O budismo é uma religião de abrangência e importância
mundial. Está presente em todos continentes, com evidente predominância na
Ásia, a ponto de ser designado como a “Luz da Ásia”. Já foi a religião oficial
da Índia – pátria mãe do budismo – durante o século III a.C., onde praticamente
desapareceu.
É importante destacar que embora o budismo possua profunda
característica religiosa nos dias atuais, é um movimento “sem deus ou deuses”,
o que faz muitos budistas afirmarem que se trata apenas de uma filosofia de
vida ou então um simples caminho de crescimento espiritual, através dos ensinos
deixados por Buda.
Sidharta Gautama – ou Gautama Buda – o fundador do budismo,
não acreditava em deuses, o que fez da literatura monástica budista um
movimento onde o conceito de divindade seja insignificante ou até mesmo nulo.
Interessante é notar que com o tempo o próprio Gautama foi
endeusado por seus seguidores, a ponto de ser visto, sejam em templos ou nas
casas de seus seguidores, estátuas que simbolizam Buda, sejam estas minúsculas
ou colossais que remetem os budistas à idolatria e adoração ao fundador deste
sistema de crença/filosofia.
SIDHARTA GAUTAMA
A origem do budismo está totalmente ligada à vida de
Sidharta Gautama. Este homem nasceu em torno de 563 a.C. vivendo até 483 a.C..
Ele nasceu na região noroeste da Índia, nas planícies de Lumbini, que hoje
pertence ao Nepal, ao sul deste país.
As histórias a respeito do budismo – segundo a tradição –
apontam Gautama como um príncipe que teve a vida severamente protegida por seu
pai, chamado Sudodana, um importante governante/nobre.
Aos 16 anos Gautama já era dono de três palácios, o que
evidencia sua vida aristocrática. Aos 19 anos casou-se.
A GRANDE RENÚNCIA
Com aproximadamente 29 anos de idade, Gautama decide conhecer
o mundo que se encontrava além das muralhas que o cercava. Ele pode contemplar
quatro cenas até então desconhecidas: ele se deparou com um ancião, em seguida
com um doente, um defunto e um asceta, cada um em determinado momento. Tais
encontros o levaram a um profundo período de reflexões sobre o real sentido da
vida, até que decidiu abandonar sua vida de conforto e luxo, bem como sua
família, para então integrar um grupo de monges.
Vale lembrar que a expressão Buda não corresponde a um nome
próprio, mas a um título aplicado a Gautama. Buda significa Iluminado, Sábio, O
Bem Aventurado.
Este título foi aplicado a Gautama devido a sua insatisfação
com a vida material que o levou a abandonar todo mundo que o rodeava, fato este
conhecido por “A Grande Renúncia”.
Ao abandonar tudo, Gautama se tornou um asceta errante à
procura de iluminação. Conta a tradição budista que após 6 ou 7 anos de
peregrinações, Gautama encontrou o chamado “Verdadeiro Caminho” após profunda
meditação abaixo de uma figueira designada por árvore bodhi (Árvore da
Sabedoria) onde Gautama Buda atingiu o Nirvana e a partir deste instante
desenvolveu todo corpo doutrinário do budismo. Não vamos nos ater aos ensinos
budistas propriamente ditos neste momento, mas sim ao aspecto histórico.
EXPANSÃO
Após a morte de Gautama, o budismo avançou pela Índia e
enviou missionários para diversos países asiáticos. É justamente no continente
asiático que o budismo concentra o maior número de praticantes.
No ocidente consta o registro da construção do primeiro
templo budista nos Estados Unidos, no ano de 1898 na cidade de São Francisco. Em
1906 é fundada na Inglaterra a Sociedade Budista da Inglaterra. Na França, no
ano de 1929 foi fundada a Sociedade dos Amigos dos Budistas. No Brasil o
budismo chegou na década de 20.
O NIRVANA
Sidharta Gautama atingiu o Nirvana após profunda meditação.
Este estado onde Gautama adentrou o levou a profunda compreensão da realidade,
que é mais que transitória, ou seja, é uma realidade absoluta além do tempo e
espaço. Neste estado, Gautama pode dominar seu desejo de viver, e isso não mais
o prenderia à matéria. O benefício que Gautama descobriu foi que não haveria
mais necessidades de retornar ao corpo material em novas encarnações: o ciclo
de reencarnações estaria encerrado.
Gautama descobriu que o caminho ficou aberto para que ele
pudesse abandonar o mundo e atingir o Nirvana Final. O Nirvana Final é como um
eterno apagar de luzes. No seu entendimento, a alma não é eterna. Sendo assim,
a alma, após sofrer inúmeras reencarnações se tornaria como o fogo de uma
lamparina, que se passa de uma para outra, até finalmente extinguir-se. O
Nirvana Final não é um estado de gozo e alegria eterna, mas sim um triste fim
de inúmeros ciclos de vida que não levaram a lugar algum. É simplesmente, no
entendimento budista, o fim da reencarnação.
ENSINOS: BASE DOUTRINÁRIA
Após a iluminação, Gautama (a partir de agora “Buda”) fez
seu primeiro sermão, conhecido como Sermão de Benares, pois foi feito na
localidade de Benares, atual Varanasi, cidade ao norte da Índia. Este sermão é
conhecido como As 4 nobres verdades.
As 4 nobres verdades sobre o sofrimento:
1) A verdade santa sobre o sofrimento:
Tudo no mundo é sofrimento. Nascer, envelhecer, morrer,
estar unido às coisas que não trazem satisfação, separar de coisas agradáveis,
não conseguir aquilo que queremos. Tudo isso corresponde a sofrimento intenso.
Para o Budismo, como tudo é passageiro, a vida é marcada pelo sofrimento.
2) A causa do sofrimento:
Buda afirma que todo sofrimento humano tem como causa comum
o desejo. Como o desejo pelas coisas acarreta obstinação, o homem nunca
conseguirá saciar por completo seus desejos, e isso produz sofrimento.
3) A suspensão; a cura do sofrimento:
Para encerrar o sofrimento, os desejos devem ser dominados.
Após dominar o desejo, o estopim do Nirvana é aceso. O homem precisa enfrentar
sua ignorância para se libertar dos desejos. A ignorância produz desejo, o
desejo produz atividade, a atividade traz renascimento e este produz mais
ignorância. Vencer a ignorância rompe o círculo vicioso.
4) O caminho para cura do sofrimento:
Para Buda, a cura para o sofrimento e libertação dos ciclos
de renascimento é possível ao seguir-se o Caminho das Oito Vias, ou Nobre
Caminho Óctuplo, este pode ser resumido assim:
Nobre Caminho Óctuplo
1. Crença justa ou livre de superstição e de engano;
2. Resolução justa, não causando dano a nenhum ser vivo;
3. Palavra justa, bondosa, franca e verdadeira;
4. Ato justo, honesto, pacífico e puro;
5. Visão justa, elevada e digna de um homem inteligente e
sincero;
6. Esforço justo, para desenvolvimento e domínio próprio;
7. Pensamento justo, ativo e vigilante;
8. Meditação justa, profunda sobre a realidade da vida.
ADEPTOS NO MUNDO
O budismo é uma religião de abrangência mundial, com
predominância em países asiáticos como China, Mongólia, Mianmar, Tailândia,
Camboja, Nepal e Japão.
Estima-se que cerca de 5,9% da população mundial (algo em
torno de 380 milhões de pessoas) confessem o credo Budista. No Brasil existe a
estimativa de que 0,15% da população (cerca de 280 mil pessoas) sejam budistas.
ESCOLAS BUDISTAS
O budismo possui divisões que são chamadas de “Escolas”,
conforme a doutrina seguida. Originalmente o budismo era formado por cerca de
18 escolas. Com o passar dos anos muitas destas escolas deixaram de existir ou
foram absorvidas pelos movimentos hoje existentes. Os demais grupos ou partidos
que confessam variações do budismo são frutos destas correntes principais, a
Maaiana e Teravada.
BUDISMO MAAIANA (OU MAHAYANA)
A Escola Maaiana teve origem em 185 a.C., sendo designada
como “Escola Maior”, “Veículo Maior” ou “Caminho de Muitos”. Em contraste com a
Teravada (Escola mais tradicional), a Maaiana é um segmento budista mais
liberal. Sua presença é marcante nos países do norte asiático, como Coréia,
Japão, China, Tibet, Nepal, Indonésia e Vietnã.
Para os Maaianas, Buda é considerado um ser divino, pois
acreditam que ele optou em abdicar do Nirvana Final para ficar por mais tempo
na Terra ensinando os sofredores. Para esta Escola, o amor e compaixão são
considerados fundamentais, sendo assim, para os Maaianas, aquelas pessoas que
buscam a iluminação (no campo pessoal/individual), são considerados seres egoístas.
Esta Escola possui características particulares que a levou
a posição de destaque em relação à Teravada. Isso se dá por sua capacidade de
adaptação cultural, às questões do cotidiano, à compaixão e amor e ao
sincretismo religioso. A Maaiana é contrária e rejeita o asceticismo extremo
dos Teravadas, crendo que toda e qualquer pessoa, mesmo sendo leiga, possa
alcançar a iluminação.
ESCOLA TERAVADA (OU THERAVADA / HINAYANA)
A palavra Hinayana significa “Pequeno Veículo”, em contraste
com a Escola vista anteriormente. É a segunda grande divisão do budismo,
prevalecendo ao sul asiático, em países como Sri Lanka, Mianmar, Tailândia,
Laos e Camboja. É considerado o lado mais conservador do budismo, cuja expansão
significativa ocorreu em torno do século III a.C.
Diferente dos Maaianas, os Teravadas crêem que leigos não
podem atingir a iluminação, sendo assim, apenas os monges podem alcançar este
objetivo final. A dádiva maior para um leigo é poder reencarnar como um monge
numa futura existência.
O asceticismo é marca desta corrente. No entanto vale a
ressalva que ambas as Escolas prestam grande reverência a pessoa de Buda
(Sidharta Gautama).
DEMAIS GRUPOS BUDISTAS
O budismo possui outras facções que surgiram ao longo da
história, como por exemplo, o budismo Nichiren-Shoshu, Soka Gakkai e o
Zen-Budismo.
ZEN-BUDISMO
É muito comum nos dias de hoje ouvirmos a expressão “Zen”.
Quando uma pessoa está ou é quieta e pensativa, logo surge alguém para
rotulá-la como alguém Zen. De onde vem tal costume?
Os grande pioneiros do Zen-Budismo no Japão foram Eisai, que
fundou a seita Rinzai em torno de 1191 e Dogen, que fundou a seita Soto em
1227.
O vocábulo Zen significa algo como “meditação”. O
Zen-Budismo tem sido propagado de forma crescente no ocidente, desde sua
chegada entre o entre os séculos XIX e XX através de D.T. Suzuki.
O Zen é uma mistura eclética de várias correntes. Possui,
por exemplo, a característica Maaiana de que todas as pessoas podem ser
iluminadas. Possuí também traços do panteísmo, crendo que o cosmos é “um no
todo”. A ioga é prática comum para os zen-budistas.
Não existe concepção do divino para o Zen. Os praticantes
devem se submeter a intenso esforço próprio, meditação e muito treinamento em
direção à iluminação.
Assim como tem acontecido com os fenômenos espiritualistas
do Movimento Nova Era, o ingresso de tantas pessoas nas Escolas Budistas se dá
pela combinação de frustração com o materialismo e o fascínio pela
espiritualidade oriental.
PARALELOS E PERPENDICULARES
Algumas escolas e faculdades teológicas trazem em sua grade
curricular uma disciplina chamada “Religiões Comparadas”. Faremos exatamente
isso aqui: comparar aquilo que cremos e praticamos em matéria de fé
(cristianismo) com o budismo. Focamos até o momento os estudos no aspecto
histórico do budismo. Agora faremos a comparação com o Cristianismo.
TENTATIVAS DE TRAÇAR PARALELO
É um fato que os ecumênicos de plantão sempre farão esforço
para traçar paralelo forçado entre as religiões e crenças. Por mais que os
propósitos e crenças sejam totalmente incompatíveis, haverá sempre alguém
disposto a gritar com toda força que todos os caminhos levam a Deus, ou que
todas as religiões são boas, ou que somos todos filhos do mesmo Pai. Os que
tentam fazer paralelo entre cristianismo e budismo, normalmente trabalham no
seguinte eixo, comparando Jesus Cristo com Buda:
a) os discursos: ambos se levantaram na sociedade de sua
época e seu povo, em dado momento, para trazer seus ensinos iluminados,
formando assim discípulos e tornando-se grandes mestres e exemplos para
posteridade;
b) ensinos espirituais: ambos buscam levar o homem ao
desprendimento material e a voltar-se para o lado espiritual. A busca
desenfreada pelos prazeres materiais leva a frustração;
c) o amor: dentro do cristianismo o amor é fundamental. O
ensinamento de Jesus (segundo grande mandamento) é que os seus devem amar o
próximo como a si mesmo; amar os inimigos é um ensino moral do Cristianismo.
Para os budistas, principalmente da Escola Maaiana, o amor e compaixão são dois
alvos, duas virtudes, dois objetivos a se alcançar. O budista que vive uma vida
regrada nos ensinos de Buda procura uma vida correta e amorosa.
A REALIDADE PERPENDICULAR
Apesar das grandes tentativas de harmonizar Jesus com Buda,
a mistura não é possível. É água e óleo.
Embora os princípios de boa moral, vida regrada, amor ao
próximo e misericórdia estarem presentes no budismo e no cristianismo, cada
caminho é um caminho, cada qual ensina pontos fundamentais distintos e não é
possível transitar em duas estradas ao mesmo tempo. A fé cristã é completamente
divergente do que se apregoa no budismo.
É preciso traçar um comparativo doutrinário para, de forma
resumida e eficaz, verificar se a base doutrinária cristã – Deus, Jesus Cristo,
Espírito Santo, Bíblia e Salvação – é a mesma base doutrinária do budismo.
Vejamos se há compatibilidade (para informação adicional, leia os ensaios “O
exclusivismo cristão”, “Pluralismo Religioso”):
Quadro
Comparativo Doutrinário: Budismo e Cristianismo
Foco
|
Budismo
|
Cristianismo
|
Deus
|
No
Budismo existem dois entendimentos sobre Deus; ou Ele é ignorado, pois não
pode interferir na vida das pessoas; ou Deus é tudo e tudo é Deus
(panteísmo). Apesar de não glorificarem a Deus, Buda foi “endeusado” por seus
seguidores.
|
Deus é
soberano, é o Todo-poderoso, Pai bondoso. É o único Deus e Se revela e Se
relaciona com os que O buscam – Gn 1.1; Êx 3.14; Sl 47.2,7,8; 139; Is
40.12-18; 43.11; 44.6; 1Jo 4.8.
|
Jesus
|
Jesus
foi um grande mestre, professor puro da mais alta moral, uma reencarnação de
um buda. Alguns creem que Ele peregrinou até o Tibet e Índia.
|
Jesus
Cristo é Deus Filho, a segunda pessoa da Trindade – Is 9.6; Mt 1.23; Jo 1.1;
10.30; 14.9; 20.28; Rm 9.5; 2Co 4.4; 1Ts 2.3; Cl 1.15; 2.9; Fp 2.5-7; 1Jo
5.20.
|
Espírito
Santo
|
Não
possui nada formulado ou entendido sobre o Espírito Santo.
|
O
Espírito Santo é a terceira pessoa da Trindade Divina – Sl 139.7-12; 143.10;
Jo 16.7-14; At 5.3-4; 10.19-20; 2Co 3.17; Ef 4.30; 1Ts 5.19.
|
Bíblia
|
Despreza
a Bíblia como Palavra de Deus; seus ensinos estão estruturados num conjunto
de três obras literárias chamadas de Triptaka.
|
A
Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus inspirada – Sl 19.7-10,119; Jo 17.17; 1Tm
4.9; 2Tm 3.16; Hb 4.12-13; 2Pe 1.20-21.
|
Salvação
|
Não
existe vida eterna com Deus; não há alegria ou gozo eterno, apenas o encerrar
das reencarnações e o “apagar de luzes” do Nirvana Final.
|
Salvação
pela graça, mediante a fé em Jesus Cristo. A morte reserva a vida eterna ao
lado de Deus. A crença está em torno da ressurreição dos mortos, não
existindo possibilidade de reencarnação – Jo 3.16; 14.6; At 14.12;Rm 3.23-26;
10.9-10; Gl 2.16; Ef 2.8-9; Tt 3.4-5.
|
CONCLUINDO
Por mais nobre que sejam as motivações, não há como tentar
conciliar a prática budista com a fé cristã. As cosmovisões são opostas,
completamente divergentes.
Concordo com a afirmação incisiva de Josh McDowell:
Há divergências
radicais entre o budismo e o cristianismo que tornam impossível qualquer
tentativa de reconciliação entre as duas crenças.[1]
Como vimos, o entendimento sobre os pilares elementares do
cristianismo é muito avesso no budismo; apesar do segundo ensinar muitas coisas
nobres, diverge significativamente do primeiro.
O cristianismo é uma fé baseada em Jesus Cristo
exclusivamente, e como Ele afirmou ser o único caminho e único mediador (Jo
14.6; 1Tm 2.15), pela fé e pela razão, confiamos nossas vidas apenas em Jesus
Cristo
NOTAS
[1] MCDOWELL, Josh. Respostas convincentes. São Paulo: Editora
Hagnos, 2006. p.312