O livro de Atos dos apóstolos, escrito, segundo a maioria
dos estudiosos, por Lucas, apresenta muitas informações sobre a igreja
primitiva. O começo da história da igreja pode ser melhor entendida ao lermos o
livro de Atos. Os discípulos e apóstolos precisavam de muito bom ânimo para
instituírem o começo do cristianismo. É um livro histórico com algumas
revelações interessantes de como os cristãos eram no começo. Atos 6 pode ser
curto, possui apenas quinze versículos, mas é um capítulo bem interessante, em um
livro que desperta a curiosidade do leitor.
O estudo bíblico deste capítulo nos faz conhecer como os
diáconos foram instituídos na igreja. Quem não sabe o que é diácono pode ler
Atos 6 para aprender o que eram – ou quem eram – os diáconos e como surgiram os
primeiros diáconos na igreja primitiva.
O autor do livro de Atos dos apóstolos faz questão de
mostrar como viviam os cristãos na igreja primitiva. O estudo bíblico desta
parte da bíblia pode ser muito importante para entender como se comportavam os
fiéis naquela época e quais as principais dificuldades encontradas pelos
cristãos no começo da igreja.
Helenistas e Hebreus
Assim que começamos o estudo bíblico de Atos 6, podemos ver
uma expressão curiosa: os helenistas. Como o nome sugere, este termo tem a ver
com os gregos. Helenistas era um termo para designar os judeus que falavam
grego. A maior parte dos helenistas eram judeus que viviam fora da Palestina.
Para entender um pouco melhor o que é escrito aqui, precisamos entender quem
eram os helenistas. Eles viviam em assentamentos fora de Israel, também
conhecidos como dispersão ou diáspora.
Por outro lado, a expressão hebreus, também citada neste
trecho, é uma expressão mais conhecida e refere-se aos judeus que falavam
aramaico. Eram judeus nascidos na Palestina. Os hebreus eram judeus palestinos.
Podemos ver no versículo um de Atos dos apóstolos que os
helenistas estavam se sentido descriminados pelos demais membros da igreja
primitiva.
Outra prática relatada era a de dividir tudo em comum era
uma prática da igreja cristã na época. Também é ressaltado como se
multiplicavam o número de discípulos, como a igreja cristã crescia no começo.
Após o dia de Pentecostes, descrito em Atos 2, os cristãos dividiam tudo em
comum. Era uma forma, como vimos no estudo bíblico de Atos 2, de manter a comunidade
unida e firme, sobrevivendo às perseguições e ameaças. Apesar deste espírito de
amor, algumas tensões começaram a surgir na igreja. Provavelmente aqui é
relatado o primeiro problema interno da igreja cristã, uma possível
discriminação. Provavelmente, a discriminação cultural fez com que os hebreus
recebessem privilégios em relação aos helenistas. Essa discriminação não era à
toa. vamos fazer uma análise para entender o que acontecia. Historicamente
sabe-se que os judeus que não eram da Palestina sofriam certo preconceito,
mesmo antes do cristianismo. Os judeus que não falavam aramaico eram
considerados mundanos, ou liberais. De repente, ver esses ‘mundanos’ como
irmãos foi difícil para os hebreus que se convertiam ao cristianismo.
Diáconos
A partir deste problema, foram instituídos os diáconos na
igreja cristã. Aliás, a instituição de auxiliares já era uma prática antiga,
mesmo antes do cristianismo, os judeus tinha auxiliares para os trabalhos da
igreja. Em Êxodo 18.17 podemos ler sobre a instituição de auxiliares para
Moisés. De acordo com Atos, a nomeação de diáconos deve ser feita em critérios
bem específicos e claros. Todo pastor ou líder religioso que deseja instituir
diáconos em sua igreja deve ler o livro de Atos 6.
Em Atos 6.2 lemos a expressão ‘para servir as mesas’, isto
significa servir as mesas das viúvas com dinheiro, como em João 2.15. Uma
curiosidade bíblica é que a expressão servir em grego é que dá origem à palavra
diácono. No entanto, vale ressaltar que os diáconos aqui citados eram apenas
servos e não os diáconos como conhecemos hoje, que possuem uma função na
igreja.
No versículo três podemos ler sobre as qualificações para a
escolha das pessoas em questão: devem ser cristãos, de boa reputação, com
conhecimento espiritual e sábios.
O curioso ao ler sobre a instituição dos diáconos é que o
texto menciona a escolha de Estevão e Filipe, dois cristãos que tiveram um
trabalho evangelístico importante. O mais interessante é que todos os demais
tinham nome grego, por isso, muitos estudiosos da bíblia defendem que eram
helenistas. Mas foram Estevão e Filipe que tiveram um ministério proeminente,
graças a sua atuação fervorosa.
Podemos ler que era costume, desde então, impor as mãos,
como podemos ler em Atos 6.7. Este ato era uma formalização do serviço, pois
impor as mãos servia como um sinal de aliança, elo, entre as duas partes
envolvidas no ato. Esta imposição de mãos serve para cura, como lemos em Marcos
5.23. Também para comunicação do espírito – Atos 8.17, Atos 9.17 e Atos 19.6.
E, por fim, como indicação para um serviço especial, como é o caso aqui e
também em Atos 13.3 e 1 Timóteo 4.14.
Estevão
O grande número de sacerdotes presente em Jerusalém,
relatado em Atos 6.7 condiz com escritos do historiador judeu Josefo. Há
estudiosos que defendem que o rompimento do véu serviu para a conversão destes
sacerdotes.
A partir do versículo 8, lemos a história de Estevão no
Sinédrio, que era, como vimos no estudo bíblico de Atos 4 , um grupo de judeus
autorizados pelos romanos a debater e reger os assuntos religiosos da
comunidade.
No versículo 9, de Atos 6, podemos ler sobre a sinagoga dos
Libertos. Segundo estudos bíblicos, era um lugar onde haviam muitos judeus que
falavam grego, de família de escravos dos romanos, que foram libertos mais
tarde, daí o nome. Ali, judeus se reuniam para estudar e debater as escrituras
sagradas. As sinagogas, assim como hoje, eram o centro da comunidade judaica.
Na época romana, isso era mais evidente.
No versículo 11, a expressão “subornaram” também pode ser
traduzida para instigaram em segredo.
Os versículos 13 e 14 nos faz crer que Estevão se referia às
palavras relatadas em João 2.9, mas que teriam sido distorcidas pelos seus
inimigos.
A história de Atos nos faz perceber que os judeus combatiam
o cristianismo pregando que a nova religião vinha para quebrar e destruir os
costumes de Moisés. Ainda hoje, infelizmente, esta é a visão que muitos judeus
têm do cristianismo, uma religião que tem por objetivo combater o judaísmo, o
que não é verdade. O cristianismo, na verdade, complementa o judaísmo, tendo o
messias judeu como seu principal líder.
Como pudemos ler, Atos 6 traz boas curiosidades históricas.
Apesar de ser um capítulo curto, contém ensinamentos fundamentais, como a
instituição dos diáconos.
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