A maneira de Deus lidar com os pecados dos cristãos
Depois que uma pessoa crê no Senhor Jesus, todos os seus pecados passados são perdoados pela obra redentora do Senhor. Mas que deve ela fazer, se pecar novamente depois de crer e ter sido salva? Não é correto pecar, mas pecar é um fato que ocorre na vida. É uma vergonha um cristão pecar, mas também é um fato inegável que os cristãos pecam. Sabemos que não devemos falhar nem cometer erros. Mas devemos admitir que realmente temos momentos de fracasso e de fato cometemos erros. Então, que faremos com esses pecados? Para sermos mais específicos, o que Deus fará com esses pecados? Já mencionamos a punição temporária. Deus nos adverte que, se nos tornarmos apóstatas, seremos punidos no reino milenar. Mas se quisermos lidar com nossos pecados e ser purificados deles, que devemos fazer? Como podem nossos pecados ser lavados e perdoados? Embora em toda a Bíblia haja somente três ou quatro lugares que mencionam esse problema, eles nos proporcionam uma clara luz. A fim de sabermos como lidar com esse problema, tudo o que temos de fazer é ler essas poucas passagens.
UMA ÚNICA PURIFICAÇÃO POR MEIO DO SANGUE
Comecemos pelo princípio. Sabemos que quando o Senhor Jesus foi crucificado na cruz, Ele verteu Seu sangue para lavar todos os nossos pecados. Depois de lavar nossos pecados, Ele assentou-se à direita de Deus (Hb 1.3). Se, depois de sermos salvos e purificados de nossos pecados, nós pecarmos e nos corrompermos de novo, o sangue do Senhor Jesus lavará nossos pecados novamente? O homem pensa que se pecar, o sangue do Senhor Jesus terá de purificar os seus pecados novamente. Mas não há tal verdade na Bíblia. O sangue purifica os nossos pecados somente uma vez; nunca purifica duas vezes. Não há repurificação dos pecados do homem.
O livro de Hebreus mostra-nos claramente que há somente uma purificação de pecados. Hebreus 10.1-14 diz: “Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados? Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos, porque é impossível que sangue de touros e bodes remova pecados. Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, corpo me formaste; não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade. Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste (coisas que se oferecem segundo a lei), então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. Porque, com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”.
Vemos que o Senhor Jesus ofereceu a Si próprio uma vez como oferta pelo pecado por nossos pecados. Ele efetuou a redenção eterna uma vez por todas. Pela Sua obra única estamos eternamente aperfeiçoados. O versículo 2 mostra que os que foram purificados, não mais têm consciência dos pecados. Por isso, há somente uma oferta do Senhor Jesus. Não há uma segunda oferta. Se alguém rejeitar esta oferta pelo pecado, não haverá outra oferta pelo pecado para ele. Este é o motivo de o versículo 26 dizer que, se pecarmos deliberadamente, já não restam mais sacrifícios pelos pecados. Os pecados de um pecador são perdoados por meio da cruz de Cristo. Depois que um cristão é salvo, mesmo que ele peque, o Senhor Jesus não pode morrer por seus pecados novamente. A Sua realização passada consumou tudo eternamente. Tudo está incluído Nele.
Leiamos agora alguns versículos do capítulo 9. Os versículos 25, 26 e 28 dizem: “Nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado (...) assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação”. Sua vinda pela segunda vez não terá nada que ver com seus pecados; antes, será para a salvação deles. Os versículos 12 a 14 dizem: “Não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas para servirmos ao Deus vivo!” O versículo 9, falando do primeiro tabernáculo, diz que ele é “uma alegoria para o tempo presente” (VRC). Nesse tabernáculo “se oferecem assim dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto”.
Lendo os capítulos 9 e 10 vemos que os sacrifícios do Antigo Testamento diferem do sacrifício do Novo. Se eu estivesse no Antigo Testamento e cometesse um pecado, haveria somente uma maneira de lidar com ele. Se eu tivesse bastante dinheiro, compraria um touro; se não tivesse o suficiente, compraria um bode e se não tivesse recursos para nenhum deles, compraria uma rola. Depois eu pediria a um sacerdote que ofertasse o sacrifício por mim para expiação do meu pecado. Quando visse o touro ou o bode, meu coração se alegraria, porque saberia que a oferta servira como substituto para minha punição. Por ser o sangue de touro ou bode semelhante ao meu, Deus me perdoaria. Eu iria para casa satisfeito e com júbilo no coração, e seria a pessoa mais feliz da terra, porque os meus pecados teriam sido perdoados; eu não teria mais meus pecados. As trevas em minha consciência seriam removidas, e eu não mais sofreria. Mas, dois dias depois, eu poderia começar a pensar: “E se não valer aquele sacrifício oferecido outro dia? E se o sacerdote não houver feito o serviço corretamente?” Por causa desses pensamentos, eu ficaria preocupado e sofreria novamente. Finalmente, eu decidiria comprar outro touro ou bode, levá-lo-ia ao sacerdote e diria a ele que a oferta de pecado do outro dia não fora bem feita, e pediria para refazer a oferta. O sacerdote, então, sacrificaria o touro ou o bode, e oferecê-lo-ia mais uma vez a Deus, e eu me certificaria de que o touro ou o bode havia sido oferecido pelos meus pecados.
No Antigo Testamento, quando a consciência incomodava, podia-se sempre trazer outro touro ou bode como oferta pelos pecados por intermédio do sacerdote. Isso é o que Hebreus 9 nos mostra. Ele diz que o sangue de touros e bode não faz uma obra completa. O capítulo 10 diz que, se uma obra completa tivesse sido feita, não haveria mais consciência de pecados. Deus considerava incompleta a obra de animais no tocante à consciência, porque cada vez que uma pessoa perdesse a paz em sua consciência, ela sentiria que seus pecados ainda não haviam sido plenamente tratados, e haveria necessidade de mais ofertas.
Entretanto, o apóstolo mostra-nos que um cristão não deve agir da mesma forma. O sacrifício propiciatório que Deus estabeleceu no Novo Testamento não é um touro ou um bode, mas o Seu próprio Filho. Quando Seu Filho veio à terra, Ele disse claramente que Deus não desejava touros e bodes nem se agradava deles. Em vez disso, Deus preparou um corpo para Ele, a fim de que Ele pudesse morrer para completar a obra da eterna redenção. O Senhor cumpriu na cruz o sacrifício pela redenção eterna. Agora podemos obter essa redenção eterna. Ele ofereceu um sacrifício pela redenção eterna, consumando assim a eterna redenção. Por causa desta redenção eterna, estamos eternamente aperfeiçoados. Ele é o Filho de Deus. Por causa de Sua obra eterna uma vez consumada, não precisamos mais fazer ofertas pelo pecado. Não mais podemos fazer oferta pelo pecado para o mesmo pecado, porque o Senhor Jesus consumou toda a obra.
O Filho de Deus não pode novamente ser crucificado pelos nossos pecados. Ninguém pode pisar o sangue do Filho de Deus e torná-lo algo comum. E se algo é o único do gênero, é precioso. Mas se houver duas coisas do mesmo gênero, elas são comuns. Tratar o sangue do Filho como algo comum significa considerá-lo igual ao sangue de touros e bodes. Mas se honrar Seu sangue e considerá-lo como algo único, ele lhe será precioso. A oferta pelo pecado, consumada por Ele, está aqui. Depois que o Senhor realizou Sua obra, Deus disse que não pode haver nenhuma outra obra. O Filho de Deus não pode morrer novamente. Sua obra está consumada. Se você a quiser, terá de crer Nele. Você não pode acrescentar nada a ela. Ou você depende Dele ou nada tem. Depois que alguém recebe a luz por meio da verdade, para ele não há mais sacrifício pelos pecados. Há somente uma oferta pelo pecado. Isso é o que pregamos. Aqueles que vêm adorar por meio desse único sacrifício terão sua consciência purificada; eles não mais terão consciência dos pecados. Todos os pecados deles foram lavados e eles não terão mais consciência dos pecados. Além disso, não há necessidade de outra purificação. A Bíblia nunca ensina a doutrina de uma segunda purificação. O sangue do Senhor Jesus não pode purificar-nos novamente. Uma vez purificados, estamos purificados para sempre.
RECEBER A PURIFICAÇÃO ININTERRUPTA DEPOIS DE CRER
A questão agora é esta: Que devemos fazer, se pecarmos novamente? Que faremos, se ficarmos imundos novamente? Todos os pecados que cometemos antes de sermos salvos foram lavados pelo sangue do Senhor Jesus. Mas, que fazer com os pecados que cometemos depois de salvos? Não queremos ser punidos. Não queremos perder o reino. Não queremos sofrer o dano da segunda morte. Que fazer diante de Deus? Consideremos 1 João 2.1: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis”. Um dos objetivos do cristão é não pecar. João escreveu-nos essas palavras para que não pecássemos. Segundo a posição, é possível um cristão não pecar. Infelizmente, segundo sua história real, ele peca com freqüência. Posicionalmente falando, não deveríamos pecar. Mas, falando da experiência, de fato pecamos com frequência. Não há necessidade de pecar. O pecado, contudo, é um fato inabalável.
João continua: “Se, todavia, alguém pecar”. Aqui estamos tratando do problema de um cristão que peca. Ele é um pequenino de Deus; pertence ao Senhor. Se ele pecar, que deve fazer? “Temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”. Não diz que temos Advogado junto a Deus; antes, é-nos dito que temos Advogado junto ao Pai. Portanto, esse versículo refere-se aos filhos de Deus. Refere-se aos que foram salvos. Se alguém entre os salvos, os filhos de Deus, pecar, ele tem um Advogado junto ao Pai. Isso não é um debate num tribunal de justiça, mas é um assunto de família.
A palavra advogado na língua original é paracletos. Para significa ao lado de; estar ao lado quer dizer que você está em algum lugar e outra pessoa também está ali. Você está em Xangai e essa pessoa também está em Xangai. Quando você vai para Cantão, ela também vai para Cantão. É semelhante aos trilhos de um trem. Você não pode ter um trilho em São Paulo e outro em Maceió. Cletos significa auxiliador. Um paracletos, portanto, é alguém que está ao lado, auxiliando. Você pode fugir, mas para onde quer que corra, o paracletos também estará lá. Os que ajudam são muito bons, mas muitas vezes eles chegam tarde demais. Pode haver bastante arroz no Sul, mas os famintos no Norte não poderão obtê-lo, porque o arroz não está ao lado. Os gregos usavam a palavra paracletos para referir-se ao advogado de defesa no tribunal. Suponha que você não entenda a lei, e alguns o acusem; eles podem processá-lo ou tirar vantagem de você, mas você não tem como defender-se. Agora há um paracletos para responder por você. As pessoas acusam-no de ter pecado. Mas o seu paracletos dirá que você não possui pecado. Ele o defenderá como um advogado de defesa. O significado aqui é ter alguém próximo de si para falar por você. Se um cristão pecar, há Alguém junto ao Pai falando por ele.
Satanás não desiste de fazer acusações contra os cristãos. Apocalipse 12.10 nos diz que ele acusa os irmãos dia e noite. Dia e noite somos os réus e ele é o acusador. Mas temos um Advogado que é Jesus, o Justo. Aqui diz que Ele é o Advogado; não o que tem a graça, mas o justo. Por que não diz que Ele é o que tem a graça? Porque no tribunal de justiça celestial não se fala a respeito da graça, da mesma forma que não se fala a respeito da graça nos tribunais terrenos. Qualquer juiz que queira perdoar aos outros é um juiz injusto. Somente os que são a favor da justiça podem ser juízes. Deus é a favor da justiça. Ele não perdoa nossos pecados injustamente. Ele não faz pouco caso de nossos pecados, não encobre nossos pecados, nem nos deixa passar despercebidos com nossos pecados. Pelo contrário, Ele julgou nossos pecados com justiça.
O Senhor não nos defende dizendo que a tentação foi muito forte, que, como criancinhas, não poderíamos lidar com ela, e, portanto, Deus tem de nos conceder graça. O Senhor Jesus não diz que os cristãos são pequenos demais, que o conhecimento deles é pequeno demais, que a carne é fraca demais e a atração do mundo é forte demais. Ele não diz que as artimanhas de Satanás são astutas demais e não há como rejeitar Satanás. Não é dessa maneira que o Senhor Jesus nos defende. Ele não apela para a graça, nem está ali como despenseiro da graça. João diz que Jesus Cristo é o justo. Ele diz a Deus que, por causa Dele e do que Ele fez, Deus tem de nos perdoar.
Como esse Advogado nos defende? É-nos dito no versículo seguinte: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 Jo 2.2). O Senhor Jesus faz Sua defesa por nós baseado em Sua obra consumada, ou seja, em Sua propiciação na cruz por nós. Como resultado, podemos achegar-nos a Deus. Esse é um sacrifício propiciatório completo. Inclui todos os pecados de todos os cristãos no tempo e no espaço. Quando esse sacrifício propiciatório é mostrado a Deus, Ele não tem mais razão para punir os cristãos. O sacrifício propiciatório do Senhor não é apenas para os pecados do passado, mas também para todos os pecados do presente e do futuro. O verbo em 1 João 2.2 está no presente e não no pretérito. Deus não pode condenar-nos baseado nas acusações de Satanás, porque a obra redentora de Cristo, consumada na cruz, inclui todos os pecados de hoje e todos os que serão cometidos até o dia de Sua volta. Todos os nossos pecados foram incluídos em Sua obra. Deus tem de nos perdoar. Ele não pode agir de outra forma, porque esse perdão tem uma base.
O SENHOR JESUS COMO ADVOGADO DOS CRISTÃOS
A obra do Senhor Jesus como Salvador é para os pecadores. A obra do Senhor Jesus como Advogado é para os cristãos. Como Salvador, o Senhor Jesus consumou a obra da cruz. Como Advogado, o Senhor Jesus aplica a obra da cruz. Os pecados dos pecadores são perdoados por meio da redenção da cruz. Os pecados dos cristãos são perdoados por meio da defesa que é baseada na redenção da cruz. Essa defesa apresenta a obra da cruz a Deus. Ela mostra a Deus o que o Senhor Jesus fez, para que Ele não castigue o homem por seus pecados. Nós temos um Advogado diante de Deus. A morte do Senhor Jesus é a prova apresentada a Deus.
O Senhor Jesus tornou-se Advogado para todo cristão que peque, da mesma forma como se tornou Salvador para todo pecador. Não é que primeiro nos arrependemos, cremos, somos regenerados e depois o Senhor morre por nós; antes, foi enquanto ainda éramos pecadores que Cristo se tornou nosso Salvador (Rm 5.8). Da mesma forma, não é que primeiramente nos arrependemos, e depois Ele se torna nosso Advogado. Pelo contrário, mesmo enquanto estamos pecando, Ele se torna nosso Advogado. Não é que Ele se torna nosso Advogado quando confessamos nossos pecados diante de Deus; mas, mesmo enquanto estamos pecando, Ele se torna nosso Advogado. Essa é a razão de João dizer que, se algum homem pecar, temos um Advogado junto ao Pai. Ele não diz para primeiro nos arrepender, confessar os pecados e pedir perdão, para que, então, Ele se torne nosso Advogado diante de Deus. Em vez disso, João diz que, se alguém pecar, já temos Advogado junto ao Pai. Sempre que pecar, naquele momento o Senhor Jesus já é seu Advogado diante de Deus. Naquele exato momento, o Senhor Jesus mostrará a Deus Sua obra na cruz, e Deus terá de deixar passar nossos pecados. Um cristão pode confessar e arrepender-se, porque Jesus é seu Advogado. Por termos o Senhor Jesus como nosso Advogado, defendendo e falando por nós enquanto pecamos, nós, por fim, nos arrependemos, confessamos os nossos pecados e pedimos perdão. A obra de defesa do Senhor não acontece no momento em que nos arrependemos; antes, ela acontece enquanto estamos pecando. Quando pecamos, o Senhor Jesus já é nosso Advogado. Posteriormente somos levados ao arrependimento e à confissão. Ele cumpriu toda a obra em um dia e tudo está incluído naquela obra. Hoje, o Senhor pode apresentar essa obra a Deus. Deus não pode mais castigar-nos, porque todo o débito foi pago. Todos os débitos, passados e futuros, foram pagos. Todos os nossos pecados foram lavados pelo sangue de Jesus.
ANDAR NA LUZ COMO ELE ESTÁ NA LUZ
Ele é o Advogado. Mas, de nossa parte, que devemos fazer? Leiamos 1 João 1.7: “Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado”. Que significa estar na luz? O homem acha que estar sem pecado e ser santo é estar na luz. Mas não é este o significado aqui. João não diz que devemos andar na luz como Deus anda na luz. Não é dito aqui que Deus anda. Se assim fosse, o significado seria totalmente diferente. Diz aqui que devemos andar na luz como Ele está na luz.
Que significa essa diferença? Por exemplo, neste salão de reunião há muitas lâmpadas, mas nós as chamamos de luz. Estamos agora sentados na luz. Por outro lado, quase sempre, enquanto estamos reunidos, muitas pessoas sentam-se nas escadas junto à porta. Elas estão no escuro. Elas podem não ter pecado; podem não ter roubado os outros lá fora; talvez sejam até melhores e mais santas que nós. Mas os que estão sentados na luz conseguem ver, enquanto os que estão sentados no escuro não conseguem ver. Para Deus, estar na luz significa que Deus agora pode ser visto.
No Antigo Testamento, no Santo dos Santos, Deus estava no escuro e o homem não podia vê-Lo. No Lugar Santo havia uma lâmpada e no átrio exterior havia o sol, mas no Santo dos Santos não havia nenhuma luz. Deus, ali, era um Deus desconhecido. O homem podia somente fazer suposições sobre Ele. Mas graças ao Senhor, pois hoje Deus foi manifestado em Jesus de Nazaré. Deus agora está na luz; Ele não está mais na escuridão. Hoje, Deus é um Deus conhecido, um Deus revelado. Quando você vê Deus hoje, você sabe que Ele é Deus. O evangelho sobre Jesus de Nazaré é a revelação de Deus. O resplandecer da luz do evangelho é o resplendor de Deus. Quando a luz do evangelho resplandece, nós vemos Deus. Não estou dizendo que não devamos ser santos ou que não devamos rejeitar o pecado. Estou dizendo que esse versículo nos diz que por Deus estar na luz, devemos, portanto, andar na luz. Já que Deus se manifestou na luz do evangelho, por isso mesmo devemos ver Deus na luz do evangelho. Não mais buscamos a Deus no Antigo Testamento. Hoje Deus manifestou a Si mesmo. Se Ele não tivesse se manifestado, estaríamos sem esperança, desnorteados, sem saber que tipo de Deus Ele é. Ainda teríamos que fazer suposições sobre Ele. Graças a Deus que Ele foi manifestado. Hoje nosso Deus não é mais um Deus de “bastidores”. Ele agora está no “palco”, é o Deus revelado. A palavra revelação, em grego, é apocalypsis. Apo significa fora, e calypsis, significa véu. Assim apocalypsis significa tirar o véu. Eu costumava assistir apresentações teatrais. No palco havia sempre uma cortina grossa. Você não sabe o que está atrás da cortina. O apocalypsis é o abrir da cortina.
Hoje Deus está na luz. Ele é um Deus exposto. Que devemos fazer então? Devemos andar na luz. Isso significa que veremos Deus e conheceremos Deus na luz. Não conhecemos Deus por suposição como faziam os que viviam no Antigo Testamento. Hoje Deus tem falado. Não há mais necessidade de fazer suposições. Hoje Deus já está na luz. Ele já se revelou no evangelho. Se andarmos nessa revelação, o resultado é a comunhão. Haverá comunhão entre os cristãos e comunhão com Deus.
Desde que Deus e nós sejamos participantes no evangelho, o sangue de Seu Filho Jesus nos limpa de todo pecado. Se você verdadeiramente conhece a Deus no evangelho, verá que o sangue de Seu Filho Jesus está contínua e eternamente nos purificando de todo pecado (1 Jo 1.9). Na língua original, esse versículo nos diz que o sangue de Jesus, Seu Filho, está continuamente purificando-nos de todo pecado. A Bíblia jamais nos mostra que o sangue do Senhor Jesus faz uma segunda obra de purificação. Ela nos mostra que o sangue de Jesus purifica-nos o tempo todo. Não há múltiplas purificações. Há somente uma purificação contínua. A Bíblia nunca traz a ideia de múltiplas purificações. A verdade bíblica é a purificação contínua.
O sangue do Filho de Deus continuamente nos purificando de nossos pecados é a obra do Advogado. A obra da cruz é uma vez por todas. Mas a obra de Seu sangue e da purificação é contínua. A cruz lidou com os nossos pecados e purifica-nos de nossos pecados uma única vez. Contudo, ela é eficaz para sempre. Por que ela é eficaz para sempre e nos purifica continuamente? É porque o Filho está continuamente apresentando a Deus a obra consumada. Não é uma repurificação, mas uma demonstração contínua a Deus de que Ele já morreu e todos os pecados foram tratados. Hoje Ele está continuamente nos purificando de todos os nossos pecados. Todos os nossos pecados estão incluídos aqui. A eficácia de Seu sangue dura para sempre, porque o Senhor Jesus é nosso Advogado no céu continuamente. Sua obra como Advogado é uma continuação e extensão de Sua obra como Salvador. A obra do Salvador aconteceu somente uma vez, mas ela tem prosseguimento na obra do Advogado. Essa é a parte de Deus na obra.
O PERDÃO POR MEIO DA CONFISSÃO
Nunca devemos negligenciar a parte de Deus. Entretanto, nós também jamais devemos esquecer a nossa parte. É verdade que o Senhor Jesus está apresentando Seu sangue e Sua obra diante de Deus continuamente. Mas se pecarmos deliberada e continuadamente e sem arrependimento, repúdio ou disposição para lidar com os nossos pecados, a obra do sangue do Senhor perderá seu efeito e sua eficácia em nós. A obra da crucificação não é apenas para nós, mas também para o mundo inteiro. A obra do Senhor Jesus incluiu a todos. Mas essa obra do Senhor pode ser realizada somente naqueles que creem Nele. A obra de defesa de Cristo em princípio é a mesma coisa; ela é contínua. Quer um cristão confesse e se arrependa de seus pecados, quer não, a obra de Cristo de purificação é continuamente eficaz. Mas como tal obra pode ser realizada nos cristãos é outra questão.
A Primeira Epístola de João (1.7) nos diz que um cristão tem seus pecados perdoados diante de Deus por causa da obra de Cristo. Por outro lado, o versículo 9 nos mostra o que devemos fazer de nossa parte. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. Em 1 João 2.1 é-nos dito que o Senhor Jesus é nosso Advogado, mas 1 João 1.9 nos diz que de nossa parte temos de confessar nossos pecados. Isso não significa que é a nossa confissão que nos concede o perdão. Se a confissão por si só pudesse obter perdão, o perdão seria injusto. Suponha que eu roube cem dólares de um irmão, vá a ele e confesse meu pecado. Se ele me perdoar por causa da confissão, ele seria justo? Se esse fosse o caso, eu roubaria outros cem dólares e confessaria novamente. Se a confissão sozinha pudesse conceder-nos perdão, essa seria a coisa mais injusta que existe. Se esse fosse o caso, nós não poderíamos dizer que Deus é fiel e justo. Teríamos que dizer que Deus é um Deus injusto e desleixado, que não leva em conta nossos pecados.
Por que João diz que Deus é justo para perdoar? Porque o Senhor Jesus se tornou nosso Advogado. Seu sangue purificou-nos de todos os nossos pecados. Nossos pecados foram julgados e condenados em Cristo. Portanto, quando confessamos nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar. Se eu tivesse roubado dinheiro de um irmão e alguém o tivesse devolvido por mim, então a confissão, certamente me traria perdão. Sem o sangue do Filho de Deus, o perdão de Deus seria injusto. O sangue do Filho de Deus foi derramado. O Filho de Deus tornou-se o Advogado diante de Deus. Deus agora tem de nos perdoar. Se não perdoar, Ele será injusto. Hoje quando confesso meus pecados, Deus é fiel e justo para me perdoar os pecados. A Palavra de Deus nos diz que o Senhor Jesus morreu. Deus tem de ser fiel à Sua própria Palavra. Ele também tem de ser justo com relação à obra do Senhor Jesus. É por essa razão que Ele tem de perdoar nossos pecados e nos purificar de toda injustiça.
O perdão de nossos pecados por Deus está totalmente baseado no sangue do Senhor Jesus. Os pecados dos pecadores são perdoados por meio do sangue do Senhor. Os pecados dos cristãos também são perdoados por intermédio do sangue do Senhor Jesus. Por ser o Senhor Jesus o Salvador, Deus pode perdoar os pecados dos pecadores. E por ser o Senhor Jesus o Advogado, Deus pode perdoar os pecados dos cristãos. Pelo fato de o Senhor Jesus ser tanto o Advogado quanto o Salvador é que Seu sangue nos concede perdão de nossos pecados e justificação.
CONFISSÃO
Então, que é confissão? O apóstolo não disse que confissão é orar para que Deus perdoe os nossos pecados. Muitas orações e súplicas a Deus por perdão não são confissões. Tampouco disse o apóstolo que confissão é apenas falar algo com a nossa boca. O que o apóstolo disse foi que temos de reconhecer o pecado e tratá-lo como pecado. Confissão significa colocarmo-nos no mesmo lugar que Deus está, admitindo diante de Deus que o que fizemos é, sem dúvida, um pecado. No momento em que você confessar o seu pecado, você será perdoado. Confessar não é suplicar por perdão. O perdão é tarefa do Senhor Jesus. O que você deve fazer é julgar o pecado como pecado. Você deve julgá-lo, reconhecê-lo e confessar que ele é errado. Você tem de tomar o pecado como pecado e tratá-lo como pecado. O que você deve confessar diante de Deus é que um pecado é, sem dúvida, um pecado. Se você confessar, Deus é fiel e justo para perdoar todos os seus pecados e injustiças. Assim como um pecador recebe o perdão de pecados por meio da obra do Senhor Jesus, um cristão recebe da parte de Deus o perdão dos pecados, por intermédio da obra de Cristo e por julgar seu pecado como pecado. Resumindo: confissão é nossa declaração de que alguma coisa é pecado, porque Deus diz que isso é pecado. Por exemplo, suponha que o filho de um irmão saia à rua para brincar com algumas crianças más. Por ele adquirir linguagem suja e fazer travessuras, o irmão reúne as crianças que levaram seu filho a fazer essas coisas e diz a elas que estão erradas e não devem mais brincar com seu filho. Ele também diz ao seu filho para não mais brincar com elas. A criança diz que ela quer confessar que está errada e pede perdão. Mas, embora ela diga isso com sua boca, em seu coração ela está pensando em uma forma de fugir pela porta dos fundos e brincar novamente. Ela não se posiciona junto com seu pai. A questão aqui não é o perdão, mas se reconhecemos ou não algo como pecado.
Confissão significa que tudo o que Deus considera como pecado, eu também considero como pecado. Significa que eu digo a mesma coisa que Deus disse. Se Deus diz que isso está errado, eu também digo que está errado. A confissão é o nosso reconhecimento e declaração do pecado. Quando você confessa, Deus perdoa seus pecados e o purifica de toda injustiça. Ele não está perdoando você por causa de sua confissão; Ele o está perdoando por causa da obra do Senhor Jesus. Seu sangue é a base de tudo nesta questão. Mas por meio da confissão, o sangue produz o perdão. A salvação é pelo sangue por meio da fé. Mas o perdão é pelo sangue por intermédio da confissão. É como se dissesse que a água da torneira vem pelo depósito de água através dos encanamentos. Da mesma forma, o perdão vem pelo sangue por meio da confissão.
A FIGURA DA NOVILHA VERMELHA NO ANTIGO TESTAMENTO
Há um tipo de purificação no Antigo Testamento que é um tipo do perdão dos cristãos no Novo Testamento. As palavras em 1 João 1 e 2 estão tipificadas no Antigo Testamento. Leiamos aquela que pode ser considerada como a única parte no Antigo Testamento que trata com o perdão dos pecados dos cristãos.
Números 19.1-13 diz: “Disse mais o Senhor a Moisés e a Arão: Esta é uma prescrição da lei que o Senhor ordenou, dizendo: Dize aos filhos de Israel que vos tragam uma novilha vermelha, perfeita, sem defeito, que não tenha ainda levado jugo. Entregá-la-eis a Eleazar, o sacerdote; este a tirará para fora do arraial, e será imolada diante dele. Eleazar, o sacerdote, tomará do sangue com o dedo e dele espargirá para a frente da tenda da congregação sete vezes. À vista dele será queimada a novilha; o couro, a carne, o sangue e o excremento, tudo se queimará. E o sacerdote, tomando pau de cedro, hissopo, e estofo carmesim, os lançará no meio do fogo que queima a novilha. Então, o sacerdote lavará as vestes, e banhará o seu corpo em água, e, depois entrará no arraial, e imundo será até à tarde. Também o que a queimou lavará as suas vestes com água, e em água banhará o seu corpo, e imundo será até à tarde. Um homem limpo ajuntará a cinza da novilha, e a depositará fora do arraial, num lugar limpo, e será ela guardada para a congregação dos filhos de Israel para a água purificadora; é oferta pelo pecado. O que apanhou a cinza da novilha, lavará as vestes, e será imundo até à tarde: isto será por estatuto perpétuo aos filhos de Israel e ao estrangeiro que habita no meio deles. Aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, imundo será sete dias. Ao terceiro dia e ao sétimo dia, se purificará com esta água, e será limpo; mas, se ao terceiro dia e ao sétimo não se purificar, não será limpo. Todo aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, e não se purificar, contamina o tabernáculo do Senhor; essa pessoa será eliminada de Israel; porque a água purificadora não foi espargida sobre ele, imundo será: está nele ainda a sua imundícia”.
Em Números 19 um sacrifício é descrito. Esse sacrifício é único no Antigo Testamento. O livro de Números não é um livro sobre ofertas. O livro sobre ofertas é Levítico. Mas esse sacrifício não é mencionado em Levítico, e sim, em Números. Sabemos que o cordeiro pascal foi morto no Egito. Isso tipifica a morte do Senhor Jesus pelos nossos pecados. No monte Sinai, Deus mostrou-nos novamente o que é o cordeiro pascal. As cinco ofertas em Levítico são o cordeiro pascal examinado e partido. Elas nos mostram os diferentes aspectos do Senhor Jesus e como Ele satisfaz as exigências de Deus ao redimir os pecados do homem. Todas elas são para os pecadores e foram citadas no monte Sinai. O livro de Números, entretanto, é um livro sobre o deserto; é a história dos filhos de Israel, vagueando no deserto de Parã, onde os filhos de Israel viviam como peregrinos. Eles eram uma nação, peregrinando no mundo. Ali, Deus lhes deu outro sacrifício, que é o sacrifício da novilha vermelha.
Todas as ofertas são para Deus, e assim sendo o sangue delas devia ser vertido. Este é o único sacrifício cujo sangue é primeiramente espargido diretamente diante do tabernáculo, e em seguida queimado. A maioria das ofertas é composta de touros e bodes, mas apenas este sacrifício é uma novilha, uma fêmea. A maioria dos sacrifícios não tem especificação de cor. Mas este sacrifício tem de ser de uma cor específica; ele deve ser uma novilha vermelha. A maioria dos sacrifícios é oferecida no altar; somente este sacrifício é queimado fora do arraial. Outros sacrifícios são para o perdão de pecados; todavia, a segunda metade deste sacrifício é para purificação. As cinco ofertas de Levítico descrevem o cordeiro pascal. Elas são preparadas para os pecadores. É por isso que elas estão registradas em Êxodo e Levítico. Esse sacrifício, entretanto, é preparado para o povo de Deus. Essa é a razão de estar registrado em Números. É um sacrifício para a experiência do povo de Deus no caminho do deserto. Os outros sacrifícios são para pecado. Somente este sacrifício é para a impureza no deserto. Os outros sacrifícios são de animais machos; este sacrifício é de fêmea. Tudo o que está relacionado com os pecadores é macho, e tudo o que está relacionado com o povo de Deus é fêmea (Dt 21.3-9). Levítico 5.6 diz que uma cabra pode ser oferecida como oferta pela transgressão. A oferta pela transgressão não é apenas para pecadores, mas frequentemente é para cristãos. Não é como a oferta pelo pecado, que é estritamente para pecadores. A oferta pela transgressão é tanto para pecadores como para cristãos. Quando alguma coisa é oferecida pelo povo de Deus, pode ser fêmea. Essa é a ordenança no Antigo Testamento.
Esse sacrifício, embora lide com as ofensas do homem para com Deus, é, na verdade, oferecido pelos cristãos. A cor vermelha significa redenção diante de Deus. Esse sacrifício não é oferecido no altar, porque não é por pecadores; um pecador tem de passar pelo altar antes de poder vir a Deus. Esse sacrifício é queimado fora do arraial, que é o lugar onde o povo de Deus está. Por isso, o arraial é um tipo da igreja. Estar fora do arraial é ser cortado da comunhão. Entretanto, se você está cortado da comunhão, há um sacrifício esperando por você. Esse sacrifício é para tratar com os pecados dos cristãos. É para a restauração da comunhão.
Vamos agora considerar o sacrifício em si. Esse sacrifício é composto de duas partes. Na primeira parte, o sangue do sacrifício é oferecido; na segunda, o sacrifício é queimado. A primeira parte começa na segunda metade de Números 19.2: “Dize aos filhos de Israel que te tragam uma novilha vermelha sem defeito, que não tenha mancha, e sobre a qual não se tenha posto jugo” (IBB - Rev.). Todos os que conhecem a Bíblia sabem que isso se refere ao Senhor Jesus. Hebreus 10 indica que essa novilha vermelha refere-se ao Senhor Jesus. Quais são as qualificações do Senhor Jesus para tornar-se esse sacrifício? Números 19.2 diz que esse sacrifício devia ser sem mancha e sem defeito, e que não tivesse levado jugo. O ser sem mancha e sem defeito refere-se à Sua vida. Nunca ter estado sob jugo refere-se à Sua obra. Quanto à Sua vida, Ele é sem mancha; quanto à obra, Ele nunca esteve sob jugo. Com relação à Sua vida e pessoa, o Senhor é sem mancha e sem defeito. Não somente é sem mancha, mas também em Sua experiência Ele é puro, isto é, Ele nunca esteve sob jugo. Ele é um homem puro, e tem uma experiência pura. Muitas pessoas não têm mancha, mas têm estado sob jugo. Em Sua experiência, contudo, o Senhor nunca foi subjugado. Ele nunca tocou as coisas pecaminosas, e nunca foi oprimido ou dominado pelo pecado. Ele nunca foi induzido a pecar. Ele era completamente livre do jugo. Hoje, não podemos dizer o mesmo de nós, pois não somos pessoas livres. Temos sido oprimidos e dominados pelo pecado, temos sido induzidos pelo pecado e não somos senhores de nós mesmos. O Senhor Jesus não tem defeito. Somente o Senhor Jesus nunca esteve sob o jugo de pecado.
Isto é a novilha, a vitela, indicando que esse sacrifício foi oferecido pelos cristãos. Ela é vermelha. Isso significa que ela é oferecida pela redenção de pecado. Na Bíblia, o vermelho indica a redenção de pecado. Toda vez que a Bíblia menciona o escarlate ou o vermelho, isso significa pecado. A mulher em Apocalipse 18 monta um animal escarlate e usa uma vestidura escarlate, os quais se referem aos seus pecados.
Números 19.4 diz-nos o que acontece depois que a novilha é imolada. “Eleazar, o sacerdote, tomará do sangue com o dedo e dele espargirá para a frente da tenda da congregação sete vezes”. O sacerdote não fazia muitas coisas; ele somente espargia um pouco de sangue diante de Deus, no tabernáculo. Isso nos indica que a morte do Senhor Jesus satisfez as exigências de Deus. O sangue não era espargido nos filhos de Israel, mas diretamente diante da tenda da congregação. O tabernáculo é o lugar onde Deus se encontrava com os israelitas; ele é um tipo da comunhão entre Deus e o homem. Onde o tabernáculo de Deus está, aí Deus também está. Cristo é o tabernáculo; Ele é Deus vivendo entre os homens. Ele está cheio da graça e da verdade de Deus. Ele tabernaculou entre nós (Jo 1.14). Isso é a comunhão. Como podemos ter comunhão? Deve haver o sangue, ou seja, o pecado deve ser julgado. Se não houver sangue, o homem não poderá achegar-se a Deus.
Há somente duas maneiras de o homem achegar-se a Deus. Ou ele vem sem pecado, ou ele vem com o sangue. Se estiver sem pecado, você pode ir a Deus com passos corajosos, pois Ele nada pode fazer a você. Mas se você tiver pecado, deve haver o derramamento de sangue (Hb 9.22), porque Deus deve julgar o pecado. Se o pecado não for julgado, o homem não pode ter comunhão com Deus. Deus não pode ignorar os pecados do homem. Deus não pode deixar passar os pecados do homem. Se o homem tiver pecado, ele deve ir a Deus com o sangue. Deus é um Deus que julga. Sem passar pelo julgamento, o pecado não pode ser removido. O julgamento exige o sangue, portanto, deve haver o derramamento de sangue antes que a comunhão seja restaurada. O sangue foi espargido sete vezes; sete significa perfeição. A morte do Senhor Jesus satisfez a Deus; Seu sangue é suficiente para lavar os nossos pecados. Aqui, todos os problemas são completamente resolvidos; as justas exigências de Deus são satisfeitas. Deus disse que a obra está consumada. E tal obra é a obra do Senhor Jesus na cruz. Ela foi realizada uma única vez e está consumada para sempre. Não há necessidade de outra novilha vermelha. A morte de uma novilha vermelha é suficiente. Na primeira parte desta oferta vemos que a aspersão do sangue significa que o problema do pecado está resolvido. Esta parte da oferta é igual a todas as outras ofertas no Antigo Testamento. Todas elas são o cordeiro pascal.
Agora temos de considerar a segunda parte da oferta, a qual nos mostra o que deve ser feito com relação aos pecados dos cristãos. Números 19.5 diz: “À vista dele será queimada a novilha”. Esse sacrifício é único, porque a novilha não era simplesmente queimada, mas “o couro, a carne, o sangue e o excremento, tudo se queimará. E o sacerdote, tomando pau de cedro, hissopo, e estofo carmesim, os lançará no meio do fogo que queima a novilha”. Deus julgou o pecado. Pouco depois de o sangue ser espargido, o resto do sangue era despejado no fogo. Então, a novilha inteira também era lançada no fogo. O sacerdote queimava a novilha inteira — couro, carne, sangue, excremento, tudo. Além disso, pau de cedro, hissopo e estofo carmesim eram todos lançados no meio da fogueira. No versículo 9 é-nos dito o que acontecia depois que a novilha era queimada: “Um homem limpo ajuntará a cinza da novilha, e a depositará fora do arraial, num lugar limpo, e será ela guardada para a congregação dos filhos de Israel, para a água purificadora: é oferta pelo pecado”. Depois que a novilha era imolada, o sangue era aplicado. Mas depois que a novilha era queimada e tornava-se cinzas, as cinzas deviam ser aplicadas.
Que são cinzas? Cinzas são o estado final de tudo no mundo. Não estou me referindo às evidências da química, mas à nossa experiência diária. As cinzas são o último estado de todas as coisas. Se uma mesa passar seguidas vezes pela destruição, seu último estado será cinzas. Portanto, as cinzas representam o estado final. Quando alguma coisa chega ao seu fim máximo e não pode ser transformada em nada mais; ela é cinzas.
Tudo da novilha é queimado. Note particularmente aqui o sangue. Nessas cinzas estão o couro, a carne e o sangue. Isso significa que nessas cinzas estão a redenção de Cristo e a eterna eficácia de Sua redenção. Cristo é eternamente eficaz diante de Deus. Ele tornou-se as cinzas. O derramamento de Seu sangue é eternamente eficaz. Até mesmo o sangue tornou-se cinzas. A obra de redenção está consumada. A novilha vermelha retrata a obra redentora do Senhor, e essa obra agora tornou-se cinzas.
Há três outras coisas adicionadas à oferta: o pau de cedro, o hissopo e o estofo carmesim. Na Bíblia, quando o pau de cedro e o hissopo são colocados juntos denota todo o universo criado. O primeiro livro dos Reis 4.33 diz que Salomão tinha grande sabedoria; ele discorreu sobre todas as plantas, desde o cedro até ao hissopo; ele foi do alfa ao ômega. Ele esgotou todo o assunto. A Bíblia usa o cedro e o hissopo para representar o mundo todo. O cedro e o hissopo colocados no fogo indicam que, quando o Senhor Jesus foi julgado pelo pecado, Ele não somente foi queimado, mas todos nós também fomos. Deus julgou todos os homens na pessoa de Jesus de Nazaré. Quando o fogo passou sobre Ele, você e eu, o pau de cedro e o hissopo, tudo passou através do mesmo fogo. Tudo no mundo, seja grande ou pequeno, doce ou amargo, rico ou pobre, foi colocado sobre Ele e julgado por Deus. Aqui, o estofo carmesim também foi colocado no fogo. Isaías 1.18 diz que os nossos pecados são vermelhos como o carmesim. Por isso, carmesim significa pecado. Deus não somente nos julgou, como também julgou os nossos pecados; todos os pecados foram incluídos no Senhor Jesus. Quando Ele foi julgado por Deus, os pecados também o foram. Todos os problemas relacionados com o pecado também foram julgados. Portanto, o pau de cedro, o hissopo e o carmesim serem lançados ao fogo indicam que o mundo inteiro e todos os pecados do mundo conjuntamente passaram pelo fogo com o Senhor Jesus e tornaram-se cinzas. As cinzas incluem toda a obra do Senhor. Elas também incluem a nós e nossos pecados. Essas cinzas são eternamente eficazes. Portanto, essa obra tem uma eficácia que satisfaz todas as exigências de Deus perante Ele. Essas cinzas foram mantidas fora do arraial, num lugar limpo.
Números 19.11 em diante diz-nos sobre a função das cinzas. “Aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, imundo será sete dias. Ao terceiro dia e ao sétimo dia se purificará com esta água”. O versículo 9 diz-nos sobre essa água purificadora. “Um homem limpo ajuntará a cinza da novilha, e a depositará fora do arraial, num lugar limpo, e será ela guardada para a congregação dos filhos de Israel, para a água purificadora; é oferta pelo pecado”. A purificação aqui se refere à purificação por tocar num cadáver. Por que o fato de tocar num cadáver é considerado impuro? Porque a morte é a evidência do pecado. Sem pecado não haveria morte. Portanto, onde a morte estiver, o pecado também estará. Um cadáver indica que o pecado realizou sua obra. O resultado da obra do pecado é a morte. Por essa razão, o Antigo Testamento usa a lepra como um símbolo de pecado curável e um cadáver como um símbolo de pecado incurável. Quando um homem está morto em pecado e transgressões e está, portanto, morto em sua carne, ele é um cadáver. O Senhor Jesus fala sobre esses mortos. Ele nos disse para deixarmos os mortos enterrarem os mortos (Mt 8.22). Se você tocar nesses mortos, se tiver relacionamento com o mundo, se fizer amizade com ele e viver no meio dele, você estará tocando cadáveres. Se tocar em cadáveres, você certamente será contaminado, ficará manchado com impurezas. Quando os cristãos pecam e fracassam contatando o mundo, as cinzas são necessárias.
As cinzas são a obra da cruz. Elas são colocadas em água viva (Nm 19.17 - IBB - Rev.), e tornam-se a água purificadora. A água viva tipifica o Espírito Santo. Certa vez, enquanto os filhos de Israel viajavam, eles feriram a rocha, e dela saiu água (Êx 17.6). A Primeira Epístola aos Coríntios 10.4 diz que a rocha era Cristo. Portanto, a água corrente refere-se ao que flui de Cristo, que é o Espírito Santo. Tomar água e fazer dela a água purificadora significa que há necessidade de que o Espírito esteja sobre nós. Sem a obra do Espírito Santo, a obra do Senhor Jesus será em vão. Se houver somente as cinzas da novilha vermelha, sem água viva, elas não serão muito úteis. Juntamente com a obra do Senhor Jesus, ainda há a necessidade do Espírito Santo. Seremos purificados e lavados somente pela união dos dois. O Senhor Jesus não tem de morrer novamente. Para nossa purificação simplesmente aplicamos a eficácia da obra única do Senhor. As cinzas da novilha vermelha representam a eficácia eterna e imutável da obra do Senhor na cruz. É esta eficácia que está nos purificando. Por causa da morte do Senhor Jesus, a eficácia de Suas cinzas tornou-se eterna, e por meio do Espírito Santo Ele agora está aplicando essa eficácia a nós.
Toda vez que pecamos, não precisamos novamente trazer um touro a Deus. A eficácia da obra do Senhor há dois mil anos continua até hoje. Por meio destas cinzas somos purificados.
Que acontece se um homem não for purificado? Números 19.12 diz: “Ao terceiro dia o mesmo se purificará com aquela água [a água purificadora], e ao sétimo dia se tornará limpo: mas, se ao terceiro dia não se purificar, não se tornará limpo ao sétimo dia” (IBB - Rev.). Por que tal pessoa fica impura até ao sétimo dia? O homem purifica-se ao terceiro dia, mas não fica puro até ao sétimo dia. Ele não fica puro até ao sétimo dia, porque a meta é o sétimo dia, não o terceiro. O terceiro dia é o dia da ressurreição do Senhor Jesus. Depois que o Senhor ressuscitou, Ele nos deu a palavra do perdão de pecado. Então, que é o sétimo dia? Na Bíblia, o sétimo dia é o sábado. Hebreus 4:9 nos diz que há outro sábado. É o grande e universal sábado que ocorrerá no milênio. Isso significa que, se uma pessoa não for purificada na era da ressurreição do Senhor, ela não será limpa na era do reino. Se ela for purificada hoje, estará limpa ao sétimo dia, a era do reino. O terceiro dia é para o sétimo dia. O problema é com o sétimo dia. A eternidade foi estabelecida. O fato de sermos filhos de Deus nesta era também foi estabelecido. Todas as outras questões foram estabelecidas. O único problema hoje é se estaremos puros no reino.
No final desta parte, Números 19.13 diz: “Todo aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, e não se purificar, contamina o tabernáculo do Senhor”. Que é o tabernáculo do Senhor? O tabernáculo do Senhor, hoje, não é um salão de reuniões nem alguma capela; é o nosso corpo. Se um homem destruir o seu corpo, Deus o destruirá (1 Co 3.17). Se um homem contaminar o seu corpo, Deus dirá: “Essa pessoa será eliminada de Israel” (Nm 19.13b). Tal pessoa será eliminada de Israel. Não diz que ela será eliminada do Egito, mas de Israel. Isso significa que na época em que os filhos de Deus reinarem no milênio, essa pessoa será mantida fora. Se uma pessoa não for purificada hoje, ela será mantida fora do reino no futuro.
Em seguida lemos: “Porque a água purificadora não foi espargida sobre ele, imundo será: está nele ainda a sua imundícia”. Todos os pecados não confessados e todos os pecados que não passaram pelo sangue do Senhor Jesus deixam suas imundícias na pessoa. Essa imundícia levará tal pessoa a perder sua parte no reino vindouro. Por outro lado, aqueles que tiverem sido limpos pela água purificadora estarão puros no reino. Deixe-me dizer-lhe uma coisa: Nenhum pecado de que se tenha arrependido, confessado e posto debaixo do sangue do Senhor Jesus, e sobre o qual as cinzas tenham sido aplicadas, poderá manifestar-se no trono de julgamento. A água purificadora é capaz de remover as impurezas, porque o poder do sangue está nela. É o poder da redenção nessa água que a capacita a remover a impureza. Todo pecado que não tiver a eficácia da redenção do Senhor aplicada a ele, deixará a pessoa impura até ao “sétimo dia”. Portanto, não deixe que seus pecados permaneçam em você. As impurezas devem ser removidas com as cinzas do Senhor Jesus. Agradeço ao Senhor que o Filho de Deus não precisa mais morrer por mim. Por Suas cinzas estou purificado. Contudo, é tolice, e também é perigoso, permitir que qualquer impureza permaneça.
WATCHMAN NEE
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