teóricos e arqueológicos que tentarão nos dar uma visão mais acertada no que se refere a autoria do Pentateuco. Tendo em vista as diversas correntes literárias tanto da Baixa Crítica como da Alta Crítica, no tocante a este tão discutido assunto no meio teológico.
Sem dúvida alguma, tenho convicção de que o fato de Moisés ter ou não escrito sozinho o Pentateuco, não trará algum transtorno ou constrangimento a nossa fé nos dogmas aceitos pela Igreja do Senhor, quanto à Revelação das Escrituras. O que busco esclarecer e peço a Deus que todos busquem desta mesma maneira, é que através desta análise tenhamos um conhecimento mais profundo, claro e cônscio de como Deus em sua sabedoria e conhecimento nos deixou tamanho legado de fé, princípios e determinações a serem seguidas por nós seus servos e filhos.
Observando o livro Evidências que merecem um Veredicto II, observei que o Dr. D.A. Hubbard referiu-se à importância primária do Pentateuco para que possamos compreender a relação entre o povo de Israel e Deus. Diz ele:
“Sendo um registro de revelação e a reação a ela, o Pentateuco testifica dos atos da salvação de Deus, o qual é o soberano Senhor da história da natureza. O ato cêntrico de Deus no Pentateuco (e, de fato, no Antigo Testamento), é o êxodo do Egito. Foi então que Deus irrompeu na consciência dos israelitas e revelou-se como o Deus que redime. O discernimento obtido por meio dessa revelação capacitou-os, sob a liderança de Moisés, a reavaliar as tradições de seus antepassados, vendo nelas o desabrochar do relacionamento de Israel com Deus, que havia florecido tão brilhantemente na liberação da servidão ao Egito.”
Ainda outro estudioso o Dr. Gilkey demonstrando a experiência do Êxodo – Sinai como “ponto essencial da religião bíblica”, disse:
“Para nós, o Êxodo reveste-se tanto de um interesse histórico quanto de um interesse confessional. A questão daquilo que Deus fez no Sinai, em outras palavras, não é apenas uma questão para exame do erudito da religião e da teologia dos semitas, mas é muito mais uma questão para consideração do crente contemporâneo que deseja prestar seu testemunho atual quanto aos atos de Deus na história.”
Scofield introduz:
“Certos críticos tem negado que Moisés tenha escrito do Gênesis ao Deuteronômio, apesar do fato de terem sido atribuídos a Moisés pelo próprio Senhor Jesus Cristo. Os argumentos contra a autoria de Moisés fundamenta-se principalmente na variação dos nomes de Deus (Eloim e Jeová), as diferenças no estilo e vocabulário, e a presença de mais de uma narrativa sobre o mesmo acontecimento, como, por exemplo, a criação do homem em Gênesis 1.26 e 2.7.
Tais argumentos foram devidamente respondidos na explicação de que a variação nos nomes divinos tem o propósito de revelar certos aspectos do caráter de Deus; o estilo depende do assunto; e as narrativas paralelas, comuns na antiga literatura do Oriente Próximo, tem a intenção de acrescentar detalhes à primeira narrativa.”
Portanto encontremos nas Escrituras a resposta sábia conforme a regra básica da Hermenêutica que diz: “A Bíblia interpreta a própria Bíblia”. E no Pentateuco, portanto, temos uma introdução verdadeira e lógica de toda a Bíblia; e, em tipo, uma epítome da revelação divina.
Nome que se dá à coleção dos primeiros cinco livros do Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Nos lugares da Escritura onde ocorria este nome, os israelitas davam aos cinco livros o nome de Lei, Js 1.7; Mt 5.17; Lei de Moisés, 1 Rs 2.3; Ed 7.6; Lc 2.22; a Lei do Senhor, 2 Cr 31.3; Lc 2.23; o Livro da Lei, Js 1.8; o Livro de Moisés, 2 Cr 25.3,4; o livro da lei de Moisés, Js 8.31; o Livro da Lei de Deus, Js 24.26; o Livro da Lei do Senhor, 2 Cr 17.9. Todas estas designações do Pentateuco dão a entender que os cinco livros eram tidos como um só volume, como ainda se vê nos manuscritos judaicos, ainda que citados pelos vários nomes das palavras iniciais. A divindade em cinco livros distintos e mencionada por Josefo, cont. Apiom 1.8, e originou-se com a tradução grega, ou já existia anteriormente. Como quer que seja, os Setenta adotaram a divisão, donde vieram para nós os modernos títulos de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
“A divisão da lei de Moisés em cinco livros, dizem, serviu de modelo para a divisão do Saltério. Se assim foi, deveria Ter sido em tempos muito antigos, porque já de muito que ele estava assim dividido em cinco livros. As provas encontram-se nas descobertas feitas nos próprios manuscritos nos quais os livros dos Salmos aparecem de tal modo arranjados, que o salmo que abra cada livro, corresponde ao respectivo livro do Pentateuco. O salmo primeiro, comparando o justo a uma árvore plantada junto às correntes as águas, faz lembrar o jardim do Éden, de que fala o primeiro livro do Pentateuco. O salmo 42 dá início ao segundo livro do Saltério, com um grito de quem se acha em tristeza, oprimido pelo inimigo, e julgando-se como abandonado por Deus, mas que, ao mesmo tempo, antecipa o seu livramento. É uma recordação das aflições de Israel no Egito, como as descreve o livro de Êxodo. No salmo 73, que abre o terceiro livro, as dúvidas do salmista acerca da justiça de Deus para com os homens, desaparecem, quando considera o fim destinado aos perversos. Este salmo reflete a gratidão para com a bondade divina, dando a lei levítica como garantia de sua misericórdia. O salmo 90 abre-se com a oração de Moisés em que ele roga a Deus que lha faça conhecer o número de seus dias. Este assunto corresponde ao Livro dos Números. O salmo 107, que dá princípio ao quinto livro, fala da bondade do Senhor nos dias da tribulação, e, como o Deuteronômio, faz uma recapitulação dos exemplos do favor divino para com Israel. É preciso reconhecer que esta correspondência é mais fantasiosa que real.“ [1]
A Tradição Oral e Escrita
A narração dos fatos contidos no primeiro livro do Pentateuco, foi transmitida aos tempos de Moisés pela tradição oral e escrita. Os acontecimentos posteriores deram-se no seu tempo e nos quais tomou parte pessoalmente. A arte de escrever era comum no Egito muito antes de Moisés; era conhecida na Arábia, onde havia ele estado algum tempo; em Canaã, onde seus antecessores peregrinaram e por onde estava guiando o povo. As várias formas de literatura representadas no Pentateuco, mostram quais eram as concepções familiares naquela época. Posto que os cinco livros não sejam, no seu todo, atribuídos a Moisés, contudo, dão-no como seu autor. Duas passagens são de sua autoria: a vitória sobre Amaleque, Êx 17.14, e o itinerário dos israelitas desde o Egito às planícies de Moabe, fronteira ao Jordão e a Jericó, Nm 33.2, O cântico comemorativo das obras do Altíssimo e do seu favor para com Israel, foi escrito e composto por ele, Dt 31.19, 22, 30; 32.44. Moisés também escreveu e cantou o hino de louvor a propósito da destruição de Faraó e do seu exército, e da passagem do Mar Vermelho, Êx 15.1-18, 21. A parte que trata das leis, compõe-se de três corpos distintos. O primeiro chama-se o livro do pacto, e compreende os dez mandamentos, lei fundamental da nação e os regimentos nela baseados, Êx caps. 20-23. O segundo corpo de leis, regula o serviço do santuário, Êx caps. 25 a 31 e 35 a 40; o Levítico e a maior parte do livro de Números. Toda esta legislação revelou-a Deus a Moisés, Êx 25.1 e seg. O terceiro corpo de leis contém as proclamações que Moisés fez à nova geração dos hebreus nas vésperas de sua entrada em Canaã, recordando o modo por que Deus os conduziu, e reproduz várias porções da lei com o fim especial de mostrar-lhe a sua espiritualidade e pondo em relevo as feições mais importantes da vida religiosa, nas circunstâncias especiais em que o povo ia entrar, e ao mesmo tempo modificado os pormenores referentes às novas exigências da vida na terra de Canaã. Moisés escreveu esta mensagem e mandou aos levitas que pudessem o livro ao lado da Arca da Aliança do Senhor para lhes servir de testemunho, Dt 31.9, 24-26. Segundo se lê nestes livros, as passagens espalhadas em todo o Pentateuco são de sua autoria. Todo o Antigo Testamento, quando fala da lei, sempre a dá como obra de Moisés, escrita em um livro, Js 1.7,8; Ed 6.8; Ne 8.1,18. São muito freqüentes e explicitas as referências à lei de Moisés, Js 1.7-8; 8.31-35; Jz 3.4; 1 Rs 2.3; 2 Rs 18.6,12; cp. Dt 24.16; 2 Rs 21.7,8; Dn 9.11,13; Ed 3.2; 6.18; 7.6; Ne 8.1,18; Ml 4.4. Uma das feições particulares desta legislação, a lei de um só altar, esteve em desuso durante o cativeiro ou retenção da arca pelos filisteus depois que o Senhor abandonou a Silo, 1 Sm 4.11,21,22; 6.1; 7.2; Sl 78.60; Jr 7.12-15; 26.6. Enquanto durou este período o povo sob a direção de Samuel, sacrificava onde podia, 1 Rs 3.2-4, como seus pais haviam feito nos tempos antigos, antes do pacto entre Jeová e os israelitas, de que a lei e a arca serviam de monumento. Mais uma vez este regime esteve em vigor, quando os piedosos israelitas, que habitavam o reino do norte, se viram privados de subir a Jerusalém para adorar o Senhor. Teriam de escolher entre abster-se inteiramente de sacrificar, ou adorar a Deus como o havia feito Abraão. Isaque e Jacó. Tomaram o segundo alvitre. Todos os outros casos de sacrificar, fora do santuário central, obedeciam à lei, que expressamente estabelecia que em qualquer lugar em que Jeová se manifestasse, aí se oferecia o sacrifício, Êx 20.24; Jz 2.1,5; 6.19-24; 13.15-22. O reino do norte reconhecia a autoridade da lei de Moisés. Os profetas Oséias e Amós que trabalhavam entre as dez tribos, apesar de não falarem em nome de Moisés, referiam-se constantemente às leis do Pentateuco e empregavam a sua linguagem.
Autoria do Pentateuco
Negam alguns que o Pentateuco seja obra de Moisés. As principais objeções consistem em que o livro contém fatos que se deram após a sua morte e que, portanto, não poderiam ser escritos por ele. Lê-se em Gn 12.6: “Era então o cananeu o que habitava a terra”, cp. 13.7. O sentido que dão a esta passagem é que os cananeus já não ocupavam a terra em vida do escritor. Mas não é isso que ele diz; senão que o cananeu era o habitador da terra, quando Abraão ali esteve e que a terra lhe estava prometida. Gn 14.14 diz: “Que Abraão foi em alcance destes reis até Dã.” Dizem que no tempo do patriarca esse lugar se chamava Laís e que o nome de Dã só lhe foi dado no tempo dos juízes, Jz 18.29. Resta saber, porém, se o Dã de Gênesis é o mesmo Dã do livro dos Juízes. Se é, então devemos supor que o nome de Dã, que era o mais familiar, supor que o nome de Dã, que era o mais familiar, substituiu o antigo Laís no curso de repetidas transcrições. O texto hebreu não existe em sua absoluta pureza primitiva. Em Gn 36.31, diz-se: “Antes que os filhos de Israel tivessem rei”, como se à monarquia que principiou em Saul já existisse quando o autor escreveu o livro. Mas os reis de Edom referidos nos vv. 32-43, reinaram antes de Moisés; este diz somente que os descendentes de Esaú já tinham reis, ao passo que os israelitas, aos quais se havia prometido rei, ainda o não tinham, Gn 17.6,16; 35.11. Diz o Dt 1.1: “Estas são as palavras que Moisés disse a todo o Israel na banda daquém do Jordão”, isto é, na parte oriental como se o escritor estivesse em Canaã. Mas a expressão citada não tem este sentido. Abraão, Isaque e Jacó falaram daquela região como situada aquém do rio, que ficou sendo conhecida como este modo. Ainda mais: aquela região não era Canaã, a terra prometida. Moisés ainda estava aquém do rio. Qualquer que fosse o lado do rio em que o povo estivesse, designavam as montanhas Abarim ao oriente do Mar Morto, como as montanhas daquém, e ultimamente denominavam o país entre o Jaboque e o Arno na Peréia, a região daquém. Admite-se geralmente que os versículos 5-12 do cap. 34 do Dt, onde se fala da morte de Moisés e em que é comparado com os profetas que o precederam, 5, 10, não foram escritos por sua mão. Isto, porém, de modo algum pode servir de argumento para negar-lhe a autoria do Pentateuco, no seu todo.
Fraquezas e Falácias da Teoria Wellhausiana
1. A teoria Documental tem sido caracterizada por uma espécie sutil de raciocínio em círculos; tende a postular sua conclusão (“a Bíblia não é uma revelação sobrenatural”) como sua premissa básica (“não pode existir algo chamado revelação sobrenatural”). Aquela premissa, é claro, era um artigo de fé para toda a liderança intelectual na época do iluminismo (l’Éclaircissement na França, die Aufklärung na alemanha) do século dezoito; estava implícito na filosofia prevalecente do deísmo. Infelizmente, porém, tornou impossível qualquer consideração justa das evidências apresentadas pelas Escrituras da revelação sobrenatural. Além disso, tornou-se absolutamente obrigatório descobrir explicações racionalistas e humanistas para cada aspecto ou episódio no texto das Escrituras que tem algo de milagroso ou que testifica a manifestação de Deus. Mas esta tentativa de tratar objetivamente como dados literários do ponto de vista de preconceito antisobrenaturalista se destinava ao fracasso desde o início. É como a tentativa do daltônico de julgar as grandes obras-primas da pintura. A primeira falácia, portanto, era petitio principii (tomar a questão.
2. Alegava-se que a teoria de Wellhausen se baseava na evidência do próprio texto, mas a evidência do texto é consistentemente evadida quando vai claramente contra as teorias. Por exemplo, os documentaristas insistiam, “Os livros históricos do Antigo Testamento não demonstram que reconhecem a existência da legislação P ou do código mosaico escrito antes do fim do exílio”. Quando veio a resposta a esta declaração, demonstrando que numerosas referências à Lei Mosaica e às instruções P foram descobertas nos livros históricos, veio da parte deles a ré[plica: “Ah, bem, estas referências são interpoladas posteriores feitas por escribas sacerdotes que reeditaram estes livros depois do Exílio”. Isto quer dizer que o mesmo corpo de evidência ao qual se apela comprovar a teoria, se rejeita quando entra em conflito com a teoria. Ou, em outras palavras, cada vez que a teoria é desafiada pelos próprios dados que ela alega explicar, então o time capacitado para eliminar dificuldades, Redator e Interpolador Ltda., recebem a chamada de socorro. Táticas ilusórias como estas dificilmente poderiam justificar a confiança e integridade dos resultados.
3. Os documentaristas pressupõem que os autores hebraicos são diferentes de quaisquer escritores conhecidos em toda a história da literatura pelo fato de só eles não possuírem a capacidade de empregar mais do que um nome para Deus; mais do que um só estilo de escrita, seja qual for a diferença no assunto tratado; mais do que um entre vários sinônimos da mesma ideia; mais do que um tema típico ou círculo de interesse. Segundo estas teorias, um autor único como (citando um exemplo brasileiro) Rui Barbosa não poderia ter escrito pesquisas literárias, como Ensaio sobre Swift, reportagens vivas e cintilantes da atualidade da época, como em Cartas da Inglaterra, e ainda a grande obra de polêmica religiosa, que é sua versão de “O Papa e o Concílio”. Se tivesse sido um hebreu antigo, decerto suas obras já teriam sido mutiladas, dentro da hipótese das fontes múltiplas, A,B e C! A estrutura inteira da divisão das fontes foi construída sobre pressuposições exclusivistas que não são demonstradas na literatura de nenhuma outra nação e de nenhum período.
4. Preconceitos subjetivos se revelam no tratamento das Escrituras hebraicas como evidência arqueológica. Por demais freqüentemente a tend6encia tem sido considerar a tendência tem sido considerar qualquer declaração bíblica como sendo suspeita e indigna de confiança, embora que a própria antiguidade do Antigo Testamento (mesmo pelas datas atribuídas pelos críticos) deveria recomendá-lo para ser considerado como documento arqueológico. No caso de qualquer discrepância, na comparação com uma fonte pagã, mesmo sendo de data posterior, automaticamente a informação pagã tem a preferência como testemunha histórica. Quando não há outras evidências disponíveis de fontes não israelitas ou de algum tipo de descoberta arqueológica, então, então a declaração bíblica não é levada a sério a não ser que possa ser encaixada com a teoria. Não faz diferença para eles o grande número de informações bíblicas que, rejeitadas como não históricas pelos peritos do século dezenove tem sido confirmadas pela evidência arqueológica posterior (como a historicidade de Belsazar, os Heteus e os Horeus), a mesma atitude de preconceito prejudicial contra a Bíblia tem persistido, sem a mínima justificativa. (Seria uma ingenuidade supor que os relatórios pagãos do Egito, da Babilônia e da Assíria – em contraste com as Escrituras hebraicas com seus elevadíssimos padrões morais – eram livros de tendências propagandistas ou preconceitos partidários). W. F. Albright tem o crédito de ter dirigido uma boa parte dos seus esforços eruditos no sentido de reabilitar a reputação do Antigo Testamento como registro do passado no qual se pode confiar. Em numerosos livros e artigos, demonstrou, repetidas vezes que a narrativa Bíblica tem sido vindicada contra seus críticos, pela descoberta arqueológica recente.
5. A escola de Wellhausen começou com a mera suposição (a prova da qual não tem sido alvo de muitos esforços da parte deles) que a religião de Israel era de origem meramente humana como qualquer outra, e que precisava ser explicada como mero produto da evolução. Não fazia diferença para eles que nenhuma outra religião conhecida (a não ser aquelas que surgiram da fé dos hebreus) tem chegado ao monoteísmo genuíno; os israelitas também devem ter começado com animismo e politeísmo cru, exatamente como as demais culturas antigas. A evidência esmagadora em contrário, desde o Gênesis até Malaquias, que a religião israelita era monoteísta desde o começo até o fim tem sido evadida nos interesses dum dogma preconcebido: que não pode existir aquilo que se chama religião sobrenaturalmente revelada. Por este motivo, todas as narrativas simples e diretas em Gênesis e no restante da Torá que descrevem as experiências de Abraão, Isaque, Jacó e Moisés tem sido sujeitadas a uma reanálise cínica, procurando demonstrar que um retoque monoteístico foi aplicado àqueles antigos dignatários politeístas pelos assim-chamados “Deuteronomistas” ou a escola Sacerdotal de época posteriores.
6. Quando por meio de manipulação engenhosa do texto, se produz uma “discrepância” ao interpretar uma passagem fora do contexto, não se aceita nenhuma explicação que reconciliaria a dificuldade, mas, pelo contrário, a suposta discrepância precisa ser explorada para “comprovar” diversidade de fontes. (Cf. a discrepância que Pfeiffer imaginava ver (IOT 328) entre duas narrativas do assassinato de Sísera. Segundo ele, Juízes 5.25-27 diz que Jael o matou com seu martelo e estaca de tenda enquanto bebia leite; Juízes 4.21 diz que o fez enquanto Sísera dormia. Na realidade, 5.25-27 não declara que estava bebendo no momento do impacto, mas seria inútil dizer isto a Pfeiffer, pois já d ividiu as “narrativas discrepantes”entre J e E).
7. Embora literaturas semíticas antigas demonstrem numerosas instâncias de repetição e de duplicação pelo mesmo autor na sua técnica de narrativa, é somente a literatura hebraica que não tem licença de empregar tais repetiçõesou reduplicações sem trair uma autoria diversa. É instrutivo estudar a literatura sectária das cavernas de Cunrã, para perceber até que época os israelitas continuavam a empregar a repetição com o propósito de enfatizar. Por exemplo, compara-se placa I com placa IV do Manual de Disciplina, onde os requisitos para se entrar na comunidade monásticas são esclarecidos de tal maneira que convidaria os serviços peritos do divisor de fontes documentárias.
8. Com auto-confiança altamente questionável, a escola de Wellhausen presumiu que críticos europeus modernos, que não tem em mãos nenhuma outra literatura antiga hebraica com a qual possam fazer comparações (pelo menos, quanto ao período bíblico), podem fixar a data da composição de cada documento, com exatidão científica. Supõem também que podem ter a liberdade de emendar o texto ao substituir palavras mais comuns pelas palavras raras ou incomuns preservadas no texto massorético, que eles não entendem, ou que não acham cabíveis no contexto. Como estrangeiros, vivendo numa época e numa cultura totalmente diferentes, se sentiam competentes para lançar do descarte ou reembaralhar frases ou até versículos inteiros quando seus conceitos ocidentais de consistência ou de estilo foram ofendidos.
9. Supuseram, além disto, que estudiosos vivendo 3.400 anos após o evento pudessem (mormente na base de teorias filosóficas) reconstruir com mais segurança a ordem dos acontecimentos da época do que os próprios autores antigos (que viviam dentro de 600 ou 100 anos daqueles eventos, mesmo pelas datas avançadas que os próprios críticos dão).
Em resumo, é muito duvidoso se a hipótese de Wellhausen mereça a posição de respeitabilidade científica. Há tantas alegações forçadas para pleitear a causa, tantos argumentos em círculo, tantas deduções questionáveis tiradas de remissas não substanciadas, que é absolutamente certo que sua metodologia nunca subsistiria num foro jurídico. Quase nenhuma das leis de evidência que se respeitam em procedimentos legais se obedece entre os arquitetos da Teoria Documental.
O criticismo bíblico compreende duas seções distintas: (1) Baixo Criticismo, consistindo do (a) Criticismo textual, que é uma busca em torno da história do texto, até se determinar a sua maior aproximação com o texto original, e (b) o Criticismo linguístico, que compreende o exame das raízes, o significado das palavras e o idioma; (2) O Alto Criticismo que consiste (a) da crítica literária, que procura resolver os problemas de datas em que determinado livro foi escrito e o seu autor, e (b) da crítica histórica, que investiga a sua credibilidade.
O termo Alto Criticismo (ou Alta Crítica) é usado, muitas vezes sem qualquer cuidado, pelos controversistas, como sinônimo de radicalismo literário. O chamado alto crítico bem pode ser ultra-conservador, defendendo apenas de sua concepção da natureza do Velho Testamento. Logo, deve se aplicar o termo adequadamente. É, entretanto, no campo da crítica histórica que a pendência tem persistido. A negação da credibilidade do Velho Testamento, no tocante a sua autoria e inspiração divina, tem inevitavelmente levado a oposição dos que creem na autoridade e inspiração das Escrituras; e os dois campos tem terçado as suas armas com o máximo de mestria.
A crítica do Pentateuco é a tarefa mais importante que qualquer estudante do Velho Testamento pode enfrentar, porque desta depende todo o resto dele. Extremamente difícil, requer paciência e habilidade, para que os argumentos pró e contra sejam devidamente pesados e o valor real finalmente determinado. Entretanto, muitos que de julgam sábios tem oferecido um testemunho pobre da sua capacidade para tal tarefa. Alguns tem colecionado uma multidão de fatos desconexos, sem capacidade para coloca-los em ordem e demonstrarem o seu valor na debatida questão; e o estudante comum fica impossibilidade, por sua vez, de forma uma oposição segura.
A opinião dos Judeus e cristãos, por mais de dois mil anos, sempre foi unanimemente em favor da autoria mosaica do Pentateuco, e foi somente entre 1650 e 1750, um século, portanto, de crítica moderna, que as primeiras dúvidas foram levantadas por Hobbes, Peyrerius, Spinosa, Richard Sinon e Lc Clere. Para facilitar o estudo, dividiremos o assunto em diversas seções, chamando a atenção do estudante para o fato de que apenas daremos os pontos principais de cada escola.
A posição atual
A compreensão obtida mediante esses criticismos acerca da hipótese Graf-Wellhausen, juntamente com as pesquisas contínuas de seus defensores, tem dado em resultado uma modificação considerável sobre a antiga teoria. Os pontos se vistas evolucionários simples da história e da religião de Israel, foram postos de lado. A autenticidade básica dos relatos sobre os patriarcas é reconhecida por muitos estudiosos, visto que a luz da arqueologia tem iluminado o pano de fundo desses relatos. O ambiente egípcio do ciclo de José e o relato do Êxodo tem sido confirmados por considerações arqueológicas, literárias e lingüísticas (cf. A. S. Yahuda, The Language of the Pentateuch in its Relation to Egypitian, 1931; C. H. Gordon, The World of the Old Testament, 1958, pág. 139).
O papel de Moisés (q. v.) como o grande legislador e a personagem dominante da religião de Israel, tem sido confirmado.
Embora não abandonaram a teoria documentária tem sido modificada por eruditos contemporâneos. O desenvolvimento de cada documento é excessivamente complexo e geralmente se considera que representa a ‘escola’ inteira e não um único autor. O desenvolvimento dos vários documentos não é consecutivo, mas antes, paralelo, visto que em cada um deles se podem encontrar elementos antigos, como indica o uso de elementos pentateucais pelos profetas (cf. Aalders, op. cit., págs. 111-138). Dissecações minuciosas de versículos e atribuição positiva de suas porções a diversas fontes geralmente tem sido abandonadas. Essas modificações, na hipótese documentária, podem ser contempladas pelos conservadores como um boletim médico, e não como um obituário. A teoria Wellhauseniana ainda está muito viva e permanece um desafio constante à erudição ortodoxa, que algumas vezes se tem contentado em consolar-se com as reações contra a hipótese documentária sem produzir uma completa introdução para o Pentateuco, que afirme de modo positivo a evidência em favor da unidade básica da lei, ao mesmo tempo que leve em consideração as indicações de diversidade sobre a qual a teoria documentária se baseia.
Os estudos de Aalders tem palmilhado sobre um terreno novo e apontam para o caminho por onde se deve prosseguir. De particular interesse são seu reconhecimento de elementos pós-mosaicos e não-mosaicos no Pentateuco (por exemplo, Gn 14.14; 36.31; Êx 11.3; 16.35; Nm 12.3; 21.14,15; 32.34 e segs.; Dt 2.12; 34.1-12), e sua consciência do fato que nem o Antigo nem o Novo Testamentos atribuem a obra inteira a Moisés, embora ambos os Testamentos atribuem-lhe porções substanciais. Os grandes códigos legais, por exemplo, são creditados especificamente a Moisés (exemplo, Êx 20.2-32,33; 34.11-26; Dt caps. 5-26; cf. Dt 31.9,24), como o é também o itinerário dos israelitas, em Nm 33.2. No que diz respeito às histórias do Gênesis sobre os gentios, Moisés pode ter sido ou não aqueles que as compilou, baseando-se em suas formas orais ou escritas. As evidências acerca da edição pós-mosaica no Pentateuco se encontram nas referências citadas acima e especialmente na menção de documentos antigos tal como ‘o livro das guerras do Senhor’ (Nm 21.14). É difícil datar a redação final do Pentateuco. A sugestão de Aalders de que isso teria tido lugar algum tempo entre os reinados de Saul e Davi é crível, embora se deva fazer algum desconto no tocante à modernidade do vocabulário e do estilo.
A Mensagem Religiosa do Pentateuco
‘O Pentateuco deve ser definido como um documento que dá a Israel sua compreensão, sua etiologia da vida. Aqui, por meio de narrativa, poesia, profecia e lei, a vontade de Deus concernente à tarefa de Israel no mundo é revelada’ (A. Bentzen, Introduction the Old Testament, 1952, II, pág. 77). Um registro de revelação e resposta à mesma, o Pentateuco testifica sobre os atos salvadores de Deus, o qual é Senhor soberano da história e da natureza. O ato central de Deus, no Pentateuco (e, de fato, no Antigo Testamento) é o Êxodo do Egito (q.v.). Ali Deus irrompeu na consciência dos israelitas e se revelou como o Deus redentor. A compreensão obtida por essa revelação permitiu-os a, sob a liderança de Moisés, re-avaliarem as tradições transmitidas por seus antepassados e ver nelas os primórdios das revelações do trato de Deus que desabrocharam tão brilhantemente no livramento da escravidão egípcia.
Tendo-se exibido poderosa e abertamente como Senhor, no êxodo, Deus levou os israelitas a perceberem que Ele era o criador e sustentador do universo, bem como Aquele que dirige a história. A ordem observada é importante: o conhecimento do Redentor levou ao conhecimento do Criador; a compreensão sobre o Deus da graça conduziu à compreensão sobre o Deus da natureza. A exibição de controle sobre a natureza, o que se evidenciou nas pragas, na travessia do Mar Vermelho, e no sustento no deserto, bem pode ter influenciado os israelitas para que vissem Deus como o Senhor tanto da natureza como da história.
A graça de Deus é revelada não apenas em Seu livramento e orientação, mas igualmente na transmissão da lei e na iniciação da aliança firmada. O compromisso de obediência assumido por Israel, seu juramento de lealdade a Deus e à Sua vontade, foi a resposta de Israel: porém, até mesmo essa resposta é o Dom da graça de Deus, pois é Ele que embora livre de qualquer obrigação, fixou as condições da aliança e proveu o sistema de sacrifício como meio de transpor o abismo entre Ele mesmo e o Seu povo. A graça de Deus exige em total reconhecimento de Sua Soberania, uma obediência completa à Sua vontade em toda esfera da vida, Essa exigência é graciosa porque envolve o que é bom para Israel, o que a ajudaria a realizar seu verdadeiro potencial, e a levaria a descobrir o que não poderia faze-lo sem a revelação divina.
Qualquer que seja a origem do Pentateuco, atualmente aparece como um documento que possui uma rica unidade interna. Trata-se do registro da revelação de Deus na história e de Sua soberania sobre a história. Testifica tanto sobre a resposta de Israel como de seu fracasso em corresponder à altura. Testifica sobre a santidade de Deus, que O separa dos homens, sobre Seu amor gracioso, que liga a Ele de conformidade com Suas condições.
Conclusão
Após abordarmos alguns conceitos e definições tanto da Baixa Crítica quanto da Alta Crítica, encontramos em nossa interpretação que Moisés NÃO é o autor do Pentateuco.
Ele não é o autor TOTAL. Como vimos a escrita sendo utilizada muitos anos antes dele tanto na Fenícia, como na Arábia, e nas escavações arqueológicas foram encontradas a Pedra Roseta, e o Código de Amurabe, delimitando assim que a escrita já existia antes de Moisés, por certo Moisés, compilou materiais acerca da criação do mundo, da criação do homem, mensagens estas que também eram passadas de forma auricular de pais para filhos, pois este era um costume utilizado no período mencionado.
Outra condição para que mencionemos o fato de Moisés NÃO ter escrito todo o Pentateuco é a narrativa da sua própria morte no último capítulo de Deuteronômio, o que pode ser atribuído a Josué ou a algum contemporâneo.
Porém, se atentarmos para a qualificação do homem Moisés, estudante das melhores universidades do Egito, com um conhecimento amplo em muitas ciências usadas naqueles tempos, poderíamos avaliar que Moisés reunia todas as qualificações necessárias para escrever e organizar todo o Pentateuco com a Revelação do Espírito Santo de Deus. Gostaria de mencionar o Dr. Russel Shedd que diz: “Ninguém pode afirmar com absoluta certeza quem escreveu o livro de Gênesis. Visto que Gênesis é o alicerce necessário para os escritos de Êxodo a Deuteronômio, e visto que a evidência disponível indica que Moisés escreveu esses quatro livros, é provável que Moisés tenha sido o autor do próprio livro de Gênesis. A evidência apresentada pelo Novo Testamento contribui para essa posição (cf. especialmente Jo 5.46,47; Lc 16.31; 24.44). Na tradição da Igreja, o livro de Gênesis tem sido comumente designado como Primeiro Livro de Moisés. Nenhuma evidência em contrário tem sido capaz de invalidar essa tradição”.
Bibliografia
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Pr. Josué Alves de Brito Júnior