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VIDAS

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS. A VIDA ETERNA, DE RENÚNCIAS!

ESTUDO DA PALAVRA 2

O Caminho da Salvação — Fé Versus Amar a Deus ou Ser Batizado


Nos capítulos anteriores deste livro, vimos a necessidade de salvação por parte do homem e a preparação dessa salvação por Deus. Vimos os problemas que Deus encontrou quando preparou essa salvação para nós e como Ele resolveu completamente todos os problemas do pecado. Vimos também a maneira de receber a salvação. Visto que os homens entenderam a Bíblia de modo incorreto, eles apresentaram muitas condições para a salvação. Alguns querem ter um tipo de condição enquanto outros querem ter outro tipo.

Vimos que o homem não é salvo pela lei nem pelas obras. Ele não é salvo por arrependimento, oração ou confissão. O homem não é salvo por coisa alguma que ele tenha em si mesmo. Além dessas maneiras humanas, há ainda dois erros muito comuns na igreja. O primeiro é o conceito de que para ser salvo, o homem tem de amar a Deus. Se um homem não amar a Deus, ele não será salvo.

AMAR A DEUS NÃO É O CAMINHO DA SALVAÇÃO

Admito que 1 Coríntios 16 diz-nos que o homem deve amar a Deus. Se não ama a Deus, ele é amaldiçoado. Isso é um fato. Mas a Bíblia nos mostra claramente que o homem é salvo pela fé e não pelo amor. Alguns pensam que há evidências na Bíblia que provam que o homem é salvo por amar a Deus, e sem amar a Deus o homem não pode ser salvo. Há alguns pecadores que, quando o evangelho da salvação pela fé lhes é pregado, dizem que não podem ser salvos porque não amam a Deus completamente. Eles pensam que se realmente amarem a Deus e forem levados a Ele, Ele os salvará. Para eles, o homem é salvo por amar a Deus. Eles não percebem que o homem é salvo não por amar a Deus, mas porque Deus o ama. Foi Deus quem amou o mundo e deu Seu Filho unigênito, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). Do lado de Deus, é amor. Do nosso lado, é fé. A reação do homem não necessita ser igual à de Deus. Ele não tem de amar a Deus como Deus o ama. Não é dito que o homem precise amar tanto a Deus a ponto de dar seu filho a Deus para que Deus confie nele, dando a ele a vida eterna, não o deixando perecer. Não encontramos isso no Evangelho de João. Agradecemos a Deus porque foi Deus quem amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho unigênito. A Bíblia não nos diz que amamos a Deus primeiro, mas que Deus nos amou primeiro. A base da salvação não é que nós amamos a Deus, e, sim, que Deus nos ama. Se basearmos a nossa salvação em nosso amor a Deus e em nosso sacrifício por Ele, imediatamente veremos que a salvação que teríamos não seria segura. Nosso coração é como a areia do mar que vem e vai com a maré. Graças ao Senhor. Não é uma questão de nosso amor por Deus, mas do amor de Deus por nós.

A HISTÓRIA DO BOM SAMARITANO

Embora João 3 e outros lugares possam dizer o que dissemos, alguns podem perguntar: “E Lucas 10?” Vamos agora ler o que diz Lucas 10. Lucas 10.25 começa: “E eis que certo doutor da lei se levantou”. Esse homem tinha uma profissão errada. “Certo doutor da lei se levantou e O pôs à prova”. Seu motivo estava errado. Sua intenção não era correta. “Dizendo: Mestre”. Ele tinha um entendimento errado. Sua compreensão a respeito do Senhor estava errada. Ele não sabia quem o Senhor era. “Que farei para herdar a vida eterna?” Sua pergunta estava errada. Eis aqui um homem que estava errado em sua profissão, errado em seu motivo, errado em sua intenção, errado em seu conhecimento do Senhor, e errado na pergunta que fez. Ele perguntou: “Que farei para herdar a vida eterna?” Que disse Jesus? “Disse-lhe Jesus: Que está escrito na lei?” Você é um intérprete da lei. Você deveria ter conhecimento do que a lei diz. “Como lês?” Alguma coisa deve estar escrita na lei. Mas o homem pode estar errado ao interpretá-la. O Senhor está fazendo uma pergunta dupla. Que está escrito na lei, e que você compreendeu dela? Algumas vezes, a lei é escrita de uma maneira, mas o homem a interpreta de outra. “Ele respondeu”. Ele respondeu que isso é o que a lei diz e é assim que ele a interpreta. “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de toda a tua força e de toda a tua mente; e ao teu próximo como a ti mesmo”. Esse intérprete estava muito familiarizado com a lei. Ele sabia que o resumo da lei é amar a Deus de todo nosso coração, de toda nossa alma, de toda nossa força e de todo nosso entendimento, e amar ao próximo como a nós mesmos. Ele pôde resumir toda a lei nessa frase. Ele era um homem inteligente. Provavelmente todo aquele que vem pôr à prova é inteligente. Somente os inteligentes procuram pôr à prova. Que é pôr outros à prova? Os que querem ser ensinados fazem perguntas, e os que vêm pôr à prova também fazem perguntas. Os que querem aprender fazem perguntas porque não entendem. Os que querem pôr à prova fazem perguntas porque entendem. Alguns perguntam porque não entendem; eles vêm humildemente para ser ensinados. Alguns perguntam porque entendem; querem mostrar a você o quanto entendem. Essa é a razão de pôr à prova. Esse homem veio ao Senhor perguntando como ele poderia ser salvo. Ele disse que queria a vida eterna e a vida de Deus. Então, ele deveria fazer o quê? O Senhor disse: “Que está escrito na lei? Como lês?” O homem repetiu de cor. Ele sabia disso há muito tempo. É preciso amar a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de toda a sua força e de todo o seu entendimento e é preciso amar o próximo como a si mesmo. Ele sabia tudo isso. Eis por que ele repetiu essas palavras de maneira tão correta. Quando respondeu dessa maneira, o Senhor lhe disse para fazê-lo, e, então, ele teria condições de herdar a vida eterna. Aqui está um problema. O que quer que o Senhor Jesus quisesse dizer quando falou ao interprete, e quaisquer que fossem as circunstâncias, todos os que não estão familiarizados com a verdade e com o significado da palavra de Deus diriam: “Não está claro o bastante que para ter vida eterna um homem deve amar a Deus e amar seu próximo? Se um homem não ama a Deus e ao próximo, não é verdade que ele não poderá ter a vida eterna?” Apesar de o Evangelho de João mencionar oitenta e seis vezes que a vida eterna é obtida mediante a fé, alguns podem dizer que o Evangelho de Lucas diz ao menos uma vez que a vida eterna é obtida mediante o amor a Deus. Se um homem não amar a Deus ou a seu próximo, ele não tem possibilidade de ser salvo. Se for assim, gostaria de perguntar se algum de nós já amou a Deus dessa forma, isto é, com todo o coração, com toda a alma, com toda a força e com todo o entendimento. Não, ninguém amou assim. Não há uma só pessoa que ame a Deus com todo o coração, toda a alma, toda a força e todo o entendimento. Ninguém pode dizer que ama seu próximo como a si mesmo. Não há tal pessoa. Uma vez que não existe tal pessoa, ninguém ganharia a vida eterna. Precisamos compreender por que o Senhor Jesus disse que devemos amar a Deus com todo o nosso coração, toda a nossa alma, toda a nossa força e todo o nosso entendimento. Agradecemos ao Senhor porque a Bíblia é, sem dúvida, a revelação de Deus. Não há absolutamente erro algum nela. Eis a razão por que eu amo ler a Bíblia. Se essa passagem que começa em Lucas 10.25 terminasse no versículo 28, as verdades da Bíblia se contradiriam. Se fosse esse o caso, o homem teria de amar a Deus de todo o coração, toda a alma, toda a força e todo o entendimento. Nenhum desses quatro “todo” poderia ser esquecido. Mas se esse fosse o caso, ninguém jamais poderia ser salvo. Graças ao Senhor que após o versículo 28, há muito mais versículos. Vamos continuar a lê-los. Ainda bem que esse homem era muito importuno. Ele, porém, queria justificar-se. Ele fez essa pergunta por nenhuma outra razão senão justificar-se. “[Ele] perguntou a Jesus: quem é meu próximo?” O Senhor disse que ele tinha de amar ao Senhor seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de toda a sua força e de todo o seu entendimento e amar a seu próximo como a si mesmo. Seria grosseiro para ele perguntar quem seu Deus era. Poderia ele, um intérprete da lei, não saber quem nosso Deus é? Seria também difícil para ele perguntar quem ele próprio era, pois de todos os homens na terra somente os filósofos não sabem quem eles mesmos são. Sem nada mais para perguntar, ele perguntou quem era seu próximo. “Agora você está dizendo que eu tenho de amar meu próximo como a mim mesmo. Mas quem é meu próximo?” Do versículo 30 em diante, o Senhor lhe disse quem era seu próximo. Ele começou a contar-lhe uma história. Esta história é uma das mais comuns e familiares na igreja. Seria bom que a lêssemos juntos: “Jesus prosseguindo, disse: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó, caiu em mãos de salteadores, os quais, depois de o terem despojado e espancado, retiraram-se, deixando-o semimorto”. Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho; e, vendo-o, passou de largo. Semelhantemente, também um levita chegando àquele lugar e vendo-o, passou de largo. Mas certo samaritano, que ia de viagem, chegou perto dele e, vendo-o, moveu-se de compaixão. E, chegando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e o que quer que gastares a mais, eu to restituirei quando voltar. Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?”.

Estamos muito familiarizados com essa história. Vamos gastar algum tempo considerando-a. Esse homem ia do lugar de paz para o lugar de maldição. Jerusalém significa paz e Jericó significa maldição. Ele não ia de Jericó a Jerusalém, uma viagem ascendente. Era de Jerusalém a Jericó, uma viagem descendente. Ele ia de um lugar de paz para um lugar de maldição. Esse homem estava na condição descendente. Ele encontrou salteadores no caminho. Não era um salteador, mas uma quadrilha de salteadores, que lhe roubaram tudo o que tinha, despiram-no de suas vestes e o deixaram nu. Eles o agrediram até que ficasse semimorto; ele estava a ponto de perder a própria vida. A Bíblia nos mostra que as vestes de um homem são seus atos e o ser de um homem é sua vida. Aqui os atos brilhantes são roubados e levados embora. A vida que permanece somente tem um corpo que está vivo; o espírito está morto. Esse é um homem semimorto. Todos os leitores da Bíblia sabem que essa é a descrição da nossa pessoa. Desde o tempo em que o homem foi tentado pela serpente no jardim do Éden e desde que começou a pecar, ele nunca experimentou paz na jornada de sua vida. O homem é continuamente tentado por Satanás. O resultado é que todos os seus atos exteriores são levados embora. Até seu espírito está mortificado. Ele está vivo quanto ao corpo, mas morto quanto ao espírito. O homem nada pode fazer quanto a sua condição. Ele pode apenas esperar que os outros venham e o salvem.Um sacerdote vinha por ali. Ao ver esse homem, ele passou de largo. Um levita também vinha. Após ver o homem, ele também passou de largo. Os sacerdotes e os levitas são os dois principais grupos de pessoas no Antigo Testamento. No Antigo Testamento toda a lei está nas mãos dos sacerdotes e dos levitas. Se você tirar os sacerdotes e os levitas, não haverá mais lei. Para um pecador semimorto, alguém subjugado por Satanás, à espera de ir para a destruição e não tendo virtudes exteriores, nada havia a fazer senão esperar pela morte. Que os sacerdotes lhe diriam? Os sacerdotes lhe diriam: “Ame o Senhor seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de toda a sua força e de todo o seu entendimento e você se levantará e andará”. O levita também viria e dir-lhe-ia: “Está certo. Mas você também deve amar ao seu próximo como a si mesmo”. Essas são as mensagens deles. Eis o que um sacerdote e um levita diriam a um homem à beira da morte. “É verdade que você está semimorto e que suas vestes brilhantes foram roubadas. Mas se fizer o bem poderá ser salvo”. Esse é o significado de amar a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de toda a sua força e de todo o seu entendimento. Isso é o que significa amar a Deus. Se você vir alguém que não tenha sido agredido, este alguém ainda pode ter o coração, a alma, a força e o entendimento para fazer algo. Ainda será possível para ele amar a Deus de todo o coração, de toda a alma, de toda a força e de todo o entendimento. Seria possível dizer-lhe isso se ele ainda estivesse em Jerusalém. Mas o problema hoje é que ele já não mais está em Jerusalém. Ele está em viagem e está morrendo. Esses mandamentos não podem ajudá-lo. Além disso, por favor, lembre-se de que hoje não é uma questão de dar nosso “todo”, mas de receber alguma ajuda. Eis aqui um homem que está doente e moribundo. Ele está vivendo em pecado. Ele não pode fazer coisa alguma quanto a sua própria condição. Se você disser a tal pecador para amar a Deus de todo o coração, alma, força e entendimento, ele lhe dirá que nunca amou a Deus em sua vida. Se você disser que ele tem de amar a seu próximo, ele lhe dirá que tem roubado os outros por toda a vida. Que você deveria dizer a um homem que está a um passo da eternidade? Nessa situação, os sacerdotes e os levitas não são de nenhuma ajuda. Eles apenas podem passar de largo. Quando eles vêem esse tipo de homem, eles não podem ajudá-lo. A palavra sobre amar a Deus de todo o coração, alma, força e entendimento e amar o próximo como a nós mesmos não é para nos ajudar a herdar a vida eterna. É apenas para mostrar-nos que tipo de pessoa somos. Se você nunca tiver ouvido uma palavra sobre amar a Deus, não saberá quão importante é amar a Deus. Se nunca tiver ouvido coisa alguma sobre amar seu próximo, você não saberá como é importante amar o próximo. Uma vez que tenha ouvido a palavra sobre amar seu próximo, você perceberá que nunca amou seu próximo. Realmente, as palavras na lei tais como amar a Deus, amar ao próximo, não cobiçar nem matar, existem apenas para expor nossa pecaminosidade. Elas nos mostram nossa condição. O propósito da lei, como Tiago disse, é simplesmente servir como espelho. Ela mostra quem você é. Você não sabe qual é a aparência do seu rosto. Mas se você olhar num espelho, verá o que você é. Antes você não sabia que não amava a Deus. Agora você sabe. Não somente não há o amor de todo o coração, toda a alma, toda a força e todo o entendimento, como também não há qualquer amor para com Deus. Não somente não há amor a Deus, não há nem mesmo amor pelo próximo. Os salteadores já roubaram você. Ainda assim você não sabe o que aconteceu. Agora, com a lei, você sabe. Você foi agredido pelos salteadores, deixado semimorto e despojado de suas vestes nem sabia disso. Agora você sabe. Que, então, fizeram os sacerdotes e os levitas? Eles vieram dizer a você: “Meu amigo, você sabe que foi agredido pelos salteadores? Sabe que suas vestes foram levadas? Sabe que você está semimorto?” Pouco depois chegou outra pessoa. Essa pessoa era o bom samaritano. “Certo samaritano, que ia de viagem, chegou perto”. Diferentemente dos outros dois, este estava em seu caminho. O sacerdote descia por acaso. O levita também descia por acaso. Mas o samaritano estava em seu caminho. Ele veio com o propósito de salvá-lo. “E, vendo-o, moveu-se de compaixão”. Ele teve amor e compaixão. Além disso tinha consigo óleo e vinho. Assim, ele pôde cuidar dos ferimentos do que fora agredido pelos salteadores. Quem é esse samaritano? João 4.9 nos diz que os judeus não se davam com os samaritanos. Todos os mencionados nessa história eram judeus. O que foi assaltado pelos salteadores era judeu. O sacerdote era judeu. O levita era judeu. Que representam os judeus? E que representam os samaritanos? Os judeus representam a nós seres humanos. E o samaritano? Os samaritanos nada têm a ver com os judeus. Eles não se misturam com os judeus. Eles estão separados dos judeus e acima deles. Sabemos que esse samaritano é o Senhor Jesus. Um dia, quando o Senhor Jesus estava na terra, um grupo de judeus criticou- O e O injuriou com duas afirmações muito fortes, dizendo que Ele era samaritano e que tinha demônio (Jo 8.48). Por favor, observe que na resposta de Jesus Ele disse que não tinha demônio. Os judeus disseram que Ele era samaritano e tinha demônio. O Senhor negou que tivesse demônio, mas não negou que fosse samaritano. Assim, o samaritano aqui se refere ao Senhor Jesus. João nos mostra que em tal tipologia Ele é um samaritano. Esse samaritano veio propositadamente a este homem semimorto. Quando viu o homem, foi movido de compaixão e o salvou com duas coisas. Uma foi vinho, e a outra, óleo. Ele derramou óleo e vinho, aplicou-os sobre as feridas e curou-as. Temos de ver que isso é após o Gólgota e após o Pentecoste. Não é em Belém. Se fosse em Belém, teria sido o vinho sobre o óleo. Mas desde Jerusalém e desde a casa de Cornélio, é o óleo sobre o vinho. O vinho representa a obra do Gólgota. O óleo representa a obra no dia da ressurreição e no dia de Pentecoste. O vinho é simbolizado pelo cálice na mesa do Senhor. Quando você fica doente, o que os irmãos responsáveis levam até sua casa é o óleo. O que está representado ali é o que é tratado aqui. Em outras palavras, o vinho é a obra de ressurreição, e o óleo é a obra de comunhão. O vinho simboliza o sangue do Senhor ao redimir-nos, e o óleo simboliza o Espírito Santo aplicando a obra do Senhor a nós. Isso é significativo. Se fosse derramado somente o óleo , sem o vinho, não haveria base para nossa salvação. Se não houvesse óleo, a salvação não teria qualquer efeito. Sem a cruz, seria injusto Deus perdoar nossos pecados. Significaria que Ele estava tratando com nossos pecados de maneira relaxada. Significaria que Ele estava mascarando nossos pecados. Mas sem o óleo, embora Deus pudesse ter cumprido a redenção em Seu Filho e resolvido o problema do nosso pecado, essa obra não poderia ser aplicada a nós; ainda estaríamos feridos.

Aqui vemos que há óleo e há vinho. Além do mais, o óleo é mencionado primeiro. É o Espírito Santo que tem aplicado a obra do Senhor sobre nós. Esse é o processo da salvação. É o óleo que é mesclado ao vinho. O Espírito Santo nada faz senão trazer até nós a obra do Senhor. Quão maravilhoso isso é! Muitas de nossas irmãs são enfermeiras. Também temos dois irmãos aqui que são médicos. Vocês sabem que a função do vinho é totalmente negativa? Ele é usado como desinfetante. Isso significa que a redenção do Senhor é para com os pecados imundos e passados. O óleo está ali para ajudar o vinho. Aqui, por um lado, há o remover do que estava no primeiro Adão. Por outro lado, há a nova vida proveniente do Espírito Santo. Somente por meio disso pode o homem moribundo ser curado. Mais tarde falarei mais sobre essa questão, se tiver oportunidade. Depois que o bom samaritano curou as feridas do homem agredido pelos salteadores, que aconteceu em seguida? Ele o colocou sobre a sua própria montaria. A montaria denota viagem. Com uma montaria você pode viajar sem dispender muito esforço. Quando há uma montaria, não tenho de viajar por meu próprio esforço; o meu animal me carregará. Onde ia o meu animal? Ele ia para a estalagem. Essa estalagem é a casa de Deus. Quando esse homem é levado até Deus, Deus cuida dele.

Qual é o significado de dois denários? Todos os metais na Bíblia têm seu significado. Ouro, na Bíblia, significa a natureza, vida, glória e justiça de Deus. Bronze, na Bíblia, significa julgamento de Deus. Todas as passagens, na Bíblia, que exigem julgamento têm bronze. O altar era de bronze, a bacia era de bronze e a serpente erguida no deserto era de bronze. Os pés do Senhor eram como bronze reluzente; eles são para esmagar. Na Bíblia, ferro significa autoridade política. Mas prata em toda a Bíblia significa redenção. Todas as vezes que a redenção é mencionada, a prata está presente. No Antigo Testamento o dinheiro pago pela redenção foi prata. Os dois denários aqui significam o preço da redenção. Os dois denários foram entregues ao hospedeiro. Essa é nossa salvação. Por causa disso, Deus aceitou todos os que confiam Nele. Espiritualmente falando, a hospedaria significa a casa celestial de Deus. Fisicamente falando, ela significa a igreja. “O que quer que gastares a mais, eu to restituirei quando voltar”. Após sermos salvos, estamos na igreja esperando pela volta do Senhor. Esses pontos não são meu assunto principal, mas eu os menciono de passagem.

O intérprete perguntou ao Senhor: “Quem é meu próximo?” Depois que o Senhor contou-lhe essa história, Ele dirigiu-se ao intérprete da lei com uma pergunta: “Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” Se ouvir cuidadosamente esta palavra, você perceberá que o Senhor estava dizendo ao intérprete que ele era aquele que caiu nas mãos dos salteadores. Muitos hoje aplicam essa passagem incorretamente. Eles pensam que o Senhor Jesus quer que amemos nosso próximo como a nós mesmos. Nas escolas bíblicas, na escola dominical e nos cultos de domingo, todos dizem às pessoas que elas têm de ser um bom samaritano. Você tem de amar o próximo, mostrar misericórdia para com ele e ajudá-lo. Para eles, quem é o próximo? É aquele que foi agredido pelos salteadores. E quem somos nós? Somos o bom samaritano. Mas isso é exatamente o oposto do que o Senhor Jesus estava dizendo. O que o Senhor queria dizer era que nós somos os que foram agredidos pelos salteadores. Quem, então, é nosso próximo? Nosso próximo é o bom samaritano.

Pensamos que somos o bom samaritano. Nós podemos mover-nos. Podemos andar. Quando vemos os subjugados pelo pecado, somos capazes de ajudá-los. Mas o Senhor Jesus disse que não somos o bom samaritano. Antes, precisamos do bom samaritano. Somos o homem ferido pelos salteadores na viagem. Somos os que estão à beira da morte. Não temos quaisquer boas obras. Quem é nosso próximo? Ele é o bom samaritano. Que é amar ao nosso próximo como a nós mesmos? Não é dito que devemos amar os outros como a nós mesmos. Significa que devemos amar o Salvador como a nós mesmos. Não significa que devemos primeiro amar os outros antes que possamos herdar a vida eterna. Antes, significa que se amarmos o Salvador, o Samaritano, certamente teremos vida eterna. O problema hoje é que o homem continuamente pensa em obras. Quando lê Lucas 10, ele diz a si próprio: “Alguém está ferido. Alguém está morrendo. Se eu cuidar dele e amá-lo, serei um bom samaritano e terei vida eterna”. Pensamos que quando ajudamos os outros, herdaremos a vida eterna. Mas o Senhor Jesus disse que se você permitir que alguém ajude você, você terá vida eterna. Ninguém entre nós está qualificado a ser o bom samaritano. Graças ao Senhor, não temos de ser o bom samaritano. Já temos um bom samaritano. Este samaritano, que outrora nada tinha a ver conosco, agora veio. Ele morreu e resolveu o problema dos pecados. Agora ressuscitou e nos deu redenção. Ele está nos ajudando e nos introduzindo no céu, para que Deus possa nos aceitar e cuidar de nós. Finalmente, temos o versículo 37: “Ele respondeu: O que usou de misericórdia para com ele”. Nesse momento, o intérprete respondeu corretamente. Ele respondeu que era o que usou de misericórdia para com ele. O que usa de misericórdia para comigo é meu próximo. Meu próximo é o samaritano que parou para derramar sobre meus ferimentos o óleo e o vinho, que me colocou sobre a montaria e me levou à hospedaria. Meu amigo, a questão toda não é ser o próximo de alguém. Antes, é aquele que usou de misericórdia para com você, tornar-se seu próximo.

O Senhor Jesus disse: “Vai, e faze tu de igual modo”. Essa palavra confunde muitas pessoas. Elas pensam que o Senhor estava nos dizendo para ajudar os outros. Mas o que esta palavra significa é que seu próximo é o bom samaritano. Portanto, você deve aceitá-Lo como seu Salvador. Uma vez que o seu próximo é o bom samaritano, você deve ser o que foi agredido pelos salteadores. Isso nos mostra que enquanto estávamos prostrados ali, Ele veio e nos salvou. Nunca diga que podemos fazer algo por nós mesmos. Nunca diga que temos o caminho. Ele está nos mostrando que devemos deixá-Lo fazer. Temos de deixá-Lo derramar óleo e vinho em nossas feridas. Temos de deixá-Lo curar nossos ferimentos. Temos de deixá-Lo colocar-nos sobre a montaria e levar-nos até a hospedaria. Temos de deixá-Lo fazer a obra de cuidar de nós. Temos de ser como aquele ferido. Não devemos ser como o samaritano. A maior falha humana é pensar que o homem deve fazer algo. O homem sempre quer ser seu próprio salvador. Ele sempre quer salvar os outros. Mas Deus não nos mandou ser o salvador. Deus diz que somos os que devem ser salvos. Assim, a palavra do Senhor respondeu totalmente à pergunta do intérprete. Isso não significa que não se deve amar a Deus com todo o coração, toda a alma, toda a força e todo o entendimento. A questão é se é capaz ou não de fazer isso. Não, nós não podemos fazê-lo. Temos uma vida ferida. Realmente, nossa condição verdadeira é que estamos mortos. Nosso corpo está vivo, mas nosso espírito está morto. Precisamos da salvação. Não podemos ajudar a Deus. Nem podemos ajudar ao homem. Se pensamos que podemos fazer algo, não experimentaremos o perdão dos pecados. A obra da cruz e a obra do Espírito Santo não virão sobre nós. Por isso, lembrem que Lucas 10.25-37 nunca nos diz que o homem é salvo por amar a Deus. Pelo contrário, é-nos dito que o samaritano compadeceu-se primeiro, antes que nós pudéssemos amar. É Ele quem ama primeiro, e então nós podemos amar. Antes que Ele nos ame, não podemos amar. É verdade que se algum homem não ama ao Senhor, ele é amaldiçoado. Podemos dizer isso. Em Lucas 7, o Senhor Jesus disse a Simão que a quem muito se perdoa, muito ama e a quem se perdoa pouco, pouco ama. O amor segue o perdão. Não é uma questão de que aquele que ama muito recebe muito perdão e aquele que ama pouco, recebe pouco. O quanto uma pessoa é perdoada, é o quanto ela ama. Um cristão ama ao Senhor porque Ele o salvou. Se você não consegue nem mesmo amar o Samaritano, então não sei o que dizer de você. Não há tal pessoa na terra. Não há uma pessoa na terra que não ame ao Senhor; todos devem amá-Lo ao menos um pouquinho. O Senhor disse que aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. Não diz que não há amor. Todos O amam em maior ou menor extensão. Contudo, a condição da salvação não é nosso amor. Se fui salvo porque amo ao Senhor, então qualquer pessoa pode ver que isso não é confiável. Dentro de dois ou três dias posso mudar muitas vezes. Sou alguém que foi agredido por salteadores. Eu estou prostrado ali. Nada posso fazer. Estou em fase terminal. Não amo ao Senhor de todo o meu coração e não amo ao meu próximo. Mas agora permito a Ele que me salve. Depois que me salvou, eu posso amá-Lo. Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro. É o amor de Deus em nós que produz o nosso amor por Ele. É totalmente impossível que nós por nós mesmos produzamos amor por Deus.

A SALVAÇÃO NÃO É PELO BATISMO

Agora temos de considerar outra questão. Algumas pessoas dizem que um homem não pode ser salvo sem ser batizado. Talvez alguns dentre nós não diríamos isso. Mas alguns que foram afetados pelo veneno da tradição do catolicismo romano podem estar cheios desse pensamento. Recentemente, alguns cooperadores e eu encontramos uns missionários ocidentais em Cantão. Todos eles davam muita atenção a essa questão do batismo. Há um determinado missionário em Hong Kong que é muito incisivo sobre essa questão. Eles certamente têm sua base nas Escrituras, que é Marcos 16.16: “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado”. Alguns podem argumentar que isso significa que se um homem creu e não foi batizado, ele ainda não está salvo, porque esse versículo claramente diz que aquele que crer e for batizado será salvo. Aqui gostaria de fazer uma pergunta. Que significa a salvação nessa passagem? É dito: “Quem crer e for batizado será salvo”. Mas a seguir é dito: “Quem, porém não crer, será condenado”. Nesse trecho, vemos que a salvação não deve referir-se meramente à libertação da condenação. Devemos ser cuidadosos nesse ponto. O Senhor diz que quem crer e for batizado será salvo. A frase correspondente deveria ser que aquele que não crer não será salvo. Mas é muito estranho que diz que quem não crer será condenado. Então a salvação na primeira citação não deve referir-se a não ser condenado na segunda citação. Temos de ver que não somente a salvação aqui se refere à salvação do homem diante de Deus, mas ela também se refere à salvação do homem diante dos homens. Diante de Deus, é uma questão de condenação ou não condenação. Diante dos homens, é uma questão de ser salvo ou não ser salvo. Diante de Deus, todo o que crê no Senhor Jesus não é condenado. Aquele que não crê, já está condenado. Essa é a palavra de João 3.18. Mas não se pode dizer que quem crer e é batizado não será condenado. Podemos dizer que quem crer e for batizado será salvo, mas não que aquele que crer e for batizado não será condenado. Isso é porque a condenação tem a ver com Deus. A salvação aqui nada tem a ver com Deus. A salvação tem a ver com o homem. Eis por que surge a questão do batismo. Ser condenado ou não é uma questão diante de Deus. Essa é a razão por que há somente a diferença entre crer e não crer. Ser salvo ou não, não é diante de Deus; é algo para o homem ver. Eis por que há a diferença entre batismo e não-batismo. Quando lemos a Bíblia, temos de tomar cuidado com essas diferenças. Tomaremos João 3 novamente como exemplo: O Senhor Jesus disse no versículo 5: “Se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”. Assim, nos versículos 6 e 8, quando se menciona  essa questão novamente, menciona-se apenas ser nascido do Espírito, sem mencionar ser nascido da água. A razão disso é que há dois lados para o reino de Deus. Um lado é espiritual e o outro lado é terreno. Espiritualmente falando, se um homem não nascer de novo, ele não pode entrar no reino de Deus. Isso é um fato. Mas há ainda o lado humano. Do lado humano, não existe apenas a necessidade de nascer do Espírito, mas há a necessidade de nascer da água também. A que o Espírito se assemelha? É-nos dito que o vento sopra onde quer. Podemos também dizer que o Espírito sopra onde quer. Na língua original, vento e Espírito são a mesma palavra. Ambos são pneuma. O Espírito sopra onde quer. Ninguém sabe de onde Ele vem nem para onde Ele vai. O homem não pode controlar o vento no céu. Quando ele vem, simplesmente vem. Quando ele vai, simplesmente vai. Muitas vezes nós só ouvimos o som do vento e sabemos que ele está aqui ou que já se foi. Não podemos controlar o vento no céu, mas podemos controlar a água no solo. Não tenho controle sobre o vento soprando em meu rosto. Mas posso determinar se quero entrar ou não na água. O vento sopra onde quer, mas a água vai para onde eu quero. Não posso ordenar ao Espírito nos céus que me introduza no reino. Mas posso dirigir-me para a água. Posso ter uma parte no reino de Deus na terra. Quando fui batizado, ninguém mais podia dizer que eu não pertencia ao Senhor. Eis por que o Senhor disse em Marcos 16 que quem crer e for batizado será salvo.

Qual é a diferença entre ser batizado e não entrar em condenação? Por favor, lembre-se de que a condenação é algo estritamente diante de Deus, mas a salvação é relativa; ela é algo diante de Deus e algo diante do homem também. Se estou condenado ou não é uma questão diante de Deus. Mas o fato de eu ser salvo ou não tem a ver com Deus e tem também a ver com o homem. A salvação é em relação a Deus e ao homem; a condenação é estritamente em relação a Deus. Uma vez que o homem creia, ele não será condenado diante de Deus. Aquele que não crê já está condenado. Os que estão em Cristo não serão condenados. Mas os que não crêem já estão condenados. Essa é a questão diante de Deus todo o tempo. Mas graças ao Senhor, a salvação é para com Deus e para com o homem também. Por um lado, temos de crer, a fim de que possamos ser salvos diante de Deus. Por outro lado, temos de ser batizados, para que possamos ser salvos diante do homem. Se houver um homem hoje que continue a ser cristão secretamente, nós o reconheceríamos como cristão? Ele creu e não mais está condenado diante de Deus. Mas ninguém pode dizer que ele está salvo diante do homem. Diante de Deus, fomos libertados da condenação. Mas diante do homem temos de estar salvos. Se há uma pessoa que genuinamente creu na obra da cruz do Senhor, todavia nunca confessou com a boca nem mesmo foi batizada, os outros não saberão se ela é salva. Portanto, para ser salvo diante de Deus e sair da condenação diante de Deus há apenas uma condição, que é crer. Mas para ser salvo diante do homem há uma outra condição, que é ser batizado. Não estou dizendo aqui que o batismo não é necessário. Nós definitivamente precisamos ser batizados. O batismo tem a ver com nossa salvação. Mas essa salvação não é o que algumas pessoas pensam. Não é absolutamente uma questão de não estar sob condenação. Não diz que se não formos batizados seremos condenados. Antes, é dito que se você não crer será condenado. Diante de Deus não existe a questão do batismo; existe apenas a questão da fé. Uma vez que há fé, tudo está resolvido. O batismo não é para Deus. O batismo é para o homem. É um testemunho entre os homens, testificando da posição que alguém toma. Você é uma pessoa em Adão? ou é uma pessoa em Cristo? Esse fato é testificado pelo batismo. Graças a Deus que o ladrão junto à cruz do Senhor foi para o paraíso. Naquela hora Pedro ainda não estava lá. Tampouco João ou Paulo. Logo após o Senhor ir ao paraíso, o ladrão O seguiu. Mas ele não foi batizado. Diante de Deus, todo aquele que invocar Seu nome, será salvo. Por que uma pessoa invoca Seu nome? Porque ela creu. Mas alguns na terra dirão que se tal pessoa é salva ou não é outra questão. Nos próximos capítulos desse livro, eu farei uma clara distinção para vocês. Parece que na Bíblia, justificação, perdão e sair de condenação são todos diante de Deus. Mas salvação é diante de Deus e diante do homem também. Se não estiver esclarecido sobre essas coisas, você criará muitos problemas. Na Bíblia, muitas passagens se referem ao que acontece diante do homem. Muitas outras passagens se referem ao que acontece diante de Deus. Se confundirmos as duas, cairemos em erro. Eu disse que o batismo se refere ao homem sair de Adão e entrar em Cristo. De um lado está Adão. Do outro está Cristo. Temos de sair de Adão e entrar em Cristo. Como saímos? Éramos uma parte de Adão. Como podemos agora sair de Adão e entrar em Cristo? Deixem-me primeiro fazer uma pergunta: Como nós entramos em Adão? Se eu perguntar como podemos sair de Adão, alguns dirão que não sabem. Por isso pergunto como nós entramos em Adão. O caminho pelo qual entramos será o caminho para sairmos. Como nós entramos em Adão? O Senhor Jesus disse em João 3.6 que aquele que é nascido da carne é carne. Como me tornei uma parte de Adão? Eu nasci nele. Agora que você sabe como entrou, saberá como pode sair. Se você entrou pelo nascimento, você tem de sair pela morte. Isso é evidente. Mas como morremos? Deus nos crucificou quando o Senhor Jesus foi crucificado na cruz. Portanto, em Cristo nós morremos para Adão. Como, então, entramos em Cristo? O Senhor continua dizendo que aquele que é nascido do Espírito é espírito. Eu entro em Cristo também pelo nascimento. Pedro disse que fomos regenerados mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos (1 Pe 1.3). Então, foi Sua ressurreição que nos regenerou. Aqui vemos duas coisas: pela morte do Senhor, fomos libertados da família de Adão. Mediante a ressurreição, entramos em Cristo. Pela morte, fomos libertados do primeiro Adão. Mediante a ressurreição, fomos introduzidos no segundo homem. Tudo isso foi cumprido pelo Senhor Jesus. Ele morreu na cruz. Como resultado, também morremos. Ele ressuscitou. Como resultado, fomos introduzidos na nova criação. A morte aqui é espiritual e a ressurreição também é espiritual. Mas nosso batismo é físico. Que é, então, o batismo? O batismo é nosso agir exterior. Por meio dos Seus servos, Seus apóstolos, o Senhor Jesus nos falou sobre Sua obra: Quando Ele morreu na cruz, também fomos incluídos em Sua morte. Que deveríamos fazer após ter ouvido isso? Falando de acordo com a história, isso aconteceu há dois mil anos. Já fomos crucificados há dois mil anos na cruz do Senhor Jesus. Sua palavra agora é pregada a nós. Ela nos diz que morremos. Que, então, devemos fazer agora? Certa vez fiz essa pergunta a uma mulher numa pequena vila. Ela respondeu: “Se o Senhor Jesus crucificou-me, então preciso comprar um caixão”. Está totalmente correto! O Senhor Jesus crucificou-me. Por que eu não compraria um caixão? Uma vez que Ele me crucificou devo apressar-me para ser enterrado. O batismo é a minha solicitação para ser sepultado na água porque já fui crucificado pelo Senhor. O batismo é uma resposta à crucificação que Deus realizou em nós. Deus pregou-lhe o evangelho e lhe disse que você está morto. Sua resposta é que, já que você foi crucificado, você encontrará alguém para sepultá-lo. Portanto, o batismo significa que já estamos mortos em Adão, e que outros estão me sepultando. Agora estamos na base de ressurreição. Portanto, a morte é a nossa saída de Adão, e a ressurreição é a nossa entrada em Cristo. O batismo é o nosso sepultamento. A morte é a terminação de Adão e a ressurreição é o novo começo em Cristo. O batismo é a ponte entre esses dois lados. É pelo batismo que passamos da morte para a ressurreição. Meu amigo, o Senhor Jesus já realizou tudo. Nenhuma condição é exigida para que sejamos salvos. Tudo o que temos de fazer é simplesmente crer. Crer é receber. Preciso apenas receber porque o Senhor já fez tudo. Já não tenho de fazer mais nada. O batismo é por meio da fé. É uma ação exterior. Deixe-me perguntar-lhe: Se não há um enredo, como podemos representar? Primeiramente temos um enredo e, então, uma peça ou temos a peça primeiro e depois o enredo? Todas as peças de teatro existem porque já havia um enredo. É por já existir o fato espiritual diante de Deus que podemos exteriorizá-lo por meio do batismo. Que o Senhor seja benévolo para conosco e nos mostre que nada pode tornar-se a condição para a salvação. O batismo não tem absolutamente nada a ver com nossa salvação ou condenação diante de Deus. Saímos da condenação diante de Deus por meio da fé. Nossa ação no batismo é somente para nossa salvação diante dos homens. Que o Senhor seja benigno para conosco e nos dê clareza a respeito da nossa salvação!

O Caminho da Salvação — Fé

A Salvação de Deus é Para Todos Mediante a Fé

Nos últimos cinco capítulos deste livro, vimos as coisas que o homem considera como o caminho da salvação. Se não distorcermos a palavra de Deus, mas nela confiarmos, veremos que nada dessas coisas é condição para a salvação. Como já mencionamos, de acordo com a Bíblia, há somente uma condição para a salvação: fé. Ao todo, as palavras fé e crer ocorrem na Bíblia cerca de quinhentas vezes. Entre esses muitos versículos, mais de cem deles nos dizem que a salvação é pelo crer, que justificação é pelo crer e que receber vida é pelo crer. Em mais de trinta passagens, é-nos dito que pela fé recebemos de Deus isto ou aquilo. Essas passagens nos mostram que o homem é agraciado por Deus por meio da fé e nada mais.

Por que a Bíblia enfatiza sobremaneira a fé? Consideraremos agora por que a fé tem de ser o caminho para a salvação, mas devemos primeiro fazer uma pergunta: A salvação é obra de Deus ou do homem? Ela é plano do homem ou plano de Deus? Origina-se no homem ou em Deus? Os que não conhecem a Deus não conhecem a salvação. Somente os que conhecem a Deus conhecem a salvação de Deus. Os que conhecem a Deus devem admitir que foi Deus que iniciou a salvação. Foi Deus que a planejou e cumpriu esse plano. Como mencionamos antes, todas as coisas são feitas por Deus. Do nosso lado, nada temos a fazer, exceto crer. Por que temos de crer? Porque a redenção foi cumprida por Cristo. Deus torna o método da salvação tão simples para que todos possam obtê-la. Eis por que Ele exige somente fé. Se a salvação vem de Deus, é necessário que seja universal. Se a salvação de Deus fosse apenas para determinado grupo de pessoas, Deus seria parcial. Se o caminho da salvação de Deus exigisse algo de nós, "esse algo" se tornaria um obstáculo para a nossa salvação. Se houvesse a simples exigência de que o homem teria de esperar cinco minutos antes de ser salvo, até isso diminuiria grandemente o número de salvos no mundo. Muitas pessoas não têm nem mesmo cinco minutos para esperar. Deus não poderia exigir sequer justiça perfeita. Se Ele exigisse justiça em apenas uma coisa talvez você pudesse cumprir essa justiça, mas centenas de milhares de pessoas na terra poderiam não ser capazes de fazê-lo. Se esse fosse o caso, a salvação não seria tão simples. Nos Estados Unidos, houve um famoso pregador chamado Dr. Jowett. Ele tinha um cooperador chamado Sr. Barry. O Sr. Barry era pastor numa igreja, mas ele mesmo ainda não tinha sido salvo. Uma noite, alguém tocou a campainha de sua igreja. Após tocar por longo tempo, o Sr. Barry, relutantemente, colocou seu roupão e foi ver quem era. À porta estava uma jovem, inadequadamente vestida. Quando ele perguntou bruscamente o que queria, ela respondeu: “O senhor é o pastor?” Ao admitir que era, a jovem disse: “Preciso de ajuda para que minha mãe entre”. Ele pensou que uma menina vestida daquele modo deveria ter um lar terrível. Pensou ele: " Talvez a mãe esteja bêbada e ela precisa ajudá-la a voltar para casa". Ele disse à menina para chamar a polícia, mas ela insistiu que ele fosse. Tentou de tudo para demovê-la da ideia e disse-lhe para ir até o pastor da igreja mais próxima. Mas a menina disse: “Sua igreja é a igreja mais próxima”. Então ele falou: “É muito tarde agora. Volte pela manhã”. Ela insistiu mais uma vez. O Sr. Barry pensou um instante. Ele era pastor de uma igreja com mais de mil e duzentos membros. Que pensaria um deles se o visse caminhando com uma menina vestida daquela maneira no meio da noite? Mas a jovem insistiu e disse que se ele não fosse, ela não iria embora. Finalmente, ele cedeu e foi trocar-se. O Sr. Barry disse mais tarde ao Dr. Jowett que enquanto caminhava para a casa da jovem, ele cobriu seu rosto com o chapéu e levantou a gola do sobretudo para que os outros não pudessem vê-lo. O lugar para onde eles foram não era muito bom. Ao parar diante da casa, ele viu que não era um lugar decente. Então perguntou à menina: “Por que você quer que eu entre neste lugar?” Ela respondeu: “Minha mãe está muito doente. Ela está em grande perigo. Ela disse que quer entrar no reino de Deus. Por favor, faça-a entrar”. O Sr. Barry não pôde fazer coisa alguma senão entrar na casa. A menina e sua mãe moravam num quarto muito pequeno e sujo. O lar era muito pobre. Quando a mulher doente o viu entrando, gritou: “Por favor, ajude-me a entrar. Não consigo entrar”. Ele pensou um instante e quis saber o que deveria fazer. Ele era pastor e pregador, e eis uma mulher que estava morrendo. Ela queria entrar no reino de Deus; queria aprender como fazê-lo. Que poderia ele fazer? Ele não sabia o que fazer. Então falou a ela do mesmo modo como falava à sua congregação. Começou a dizer-lhe que Jesus foi um homem perfeito, que Ele foi nosso  modelo, que Ele se sacrificou, que Ele manifestou tal benevolência e que Jesus estava em toda parte para ajudar as pessoas. Se os homens seguirem Seus passos para se sacrificar, amar e ajudar os outros, e servir a sociedade, eles elevarão sua humanidade e a humanidade dos outros. O Sr. Barry estava falando com ela de olhos fechados. Quando terminou, ela ficou furiosa. Ela gritou: “Não, não! Não é isso o que eu quero que você fale”. Suas lágrimas começaram a cair. Ela disse: “Esta é minha última noite na terra. Agora é a hora de eu resolver a questão sobre a perdição eterna ou a entrada no reino de Deus. Esta é minha última oportunidade. Não tente distrair-me ou brincar comigo. Pequei a minha vida toda. E não apenas pequei como também ensinei minha filha a pecar. Agora estou morrendo. Que posso fazer? Não brinque comigo. Em toda minha vida, nada fiz além de pecar. Tudo o que fiz foi sujo. Eu nunca soube o significado de ser moral; nunca soube o que é ser limpa. Nunca soube o que é ter uma consciência. Agora você está falando a uma pecadora tal como eu, no estado em que me encontro esta noite, para tomar Jesus como meu modelo! Quanta coisa eu teria de fazer antes de poder tomar Jesus como meu modelo! Você me disse para seguir os passos de Jesus. Mas quanto eu teria de fazer antes de seguir Seus passos! Não brinque comigo nesta hora tão crucial para minha eternidade. Apenas me diga como posso entrar no reino de Deus. O que falou não funciona para mim. Eu não posso fazer nada disso”. O Sr. Barry foi pego de surpresa. Ele pensou: “Estas são as coisas que aprendi no seminário. Eu as estudei para o meu doutorado em teologia. Tenho pregado sobre elas nos últimos dezessete ou dezoito anos. E estas são as coisas que li da Bíblia. Mas há uma mulher nesta noite que quer entrar e não consigo ajudá-la”. Então ele falou: “Para dizer-lhe a verdade, não sei como entrar. Apenas sei que Jesus foi um bom homem, que devemos imitá-Lo, que Ele foi benevolente, e que se sacrificou para ajudar outros. Tudo o que sei é que se um homem tomar Jesus como seu exemplo e andar como Ele andou, ele será um cristão”. Em lágrimas, a mulher disse: “Você não pode fazer nada por uma mulher que pecou por toda a vida para ajudá-la a entrar no reino de Deus na última hora? Isso é tudo o que pode fazer para ajudar uma mulher que está morrendo a entrar no reino de Deus e que não terá amanhã e que não terá uma segunda oportunidade?” O Sr. Barry ficou chocado. Ele nada mais tinha a dizer. Ele pensou: “Sou um servo de Cristo. Sou doutor em teologia. Sou pastor de uma igreja com mil e duzentos membros. Mas aqui está uma mulher em seu leito de morte e não posso ajudá-la em nada. Ela até pensa que estou brincando com ela”. Então o Sr. Barry lembrou-se de algo que tinha ouvido de sua mãe, quando ele tinha sete anos e estava sentado em seu colo. Ela lhe disse que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus, que foi crucificado, e que Ele derramou Seu sangue para nos limpar dos nossos pecados. Jesus de Nazaré morreu por nossos pecados na cruz e se tornou o sacrifício propiciatório. Ele lembrou-se dessas palavras. Ele tinha negligenciado tais palavras por toda a sua vida, mas nesse dia elas voltaram para ele. Assim, ele se levantou e disse: “Sim, tenho algo para você. Você não tem de fazer coisa alguma, pois Deus já fez tudo em Seu Filho. Ele lidou com os nossos pecados em Seu Filho. O Filho de Deus levou todos os nossos pecados. O que cobra o pagamento tornou-se O que paga. O que foi ofendido tornou-se O que sofreu pela ofensa. O Juiz tornou-se o réu”. Com essas palavras, o rosto da mulher mostrou sinais de alegria. Ele continuou a dizer-lhe tudo o que sua mãe lhe havia dito. Então, repentinamente, a face da mulher mudou da alegria para as lágrimas e ela gritou: “Por que você não me disse isso mais cedo? Que devo eu fazer agora?” Então ele disse que ela precisava apenas crer e receber. Com isso, a mulher morreu. Mais tarde, o Sr. Barry disse ao Dr. Jowett que naquela noite a mulher entrou, e ele também entrou. Fui tocado muitas vezes em meu coração por essa história. Se há salvação, ela deve estar disponível a qualquer pessoa. Se você disser que deve ser batizado antes de ser salvo, então o ladrão na cruz não foi salvo, porque ele não foi batizado. Se você disser que alguém não pode ser salvo sem fazer restituição, então o ladrão na cruz não pôde ser salvo, porque suas mãos e pés estavam pregados na cruz. Não estou dizendo que não devemos ser batizados ou fazer restituição. Mas a condição para ser salvo não é restituição, batismo, confissão ou arrependimento. Arrepender-se nada mais é que uma mudança de visão sobre algo do passado. Se fosse uma questão de lei ou de obra, quem poderia cumpri-las? Essa mulher é o melhor exemplo da salvação de Deus extensiva a todos.

Crer na Morte e na Ressurreição do Senhor

A única condição para a salvação de Deus é a fé. Fé é dizer que você deseja e anela a salvação de Deus. Que é a fé sobre a qual a Bíblia fala? Primeiro, Deus cumpriu a redenção por meio da morte de Seu Filho Jesus Cristo na cruz. Sua obra na cruz foi completa. Por que foi completa? Eu não sei por quê. Nem você sabe. Somente Deus sabe. Como pode o sangue do Senhor Jesus redimir-nos de nossos pecados? Por que a redenção do Senhor Jesus é eficaz? Não precisamos fazer essas perguntas. Essas questões são para Deus. A obra do Senhor na cruz foi cumprida e o coração de Deus está satisfeito. A cruz do Senhor Jesus não é para satisfazer nosso coração. Ela é para satisfazer o coração de Deus. A quitação do débito satisfaz o coração do credor ou do devedor? Se Deus sente que algo é suficiente para Ele, nós também devemos sentir que é suficiente. Deus é justo. Se Ele diz que a obra do Senhor é capaz de redimir-nos do pecado, ela certamente é capaz de redimir-nos. É irrelevante você pensar que tal obra é suficiente ou não. O que importa é que Deus acha que tal obra é suficiente. A questão não é apenas se o valor foi pago ou não. O que importa é se o credor considera o valor pago ou não. Se o valor pago satisfizer o coração dele, você não terá problemas. Gostaria de poder repetir isso uma centena de vezes. A obra do Senhor Jesus não é para satisfazer nosso coração. A obra do Senhor é primeiramente para satisfazer o coração de Deus. É Deus que ordena o julgamento dos pecados. É Deus que exige que os pecados sejam tratados. Foi Deus que disse que sem sangue não há remissão de pecados. Se Deus fosse indiferente, o sangue seria desnecessário. O sangue está ali porque Deus se preocupa com isso. Se Deus fosse indiferente, a cruz seria desnecessária. Existe a necessidade da cruz porque Deus é justo. O Senhor cumpriu toda a obra na cruz. Então, Deus O ressuscitou dentre os mortos. A ressurreição do Senhor Jesus é a prova de que Deus ficou satisfeito com a obra do Senhor na cruz. Embora não entendamos como a cruz satisfez o coração de Deus, sabemos que Jesus de Nazaré foi ressuscitado da sepultura. Foi a morte de Jesus de Nazaré que os apóstolos pregaram por todo o mundo? Você ouviu tal evangelho? Nunca ouvi tal evangelho. Eu os vejo indo a todo o mundo para dizer aos outros que Jesus de Nazaré ressuscitou. Se ler o livro de Atos, você verá que os apóstolos não pregaram a morte de Jesus pelos nossos pecados. O que eles contavam às pessoas em todos os lugares é que este Homem ressuscitou. Eles pregaram isso porque o fato de o Senhor ter ressuscitado prova que Sua morte glorificou a Deus. O Senhor Jesus foi ressuscitado porque a Sua obra fora aceita diante de Deus. Sua redenção é completa e nós agora podemos ser salvos. Se a obra do Senhor não tivesse sido completada, Ele teria sido deixado na sepultura. Assim, a ressurreição nada mais é que o Senhor Jesus satisfazendo o coração de Deus. O Senhor Jesus ressuscitou dentre os mortos. Os apóstolos pregam isso a nós como prova de nossa fé, conclamando-nos a crer no Senhor Jesus. Por um lado, a salvação tem a ver com a morte do Senhor. Por outro, ela tem a ver com a ressurreição do Senhor. Sua morte é para quitar nosso débito e perdoar nossos pecados. Por meio desta morte, o problema de nossos pecados foi resolvido. Sua ressurreição é a prova de que Sua morte satisfez o coração de Deus. Deus considera Sua obra justa e adequada. Usei uma ilustração anteriormente e usarei novamente por causa das muitas pessoas que estão conosco. Se eu pecasse, deveria ir para a cadeia. Mas suponham que um amigo meu se ofereça para ir em meu lugar. Pelo fato de ele ir para a cadeia, eu estou livre. Mas enquanto ele não estiver em liberdade não saberei se meu caso está resolvido. Somente depois, meu coração estará livre. Meu corpo está livre porque o dele está aprisionado. Mas meu coração só estará livre depois que meu amigo for solto. Até o caso terminar, meu coração ainda estará aprisionado. Se meu amigo ainda está na cadeia, eu não sei se estou livre de minha punição ou se ainda serei procurado. Quando ele sair da prisão, saberei que o caso está resolvido. Da mesma forma, assim que o Senhor Jesus morreu, o problema do meu pecado foi resolvido. Mas o Senhor Jesus tinha de ressuscitar antes que eu pudesse saber que o problema do pecado foi resolvido. Ele foi entregue por nossas transgressões e ressuscitou para nossa justificação. Ele ressuscitou para que o problema da nossa justificação fosse resolvido. Podemos ir a todo o mundo e dizer a todas as pessoas que a obra de Deus foi cumprida por meio da morte de Seu Filho Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, podemos dizer aos outros que por meio da ressurreição do Senhor, Deus nos deu um recibo e uma prova. Isso nos declara que a tarefa foi cumprida. Hoje nós não cremos somente na cruz; cremos também na ressurreição.

Você pode achar um versículo na Bíblia que diga ao homem para crer na cruz? É muito curioso que sempre nos seja dito para crer na ressurreição. Se encontrar um cristão nominal hoje que tenha sido membro de uma igreja por dez, vinte ou trinta anos e conversar um pouco com ele, você perceberá que há grande diferença entre crer na cruz e crer na ressurreição. Encontrei um membro de uma denominação que tinha sido presbítero por trinta e oito anos, e “cristão” por cinquenta ou sessenta anos. Quando lhe perguntei se cria no Senhor Jesus, ele disse-me que sim. Mas quando lhe perguntei se ele sabia se seus pecados haviam sido perdoados, ele não ousou dizer que sim. Então lhe perguntei se Jesus era seu Salvador e ele disse que sim. Mas ao perguntar-lhe se era salvo, ele disse que não sabia. Quando eu lhe perguntei se acreditava que o Senhor Jesus tinha sido julgado na cruz pelos nossos pecados, ele prontamente disse sim. Não somente a Bíblia diz isso, até nosso hinário o diz. Diz que milhares de touros e bodes no altar judeu não nos perdoarão de nossos pecados, mas o sacrifício único do Senhor nos limpa de todos os nossos pecados. Quando perguntei a esse homem se ele estava limpo de seus pecados, ele disse-me que a crucificação do Senhor foi por seus pecados, mas não ousava dizer que seus pecados tinham sido purificados. Não posso culpá-lo por não ter clareza quanto a isso. É verdade que o Senhor Jesus morreu na cruz. Mas como alguém pode saber que essa cruz tem valor? Ele crê na cruz, mas como ele sabe que a cruz resolveu todos os seus problemas e encerrou o caso? Embora a solução do pecado tenha acontecido na cruz, o que nos esclarece acerca disso é a ressurreição. Se você pagar um valor a alguém, como sabe que a quantia paga é suficiente e que as cédulas são genuínas? E se as notas forem falsas? Somente uma coisa lhe assegurará que o valor foi inteiramente pago: um recibo de seu credor dizendo que o valor foi pago integralmente. Quando você paga, o credor salda sua dívida, e você sabe que a questão está resolvida. Do mesmo modo, a morte do Senhor Jesus fala sobre o que Ele fez para Deus, enquanto Sua ressurreição fala sobre o que Deus fez por nós. A morte é a solução entre Ele e Deus, mas a ressurreição é o aviso a nós sobre a solução entre Deus e Seu Filho. Deus disse que o débito foi quitado. Se você crer que a morte do Senhor é para os seus pecados, a ressurreição do Senhor então deixará claro que o registro do pecado foi apagado. Muitos dizem que temos de resolver nossa conta de pecado, e que se isso não for solucionado, não podemos ser salvos. Graças ao Senhor que minha dívida de pecado foi solucionada antes de eu ter nascido. Até o recibo foi assinado. A morte do Senhor Jesus foi a quitação do débito, e a ressurreição do Senhor Jesus foi a prova desta quitação. A ressurreição é a prova da justificação. Fomos justificados porque Deus foi benévolo para conosco e redimiu-nos do pecado. A morte do Senhor Jesus foi a solução para o pecado. A ressurreição do Senhor Jesus foi a prova da justificação. Assim, nossa fé se baseia na ressurreição do Senhor Jesus.

Isso não foi tudo o que a ressurreição cumpriu. Se pensamos que foi, estamos errados. Esse é apenas o aspecto objetivo da ressurreição. Há ainda o aspecto subjetivo. Falando objetivamente, a ressurreição do Senhor tornou-se a prova de nossa salvação. Se alguém me perguntasse como sei que fui salvo, eu lhe diria que tenho a prova. Essa prova garante que estou salvo. Você pode dizer que foi salvo numa certa data em um determinado ano, porque foi quando recebeu o Senhor. Então lhe perguntaria como você sabe que isso é suficiente. Pode dizer que confessou seus pecados naquele dia, mas como sabe que a confissão foi suficiente? Você pode dizer que chorou por seus pecados naquele dia, mas como sabe que suas lágrimas o limparam de seus pecados? Pode dizer que se arrependeu, confessou seus pecados e aceitou o Senhor Jesus, mas como sabe que esse arrependimento, confissão e receber o Senhor foram suficientes? Se me perguntasse, eu lhe responderia que realmente fui salvo por causa da morte do Senhor, mas sei que fui salvo por causa da ressurreição do Senhor. Meu amigo, você deve diferenciar uma coisa da outra. Fui salvo por causa da morte do Senhor, mas tenho a segurança e o pleno conhecimento de que fui salvo por causa da ressurreição do Senhor. Quando entrego o dinheiro, quito meu débito. Sei que quitei o débito porque tenho um recibo. Graças a Deus pois Ele nos deu uma prova e um recibo. Seu Filho pagou o débito por todos os nossos pecados na cruz, e por meio da Sua ressurreição, Ele nos avisou que a questão foi totalmente resolvida. Assim, toda a obra do Senhor foi cumprida.

Se houver alguém que ainda duvida de sua salvação, eu preciso perguntar-lhe apenas em que ele crê e o que recebeu. Não é suficiente uma pessoa somente crer na cruz e receber a redenção do Senhor na cruz. Ela também deve crer em Sua ressurreição. A ressurreição do Senhor Jesus é a mensagem de Deus a nós. Ela mostra-nos que Deus aceitou a obra do Senhor. Graças a Deus que a cruz satisfez Seu coração. Eis por que há a ressurreição. Assim, o fundamento da nossa fé é a morte de Cristo, mas nossa fé também está baseada na prova da ressurreição. A morte é Sua obra de redenção por nós. A ressurreição é a prova de Ele nos ter redimido. Notem que aqui eu disse “ter redimido”. A morte é Sua obra de redenção por nós, e a ressurreição é a prova de Ele nos ter redimido.

Receber a Obra do Senhor Mediante a Fé na Palavra de Deus

A obra do Senhor agora está completa. Sua morte aconteceu e Sua ressurreição também aconteceu. Que ocorre em seguida? A Bíblia mostra claramente que Deus pôs toda a obra de Seu Filho em Sua palavra. Que é a Bíblia e que é a Palavra de Deus? Muitas vezes gosto de pensar na Palavra de Deus como o recurso de Deus para Sua obra. Deus põe toda Sua obra em Sua Palavra. Se Deus estivesse entre nós hoje e quisesse mostrar a obra de Seu Filho e a prova dessa obra, como Ele o faria? Ele pôs a obra da cruz de Seu Filho em Sua Palavra. Ele também pôs a obra da ressurreição de Seu Filho em Sua Palavra. Hoje Deus nos transmite todas essas coisas por meio de Sua Palavra. Quando recebemos Sua Palavra, recebemos a prova de Sua obra. Por trás da Palavra estão os fatos. Se não houvesse fato atrás das palavras, as palavras seriam vazias. Por trás das palavras certamente estão os fatos.

No inverno, todos, tanto homens como mulheres, usam luvas. A Palavra de Deus é a luva de Deus. Todas as Suas obras estão contidas nela. Um dia, encontrei uma missionária ocidental que não sabia o que era crer na Palavra de Deus. Ela pensava que tudo o que precisava fazer era crer em Deus, em Seu Filho Jesus Cristo e na obra de Deus. Disse-lhe que sem a Palavra de Deus, não há como crer em Deus, em Seu Filho Jesus Cristo e na obra de Deus. Uma vez que creiamos na Palavra de Deus, todos esses itens se tornam eficazes para nós. Após duas horas de conversa, eu ainda não havia conseguido convencêla. Mais tarde, quando estava para sair, ela vestiu um par de luvas de couro de veado. Estava pronta para tirar as luvas e se despedir de mim. Eu disse: “Você não tem de tirá-las. Posso apertar sua mão com as luvas”. Para ela, isso era muito descortês. Talvez considerasse que eu era chinês e que não conhecia as boas maneiras. Quando lhe apertei a mão, perguntei: “Que estou segurando agora, a mão ou a luva?” Imediatamente, ela entendeu o que eu queria dizer. Disse-lhe que a mão estava na luva. Quando eu apertava a luva, estava apertando a mão. Apertei a luva porque ela estava na mão. Isso é como a Palavra de Deus. Deus colocou a Si mesmo e toda a obra da cruz de Seu Filho em Sua Palavra. Quando você transmite a Palavra de Deus, está transmitindo Deus em Sua Palavra, mais toda a obra de Seu Filho. Quando partiu, disse-me que todas as outras coisas que havia ouvido eram inúteis. Essa única palavra deu-lhe clareza.

Hoje pregamos aos outros a obra do Filho de Deus e o testemunho de Sua ressurreição. Contudo, é por meio de Sua Palavra que pregamos essas coisas. Se um homem recebe a Palavra de Deus, ele recebe a obra de Deus e a graça de Deus. A Palavra de Deus é preciosa porque nela há a substância. De que valem as luvas se estiverem vazias? Mesmo se você apertá-las todos os dias, é inútil. Elas somente são úteis quando as mãos estão dentro dela. Sem o Senhor Jesus, a Palavra de Deus é letra morta. Sem o Senhor Jesus, eu, com certeza, queimaria este livro. Então, que é fé? Não é nada além do que receber o testemunho de Deus acerca da obra de Seu Filho. Deus colocou a obra de Seu Filho na Palavra e comunicou essa Palavra a nós. Quando cremos em Sua Palavra, estamos crendo Nele. A Primeira Epístola de João 5.9 diz: “Se admitimos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior”. Qual é a característica do testemunho de Deus? “Este é o testemunho de Deus, que ele dá acerca do Seu Filho”. A Palavra de Deus é com respeito ao Seu Filho. Vamos ler o versículo 10: “Aquele que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho. Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso”. Percebamos a frase seguinte: “Porque não crê no testemunho que Deus dá acerca do seu Filho”. Que é não crer em Deus? É não crer no testemunho que Deus dá acerca do Seu Filho. Que é crer em Deus? É crer nas palavras que Deus falou, no testemunho que Ele deu a respeito de Seu Filho. Portanto, crer em Deus nada é senão crer no testemunho de Deus. Vimos o que Deus fez por nós, que problemas Ele resolveu por meio de Seu Filho e que prova Ele nos deu. Deus nos falou Sua Palavra. Que devemos fazer agora? Devemos crer Nele, isto é, devemos receber o testemunho que Ele tem a respeito de Seu Filho. Se você ainda não foi salvo, alguém já deve ter-lhe dito que você deve crer. Mas em que deve crer? Você não deve crer em um Cristo que está assentado no céu. Isso é muito longe. Tudo o que tem de fazer é crer nesse livro. Isso é bastante próximo. A mão de Deus já está na luva. A luva é a Palavra de Deus. Quando você crê na Palavra de Deus, está crendo no Filho de Deus. Quando crê nas palavras da Bíblia, você está recebendo todas as coisas na Palavra. George Müller pode ser considerado um dos homens de maior fé nos últimos cento e oitenta anos. Quando os outros lhe perguntavam o que era fé, ele respondia que fé é quando Deus diz algo e eu digo o mesmo. Fé é crer na Palavra de Deus. É crer em Deus por meio de Sua Palavra.

O Espírito Santo Comunica a Obra de Deus a Nós

Há outra questão relacionada com a fé na Palavra de Deus. Como pode a obra de Deus tornar-se nossa? A chave para isso é o Espírito Santo. O Espírito Santo veio. O Espírito Santo é o guardião da Palavra de Deus. A Palavra de Deus é viva porque o Espírito Santo é o guardião dela. Deus colocou todas as Suas obras em Sua Palavra. O Espírito Santo está guardando-a vigilantemente. Sempre que um homem recebe a Palavra de Deus pela fé, o Espírito Santo vem e aplica todos os feitos de Deus nele. Aqui vemos como é completa a obra do Deus Triúno. Foi Deus que nos amou e propôs a obra da redenção. Foi o Filho que cumpriu a obra da redenção. Foi Deus que colocou a obra do Filho na Palavra, e é Deus que nos comunica por intermédio do Espírito Santo todas as obras do Filho contidas na Palavra. O maior problema do homem e também sua maior tolice é confundir-se sobre a condição para o agir do Espírito Santo. O homem pensa que se ele se arrepender, Deus operará, ou se ele for batizado, Deus operará, ou se ele confessar seus pecados ou fizer boas obras, Deus operará. Mas não existe tal coisa. A Bíblia nos diz claramente que apenas o Espírito Santo pode transmitir a obra do Senhor a nós. A característica do agir do Espírito Santo é comunhão. Após o Senhor Jesus cumprir toda a Sua obra, o Espírito Santo veio e transmitiu essa obra a nós. Se houvesse apenas a obra consumada do Senhor Jesus sem a obra de comunhão do Espírito Santo, ela nos seria inútil. Sem o Espírito Santo, o homem não pode ser salvo. Sem o Pai, o homem não pode ser salvo. Sem o Filho, o homem não pode ser salvo. Da mesma forma, sem o Espírito Santo, o homem não pode ser salvo. Embora haja a obra do Pai e do Filho, ainda há a necessidade de o Espírito Santo transmitir esses feitos a nós e levar as questões objetivas a se tornarem subjetivas. A questão agora é o que devemos fazer a fim de que o Espírito Santo opere em nós. A Bíblia mostra-nos claramente que há apenas uma condição para o Espírito Santo operar — fé. Recebemos o Espírito Santo pelas obras da lei ou por fé? É por fé. Isso é o que Paulo nos disse no livro de Gálatas. Quando cremos na Palavra de Deus, o Espírito Santo aplica essa palavra a nós. Eis por que eu disse que o Espírito Santo é o guardião da Palavra de Deus. Se algum leitor deste livro ainda não foi salvo, espero que abra o coração para receber o testemunho de Deus. Você não tem de se preocupar sobre o que o Senhor Jesus é. Não tem de se preocupar sobre o que Deus é. O que diz respeito a você diretamente é a Palavra de Deus. Se tiver um relacionamento adequado com a Palavra de Deus, o Espírito Santo lhe transmitirá todos os feitos de Deus e do Senhor Jesus. Se você abrir seu coração e invocá-Lo, como o publicano que orou para que Deus fosse misericordioso para com ele, ou em tradução mais precisa, ser favorável a ele, você será justificado. Uma vez que abrir seu coração para invocá-Lo, o Espírito Santo transmitirá a obra de Deus a você. Essa é a obra do Espírito Santo.

Estou falando somente das coisas iniciais da salvação. Realmente, todos os feitos do Espírito Santo seguem esse princípio. Sempre que você for a Deus para receber Sua Palavra, o Espírito Santo tornará viva essa Palavra. Pode parecer que você recebe coisas mortas, mas quando o Espírito Santo vem, Ele as torna vivas em você. Não tente cumprir qualquer coisa por si mesmo. Não pense que o Espírito Santo ignora sua fé na Palavra de Deus. Não, assim que você crê, Ele começa a agir imediatamente. Nada há que Ele não saiba. Essa é a obra do Espírito Santo na redenção. O Deus Triúno cumpriu toda a obra de salvação para que sejamos salvos.

A Função da Fé — Substantificação

Talvez você possa perguntar: “Por que o Espírito Santo nos transmitiria todos os feitos de Deus em Sua Palavra, quando cremos nessa Palavra?” As palavras em 1 João que acabamos de ler dizem-nos o que é a fé. Essa é a obra da fé. Mas qual é a função da fé? A função da fé é a substantificação da obra do Senhor em nós. Isso é o que Hebreus 11 nos mostra. Hebreus 11.1 nos diz: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam”. A versão King James traduz a palavra certeza por substância, mas na língua original ela não é um substantivo, é um gerúndio, uma forma verbal. A tradução de Darby traduz essa palavra por substantificação. A fé é uma substantificação. Não subestime essa tradução. Procurei por dez anos sem encontrar uma palavra adequada. Então, quando descobri que Darby usava “substantificação” penso que cheguei à melhor tradução. Tudo no mundo, animais, plantas ou minerais, tem de ser substantificado por nós. Enquanto vivemos na terra, estamos continuamente substantificando as coisas ao nosso redor. Meus olhos substantificam toda figura e cor. Enquanto estou falando aqui, alguns irmãos e irmãs que têm dificuldade de ouvir não sabem sobre o que estou falando. Eles apenas vêem minha boca movendo-se. Tenho as palavras, mas eles não têm o poder de substantificá-las. Eles não podem substantificar minhas palavras em si mesmos. Se houvesse um canto ou alguma música maravilhosa aqui, eu poderia substantificá-la com meus ouvidos. Quando nossas mãos tocam algo, sabemos se é liso ou áspero. Nosso nariz pode identificar um cheiro bom ou ruim. Nossa língua pode identificar um gosto doce ou salgado. Tudo isso são substantificações. Todos os órgãos no corpo humano são feitos para a obra da substantificação.

Que é fé? Fé não é fazer algo do nada. Fé é substantificar o que já existe. Fé não é divagar ou falar de um sonho. Fé é manifestar o que já existe. Eis por que Hebreus diz que fé é a certeza das coisas que se esperam. A palavra coisas deveria ser traduzida para substância. Embora elas não possam ser vistas, não significa que não existam. O maior problema do homem hoje é que ele não tem a habilidade da substantificação. Como resultado, ele duvida da realidade das coisas. Se você pedir a uma pessoa que tiver perdido o paladar que experimente uma bebida doce, ela lhe dirá que tem o mesmo gosto do molho de soja que acabara de provar. Isso é ter a substância sem ter a substantificação. Todas as coisas espirituais existem. Deus colocou todos os Seus feitos em Sua Palavra. Se tiver fé, você as substantificará. Nós, que pregamos o evangelho, não pregamos coisas inexistentes. O problema hoje é que muitos não as substantificam. Em Cristo, sou cheio de substância. Mas muitos não substantificam essas coisas. Tomemos como exemplo duas pessoas que não podem ver. Posso dizer-lhes que este livro é preto e que aquele é marrom. Quando tocarem estes livros, ambos são iguais para elas. Vocês podem dizer que um é preto e o outro é marrom porque vocês veem, mas para elas não há distinção entre preto e marrom. Se elas me perguntarem o que é preto, eu posso apenas dizer que preto é preto. Não posso explicar-lhes isso. Não há como explicá-lo. Qual é a dificuldade? A dificuldade está na falta da habilidade de substantificação que elas têm. Ocorre a mesma coisa conosco diante de Deus. Muitos são como surdos ou cegos. Quando você conversa com eles sobre coisas espirituais, eles dizem que não sentem isto ou aquilo. Não têm maneira de substantificar essas coisas.

Portanto, que é fé? O apóstolo disse-nos claramente que a função da fé é substantificar as coisas espirituais — algo não estava com você, mas agora está. Hoje estamos vivendo num mundo físico, mas Deus pôs todas as coisas espirituais em Sua Palavra. A Palavra de Deus é cheia das coisas de Deus. Não tome a Palavra de Deus com leviandade. Até mesmo a eternidade está na Palavra de Deus. Qual é a função da fé? A função da fé é tornar manifestas as coisas espirituais do mesmo modo que os olhos tornam manifestas formas e cores, os ouvidos tornam manifestados os sons, e o nariz, os cheiros. A fé torna manifestas as coisas espirituais. É por isso que Deus quer que tenhamos fé.

Receber ao Crer que Já Recebemos

Agora temos de ver como precisamos crer. Na Bíblia, a fé tem suas próprias leis. Em todo o Novo Testamento, há somente um lugar que nos diz a função da fé — Hebreus 11.1. Ao mesmo tempo, em todo o Novo Testamento, há somente um lugar que nos diz como crer — Marcos 11.24: “Por isso vos digo: Tudo quanto orardes e pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco”. Aqui nos diz o que é crer. Que é fé? Fé é crer na Palavra de Deus. “Crede que recebestes”. Temos de prestar atenção na palavra recebestes. Ela está no passado. Se hoje encontrar um homem que diz que receberá, imediatamente você saberá que ele não tem fé. Se você perguntar a alguém se ele creu no Senhor Jesus e se foi salvo, e se ele lhe disser que espera ser salvo, então ele certamente não foi salvo. Todos os que dizem que querem receber ou que esperam receber, não têm fé. Marcos 11.24 mostra-nos claramente que fé é crer que já recebemos. Fé não é crer que iremos receber. Não é crer que receberemos, que estamos prestes a receber ou que podemos receber. Todos esses “receberemos”, “podemos receber” e “estamos prestes a receber” não são fé. Somente a fé que crê que alguém recebeu é a fé sobre a qual a Bíblia fala.

Muitas vezes quando prego o evangelho a alguém, ele ouve sobre a obra de Deus e deveria perceber que tudo já foi feito. Eu mostro-lhe sua corrupção, fraqueza, pecados e degradação. Como resultado, ele deveria confessar seus pecados e voltar-se para ver a obra do Senhor Jesus. Depois disso, nós nos ajoelharíamos para orar. Primeiro, eu oro por ele. Então ele deverá orar por si próprio, confessar que é pecador e que cometeu muitos pecados. Ele deveria pedir perdão ao Senhor e pedir-Lhe que lhe dê vida. Após orar desse modo, eu lhe pergunto: “Agora seus pecados estão perdoados?” Se ele disser: “Creio que Deus perdoará meus pecados”, eu digo a mim mesmo: “Esqueça. Esse é um caso perdido”. Se ele disser: “Creio plenamente que Deus perdoará meus pecados”, eu saberei imediatamente que ele não teve fé.

Quando um pregador se regozija a respeito de um ouvinte?  É quando tal pessoa ora e diz, talvez em lágrimas, que agora ela tem clareza sobre tudo. Você sabe que ela passou pela porta e ganhou vida eterna. Ela pode dizer: “Graças ao Senhor, o problema dos meus pecados foi resolvido” ou pode dizer: “Dou graças ao Senhor, porque Ele me aceitou” ou “Graças ao Senhor, Deus perdoou todos os meus pecados por causa de Seu Filho”. Quando ouve isso, você sabe que tal pessoa creu e foi salva. Há somente um tipo de fé na Bíblia — a fé que crê que já recebeu. Todo o que diz que quer receber, que pode receber, que receberá e que deve receber, não recebeu. Meu amigo, essa é a maneira de crer em todos os fatos na Bíblia. Com algumas pessoas, depois de orar com elas, você sabe que elas passaram da morte para a vida e foram salvas. Muitos esperam ser salvos. Essa não é a fé verdadeira. Certa vez conversei com um homem que disse crer plenamente que seria salvo. Eu disse: “É melhor você mudar um pouco suas palavras. Você deveria dizer: ‘Eu espero totalmente’ em vez de ‘Eu creio totalmente’. Se crê totalmente, então você já o recebeu”. Assim, alguém que não coloca a palavra “tenho” ou “já” ou o verbo no passado no que Deus diz, não creu. Se você diz que seus pecados foram perdoados, isso mostra que você creu. Se diz que venceu seus pecados, isso também mostra que você creu. Se diz que recebeu, isso também mostra que você creu. Sempre que puder dizer que recebeu, nesta hora verdadeiramente recebeu. Meu amigo, a questão hoje é muito simples. Não rebaixarei o padrão da Bíblia. Todos os feitos de Deus foram cumpridos. A Palavra de Deus foi pregada a nós. O Filho de Deus morreu. O Senhor Jesus ressuscitou. Que devemos dizer agora? Devemos dizer: “Graças ao Senhor, eu recebi”. Isso é suficientemente bom. Algumas vezes, quando libero a palavra em reuniões de reavivamento, quase choro. Quando as pessoas ali choram, eu também choro. Elas choram por elas, mas eu choro pela salvação de Deus. Elas suplicam a Deus dizendo: “Ó Deus, salva-me”, como se por esse pedido, Deus fosse tocado para amá-las ou salvá-las. Graças ao Senhor. Os que têm fé não precisam orar. Os que têm fé são cheios de louvor. Nunca diga que a oração é um sinal de fé. Lembre-se de que, pelo contrário, orar é um sinal de falta de fé1. Todos os cristãos experientes sabem que onde há fé, há louvor. Um hino diz: Ouça a mensagem do trono Deus falou: “Está consumado”. A fé respondeu: “Está consumado”. A oração cessou, o louvor começou. Aleluia! “Está consumado”.

Vocês não podem dizer: “Será consumado”. Todos os que dizem que será consumado, não têm fé. Deus disse que tudo está feito. Você também deve dizer que tudo está feito. Deus disse que Ele cumpriu todas as coisas e eu creio nisto. Isso é tudo o que importa. O maior problema hoje é que quando você vai a muitos grupos cristãos, encontra centenas de membros da igreja que dizem que creem que Jesus os salvará. Eles creem que Jesus deverá e poderá salvá-los, mas isso não é fé. Isso é esperança. Fazer isso é anular a Palavra de Deus. Por exemplo, se der este livro ao irmão Hu e ele disser: “Creio que você me dará o livro amanhã”, isto não é educação, mas um insulto a mim. Deus enviou Seu Filho para cumprir a redenção. Se ainda dissermos “Por favor, salve-me”, que é isto? O que devemos dizer é: “Deus, agradeço-Te porque o Senhor levou todos os meus pecados na cruz”. Amigo leitor, um pecador não pode ser salvo pela oração. Um pecador somente pode crer que Jesus o salvou.

Fé não é mérito. Nunca considere a fé como obra. Alguns dizem que não sabem se sua fé é suficientemente forte. Deus tornou a fé muito simples para você, mas o homem tornou muito complicado algo simples. Suponha que eu tenha um irmão que tenha pouco dinheiro e se tornou muito pobre. Agora quero dar-lhe algum dinheiro. Digo-lhe: “Você não tem de fazer coisa alguma. Nem mesmo precisa trabalhar. Pegue este dinheiro e pode ir”. Ao fazer isso, estou tornando as coisas muito simples. Contudo, suponha que sua mente seja muito complicada. Suponha que ele perguntasse: “Se meu irmão vai dar-me algum dinheiro, devo tomá-lo com a mão esquerda ou com a direita? Devo recebê-lo ao meio-dia ou à tarde? em pé ou sentado?” Ele quer estudar como pode fazê-lo. Este seria o maior erro em todo o mundo.

Enquanto estava em Cheefoo, encontrei uma irmã e disse-lhe que se ela cresse, receberia. Ela disse: “Tenho feito isso por uma semana. Ainda não sei como posso crer. Não sei se este ou aquele é o modo certo de crer. Não sei se minha fé é suficientemente forte”. Disse-lhe que Deus cumpriu toda a obra e que ela apenas precisava crer de maneira simples. Mas ela analisava demais. Ela fez da fé uma obra. Graças ao Senhor que a coisa mais simples na terra é receber a salvação. Não temos de fazer coisa alguma. Não significa que nada deva ser feito. Apenas significa que o Senhor Jesus fez todas as coisas. Deus diz que Ele morreu. Eu digo que creio que Ele morreu. Deus diz que o Senhor Jesus ressuscitou e isso se tornou uma prova. Eu digo “Sim” e concordo que Sua ressurreição se tornou uma prova de minha justificação. Ele diz que meus pecados foram perdoados, que Ele me salvou. Não esperarei. Eu creio e a questão é resolvida. Quando creio, eu recebo. Graças ao Senhor. Isso é tudo. Passamos da morte para a vida. Não é necessário sentir algo ou esperar paz ou desfrute futuro. Há alguns anos, preguei o evangelho a alguém e ele disse-me que creu no Senhor Jesus, que era um pecador e que o Senhor perdoou os seus pecados. Mas havia um problema. Ele não sentia que o Espírito Santo estava trabalhando tão poderosamente nele quanto ele achava que o Espírito trabalhasse nos outros cristãos. Perguntei-lhe se seus pecados estavam perdoados. Ele respondeu que não. "Por quê?" perguntei-lhe. Ele disse-me que ainda não sentira o Espírito Santo trabalhando nele. Eu disse: “Meu amigo, você está absolutamente errado. A Bíblia não diz que todo o que sente que creu no Filho de Deus tem a vida eterna. Não cremos por meio dos nossos sentimentos. Antes, cremos pela Palavra de Deus”. Quando uma pessoa me dá um livro, não tenho de sentir coisa alguma. Somente tenho de crer em sua palavra. A salvação é totalmente incondicional. Há, no entanto, a conduta adequada. A conduta para a salvação não é fazer algo, é simplesmente crer e receber. Tudo o que Deus diz, eu digo o mesmo. Isso é receber. Aleluia! Sua graça é suficiente para nós!

A Salvação é Eterna — ARGUMENTOS POSITIVOS (1)

Ao longo deste livro, vimos que há diferença entre o pecado e os pecados no homem. Vimos como Deus nos ama e nos dá Sua graça, como Sua graça se manifesta em Sua justiça, como o Senhor Jesus cumpriu toda a obra por nós e o que Sua morte e ressurreição fizeram. Além disso, vimos como o homem pode receber a salvação de Deus. O homem não recebe a salvação de Deus por intermédio da lei, boas obras, confissão, oração e muitas outras coisas. No capítulo anterior, vimos como crer e o que é a fé. Neste capítulo, continuaremos com o nosso estudo. 

A Bíblia nos mostra que a duração da salvação de Deus é eterna; não é temporal. Em outras palavras, a salvação de Deus é dada ao homem para a eternidade, em vez de temporariamente. Não há possibilidade de um cristão perecer, uma vez que é salvo. Eu não estou dizendo que não há castigo para um cristão uma vez que é salvo; nem estou dizendo que não haverá julgamento e perda de recompensa se um cristão não for fiel na obra do Senhor após sua salvação. Um cristão pode ser disciplinado nesta era e também pode ser punido no milênio. Eu não estou dizendo aqui que um pecador será disciplinado. Estou dizendo que um cristão, cuja obra não for aprovada pelo Senhor, perderá sua recompensa à época do trono do julgamento de Cristo. Se um cristão, hoje, tem pecados dos quais não tem se arrependido nesta era, ele receberá a devida punição no reino vindouro. Todas essas verdades estão na Bíblia. Por outro lado, a Bíblia nos mostra que, após um cristão ser salvo, não há possibilidade de ele perder a salvação. Em outras palavras, uma vez que fomos salvos diante de Deus, somos eternamente salvos. O homem, embora salvo, sempre pensa, e nunca sabe, se perderá ou não a salvação. Deus diz que passamos da morte para a vida (Jô 5.24). Mas nós pensamos se podemos ou não passar da vida para a morte. Deus diz que não pereceremos, mas teremos vida eterna (3.16). No entanto, imaginamos que não teremos vida eterna, mas pereceremos; não sabemos se nossa salvação diante de Deus pode ser abalada. Contudo, após lermos a Palavra de Deus cuidadosamente, verificamos que uma vez que a pessoa é salva, ela está eternamente salva. Queremos considerar essa questão de dois lados. Primeiro, considerá-la do lado positivo, e depois, do lado negativo. Neste capítulo, queremos ver, pela Bíblia, como a salvação de Deus é eterna. Se fosse possível perder a salvação de Deus, que aconteceria ao homem? Mais tarde, consideraremos essa questão vista pelo lado negativo. Consideraremos versículo por versículo cada passagem das Escrituras que, aparentemente, diz que a salvação não é eterna e está sujeita a perder-se. Veremos se é possível ou não perder-se a salvação dada a nós por Deus. Neste livro consideraremos o que está mencionado no lado positivo. Devemos ver claramente se a Bíblia diz ou não que podemos perder a salvação que recebemos.

A GRAÇA E O AMOR DE DEUS

Já mencionamos em capítulos anteriores o que é a graça. Todos os leitores do Novo Testamento sabem que somos salvos pela graça. Ninguém cometeria o erro de dizer que a salvação é pela lei e não pela graça. Se um homem disser que uma pessoa é salva pela lei e não pela graça, ele nunca leu o Novo Testamento. No Novo Testamento essa revelação é muito elevada. Não precisamos nos aprofundar tanto em alguns assuntos, mas não podemos permitir que esse assunto seja tratado de maneira superficial. Se é graça, então, nunca podemos ser um devedor diante de Deus. Se demonstro graça aos outros, não posso esperar qualquer pagamento. Se tive algum pensamento de receber algo em troca e se por algum tempo esperei ser recompensado, isso seria um empréstimo e não graça. Se lhe dou algo com a esperança de que um dia você me retribua, isso não é graça. Se hoje Deus nos dá graça com a esperança de que Lhe devolvamos boas obras mais tarde, isso também não é graça. Não há absolutamente retribuição alguma com respeito à graça. Que diz a Bíblia sobre o modo de receber vida eterna? O dom de Deus é a vida eterna em Cristo (Rm 6.23). Portanto, não é possível perder a vida eterna que recebemos. Que é um dom? Um dom é um presente de Deus. É algo que Deus nos dá. Se alguém lhe dá alguma coisa, pode pedi-la de volta? Não somos crianças de jardim da infância, dando doces para alguém um dia e pedindo-os de volta no dia seguinte. Um dom é algo dado gratuitamente. Se fosse possível perder a nossa salvação, Romanos 6.23 teria de dizer: “O empréstimo de Deus é a vida eterna em Cristo”. Um empréstimo pode ser cobrado, mas algo que é dado não pode ser reclamado. Uma vez que seja dado, está dado para sempre. Se a vida eterna nos foi dada em Cristo, então ela nunca poderá ser reclamada. A palavra dom na língua original indica claramente que é algo dado gratuitamente; não pode ser cobrado. Se não pode ser reclamado, então não há possibilidade de perdermos o dom. A Bíblia nos mostra claramente que o dom de Deus é dado sem que Ele se arrependa disso. A vida eterna é um item importante do dom de Deus. A salvação é também um item importante do dom de Deus. Há muitos outros itens além desses. O dom de Deus é dado sem que Ele se arrependa. Se Deus não se arrepende de tê-lo dado, como pode reclamá-lo? Para reclamá-lo, primeiro deve haver arrependimento. Sem qualquer arrependimento, não pode haver qualquer reclamação. Ao mesmo tempo, se há alguma reclamação, já não é mais uma dádiva. Com a dádiva, não há tal coisa como pagamento. Posso dizer que estou dando algo a alguém e, então, pedi-lo de volta amanhã? Eu não posso fazer isso. Se foi dado, então não pode ser reclamado.

Deus não é como nós, oscilando e mudando frequentemente. Ele não age de uma maneira hoje e de outra no dia seguinte. Uma vez que Deus nos deu algo, Ele nunca o pedirá de volta. Portanto, no que diz respeito ao caráter de Deus, desde que a salvação nos foi dada como um dom, em vez de um empréstimo, temos de admitir que ela é eterna. Agradecemos e louvamos ao Senhor porque Ele nunca pede emprestado nem empresta. Ele nunca espera pagamento; Ele apenas dá. Deus é grandioso. Ele não somente nunca empresta ou pede emprestado, como também nunca vende. Deus salvou-nos pela graça. Deus é tão grande que Ele não consegue vender, pedir emprestado ou emprestar qualquer coisa. Ele é tão grande que somente consegue dar sem exigir retorno. Assim, vemos que o dom de Deus é a vida eterna. Por que Deus tem de nos dar vida eterna? Por que Ele tem de nos dar o dom em Seu Filho? Muitos provavelmente já leram João 3.16 que diz: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Por que Deus deu Seu Filho ao mundo? Porque Ele nos ama. Por que Deus nos deu vida eterna? Também porque Ele nos ama. Se enquanto pecadores Deus nos amou a tal ponto de nos dar a vida do Seu Filho, seria possível Deus rejeitar alguém que após se tornar cristão se tornasse fraco e pequeno? Se o Filho de Deus pôde morrer por nós enquanto ainda éramos pecadores, pode Ele recusar-se a amar-nos hoje, após termos crido Nele, meramente porque somos um pouco fracos? Se o amor de Deus não pode mudar, então, também não há possibilidade de Sua graça mudar. Anteriormente, Ele esteve tão disposto a dar Seu Filho unigênito para morrer pelos meus pecados e teve tal grande amor por mim. Será que desde o tempo em que Ele mostrou tal amor por mim, Ele mudou completamente? Será que agora que me tornei cristão Ele tenha decidido mandar-me para o inferno e não amar-me mais? Se anteriormente Ele me amou tanto que morreu na cruz por mim, como poderia Ele ter tal mudança hoje? Como poderíamos nós ser “não-salvos” de novo? Isso é impossível! Isso é impossível não somente de acordo com a razão humana, mas a Palavra de Deus também diz o mesmo. João 13.1 diz: “Jesus (...) tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Assim, não há mudança no amor com o qual Deus ama os homens. Visto que Seu coração estava cheio de amor por nós quando Ele foi à cruz, do mesmo modo, Deus ainda está nos amando hoje. Seu amor não mudou. Sua graça também não mudou. Se o homem pensa que há possibilidade de perder a salvação e a vida eterna, então temos de concluir que há possibilidade de o amor de Deus mudar. Mas isso é impossível! Se a fonte não pode mudar, então o fluir jamais mudará. Se a vida não muda, então o fruto produzido por essa vida não pode mudar. Devemos conhecer o coração do Senhor. Devemos entender que Deus não pode pedir Seu Filho de volta. Romanos 8.32 mostra que uma vez que Deus quis dar-nos Seu Filho, Ele não pode tomá-Lo de volta. Qual você pensa ser maior: O Filho de Deus ou a nossa salvação? O Filho de Deus é mais precioso? ou a vida que recebemos é mais preciosa? Porque somos carnais, pensamos que o Salvador não é tão importante e que a vida é mais importante que o Salvador. Enquanto temos vida, tudo está certo. Não estamos tão preocupados com o Salvador; mas aos olhos de Deus, o Salvador é mais precioso. Ele é mais precioso que a nossa vida. O Filho de Deus é mais precioso que a vida que recebemos. Assim, Romanos 32 nos diz que se Deus não poupou a Seu próprio Filho, antes, por todos nós O entregou, porventura não nos dará graciosamente com Ele todas as coisas? Se Deus quis dar Seu Filho por nossos pecados e se Ele quis dar-nos esse Filho gratuitamente, pensaria Ele em nos tomar a vida eterna após algumas considerações? Suponha que um irmão me deva dez mil dólares e não possa pagar essa quantia. Se sou um homem rico, eu posso dizer-lhe: “Você não tem condições de me pagar seu débito, mas sou benévolo. Aqui estão dez mil dólares. Tome-os e me pague seu débito”. Depois disso, temos de tomar um bonde para o cais. A passagem custa oito centavos por pessoa, mas ele tem apenas sete centavos. Ele pode dizer-me: “Você pode dar-me uma moeda, pois está-me faltando um centavo?” Eu não só tenho muitas moedas, como também notas de dinheiro e outras economias. Contudo, eu lhe peço que me devolva o dinheiro. Digo-lhe que deve pagar-me a moeda primeiro. Você não acharia estranho eu fazer isso? Ontem dei a ele dez mil dólares. Hoje não quero emprestar-lhe nem uma moeda. Que é isso? Provavelmente você diria que tenho febre alta e estou doente. Por que eu não me importaria com dez mil dólares, contudo ficaria preocupado com uma moeda? Se por Seu grande amor Deus nos deu Seu Filho unigênito, discutiria Ele conosco sobre a salvação que recebemos? Devemos lembrar-nos de que a diferença entre uma moeda e dez mil dólares é insignificante diante da diferença entre a vida e o Salvador, entre a vida e o Senhor da vida, entre a salvação que recebemos e o Filho unigênito de Deus. Uma vez que Deus nos deu Seu Filho unigênito, como pode Ele pedir a salvação de volta? Ter tal pensamento não é apenas ignorância e falta de entendimento da graça e do amor de Deus, mas total insanidade mental. Somente os que têm mente obscurecida e insana diriam tal coisa.


Graças a Deus, Ele nos deu Seu Filho e não O pedirá de volta. Além de Seu Filho, Ele nos deu muitas outras coisas, tais como vida eterna e salvação. Deus nos deu Seu Filho e a vida eterna também. Se Ele não pode reclamar Seu Filho de volta, então Ele também não pode reclamar a vida eterna que recebemos. Assim, de acordo com a graça de Deus, é impossível perder a salvação e a vida que recebemos. Essa é a palavra clara de Deus a nós.

DEUS PLANEJOU SALVAR-NOS

Deus salvar-nos é um acidente ou um ato proposital? A salvação de Deus é como as duas moedas que um homem dá a um mendigo ao cruzar com ele na rua? Ou Deus está propositadamente procurando um homem a quem Ele possa dar dinheiro? A salvação de Deus é um acidente ou ela está de acordo com um plano determinado? Os que não entendem a salvação podem pensar que a salvação de Deus é acidental. Mas os que compreendem a Bíblia e conhecem Deus percebem que a salvação de Deus não é acidental. Pelo contrário, foi planejada há muito tempo com um plano definido. Romanos 8.29 diz: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho”. O versículo 30, uma palavra explicativa, diz: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”. A salvação sobre a qual estamos falando envolve todas as coisas mencionadas nos versículos 29 e 30. A história da nossa salvação começou com a justificação, no versículo 30. Fomos salvos quando fomos justificados. Sabemos apenas que cremos em Jesus e que fomos salvos e justificados. Pensamos que a justificação é nosso primeiro encontro com Deus. Pensamos que a primeira vez que tocamos Deus em nossa vida foi quando fomos justificados. Mas a Bíblia diz que Deus nos tocou há muito tempo. Ele conheceu-nos há muito tempo. Nossa justificação veio mais tarde. Deus conheceu-nos primeiro.

Alguns têm dito que Romanos 8.29-30 é a única corrente em toda a Bíblia. É uma corrente de elos diversos. Essa é a corrente mais preciosa e completa. O primeiro elo dessa corrente é o conhecimento prévio de Deus no tocante ao homem. O segundo é nossa predestinação para sermos conformados à imagem de Seu Filho. O terceiro elo é o chamamento dos que foram predestinados. A justificação dos que foram chamados é o quarto elo. O quinto é a glorificação dos que foram justificados. É uma série de interligações. Nós pensamos que conhecemos Deus à época em que fomos salvos e justificados. Mas a Bíblia diz que antes de sermos salvos e justificados, Deus já nos conhecia. Aqueles que Deus conheceu há muito tempo, Ele marcou. Ser marcado significa ter em nosso nome uma marca de identificação, indicando que Ele nos reivindica para Si. Para que propósito fomos marcados? Para que venhamos a ser como Seu único Filho, Jesus Cristo. Ele não quer apenas um Filho, Jesus Cristo; Ele veio marcar-nos para que fôssemos idênticos ao Seu Filho. Assim, os que foram marcados foram chamados. Os que foram chamados são os conhecidos por Ele; são também os que foram marcados por Ele. Então, Ele chamou os que conheceu e marcou-os. Após chamá-los, Ele os justificou.

Se a justificação é o primeiro passo no relacionamento de um cristão com Deus, então não há mais motivo para que sejamos justificados novamente no futuro. Se apanho duas moedas hoje e as atiro no fogo amanhã, isso não é uma grande perda para mim. Não ser justificado é, sem dúvida, uma perda para o homem. Porém Deus não sofre perdas. No entanto, temos de saber que a história de nosso relacionamento com Deus não começa na justificação e salvação. Antes, ela começa na presciência de Deus. A presciência de Deus é o princípio de todas as coisas. Ser predestinado é o segundo passo. Então, ser chamado é o terceiro passo. Somente após o terceiro passo é que temos a justificação. Se perdêssemos nossa justificação e nos tornássemos pecadores novamente, deveríamos questionar a onisciência de Deus. Uma vez que Deus nos conheceu de antemão e nos predestinou, como podemos ainda perecer após sermos salvos? Uma pessoa predestinada por Deus nunca pode ser lançada no inferno e queimada como se fosse um pedaço de madeira. Para nós, tomar uma decisão é uma coisa simples porque mudamos mui facilmente. Num minuto podemos estar no céu e no minuto seguinte, no inferno. É possível que mudemos uma vez por dia nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano. Mas como Deus é Deus, Sua presciência e predestinação não podem ser abaladas. O Deus que conhecemos e a quem adoramos não pode mudar coisa alguma que Ele tenha decidido. Por Ele ter a presciência, a predestinação e o chamamento, nossa justificação é eterna. Para nós, é uma coisa pequena perder nossa justificação. No entanto, para Deus é uma grande coisa perder Sua presciência. Para nós, perder nossa justificação não significa muito. No entanto, para Deus seria algo sério cometer um erro em nos conhecer antecipadamente, nos chamar e não nos justificar. Deus não pode anular a justificação sem afetar Sua presciência, predestinação e chamamento. Se retirarmos um elo, os outros três elos não permanecerão. Se perdêssemos nossa salvação, a presciência, a predestinação e o chamamento de Deus seriam todos anulados.
Complementando, há outro item. O Senhor diz: “E aos que justificou, a esses também glorificou” (v. 30). A não ser que Deus introduza na glória os que Ele justificou, Sua obra não está completa. Se não pudermos entrar no novo céu e na nova terra e se não pudermos entrar na glória eterna, a obra de Deus não é completa. O último elo da obra de Deus é a glória. Até estarmos na glória, a obra de Deus não é completa. Essa é a Palavra de Deus. Que você está fazendo com ela? Não podemos colocá-la de lado. Deus diz que os que Ele justificou entrarão na glória incondicionalmente. Ele não diz que os que foram justificados entrarão na glória se praticarem boas obras. Ele não diz que aqueles cujas obras são aprovadas podem entrar na glória. Nem diz que os que Ele justificou devem ser considerados salvos pelo homem antes que possam entrar na glória. Não há tais condições. Todas as coisas que são mencionadas aqui estão relacionadas com Deus. Foi Deus quem nos conheceu de antemão. Foi Deus quem nos predestinou. Foi Deus quem nos destinou para sermos como Seu Filho e conformados à imagem do Filho. Foi Deus quem nos chamou e nos justificou. É Deus também quem nos introduzirá, os justificados, na glória. Novamente, é Deus quem nos introduzirá no novo céu e na nova terra para herdarmos a glória eterna.

Qual dos elos é o maior na Bíblia? Alguns dizem que a glória é o maior. Outros dizem que é a presciência. Na verdade, não há diferença entre eles; todos são iguais. Não podemos dizer que um é maior que os outros. Todos os que Deus conheceu de antemão foram predestinados. Todos os predestinados foram chamados. Todos os chamados foram justificados. Todos os justificados entrarão na glória. Aleluia! Pode Deus conhecer de antemão uma centena, mas predestinar apenas noventa, chamar apenas oitenta, justificar cinquenta e introduzir apenas dez na glória? Deus não pode mudar. É impossível predestinar muitos e chamar poucos. Por favor, lembrem-se que as palavras “aos que” nesses versículos transmitem este significado: “Aos que” Ele de antemão conheceu, a “estes” também predestinou; “aos que” predestinou, a “estes” Ele também chamou; “aos que” Ele chamou, a “estes” também justificou; “aos que” Ele justificou, a “estes” também glorificou. Esses “aos que” unem os cinco elos. Na língua original, a palavra “estes” significa “estas pessoas”. Assim, aos que Ele de antemão conheceu, a “estas pessoas” Ele também predestinou. Aos que predestinou, a “estas pessoas” Ele também chamou. Aos que chamou, a “estas pessoas” Ele também justificou. Aos que justificou, a “estas pessoas” Ele também glorificou. Não podemos ignorar nem um só item. São todos obras de Deus. Se fossem nossas obras, poderíamos salvar alguns por engano, porque não saberíamos quais deveriam ser salvos. Mas se são obras de Deus, não pode haver erro. Se não conhecemos Deus e Suas obras, ainda podemos pensar que há a possibilidade de alguém se perder. Mas se conhecermos Deus e Suas obras, perceberemos que ninguém pode ser subtraído ou acrescentado.

A Bíblia diz que Deus é eterno; Ele nunca é como nós, tendo um começo sem um fim. Deus diz que Ele é o princípio e o fim, o Alfa e o Ômega (Ap 22.13). Ele diz que é o princípio e o fim. Nós, às vezes, temos um princípio sem um fim. Outras vezes, temos um bom fim, mas não sabemos como ter um bom início. Mas Deus é tanto o princípio como o fim. A obra de Deus não pode parar na metade do caminho. Se a salvação for somente o resultado de nossa obra, então fracassar com respeito à questão da salvação significa somente que paramos na metade do caminho. Contudo, sabemos que a salvação é obra de Deus. Foi Deus quem nos salvou. Assim, se não podemos ser salvos de maneira completa, isso não significa que paramos na metade do caminho — significa que Deus parou na metade do caminho. Certamente nunca podemos imaginar que Deus possa parar na metade do caminho.

Filipenses 1.6 diz que foi Deus que começou a boa obra em nós. Uma vez que Deus a começou e Ele mesmo nos deu a salvação, Ele deve completar essa obra até o dia de Cristo Jesus. Devemos lembrar-nos de que a obra de Deus nunca para no meio do caminho. Ele completará essa obra até o dia de Cristo Jesus, isto é, até Deus glorificar-nos. Podemos ver o âmbito que a Palavra de Deus alcança, quão vasta é essa extensão, quão longa é sua duração e quão profundas são as suas raízes. O versículo 6 diz: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus”. Ou Deus não começa ou Ele terá de completar o que começou. Se Deus não nos quisesse salvar, isso seria o fim da história. Mas se Deus quer muito salvar-nos, não haverá maneira de não sermos salvos. Portanto, podemos dizer: “Deus, agradecemos e louvamos-Te porque nossa salvação está eternamente segura”. Se depender de nós para continuar, falharemos. A obra de continuar foi cumprida por Ele; a obra de preservação também foi cumprida por Ele. Nós nunca podemos continuar o que Ele começou. Quando estava na escola, tive de praticar caligrafia chinesa. Muitas vezes estava com tanta preguiça que pedia a alguns colegas, que eram bons nisso, para fazer para mim. Naturalmente, mais tarde confessei esse pecado. Toda semana tínhamos de nos sujeitar a fazer cinco páginas de caligrafia. Todas elas eram feitas por meus colegas de classe. Em uma ocasião, após um colega meu ter terminado uma linha do exercício de caligrafia, ele teve de ir embora. Ele me disse que estava ocupado e que eu deveria terminar o que ele começou. Quando peguei o pincel, percebi que nunca poderia continuar o que ele havia começado. Sua caligrafia era tão excelente que a minha maneira de escrever simplesmente não poderia equiparar-se à dele. Do mesmo modo, a obra de salvação foi iniciada por Deus. Ele deve ser o único a concluí-la. Se tivéssemos de concluí-la, nunca o faríamos. Se a obra da salvação tivesse de começar com Deus e ser continuada por nós, nenhum de nós estaria qualificado para ser salvo; todos os que querem continuá-la, não conhecem Deus e não conhecem a si mesmos. Se O conhecermos, perceberemos que não há maneira de acabarmos o que Ele começou. E se realmente nos conhecermos, perceberemos que simplesmente não podemos dar-lhe continuidade. Toda a obra de salvação foi cumprida por Ele. Foi Ele quem nos deu salvação. É Ele quem nos salvará totalmente. Nada podemos fazer para preservar nossa salvação.

Assim, vemos duas coisas distintas aqui: 
A primeira, podemos inferir que, porquanto a natureza da salvação é graça, é impossível que nós a percamos; 
A segunda, desde que foi Deus quem começou a obra, quem nos conheceu de antemão e nos predestinou, quem nos chamou e nos justificou, quem nos salvou e quem nos introduzirá na glória, se perdermos nossa salvação poremos em dúvida os atributos de Deus.

REGENERAÇÃO E VIDA ETERNA

O terceiro ponto que precisamos considerar é a salvação que Deus nos deu. Que Deus fez por nós e o que Ele nos deu? Todos nós sabemos que Deus nos deu Sua vida. Ele nos regenerou. A todos os que creram Nele e O receberam foi-lhes dado o poder de serem feitos filhos de Deus (Jo 1.12). Somos nascidos de Deus e temos o poder de sermos feitos Seus filhos (vs. 12-13). João 3 diz que nascemos de novo; foi o Espírito Santo quem nos regenerou (v. 6). A Primeira Epístola de João nos diz que o homem pode ser regenerado. Diz que todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus (5.1). Como fomos regenerados? Fomos regenerados por crer em Jesus como o Cristo, a quem Deus designou. Após lermos a respeito desses três versículos, podemos perceber o que um cristão é. Nós, cristãos, somos filhos de Deus. Quando um pecador crê no Senhor Jesus ele é salvo e Deus lhe dá uma nova vida. Isso é regeneração. A Bíblia nos mostra em pelo menos três ou quatro passagens que ser regenerado é receber vida eterna. A Bíblia repetidamente nos mostra que os que recebem vida eterna são os que creem, e os que creem têm vida eterna. Isso nos é mostrado repetidamente no Evangelho de João. Aqui temos um problema. Deus nos deu vida eterna, porém, que devemos fazer?
Devemos perceber que isso é tanto o princípio como o fim. Se não desejo relacionar-me com pessoa alguma, tenho duas maneiras de agir. O relacionamento humano é bilateral, ele sempre tem dois lados; portanto, não relacionar-se também envolve dois lados. Primeiro, não deve haver início. Se não houver início, não haverá nem mesmo um relacionamento. Segundo, o relacionamento deve terminar e morrer, e então não haverá mais nenhum relacionamento. Por exemplo, suponha que eu seja um filho mau, um pródigo. Há duas maneiras de meu pai não se relacionar comigo. Primeiro, ele não deveria ter me gerado. Se não houvesse um começo, ele não teria de se relacionar comigo. Mas se já houve um começo, então ele não pode mais usar o primeiro caminho. Neste caso, ele pode apenas esperar dia após dia até que eu morra. Quando eu morrer, meu relacionamento com ele estará acabado. Se não nasci dele, nada tenho a ver com ele. Se morri, eu também não tenho mais nada a ver com ele.

Que aconteceu entre Deus e nós? Deus nos gerou. Na época em que cremos em Jesus, Deus nos gerou com Seu Espírito e com Sua própria vida. Nós nos tornamos os filhos de Deus. Pode esse relacionamento ser desfeito? Se hoje você tem um filho que é mau, indisciplinado e desobediente, você pode renegá-lo no tribunal. Mas ainda há o fato de tê-lo gerado. Ele ainda é seu filho em realidade. Hoje, Deus nos gerou. Ele pode dizer que não nos gerou? Mesmo se nos tornarmos piores do que somos, ainda somos nascidos Dele. Mesmo se nosso pai nos negar, ainda somos nascidos dele. Ninguém pode negar o fato do nascimento. Um bom filho é nascido de seu pai. Um mau filho também é nascido de seu pai. Ninguém pode anular esse relacionamento. Então, quando Deus nos justificou, Ele não o fez como uma pessoa que se livra com duas moedas dos pedintes na rua. Ele disse que nos gerou. Deus está no Espírito e nós também estamos no espírito. Deus e nós temos um relacionamento de pai e filho. Isso é o que o próprio Deus disse. Ele nos deu poder para nos tornarmos filhos de Deus. Ele nos deu vida eterna. Somos filhos de Deus por poder. Isso é o início.

Que pode, então, Deus fazer agora? Ele apenas pode esperar que morramos. Mas o estranho é que nosso relacionamento com Ele começa com a regeneração e termina com a vida eterna. Deus não somente nos gerou, Ele também nos deu vida eterna. Se Deus tivesse começado a obra, mas não tivesse sido capaz de completá-la, nós estaríamos terminados. Nesse caso, não poderíamos ser salvos. Quanto à vida eterna que recebemos de Deus, é impossível Deus não nos salvar. Graças a Deus, pois Ele nos regenerou e nos deu vida eterna, que é a vida do Seu Filho. Se alguém hoje pensa que um cristão pode tornar a perecer caso se torne fraco, e que somente um bom filho de Deus terá a vida eterna, enquanto um mau filho perecerá, essa pessoa não conhece a salvação de Deus. Ele pode pensar que o Senhor é um cobrador de dívidas, vindo cobrar a vida eterna e a redenção. Se agirmos bem, podemos conservá-las. Se não agirmos bem, Ele as tomará de volta. Essa não é a salvação de Deus. O princípio tem de ser Dele. A continuação também tem de ser Dele. Uma vez que Deus nos deu salvação, como podemos perdê-la novamente? Uma vez que Deus começou esse relacionamento e a vida que recebemos é eterna, a qual jamais deixa de existir, então nunca poderemos tornar a perecer. Deus nos deu outra figura na Bíblia a fim de mostrar-nos que nunca poderemos perder nossa salvação uma vez que a recebemos de Deus. Gênesis 3 nos é uma passagem familiar. Ela nos diz como Adão pecou. Depois que Adão comeu o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, Deus o expulsou do jardim do Éden e guardou o caminho da árvore da vida com o querubim e a espada flamejante que se revolvia (v. 24). Por que Deus teve de cercar a entrada para a árvore da vida com a espada flamejante e o querubim? Por que Ele não permitiu que Adão comesse do fruto da árvore da vida? Gênesis 3.22 diz: “Então, disse o Senhor Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente”. Aqui vemos um quadro: todos sabemos que o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal significa independência de Deus. O fruto da árvore da vida, por outro lado, significa vida, isto é, a vida dada a nós pelo Filho de Deus. Depois que Adão pecou, Deus temeu que ele comesse do fruto da árvore da vida, e que, por comê-lo, não morresse. Se Adão ainda morresse após comer o fruto da árvore da vida, então por que Deus teve de tomar tal atitude? Por que Ele teve de guardar o caminho da árvore da vida com o querubim e a espada flamejante? Deus fez isso porque Ele temia que Adão vivesse para sempre se comesse dela.


Somos os que foram redimidos. O que temos comido não é o fruto da árvore da vida, que é apenas uma figura. Temos comido a própria Vida. Ainda podemos morrer? Se Adão nunca pudesse morrer após ter comido um fruto simbólico, como podemos morrer após termos sido lavados pelo sangue do Senhor Jesus, tendo comido da própria árvore da vida e tendo recebido vida eterna? Adão recebeu a árvore da vida como um tipo, enquanto nós recebemos o que a árvore da vida tipifica. Então, como podemos morrer? Somente os que não sabem o que é regeneração e o que é vida eterna conseguem dizer que a salvação pode ser perdida. Damos graças ao Senhor porque a vida eterna é um fato que não pode ser anulado. É uma história que nunca pode ser destruída. Eis por que podemos viver diante de Deus. Que graça Deus nos concedeu! O relacionamento entre Deus e nós é tal que podemos fortemente dizer que nenhum poder na terra pode separar- nos Dele. Mesmo se Deus estivesse insatisfeito a esse respeito, Ele não poderia anular tal relacionamento.

SOMOS OS MEMBROS DE CRISTO

Vamos atentar para um quarto ponto. Quando fomos salvos, Deus não apenas nos regenerou e nos deu vida eterna, mas Ele nos fez um espírito com o Senhor. A Primeira Epístola aos Coríntios diz-nos que não somente nos tornamos um espírito com Cristo, mas nos tornamos membros do Seu Corpo (12.27). Em 1 Coríntios 6.15 temos a mesma palavra. Essa passagem diz que nosso corpo é membro de Cristo. Assim, quando um incrédulo é salvo, ele não apenas recebeu regeneração e vida eterna de Deus, mas ao mesmo tempo foi unido ao Corpo de Cristo para se tornar um membro do Corpo de Cristo. A Bíblia diz que nós somos o Corpo de Cristo. Se Deus nos salvou um a um em Cristo e se Cristo morreu por nós, purificou-nos de nossos pecados, deu-nos vida eterna e nos levou a ter um relacionamento de vida com Ele para nos tornar Seus membros, qual é nosso fim? A salvação inclui ser um membro do Corpo de Cristo. Se perecêssemos, qual seria o fim? O fim seria que o Corpo de Cristo seria mutilado. Este Corpo teria uma orelha a menos ou metade de um nariz. Teria um dedo da mão ou do pé a menos. O Corpo de Cristo é uma verdade definitiva na Bíblia. Ele é uma coisa concreta. Se nos tornamos um corpo com Cristo após termos sido salvos, o perecer de uma pessoa significará a perda de uma parte do Corpo de Cristo, e o Corpo de Cristo será mutilado.


Certa vez, uma escrava negra estava trabalhando na casa de uma família branca. A dona da casa era uma cristã nominal, mas a mulher negra era uma cristã genuína. O dia todo a escrava cantava jubilosamente. A patroa ficava aborrecida, tão aborrecida com as canções alegres que ela não podia deixar de perguntar por que a escrava estava tão contente. A mulher lhe disse: “A senhora não sabe que Deus enviou Seu Filho, Jesus Cristo, para nos purificar de todos os nossos pecados? A senhora não sabe que estaremos com Deus no futuro? Por que, então, não estaria me regozijando?” A senhora perguntou: “Como você sabe que estará com Deus no futuro? Que acontece se você se perder?” A escrava disse: “O Senhor Jesus nos disse que o Pai é maior do que tudo. Estou nas mãos de meu Pai. Essas mãos estão me sustentando e preservando. Como posso perder-me?” A senhora ponderou a esse respeito por um tempo e, então, disse: “Como você é tola! Se Deus é maior do que tudo, quão grandes Suas mãos serão! Se as coisas podem escorregar por entre seus dedos, então as coisas podem escorregar por entre os dedos Dele também. Visto que Suas mãos são grandes, o espaço entre Seus dedos deve ser grande também. Se você escorregar por entre Seus dedos, Ele nem mesmo notará. Você diz que as mãos Dele a protegerão. Mas Deus é tão grande e você é tão pequena. Não há comparação entre você e Deus. Se você escorregar da mão de Deus, Ele nem perceberá”. A escrava respondeu: “A senhora não entende. Não estou somente em Suas mãos, eu sou um pequeno dedo da Sua mão. Se apenas estivesse em Sua mão, Ele poderia nem notar quando eu escorregasse. Mas se sou um dedinho na mão de Deus, como posso escorregar?” Se um homem creu e se tornou cristão, ele é membro do Corpo de Cristo e um pequeno dedo na mão de Deus. Se sou um membro do Corpo de Cristo, como membro, Deus nunca me permitirá escorregar. Sou grato ao Senhor hoje, porque eu não posso escorregar nunca. Em Primeira Coríntios 12 é dito que se um membro no corpo sofre, todos os membros sofrem (v. 26). Não podemos ter um dedo machucado enquanto os outros membros permanecem indiferentes. Se todos os cristãos são um membro do Corpo de Cristo e se um dia um de nós tivesse de sofrer no inferno, todos os demais sentiriam o ferimento no céu. Se uma pessoa perecer, então todos os cristãos terão de perecer também. Esta é a unidade do Corpo de Cristo.


Não somente Primeira Coríntios nos diz que somos os membros do Corpo de Cristo, mas outros livros nos dizem o mesmo. O livro de Efésios nos fala do processo pelo qual passa o Corpo de Cristo. Ele também diz que somos os membros de Cristo, mas de modo diferente. A Primeira Epístola aos Coríntios fala sobre o relacionamento e a esfera dos membros. Efésios fala sobre o futuro dos membros. Efésios 5.29-30 diz claramente: “Porque ninguém jamais odiou a própria carne, antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; porque somos membros do seu corpo”. Somos os membros do Corpo de Cristo. Vejamos os versículos antecedentes. Os versículos 25 a 27 dizem: “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito”. Se lermos toda essa porção, do versículo 25 ao 30, descobriremos uma coisa: a igreja é o Corpo de Cristo. Cristo está purificando a igreja pela água da palavra. Ele continuamente a lava até que ela se torne santa. O objetivo final é apresentá-la a Si mesmo, igreja gloriosa. Se houver na igreja alguns que perderam a salvação, teremos um Corpo mutilado, e não haverá a apresentação de uma igreja gloriosa. Nem mesmo as pessoas permanecerão, e muito menos a igreja gloriosa. Esta igreja não tem manchas nem rugas nem coisa semelhante. Que significa isso? Efésios 5 explica: “Porém santa e sem defeito”. Ser sem defeito é ser sem qualquer mancha. Se é possível que os membros do Corpo de Cristo pereçam, então não somente haverá manchas, mas partes mutiladas também. Entretanto a Bíblia diz que esse Corpo não apenas não tem membros mutilados, mas ele é sem qualquer defeito. Portanto, não podemos perder nossa salvação. Já que Cristo terá uma igreja gloriosa sem mancha nem ruga, que será apresentada a Ele santa e sem defeito, nenhum de nós pode perecer.

SOMOS A CASA ESPIRITUAL QUE DEUS ESTÁ EDIFICANDO

Em quinto lugar, a igreja não é somente um Corpo. Quando os cristãos individuais reúnem-se diante de Deus, eles se tornam um templo. Todo cristão é como uma pedra, e a igreja é a casa espiritual que Deus está edificando. O Senhor Jesus é o fundamento desse templo espiritual. Ele é uma grande pedra. Cada um de nós cristãos é uma pequena pedra edificada sobre o Senhor Jesus para nos tornar o templo de Deus e a habitação de Deus. Isso é o que diz 1 Pedro 2.5. Se houvesse a possibilidade de um cristão perecer, o templo de Deus se tornaria mais desagradável à vista que uma velha casa, pois num minuto essas pedras seriam tiradas e no minuto seguinte elas seriam recolocadas, e as paredes estariam cheias de buracos. Se esse fosse o caso, por que Deus não mudou de ideia antes de salvar os homens? Deus pretende que sejamos edificados casa espiritual. Se a casa é espiritual, então nem uma pedra pode ser perdida. Se alguma pedra pudesse ser perdida, a casa espiritual estaria com problemas e não seria edificada adequadamente. O relato no Antigo Testamento, em 1 Reis 6.7, diz-nos como o templo de Salomão foi edificado. O capítulo 5 relata sobre Salomão enviando homens às montanhas para cortar pedras. As pedras já vinham lapidadas das montanhas. Conforme o capítulo 6, elas foram removidas do monte Moriá para a edificação. Assim, quando o templo foi edificado, não houve som de instrumentos de ferro. Não havia mais necessidade de lapidar. Os peritos calcularam com precisão e prepararam todas as coisas na montanha antes que os materiais fossem removidos para o templo. Não havia mais necessidade de aperfeiçoamento; tudo foi feito adequadamente. Se ao edificar o templo terreno os peritos de Salomão puderam cortar tão bem as pedras, de maneira que se encaixassem perfeitamente, a ponto de não haver necessidade de acabamento no local da construção. Poderia Deus mudar-nos, as pedras vivas, uma vez a cada dois ou três dias, enquanto Ele edifica o templo espiritual? Poderia Deus cometer tal equívoco? Deus não saberia como calcular? Deus é pior que o homem? No Antigo Testamento, Deus usou homens para edificar. No Novo Testamento, Ele próprio edifica. A obra de Deus é inferior à do homem? Se os cristãos são as pedras para a edificação da casa espiritual, podem eles se perder? Portanto, se estamos no templo de Deus, nunca podemos perder-nos.

TEMOS O ESPÍRITO SANTO COMO SELO E PENHOR

Em sexto lugar, temos outra coisa importante e maravilhosa: no momento em que cada incrédulo é salvo, ele não somente recebe a vida eterna e se torna um membro do Corpo de Cristo e uma pedra viva no templo, como recebe o Espírito Santo como selo. Deus colocou o Espírito Santo nele como selo. Efésios 1.13-14 diz: “Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido”. Não é essa a nossa história? Ouvimos o evangelho da nossa salvação e cremos em Cristo. Que aconteceu após crermos? Fomos selados com o Espírito Santo da promessa. Todo cristão tem o Espírito Santo como selo. Evidentemente, o Espírito Santo não pertence somente a alguns cristãos especiais e não são apenas os cristãos especialmente santificados que têm vida. Aqui é dito que todo o que ouviu o evangelho da salvação e creu recebeu o Espírito Santo como selo. Isso prova que o selo do Espírito Santo é algo que todos os cristãos têm em comum. Assim que alguém crê, é salvo e tem o Espírito Santo como selo.


Que significa para um cristão ter o Espírito Santo como selo? Que é um selo? Há mais de três milhões de pessoas em Xangai. Como Deus sabe quem pertence a Ele e quem não pertence? Se você me trouxer uma Bíblia hoje, como sei que ela é sua? Há incontáveis Bíblias iguais à sua. A Sociedade Bíblica recentemente publicou um relatório dizendo que no último ano foram vendidas mais de onze milhões de Bíblias. Entre todas essas Bíblias, como você sabe qual é a sua? Quando vai para casa você põe uma identificação em sua Bíblia para que saibamos que ela é sua. Mesmo que misturasse essa Bíblia com todas as Bíblias do mundo, você ainda poderia identificá-la como sua. Hoje, por haver tantas pessoas no mundo, como você sabe quais as que pertencem a Deus e quais as que não pertencem? Por essa razão, Deus pôs um selo em você, provando que você pertence a Ele. Deus não o selou na testa com um grande carimbo. Ele não é como o anticristo vindouro, que colocará uma marca na testa do homem. Deus pôs o Espírito Santo em você como selo. Todos os que têm o Espírito Santo pertencem a Deus. Todos os que não têm o Espírito Santo não pertencem a Deus. Quando uma pessoa é salva, Deus faz uma obra de selagem e põe o Espírito Santo nela para provar que ela é de Deus. Se esse selo do Espírito Santo em nós pode ser apagado, então é possível que venhamos a perecer, pois podemos ser considerados como não pertencentes a Ele.

Podemos ser considerados pessoas típicas do mundo ou até mesmo inimigos de Deus. Mas se este selo estiver em nosso interior, então pertencemos a Deus. Quanto tempo durará o selo de Deus em nós? A última parte de Efésios 4.30 diz: “No qual fostes selados para o dia da redenção”. Aqui “qual” se refere ao Espírito Santo. A frase anterior diz: “E não entristeçais o Espírito de Deus”. Este último selo durará até o dia da redenção. Por quanto tempo a Bíblia diz que teremos o selo do Espírito Santo? Não o teremos meramente por três ou cinco anos, ou por trezentos ou quinhentos anos, mas até o dia da redenção. Qual é o dia da redenção? Romanos 8 diz que o dia da redenção é o dia em que o Senhor Jesus voltará. O dia da redenção é o dia em que nosso corpo será redimido (v. 23). Assim, ele denota o dia em que o Senhor Jesus voltar. O selo do Espírito Santo permanece em nós até a volta do Senhor Jesus. Quando o Senhor Jesus voltar (não na época do primeiro arrebatamento no início da tribulação, mas na época em que todo o Corpo será arrebatado), todos os cristãos serão tomados até os ares. O Senhor Jesus enviará anjos para vir e reunir esses cristãos. Os anjos são limitados. Eles não são oniscientes; eles não conhecem todas as coisas. Os anjos são os servos enviados para reunir os convidados. Quando esses anjos virem todos aqueles com o selo do Espírito Santo, eles os ajuntarão. Portanto, o Espírito Santo não está em nós por três ou cinco dias, ou por trezentos ou quinhentos dias, mas estará em nós até o dia do arrebatamento. Hoje, se o homem diz que pode perder sua salvação e perecer, então eu lhe perguntarei o que ele fará com o selo do Espírito Santo. A partir do momento que Deus disse que fomos selados por Ele, nada há que possamos fazer para remover esse selo. Deus disse que esse selo permanecerá até o dia de Jesus Cristo e o dia do arrebatamento. Em João 14, o Senhor Jesus disse que o Espírito Santo estará conosco para sempre (v. 16). Desde que o Espírito Santo do Novo Testamento entra em nós, Ele nunca mais nos deixará. Nunca creia no desenho que alguns cristãos fazem, o qual apresenta um homem com um coração cheio de cobras, porcos, cachorros e muitos outros animais. Junto ao coração está uma pomba representando o Espírito Santo. Quando um coração estiver limpo, o Espírito Santo supostamente entrará nele e ficará ali e todos os outros animais sairão. Mas se o coração não estiver limpo, a pomba voará e todas as outras coisas entrarão. Isso é totalmente errado! O Espírito Santo nunca pode ir embora. A Bíblia diz que não devemos entristecer o Espírito Santo (Ef 4.30). Tristeza é Expressa o de amor; raiva é expressão de ódio. Onde há ódio há ira. Onde há amor há tristeza. Por favor, lembrem-se de que tanto a raiva quanto a tristeza provêm de erros. Em ambos os casos elas foram causadas por erros. Se houver amor, os erros resultarão em tristeza. Se houver ódio, os erros resultarão em raiva. Se ama uma pessoa, você ficará triste pelos erros dela. Se odeia uma pessoa, você se irritará por causa dos erros dela. Ambos são causados pela mesma coisa: erros. Mas os resultados são diferentes. Aqui, não há raiva, mas tristeza. A Palavra não diz para não provocar à ira o Espírito Santo. Antes, ela diz para não entristecer o Espírito Santo. Ele não está sobre nós, mas em nós. Quando Ele vê nossa falha, Ele se entristece conosco; Ele não vai embora. Por que Ele não vai embora? Porque Ele é um selo. Como selo, Ele estará em nós até o dia da redenção. Se lermos a Palavra de Deus não seremos capazes de negar esse fato.


No Antigo Testamento, o Salmo 51 relata uma oração muito preciosa. Aqui Davi orou para que o Senhor não retirasse dele o Seu Santo Espírito (v. 11). Mas no Novo Testamento nenhum cristão pode orar dessa forma. Todos os que não conhecem a Bíblia podem orar para que Deus não retire deles o Espírito Santo. Mas todos os que conhecem a Palavra de Deus sabem que o Espírito Santo pode apenas ficar entristecido em nós; Ele não irá embora. Não estou dizendo que é certo os cristãos pecarem. Estou dizendo que quando fomos salvos o Espírito Santo entrou em nós para ser nosso selo. Este fato nada tem a ver com nossa fraqueza ou nosso pecado. São duas questões inteiramente diferentes. Se perecermos, quem realmente sofre? Se eu perder um hinário, naturalmente, o hinário sofrerá. Mas o primeiro a sofrer sou eu. Gastei dinheiro para comprar o hinário. Paguei o preço para obtê-lo. Então eu sou o que mais sofre. Como Deus nos obteve? Nós estávamos mortos em pecados e caídos. Foi Deus quem levou Seu Filho a morrer por nós e derramar Seu sangue para nos redimir por um alto preço. Não pense que se perdermos nossa salvação somente nós a perdemos e somente nós sofremos. Lembrem-se de que fomos comprados por Deus. Se perdermos nossa salvação, Deus também perderá algo. Fomos comprados por Seu sangue. Por que Deus nos preserva? Deus nos preserva por causa Dele mesmo. Se nos perdermos, quem sofre não somos nós, mas Deus. O maior problema hoje é que não cremos quão importantes somos nas mãos de Deus. O homem nunca crê que Deus o ama. Ele nunca crê que Deus o quer. Ele sempre pensa que é desnecessário para Deus. Deus entregou Seu Filho por nossa causa e enviou Seu Filho ao mundo para passar por todos os sofrimentos por nossa causa. Ele foi crucificado com o propósito de nos adquirir. Se Ele não se importa, quem então se importará? Se eu não tomar conta de meu hinário, será que o meu hinário cuidará de si mesmo? Efésios 1.13 diz que o Espírito Santo está em nós como um selo. A seguir, o versículo 14 nos diz que o Espírito Santo vem para ser o selo porque somos propriedade adquirida por Deus. Por isso podemos dizer a todo o mundo que somos propriedade de Deus. Não é uma questão de nossa perda ou não. Não somos nós que estamos tomando conta. Não temos de nos preocupar com essa questão. Toda obra é Dele. Se não fosse, por que Ele enviaria Seu Filho unigênito para a cruz? Se Ele fez um grande esforço e pagou um alto preço para enviar Seu Filho à cruz, Ele deve esforçar-se ainda mais e pagar um preço maior para impedir que venhamos a nos perder.

Suponha que você tenha o mais caro e precioso anel de diamante, a pérola mais preciosa ou uma pedra preciosa muito cara. O que gastou para adquiri-la é o quanto gastará para guardá-la. Se você a comprou por dez mil dólares, não desejará perdê-la facilmente; certamente você irá guardá-la bem trancada. Temos de perceber que fomos comprados por Deus pelo mais alto preço. Fomos salvos pelo Filho de Deus. O Filho de Deus é maior do que todo o mundo e todo o universo. Não pense que Deus não cuida de nós. Deus nos trata do mesmo modo que tratamos nosso tesouro. Foi o bom pastor que procurou a ovelha (Lc 15). Não foi a ovelha que procurou o bom pastor. O Senhor Jesus disse que um dia Ele morreria até mesmo por um único perdido. Essa não é uma função da ovelha. Foi o bom Pastor que morreu pela ovelha. Diante de Deus somos os que foram comprados por Ele. Se nos perdermos, Deus é quem sofrerá. Por isso, devemos lembrar-nos de que desde que temos o Espírito Santo como um selo, não há possibilidade de nos perdermos. Pode a graça que Deus deu ao homem ser preservada pelo homem? Se ela tivesse de ser preservada pelo homem, já nos teríamos perdido há muito tempo. Não somente nos teríamos perdido, mas Pedro e Paulo a teriam perdido também. Temos de perceber que Deus já nos separou totalmente. Tudo é de Deus. Foi somente Deus quem nos salvou. É somente Deus quem nos está preservando. Que Deus nos mostre claramente quão perene é a nossa salvação, para que possamos remover todos os pensamentos carnais acerca dela e aceitar os pensamentos Dele.

A Salvação é Eterna — ARGUMENTOS POSITIVOS (2)

Vimos no capítulo anterior muitas coisas que Deus já fez. Quando fomos salvos, Deus nos deu Seu Espírito Santo como selo. Não que o Espírito Santo coloque um selo sobre nós, senão que o Espírito Santo é um selo sobre nós: o selo de Deus sobre nós. Esse selo permanecerá até o dia da redenção. Portanto, nenhum cristão pode perder a salvação. Neste capítulo, continuaremos a ver que o Espírito Santo não é meramente o selo que Deus nos deu, mas é também o penhor que Deus nos dá para assegurar-nos de nossa herança eterna. O Espírito Santo é a prova do recebimento da nossa herança. O Espírito Santo em nós tem dois aspectos. Por um lado, Deus põe Seu Espírito Santo em nós como selo para provar que pertencemos a Ele; por outro, Deus O coloca em nós como penhor (garantia) a fim de que possamos saber que tudo o que Ele nos dá é garantido. Qualquer pessoa pode ver que esses dois aspectos são diferentes. Por um lado, o Espírito Santo faz com que Deus saiba que pertencemos a Deus; por outro, o Espírito Santo faz com que saibamos que pertencemos a Deus. Já vimos o Espírito Santo como o selo, agora queremos vê-Lo como o penhor.

Em Efésios 1.14 lemos: “O qual é o penhor da nossa herança”. Quando cremos no Senhor Jesus, Deus prometeu dar-nos uma herança incorruptível nos céus. Como podemos saber que Deus não mudará de ideia e tomará nossa herança de volta? Sabemos que Deus não a retirará de nós, porque Ele nos deu o Espírito Santo como prova ou penhor. A palavra “penhor” na língua original significa depósito. A princípio, eu deveria pagar vinte mil dólares a uma pessoa, mas agora, primeiro pago a ela duzentos dólares como depósito. Um depósito significa dar à pessoa um pouco hoje e uma quantia maior no futuro. Você já pagou ou recebeu um sinal quando comprou ou vendeu algo? Ao alugar uma casa, você alguma vez pagou um sinal? Originalmente você deveria pagar trinta dólares por mês ao proprietário, mas agora você primeiro paga cinco dólares como depósito pela casa. Ao pagar os cinco dólares, você está dizendo ao proprietário que os outros vinte e cinco dólares definitivamente virão. Deus disse que dará a você uma herança incorruptível nos céus. Como você sabe que certamente obterá essa herança no futuro? Como sabe que não vai perdê-la? Porque o Espírito Santo já nos foi dado. O Espírito Santo é o dinheiro da entrada, a caução, o penhor, o sinal do depósito que Deus nos deu. Quando Deus nos dá o Espírito Santo, Ele está nos dizendo que toda a herança nos céus será nossa no futuro. Se uma pessoa perdesse a salvação após ter crido no Senhor Jesus, que faria ela com a caução de Deus? Por exemplo, tenho uma casa para alugar por cinquenta dólares por mês. Um irmão vem alugá-la dando primeiro um sinal de cinco dólares. Isso é menos de quarenta e cinco dólares. Ele diz que o valor total certamente me será entregue. Se depois de algum tempo ele não pagar-me, que devo fazer? Devo ficar com seus cinco dólares. Contudo, Deus não pode fazer isso. Primeiro, a promessa que Deus nos deu não pode falhar. Mesmo que Deus não tivesse dado o sinal, uma vez que falou, Ele cumprirá. Ainda que Deus não nos dê penhor ou sinal, desde que diga que nos dará uma herança, Ele certamente cumprirá Sua palavra. Por nossa mente ser muito legalista, Deus nos deu o Espírito Santo como prova, a fim de que saibamos que Ele nos deu o sinal. Já que temos o depósito, não nos dará Ele a herança?

Há uma porção maravilhosa no Antigo Testamento: é Gênesis 24, que nos mostra o velho servo de Abraão buscando uma esposa para Isaque. O servo levou consigo bens e coisas preciosas da casa de Abraão. Depois de combinar com Rebeca a respeito de seu casamento com Isaque, ele deu todas aquelas coisas a Rebeca como presentes de compromisso de noivado. Por um lado, o velho servo deu a ela todas aquelas coisas, como adornos para o nariz, dedos, cabeça, pescoço e mão. Por outro lado, aquelas coisas todas mostravam a Rebeca que eram apenas um pequeno sinal de que, ao final, todos os bens de Isaque seriam dela. Devido à nossa incredulidade, após sermos salvos, podemos pensar que Deus não teve a intenção de salvar-nos. Ponderamos sobre o que aconteceria se nossa salvação fosse meramente um presente de Deus para nós, a qual, depois de alguns anos ou décadas, se perdesse e nós nos perdêssemos novamente. Deus sabe que pode haver dúvidas em nosso coração. Ele põe o Espírito Santo em nós como prova para nos assegurar que definitivamente nos dará a herança. Meu amigo, quando você vir o Espírito Santo em seu interior, perceberá que definitivamente obterá a herança eterna. Se Deus não nos vai dar a herança futura, por que nos deu o Espírito Santo? Se Deus não nos vai dar a herança futura, o penhor do Espírito Santo é sem sentido. Não podemos perder a salvação, porque o Espírito Santo nos foi dado como penhor. Enquanto o Espírito Santo estiver em nós, estamos salvos. A Bíblia diz que Ele estará em nós até o dia da redenção. Por isso, podemos dizer seguramente, e com prova concreta, que nós obteremos a herança futura.

OS CRISTÃOS SÃO PRESENTES DADOS POR DEUS AO SENHOR JESUS

Além disso, há outra razão pela qual não perderemos nossa salvação. Na Bíblia, vemos que há um relacionamento entre o Senhor Jesus e Deus, e que há um relacionamento entre o Senhor e nós. Muitos cristãos não viram claramente o relacionamento entre Deus, o Senhor Jesus e nós, os pecadores. Por isso, eles se confundem e pensam que podem perder a salvação. Há uma palavra maravilhosa na Bíblia que diz que nós, cristãos, os pecadores já salvos, somos os presentes dados por Deus ao Senhor Jesus (Jo 17.6). O Pai e o Filho estão presentes nesse versículo. O Pai deu como presentes ao Senhor Jesus as pessoas salvas. Se Deus nos deu como presentes ao Senhor Jesus, será que ainda há possibilidade de perdermos a salvação? Temos de considerar a questão sob dois ângulos.
 

Por um lado, Deus nos deu ao Senhor Jesus como presentes. Se nos fosse possível perecer e perder a salvação, se nossa salvação não fosse eterna, o fato de Deus dar-nos ao Senhor Jesus se tornaria uma brincadeira com o Senhor. Seria como uma mãe dando bolhas de sabão ao filho. Você já brincou com bolhas de sabão? Mergulha-se um canudo em água com sabão, sopra-se no canudo e as bolhas aparecem. Sabemos que essas bolhas desaparecerão em poucos minutos. Mas quando as vê, a criança vibra, pensando que a bolha é uma grande diversão; ela não sabe que a bolha logo estourará. 
 

Se Deus não fosse onisciente, ser-nos-ia possível perecer porque Deus não saberia se nossa salvação seria temporária ou permanente. Mas Deus é onisciente; Ele saberia se fôssemos salvos eterna ou temporariamente. Se Deus não fosse onisciente, seria possível que Ele nos desse como uma bolha de sabão ao Senhor Jesus. Mas se Deus é onisciente, Ele deve saber que após três ou cinco anos essa bolha estourará. Sendo assim, Ele simplesmente estaria dando ar ao Senhor Jesus, e não um presente. Deus é um Deus eterno; tudo o que Ele faz é eterno. Se Deus nos dá como dádiva ao Senhor Jesus, Ele não pode considerar isso uma prenda sem valor. Em segundo lugar, se Deus fizesse isso, causaria um problema ao Senhor Jesus também. Suponha que Ele nos tenha dado ao Senhor; entretanto, três ou cinco anos mais tarde, perecemos e perdemos a salvação. Em nosso conceito, nós a teríamos perdido. Mas de quem seria a culpa de a termos perdido? Você poderia culpar o presente dado por Deus por ser corruptível, como também poderia culpar o Senhor Jesus de não ser capaz de cuidar desse presente. Muitas vezes, as pessoas enviaram-me bons presentes. Quando estive longe de casa, perdi um deles ou o danifiquei. Posso culpar o presente por ser frágil ou a mim mesmo por ser descuidado em guardá-lo. Deus disse ao Senhor Jesus que deu essas pessoas a Ele. Que aconteceria se um dia essas pessoas se perdessem? Não poderíamos culpar somente Deus por dar ao Senhor Jesus um brinde sem valor, mas deveríamos também culpar o Senhor Jesus por não ser capaz de guardar aqueles que Deus Lhe deu.
 

Em João 17.6, o Senhor Jesus disse ao Pai: “Manifestei o Teu nome aos homens que Me deste do mundo. Eram Teus, Tu mos deste e eles têm guardado a Tua palavra”. Todos os salvos foram dados e presenteados por Deus ao Senhor Jesus. O versículo 9 diz: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo”. O Senhor Jesus não orou pelo mundo, mas “por aqueles que Me deste, porque são Teus”. Assim, nós, cristãos, somos os presentes dados por Deus ao Senhor Jesus. O versículo 12 diz: “Quando Eu estava com eles, guardava-os no Teu nome, que Me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição”. Na oração do Senhor, Ele disse que havia guardado todos os que Deus Lhe dera. Havia apenas um filho da perdição, que foi Judas. Judas jamais creu; desde o princípio ele era o filho do inimigo e nunca foi salvo. O Senhor Jesus disse que, exceto Judas, não pereceu nenhum dos que Deus Lhe dera.
 

Meu amigo, você precisa saber que Deus já deu você ao Senhor Jesus; Ele já deu você uma vez para sempre. Isso é como uma jovem sendo dada em casamento. Quando fomos salvos, Deus já nos deu ao Senhor Jesus. Por isso, todos os que Deus deu ao Senhor Jesus, os que creram no Senhor Jesus, serão guardados por Ele. O Senhor Jesus disse: “Eu guardava-os em teu nome, que me deste”. Como pode um cristão perder a salvação novamente? Depois que Deus o deu ao Senhor Jesus, como você poderia perder-se? A Bíblia diz que nem um dos que Deus deu ao Senhor Jesus pereceria. Deus deu muitos ao Senhor Jesus. Pense nisto: Após Deus ter dado todos nós ao Senhor Jesus, poderíamos perecer novamente após três ou cinco anos, simplesmente porque não somos bons? Você deve ouvir o que o Senhor Jesus disse em 6.37: “Todo aquele que o Pai Me dá, virá a Mim; e o que vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora”.
 

Por que você creu no Senhor Jesus? Por que veio a Ele? Você veio ao Senhor Jesus e O recebeu porque Deus deu você ao Senhor Jesus. “Todo aquele que o Pai Me dá, virá a Mim”. Em outras palavras, todos os que vêm ao Senhor são dados a Ele pelo Pai. A única razão pela qual você vem ao Senhor Jesus, pela qual O recebe como Senhor, pela qual você crê em Sua obra redentora e em Sua ressurreição como prova de sua justificação, é que Deus deu você ao Senhor Jesus. No céu, Deus deu você ao Senhor Jesus e, na terra, você creu Nele e veio a Ele. Deus o deu para que você viesse ao Senhor Jesus. Que é dito depois disso? “O que vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora”. Não há maneira de perdermos a salvação porque Deus já nos deu ao Senhor Jesus.
 

Isso não é tudo. Há outra porção na Bíblia, João 10.29, que diz: “Meu Pai, que as deu a Mim”. Quem são as ovelhas do Senhor Jesus? Nós somos as ovelhas. No Evangelho de João, é-nos mostrado várias vezes que somos o presente dado ao Senhor Jesus por Deus. Deus não pode dar-nos como uma prenda barata, e o Senhor Jesus não pode simplesmente jogar-nos fora após nos ter recebido. Não pensem que a nossa salvação é insignificante. Uma vez que não somos salvos por fazer isso ou aquilo, também não podemos deixar de ser salvos pelo fato de fazer isto ou aquilo. Agradeço a Deus porque anteriormente eu era um pecador. Eu, Watchman Nee, não pedia para ser salvo. Eu rejeitava-O e me opunha a Ele. Mas, inesperadamente, Deus restaurou-me e levou-me a aceitar a Palavra que eu havia rejeitado a princípio. Deus tomou-me e deu-me ao Senhor Jesus. Uma vez que fui dado, não tive mais como escapar. Quando Deus me deu ao Senhor, eu O recebi como o Salvador. Daquele dia em diante, passei a estar nas mãos do Senhor. Já que fomos dados por Deus e recebidos pelo Senhor Jesus, para onde podemos fugir? Se nós estivéssemos labutando por nós mesmos, se tivéssemos lutando e esforçando-nos para nos salvar, bastaria uma pequena negligência ou descuido e estaríamos terminados. Mas devemos perceber que foi Deus quem nos deu ao Senhor Jesus e quem nos salvou.
 

Permitam-me dar-lhes uma ilustração um tanto imperfeita. Sabemos que em 1937 certa região da China passou por severa escassez de alimento. Li muitas reportagens a respeito. Crianças de dois anos, que ainda nem podiam falar, estendiam as mãozinhas para pedir esmola. Elas pediam comida, roupa e sobreviviam esmolando na rua; não tinham outra maneira de sobreviver. Suponham que houvesse uma pessoa rica que tivesse em casa abundância de comida e de roupa. Se eu entregasse uma dessas crianças a essa pessoa, no tocante às coisas materiais, poder-se-ia dizer que a criança estava salva. Uma vez que eu dei a criança, ela está salva. Do mesmo modo, nós, os pecadores, estávamos mortos no pecado. Mas assim que Deus nos deu ao Senhor Jesus, fomos salvos. Ser salvo significa ser dado por Deus. Enquanto estávamos mortos no pecado e esperando pelo julgamento sob a condenação, Deus nos entregou a Cristo. Como resultado, estamos salvos. Isso não dependeu de você. Já que Deus o recebeu, Ele não pode abandoná-lo de novo. Você era uma pessoa perdida; não tinha “comida nem roupa”. Deus o deu ao Senhor Jesus e Ele o recebeu. Como expulsá-lo de novo agora? Isso é impossível. Deus deu e o Senhor Jesus recebeu. O Senhor disse que todo o que vem a Ele não será lançado fora. Todo o que Lhe é dado por Deus, Ele não lançará fora. Assim, não há como tal pessoa perecer. Se você pudesse perecer, significaria que Deus não é coerente. Deus já deu, e o Senhor Jesus já recebeu. Como você pode perecer? Seria um milagre se lhe fosse possível perecer. Posso dizer a Deus: “Deus, sou grato a Ti. Eu era um pecador; estava morto no pecado. Enquanto eu ainda era pecador, não tinha o desejo de ser salvo. Mas Tu me deste ao Senhor Jesus e Ele me recebeu. Desde que me deste e Ele me recebeu, não posso evitar ser salvo.”
 

O Senhor Jesus disse: “Aquele que vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora”. A expressão “de modo nenhum” na língua original é muito enfática. Significa a despeito do que quer que seja. “De modo nenhum” é uma expressão forte, mas por causa de nossa familiaridade com as palavras, não prestamos muita atenção a ela. Significa que a despeito de qualquer motivo, o Senhor não nos abandonará. Não há absolutamente um único cristão a quem o Senhor tenha abandonado. Fomos salvos por causa do Senhor Jesus; podemos continuar em nossa salvação e sermos preservados nela também por causa do Senhor Jesus. Se você pensa que a salvação vem do Senhor, mas preservá-la depende de nós, você descobrirá que ninguém pode preservar-se nem mesmo por um único dia. Eu estou colocando o homem de lado; estou desprezando o homem, mas exaltando o Salvador. Tudo foi cumprido por Ele. Isso é uma dádiva, é um presente. Nunca seremos rejeitados.

O SENHOR JESUS É O NOSSO SUMO SACERDOTE
 

Agora chegamos a outro ponto. É precioso saber pela Bíblia que o Senhor Jesus é nossa oferta; porém, é mais precioso saber que Ele é nosso Sumo Sacerdote. Muitas vezes perguntei aos irmãos em vários lugares o que faríamos se o Senhor Jesus não fosse nosso Salvador. Muitos disseram que não teríamos esperanças. Se o Senhor Jesus não fosse nosso Salvador, estaríamos perdidos; não haveria maneira de sermos salvos. Então perguntei o que aconteceria se o Senhor Jesus não fosse nosso Sumo Sacerdote. Muitos disseram que isso não faria muita diferença. Eles achavam que não faria muita diferença se o Senhor Jesus fosse ou não nosso Sumo Sacerdote. Precisamos saber que não é bem assim. Nossa salvação só pode ser mantida porque o Senhor Jesus é nosso Sumo Sacerdote diante de Deus. Não é necessário mencionar os pecados antigos ou os de ontem. Tão-somente os pecados que cometemos hoje são suficientes para perecermos. Podemos continuar salvos somente porque o Senhor Jesus está orando por nós. A intercessão do Senhor Jesus mantém-nos salvos. Hebreus 7.25 diz: “Por isso também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus”. Por que Ele pode fazer isso? Por estar “vivendo sempre para interceder por eles”. A Bíblia nos diz claramente que o Senhor Jesus é capaz de salvar totalmente os que se chegam a Deus por Ele. Algumas pessoas podem dizer-nos que podemos perder a salvação ou que podemos ainda perecer. Se fosse este o caso, onde colocaríamos a oração do Senhor Jesus? Deus diz que o Senhor Jesus vive sempre para interceder por nós. Ele continua a viver para interceder por nós. Quem pode compreender toda a eficácia da intercessão do Senhor Jesus por nós? Se você tem um amigo que não é salvo e ora por ele, Deus pode salvá-lo. Quanto mais pode o Senhor Jesus, que está sempre diante de Deus intercedendo por nós, manter-nos salvos eternamente! Suponha que tenha um amigo que se tenha afastado após crer em Jesus. 
 

Você orou por ele, escreveu-lhe cartas, com a esperança de que se tornasse um bom cristão novamente. Deus ouviu suas orações, e depois de alguns anos, ele foi reavivado. Não seria, então, a oração contínua, eterna e perpétua do Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo, que está sempre diante Dele, muito mais eficaz? Visto que o Senhor Jesus é o Sumo Sacerdote eternamente vivo, que intercede por nós diante de Deus, certamente seremos totalmente salvos por Ele.
 

Estou muito feliz a respeito de uma coisa. Os outros podem esquecer de orar por mim, mas eu ainda sou uma pessoa pela qual Alguém ora. O homem pode desistir de orar por mim, mas eu ainda sou uma pessoa por quem Alguém ora, porque o Senhor Jesus sempre ora por mim. Tenho Alguém que é o Sumo Sacerdote diante de Deus. Embora o homem possa esquecer, Ele nunca se esquece. Ele vive perpetuamente como o Sumo Sacerdote para interceder por nós. O Senhor Jesus nos disse que Sua oração é por todos os que creem; é por todos os que pertencem a Ele. Não é pelos que estão no mundo. João 17, que citamos há pouco, é muito claro. O versículo 9 diz: “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo”. “Eles”, aqui, refere-se àqueles dados a Ele pelo Pai, conforme mencionado nos versículos anteriores. “Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste”. Aqui vemos a esfera da oração do Senhor; é pelos que creram Nele e não pelos do mundo. Há outra questão aqui que podemos mencionar. O Pai está relacionado com o mundo, e o Filho com a igreja. O Novo Testamento nunca diz que Cristo ama o mundo; vê-se apenas que Deus ama o mundo. Por outro lado, vê-se que Cristo ama a igreja e a Si mesmo se entregou por ela. A esfera do Pai é o mundo e a esfera do Filho é a igreja. O Senhor Jesus disse que não orava pelo mundo. O resultado de Sua obra faz com que o mundo seja salvo; no entanto, Sua oração, Seu sacerdócio, é somente para os cristãos. Não é para os de fora. Ele ora por nós. Qual o propósito de Sua oração por nós? Ele ora para Deus conservar-nos e proteger-nos a fim de sermos como Ele, a fim de sermos separados do mundo e a fim de sermos um. Apesar de o mundo ser tão forte, as tentações de Satanás serem tão severas e de a carne do homem ser tão ativa, a oração do Senhor tem pleno poder; Ele é capaz de nos guardar. Se Deus não fosse um Deus que ouve as orações, nada aconteceria. Mas Deus ouve as orações. Em João 11, o Senhor Jesus disse: “Pai, graças Te dou (...) Tu sempre Me ouves”. Se Deus continua a ouvir a oração, será impossível não sermos salvos. Amigo, antes que você pereça, você primeiro teria de fugir da oração do Senhor Jesus. A oração do Senhor Jesus é a grade de proteção contra o inferno. Se quiser ir para o inferno, você primeiro precisa pular esta grade. Se você não puder derrubar a oração do Senhor Jesus e não puder livrar-se da grade protetora da oração, você não tem como perecer. Graças a Deus! a oração do Senhor Jesus é digna de confiança. Deixe-me citar um exemplo bastante esclarecedor. Quando o Senhor Jesus esteve na terra, certa vez Pedro Lhe disse mui orgulhosamente: “Todos podem negar-Te, mas eu nunca Te negarei”. Logo depois, Pedro falhou. O Senhor Jesus lhe disse antecipadamente: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo. Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos” (Lc 22.31-32). Por causa dessa palavra, Pedro pôde levantar-se novamente após ter falhado. Não somente pôde levantar-se, como também ajudar muitos outros. Até hoje muitas pessoas estão-se levantando por causa de Pedro. Pedro não mudou por si mesmo. Foi o poder da oração do Senhor que o guardou o tempo todo. Mais tarde, quando se lembrou da palavra do Senhor, ele chorou e se arrependeu. Tudo isso aconteceu pelo poder da oração do Senhor. Deus ouve a oração do Senhor.
 
O Senhor Jesus nunca orou por Judas, porque Judas estava perdido desde o início; ele não era salvo. Desde o primeiro dia, ele estava perdido. Ele nunca creu no Senhor Jesus e nunca O reconheceu como Senhor; ele meramente O chamava de Mestre. Judas estava perdido. O Senhor Jesus não podia orar por ele. Mas Pedro era salvo; ele foi definitivamente salvo, no mais tardar, na época de Mateus 16, quando confessou o Senhor Jesus como o Filho do Deus vivo. Não devemos confiar em nossa oração. Antes devemos confiar na oração do Senhor Jesus. Não é questão de orarmos fervorosamente todos os dias. A questão não é quantas vezes oramos nos últimos dias. Precisamos lembrar-nos de que, não importando quantas vezes oramos, nada será realizado. Não é a nossa oração que nos mantém salvos até o fim; é a oração do Senhor Jesus que pode guardar-nos salvos até o fim. Não sei quantos de nós creem no poder da oração do Senhor Jesus. Vocês podem confiar a si mesmos, sem reservas, à oração do Senhor Jesus? Vocês podem achar que as tentações de Satanás são severas, que as tentações do mundo são fortes, que os desejos carnais são intensos e que os ataques de Satanás são intensivos. Eu não posso concordar com sua palavra. Se olharmos para nós mesmos, frequentemente temos vontade de dizer que estamos acabados. Algumas tentações a mais de Satanás, e pensamos que nossa carne perderá o vigor. Muitas vezes, sentimo-nos desencorajados e incapazes de continuar a orar. Em tais situações, precisamos confiar no Senhor Jesus. Ele é nosso Sumo Sacerdote. Temos de erguer a cabeça e confiar Nele. Devemos dizer: “Eu não posso fazer isso. Não posso nem mesmo orar. Contudo, eu confiarei Nele. Ele é meu Sumo Sacerdote; Ele pode salvar até o fim todo o que vier a Deus por intermédio Dele, porque Ele vive sempre para interceder por nós”. Temos de confiar Nele. Uma vez que temos tal Sumo Sacerdote intercedendo por nós, ser-nos-ia possível perder a salvação?

DEUS É QUEM NOS GUARDA
 
Não estou dizendo que devemos esquecer as passagens difíceis da Bíblia. Falaremos delas no próximo capítulo deste livro. Mas há muitas coisas positivas que são inegáveis. Não temos somente a oração do Senhor Jesus e o funcionar do Senhor Jesus como nosso Sumo Sacerdote; a Bíblia relata muitos outros itens. Nossa salvação não depende meramente de nosso crer; ela também depende do poder protetor de Deus. Não somos nós que nos guardamos, mas é o poder de Deus que nos guarda. Pela mesma condição que fomos salvos, somos também guardados. A condição para receber é a condição para guardar. É impossível ter uma condição para receber e outra para guardar. É pela graça que recebemos a salvação de Deus; é também pela graça que desfrutamos o guardar de Deus. Se você diz que a salvação é pela graça, mas o guardar é pelas obras, então nunca leu o livro de Gálatas.
 

A Epístola aos Romanos trata especificamente dos pecadores; a Epístola aos Gálatas trata especificamente dos cristãos. Romanos diz que o homem não pode ser justificado por obras e Gálatas diz que o homem não pode manter sua justificação por obras. Romanos nos diz que os pecadores não podem confiar em obras; Gálatas diz que os cristãos não podem confiar em obras. Romanos nos diz que a justificação dos pecadores diante de Deus nada tem a ver com a lei e com as obras; Gálatas nos diz que a preservação da graça dos cristãos, da mesma forma, nada tem a ver com a lei. “Tendo começado no Espírito, estais agora vos aperfeiçoando na carne? Tendo começado pela fé, estais agora vos aperfeiçoando na lei?” Portanto, Romanos é para incrédulos e fala do ponto de vista dos incrédulos. Gálatas é para os cristãos e fala do ponto de vista dos cristãos. Se o receber da graça diante de Deus é gratuito, a preservação da salvação diante de Deus também deve ser gratuita. A Bíblia mostra-nos muito claramente que é Deus, e não nós, Aquele que nos preserva.
 

Em 1 Pedro 1.5 diz-se: “Sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo”. O último passo da salvação é a redenção na vinda do Senhor Jesus. A salvação pode ser dividida em três estágios. A salvação abordada neste trecho refere-se à nossa redenção na volta do Senhor Jesus. Mediante a fé somos guardados pelo poder de Deus para a redenção. Somos nós que seguramos Deus ou é Deus quem nos segura? Somos nós que nos guardamos ou somos guardados por Deus? A Bíblia diz que é Deus quem nos guarda. O guardar do poder de Deus pressupõe que se eu me perdesse, a responsabilidade não seria minha, mas de Deus. Eu falo reverentemente: se nós nos perdêssemos, maior responsabilidade recairia sobre Deus do que sobre nós. Por isso, não devemos ter qualquer pensamento de que os cristãos podem perder-se. Falaremos sobre esse assunto nos próximos capítulos deste livro. O problema hoje é a salvação. A salvação é algo totalmente relacionado com Deus. Suponha que eu deixe um carimbo com um irmão, pois tenho de cuidar de alguns problemas. Se esse irmão perder meu carimbo, de quem é a responsabilidade, minha ou dele? É verdade que estou em parte errado por confiar nesse irmão; mas a responsabilidade direta repousa sobre ele, porque confiei meu carimbo a ele. Se eu me entregasse a Deus e mais tarde perdesse a minha salvação, com efeito eu teria cometido um erro por confiar em Deus. Mas o erro seria diretamente de Deus. Seria Deus quem estaria errado. Somos preservados por causa do poder de Deus. Os que não conhecem Deus podem dizer que o poder de Deus não seria adequado para nos guardar. Mas todo o que conhece Deus tem de se curvar e dizer: “Nós, que somos guardados pelo poder de Deus pela fé, receberemos definitivamente a salvação pronta para ser revelada nos últimos tempos”. Pedro estava completamente confiante de que nós a receberemos. Não importa o que aconteça, seremos totalmente salvos.
 

Por que seremos totalmente salvos? Em 2 Timóteo 1.12 diz-se: “Porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia”. Tudo o que Paulo depositou no Senhor, o Senhor guardará até o dia de Sua volta. Portanto, estamos salvos o tempo todo até aquele dia. Muitas vezes penso no que deveria acontecer se um dia eu, Watchman Nee, fosse para o inferno. Minha perdição não seria grande coisa. No entanto, para a glória de Deus sofrer perda seria grande coisa. Para mim, ir para o inferno e perecer, não importaria muito, mas para a glória de Deus a perda significaria muito. Minha perdição não seria importante; mas se eu perecesse, Deus certamente não seria glorificado. Sua glória certamente seria danificada, porque indicaria que Deus não guarda bem. Se eu perecesse, isso aconteceria porque Deus não me guardou bem. Por causa da glória de Deus, todos os que conhecem Deus e Seu poder protetor dirão que não há como perder a salvação de Deus. Aleluia! Não há possibilidade de perdê-la. A Palavra de Deus é mais do que clara a esse respeito. Em relação aos versículos sobre guardar, o que mais gosto é Judas 24-25a. Ele é mais peculiar do que qualquer dos outros versículos. Ele nos diz o que o nome de Deus é. O nome de Deus é “Àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da Sua glória, ao único Deus, nosso Salvador”. Que é o nome de Deus? O nome de Deus é Aquele que é poderoso para nos guardar de tropeços; o nome de Deus é Aquele que é poderoso para nos apresentar com exultação, imaculados diante de Sua glória; o nome de Deus é Aquele que é o único Deus, nosso Salvador. Este é nosso Deus. Que é não tropeçar? Aqui não diz que Deus nos livrará de cair, e, sim, que Ele nos guardará de tropeços. Cair é deitar no chão. Mas tropeçar é somente cometer um deslize. Ele diz que Deus pode guardar-nos de deslizes. Deus não apenas pode livrar-nos de cair, mas pode livrar-nos de deslizes.
 

Nenhum ensinamento na Bíblia pode ter os pecadores como ponto de partida; todos os ensinamentos devem ter o Senhor Jesus como ponto de partida. Seria terrível se os pecadores fossem tomados como ponto de partida; mas se o Senhor Jesus é tomado como o ponto de partida, as coisas ficarão esclarecidas. Se tomarmos os pecadores como ponto de partida, o problema do pecado se tornará obscuro para nós. Haverá muitas coisas que não consideraremos como pecados. Muitas questões imundas serão consideradas limpas; muitas questões fracas serão consideradas fortes; muitas coisas vergonhosas serão consideradas gloriosas. Mesmo após nos tornarmos cristãos, ainda consideraremos muitas coisas pecaminosas como gloriosas. Entre os que conhecem a Deus, há ainda muitos pecados que não foram julgados. Há ainda muitos pecados que um cristão considera como gloriosos. Se um cristão não tem clareza a respeito da questão do pecado, quanto mais um pecador? Há muitos pecados que Deus já julgou no Senhor Jesus, que não nos foram manifestados como pecados quando éramos pecadores. Somente após crermos no Senhor Jesus é que fomos esclarecidos de que eram pecados. Quando éramos pecadores, não tínhamos clareza; somente após crermos no Senhor Jesus fomos esclarecidos. Contudo, mesmo os cristãos não são tão dignos de confiança; há ainda muitas coisas que eles não vêem. Quanto a perder a salvação, se considerarmos a questão do ponto de vista humano, nunca veremos coisa alguma. Se considerarmos as verdades da Bíblia do nosso ponto de vista, tudo se tornará confuso. Podemos pensar que uma coisa é maior que as demais. Somente quando consideramos as coisas do ponto de vista do Senhor é que teremos clareza. A questão não é se somos capazes ou não de conservar a nossa salvação. A questão é se o Senhor Jesus é ou não capaz de conservar a nossa salvação. A visão adequada é a que provém do Senhor Jesus. Se a preservação de nossa salvação dependesse de nós, não seríamos capazes de conservá-la nem mesmo por duas horas, quanto mais por dois dias. Mas se é o Senhor Jesus que a preserva, mesmo que uma pessoa justa tropeçasse sete vezes ao dia, ela ainda seria capaz de se levantar. Não somos nós que somos capazes, mas Deus é que é capaz. Se nos voltarmos para nós mesmos, nossos olhos estarão na direção errada. A Bíblia nos diz que devemos olhar em direção a Jesus, que é o Autor e Aperfeiçoador da fé. O poder protetor é do Senhor e não nosso. Podemos confiar em Deus, pois é Deus quem nos guarda. A questão hoje é: que métodos Deus está usando para guardar-nos? Hoje temos entregado nossa vida a Deus. Mas como iria Deus guardar-nos até o dia da vinda do Senhor Jesus? Não há outro caminho a não ser Deus ocultar em Si mesmo a nossa vida juntamente com a vida do Senhor (Cl 3.3). Quando leio esse versículo, fico tão alegre que posso rir bem alto. Nada pode ser melhor que este versículo. Não sei se muitos cristãos sabem como esse versículo é bom. É impossível perder a vida que Deus nos deu, porque a nossa vida e a do Senhor já estão ocultas em Deus.
 

Quando ainda não cria no Senhor e era estudante, lembro-me que certa vez acabei escrevendo algo muito importante. Disse a meu colega de escola que se tratava de um assunto muito importante e que eu não o venderia nem mesmo por cinco mil dólares. Tive de sair por um instante e pedi a ele para guardar meu escrito em segurança. Dei-lhe a folha de papel e saí. Quando voltei, pedi-lhe o papel. Ele disse que não podia devolver-me, porque depois que eu dissera que era muito importante, ele o havia ensopado na água e engolido. Ele bateu em seu estômago e assegurou-me que o papel estava lá e que nunca se perderia. Naquela hora, eu não sabia se ria ou chorava. A folha de papel estava em seu estômago; nunca se perderia. Tampouco seria tirada. Estava verdadeiramente segura. O que Deus fez hoje é mais seguro. Deus ocultou nossa vida juntamente com Cristo em Si mesmo. Onde podemos encontrá-la agora? Como podemos perdê-la novamente? A vida de Deus para nós somente pode perder-se se o próprio Deus se perder. Graças a Deus, Ele nunca se perderá. Como resultado, a vida que Ele pôs dentro de um cristão também nunca pode perder-se. A vida de um cristão está guardada em segurança; está guardada em Deus.

AS PROMESSAS DE DEUS
 

Além dos pontos já abordados, ainda há outro ponto. Dos pontos que já vimos, nenhum pode ser destruído por você, nem mesmo por Deus. Nenhum método ou maneira pode destruí-los. Uma vez que uma pessoa seja salva pela graça, ninguém mais pode lançá-la fora. Mas o Senhor Jesus não considerou isso suficiente; Ele preocupou-se caso nós pudéssemos duvidar de Sua obra. Por essa razão, Ele deu-nos as promessas, propositadamente, para mostrar-nos que não nos perderemos. Todos nos lembramos de João 10. Essa porção das Escrituras mostram-nos claramente de quem nosso destino depende. Nosso destino não depende de nós mesmos; antes, depende do Senhor Jesus e do Pai.
 

Em João 10.28-30 é dito: “Eu lhes dou a vida eterna; de modo algum perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da Minha mão. Meu Pai, que as deu a Mim, é maior do que tudo; e da mão de Meu Pai ninguém as pode arrebatar. Eu e o Pai somos um”. A palavra do Senhor aqui não pode ser mais clara: “Eu lhes dou a vida eterna; de modo algum perecerão”. Estas palavras sozinhas são suficientes. Aqui o Senhor fala de maneira muito solene e definida que nós “de modo algum pereceremos”. É exatamente como dizer que não seremos abandonados, como mencionado anteriormente. É também como dizer que não entraremos em julgamento, mas passamos da morte para a vida, como mencionado em João 5.24. Estas são palavras totalmente absolutas: “Eu lhes dou a vida eterna; de modo algum perecerão”. Deus é um Deus eterno. Os que não conhecem Deus não sabem o que Deus fez. Se um homem conhece Deus, ele sabe que tudo o que Deus faz é eterno. Deus nunca faz algo temporário. Deus não muda de tempo em tempo. O que Deus fez está feito uma vez por todas. Deus não mudará após dois dias. Desde que Deus tenha feito algo, está feito para sempre. Deus não salvará você hoje e o jogará no inferno amanhã. Ele não o salvará novamente no dia seguinte e o jogará no inferno novamente no próximo. Se esse fosse o caso, o livro da vida não seria muito bonito; haveria cancelamentos e correções aqui e ali. Deus é eterno. O que Ele nos dá é vida eterna. Eis por que nunca pereceremos. Precisamos ver que tudo o que Deus faz é eterno. Deus jamais mudará. O homem pode mudar à vontade, mas Deus não. Uma vez que Ele nos salva, estamos salvos eternamente; nunca mais correremos o perigo de perecer.
 

Que prova temos disso? “Ninguém as arrebatará da Minha mão”. A palavra “ninguém” no texto original significa “nenhuma coisa criada”. O Senhor diz que nenhuma coisa criada pode arrebatar-nos de Sua mão. “Eu sou o bom pastor; eu dei a vida pelas minhas ovelhas, e minhas ovelhas jamais perecerão”. Como o Pai deu as ovelhas ao Senhor, nenhuma coisa criada pode arrebatá-las da mão do Pai. O versículo 28 fala do Pastor. O versículo 29 dá uma volta e menciona o Pai: “Meu Pai, que as deu a Mim, é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar”. A mão mencionada no versículo 28 é “Minha mão” e a mão mencionada no versículo 29 é a mão do Pai. Quem é o Pai? Ele diz que o Pai é maior que tudo. Todas as coisas estão incluídas nesse “tudo”. Todas as coisas criadas, todos os anjos, todos os espíritos malignos, todos os seres humanos, todas as coisas criadas no mundo, incluindo você e eu, estão incluídas nesse “tudo”. O Senhor diz que o Pai é maior que tudo. Ninguém pode arrebatar-nos de Sua mão. Ele tem uma grande mão que guarda Suas ovelhas. Como podem elas perder-se novamente? Somente alguém que, se possível, fosse maior que esse que é maior que todas as coisas é que poderia arrebatar-nos. Alguns podem dizer: “Na verdade, os outros não podem arrebatar-nos, mas eu mesmo posso sair”. Quando alguém diz isso, prova que sua mente é caída. Ele não conhece a Palavra de Deus e não conhece a si próprio. Após uma pessoa ser salva, se ela viesse a perecer, seria por causa de sua própria vontade de perecer? ou seria por causa da tentação do mundo, a sedução do inimigo e o ataque de Satanás? Um cristão perecer significaria que a cobiça pode arrebatar o homem da mão de Deus; significaria que o diabo e o mundo podem arrebatar o homem da mão de Deus. O homem não vai para o inferno porque ele quer ir para o inferno; mesmo os próprios pecadores não querem ir para o inferno, muito menos os cristãos. É evidente que o homem está morto no pecado por causa da obra opressora dos espíritos malignos. Todos no mundo são oprimidos pelos demônios. Todos os pecadores têm demônios trabalhando neles. Se os cristãos podem ser arrebatados da mão do Pai, então os espíritos malignos são maiores que o Pai de toda a criação. Aqui está uma ovelha na mão do Pai de todos. Se nada é maior que o Pai de todos, então não há possibilidade de que essa ovelha seja arrebatada. Além do mais, é-nos impossível escapar por nós mesmos, porque até nós somos parte de todas as coisas. O Senhor Jesus disse: “Meu Pai é maior que tudo”. Você não pode colocar-se do lado de fora de todas as coisas.
 

Graças a Deus! o versículo 28 mostra-nos a mão do Senhor Jesus e o versículo 29 mostra-nos a mão do Pai. O versículo 28 fala-nos sobre a mão do Pastor. Essa não é uma questão de lei nem de maldição tampouco de misericórdia, mas uma questão de ser guardado pela mão de Deus. O versículo 29 diz que a mão do Pai é maior e mais poderosa que tudo. Devemos considerar-nos seguramente guardados por duas mãos: a do Pai e a do Pastor.
 

Não muito depois que cri no Senhor, o irmão Leland Wang e eu fomos ouvir uma mensagem em certa cidade. O pregador disse que nós, os cristãos, deveríamos ser fervorosos, deveríamos pregar o evangelho e servir ao Senhor; do contrário, cairíamos. Após essa mensagem, perguntei ao irmão Wang: “Quando você pensa que cairá?” Ele disse: “Eu temo que seja esta noite”. Eu disse: “Sim, eu também tenho medo de cair. Se cair, eu irei para o inferno”. Acrescentei: “Se é possível cairmos, qual a vantagem de continuarmos a exortar as pessoas a crerem no Senhor Jesus?” Ele concordou dizendo: “Eu nem mesmo posso comer esta noite”. Eu disse-lhe que não só seríamos incapazes de comer, mas nem mesmo seríamos capazes de dormir naquela noite. Os que estão no mundo não conhecem o perigo da morte eterna; eles ainda podem comer e dormir. Conhecemos o perigo da morte eterna; sabemos que somos como palha ao vento. Como não nos preocupar? Essa era a minha história antes de conhecer esse aspecto da verdade.
 

Graças a Deus, o Pai é quem guarda a salvação para mim. É meu Senhor quem guarda minha salvação. Portanto, eu sei que estou muito seguro. Há doze anos, eu estava no sudeste da Ásia. Certa vez, para pregar o evangelho viajei de bicicleta através de uma grande floresta. Na floresta, vi uma grande macaca carregando muitos macaquinhos amontoados um sobre o outro em suas costas. Eles eram como uma pirâmide humana vista nos espetáculos acrobáticos. A macaca, carregando os pequeninos, estava correndo por entre as árvores. Com frequência, ela tinha de pular de uma árvore para outra havendo grande distância entre as duas. Ela tinha de pular e se agarrar a um galho de outra árvore. Após balançarem um pouco, todos os macaquinhos em suas costas caíram no chão. A macaca, então, pulou para baixo enquanto os filhotes subiam em suas costas novamente. Naquele dia, eu os observei ali por cerca de duas ou três horas; eles me interessaram muito. Cerca de dois meses mais tarde, eu estava em Kuming. Estava ali o sr. Lin que tinha uma gata em casa. Essa gata pariu três gatinhos. Um dia, fui à casa do sr. Lin, porém, nem o sr. ou a sra. Lin estavam lá. Então fui ver os gatos. Brinquei com eles e os acariciei. A gata pegou os gatinhos com a boca e foi embora; nenhum deles caiu. Deus não nos salva como a macaca levando os macaquinhos; não temos de nos agarrar a Ele como macaquinhos agarrando-se à mãe com sua própria força. Se assim fosse e se os galhos fossem um pouco mais fracos, após poucos pulos cairíamos. Deus nos salva como a gata segurando os gatinhos na boca. Não importa quanto Ele corra, nunca cairemos. Este é o guardar de Deus.
 

Se você quiser agarrar-se a Deus, é muito desgastante. Em três ou cinco anos, ou até bem antes, você já terá caído. Agradecemos a Deus por ser Ele quem nos guarda. Finalmente, vejamos Romanos 8. Ao ler o capítulo 8, versículo 30, vemos cinco elos. Não há diferença em importância nesses cinco elos. Vemos que todos os que foram justificados serão glorificados. A glorificação aqui, na língua original, está no passado. Deus é um Deus eterno. Do ponto de vista de Deus, todos os que foram justificados já foram glorificados. Talvez, do seu lado, você ainda tenha de esperar por mil anos para sua glorificação, mas do lado de Deus, em Seu propósito e em Seu plano, isso já se tornou história. Por isso Ele diz: “E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”. Deus já os glorificou e eles já foram glorificados. Aleluia! A história já foi escrita. Como pode estar errada? Sua história futura já foi escrita e não há como mudá-la. Desde que Deus completou o escrito de sua história futura e os acontecimentos futuros, Ele determinou cumpri-los para você.
 

Por causa disso, o início do versículo 31 diz: “Que diremos, pois, à vista destas coisas?” Se todos os justificados serão glorificados, “que diremos, pois?” Nada diremos. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Deus já tomou Sua decisão. Como pode o homem ser contra ela? “Aquele que não poupou seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?” Aqui Deus está perguntando, bradando ao mundo inteiro: “Quem?” Paulo usa “quem o fará” quatro vezes. “Quem será contra nós? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? Quem os condenará? E quem nos separará do amor de Cristo?” Paulo sabia que não há possibilidade de ocorrer qualquer dessas coisas.
 

Paulo não disse: “Quem nos levará a não amar a Cristo?” Frequentemente não amamos a Cristo. Muitas vezes, nosso amor é abalado porque é atraído pelo mundo. Podemos não amar a Cristo, mas quem pode levar Cristo a não nos amar? Quer seja tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada, nada disso pode separar-nos do amor de Cristo. O versículo 37 diz: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou”. Não é por amarmos o Senhor, mas por Ele nos amar. Se fosse por nós O amarmos, não teríamos nenhuma esperança. Se é por meio de o Senhor nos amar, então “em todas estas coisas somos mais que vencedores (...) Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor”. Isso nos mostra clara e definitivamente que uma vez que Deus nos tenha dado a salvação, ela é nossa eternamente. Ninguém pode destruir esse fato. Essas palavras são muito elevadas, muito abrangentes e muito profundas. Que Deus nos mostre que tudo o que faz, Ele faz integralmente. Deus é o Alfa e o Ômega. Ele nunca pára até que a obra esteja completa.

A Salvação é Eterna — ARGUMENTOS CONTRÁRIOS (1)
 

Nos dois capítulos anteriores, vimos que toda a obra que Deus fez e toda a graça que Ele nos deu quando fomos salvos, não podem ser anuladas com o passar do tempo. Podemos dizer ousadamente que uma vez salvos, somos salvos eternamente. Uma vez que Deus nos mostrou misericórdia, estamos eternamente debaixo da Sua misericórdia. Uma vez que temos a vida eterna do Filho de Deus, jamais iremos perdê-la.
 

Embora eu seja muito ousado ao dizer isso, nós ainda somos seres humanos. Até hoje muitos obreiros cristãos não veem essa questão. Como o coração do homem está cheio da carne e da lei, ele não consegue entender como a graça de Deus é tão grande. É incrível demais para ele. É natural o homem pensar dessa maneira. O homem está sujeito à carne e a carne está sujeita à lei. A carne conhece somente a lei; não conhece a graça. Qualquer coisa que se origine da carne é da lei. Mas tudo o que se origina de Deus, do Espírito Santo e da graça, é da fé.
 

No mundo nada sabemos sobre graça e dom. Tudo o que sabemos é barganhar. O dia todo, nossa mente está ocupada com o quanto devemos trabalhar e com o quanto receberemos por nosso trabalho. Achamos que para ganhar algo, temos de trabalhar para isso. Essa é a nossa vida. Durante anos, temos barganhado nossa vida, nosso tempo e nossa energia. Achamos que se alguém deve pagar determinada quantia, ele primeiramente precisa ter recebido essa mesma quantia. Se recebeu determinada quantia, então deve oferecer certas coisas em troca. Nossa vida é uma vida de barganha. Por vivermos dessa maneira, também pensamos que a graça de Deus e a vida eterna em relação a nós estão no mesmo princípio de barganha. Quando ouvimos o evangelho, vemos a luz por algum tempo. Naquele momento percebemos que a graça é gratuita e que não é uma questão de barganha. Mas essa percepção parece acontecer somente na hora em que fomos salvos. Muitas pessoas ainda não foram libertadas do conceito de que a graça de Deus é um empréstimo para nós. Eles pensam que se não agirem bem, Deus irá pedir de volta a graça que Ele deu. Mas se um homem conhece a Bíblia e tem clareza sobre os dez itens da verdade mencionados nos capítulos anteriores desse livro, ele, no mínimo, deve admitir que tal coisa jamais pode existir.
 

Todos os que conhecem a Palavra de Deus nunca devem duvidar do que sabem por causa daquilo que não sabem. Desde que alguém tenha visto claramente o selar e o penhor do Espírito Santo, a vida eterna, a mão do Senhor, o Corpo de Cristo, o templo de Deus e as promessas do Senhor, ele não pode anular o que sabe com problemas a respeito de temas que ignora ou não entende. Não podemos anular os fatos que conhecemos. Todavia ainda há coisas que desconhecemos. O que faremos agora é analisar alguns dos pontos que não conhecemos. Tomaremos alguns dos argumentos supostamente contraditórios — especialmente os mais convincentes — e os consideraremos um por um.
 

O Conhecimento da Salvação Eterna Não Leva ao Pecado Voluntário Antes de considerarmos algumas questões nas Escrituras, temos de considerar uma forte objeção e dúvida que alguns levantam. Alguns pensam que se uma pessoa é “uma vez salva, salva para sempre”, tal pessoa certamente pecará mais livremente. Este pode ser considerado o mais comum e mais forte ponto de objeção. Se um homem sabe que é eternamente salvo e que nunca será condenado, não se tornará ele desleixado, passando a cometer toda sorte de pecados e ousando fazer qualquer coisa? Se tal fosse o caso, não seria muito perigoso esse tipo de ensinamento?
 
Lembro-me de que certa vez um homem escreveu uma carta para o senhor Mackintosh — o autor de um comentário sobre o Pentateuco. Naquela carta esse homem contou ao senhor Mackintosh que, na semana anterior, ouvira um pregador fazendo uma pregação sobre o assunto de sermos filhos de Deus eternamente. Um jovem na audiência disse que já que era assim, ele agora poderia fazer tudo o que quisesse. Em poucos dias, o jovem cometeu todo tipo de pecados. O escritor da carta reclamou que por causa do ensinamento de “uma vez filho, eternamente filho”, os jovens têm sido prejudicados. Em resposta à sua carta, o senhor Mackintosh escreveu: “É verdade que uma vez que alguém se torne filho de Deus, ele o será eternamente. Mas, em primeiro lugar, duvido que o jovem que você mencionou fosse filho de Deus. Eu tenho um filho. Suponha que eu diga para meu filho que uma vez que é meu filho, ele o será eternamente. Ao escutar isso, será que meu filho ficaria tão alegre que quebraria a janela com uma pedra, jogaria os pratos no chão, puxaria a toalha da mesa, derrubando as vasilhas no chão e faria todo tipo de coisas mal-educadas diante de mim? Pode existir tal tipo de pessoa? É verdade que, quando uma pessoa se torna filho, ele é filho eternamente. Mas ele não irá agir de modo desordenado, somente porque é filho. Se ele agir desordenadamente, duvido que seja filho realmente”.
 

De acordo com a Bíblia, nada há de errado com a palavra do pregador. Mas a ação do jovem está totalmente errada. Para determinar se um ensinamento está certo, podemos julgá-lo apenas pela verdade na Bíblia; não podemos determiná-lo pela conduta do homem. Como mestres da Bíblia, podemos apenas ser responsáveis por ensinar aos outros o que a Bíblia diz. Não podemos ser responsáveis por ensinar o que a Bíblia deveria dizer. Não temos essa autoridade. Sabemos que a Palavra de Deus diz que uma vez que somos filhos, somos filhos eternamente. Não sabemos qual será o resultado desse conhecimento. O problema hoje é que o homem não julga a Palavra de Deus pela Palavra de Deus. O homem gosta de tomar alguém como exemplo e dizer que já que essa pessoa é da maneira que é, como se pode dizer que um homem é “uma vez salvo, salvo eternamente”? É verdade que alguns cristãos fracassaram e são fracos. Também é verdade que alguns são falsos. É verdade que existem milhões de cristãos que têm experiências diferentes. Somente podemos julgá-los pela verdade da Bíblia. Não podemos julgar a verdade da Bíblia pelo que os outros têm feito. Podemos somente provar que estão errados pela verdade da Bíblia. Não podemos condenar a verdade da Bíblia por causa do que eles têm feito. O ponto de partida de um cristão é a Palavra de Deus, não a conduta do homem. Hoje você pode perguntar-me se ainda é salvo, pois mentiu ontem. Eu não posso afirmar se você é salvo ou não baseado em se sua mentira foi uma boa mentira ou má mentira, uma mentirinha ou uma mentirona. Posso somente dizer-lhe o que a verdade da Bíblia diz. Se não for assim, não serão necessários o trono do julgamento e o grande trono branco. Somente podemos atentar para o que a Palavra de Deus diz. Podemos apenas julgar as atitudes do homem pela Palavra de Deus. Nunca podemos julgar a Palavra de Deus pelas atitudes do homem. É a Palavra de Deus que diz que uma vez que o homem é salvo, ele é salvo eternamente. Não há nada de errado nisso. Embora seja errado o homem agir irresponsavelmente por causa dessa palavra, ainda devemos julgar tudo pela Palavra de Deus. A Palavra de Deus é nossa constituição plena e nosso tribunal mais elevado.

Oposição à Salvação Eterna Devido ao Desconhecimento a Respeito Dela
 

Certa vez ouvi um evangelista de Xangai dizer que o ensinamento de “uma vez salvo, eternamente salvo” torna uma pessoa irresponsável, displicente e pouco vigilante. Somente se pode fazer tal afirmação quando não se conhece plenamente a Palavra de Deus. 
 

Somente os que não entendem a salvação de Deus podem dizer que um homem será irresponsável e displicente porque sabe que é eternamente salvo. Tais pessoas ignoram pelo menos três coisas. Primeiro, desconhecem o caminho da salvação de Deus. Eles não sabem como Deus os salvou. Dizendo isso, não estamos falando sobre como somos preservados por Deus, mas a maneira pela qual Deus nos salvou. Deus não nos ameaça de irmos para o inferno a fim de crermos em Jesus. Ele não “empurra” as pessoas para o céu. O homem sempre pensa que se não se arrepender dos seus pecados, não mudar um pouco e não fizer obras louváveis, ele não poderá ser salvo. Por essa razão, continua a procurar caminhos para ser salvo. É essa a maneira de Deus salvar-nos? Será que Deus coloca a questão do pecado continuamente diante do homem, intimidando-o a resolvê-la de imediato? Será que Deus ameaça as pessoas com o tribunal de julgamento e Sua ira, forçando-as a fazer várias coisas, e mantendo em suspense quem não sabe como será seu futuro, para que lutem com todas as suas forças? Se um homem tem algum conhecimento de Deus dirá não milhares de vezes a essas questões. Os que não conhecem Deus irão dizer que essa é uma boa maneira de fazer com que o coração do homem entre em pânico, trema e fique em suspense, sem saber o que virá depois. Mas os que entendem a salvação de Deus sabem que isso é uma ameaça maligna do inferno. Essas não são as boas novas. Deus disse que o julgamento está consumado. O problema do pecado está solucionado. A maneira da salvação de Deus não é deixar-nos em suspense ou amedrontar-nos para que O busquemos. Ele nunca coagiu-nos à santidade, justiça e santificação. Ele disse que tudo está preparado. Os servos disseram: tudo já está preparado (Lc 14.17); Deus preparou tudo. Agora Ele está vindo para dar coisas a você. Porém, hoje, invertemos as coisas. Achamos que o homem precisa ser amedrontado até tornar-se bom. Por favor, lembre-se de que um homem pode até desmaiar de medo, mas jamais pode tornar-se bom pelo medo. 
 

Segundo, as pessoas mencionadas acima desconhecem não somente a maneira da salvação de Deus, como também o conteúdo dessa salvação. Que é salvação? Não é simplesmente Deus resolver nosso problema de pecado por meio de Seu Filho. A salvação não somente faz com que nossos pecados sejam perdoados, como também nos dá vida eterna. A salvação de Deus justifica-nos e também nos dá o Filho de Deus, colocando-O dentro de nós. A salvação não somente faz com que não sejamos condenados por Deus, mas coloca o Espírito Santo dentro de nós. Não somente nos capacita a, futuramente, viver para sempre, mas transmite-nos hoje a natureza de Deus. Esse é o conteúdo da salvação. Não somente temos perdão e justificação, e não somente não somos condenados e julgados, mas temos a natureza de Deus, Cristo e o Espírito Santo habitando em nós. Como resultado, o homem irá espontaneamente ter um novo desejo, uma nova inclinação e um novo anelo. A salvação de Deus acrescenta-nos algo novo. Alguns dizem que a salvação é objetiva. Contudo há muitos aspectos subjetivos. A salvação não apenas solucionou o problema do pecado diante de Deus, como também resolveu muitos outros problemas em nosso interior. Dentro de nós, temos agora uma nova vida, uma nova natureza, o Senhor e o Espírito Santo. Sendo assim, podemos ser negligentes? Não estou dizendo que um cristão jamais pecará, mas estou dizendo que se um cristão peca, isso é um sofrimento para ele, não uma alegria. Se um homem pensa que recebeu uma licença e um certificado para pecar somente porque agora sabe que é eternamente salvo, e se tal pessoa não sente nada quando peca, tampouco sofre, duvido que seja um verdadeiro filho de Deus. Estou dizendo que um homem é eternamente filho de Deus somente depois de ter-se tornado filho de Deus. Não estou afirmando que alguém pode ser filho de Deus eternamente sem nunca ter-se tornado filho Dele. O Senhor está dentro de nós. Ele nos proíbe de pecar.
 

Terceiro, uma pessoa como a mencionada acima não conhece o resultado da salvação de Deus. Para os que foram salvos por Deus assim como nós, existe certamente uma consequência, um resultado e um fim. Qual é esse resultado? Depois que um homem é salvo, pode, então, transgredir a lei somente porque agora está justificado em Cristo? Pode agora livremente transgredir os Dez Mandamentos do começo ao fim? Pode agora fazer tudo o que quer? Por favor, leia as palavras de Paulo aos filipenses: “Quanto ao zelo, perseguidor da Igreja, quanto à justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede da lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (3.6-9). Paulo tinha justiça pela fé em Cristo. Ele recebeu justiça pela fé em Deus e não pela obra da lei. Estava ele, então, livre para fazer qualquer coisa, ser irresponsável e negligente simplesmente por causa disso? Ele disse que o que para ele era lucro, considerava como perda por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus. Por causa de Cristo, ele sofreu a perda de todas as coisas e as considerava como refugo. Portanto, em todo cristão regenerado, maduro ou imaturo, existe um desejo de santidade, um amor de Deus e um coração de agradar a Cristo. Não sei porque é desse modo. Somente sei que esse é o resultado da salvação. Você pode argumentar que por ser apóstolo, Paulo podia falar como falou em Filipenses 3. Vamos agora observar os cristãos comuns. Em 2 Coríntios 5.14-15 diz-se: “Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”. Paulo aqui nos dá uma resposta. Um homem não será irresponsável e negligente somente porque Deus o salvou e Cristo ressuscitou por ele. Pelo contrário, por causa da morte e ressurreição de Cristo, uma pessoa irá “viver por aquele que por ele morreu e ressuscitou”. Hoje, enquanto ela está vivendo na terra, ela não vive para si mesma, mas para o Senhor que morreu e ressuscitou por ela.
 

Portanto, a razão de uma pessoa dizer que pode ser negligente por saber que é eternamente salva, deve-se a três coisas: Primeiro: ela desconhece a maneira, o processo da salvação; segundo, ela desconhece o conteúdo da salvação e terceiro, ela não conhece o resultado da salvação, ou seja, não sabe o que a salvação pode fazer pelo homem. Se você vir essas três coisas, imediatamente verá que a salvação eterna irá não somente guardá-lo de viver desregradamente, como também irá torná-lo piedoso. A salvação eterna irá guardar-nos da displicência e nos tornará sóbrios.
 

Pedro diz-nos em sua segunda carta que: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2 Pe 3.13). Estaremos livres para ser negligentes, agora que sabemos aonde estamos indo? No versículo seguinte, Pedro continua dizendo: “Por essa razão, pois, amados, esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis”. Por sabermos que estaremos com Ele, não podemos ser negligentes ou agir de qualquer maneira. Se não sabemos aonde estamos indo, estaremos andando em círculos. Mas quem tem um objetivo, que sabe para onde está indo, certamente escolherá o caminho mais reto. Três Fatos a Ser Entendidos na Palavra de Deus 
 

Agora vamos considerar algumas porções das Escrituras que aparentemente falam de perdição após a salvação. Antes disso, precisamos conhecer alguns fatos. Primeiro, a Palavra de Deus jamais entra em conflito consigo mesma. Deus nunca diz, por um lado, que Suas ovelhas jamais perecerão ou que jamais perderão a vida eterna e, por outro, diz ao homem que ele irá perecer. O homem pode dizer coisas erradas, mas a obra de Deus é uma obra de glória. Deus jamais diz algo por engano. Se isso é tão claro do lado positivo, nunca pode ser contraditório do lado negativo. As coisas do lado negativo devem referir-se a outros assuntos relacionados com Deus. 
 

Segundo, temos de gastar tempo para identificar essas passagens. Entre elas vemos tanto os genuinamente salvos como os falsos "salvos". O Senhor Jesus teve um falso discípulo, Judas. Quando Pedro estava batizando as pessoas, havia uma pessoa chamada Simão que pode não ter sido salva. Paulo também encontrou muitos falsos irmãos. Pedro disse que havia muitos falsos profetas e João disse que muitos haviam saído do meio deles e provado não ser deles. Portanto, na Bíblia há os que são genuinamente salvos e os que são nominalmente salvos. Alguns não são salvos. Claro que não poderão fingir ou esconder isso para sempre. Se pudermos diferenciar claramente entre esses tipos de pessoas, os problemas serão resolvidos. Mas se você misturá-los, será como misturar o joio com o trigo. O resultado será muita confusão.
 

Terceiro, muitos trechos da Bíblia falam da disciplina dos cristãos nesta era e não da perdição eterna. Não pense que pelo fato de sermos eternamente salvos, não há a disciplina. Certamente, há disciplina. Se hoje você falhar e tornar-se fraco, Deus irá discipliná-lo. Existe uma diferença entre disciplina e perdição eterna. Não podemos misturar perdição eterna com disciplina. Muitos versículos que parecem falar de os cristãos perderem a salvação, falam, na verdade, de os cristãos serem disciplinados. Não há apenas a disciplina e a falsidade, há também a questão do reino e da recompensa. Essas poucas coisas são fundamentalmente diferentes. Muitas vezes aplicamos à eternidade palavras que se referem ao reino, e palavras relativas à recompensa, à questão da vida eterna. Naturalmente isso causa muitos problemas. Temos de perceber que há diferença entre o reino e a salvação, e há diferença entre vida eterna e recompensa. O modo como Deus irá tratar conosco no milênio é diferente de como Ele nos tratará na eternidade. Há uma diferença na maneira com que Deus trata o homem no mundo restaurado e no novo mundo. O milênio está relacionado com a justiça; está relacionado com nossas obras e com nosso andar depois que nos tornamos cristãos. O reino milenar tem o propósito de julgar nosso andar. Mas na eternidade, no novo céu e na nova terra, tudo é graça gratuita. “Aquele que tem sede, venha e quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap 22.17). Essa palavra será falada depois que o novo céu e nova terra vierem.
 

Portanto, na Bíblia, d om gratuito e reino são duas coisas totalmente diferentes. Eternidade e reino são também duas coisas inteiramente diferentes. Ninguém pode pôr as duas coisas juntas. No reino milenar vindouro, Deus recompensará o homem de maneira específica. Deus recompensará o homem com sua coroa de justiça e com glória, com base nas suas obras. Mas tão logo o reino tiver acabado e o novo céu e a nova terra começarem, tudo estará relacionado com a graça. Todos os que confiam na graça do Senhor Jesus irão entrar, porque lá não haverá absolutamente nada relacionado com as obras. O andar de uma pessoa está relacionado com a recompensa, enquanto salvação e justificação para o pecador estão relacionadas com a obra do Senhor Jesus. Temos de discernir claramente essas duas coisas. Caso contrário, quando a Bíblia fala da perda do reino, você pode estar pensando em perda na eternidade, e quando Deus fala de recompensa, você pode estar pensando a respeito de salvação. É verdade que a salvação do homem é eterna. Mas antes que essa salvação seja manifestada, Deus primeiro manifestará a recompensa no reino milenar. Não se pode misturar essas duas coisas. Além disso, há outro assunto que o protestantismo sepultou por longo tempo. Embora alguns possam achar que se trata de algo novo, na verdade, isso foi registrado na Bíblia há muito tempo. Na Bíblia há pelo menos três coisas que têm de ser diferenciadas umas das outras. Mencionamos duas delas que são a disciplina que um cristão recebe nesta era e a perda do galardão no reino. Se fracassarmos, não apenas seremos disciplinados hoje, como também perderemos a recompensa no reino. Entretanto ainda há algo mais. No reino há punição. A Bíblia é bem clara a respeito dessa verdade. Quando uma pessoa crê no Senhor e é salva, é verdade que o problema da salvação está resolvido. É também verdade que as questões concernentes ao novo céu e nova terra e à salvação eterna estão estabelecidas. Mas se alguém continua a pecar e não se arrepende, não somente estará sob o governo e a disciplina de Deus hoje, perdendo a recompensa no reino, como também sofrerá alguma punição no período do reino.
 

Alguns disseram-nos que perder a recompensa já é punição suficiente. Mas os derrotados ainda serão punidos. A Bíblia reserva bastante espaço para falar sobre isso. A Bíblia não apenas diz que os cristãos podem não receber a recompensa no reino, como também diz-nos que se os cristãos pecarem e não se arrependerem, receberão uma punição severa no tempo do reino. Temos de ter clareza sobre este assunto. A questão da salvação eterna não deve ser misturada com a questão de cristãos nominais. A questão da salvação eterna também não deve ser misturada com a disciplina nesta era nem com a questão de perder a recompensa no reino, e também não deve ser misturada com a questão da punição no reino. Não se pode colocar esses quatro assuntos distintos e fazer uma “salada” deles. Se alguém fizer isso, a obra de Deus tornar-se-á uma mistura de tudo o que não se parece com nada. Se Deus fez as distinções e você as ignora, você terá muitos problemas insolúveis.
 

Hoje, primeiramente vamos retirar essas quatro coisas. Colocaremos de lado todas as palavras na Bíblia que falam sobre cristãos nominais, disciplina dos cristãos, perda da recompensa e punição no reino para os cristãos. Nos próximos capítulos trataremos de cada um desses assuntos. Agora, falaremos sobre os versículos que não estão relacionados com esses quatro tipos de casos. Trataremos sobre os versículos que aparentemente falam de perdição após a salvação.

O Argumento Baseado em Ezequiel 18
 

Primeiramente começaremos pelo Antigo Testamento. Consideremos Ezequiel 18.24 e 26 que diz: “Mas, desviando-se o justo da sua justiça e cometendo iniquidade, fazendo segundo todas as abominações que faz o perverso, acaso, viverá? De todos os atos de justiça que tiver praticado não se fará memória; na sua transgressão com que transgrediu e no seu pecado que cometeu, neles morrerá. Desviando-se o justo da sua justiça e cometendo iniquidade, morrerá por causa dela; na iniquidade que cometeu, morrerá”. Esses dois versículos podem ser considerados como os principais versículos no Antigo Testamento sobre esse assunto. Nenhum versículo no Antigo Testamento é tão importante como esses, que são os mais comuns e mais frequentemente citados. Portanto, devemos dispensar cuidadosa consideração a esses dois versículos.
Ezequiel 18 jamais fala de salvação. Não fala nada sobre Jesus morrer pelo homem nem sobre crer no Senhor para receber vida; não fala como se trata do problema do pecado. Nada menciona sobre o evangelho ou sobre Cristo. Se alguém tenta forçar a aplicação dessa passagem ao evangelho, ele está confundindo o assunto. Ezequiel 18 fala do governo de Deus. O que precede essa passagem são coisas relacionadas com o governo de Deus. Deve-se lembrar de que as coisas relacionadas com o governo de Deus são totalmente diferentes das coisas relacionadas com a salvação. O governo de Deus refere-se a como Deus trabalha, administra e arranja as coisas de acordo com Seu plano e vontade. Se um homem não entende a diferença entre a salvação de Deus e Seu governo, e se ele mistura os dois, está misturando o tribunal de Deus com a família de Deus, o pai com o juiz; está confundindo a palavra que o pai fala aos servos com a palavra falada aos filhos; está confundindo a atitude que um homem tem em relação a seus empregados com a atitude que tem em relação a sua esposa e filhos. Governo é governo. Governo não é o mesmo que salvação. A diferença entre governo e salvação é tão grande quanto a distância entre o pólo norte e o pólo sul.
Ezequiel 18 não nos mostra a salvação. Seu assunto é como os israelitas devem viver na terra; não fala sobre vida eterna. Ele fala sobre o problema com o corpo; não trata da questão de perdição da alma. Em vez disso, mostra-nos que se um homem não guardar o mandamento de Deus, fisicamente morrerá cedo. É uma questão de existência física em vez de salvação espiritual. Ninguém pode dizer que os dentes dos filhos podem embotar somente porque o pai comeu uvas verdes. Se alguém sentado perto de você comer uvas verdes, você poderá sentir algo como que a mesma acidez em sua própria boca. Mas se um pai se rebela contra a Palavra de Deus e peca, isso nada tem a ver com o filho. Se o pai é que tem de morrer, o filho não pode ser substituto seu. Se um homem peca, ele próprio deve ser excluído da terra prometida. Essa passagem fala sobre a morte física. Isso é o que o final do versículo 2 nos diz. Então, depois dessas palavras do versículo 3, o capítulo dezoito repete que os que pecarem morrerão. Isso não é morte espiritual. Em vez disso, é o que Adão experimentou, a morte do corpo. Se um homem peca, seus dias na terra serão encurtados por Deus. A partir do versículo 3, esse capítulo nos conta repetidamente quem pode viver na terra por meio da bênção de Jeová. Esse é o contexto das palavras que precedem o versículo 24. Se um homem era justo e agora tornou-se injusto, morrerá. Toda sua justiça anterior não será lembrada. Isso nada tem a ver com a salvação. Isso é um assunto do governo de Deus, que nos diz por que Deus não deixaria um homem viver na terra; e ela explica por que muitas pessoas morrem prematuramente. É uma palavra para os judeus sobre o julgamento do pecado. Nada tem a ver conosco.

O Argumento Baseado em Mateus 24

Vamos dar uma olhada no Novo Testamento. Mateus 24.13 diz: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo”. Muitos, quando veem esse versículo, pulam de surpresa. Pensam que esse versículo é certamente sobre salvação e não sobre o governo de Deus, como falei. Por exemplo, alguns diriam que como perdi minha paciência ontem e não perseverei, agora não sou mais salvo. Eles diriam que é verdade que uma pessoa tem de crer no Senhor Jesus para ser salva. Mas também diriam que a pessoa precisa perseverar. Mas se você diz isso, está distorcendo a Palavra de Deus. Você colocou a Palavra de Deus de ponta-cabeça e tirou uma sentença de seu contexto. Não é de se admirar que confundamos a Palavra de Deus! Se você quiser entender o significado da perseverança nesse versículo, terá de conhecer o que foi dito antes do versículo 13; você também terá de saber o que foi falado depois do versículo 13.
O versículo 13 não está falando sobre os cristãos de forma nenhuma. Está falando sobre os judeus. Que evidência temos disso? Primeiro, na passagem seguinte temos o Santo Lugar, o templo e o sábado. Tudo isso é assunto dos judeus. O que esses versículos dizem é que os judeus devem fugir para o campo e orar para que sua fuga não ocorra no inverno ou no sábado. Quando eles virem o abominável da desolação, ou seja, a imagem da besta no Santo Lugar, eles terão de fugir; não devem permanecer em Jerusalém. Se essa palavra fosse para nós, como poderíamos saber essas coisas, já que estamos em Xangai1 e a imagem da besta aparecerá no templo? Embora hoje haja comunicação sem fio, o que Mateus está falando aqui é sobre um conhecimento que vem depois de termos visto algo ao vivo. Somente quem está perto, como os que estão em Jerusalém, pode ver. Portanto, essa passagem refere-se somente aos judeus.
Segundo, o tempo nesse versículo não se refere ao tempo dos apóstolos nem se refere ao tempo da igreja. O tempo falado aqui se refere à grande tribulação, refere-se aos últimos três anos e meio do final desta era. No começo da tribulação o anticristo colocará sua imagem no templo. Essa passagem das Escrituras nada tem a ver com a igreja; refere-se ao futuro e não o presente. Não há possibilidade de acontecer isso hoje, porque o anticristo ainda não veio, sua imagem ainda não foi colocada no templo e a grande tribulação ainda não começou.
Mateus 24 refere-se à grande tribulação. A salvação mencionada aqui não se refere à salvação da alma. Em vez disso, refere-se à salvação do corpo. Todos os que entendem a Bíblia sabem que esse é o período em que o anticristo colocará sua imagem no templo, forçando os homens a adorá-la e colocando sua marca na fronte das pessoas. Quando todos os judeus, que adoram e servem a Deus, virem o começo da tribulação, eles não deverão adorar a imagem nem receber a marca. Por causa disso sofrerão muito. Muitas perseguições virão sobre eles. É por isso que o Senhor Jesus falou para os judeus fugirem quando virem a imagem do anticristo no templo. Se alguém tem bens em casa, não deve preocupar-se em levá-los. Devem esconder-se rapidamente em lugares seguros. Além do mais, o Senhor disse-lhes que orassem para que a fuga não ocorresse num sábado (v. 20), porque eles guardam o sábado. Seria melhor que as mulheres não estivessem grávidas naquela ocasião, pois lhes seria difícil escapar; ai das que estiverem amamentando. Melhor seria se isso não ocorresse no inverno. Eles devem fugir para as montanhas ou para o campo com a esperança de que não encontrem sofrimento, perseguição e aflição. Naquele tempo, todas as forças de Roma virão sobre eles como uma rede; eles sofrerão muitas dificuldades. Muitos versículos em Apocalipse mostram-nos essa questão. Essas pessoas serão salvas se perseverarem durante essa grande tribulação. Por estarmos tão preocupados com a questão da salvação, toda vez que a palavra salvo aparece, aplicamo-la a nós mesmos. Mas aqui essa palavra não se pode aplicar a nós mesmos. Quem o fizer, estará alterando a Palavra de Deus. No versículo 22, o Senhor Jesus disse outra palavra:
“Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo”. Quando o anticristo estiver na terra, ninguém será capaz de escapar. Graças ao Senhor que o dia do anticristo não será tão longo. Por causa disso, alguns ainda conseguirão fugir. Quem perseverar, será salvo. Portanto, a questão da salvação aqui não é uma questão de vida eterna ou morte eterna. A natureza da salvação mencionada aqui tem relação com cair ou não nas mãos do anticristo.

O Argumento Baseado em Gálatas 5

Gálatas 5.4 diz: “De Cristo vos desligastes vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes”. Muitos que leem esse versículo pensam que, primeiramente, pode-se estar separado de Cristo e que, em segundo lugar, pode-se cair da graça. Tal pessoa certamente não é salva. Esse conceito é errado. Temos de perceber os acontecimentos anteriores que levaram Paulo a escrever a epístola aos gálatas. Quando o claro evangelho de Deus foi pregado na Galácia, as pessoas dali o ouviram. Depois disso, vieram falsos profetas à Galácia para pregar o evangelho. Eles não deturparam a primeira metade do evangelho e, sim, a segunda. A primeira metade dizia que o homem é salvo somente por confiar em Cristo e recebê-Lo. Porém, a segunda metade dizia que antes de alguém crer no Senhor Jesus, ele não consegue ter a justiça da lei; mas depois de receber o Senhor Jesus, ele deveria ter a justiça da lei. Paulo escreveu aos gálatas somente para rebater os que ensinavam assim. Ele argumentou que assim como um homem não pode ter a justiça da lei enquanto ainda é pecador, da mesma maneira, não pode ter a justiça da lei depois de salvo. Vimos nos capítulos anteriores que Romanos e Gálatas são diferentes. Romanos diz que enquanto somos pecadores, não temos a justiça da lei. Gálatas diz que depois que um pecador é salvo ele também não deve ter a justiça da lei. O assunto desses livros é não ter a justiça que vem da lei. Os falsos profetas ensinavam que depois que um homem creu em Cristo, foi salvo e tem a vida eterna, ele tem de ter a justiça da lei. O primeiro item e a exigência mínima da justiça da lei é a circuncisão.
Depois que você tiver clareza sobre o pano de fundo do livro de Gálatas, você saberá sobre o que Paulo está falando aqui. No capítulo um, Paulo disse estar admirado de que os gálatas tivessem tão rapidamente se afastado Daquele que os chamara na graça de Cristo, para um evangelho diferente. Ele espantou-se de que tivessem sido tão rapidamente enganados para seguir outro evangelho (v. 6). Também disse que se ele, um anjo ou qualquer espírito viessem pregar a eles um evangelho diferente daquele que haviam recebido, esses pregadores seriam anátemas. A palavra anátema é a mais forte palavra de maldição na língua grega. Ela significa que toda a maldição nos céus recai sobre o amaldiçoado e que todas as bênçãos são retidas. Paulo disse que o evangelho lhe fora revelado somente por Deus e que ele o recebera no deserto da Arábia. Essa é a razão pela qual seu evangelho não podia ter nenhum erro. Gálatas 2 nos diz o que esse evangelho é. Neste capítulo Pedro fingiu, pois quando viu os judeus vindo da parte de Tiago (vs. 11-12), ele manteve-se como um judeu. Paulo repreendeu-o face a face. A circuncisão não significa nada. Cristo já morreu. Já não somos mais nós que vivemos, mas é Cristo quem vive. O capítulo 3 diz-nos que o objetivo de Deus não é a lei, mas a promessa. A razão pela qual Deus deu ao homem a lei era fazer com que o homem primeiro conhecesse seu pecado e, então, aceitasse o Filho de Deus. O capítulo quatro traz duas outras coisas para mostrar-nos que é inútil o homem guardar a lei, mesmo que tenha capacidade para fazê-lo. Hagar representa a lei e Sara a graça. Hagar deve ir embora para que Sara possa permanecer.
Mesmo que possa guardar a lei, você será somente Hagar e ainda terá de ir embora. A primeira sentença no capítulo cinco é: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou”. Cristo trouxe-nos à liberdade. Precisamos permanecer firmes nessa liberdade. Não perca essa liberdade. Se um homem guardar a circuncisão, Cristo não será de nenhum benefício para ele. Se o sistema da lei é conservado, Cristo terá de ser negado. Não se pode guardar um pouquinho a lei e, então, pedir que Cristo faça o resto. Cristo nunca faz um trabalho de  retalhos. Portanto, Paulo disse: “De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar; que está obrigado a guardar toda a lei” (5.3). Por que não escolher outras coisas na lei? Por que tomar a questão da circuncisão? Por que tomavam somente o que gostavam na lei e não guardavam toda ela? Se quisessem guardar um item da lei, teriam de guardar toda a lei; se um permanece, todos devem permanecer. Eles não podem escolher um e rejeitar todos os outros. O versículo 4 diz: “De Cristo vos desligastes vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes”. Desligar-se de Cristo significa o mesmo que “Cristo de nada vos aproveitará” do final do versículo 2. É como se Cristo não fosse expresso em você. Você não tem perdão, alegria e paz. Além do mais, se você segue a lei, Cristo será reduzido a nada em você. Aqui não é uma questão de receber salvação; está-se falando da condição de alguém salvo. Suponha que um irmão venha a mim e diga: “Sr. Nee, eu devo guardar o sábado. Se não guardar o sábado, minha salvação não será completa”. Eu sei que esse irmão é realmente salvo. Não há dúvida disso, mas agora que recebeu tal ensinamento errado, tenho de dizer-lhe: “Se guardar o sábado, a obra de Cristo não produzirá nenhum efeito em você. É pela fé que estamos em Cristo. Você agora voltou para a lei. Você decaiu da graça”. Assim, não se trata de salvação ou perdição; a questão aqui é sobre a condição de alguém salvo. Isso mostra-nos que um homem é salvo por Cristo e não por ele mesmo. Se o homem guardar a lei, não haverá  graça. Sabemos que o pecado leva à perdição, mas precisamos perceber que o livro de Gálatas não está focalizado no pecado. O livro de Gálatas fala sobre boas obras, fala sobre guardar a lei de Deus; Gálatas é sobre guardar a lei e circuncisão. Paulo não falou que eles caíram no pecado. Disse que caíram da graça. Há uma grande diferença entre os dois; cair da graça e cair em pecado são duas coisas inteiramente diferentes. Decair da graça é sair do princípio da graça e seguir novamente o princípio das obras. Hoje há muitos salvos que decaíram da graça, porém não perderam a salvação. Mesmo nós somos iguais. Um número incontável de vezes pensamos que estamos terminados. Mas a nossa salvação é por causa da graça do Senhor Jesus.
Paulo, em Gálatas 5, referiu-se aos que lutaram para vencer, mas caíram da graça por confiar em suas obras. Eles queriam ter boas obras, mas quando as fizeram, caíram. Que é estar na graça? Graça significa que somos pessoas humildes e desamparadas. Nada podemos fazer. Recebemos graça diante de Deus. Estamos numa posição humilde. Estamos confiando em Deus para que Ele nos dê graça. Como tais, somos os que vivem na graça. Isso não é uma questão de pecado ou de má conduta. Se um homem confia na sua própria obra, está obstruindo a graça de Cristo. Paulo censurou os gálatas por seguirem a lei depois de serem salvos. Eles caíram da graça. Ele os repreendeu por não terem recebido graça e misericórdia suficientes da parte de Deus. Receber misericórdia e graça de Deus é permitir que Deus trabalhe. Isso prova que a carne é incapaz e nada pode fazer. Podemos trabalhar em nossa carne. Mas os que estão na carne não agradam a Deus. Suponha que determinado irmão seja um homem sem princípios. Todo dia ele ganha um dólar e cinquenta centavos, mas gasta dois dólares. À noite tenho pena dele. Ele precisa de cinquenta centavos. Dou-lhe sessenta centavos. Ele é assim todos os dias e tenho pena dele todos os dias. Suponha que um dia ele comece a pensar: “O senhor Nee tem tido pena de mim e me tem dado dinheiro todos os dias. Mas tenho de pensar numa maneira de disciplinar-me um pouco”. Quando ele faz isso, está fazendo o que os gálatas faziam com a circuncisão. Eles faziam isso na carne e como resultado, decaíram da graça. Tenho encontrado pessoas assim. Do ponto de vista do mundo, gosto de pessoas assim. Elas não gostam de que os outros as alimentem o resto de sua vida. Elas querem ser independentes. Isso é bom. Mas a Bíblia mostra-nos que, no que diz respeito a Deus, isso está errado, pois tais pessoas caíram da Sua misericórdia. Paulo não os estava repreendendo por pecarem. Ele os estava repreendendo por fazerem o bem. Paulo repreendeu-os por fazerem o bem, porque fazer o bem significava que não mais necessitavam da misericórdia de Deus pelo resto da vida. Eles não mais viveriam na misericórdia de Deus.
Meu amigo, o pensamento do  homem é totalmente diferente do pensamento de Deus. Pensamos que podemos agradar a Deus fazendo um pouco. Mas Deus fica feliz quando permanecemos em Sua graça. Ele diz repetidamente que deseja misericórdia e não sacrifício (Mt 9.13). Misericórdia é Deus dar algo a você e sacrifício é você dar algo para Deus. Deus deseja misericórdia. Isso significa que Ele gosta de dar coisas a você. Ele não quer sacrifício. Isso significa que Ele não quer que você dê coisas a Ele. Se Deus puder dar coisas, Ele se sentirá feliz. Isso é salvação. Salvação não é tornar-nos felizes. Salvação é tornar Deus feliz. Deus gosta de dar as coisas. Ele quer trabalhar continuamente em nós. Ele quer dar-nos graça. Você pode pensar que isso é suficiente, mas Ele acha que não. Você é um homem pobre e pode sobreviver com alguns centavos por dia. Mas agora ganhou alguns dólares. Não é de admirar que você considere isso muita coisa. Se Deus faz algo, Ele o faz ao máximo. Se você permitir que faça somente um pouco, Ele não se sentirá alegre. Se quer ser salvo, você deve, voluntariamente, permitir que Deus trabalhe. Você precisa pedir a Deus que seja misericordioso para consigo. Deus pode somente ser feliz se Lhe permitem trabalhar dessa maneira. Se continuar tentando dar algo a Deus, Ele não se sentirá feliz. Quando Deus vê misericórdia sendo mostrada a você, Ele se alegra. Por isso digo que Deus deseja misericórdia e não sacrifício. Gálatas 5.4 diz que não devemos decair da graça. Não diz que não devemos cair em pecado. O que é abordado aqui não é a questão da salvação, mas a questão do desfrute.
Diante de Deus, não necessitamos mover-nos nem guardar a lei. Não temos de fazer nada. Devemos apenas permitir que Deus trabalhe em nós e dê-nos graça. Uma vez que temos obras, decaímos da graça. Portanto, dizer que alguém decaiu da graça não se refere à questão da salvação e perdição. Decair da graça é uma questão de desfrutar ou não os benefícios de Cristo para nós. Decair da graça é uma questão de permitir ou não que a obra de Cristo opere em nós. Agradecemos ao Senhor porque salvação significa estar continuamente sob a Sua misericórdia e sob a Sua graça.

A Salvação é Eterna — ARGUMENTOS CONTRÁRIOS (2)

Não há ensinamento sobre a morte eterna no Antigo Testamento. No capítulo anterior deste livro comentamos sobre Ezequiel 18. Permitam-me acrescentar aqui algumas palavras. Todos os que estudam o Antigo Testamento cuidadosamente e o compreendem sabem que nele não existe ensinamento sobre a morte eterna, tampouco existe algo semelhante à punição eterna. Todas as mortes mencionadas no Antigo Testamento referem-se à morte do corpo, e o único lugar para onde as pessoas vão após morrerem é o Hades, e não o inferno. Poucas passagens mencionam a palavra inferno. Contudo, tais passagens são traduções erradas ou deveriam ser interpretadas de outra forma. Todas as mortes mencionadas no Antigo Testamento são a morte do corpo. Elas não são a morte eterna. O Antigo Testamento foi escrito aos judeus. Por serem homens terrenos, suas faltas também eram terrenas, e suas punições, punições terrenas. Não estou dizendo que não haja a morte eterna no Antigo Testamento. Contudo, o Antigo Testamento nunca nos ensina nada sobre a morte eterna. No Antigo Testamento, os que eram abençoados por Deus tinham muito gado, ovelhas, ouro e prata. Esses eram os sinais da bênção de Deus. Mas no Novo Testamento, os que são abençoados por Deus podem dizer: “Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (At 3.6). No Antigo Testamento havia o ouro e a prata. No Novo Testamento não há prata nem ouro. O Antigo Testamento, ainda que não trate exclusivamente das coisas da carne, fala principalmente do aspecto físico e material das coisas. No Antigo Testamento, quando um homem era abençoado por Deus, ele desfrutava uma vida longa, tinha muitos descendentes e muita riqueza. Essas eram as bênçãos do Antigo Testamento. Todavia, no Novo Testamento não vemos essas coisas. Pelo contrário, vemos que Tiago morreu e que Estevão morreu. Muitos foram martirizados por amor ao Senhor; eles não foram de forma alguma amaldiçoados. Além disso, o Novo Testamento nunca tomou a descendência como um item da bênção. Pelo contrário, os que vivem para o Senhor devem permanecer virgens. Portanto, o que o Antigo Testamento nos mostra e o que o Novo Testamento nos mostra são duas coisas totalmente diferentes. Isso não significa que no Antigo Testamento não haja a morte eterna. Porém, isso não é mostrado como ensinamento. Pelo fato de o homem não compreender essa verdade, o Novo Testamento relata-nos acerca da morte eterna. No Antigo Testamento existem uns poucos lugares que parecem falar da morte eterna, contudo são traduções equivocadas. Um deles é traduzido para o perverso sendo lançado no inferno (Sl 9.17). Na verdade, porém, deveria ser traduzido para o perverso indo para o Hades; é algo temporário, e não para a eternidade. Em Isaías 66.24 menciona-se o verme que nunca morrerá e o fogo que não se apagará. Parece estar falando da mesma coisa que o Evangelho de Marcos (9.48). Mas, pór favor, lembre-se de que Isaías não estava dizendo que se os israelitas não se arrependessem iriam para o inferno, onde os vermes não morrem e o fogo não se apaga.
Isaías não estava ensinando sobre a morte eterna; estava apenas profetizando a respeito de um grupo de pessoas que irá para o inferno no final do milênio, onde os vermes não morrerão e o fogo não se apagará. Se relacionarmos esse versículo de Isaías com o ensinamento sobre a morte eterna, estaremos impondo-lhe uma conotação que é alheia a ele.

Não Desfrutar a Eficácia de Cristo é Diferente de Estar Separado de Cristo

Precisamos saber de mais uma coisa. Gálatas 5.4 diz: “De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei, da graça decaístes”. Na linguagem original, a palavra “vos desligastes” é katargeo. É um verbo passivo. Há pouco do sentido de separação. Kata tem, até certo ponto, sentido de desligamento, mas o sentido não é muito forte. A palavra katargeo significa ser apartado do efeito e da função. O dicionário de palavras gregas de Stephan pode ser considerado um dos melhores, e ele nos diz que aqui essa palavra significa ser apartado da função. Pode-se ver a diferença entre separação de Cristo e ser afastado da eficácia de Cristo. São duas coisas diferentes. Se alguém deixou Cristo e está separado Dele, então tudo está terminado. Entretanto, não é isso que Paulo está falando aqui. Paulo disse que se eles guardassem a lei, decairiam da graça. Se quisessem apegar-se à lei, teriam de abrir mão da graça. Se seguissem a lei, perderiam a eficácia de Cristo. Que é a eficácia de Cristo? Se a eficácia de Cristo é manifestada em mim, posso regozijar-me. Embora eu seja fraco e inútil, sei que Sua graça é suficiente para mim, e meu coração pode ficar em paz. Essa alegria e paz que tenho em meu coração é o efeito de Cristo em mim. Isso é Cristo operando Sua eficácia em mim. Eu não tento ser salvo por minhas obras. Sei que já estou salvo. Não necessito esforçar-me para ser salvo. Não preciso suplicar desesperadamente. Tampouco preciso lutar. Posso descansar em Sua obra. Isso é a eficácia de Cristo. Hoje muitos cristãos desviaram-se de Cristo. Cristo não é eficaz neles. Suponha que eu deva muito dinheiro a alguém. Não posso pagá-lo mesmo que eu venda tudo o que tenho. Ora, tenho um ótimo amigo, e ele me diz que, como estou tão endividado, fará um cheque para que eu quite meus débitos. Contudo, sou preguiçoso, preguiçoso demais para descontar o cheque. Agora tenho dinheiro em casa? Sim, mas também tenho uma dívida em casa. Tenho o cheque, mas ele não é eficaz para mim. A dívida ainda existe, ela não foi paga. Ainda suporto o ônus da dívida. Hoje Deus já nos deu o cheque. Nós, porém, não “descontamos esse cheque” para obter sua eficácia.
Portanto, “estar separado de Cristo“ e “Cristo de nada nos aproveitar” são duas coisas diferentes. Ser separado de Cristo é não ser salvo. Mas nós, cristãos, nunca podemos ser separados de Cristo. Romanos 8 nos diz que não há como sermos separados de Cristo, e que ninguém pode separar-nos do amor de Cristo. A graça que recebemos de Cristo e a bênção que temos da parte de Deus são ordenadas por Deus. Ninguém pode anulá-las. Elas não podem ser anuladas, porque têm por base a justiça. Por meio das muitas obras que Cristo cumpriu por nós, o problema da vida e da morte eternas está solucionado. Não há como anular isso, pois isso está baseado na justiça. No aspecto subjetivo, no entanto, a falta de paz no coração e a contínua presença de tristeza é um problema do cristão. Uma pessoa pode preocupar-se em como receber graça e como preservar sua salvação, e todos os dias seu coração está em dúvida, sem saber o que deve fazer. Quando alguém se aparta da eficácia de Cristo, ele não recebe o efeito que deveria receber de Cristo. Portanto, Gálatas 5.4 nos mostra que ir após a lei é decair da graça. Quando alguém decai da graça ele é apartado da eficácia de Cristo. Portanto, isso não se refere ao homem perder sua salvação após ser salvo. Pelo contrário, refere-se a alguém não ter a alegria e a paz da salvação.

O Argumento Baseado em 1 Coríntios 8.11

Neste livro consideraremos mais alguns versículos. Em 1 Coríntios 8.11 diz-se: “E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu”. Esse versículo apresenta um problema. A pessoa citada aqui é claramente salva, posto que é chamada de irmão. É verdade que se trata de um irmão fraco. Contudo, é um irmão, uma pessoa que pertence ao Senhor. Aqui, no entanto, diz que ele pode perecer. A palavra perecer (apollumi - gr.) inclui dois significados. Pode ser traduzida para perecer ou para destruir. Entretanto, essa palavra é a mesma palavra perecer usada em João 3.16, onde diz que todo o que Nele crê não apollumi, mas tem a vida eterna. Se podemos usar a palavra destruir em 1 Coríntios 8.11, então poderíamos traduzir João 3.16 para destruir também. Eis aqui, portanto, um problema.
Ao lermos a Bíblia, não a podemos ler de maneira superficial. Devemos estudar o contexto em detalhes. Somente após lermos cuidadosamente o contexto, poderemos conhecer o que o versículo diz. Não se consegue ouvir claramente o que outros estão dizendo encostando o ouvido na janela. Uma das maiores tolices do mundo é ouvir os outros por trás das portas, através dos buracos das fechaduras, pois pode-se não ouvir o que foi dito antes ou depois. Se você tirasse uma sentença fora do contexto da Bíblia, certamente não seria capaz de entendê-la com clareza. A fim de compreendê-la claramente, deve-se ler o contexto.
O assunto de 1 Coríntios 8 é a proibição aos cristãos de comer comida oferecida a ídolos no templo do ídolo. Os cristãos coríntios supunham que não havia nenhum problema se os cristãos comessem comida oferecida a ídolos no templo do ídolo. Sua explicação era que havia somente um Deus nos céus e na terra. Os ídolos nada são. Se alguém oferece comida aos ídolos, e os ídolos são reais, então as ofertas são reais. Se os ídolos não são reais, então as ofertas não são ofertas, de forma alguma, mas somente comida. Se não são ofertas, que mal há em comê-las? Se os ídolos não são reais, então os templos são apenas não-templos, e nada significaria comer das ofertas nos templos dos ídolos. Eles, portanto, pensavam que as ofertas podiam ser comidas. Isso era o que os coríntios diziam.
Paulo, no entanto, disse que as ofertas não deveriam ser comidas. Sua explicação não era que os ídolos eram reais ou que os templos o fossem. No início do capítulo oito, Paulo disse: “No que se refere às coisas sacrificadas a ídolos, reconhecemos que todos somos senhores do saber”. A palavra “todos” refere-se aos cristãos coríntios. Porque todos têm conhecimento, todos podem comer. Entretanto, “o saber ensoberbece, mas o amor edifica”. O propósito do amor é edificar a outros, enquanto o conhecimento ensoberbece. É verdade que o Pai é Deus, que Jesus é o Senhor, e que os ídolos nada são. Havia, entretanto, muitos irmãos fracos na igreja em Corinto. Eles não tinham o conhecimento; a mente deles não era tão perspicaz como a dos demais. Mesmo que você tentasse explicar-lhes, esses irmãos fracos não entenderiam. Eles ainda pensavam que era contra o mandamento do Senhor fazer algo assim. Alguém precisava lembrar aos “senhores do saber” quem eram esses fracos e quais os seus antecedentes. Hoje você pode achar que os ídolos nada são. Mas aqueles que anteriormente haviam ofertado aos ídolos achavam que estavam ofertando a Deus, por pensar que os ídolos eram deuses. Quando você come você não sente nada. Mas se eles comem é como se estivessem revendo seus pecados passados. Eles não são como você. Você tem o conhecimento, portanto pode comer e ir embora. Mas eles se sentiriam como que fazendo o mesmo que tinham feito antes e pecando como antes. Na mente deles ainda consideravam isso como pecado. Portanto, por causa dos outros cristãos, e por amor a eles, embora você possa ter o conhecimento, é preferível não comer. Você tem o conhecimento, mas eles não. Diante de Deus eles sentem-se condenados em sua consciência. Sentem que cometeram um grande pecado e que estão caindo novamente. Portanto, por causa deles, nós não comemos. Esse é o significado geral dessa passagem.
Os versículos 4 a 7 dizem: “No tocante à comida sacrificada a ídolos, sabemos que o ídolo de si mesmo nada é no mundo e que não há senão um só Deus. Porque, ainda que há também alguns que se chamem deuses, quer no céu ou sobre a terra, como há muitos deuses e muitos senhores, todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as cousas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também por ele. Entretanto, não há esse conhecimento em todos; porque alguns, por efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a consciência destes, por ser fraca, vem a contaminar-se”. Por favor, note a palavra familiaridade aqui. Esse era o antigo hábito deles. O versículo 12 diz: “E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais”. Essa passagem ensina as pessoas a se absterem de comida sacrificada a ídolos por causa do amor pelos irmãos. Você não pode agir livremente e colocar seu irmão em dificuldades simplesmente porque você tem conhecimento.
Do versículo 7 até o fim do capítulo, o problema era da consciência. Não se tratava de um problema do espírito. Paulo, aqui, não estava falando acerca da salvação eterna ou da perdição eterna. Paulo nos estava dizendo o que fazer em relação a um irmão com uma consciência fraca. Se um homem faz algo que sabe que pode fazer, sua consciência não o condenará. Se, contudo, faz algo que sabe que não deveria fazer, sua consciência irá condená-lo e reprová-lo continuamente. Por exemplo, sabemos que não precisamos guardar o domingo nem o sábado. Não há problemas em fazer compras e trabalhar no domingo.
Nossa consciência nunca nos condena. Isso é uma graça do Novo Testamento. O Senhor não colocou sobre nós o fardo do sábado. Alguns, no entanto, não têm esse conhecimento. Quando fazem compras no domingo, pensam ter cometido um grande pecado. Após terem feito isso, sua consciência não ficará em paz. Às vezes, a questão do pecado é simplesmente uma questão de consciência. A consciência do homem determina para ele quais são seus pecados. Paulo estava se referindo a um irmão fraco. Outrora esse irmão adorava ídolos. Agora vê outros comendo, e deseja juntar-se a eles. Para você não há problema em comer, porque tem discernimento e sabe que os ídolos nada significam. Portanto, pode comer livremente.
Ele come, não porque tenha discernimento, mas porque vê você comendo. O tempo todo em que ele está comendo, ele não tem paz. Você come com alegria. Ele come com temor. Após
essa refeição, ele não consegue mais orar. A consciência dele lhe diz que pecou e abandonou a Deus para adorar ídolos, exatamente como costumava fazer. A consciência dele começa a perecer diante de Deus. Ele sente-se culpado perante Deus e acha que está acabado, que voltou aos seus antigos pecados.
Além de João 3.16, a palavra original para perecer também aparece em Lucas 13, 15 e 21. Contudo, nessas três passagens, essa palavra foi utilizada de forma muito diferente. No capítulo treze, Pilatos havia matado diversas pessoas e misturado o sangue delas com os sacrifícios que elas mesmas realizavam. O Senhor Jesus disse às pessoas que não considerassem esses galileus mais pecaminosos do que elas mesmas. A menos que se arrependessem, todos eles igualmente pereceriam. Perecer, aqui, refere-se ao corpo ser morto, e nada tem a ver com a alma do homem. O Senhor disse que houve dezoito mortos quando a torre de Siloé desabou. A não ser que se arrependessem, eles pereceriam da mesma forma. Isso se refere à morte do corpo exterior.
Na parábola do filho pródigo no capítulo quinze, o pródigo disse: “Quantos empregados de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui pereço de fome!” Aqui, morrer não se refere à alma perecer. Portanto, tal palavra não se refere apenas à morte eterna, mas também à morte do corpo e à inanição. Pode-se considerar que alguém perece quando é morto, e pode-se também considerar que alguém perece quando está morrendo de fome.
No capítulo vinte e um do Evangelho de Lucas, o Senhor diz que o cabelo de nossa cabeça de modo algum perecerá (lit.). Até nosso cabelo pode perecer. Ora, não há possibilidade de que isso signifique morte eterna. A partir dessas três passagens, pode-se imediatamente ter uma ideia do que Paulo quis dizer aqui. Ele referia-se a algo que pudesse fazer perecer a consciência de um irmão fraco. Na reunião este poderia não ser mais capaz de orar. Poderia pensar que estava acabado, que havia adorado a ídolos novamente e que havia comido a comida oferecida a ídolos no templo pagão. Ele poderia achar que havia abandonado o Deus vivo e a consciência dele seria destruída por sua causa.
Se lermos cuidadosamente esta porção da Escritura, (1 Co 8) do versículo 7 em diante, veremos por que Paulo disse aquilo. “Entretanto, não há esse conhecimento em todos; porque alguns, por efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a consciência destes, por ser fraca, vem a contaminar-se”.
Por favor, note que isso se refere àqueles cuja consciência, sendo fraca, é contaminada. “Não é a comida que nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não comermos, e nada ganharemos se comermos”. Este é categoricamente nosso padrão: se comermos não existe mérito, e se não comermos não há perda. Mas os que não têm o conhecimento têm um problema quanto a isso. “Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos”. A fraqueza aqui não se refere à fraqueza moral ou à doutrinária. Pelo contrário, refere-se à fraqueza na consciência. Se ela significasse a fraqueza na condição moral ou doutrinária de alguém, o versículo perderia seu significado.
Ela refere-se, sim, à fraqueza na consciência. “Porque, se alguém te vir a ti, que és dotado de saber, à mesa, em templo de ídolo, não será a consciência do que é fraco induzida a participar de comidas sacrificadas a ídolos?” Os que têm consciência fraca pensam que uma vez que os outros podem comer eles também podem. Contudo, se este vem a comer, a sua consciência ficará contaminada. “E assim, por causa do teu saber, perece o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu”. Portanto, perecer, aqui, não se refere à perdição eterna de um irmão salvo. Perecer, aqui, refere-se ao tropeço espiritual de um irmão devido à fraqueza.
Se o que 1 Coríntios 8 diz é que o conhecimento de um irmão pode levar o outro a perecer eternamente, então posso dizer que para ser salva ou para perecer, uma pessoa depende do conhecimento de outra. Se esse fosse o caso, eu poderia mandar cada um de vocês para o inferno por meio de meu conhecimento. Se esse fosse o caso, o perecimento de um homem não seria determinado por ele mesmo, mas pelos outros. Sabemos que não pode haver coisa semelhante. A Bíblia diz que todo aquele que crê no Senhor Jesus terá vida eterna. Se um homem perecerá diante de Deus ou não, depende de ele crer no Senhor Jesus. Como poderiam os outros levar-me para o inferno? Isso é absolutamente não-bíblico. Com relação ao uso da palavra perecer, podemos dizer que aqui ela não se refere à questão da vida e morte eternas. Pelo contrário, refere-se ao dano da consciência e a fazer uma pessoa tropeçar.
Prossigamos. O versículo 12 diz: “E deste modo, pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais”. Pecar contra os irmãos, aqui, refere-se a levar um irmão fraco a perecer por meio do conhecimento, no versículo 11. Pecar, no versículo 12, refere-se ao perece no versículo 11. O versículo 12 diz que quando você faz seu irmão perecer por causa do seu saber, você está golpeando a consciência fraca dele. Portanto, o perecer mencionado no versículo anterior refere-se ao golpear a consciência. Isso não se refere à vida eterna ou à morte e perdição eternas.
O versículo 13 prossegue dizendo-nos o que é golpear a consciência: “E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo”. Se você puser esses três versículos juntos, verá o que significa perecer aqui. Perecer é golpear a consciência fraca do irmão, e golpear a consciência fraca do irmão é levar meu irmão a tropeçar. Portanto, os versículos 11, 12 e 13 são três elos unidos. Eles mostram-nos o que é perecer. O que é tratado aqui não é absolutamente o perecer em relação à salvação. Se você insistir em explicar dessa forma, dizendo que uma pessoa salva perecerá, achará difícil sustentar esse argumento. Você enfrentará dificuldades explicando-o dessa forma.

O Argumento Baseado em Tiago 5.20

Tiago 5.19-20 diz: “Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele, e cobrirá multidão de pecados”. A partir destes versículos, alguns também inferem que uma pessoa salva pode perecer. Para eles, no versículo 19 temos um irmão, e no versículo 20, temos o pecador. Para eles, o versículo 19 diz para converter um irmão, e o versículo 20 diz que ao converter o irmão, a alma dele é salva da morte. Isso significaria que alguns irmãos precisam converter-se, e alguns precisam ter sua alma salva da morte. Isso não seria simplesmente dizer que um irmão pode perder sua salvação?
Para entender esses dois versículos, existem algumas poucas coisas para as quais devemos atentar. Primeiro, Tiago 5.19 e 20 são como uma montanha solitária: não estão conectados aos versículos anteriores, e nada os sucede. Todas as outras Epístolas na Bíblia têm saudações e bênçãos. Tiago é o único livro que termina dessa maneira. Os versículos 17 e 18 falam de oração. De repente essas poucas palavras parecem surgir do nada. Isso é algo muito peculiar.
Segundo, do primeiro capítulo até o fim, o livro de Tiago trata do amor prático entre os irmãos e irmãs. Por causa do amor há misericórdia, cuidado e a preocupação com os irmãos. Isso é o que o livro de Tiago nos mostra. De 1.1 a 5.18, há uma linha contínua, um alvo definido e um assunto. Os versículos 19 e 20, entretanto, parecem surgir do nada. Pode-se dizer que os versículos de 1.1 a 5.18 estão bem organizados; mas não sabemos de onde vêm esses dois versículos finais.
Terceiro, a princípio, uma vez que Tiago 1 a 5 fala do amor expresso na conduta de alguém, os versículos 19 e 20 não deveriam desviar-se desse ponto. Eles também deveriam dizer-nos o que devemos fazer ou não quando amamos os irmãos. Se um pecador continua no seu caminho errado, e você o salva em amor, você está salvando uma alma da morte. Além do mais, você também cobrirá uma multidão de pecados. Todos os leitores da Bíblia sabem que o que cobre uma multidão de pecados é o amor (1 Pe 4.8). Os muitos pecados citados aqui não se referem a pecados perante Deus. Eles referem-se a pecados diante do homem. Se você converter um pecador do seu caminho errado, Deus não mais se lembrará dos pecados dele e lançá-los-á nas profundezas do mar. Todos os pecados dele estarão debaixo do sangue. Agora, e quanto a nós? Suponha que um irmão fosse muito mau antes de tornar-se cristão. Sua história é cheia de trevas e vergonhosa. Conheço sua história e fatos do seu passado, e eu poderia desvendá-los e expô-los. Mas se expuser seus pecados do passado, estarei agindo contrariamente à vontade de Deus. Deus atirou seus pecados no mar. Após sermos salvos, Deus não mais menciona nossos pecados de outrora. Ao ver um irmão, devo encobrir seu passado, porque entre nós Deus tem encoberto nossos pecados passados.
O versículo 20 trata sobre princípio, e o versículo 19 trata sobre exemplo. Em outras palavras, o versículo 20 é a fórmula, a lei e o princípio da ação, enquanto o versículo 19 é o caso em estudo e a ocorrência individual. O versículo 20 diz que se alguém converte uma pessoa, esta não perecerá e seus pecados serão cobertos perante Deus e perante os homens. O versículo 19 mostra-nos o que ocorre quando um irmão entre nós é desviado da verdade ou tem errado em seu caminho — devemos trazê-lo de volta. A exortação no versículo 19 está baseada no princípio do versículo 20. Se vir um irmão na igreja desviar-se da verdade, você deve recuperá-lo. Quando um pecador é resgatado, sua alma não morrerá e seus muitos pecados serão cobertos. Sendo esse o caso, quanto não devemos fazer o mesmo em benefício de um irmão?! O que Tiago estava dizendo aqui é que devemos fazer pelos irmãos o mesmo que fazemos pelos pecadores. Tiago está nos dizendo que um cristão deve tratar seus irmãos e irmãs com amor e restaurá-los. Esse trecho não está falando de um irmão perecer.

O Argumento Baseado em Hebreus 6.6

Devemos agora considerar Hebreus 6.1-8. Essa passagem apresenta o maior problema da Bíblia. Quase todos os que duvidam que a salvação seja eterna, tomam Hebreus 6 como sua cidade de refúgio. Todos eles obtêm daqui o seu material de apoio.
Eles argumentam que se um homem foi salvo e agora caiu, é impossível que ele seja renovado novamente para o arrependimento. Isso não significaria dizer que esta pessoa está acabada e condenada a perecer? Por muitos não terem clareza, eles tomam essa passagem para explicar que o homem perece.
Contudo, devemos perceber que o assunto de Hebreus 6 não é a salvação. Ele nada tem a ver com a salvação. Se alguém deseja entender essa passagem, deve começar do final do capítulo cinco. Ali diz que muitos dos que deveriam estar comendo alimento sólido ainda estão tomando leite. De acordo com sua idade, os cristãos desse grupo já deveriam ser mestres. Entretanto, eles eram como bebês e não estavam progredindo, estavam estacionados. Assim, o capítulo seis começa dizendo: “Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito”. O assunto de Hebreus 6.1 é, portanto, o progresso, e não a salvação. Se você introduzir a questão da salvação nele, certamente encontrará dificuldades. O propósito desse capítulo é dizer como progredir, e não como ser salvos. A primeira coisa de que devemos tomar nota é que o tópico aqui é o progresso à maturidade, não o regresso à perdição.
O apóstolo estava falando aqui acerca de ser levado à maturidade. Os versículos 1 a 8 podem ser divididos em três seções. Podemos usar três palavras para representar essas três seções. A primeira seção é sobre não ter necessidade, a segunda é sobre não ter possibilidade, e a terceira é sobre não ter direito. Esse trecho, a partir desses três pontos de vista, fala aos cristãos hebreus que eles têm de progredir. Primeiro, eles devem deixar os princípios elementares da doutrina de Cristo e não lançar de novo um fundamento. Os princípios elementares da doutrina de Cristo são como a pedra angular em uma construção. Ao construir um muro, uma pessoa não necessita de duas bases. O apóstolo disse que essas pessoas falavam sobre coisas básicas. Contudo, a base já havia sido lançada; não havia necessidade de fazê-lo novamente. Os princípios elementares da doutrina de Cristo são ensinamentos tais como o arrependimento de obras mortas, a fé em Deus, batismos, imposição de mãos, ressurreição dos mortos e julgamento eterno. Todos esses são os princípios elementares da doutrina de Cristo. O apóstolo disse que isso precisava ser feito somente uma vez. Não havia necessidade de fazê-lo novamente. Ele os estava admoestando a prosseguir para a perfeição.
A segunda seção requer uma introdução. Antes de lermos o versículo 4, deixem-me primeiro fazer-lhes essa introdução. Antes que o apóstolo escrevesse o versículo 4, ele previu que estas pessoas perguntariam: “Se você diz que não devemos lançar a base novamente, que então devemos fazer se pecarmos outra vez? Se uma pessoa falha, retrocede e peca, não deve lançar novamente a base?” Aqui o apóstolo disse algo, antecipando-se ao questionamento deles: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados e provaram o dom celestial...”. Se você tiver um Novo Testamento grego nas mãos, verá que a palavra uma vez de acordo com a gramática da língua original não se refere somente ao primeiro item da lista, mas a cada item nessa lista. Poderia ser lido: “Aqueles que uma vez foram iluminados e que uma vez provaram o dom celestial, e uma vez se tornaram participantes do Espírito Santo, e uma vez provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro”. Isso está muito claro no texto original. Eis aqui um homem que foi iluminado, que provou o dom celestial, que se tornou participante do Espírito Santo, e que provou a boa palavra de Deus e os poderes da era vindoura. A era vindoura é o milênio. Essa pessoa provou os poderes do milênio. Em outras palavras, ele viu e provou milagres, maravilhas, curas e expulsão de demônios. Se tal pessoa cai é impossível outra vez renová-lo para arrependimento. “E caíram”. Um irmão inglês, que estudou grego e se especializou no livro de Hebreus por toda a sua vida, disse que esse cair significa levar um escorregão. Quando se diz que é impossível renová-los outra vez para arrependimento, muitos pensam que isso significa perdição. Essa explicação, no entanto, não é válida. Se houvesse alguém que uma vez foi iluminado, que uma vez provou o dom celestial, que uma vez se tornou participante do Espírito Santo, que uma vez provou a boa Palavra de Deus e que uma vez provou os poderes da era vindoura, seria possível que tal pessoa não pudesse mais se arrepender por ter escorregado? Existem casos de cristãos caídos que se tenham levantado novamente? A Palavra de Deus sem dúvida conta-nos que houve muitos, e a história da igreja também não deixa dúvida de que existiram muitos. Diversos cristãos que certa vez escorregaram, por fim se tornaram os melhores corredores na corrida celestial do reino. Começando com Pedro, tem havido muitos cristãos que caíram e se levantaram.
Se não houvesse possibilidade de eles levantarem-se novamente, então Pedro teria sido o  primeiro que não poderia ter-se levantado. Ele escorregou terrivelmente. Podemos dizer que ele “quebrou a cara”. Pedro não foi o único. Nesses dois mil anos de história da igreja, inúmeros cristãos falharam. Mas por fim, tornaram-se os melhores testemunhos. Posso enumerar incontáveis provas disso. Se o que foi dito antes estivesse certo, então não deveria ter havido um sequer, pois se houvesse um, a Bíblia estaria errada.
Nessa passagem, há uma palavra no texto original, palin, que significa novamente. Há também outra palavra, anakainizo, logo depois dessa palavra, que significa renovar. Portanto, de acordo com o texto original, essa parte deveria ser traduzida para: “Uma vez tendo escorregado, é impossível novamente renovar para arrependimento”. O apóstolo dizia aos cristãos hebreus que o arrependimento das obras mortas, a fé em Deus, o ensino de batismos e da imposição de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno, são todos princípios elementares da doutrina de Cristo. Se uma vez foram iluminados, uma vez provaram do dom celestial, uma vez participaram do Espírito Santo, uma vez provaram da boa palavra de Deus, e uma vez provaram dos poderes da era vindoura, e então escorregaram, eles não podem lançar novamente a base e não podem outra vez ser renovados para arrependimento.
Por favor, lembre-se de que o arrependimento aqui é a base mencionada na primeira seção. Esse arrependimento não é o arrependimento genérico, pois nos versículos anteriores existem seis itens dos princípios elementares da doutrina de Cristo. O primeiro é o arrependimento de obras mortas. Portanto, não podemos tomar o arrependimento que temos em nosso conceito e igualá-lo ao arrependimento aqui. Devemos considerar o contexto da Escritura e explicá-la segundo o pensamento do apóstolo. O arrependimento referido pelo apóstolo é o mesmo arrependimento das obras mortas no versículo 1. O significado disso é que após alguém ter crido em Deus e ter sido batizado, depois de ter entendido o julgamento vindouro e a verdade da ressurreição, e ter-se arrependido das obras mortas, não pode arrepender-se novamente de algo de que já se arrependeu. Desde que tenha sido batizado, não pode batizar-se novamente. Uma vez que tenha crido no ensino do juízo, não pode tentar crer novamente. Uma vez que tenha crido no ensino da ressurreição, ele não pode tentar crer novamente. A palavra arrependimento aqui inclui todos os seis itens mencionados acima. O apóstolo não repetiu as palavras “renovar outra vez” tantas vezes como eu fiz: renovar outra vez o arrependimento de obras mortas, renovar outra vez a fé para com Deus, e renovar outra vez as outras coisas. Ele precisou usar apenas uma vez as palavras renovar outra vez. Se, contudo, não houvesse nada, usaríamos as palavras para começar. Mas se já houvesse algo, usaríamos as palavras para renovar outra vez. O apóstolo temia que não entendêssemos o significado de renovar, anakainizo. Portanto, ele acrescentou uma palavra mais: outra vez, palin. Portanto, o arrependimento a que se refere o versículo 6 deve ser o arrependimento do versículo 1. Se o arrependimento no versículo 1 fosse mencionado como o segundo item, poderíamos não ter muita clareza. Mas, graças ao Senhor, ele é colocado como o primeiro item. Uma vez que é o primeiro item, sabemos que todos os outros itens são como esse.
O apóstolo estava dizendo que os princípios elementares da doutrina de Cristo podem ser comparados à base. Para alguém ser cristão, primeiro há a necessidade do arrependimento das obras mortas, a fim de julgar seus pecados. A seguir, ele deve ter fé em Deus, ser batizado, ter a imposição das mãos, e crer na ressurreição dos mortos e no juízo eterno. Todas essas são questões fundamentais. Uma vez que a base tenha sido lançada, não há necessidade de fazê-lo outra vez. Enquanto alguém está edificando sobre essa base, mesmo que seu pé escorregue, não é preciso lançar novamente a base. Mesmo que alguém queira lançar outra vez uma base, é impossível. Por exemplo, o irmão Wu acaba de entrar no salão de reuniões pela entrada principal da travessa Wen-teh. Depois que entrou pela travessa, e no momento que estava virando a esquina para entrar no salão, ele escorregou. Que deve fazer, então? Seu objetivo é vir à reunião. Porém ele escorregou. Ele não precisa recomeçar todo o caminho a partir da travessa Wen-teh. Ele pode levantar-se de onde escorregou. O apóstolo estava dizendo que uma vez que uma pessoa tenha sido iluminada e tenha provado do dom celestial, se escorregar, ela não pode arrepender-se das obras mortas novamente, crer em Deus novamente, ser batizado novamente, ter a imposição de mãos novamente, e crer na ressurreição e no juízo eterno novamente. Em outras palavras, o apóstolo não teve a intenção de dizer que um homem pode perecer outra vez. O que ele quis dizer é que após um cristão ser regenerado, ele não pode ser regenerado novamente. Podemos ser regenerados no máximo uma vez. O apóstolo não estava dizendo que não é permitido alguém se arrepender novamente. Ele estava dizendo que é impossível arrepender-se começando tudo novamente. A parte seguinte do versículo 6 diz: “Visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à ignomínia”. Alguns dizem que cair é crucificar o Filho de Deus outra vez. Quem pode crucificar o Senhor outra vez? A obra do Senhor Jesus foi completada uma vez por todas. Ele não era como o touro e o bode, que devem ser imolados quando necessário. Da sua parte, você não pode renovar seu arrependimento. Da parte do Senhor, Ele não pode renovar a crucificação. Se você tiver de renovar seu arrependimento, isso significa que o Senhor Jesus terá de renovar Sua crucificação. Se esse fosse o caso, então você estaria expondo o Senhor à vergonha. Estaria dizendo que a crucificação única do Senhor Jesus não foi suficiente, que deveria haver mais crucificações. Portanto, aqui não é uma questão de salvação e perdição.
Nos capítulos anteriores, vimos que a salvação eterna é um fato que não pode ser contestado. Se entre nós houver um cristão caído e desviado, que uma vez foi realmente salvo e teve clareza acerca da salvação de Deus, para que ele novamente se levante não é necessário um novo início. Desde que ele se levante hoje, isso é suficiente. Não existe a possibilidade de crucificar o Senhor Jesus novamente e expô-Lo à ignomínia. Na última seção, nos versículos 7 e 8, o apóstolo não apenas estava dizendo que não há necessidade nem possibilidade, mas ele prosseguiu dizendo, de uma maneira mais séria, que não há o direito. Por que não temos o direito? Porque lançando novamente a base crucificaríamos o Senhor Jesus outra vez. Se alguém fizesse isso, haveria um sério risco para ele; ele sofreria grave punição. “Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela, e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada, recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada”. Deixaremos a discussão mais minuciosa dessa passagem para mais tarde. Após ler Hebreus 6, pode-se ver que esse capítulo fala sobre a questão do progresso, não sobre a salvação ou perdição. Hebreus 6 nunca nos diz que uma pessoa salva pode perecer.

Quatro Coisas a Ser Diferenciadas

Aqui temos de considerar novamente quatro coisas mencionadas na Bíblia. São quatro coisas que mencionamos anteriormente e que devem ser distinguidas umas das outras. Se alguém quer entender a salvação, primeiro, ele tem de fazer distinção entre o cristão genuíno e o falso cristão. Segundo, ele deve distinguir entre a disciplina dos cristãos e a salvação eterna. Salvação eterna é uma coisa e a disciplina de Deus sobre Seus filhos é outra. Uma coisa é um cristão ser castigado nesta era; outra coisa é um incrédulo perecer na eternidade. Um cristão não perecerá eternamente, porém ele pode ser punido. Há muitos versículos que falam da punição de um cristão. Não se pode aplicar esses versículos à salvação.
Terceiro, há uma grande diferença entre o reino e a vida eterna. Em outras palavras, há uma grande diferença entre recompensa e dom. Uma coisa é você ser salvo; outra é você reinar, governar e compartilhar da glória com o Senhor Jesus no milênio. Há muitos trechos na Bíblia que falam sobre uma pessoa ser removida do reino. Por não estarem esclarecidos acerca da diferença entre o reino e a vida eterna, entre o galardão e a salvação, muitos aplicam os versículos sobre o reino à salvação. Muitos acham que ser removido do reino significa perecer. Essas coisas, entretanto, são totalmente diferentes. Um cristão pode perder sua posição no reino, porém não pode perder sua posição na salvação. Apesar de um cristão poder perder sua posição de reinar com Cristo, ele não pode perder sua posição de filho de Deus.
Quarto, a Bíblia não somente diz que um cristão sofrerá disciplina hoje, e não somente diz que alguns cristãos podem perder o reino, mas também diz que no reino há punições definidas para um cristão. A Bíblia diz que muitos cristãos sofrerão disciplina nesta era. Eles perderão a recompensa na era vindoura e também sofrerão punição. Um cristão pode perder sua recompensa no futuro. Ele também pode ser punido com punições definidas, positivas. Contudo, não se pode misturar a punição no milênio com a perdição eterna. Perdição eterna é uma coisa, punição no reino é outra. Quando um cristão é punido, isso não significa que ele perecerá eternamente. A salvação é eterna. Punição é apenas uma disciplina em família. Se alguns filhos não podem ser bem disciplinados nesta era, eles o serão na era vindoura. Portanto, há quatro coisas aqui que precisam ser distinguidas umas das outras. As quatro coisas: os falsos cristãos, a punição nesta era, a perda do reino e a punição no milênio são diferentes da vida eterna e da morte eterna.
Consideremos agora o primeiro grupo: os falsos cristãos. Em 2 Pedro 2.1 diz-se: “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição”. Alguns perguntariam se este versículo indica que um cristão pode perecer. Os que são citados aqui são os que foram comprados pelo Senhor. Alguns dirão que esse versículo obviamente diz que um cristão pode perecer, porque diz aqui que eles seguiram as heresias e negaram o Soberano Senhor que os resgatou, e seu fim é a repentina destruição. Mas, por favor, lembrem-se de algumas coisas. Aqui menciona o Soberano Senhor que os resgatou. A palavra resgatou é usada de maneira específica. Acaso essa palavra transmite o sentido de que os que foram resgatados são os salvos? Se esses que foram resgatados são os salvos, então temos de admitir que uma pessoa salva pode perecer. Se, no entanto, essa palavra tiver um significado diferente, então ninguém mais poderá dizer isso. É verdade que a Bíblia nos diz que fomos resgatados pelo Senhor por preço. Mas devemos ver a extensão do que o Senhor Jesus resgatou na cruz. Ele resgatou somente os que crêem ou resgatou todo o mundo? Pela Bíblia podemos ver que o Senhor não resgatou apenas os cristãos, mas resgatou também todo o mundo. Mateus 13.44 diz: “O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, que um homem, achou e escondeu. E, na sua alegria, vai, vende tudo o que tem, e compra aquele campo”. Isso nos mostra que o Senhor Jesus vendeu tudo o que tinha para comprar o tesouro. Mas Ele não comprou somente o tesouro, Ele comprou o campo também. O tesouro é uma pequena parte, no entanto, o campo é a grande parte. O tesouro está no campo. Para obter o tesouro, o Senhor comprou todo o campo. O propósito de comprar o campo não foi pelo campo, mas pelo tesouro. Por favor, lembrem-se de que o objetivo da compra do Senhor era a pequena parte, mas Ele comprou a grande parte. Seu propósito é obter o tesouro, mas a extensão da sua compra foi o campo. Os do reino dos céus são o tesouro, mas o que o Senhor resgatou foi o campo.
Portanto, não podemos dizer que todo o que foi resgatado pelo Senhor é salvo. A extensão do resgate é maior que a da salvação. A obra de resgate e redenção na Sua cruz é diferente da Sua obra de substituição. A substituição do Senhor é apenas para todos os que crêem, entretanto Ele morreu por todo o mundo. Ele definiu uma esfera suficientemente ampla. Isso, no entanto, não significa que todo o mundo seja salvo. Se Pedro mudasse uma palavra aqui, se ele dissesse: “Até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os salvou”, então isso seria muito sério. Mas Pedro usou uma palavra bastante extensa. Ele disse: “Até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou”. Portanto, podemos ver que esse grupo de pessoas não foi salvo. Esta palavra resgatar é muito ampla. Por essa palavra sozinha, não se pode dizer que eles são salvos.
Segundo, a palavra Soberano Senhor, despotes (gr.), tampouco é uma palavra comum. Ela não deveria ser traduzida para senhor, mas para mestre. Não é o Senhor, como em Senhor Jesus, mas o Mestre, como alguém que tem o controle temporário de uma pessoa. Refere-se a um mestre terreno. Não há relação de vida aqui. De acordo com uma interpretação precisa da Bíblia, isso não é uma relação entre eles e o Senhor, mas uma relação entre eles e seu mestre. Portanto, esse grupo de pessoas de nenhum modo foi salvo. Ninguém pode dizer: Senhor Jesus, senão no Espírito Santo, pois todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Esses são como Judas, eles nunca confessaram Jesus como Senhor.
Terceiro, Pedro nos diz que esse grupo de pessoas são os falsos mestres e falsos cristãos. Pedro também nos disse que havia falsos profetas no meio do povo. Ele também disse que haverá falsos mestres. Esses falsos profetas referem-se aos falsos profetas no Antigo Testamento. Todos os leitores da Bíblia sabem que nenhum falso profeta no Antigo Testamento era salvo. Podemos dizer ousadamente que esse grupo de pessoas de nenhum modo era salvo. Eles seguiram suas habilidades e ideias, secretamente introduzindo heresias destruidoras, e até negando o Mestre que os comprara, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. Portanto, 2 Pedro 2 não se refere à perdição dos que são salvos. Existem mais palavras na Bíblia semelhantes a essas. Todas elas se referem a cristãos nominais. Não se referem à perdição dos salvos. Alguns argumentaram acerca das poucas palavras no final do segundo capítulo. O versículo 20 diz: “Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro” O versículo 22 diz: “Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: A porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal”. Baseados nas palavras do versículo 20, alguns pensam que esses se referem a salvos, pois diz claramente que eles escaparam das contaminações do mundo mediante o conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo; certamente esses tais foram salvos.
Mas por favor, note que Pedro foi muito cuidadoso na maneira de falar. O versículo 20 diz que eles têm o conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, e que eles escaparam das contaminações do mundo. Porém, o versículo 22 nos diz quem essas pessoas realmente são. Se existisse somente o versículo 20, poderíamos pensar que eram salvos. Mas se lermos o versículo 22 saberemos quem eles são. “Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: O cão voltou ao seu próprio vômito; e: a porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal”. Embora eles tenham escapado das contaminações do mundo, e exteriormente tenham o conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, eles foram mais tarde enredados novamente, e seu último estado tornou-se pior. Essas pessoas são simplesmente cães e porcas.
O Senhor nunca disse que Ele dá a vida eterna aos cães. Tampouco Ele disse que os cães jamais perecerão. O Senhor disse que Ele dá a vida eterna às ovelhas. Ele nunca mistura as ovelhas com os cães. Ele não pode dizer que dá vida eterna às porcas e aos cães, tampouco pode dizer que as ovelhas foram enredadas pelas corrupções do mundo. Essas duas espécies de pessoas nunca podem ser colocadas juntas. Muitos dos que ouviram o evangelho diriam que Jesus é Senhor e Salvador. Eles podem rapidamente falar-lhe acerca de doutrinas relativas ao Senhor. Exteriormente não têm nenhuma corrupção. Contudo, eles jamais foram regenerados. Nunca receberam o Senhor e nunca experimentaram o Senhor vivendo neles; eles apenas confessam o Senhor temporariamente. Eles removeram um pouco da corrupção exterior, mas quando os sentimentos mudam, eles retornam aos seus velhos caminhos. O último estado desse tipo de pessoas é pior que o primeiro. Eles não são de modo algum ovelhas. Eles são os cães e as porcas. Por serem cães, eles voltam ao próprio vômito, por serem porcas, revolvem-se na lama após terem sido limpos exteriormente. Isso não significa que os cristãos não pecarão, e não significa que não tocarão na lama ou não se revolverão no lamaçal. Um cristão pode vir a tocar na lama, pode vir a revolver-se no lamaçal. Contudo, revolver-se no lamaçal é algo desconfortável para um cristão. Se ele se sente confortável em revolver-se nele, então deve ser uma porca. Um cristão talvez possa voltar ao seu próprio vômito também. Mas ele sentirá que é repulsivo, e sentir-se-á desconfortável se fizer isso. Essa é a diferença entre a porca, o cão e a ovelha. Deve-se identificar claramente a natureza do cão e da porca. Na Bíblia, porcas e cães referem-se a não-salvos, não se referem a salvos. Se uma pessoa é ovelha, ela jamais perecerá.

A Salvação é Eterna — ARGUMENTOS CONTRÁRIOS (3)

Neste capítulo continuaremos a ver os versículos que parecem argumentar contra a salvação ser eterna.

ARGUMENTO BASEADO EM 2 CORÍNTIOS 2.7

A Segunda Epístola aos Coríntios 2.6-7 diz: “Basta-lhe a punição pela maioria. De modo que deveis, pelo contrário, perdoar-lhe e confortá-lo, para que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza”. Em algumas traduções as palavras “seja consumido” são traduzidas para “pereça”. Um irmão em Corinto, por causa do seu pecado, havia recebido a punição pela maioria. Paulo estava preocupado, porque os irmãos e irmãs o haviam tratado muito severamente. Ele pediu-lhes que perdoassem e encorajassem tal pessoa, para que ela não perecesse por excessiva tristeza. Alguns podem argumentar que se excessiva tristeza pode levar uma pessoa a perecer, não seria isso uma indicação de que um cristão pode perecer?
Temos de perceber que esse irmão é o mesmo mencionado em 1 Coríntios 5. Ele cometeu um pecado grosseiro, o pecado de um tipo anormal de fornicação. Paulo disse que tal irmão precisava ser afastado (vs. 12, 13). Os santos em Corinto levaram em consideração a palavra de Paulo e afastaram-no. Depois de ser afastado, ele percebeu que era pecador e ficou muito triste e angustiado por causa do seu pecado. Paulo disse aos santos, na Segunda Epístola aos Coríntios, que eles tinham de confortá-lo e encorajá-lo para que esse irmão não fosse consumido por excessiva tristeza. Se não formos cuidadosos, podemos pensar que “perecer”, aqui, significa ir para o inferno. Paulo, entretanto, em 1 Coríntios 5.5 diz que seja “entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor”. Baseados nessa palavra, podemos ousadamente dizer que tal pessoa era salva. O que é mencionado em 2 Coríntios 2.7 não é definitivamente uma questão do perecer do espírito.
Além disso, a palavra que significa “consumido por excessiva tristeza” não é uma palavra utilizada normalmente; é uma palavra especial na língua grega. A palavra katapino denota alguma coisa sendo engolida, como um navio afundando no oceano e sendo engolido por ele. Depois que tal irmão pecou e foi excomungado, arrependeu-se. Ele pensou que fora excomungado e totalmente rejeitado. Pensou que tinha perdido toda a esperança. Portanto, continuou em sua tristeza e angústia. O pensamento de Paulo era que se a igreja não lhe perdoasse e não o confortasse logo, ele seria consumido pela tristeza. Isso não é uma questão de salvação ou perdição da alma.

ARGUMENTO BASEADO EM 2 PEDRO 3.16

Consideremos agora outra passagem. A Segunda Epístola de Pedro 3.16 diz: “Ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles”. Depois de ler essa palavra, alguns podem argumentar que Pedro está nos dizendo que a carta de Paulo era difícil de se entender e que alguns incultos e instáveis causam sua própria destruição, deturpando-a. Se eles podem ser destruídos, isto não indica que podem perecer? Uma pessoa salva pode perecer? Neste caso Pedro não está se referindo absolutamente à perdição eterna.
De acordo com a Bíblia, perecer ou não, não depende da maneira como se interpretam as Escrituras. Tenho visto na China muitos cristãos que amam o Senhor e laboram em toda parte na obra do evangelho. Eles ainda não entenderam verdadeiramente a carta de Paulo. Quando pregam, fazem mais do que deturpar a palavra das Escrituras. Esses cristãos irão perecer? A exposição errada das Escrituras pode ser um fator de perdição? A Bíblia nunca faz da exposição correta da Bíblia uma condição para a salvação.
Portanto, a palavra de Pedro aqui pode significar algo mais. Além disso, em grego, a palavra apoleia não se refere a um tipo comum de destruição. É uma palavra diferente daquela usada em 2 Coríntios 2.7. É diferente da palavra habitualmente usada para “perdição”. Em grego, esta palavra apollyon significa destruir ou ser corrompido. Se algo é tomado de você delicadamente, trata-se simplesmente do ato de tomar; se algo é arrancado de suas mãos com força, trata-se de apollyon. O que Pedro quis dizer na sua epístola é que alguns entendiam mal a carta de Paulo e não tinham luz da parte de Deus. Deturparam sua palavra do mesmo modo que algo é arrancado à força das mãos de uma pessoa. Fazendo assim, eles estavam destruindo a si mesmos e não se edificando. Destruição é o oposto de edificação. Se você não está sendo edificado, está sendo destruído. Ao agir assim, você não será edificado, mas terá sua obra destruída. Portanto, esses dois versículos não nos dizem que um homem pode perecer depois de salvo. Eles descrevem aqueles cuja obra e viver após a salvação não são aperfeiçoados e qu e são incapazes de ser edificados dia a dia. Se deturpar a carta de Paulo, você estará destruindo o que já tem.

ARGUMENTO BASEADO EM HEBREUS 10.26

Há outra porção das Escrituras que precisa ser mencionada. É também uma passagem que muitos não entendem. Hebreus 10.26-29 diz: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?” A pessoa mencionada nesta porção da Palavra deve ser salva, porque já recebeu o sacrifício pelos pecados. O apóstolo disse que se alguém que já recebeu o sacrifício pelos pecados, pecou deliberadamente, já não resta sacrifício pelos pecados. Não há problema depois do versículo 27. Porém, o versículo que muitos leitores da Bíblia acham difícil de entender é o versículo 26, que diz: “Já não resta sacrifício pelos pecados”. Algumas pessoas pensam que se, infelizmente, um cristão comete pecados deliberadamente, já não resta mais sacrifício de pecados por ele. Nesse caso significaria que ele certamente irá perecer. Hebreus 10.26 é um problema para muitas pessoas. Quando fui salvo, também achava que esse versículo era um grande problema, e por mais de um ano considerei-me não-salvo por causa desse versículo. Por esta razão devemos gastar um tempo considerável para descobrir do que Hebreus 10.26 fala.
A primeira coisa que precisamos mencionar é a palavra “deliberadamente”. Que se entende por “deliberadamente”? Esta palavra significa “conscientemente”? Esta pode ser a resposta que nós daríamos. Mas eu perguntaria: há muitos cristãos que pecam inconscientemente? Todos os dias nós pecamos. Contudo, quantas vezes pecamos inconscientemente? Creio que toda vez que pecamos, o fazemos “deliberadamente”. Pouquíssimas pessoas pecam inconscientemente. Na maioria das vezes nós pecamos “deliberadamente”. Em Romanos 7 Paulo diz: “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e, sim, o que detesto”. (v. 15). Por isso sabemos que Paulo não caiu em pecado acidentalmente. Todos os seus pecados foram cometidos depois que ele estava plenamente consciente do seu erro. Portanto, está claro em Romanos 7 que todos os pecados de Paulo foram cometidos “deliberadamente”. Se Paulo pecou “deliberadamente”, então, de acordo com Hebreus 10.26, não haveria mais sacrifício pelos pecados. Se uma pessoa perecesse e fosse para o inferno, ela veria Paulo lá, porque nem mesmo ele teria mais sacrifício pelos pecados. Portanto, vemos que a palavra “deliberadamente” em Hebreus 10.26 não significa conscientemente. Se assim fosse, todos os cristãos pereceriam. Não importa que tipo de cristão você seja, incontáveis vezes na sua vida você peca mais consciente do que inconscientemente. Se a situação acima fosse verdadeira, nenhum cristão seria salvo. Portanto, “deliberadamente”, aqui, deve significar algo mais.
O segundo ponto é que o versículo 26 começa com a palavra “porque”. Para essa palavra estar presente no início da frase, deve ter ocorrido algo nos versículos anteriores, que justifique seu uso. Tal palavra não pode ser usada sem uma sentença anterior. Nos versículos 26 a 29, a primeira sentença começa com “porque”, significando que havia algo mencionado anteriormente. Antes deles, o versículo 25 diz: “Não deixemos de congregarnos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações, e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima”. Por que não devemos deixar de reunir-nos, mas admoestar-nos uns aos outros? Porque quando pecamos deliberadamente depois de receber o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados. Se não ler esta porção da Palavra cuidadosamente, você não perceberá que esses dois versículos andam juntos. Se realmente lê-la com bastante cuidado, perceberá que estes dois versículos estão ligados. Eles são muito significativos. Temos de perceber que deixar de reunir e pecar deliberadamente estão ligados. Não devemos deixar de nos reunir, mas exortar-nos uns aos outros, porque, se pecamos deliberadamente, já não resta sacrifício pelos pecados. Quanto ao aspecto negativo, não devemos deixar de nos reunir. Do lado positivo, não devemos pecar deliberadamente. Se nos reunimos, então não somos os que pecam deliberadamente. Se nós, habitualmente, deixamos de nos reunir, somos os que pecam deliberadamente. Aqui, o apóstolo associa o deixar de se reunir ao pecar deliberadamente. Por que há tal relacionamento íntimo entre deixar de reunir e pecar deliberadamente? Nesta conjuntura devemos ver o terceiro ponto. Precisamos conhecer o contexto do livro de Hebreus. Quem eram as pessoas referidas neste livro? Eram os judeus que creram no Senhor Jesus. Assim, o livro de Hebreus foi escrito para os cristãos judeus. A posição dos judeus é diferente da dos gentios. Os gentios têm somente a posição espiritual e não a posição física, terrenal. Os judeus possuem ambas, a posição espiritual e a física. Eles possuem tanto a posição celestial como a terrenal. Hoje, quando falamos do Santo dos Santos, imediatamente pensamos em um lugar onde Deus habita nos céus. Mas os judeus, quando consideram o Santo dos Santos, no seu pensamento o que ocorre é o Santo dos Santos no interior do templo em Jerusalém, no Monte Moriá. Os judeus têm não somente o Santo dos Santos nos céus, mas têm também um Santo dos Santos na terra. Eles têm não somente um templo no céu, mas também um templo na terra. Portanto, na mente deles há tanto o aspecto espiritual como o aspecto físico, tanto o aspecto celestial como o terrenal. Eles possuem tanto o Antigo como o Novo Testamento. Eles possuem ainda o Santo dos Santos físico e, com ele, as ofertas. Para nós, o sacrifício pelos pecados é o Senhor Jesus Cristo. Ele é a nossa oferta pelo pecado. Contudo, os judeus ainda não tinham clareza se era o Senhor Jesus Cristo ou eram os touros e cabras o sacrifício pelos pecados deles. Naquele tempo eles tinham os sacerdotes, o altar, e os sacrifícios de touros e cabras sobre o altar. Não tinham somente o sacrifício espiritual pelos pecados, mas também tinham o sacrifício terrenal pelos pecados. Cristãos e judeus não estão na mesma posição. Os cristãos gentios são diferentes dos cristãos hebreus. No ano 70 d.C. o imperador romano Tito destruiu o templo em Jerusalém e não foi deixada pedra sobre pedra. Entretanto, quando o livro de Hebreus foi escrito, o templo terrenal ainda estava lá e os sacrifícios ainda estavam sendo oferecidos. Depois que muitos judeus creram no Senhor Jesus, eles tiveram de tomar uma decisão, se queriam o altar terrenal ou o celestial, os sacrifícios terrenais ou o sacrifício celestial. Naquele tempo os judeus não podiam ter ambos ao mesmo tempo, o sacrifício celestial e o terrenal. Todos os que lêem o livro de Hebreus sabem que este livro foi escrito com o propósito de que os cristãos abandonassem o judaísmo e optassem pelo cristianismo. O propósito do livro de Hebreus é encorajar os cristãos a deixarem os sacrifícios terrenais e aceitarem o sacrifício celestial. Esse é o pano de fundo do livro. Portanto, quando se diz que alguém não deve deixar de reunir-se, não significa que a reunião dos cristãos pode salvá-lo ou qualificá-lo para possuir a vida eterna. A reunião de cristãos indica se um cristão quer o judaísmo ou Cristo. A nossa reunião torna-se uma expressão da nossa atitude para com Cristo. Naquele tempo todos os que se reuniam eram cristãos. Não importava se fosse gentio ou judeu; uma vez que se reunisse, era um cristão. Portanto, reunir-se tornou-se um sinal de aceitar Cristo e deixar de reunir-se era um sinal de deixar Cristo e abraçar o judaísmo. Do mesmo modo, pecar deliberadamente, aqui, não se refere a coisas como assassinato, incêndio premeditado, bebedices, jogatina e libertinagem. Pecar deliberadamente, aqui, não se refere a pecados morais; refere-se a pecados doutrinais. Não diz respeito ao seu andar ser adequado ou não. Refere-se ao fato de você ter recebido Cristo ou o judaísmo. Reunir-se significa que você deseja Cristo e está na posição de Cristo. Deixar de reunir-se significa que você deu as costas a Cristo e voltou-se em direção ao judaísmo; significa também que você quer o templo, o altar e os sacrifícios terrenais. Indica que você quer voltar ao judaísmo e deixar Cristo. Se esse for o caso, não resta mais sacrifício pelos pecados. Voltemos agora ao primeiro ponto. O versículo 26 diz: “Depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade”. Não diz “depois de sermos regenerados” nem diz “depois que nossos atos pecaminosos foram purificados”. Se dissesse “depois de sermos regenerados” ou “depois de sermos purificados”, então, pecar deliberadamente seria uma questão da nossa conduta. Porém aqui diz: “Depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade”. Isso é uma questão de conhecer. Você sabe o que é a verdade?
A verdade é a fé de um cristão. A verdade é que Deus enviou Seu Filho ao mundo para ser a oferta pelo pecado. A verdade é que Deus enviou Seu Filho para morrer por nós e ressuscitar para satisfazer todos os requisitos de Deus. Tudo isso tem a ver com os itens da fé, da parte de Deus. Portanto, pecar deliberadamente, aqui, não significa as transgressões do nosso viver cotidiano. Significa pecar contra a verdade. Não é um pecado comportamental, mas um pecado doutrinal e relativo à crença de uma pessoa. É um pecado que se opõe à fé e à verdade, depois de alguém receber o pleno conhecimento da verdade. Os cristãos hebreus eram judeus e tinham estado no judaísmo por muitos anos. Agora que eram cristãos, se ainda desejassem voltar ao judaísmo, se ainda quisessem ambos, isto é, por um lado estar na posição do judaísmo e, por outro, ficar na posição do cristianismo, não restaria mais sacrifício pelos pecados. Em tempos antigos os chineses adoravam ídolos. O Templo do Céu em Pequim era o lugar onde os imperadores ofereciam sacrifícios. Lá os homens matavam touros e os ofereciam à mais alta deidade nos céus. Era o imperador terrenal oferecendo sacrifícios à mais alta deidade nos céus, para redimir os pecados do povo. Suponha que esse imperador terrenal cresse no Senhor Jesus. Você crê que ele poderia voltar ao Templo do Céu para oferecer sacrifícios? Depois que recebeu Cristo como sacrifício pelo pecado não poderia mais voltar ao Templo do Céu para oferecer sacrifícios. Ou ele aceitava o Templo do Céu ou o Senhor Jesus. Isso é o que a Bíblia quer dizer com pecar deliberadamente. Não é uma questão de pecado em nossa conduta. O versículo 26 continua: “Já não resta sacrifício pelos pecados”. As palavras “já não” significam “novamente”. Sempre que as palavras “já não” aparecem, significa que deve haver algo nos versículos anteriores. Alguns compreendem equivocadamente a Palavra de Deus. Pensam que a frase: “Já não resta sacrifício pelos pecados” implica perdição. Esse não é absolutamente o pensamento de Deus.
Devemos olhar Hebreus 7.27b, que diz “Porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu”. Isso nos diz que depois que o Senhor Jesus se ofereceu uma vez por todas a Deus, como sacrifício pelos pecados, tudo está plenamente cumprido. Por favor, tome cuidado com as palavras “uma vez”. Vejamos Hebreus 9.12b, que diz: “Entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção”. Aqui nos diz novamente que o Senhor Jesus se ofereceu a Si mesmo somente uma vez, e então a obra de redenção foi cumprida eternamente. Consideremos novamente as palavras “uma vez”. Hebreus 9.25-28 diz: “Nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado. E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação”. Esses versículos mencionam duas vezes as palavras “muitas vezes”, e duas vezes as palavras “uma vez” em referência a Cristo. Não muitas vezes, mas uma vez por todas, Cristo se ofereceu a Si mesmo diante de Deus como o sacrifício pelos pecados e completou a obra de redenção. Por favor, preste atenção, aqui, às palavras “muitas vezes” e “uma vez”.
Hebreus 10.10 diz: “Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas”. O versículo 12 diz: “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus”. O versículo 14 continua: “Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”. Os sacerdotes terrenais tinham de oferecer sacrifícios a Deus muitas vezes. Contudo, Cristo ofereceu-se uma só vez e nós fomos santificados. Depois que Cristo se ofereceu uma vez como sacrifício eterno, Ele então assentou-se à destra de Deus. Assentou-se, porque não mais precisava trabalhar. Ele se ofereceu uma vez e nós estamos eternamente aperfeiçoados. Desde que Ele já completou Sua obra, não há mais nenhum problema.
Portanto, depois de ler tantos versículos, podemos compreender o significado do versículo “Já não resta sacrifício pelos pecados”. A passagem de Hebreus do capítulo sete ao dez, com exceção do capítulo oito, diz que a obra de redenção, uma vez concluída, está eternamente cumprida. Se você não quer Cristo, já não resta sacrifício pelos pecados. Cristo ofereceu-se somente uma vez, como sacrifício pelos pecados. Se você não quer a redenção de Cristo, mas volta ao judaísmo, você não encontrará mais nenhum outro sacrifício pelos pecados. Portanto, aqui não é uma questão de ser salvo ou perecer. O que é dito aqui é que a obra de Cristo foi cumprida uma vez. Se você não quiser esse sacrifício, não terá um segundo.
Se prestar atenção às palavras “já não”, você verá que elas estão ligadas à palavra “sacrifício”. Os versículos anteriores mencionam repetidamente as palavras “uma vez por todas” e o versículo seguinte diz “já não resta”. É equivalente a dizer, por exemplo, no capítulo 8, “eis aqui o único lápis”. Então, no capítulo nove eu repito “eis aqui o único lápis”. Novamente no capítulo 10 eu digo “eis aqui o único lápis”. Depois disso eu posso explicar: “Se você não quer este lápis ou se quer trocá-lo por outro, não haverá outro. Pegue este, se você o quer. Se não o quiser, não há outro para você”. Então, esse versículo não significa que, depois de receber o conhecimento da verdade e, então pecar deliberadamente, não mais receberá perdão. Isso não é uma questão de pecado, é uma questão da verdade, uma questão da fé cristã. Se você abandonar a fé cristã e buscar outro Salvador, outro sacrifício pelos pecados, você não encontrará.
Naquele tempo, alguns dentre os judeus provavelmente pensavam que se rejeitassem a fé cristã, poderiam ainda voltar ao templo, voltar ao altar e ter os sacerdotes para oferecer touros e cabras por eles. Mas isso indicaria outro sacrifício pelos pecados. Os judeus, naquele tempo, ainda tinham os sacerdotes e o altar. Sua crença em Cristo era diferente da nossa crença em Cristo. No entendimento deles, eles podiam escolher crer ou não crer. Não eram como os cristãos gentios, cuja única opção seria voltar à adoração de ídolos, caso não cressem. Se quisessem Deus, poderiam escolher Deus; mas se não O quisessem, sua única escolha seria o mundo. Eles não teriam uma terceira escolha. Com os judeus era diferente. Eles achavam que se não quisessem Cristo, poderiam ainda ser salvos; que se não quisessem Cristo, poderiam ainda ter a redenção dos pecados, porque poderiam manter os sacerdotes e as ofertas. Se tivessem muito dinheiro, comprariam um touro; se não tivessem tanto dinheiro, poderiam adquirir uma cabra.
Aqui, o apóstolo estava dizendo aos judeus que Cristo já tinha se oferecido uma vez por todas e completado a obra de redenção eterna diante de Deus; que Deus já havia abolido a velha aliança juntamente com os velhos sacrifícios. Antes da vinda de Cristo, os touros e cabras podiam fazer propiciação pelos seus pecados. Mas depois da vinda de Cristo, os sacrifícios de touros e cabras não podiam mais tirar os pecados; esses sacrifícios tinham sido, na verdade, abolidos. Isso é o que nos mostram os capítulos sete a dez de Hebreus. Deus não somente deu Seu Filho como sacrifício, mas Ele aboliu os sacrifícios de touros e cabras. A primeira metade do capítulo dez menciona que Deus não tem prazer em touros e cabras nem em ofertas e sacrifícios pelo pecado. Deus preparou Seu Filho. Touros e cabras não podem redimir os homens dos seus pecados; somente o Filho de Deus pode redimir-nos dos pecados. Os sacrifícios de touros e cabras no Antigo Testamento eram apenas tipos e sombras; eles referem-se ao Filho de Deus como o sacrifício. Deus disse que a velha aliança é algo do passado; os tipos acabaram e a realidade chegou. Não mais será aceitável eles rejeitarem o Filho de Deus, isto é, rejeitar a realidade e oferecer os tipos. De acordo com Deus, há somente um sacrifício pelos pecados. Além de Cristo, não há outro sacrifício pelos pecados. Hebreus 10.26 diz-nos que se abandonarmos Cristo para procurar outro Salvador, não encontraremos nenhum. Portanto, rigorosamente falando, essa porção da Palavra não é para nós. Se alguns dizem que depois que um homem recebe o Senhor Jesus e peca deliberadamente, irá perecer, isso contradiz o contexto dessa passagem; contradiz também todo o livro de Hebreus. Aqui se está falando sobre um ponto doutrinal. Hebreus mostra-nos que além do nome de Jesus Cristo “não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4.12). Isso não significa que um cristão irá para o inferno se pecar.
Hebreus 10.27 diz: “Pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários”. Depois de receber o conhecimento da verdade e ter conhecimento claro de que o Senhor Jesus Cristo é o sacrifício ordenado por Deus pelos pecados, se os cristãos judeus deixassem de se reunir, rejeitassem a Cristo, voltassem ao judaísmo e procurassem outros sacrifícios pelos pecados, já não restaria mais nenhum sacrifício pelos pecados. Eles poderiam somente aguardar certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Antes de ser salvos, eles dependiam apenas de touros e cabras para fazer propiciação por seus pecados. Mas depois de perceberem que o Senhor Jesus é o único Salvador, eles não podiam mais depender de touros e cabras. Se rejeitassem o Senhor Jesus, teriam apenas uma terrível expectação de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Eles poderiam tomar somente o Senhor Jesus como Salvador. Além Dele, não há outro caminho para a salvação. Todos os touros e cabras apontam para Cristo; touros e cabras são apenas tipos de Cristo. Cristo é a realidade. É inadmissível que eles rejeitassem a realidade, recorrendo aos tipos. Portanto, Hebreus 10.26, 27 nunca diz que depois de uma pessoa ser salva, ela pode ainda perecer. Isso é o homem deturpando a verdade de Deus. Quando lemos a Bíblia, devemos ler o que está nela, não o que não está nela. Certa vez alguém me perguntou como poderia entender a Bíblia. Respondi-lhe que para entender a Bíblia, primeiro devemos ser aqueles que não entendem a Bíblia. Se não a entendermos, então iremos entendê-la. Se dissermos que sabemos isto e aquilo, então não teremos mente sóbria. Se não tivermos mente sóbria, teremos problemas. Hebreus 6 e 10 deveria ser tão fácil, simples e claro como João 3.16 o é. A razão pela qual a mente humana não é clara é que o homem põe suas próprias palavras na Bíblia. Muitas pessoas acham difícil ler a Bíblia; não porque a Bíblia não seja clara, mas porque essas pessoas já têm ideias pré-concebidas em sua mente.

A MANEIRA DE DEUS LIDAR COM OS PECADOS DOS CRISTÃOS —
DISCIPLINA E RECOMPENSA

Temos de distinguir duas coisas na Bíblia: a disciplina de Deus nos cristãos desta era e a salvação deles na eternidade. Hebreus registra a questão da disciplina dos cristãos. Agora devemos ver quais os tipos de pessoas que Deus disciplina e qual é a finalidade dessa disciplina.

O MOTIVO E O OBJETIVO DA DISCIPLINA

A Epístola aos Hebreus 12.5-6 diz: “E estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita a todo filho a quem recebe”. Aqui vemos claramente que o motivo da disciplina é o amor de Deus. Aqueles que recebem a disciplina de Deus são os filhos de Deus. Se uma pessoa não for filho de Deus, Ele não irá discipliná-la. Você nunca encontrará na Bíblia que Deus disciplina um incrédulo. Deus não gasta Seu tempo e energia para disciplinar todas as pessoas desta terra. Ocorre o mesmo conosco. Nós não disciplinamos os filhos de nossos vizinhos. Se eles não se vestem bem ou não fazem as coisas direito, nós não os disciplinamos. Somente disciplinamos nossos próprios filhos. Portanto, a esfera da disciplina limita-se somente aos cristãos, e o motivo da disciplina é o amor. Não é porque odeia o homem que Deus o disciplina. Ele disciplina o homem por amá-lo. Apocalipse 3.19 também diz que Deus disciplina por causa do amor. Hebreus 12.7-8 diz: “É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como a filhos); pois, que filho há a quem o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo sois bastardos, e não filhos”. Portanto, a esfera da disciplina limita-se somente aos filhos. O versículo 9 diz: “Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai dos espíritos, e então viveremos?” Se aceitamos a disciplina de nossos pais na carne, quanto mais devemos aceitar a disciplina de nosso Pai, o Pai dos espíritos!
O versículo 10 diz: “Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade”. Isso nos mostra o propósito da disciplina. Não é porque gosta de disciplinar-nos que Ele o faz. Tampouco é porque Ele quer que soframos. Ele nos disciplina a fim de podermos participar da Sua santidade. Se um cristão vive de uma maneira muito relaxada na terra, sem manifestar a natureza e a santidade de Deus, a mão de Deus recairá pesadamente sobre ele. Deus não gosta de nos açoitar. Seu propósito é ter Sua santidade manifestada em nós. Ele somente cessará de nos disciplinar quando Sua santidade for manifestada em nós. Portanto, percebemos que a disciplina não prova que não somos do Senhor. Pelo contrário, ela prova que pertencemos ao Senhor. Não há necessidade de disciplina para alguém que não pertença ao Senhor. Somente  aqueles que pertencem ao Senhor estão qualificados a ser disciplinados. Há uma grande diferença entre punição e disciplina. A disciplina de Deus sobre Seus filhos não é a Sua punição sobre eles. Mesmo quando Deus os castiga, esse castigo não é uma punição, mas uma disciplina. A disciplina tem um objetivo definido, que é podermos participar da Sua santidade, para que não vivamos nesciamente dia a dia. Após um cristão crer no Senhor Jesus, embora nunca perca sua salvação, ele pode receber um severo castigo de Deus. Nunca devemos dizer que um cristão pode fazer tudo o que quer após ser salvo. A Bíblia nos diz claramente que após um cristão ser salvo, mesmo que esteja derrotado e caído, ele não perecerá eternamente e não perderá a vida eterna. Entretanto, ele receberá a correção de Deus, hoje, na terra.
Não devemos cometer o engano de pensar que por estarmos salvos eternamente, podemos viver relaxadamente nesta terra. Ninguém pode refutar o fato de que uma vez que uma pessoa é salva, ela é salva para sempre. Isso é um fato. Se um cristão dá vazão às suas concupiscências, comete pecados, cai em perversão e não tem a santidade de Deus, Deus estenderá Sua mão e o disciplinará por meio de seu ambiente, sua família, sua saúde e seus planos futuros. Ele poderá encontrar dificuldades na sua família. Poderá experimentar muita doença e infortúnio em seu ambiente. O propósito de Deus, ao permitir que essas coisas lhe sobrevenham, não é puni-lo; elas não sobrevêm para causar-lhe dificuldades, mas para fazê-lo participar da santidade de Deus e torná-lo merecedor da graça do Seu chamamento. Essa é a compreensão adequada da salvação.
Ninguém deve dizer que, se um cristão não fizer o bem, Deus negará que ele seja filho Seu e o expulsará como a um cachorro. Se alguém disser isso, ou é cego quanto à obra da cruz de Cristo, ou pensa que a obra de Cristo é uma questão muito leviana.
A Bíblia nos mostra que a salvação é eterna. Ao mesmo tempo, a Bíblia também nos mostra que existem punições seriíssimas entre os que crêem. Se falharmos, haverá muita punição para nós. Deus quer que participemos da Sua santidade. Nesta terra, Ele quer que vivamos como filhos de Deus. Ele não quer intimidar-nos com o inferno para que busquemos a santidade. Ser salvo é algo totalmente da graça, mas Deus tem Sua maneira de conduzir-nos para a Sua santidade. Ele faz com que nos deparemos com muitas coisas em nossas famílias, em nosso corpo, em nossa carreira e em nosso ambiente, a fim de que nos voltemos a Ele. Esse é o propósito da disciplina.
Ananias e Safira eram cristãos; eles eram salvos. Eles cometeram o pecado de mentir ao Espírito, e receberam uma disciplina muito severa (At 5.1-10). Em certa época, eu achava que talvez Ananias e Safira não fossem salvos. Lendo a Bíblia cuidadosamente, deve-se reconhecer que eles eram salvos porque estavam com os discípulos na época do Pentecoste. Além disso, eles também fizeram uma oferta. Eles apenas buscaram alguma vanglória. Os pecados deles não foram tão graves como se possa pensar. Eles não se embebedaram nem cometeram fornicação. O fato de serem rapidamente tirados do mundo prova que eram cristãos. Se fossem pessoas do mundo, provavelmente tivessem vivido muito mais. O fato de terem sido rapidamente removidos do mundo prova que eles eram nossos irmãos.
Os cristãos coríntios não respeitavam a reunião da mesa do Senhor. Eles não respeitavam o Corpo do Senhor, e tratavam a ceia do Senhor levianamente. Quais foram os resultados de tais coisas? Paulo diz em 1 Coríntios 11.29-30: “Pois quem come e bebe, sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes, e não poucos que dormem”. A mão disciplinadora de Deus torna as pessoas doentes e fracas, e até mesmo as faz morrer. Deus as tratou dessa maneira porque elas trataram o Corpo do Senhor levianamente. Elas não viram a morte do Senhor nem a obra de Cristo, e não viram o Corpo de Cristo. Elas não viram o respeito que deviam ter com o Senhor Jesus, e não viram seu posicionamento adequado no Corpo de Cristo. Isso resultou em fraqueza, doença e até morte. Após terem pecado, Deus as disciplinou. 
O versículo 32 diz: “Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo”. Há um objetivo na disciplina de Deus. Ela visa salvar-nos da condenação no futuro. Deus nos disciplina para que não caiamos na condenação que o mundo receberá. Em outras palavras, a disciplina prova que somos salvos. A disciplina preserva nossa salvação. A maneira como Deus faz as coisas e a nossa maneira são totalmente diferentes. Nós achamos que se dissermos às pessoas que elas estão salvas, elas se tornarão levianas e sem restrição. Deus não é assim. Ele proclama claramente, absolutamente e sem limitação para todos os que crêem Nele que todo aquele que crê tem a vida eterna e não perecerá. Contudo, Ele tem a Sua maneira de guardar-nos de pecar e de guardar-nos de ser cristãos libertinos e frouxos. Sua disciplina é um subtitutivo de sermos condenados. O homem pode achar que a condenação é o melhor método de guardar-nos de pecar, mas Deus não utiliza a maneira da condenação. Em vez disso, Ele usa a maneira da disciplina. É muito evidente que Deus separa os cristãos das pessoas do mundo pela disciplina. As questões da disciplina e salvação devem ser claramente diferenciadas. A disciplina é exercida somente para o presente e nada tem que ver com nossa salvação eterna.
Há um bom exemplo em 1 Coríntios que mostra que a disciplina para um cristão é prova de que ele é salvo. Mesmo que um cristão tenha cometido um pecado muito grave, ele ainda é salvo. A Primeira Epístola aos Coríntios, capítulo cinco, fala acerca de um cristão que cometeu adultério. Tal ato de adultério com a madrasta não era encontrado nem mesmo entre os incrédulos. Os que têm clareza sobre a lei de Moisés diriam que esta pessoa certamente perecerá e irá para o inferno. Mas surpreendentemente, 1 Coríntios mostra-nos claramente que aqui está alguém que cometeu grave e desprezível pecado; é um pecado que não é cometido por pessoas comuns. Paulo diz que com o poder do Senhor Jesus, ele entregou tal pessoa a Satanás para a destruição da carne, para permitir que Satanás mostrasse seu poder sobre o corpo dele, podendo levá-lo a ficar fraco, doente e até mesmo morrer. O propósito de Paulo ao fazer isso era que essa pessoa pudesse ser salva no dia do Senhor. Disciplina é algo para esta vida. Ela absolutamente não está relacionada com a salvação na eternidade. Se dependesse de nós, diríamos: “Está acabado. Embora essa pessoa tenha sido salva, certamente ela perecerá novamente por ter cometido um pecado tão grosseiro”. Entretanto, Paulo diz que essa pessoa não perecerá mesmo que tenha cometido tal pecado. Uma pessoa salva pode, temporariamente, receber disciplina, mas não pode ser punida com a perdição eterna. Esse é o ensinamento de Paulo. Um cristão pode ter disciplina temporária nesta era, mas não pode perecer eternamente. Podemos precisar de disciplina, mas ainda estaremos salvos na eternidade. Paulo fez, muitas vezes, uma distinção clara entre estas duas coisas no Novo Testamento. A destruição mencionada aqui e o dormir mencionado anteriormente referem-se somente ao corpo; não se referem ao espírito. As questões do espírito e da salvação eterna já foram decididas quando cremos no Senhor.Algumas pessoas têm dificuldade com 1 João 5.16, onde diz que não devemos rogar por alguém que comete pecado para morte. Tais pessoas têm dificuldade porque não entendem a Palavra de Deus. Elas acham que pecar para morte como fala aqui significa perdição. Na verdade, não existe semelhante coisa. A Primeira Epístola de João 5.16 fala-nos de algumas pessoas que pecaram a tal ponto que Deus teria de fazê-las morrer e a carne delas teria de ser removida do mundo. A morte mencionada em 1 Coríntios 11, a destruição em 1 Coríntios 5, e as mortes de Ananias e Safira são todas mortes da carne e nada têm a ver com a morte do espírito. A disciplina está totalmente relacionada com o corpo. Portanto, na Bíblia, muitos lugares que parecem dizer que os cristãos podem perecer, na verdade, estão falando sobre disciplina.

RECOMPENSA E DOM

Agora veremos a terceira diferença — a diferença entre recompensa e dom; em outras palavras, a diferença entre o reino e a vida eterna. Hoje, existem muitos cristãos na igreja que não conseguem fazer distinção entre o reino dos céus e a vida eterna. Eles pensam que o reino dos céus é a vida eterna e que a vida eterna é simplesmente o reino dos céus. Eles confundem a Palavra de Deus, achando que a condição para receber o reino é a condição para a conservação da vida eterna. Eles acham que perder o reino é perder a vida eterna. Entretanto, a distinção entre os dois é muito clara na Bíblia. Uma pessoa pode perder o reino dos céus, mas ela não perderá a vida eterna. Ela pode perder a recompensa, contudo não perderá o dom. Então que é a recompensa, e que é o dom? Nós fomos salvos por causa do dom. Deus nos deu o dom gratuitamente pela Sua graça; portanto, fomos salvos. A recompensa diz respeito ao relacionamento entre nós e o Espírito Santo após sermos salvos. Quando fomos salvos passamos a nos relacionar com Cristo. Esse relacionamento permite-nos obter o presente que somos totalmente indignos de receber. Da mesma forma, após termos sido salvos, temos um relacionamento com o Espírito Santo. Esse relacionamento permite-nos obter a recompensa que de outra forma jamais obteríamos por nós mesmos. Se alguém crê no Senhor Jesus como Salvador, aceitando-O como vida, ele é salvo diante de Deus. Após ser salva, Deus imediatamente coloca essa pessoa num caminho de modo que ela corra a carreira e obtenha a recompensa que está diante dela. Um cristão é salvo por causa do Senhor Jesus. Após ser salvo, ele deve manifestar a vitória de Cristo pelo Espírito Santo dia a dia. Se fizer isso, então, no fim da carreira, ele obterá a glória celestial e a recompensa celestial de Deus.
Portanto, a salvação é o primeiro passo deste caminho, e a recompensa é o último passo. Somente os salvos estão qualificados para obter a recompensa. Os não-salvos estão desqualificados para isso. Deus nos deu duas coisas em vez de uma. Deus coloca o presente diante das pessoas do mundo e coloca a recompensa diante dos cristãos. Quando alguém crê em Cristo, recebe o presente. Quando alguém segue a Cristo, recebe a recompensa. O presente é obtido por meio da fé, e é para as pessoas do mundo. A recompensa é obtida por meio da fidelidade e das boas obras, e é para os cristãos. Há um grande engano nas igrejas hoje. O homem pensa que a salvação é a única coisa e que não há nada além de ser salvo. Ele considera o reino dos céus e a vida eterna como se fossem a mesma coisa. Ele pensa que uma vez que alguém é salvo quando crê, não tem de se preocupar com as obras. A Bíblia faz distinção entre a parte de Deus e a parte do homem. Uma parte é a salvação dada por Deus, e a outra parte é a glória do reino milenar. Ser salvo não tem absolutamente nada a ver com as obras da pessoa. Assim que uma pessoa crê no Senhor Jesus, ela é salva. Mas, após sua salvação, Deus imediatamente coloca a segunda coisa diante dela, dizendo-lhe que além da salvação existe para ela uma recompensa, uma glória vindoura, uma coroa e um trono. Deus coloca Seu trono, coroa, glória e recompensa diante dos cristãos. Se uma pessoa for fiel, obtê-los-á; se for infiel, perdê-los-á.
Portanto, não dizemos que as boas obras sejam inúteis. Entretanto, dizemos, sim, que as boas obras são inúteis no que se refere à salvação. O homem não pode ser salvo pelas suas boas obras, tampouco pode ser impedido de receber a salvação pelas suas más obras. As boas obras são úteis quanto às questões da recompensa, da coroa, da glória e do trono. As boas obras são inúteis quanto à questão da salvação. Deus não pode permitir que o homem seja salvo pelas suas obras; Ele também não permitirá que o homem seja recompensado pela sua fé. Deus não pode permitir que o homem pereça devido às suas obras más. Deus só pode decidir sobre a salvação ou perdição do homem por meio de ele crer, ou não, no Seu Filho. Da mesma forma, Deus não pode decidir que o homem receba a Sua glória por meio de ele crer ou não no Seu Filho. Se você tem ou não tem Seu Filho em si, determina a questão da vida eterna ou perdição. Se você tem ou não tem boas obras diante de Deus, determina a questão de receber a recompensa e a glória. Em outras palavras, Deus nunca salvará uma pessoa por ela ter méritos, e Ele nunca recompensará alguém que não tenha mérito. Se alguém tem méritos, Deus não o salvará por essa razão. Por outro lado, Deus nunca recompensará alguém que não tenha mérito. O homem deve vir diante de Deus totalmente carente e sem méritos, para que Ele o salve. Contudo, após a salvação, temos de ser fiéis, e temos de esforçar-nos para produzir boas obras por meio de Seu Filho Jesus Cristo, a fim de obtermos a recompensa.
Por favor, não pense que as boas obras sejam inúteis. Estamos dizendo que as boas obras são inúteis no tocante à salvação. Elas nada têm a ver com a salvação, de forma alguma. A salvação depende de você se arrepender ou não da sua posição anterior. Ela depende de você se lamentar do seu passado, para crer na Sua obra na cruz e na Sua ressurreição como prova da sua justificação. Esse é o ponto crucial de todos os problemas. A questão de obras está relacionada com a recompensa. As obras são úteis, mas somente no tocante à recompensa. O problema de hoje é que as pessoas não fazem distinção entre a salvação e o reino. Na Bíblia, há uma distinção clara entre a salvação e o reino, e entre o dom e a recompensa. Devido às pessoas não diferenciarem esses assuntos, a questão da salvação é mal compreendida, e a questão da recompensa também é mal compreendida. Deus jamais colocou a questão da recompensa diante dos não-salvos. Deus somente quer que os nãosalvos obtenham a salvação. Entretanto, após a salvação, Deus coloca a recompensa diante dos salvos, para que eles se esforcem, persigam e corram atrás da recompensa. A salvação não é o último passo da experiência cristã. Pelo contrário, a salvação é o primeiro passo. Após termos sido salvos, temos de correr e perseguir a recompensa diante de nós. O problema é que pensamos que nossa salvação é nossa recompensa. Os pecadores pensam que ser salvo é obter a recompensa, e assim eles confiam em suas obras. Os cristãos acham que a glória é simplesmente a graça, e assim tornam-se néscios em seu viver. Por favor, apliquem as obras somente à recompensa, e a graça à salvação. Por meio da salvação, Deus separa os salvos dos não-salvos; Ele separa os que têm a vida eterna dos que estão condenados. De igual modo, Deus também separa Seus filhos em dois grupos por meio de Sua recompensa. Assim como a salvação separa as pessoas do mundo, da mesma forma, a recompensa também faz separação entre os filhos de Deus. Deus separa Seus filhos em obedientes e desobedientes. Para com as pessoas do mundo, a questão é ter fé ou não ter fé. Para com os cristãos, a questão é ser fiel ou não ser fiel. Para com as pessoas do mundo, é uma questão de ser salvo ou não ser salvo. Para com os cristãos, é uma questão de ter ou não ter a recompensa. O problema de hoje com os filhos de Deus é que eles exaltam demais a salvação; tudo o que veem é simplesmente a salvação. Eles acham que somente quando cuidarem da sua obra é que poderão ser salvos.
Como resultado, eles não têm mais tempo para perseguir a recompensa. Se alguém não passou pelo primeiro portão, não pode passar pelo segundo. Que Deus seja misericordioso conosco, para que compreendamos que a questão da salvação já está resolvida. Ela não pode mais ser abalada, pois já foi cumprida pelo Senhor Jesus. Ela está totalmente concretizada. Hoje, devemos empenhar-nos é com a recompensa diante de nós. Haverá uma grande diferenciação no reino: alguns terão glória, e outros não terão glória. Agora precisamos ver sobre que base a recompensa é dada. A Palavra de Deus diz que a recompensa é dada por causa da obra. Assim como a Bíblia diz claramente que a salvação é pela fé, da mesma forma a Bíblia diz claramente que a recompensa é pela obra. A Bíblia revela-nos que a salvação é pela fé dos pecadores, e a recompensa é pela obra dos cristãos. A fé está relacionada com a salvação; isso está mais do que claro. A obra está relacionada com a recompensa; isso também está mais do que claro. Ninguém deve confundir as duas coisas.
Romanos 4.4 diz: “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e, sim como dívida”. Dar uma recompensa a alguém que trabalha não é graça, mas é dívida. Em outras palavras, como alguém pode obter uma recompensa? A recompensa vem pelas obras, e não pela graça.
Apocalipse 2.23 diz: “Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mente e corações, e vos darei a cada um, segundo as vossas obras”. Esse versículo diz que o Senhor fará todas as igrejas conhecerem que Ele é Aquele que sonda as mentes e os corações, e dará a cada um segundo as suas obras. Em outras palavras, Ele recompensará cada um segundo as suas obras. Como Ele recompensa ou retribui? É de acordo com nossa obra. É claro que essa obra não é nossa própria obra. Nós apenas lavamos nossas vestes no sangue para ficarem brancas. Quando o Espírito Santo vive Cristo em nós, temos as obras de um cristão. Alguns viverão Cristo, e outros não viverão Cristo. Todo o capital provém de Cristo. Todo poder também origina-se de Cristo. Mas alguns deixarão o Senhor trabalhar no seu interior, e outros não. Portanto, esse versículo nos mostra claramente a questão da recompensa. A questão da recompensa depende de um cristão ser digno ou não. Hoje, Deus não salva uma pessoa por ela ser digna, e, no futuro, Deus não recompensará um cristão que seja indigno.
A Primeira Epístola aos Coríntios 3.14 diz: “Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão”. Aqui diz que se a sua obra permanecer, essa pessoa será recompensada. Não diz que se a sua fé permanecer, essa pessoa será recompensada. A questão da recompensa depende da obra da pessoa. A Bíblia distingue claramente salvação de galardão. Ela nunca confunde salvação e galardão, e nunca confunde fé com obras. Sem a fé, o homem não pode ser salvo. Sem as boas obras, o homem não pode ser recompensado. As obras de alguém devem resistir diante do trono do julgamento e sobreviver ao exame minucioso dos olhos flamejantes, antes que haja a possibilidade de receber galardão.
Lucas 6.35 diz: “Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, nada esperando em troca; e será grande o vosso galardão”. A recompensa é inteiramente devida à obra de alguém. Emprestar dinheiro a alguém sem esperar ser pago é sua obra, e amar seu inimigo é sua obra. Você tem de fazer isso para obter a recompensa. Nenhuma passagem da Bíblia menciona que alguém tenha de amar seus inimigos e fazer o bem para que possa receber a vida eterna. Tampouco existe qualquer versículo que diga que alguém tenha de emprestar aos outros para que possa ser salvo, ou que tenha de emprestar aos outros para que possa evitar a perdição. Mas existe o versículo que diz que se você emprestar aos outros e fizer o bem aos outros, a sua recompensa no céu será grande. A recompensa é proveniente da obra, e não da fé. A fé pode salvá-lo, mas a fé não pode ajudá-lo a obter a recompensa.
A Segunda Epístola a Timóteo 4.14 diz: “Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras”. Aqui é citado um exemplo. Um cristão estava tentando prejudicar Paulo; ele tinha pecado contra Paulo. A pessoa mencionada aqui era um cristão. Ele não era uma pessoa do mundo. No futuro, os cristãos serão recompensados diante de Deus segundo as suas obras.

A RECOMPENSA É O REINO DOS CÉUS

Prossigamos. Muitas pessoas sabem que existe diferença entre salvação e recompensa. Contudo, há várias pessoas que não vêem o que é recompensa. Na Bíblia, as palavras faladas quer pelo Senhor Jesus, quer pelos apóstolos, acerca da recompensa e do reino, não foram faladas levianamente, da mesma forma que também não se falou assim acerca de dom e vida eterna. Quando o Senhor Jesus diz no Evangelho de João que Ele dá a vida eterna para as Suas ovelhas, Ele está falando a realidade e não algumas palavras vazias (João 10.28). Romanos 6 diz que o dom de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor (v. 23). Está muito evidente que o dom de Deus é a vida eterna. Então, que é a recompensa? A Bíblia mostra-nos claramente que a recompensa é a coroa, o trono e o reino dos céus. O reino dos céus é a recompensa. Na Bíblia, existem três aspectos para o reino dos céus. No primeiro aspecto, o reino dos céus é a manifestação exterior da autoridade de Deus hoje; é a manifestação exterior da soberania de Deus. A Bíblia chama isso de reino dos céus. O segundo aspecto é a autoridade dos céus controlando e limitando o homem. Isso também é chamado de reino dos céus. Entretanto, há um terceiro aspecto do reino dos céus, que se refere à recompensa.
O sermão do Senhor no monte, em Mateus 5 a 7, fala do reino dos céus. Estes ensinamentos do Senhor dizem-nos como o homem pode entrar no reino dos céus. Mateus 5 a 7 fala repetidamente sobre a questão da recompensa. Percebemos muito claramente que as palavras “o reino dos céus” e a palavra “recompensa” são encontradas juntas várias vezes. Muitos estão familiarizados com as bem-aventuranças. Os chineses chamam-nas de oito bênçãos. Na verdade, existem nove bênçãos nas bem-aventuranças1: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que choram, porque serão consolados; bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra; bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos; bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia; bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus; bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus; e também, bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. O reino dos céus é mencionado duas vezes nessas poucas bem-aventuranças. No final o Senhor diz: “Bem-aventurados sois quando, por Minha causa, vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus” (Mt 5.11-12). Aqui, devemos admitir que a recompensa é o reino dos céus. O Senhor come ça dizendo que tais e tais pessoas são bem-aventuradas, porque o reino dos céus é delas. No final Ele diz que essas pessoas são bem-aventuradas, porque a recompensa delas é grande nos céus. Essas sentenças semelhantes mostram-nos que o reino dos céus é a recompensa de Deus. Não há diferença entre os dois.
No sermão do monte, o Senhor mencionou a questão da recompensa muitas vezes, pois tal sermão diz respeito ao reino. Mateus 5.46 diz: “Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes?” Mateus 6.1-2 diz: “Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte não tereis galardão junto de vosso Pai que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo: Eles já receberam por completo a sua recompensa”. O versículo 5 diz: “E, quando orardes, não sereis como os hipócritas. Eles já receberam a recompensa”. O versículo 16 diz: “Quando jejuardes, não vos mostreis sombrios como os hipócritas. (...) Eles já receberam por completo a sua recompensa”. O versículo 4 diz: “Para que a tua esmola fique em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará”. O versículo 6 diz: “Tu, porém, quando orares, entra no teu aposento íntimo, e, fechada a porta, ora a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará”. A parte final do versículo 18 diz: “E teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”. Todo leitor da Bíblia concorda que o assunto principal do sermão no monte em Mateus 5 a 7 é o reino dos céus. Mas aqui, a questão da recompensa é também mencionada repetidas vezes, porque o reino dos céus é a recompensa.
Mateus 16.27-28 diz: “Porque o Filho do Homem há de vir na glória de Seu Pai, com os Seus anjos, e então retribuirá a cada um conforme as suas obras”. Deus recompensará ou punirá uma pessoa salva de acordo com as suas obras. “Em verdade vos digo que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma provarão a morte até que vejam vir o Filho do Homem no Seu reino”. Há três fatos aqui. Primeiro, o homem será recompensado de acordo com suas obras. A questão da recompensa é inteiramente baseada nas obras. Segundo, em que momento a recompensa será distribuída? Ela será conhecida quando Cristo vier na glória de Seu Pai com Seus anjos. Quando Cristo vier na glória de Seu Pai com Seus anjos, aquele será o tempo em que Ele estabelecerá Seu reino sobre a terra. Portanto, somente quando o reino se iniciar é que a recompensa se iniciará. Terceiro, aqui está um tipo que fala sobre um fato. A transfiguração do Senhor no monte tipifica Sua manifestação em glória no reino vindouro. Naquela ocasião alguns cristãos serão recompensados.
Os versículos em Mateus 6 que acabamos de ler sobre dar, orar e jejuar, todos envolvem recompensa. Alguns pensam que a recompensa de orar é a resposta de Deus à nossa oração. Entretanto, esse não é o significado completo. O Senhor Jesus disse que devemos orar ao Pai que está em secreto, e nosso Pai que vê em secreto nos recompensará. É possível interpretar isso como o Pai respondendo à nossa oração.
Contudo, tanto na primeira parte quando o Senhor menciona o dar esmolas, quanto na segunda parte quando menciona o jejum, Ele diz: “E teu Pai que vê em secreto te recompensará”. Essa recompensa deve referir-se a algo no futuro. Além disso, o Senhor disse que devemos orar ao Pai que vê em secreto. Não diz que o Pai ouve em secreto, mas Ele vê em secreto. Quando Deus der a recompensa no futuro, Ele dará de acordo com o que Ele vê. Deus vê com Seus olhos. Portanto, a recompensa é no futuro.
Apocalipse 11.15 diz: “O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos”. O versículo 18 diz: “Na verdade, as nações se enfureceram; chegou, porém, a tua ira, e o tempo determinado para serem julgados os mortos, para se dar o galardão aos teus servos, os profetas, aos santos e aos que temem o teu nome, assim aos pequenos como aos grandes”. Esse versículo mostra-nos claramente que quando o Senhor tornar-se o Rei e o reino do mundo tornar-se o reino de nosso Senhor e do Seu Cristo, será tempo de dar a recompensa aos santos, aos pequenos e aos grandes. Em outras palavras, o tempo do reino é o tempo da recompensa. Quando o reino vier, a recompensa virá também. Há um ponto adicional. A recompensa é a obtenção da coroa e a obtenção do trono. Certa vez um missionário ocidental disse-me: “Se não posso ter a coroa, pelo menos posso ter o reino”. Você pode perguntar ao rei Eduardo da Inglaterra2: se ele perder sua coroa, ainda terá o reino? Que é uma coroa? Não é simplesmente um chapéu esculpido em ouro e enfeitado com diamantes. Esse tipo de coroa pode ser obtido com certa quantia de dinheiro. Que é uma coroa? Uma coroa representa uma posição no reino. Ela também representa glória no reino. Se uma coroa for apenas um objeto, ela não significa muito. Se alguém tiver dinheiro, pode fazer uma de ouro. Se não tiver dinheiro, pode fazer uma de bronze ou de ferro. Mesmo se alguém for muito pobre, ele poderá confeccionar uma coroa de pano. No futuro, a questão não será de uma coroa ser maior do que a outra em tamanho, ou de uma ter mais diamantes do que a outra. Uma coroa representa algo. Quando alguém perde a coroa, perde o que a coroa representa. Temos de ver que a coroa é o símbolo do reino. Que é o trono? A Bíblia mostra-nos que os doze apóstolos sentar-se-ão em doze tronos. A coroa é uma recompensa para os vencedores, e o trono também é uma recompensa para os vencedores. Portanto, o trono também é um símbolo do reino. Ele representa posição no reino, autoridade no reino e glória no reino. Não existe algo como perder a coroa, mas ainda ter o reino. Semelhantemente, ninguém pode perder o trono e ainda ter o reino. Se alguém perder o trono, também perderá o reino. Assim também, se alguém perder a coroa, perderá o reino. O trono e a coroa não são importantes em si mesmos; eles existem apenas para representar o reino. Em outras palavras, a recompensa é
o reino. A Bíblia mostra-nos claramente que a recompensa é simplesmente o reino.

JULGAMENTO NO TRONO DE JULGAMENTO DE CRISTO

Como Deus nos dará a recompensa? A época de sermos recompensados é quando Cristo vier novamente para executar o julgamento. Pedro nos diz que o julgamento começa pela casa de Deus. No futuro, antes de julgar as pessoas no mundo, Deus julgará primeiramente os cristãos. Em relação a que Deus nos julgará? Ele não nos julgará para salvação ou perdição eternas; esse julgamento foi realizado na cruz. Todos os nossos pecados foram julgados na cruz, e o problema da perdição eterna foi resolvido. Contudo, nós, cristãos, seremos julgados no futuro. Tal julgamento determinará se teremos ou não participação no reino. Para alguns, não só não haverá participação no reino, como haverá punição. Naquela ocasião, Cristo estabelecerá o trono de julgamento e julgará os Seus cristãos naquele trono de julgamento.
Vamos ler dois versículos que esclarecem ainda mais esta questão. A Segunda Epístola aos Coríntios 5.10 diz: “Porque é necessário que todos nós sejamos manifestados diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal” (IBB - Rev.). Cada um de nós que cremos no Senhor seremos manifestados diante do trono do julgamento. A palavra “trono do julgamento” é bema no original grego. Significa uma plataforma erguida. Bema é o lugar onde são decididas as questões em família. Esse versículo diz que devemos todos ser manifestados diante do trono do julgamento para cada um ser recompensado de acordo com o que praticou. Salvação eterna ou morte eterna é uma questão do crer. Mas o julgamento de um cristão é segundo o que ele praticou, se o bem ou o mal. Isso é o julgamento diante do trono do julgamento.
Com relação ao reino, existem umas poucas coisas que precisamos saber. Se alguém pode ou não entrar no reino é uma coisa. Mesmo se alguém puder entrar no reino, haverá uma diferença de posição no reino. Se alguém não puder entrar no reino, irá para as trevas exteriores, ou seja, será castigado. Portanto, após termos crido no Senhor, embora nossa boa obra não possa salvar-nos, ela determinará nossa posição no reino. Graças a Deus que a questão da nossa vida eterna ou morte eterna foi decidida, mas ainda seremos julgados diante do trono do julgamento de Cristo. Esse julgamento não é para determinar nossa vida ou morte eternas. É para determinar nossa posição no reino.
Existem muitos outros versículos na Bíblia que nos mostram que os cristãos serão julgados pelo Senhor Jesus diante do trono do julgamento de Cristo. Entre esses versículos, 1 Coríntios 3 mostra-nos muito claramente como seremos julgados pelo Senhor diante do trono do julgamento. A Primeira Epístola aos Coríntios 3.8 diz: “Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho”. O assunto aqui é como cada um será recompensado segundo o seu próprio trabalho. O versículo 10 diz: “Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica”. O fundamento é Jesus Cristo. O próprio trabalho de cada um é a maneira de cada um edificar. A maneira de edificarmos é determinada pelo material que utilizamos. Os versículos 12 a 15 dizem: “Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo”. Essa passagem mostra-nos que cada um que está edificando sobre esse fundamento é salvo. A obra que alguns edificam sobre o fundamento permanecerá, e eles serão recompensados. A obra de alguns não permanecerá, e será consumida pelo fogo. Eles sofrerão perda, muito embora ainda estarão salvos. Lembremo-nos de que ainda há um julgamento diante de nós. Esse julgamento não determinará se pereceremos ou não, mas determinará se receberemos ou não uma recompensa.

A MANEIRA de Deus LIDAR com os Pecados dos Cristãos —
Qualificações para Entrar no Reino DOS CÉUS

Deixamos claro que o reino é o tempo em que Deus recompensará os cristãos conforme as suas obras. No reino, os cristãos fiéis serão recompensados e os infiéis serão punidos. Muitas pessoas pensam que se um cristão for infiel, mesmo que tenha de ocupar uma posição inferior, ele, contudo, estará dentro do reino. Muitos que não compreendem a Palavra de Deus e a obra de Deus, pensam que lhes está garantida a entrada no reino dos céus. Eles acham que, quando o Senhor Jesus vier para reinar, haverá simplesmente uma distinção entre as mais altas e as mais baixas posições no reino; que ninguém perderá totalmente o reino dos céus. Entretanto, no reino dos céus, haverá não só distinção entre as posições mais altas e mais baixas, como também haverá distinção entre ter entrada permitida e ser deixado de fora. A Bíblia mostra-nos que há uma nítida diferença entre dez cidades e cinco cidades, entre uma coroa grande e uma pequena, e entre a glória maior e a menor. Como uma estrela difere de outra, assim também serão diferentes as posições no reino. Não só haverá diferença entre as mais baixas e as mais altas posições no reino, como haverá também distinção de estar qualificado ou não para entrar.

FAZER A VONTADE DO PAI

A Bíblia revela-nos uma verdade muito séria. Apesar de uma pessoa ter a vida eterna, ela ainda pode ser rejeitada para o reino dos céus. Mateus 7.21 é um versículo que fala disso: “Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos céus”. Nesse versículo, todas as pessoas se dirigem ao Senhor como “Senhor”. O Senhor fará uma distinção entre os discípulos que podem entrar no reino dos céus e os que não podem. O Senhor mostra-nos claramente, aqui, que a condição para entrar no reino dos céus é fazer a vontade de Deus. Embora alguns tenham sido salvos e tenham-No chamado de Senhor, e realizado algumas obras, todavia, sem fazer a vontade de Deus, eles não podem entrar no reino dos céus. A recompensa do reino dos céus tem por base a obediência do homem. Quem não for fiel enquanto viver na terra, não perderá a vida eterna, mas perderá o reino dos céus. Quando chegar o tempo de os céus reinarem, isto é, quando o Senhor Jesus vier pela segunda vez, alguns não poderão entrar no reino, mas irão perdê-lo. Primeiramente o Senhor mencionou esse assunto no versículo 21. A seguir, nos versículos 22 e 23, Ele explicou-nos a questão em forma de profecia. Haverá muitos, não apenas um ou dois, que não farão a vontade de Deus. “Muitos, naquele dia, Me dirão: Senhor, Senhor! não foi em Teu nome que profetizamos, e em Teu nome expulsamos demônios, e em Teu nome fizemos muitos milagres? Então lhes declararei: Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, os que praticais a iniqüidade”. Aqui o Senhor Jesus nos diz o que ocorrerá diante do trono de julgamento. Ele diz: “Naquele dia”; portanto, isso não se refere a hoje, mas ao futuro. Há muitos que labutam, mas não vêem a luz de Deus em sua vida. Quando o tempo do trono do julgamento vier, e quando Cristo começar a julgar a partir da casa de Deus, esses cristãos terão luz pela primeira vez. Eles verão que estão errados em sua posição e em seu viver.
Naquele dia, diante do Senhor muitos dirão: “Não temos nós profetizado em Teu nome, e em Teu nome expulsamos demônios, e em Teu nome fizemos muitos milagres?” Em uma só frase, a expressão “em Teu nome” é mencionada três vezes. Isso prova que essas pessoas são do Senhor. O fato de dizerem: “Senhor, Senhor”, prova que a posição delas é a de um cristão. Elas não apenas dizem que profetizam, expulsam demônios e fazem milagres, mas fazem isso em nome do Senhor. A menção de “em teu nome” por três vezes, mostra-nos o relacionamento delas com o Senhor.
Surpreendentemente, o Senhor lhes diz: “Então lhes declararei: Nunca vos conheci”. Por não compreenderem o significado dessas palavras, muitos acham que tais pessoas certamente não são salvas. Mas se elas não fossem salvas, então a palavra do Senhor aqui não teria significado. Mateus 7 é a conclusão do sermão no monte, dando senciência à palavra do Senhor acerca das bem-aventuranças. Essas palavras no monte foram ditas pelo Senhor Jesus aos discípulos. Após o Senhor ter subido na montanha, Seus discípulos seguiram-No, e a partir do capítulo 5 até o capítulo 7, Ele abriu a boca e passou a ensiná-los. O Senhor Jesus disse que eles não deveriam chamá-Lo de Senhor apenas com a boca. Se eles O chamavam de Senhor, deveriam fazer a vontade do Pai. Mesmo que tivessem as obras exteriores de profetizar, expulsar demônios e fazer milagres, essas obras não deveriam substituir a vontade do Pai. Fazer a vontade do Pai é uma coisa, enquanto profetizar, expulsar demônios e fazer milagres são coisas totalmente diferentes. Algumas vezes, pode-se profetizar, expulsar demônios e fazer milagres sem fazer a vontade do Pai. Devemos lembrar-nos não somente de chamá-Lo de Senhor com nossa boca, mas também de fazer a vontade do Pai em nosso andar. Se o Senhor estivesse falando acerca de pessoas não-salvas, essa palavra perderia totalmente o significado, pois se essas pessoas não fossem salvas, não importaria muito para os discípulos ouvirem ou não a Sua palavra. Os discípulos poderiam dizer que Sua palavra era para não-salvos, mas eles eram salvos; portanto, se fizessem ou não a vontade do Pai, o Senhor não poderia negar que os conhecia. Se fosse esse o caso, então todos os não-salvos seriam os que não fazem a vontade de Deus, e todos os salvos seriam os que fazem a vontade de Deus. Isso anularia o significado maior dessas palavras.
O Senhor Jesus, aqui, deve estar advertindo os salvos, falando sobre os salvos. Ele não pode estar advertindo os salvos, falando sobre os não-salvos. Suponha que uma pessoa tenha uma empregada e duas filhas, e dissesse para a filha mais jovem: “Você está vendo essa empregada? Ela não nasceu de mim, e estou batendo nela. Você deve ser obediente, caso contrário, castigarei você assim como estou fazendo com ela”. Essas palavras são coerentes? A criada não nasceu na família e, se for desobediente, pode apanhar. Mas a filha da família não é uma empregada. Não se pode aplicar a uma filha a maneira de tratar uma empregada. A mãe deveria dizer: “Na noite anterior castiguei sua irmã, pois ela foi desobediente. Agora, se cuide, pois se você não for obediente, vou castigá-la da mesma forma”. A mãe deve tomar a irmã como exemplo. Uma empregada não pode ser usada para comparação. Não existe motivo para o Senhor usar os não-salvos como exemplo para mostrar aos discípulos que eles precisam fazer a vontade de Deus. Se Ele fizesse isso, os discípulos poderiam levantar-se e dizer: “Eles não são salvos, mas nós somos salvos”. Se dissessem isso, ninguém poderia dizer mais nada.
O que o Senhor Jesus está dizendo é isto: “Muitas pessoas são filhos de Deus. Elas são salvas e são como você. Elas chamam-Me de ‘Senhor’ e têm realizado muitas obras. Mas, apesar disso, elas serão excluídas do reino. Por essa razão vocês devem ser cuidadosos e fazer a vontade de Deus”. Somente dessa maneira os discípulos saberiam que, mesmo que realizassem muitas obras, se não fizessem a vontade de Deus, receberiam a mesma punição. Se Ele estivesse falando a não-salvos, não haveria mais o elemento penetrante de Sua palavra. O Senhor os estava advertindo de que somente os que fazem a vontade de Deus podem entrar no reino. Se alguém confiar em sua própria obra para se achegar diante de Deus, o Senhor Jesus lhe dirá: “Não conheço você”.
Permitam que eu lhes dê outro exemplo. Suponham que o filho de um juiz dirija de modo imprudente e bata em outro carro. Ele é levado pela polícia até o tribunal para uma audiência. O juiz pergunta: “Jovem, qual é o seu nome? Quantos anos tem? Onde você mora?” Abatido, no tribunal, o filho pode pensar: “Você deve saber todas essas coisas melhor do que eu”. Ele pode responder às poucas perguntas iniciais. Mas depois de algum tempo pode gritar ao pai: “Pai, você não me conhece?” Então, que deveria o juiz fazer? Ele poderia bater seu martelo e dizer: “Eu não o conheço. Em minha casa, eu o conheço. Mas, no tribunal, nunca o conheci”. Se alguém vir a questão do reino, perceberá que no reino a questão não é se uma pessoa é salva ou não nem se é um filho de Deus ou não; o que realmente conta é a sua obra depois de tornar-se cristão. Suponha que após ser salvo, você seja muito zeloso. Apesar de não ter feito a vontade de Deus, você profetizou, expulsou demônios e realizou milagres em nome do Senhor. Se você vier diante do Senhor, pedindo para ser admitido no reino por causa dessas obras inescrupulosas, o Senhor dirá que nunca o conheceu.
Por que o Senhor disse: “Nunca vos conheci”? A próxima sentença explica: “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”. Por favor, lembrem-se de que o Senhor não lhes disse para apartarem-se da vida eterna. No original grego o significado de “os que praticais a iniqüidade” é de pessoas que não seguem regras, não guardam a lei ou não aceitam regulamentos. Aos olhos de Deus, fazer o mal não significa apenas fazer coisas más. Não importa quanto uma pessoa tenha feito; uma vez que ela não tenha atentado à exigência de Deus, ao Seu julgamento, e ao Seu arranjo soberano, isso é maligno aos olhos de Deus. Se essa palavra “iniqüidade” for traduzida para “mal”, como fazem algumas versões, muitos teriam base para argumentar. O problema aqui não é fazer o mal, mas não ter princípios. Que são os princípios? Os princípios são a palavra de Deus. Mas que é a palavra de Deus? A palavra de Deus é a vontade de Deus. Se você não estiver fazendo a vontade de Deus, não importa o que faça, o Senhor Jesus dirá que você é iníquo. Os que fazem as coisas segundo seu próprio ego não terão parte no reino dos céus.
Meu propósito ao dizer essas coisas é mostrar-lhes a importância das obras de um cristão. A Bíblia mostra-nos claramente que uma pessoa, após crer no Senhor, embora nunca perca a vida eterna, ela pode perder seu lugar e glória no reino. Se não fizermos a vontade de Deus, mas, em vez disso, fizermos obras de acordo com nossa própria vontade, seremos excluídos do reino. Podemos pensar que profetizar, expelir demônios e realizar milagres seja o mais importante, pois achamos que, se pudermos fazer essas coisas, seremos uma pessoa maravilhosa. Entretanto, essas coisas nunca podem substituir a vontade de Deus. Os que nunca aprenderam a não trabalhar para Deus, não são dignos de trabalhar para Ele. Aqueles que não sabem como parar a sua própria obra, certamente nada sabem sobre a vontade de Deus. Somente os que conhecem a vontade de Deus conseguem parar de trabalhar. Deus quer que primeiro obedeçamos à Sua vontade e, depois, trabalhemos. Deus não nos quer como voluntários para trabalhar por Ele. Quanto mais alguém conhece a vontade do Senhor, mais aprenderá a não trabalhar relaxadamente. Portanto, existe uma grande diferença entre trabalhar e fazer a vontade de Deus. Hoje, podemos apreciar as obras e estar interessados em profetizar, expulsar demônios e realizar obras de poder. Mas um dia, muitos serão despertados.

ESMURRAR O CORPO PARA AGRADAR O SENHOR

Outra passagem que alguns interpretam mal, como se referisse à perdição, na verdade, refere-se também à perda do reino e à perda da recompensa. A Primeira Epístola aos Coríntios 9.23-27 diz: “Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele. Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado”. Paulo temia que, tendo pregado a outros, ele mesmo fosse reprovado. Aqui, Paulo estava dizendo que ele também poderia ser reprovado. Qual é, aqui, o significado de ser reprovado? E em que se está sendo reprovado? Nestas mensagens, temos ressaltado o fato de que, ao ler a Bíblia, deve-se dar atenção ao contexto. Aqui também devemos considerar o contexto.
No versículo 24, Paulo se compara a alguém que está participando de uma corrida, na qual somente um levará o prêmio. Portanto, o problema aqui não é uma questão de salvação, mas de receber o prêmio. Paulo está falando sobre como uma pessoa salva pode receber o prêmio; ele não está falando de como alguém não-salvo pode ser salvo. Somente os que são salvos, os que creram no Senhor Jesus, nasceram de novo e tornaram-se filhos de Deus estão qualificados para entrar na corrida. Somente os filhos de Deus podem participar da corrida e perseguir o prêmio que Ele deseja que ganhemos. Se alguém não é filho de Deus, não está sequer qualificado para entrar na corrida. Em nenhum lugar na Bíblia é dito que a salvação é ganha por corrermos a carreira. A Bíblia nunca diz que se alguém for capaz de correr, então será salvo. Se assim fosse, poucos seriam salvos, e a salvação dependeria de obras. A Bíblia diz que o prêmio vem pelo correr; Deus colocou-nos em uma pista de corrida para corrermos a carreira.
Qual é o prêmio? O versículo 25 diz: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível”. Aqui é dito que o prêmio é uma coroa. Já mencionamos antes que a coroa representa a glória e o reino. Portanto, a palavra “desqualificado” não se refere à perda da salvação. A palavra “desqualificado”, no versículo 27, significa fracassar em receber a coroa e o prêmio. Se Paulo podia ser desqualificado, então todos nós temos a possibilidade de o ser. Se Paulo podia perder seu prêmio e sua coroa, então cada um de nós também tem a possibilidade de perder o prêmio e a coroa. O versículo 26 indica o motivo de ser desqualificado: “Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar”. Paulo tinha um propósito e uma direção. Ele não desferia golpes no ar. O seu alvo e direção eram aquilo que ele disse em 2 Coríntios 5: que ele anelava ser agradável ao Senhor (v. 9). Quer vivesse ou morresse nesta terra, o seu desejo era agradar ao Senhor. Como ele correu a carreira? Ele não a correu desleixadamente. Ele tinha uma direção certa e um alvo definido. Ele não desferia golpes no ar nem fazia simplesmente o que outros diziam que fizesse. Tampouco fazia algo apenas porque havia necessidade. Se fosse trabalhar de acordo com a necessidade, ele teria de correr dia e noite, pois a necessidade era enorme. Nós não somos para a obra, mas somos para agradar ao Senhor.
Se quisermos receber o prêmio, que devemos fazer? “Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão” (v. 27). Muitos estimam seu próprio corpo acima do prêmio. Muitos consideram seu próprio corpo acima da vontade de Deus. Entretanto, Paulo disse que dominava seu corpo; ele era capaz de controlá-lo. Paulo podia controlar a concupiscência de seu corpo, as exigências excessivas de seu corpo e os desejos de seu corpo. Ele não permitia que seu corpo prevalecesse. Ele disse que esmurrava seu corpo e fazia dele seu escravo. Se um cristão pode ou não agradar ao Senhor, depende de se ele pode ou não controlar seu corpo. Muitos não conseguem controlar seu próprio corpo. Sempre que um pequeno estímulo chega ao corpo, toda sorte de pecados acontece. Devemos ver que todos os que não podem controlar seu próprio corpo perderão seu prêmio e sua coroa. Embora possam pregar o evangelho a outros, eles mesmos serão desqualificados.
Nós, cristãos, somos salvos uma vez por todas e jamais perderemos nossa salvação. Mas quando o Senhor Jesus voltar na Sua glória para governar a terra, Ele não dará coroas para todos. No novo céu e nova terra, embora cada pessoa salva receberá a mesma glória, quando o Senhor Jesus vier governar sobre a terra por mil anos, alguns perderão seu prêmio, sua autoridade e sua glória. Alguns não estarão aptos para entrar no reino e não estarão aptos para receber uma coroa.
A palavra do Senhor é muito clara acerca da salvação e da vida eterna: ambas são totalmente provenientes da graça. Além do mais, se alguém pode ou não entrar no reino dos céus, depende de suas obras. Acabamos de ver que temos de fazer a vontade de Deus. Aqui vemos que é necessário esmurrar nosso próprio corpo. Exteriormente, podemos realizar muitas obras, mas enquanto não restringirmos nosso corpo, não nos será permitido entrar no reino.
Na Bíblia parece haver um número fixo de coroas. Apocalipse 3.11 diz: “Venho logo. Segura com firmeza o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (BJ). Alguns que não compreendem a Bíblia, não sabem qual a diferença entre uma recompensa e um dom.
Tampouco sabem a diferença entre a coroa e a salvação de Deus. Eles acham que a salvação pode ser tirada deles. A palavra “tome”, aqui, não se refere à salvação, mas à coroa. Alguém pode estar salvo e, no entanto, perder a coroa. Recentemente havia uma manchete muito sensacionalista nas revistas dizendo que determinado rei de determinada nação havia perdido sua coroa. Se uma pessoa salva não segurar com firmeza o que tem, se não guardar as palavras da perseverança do Senhor Jesus, e se negar o nome do Senhor Jesus algum dia ele perderá a coroa. Se você for frouxo, e não segurar com firmeza, também perderá sua coroa. Alguém poderá tirá-la de você.
Apocalipse 2.10 tem uma palavra semelhante a essa: “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”. Aqui não diz dar a vida, mas dar a coroa da vida. A vida é obtida pela fé; ela não é obtida pela fidelidade. Se uma pessoa não tiver fé, ela não poderá ter vida. Mas se uma pessoa for infiel depois de ter vida, ela perderá a coroa da vida. Portanto, se um cristão não tiver boas obras após ser salvo, ele não perderá a vida, contudo, perderá a coroa.

EDIFICAR COM OURO, PRATA E PEDRAS PRECIOSAS

A passagem mais clara na Bíblia acerca da recompensa é 1 Coríntios 3.14-15: “Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo”. Isso nos mostra claramente o que um cristão não pode perder e o que ele pode perder. Desde que uma pessoa seja salva, certamente está salva para sempre. Contudo, se tal pessoa receberá ou não um galardão, isso não pode ser decidido hoje. A salvação eterna de um cristão já está determinada. Mas a recompensa futura é uma questão ainda pendente. Ela é decidida pela maneira como alguém edifica sobre o fundamento do Senhor Jesus. A nossa salvação independe de como edificamos. Ela depende apenas de como o Senhor edifica. Se a Sua obra é perfeita, certamente estamos salvos. Entretanto, se receberemos ou não a recompensa, ou se sofreremos perda, depende da nossa própria obra de edificação. Se alguém edifica com ouro, prata e pedras preciosas, coisas com valor eterno, sobre o fundamento do Senhor Jesus, certamente receberá galardão. Contudo, se edifica com madeira, feno e palha, não receberá galardão diante de Deus. Ele pode ter muito diante do homem, contudo não terá muito diante de Deus. Isso nos mostra que é possível uma pessoa perder seu galardão e ter sua obra queimada.
Permitam-me repetir isto: Graças a Deus que a questão da nossa salvação eterna foi decidida há mais de mil e novecentos anos. Quando o Filho de Deus foi levado à cruz, a nossa salvação foi decidida. Mas, se vamos receber ou não a recompensa, depende de como nos conduzimos. A verdade do evangelho é muito equilibrada. A salvação depende totalmente do Senhor Jesus. Conceder a salvação depende totalmente do Senhor Jesus. Entretanto, se alguém pode obter sua recompensa ou não, depende da sua própria obra de edificação. O homem deve crer, e também deve trabalhar. Esse trabalho não é propriamente dele, mas é aquilo que o Espírito Santo tem trabalhado nele. Aqui vemos que é possível perdermos nosso galardão. É igualmente possível sermos reprovados para o reino e privados da nossa coroa. Dá-se a impressão de que a nossa posição no reino não está decidida; ela está sujeita a mudanças e não está assegurada.

GUARDAR FIRME A EXULTAÇÃO DA ESPERANÇA

Hebreus 3.6 dá-nos uma palavra semelhante: “Cristo, porém, como Filho, sobre a sua casa; a qual casa somos nós, se guardamos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança”. Aqui parece incerto se somos ou não a Sua casa. O apóstolo disse que somos a Sua casa, se guardamos firme até ao fim a ousadia e a exultação da esperança. Que é essa casa e essa esperança? Essa esperança bendita não é outra senão a da volta do Senhor Jesus em glória, para estabelecer Seu reino na terra. Se um cristão tiver tal esperança, sabendo que o Senhor Jesus voltará novamente para estabelecer Seu reino em glória, e sabendo que todos os fiéis que fizerem a vontade de Deus reinarão com o Senhor, se ele guardar firme isso, ele será Sua casa. Hoje, nós já somos Sua casa. Somos todos pedras vivas edificadas casa espiritual. Isso é o que Pedro nos disse (1 Pe 2.5). Mas qual será nossa porção no reino futuro, depende de quão firme guardamos até ao fim a ousadia e a exultação da esperança. Essa questão não pode ser decidida de uma vez por todas. Existem muitos versículos na Bíblia sobre isso, e todos são muito claros. O problema da eternidade está totalmente decidido, mas a questão da posição e recompensa no reino depende de quão firme guardamos hoje a ousadia e a exultação da esperança.

SER MAIS DILIGENTE PARA FIRMAR O CHAMAMENTO E A ELEIÇÃO

Chegamos a 2 Pedro 1.10: “Por isso, irmãos, sede ao máximo diligentes, para firmar vosso chamamento e eleição, porque, fazendo isto de modo algum jamais tropeçareis” (lit.). Se alguém não conhece a verdade acerca da eleição, ele não verá que isso se refere a firmar a esperança do reino. Aqui diz que a eleição e o chamamento de uma pessoa não estão necessariamente firmados. Isso significa que uma pessoa se tornará não-salva novamente? Não, não significa isso, porque Romanos 11 claramente nos diz que o chamamento de Deus é irrevogável (11.29). Aqui não fala apenas sobre chamamento, mas também sobre eleição. Pedro colocou o chamamento e a eleição juntos. A Bíblia diz muitas vezes que muitos são chamados, mas poucos são escolhidos. Com exceção de um trecho, sobre o qual não estou absolutamente certo, todos os outros lugares referem-se a muitos sendo salvos e poucos obtendo um galardão. Portanto, eleição aqui se refere à posição no reino.
Pedro disse: “Porque fazendo isto de modo algum jamais tropeçareis”. “Isto” são as coisas mencionadas nos versículos 5 a 7, tais como: fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade e amor. Se fizermos essas coisas, jamais tropeçaremos. Isso é o mesmo que dizer que, se formos os mais diligentes, nosso chamamento e eleição serão firmados. Essas expressões são correspondentes. A primeira dessas expressões diz que devemos ser diligentes para firmar nosso chamamento e eleição. A segunda delas diz que procedendo assim, jamais tropeçaremos.
O versículo 11 diz: “Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. A Bíblia mostra-nos que o reino de Cristo é eterno. Contudo, alguns entrarão nele somente na eternidade futura, enquanto outros entrarão nele no milênio. O reino de Cristo começa com o reino milenar. Portanto, Apocalipse 11.15 diz: “O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos”. Esse versículo nos mostra que o reino de Cristo está ligado à eternidade futura; ele perdura para todo o sempre. Entretanto, ele começa com o trombetear do sétimo anjo, isto é, com o início da tribulação. Quando Cristo começar Seu reinado, alguns entrarão no reino. Eles não apenas entrarão, mas ser-lhes-á rica e amplamente suprida a entrada. Portanto, firmar nosso chamamento e eleição é ser rica e amplamente supridos com a entrada nesse reino eterno.
Pode-se ver que a salvação foi decidida, mas a entrada no reino ainda não o foi. Uma vez que um cristão creia no Senhor Jesus, ele pode imediatamente louvar o Senhor, porque sabe que a questão de vida ou morte eternas está decidida. Entretanto, após alguém crer, há experiências diante dele; ele ainda tem o reino diante dele e a glória futura aguardando por ele. Alguns obterão estas coisas: o reino, a coroa, a glória e o galardão; enquanto outros, não. Alguns entrarão no reino de Cristo; outros não estarão aptos para entrar. Alguns não apenas entrarão, como também serão rica e amplamente supridos com a entrada no reino de Cristo. Isso não significa que aqueles que não puderem entrar no reino de Cristo não sejam salvos. Mas significa que serão retiradas a recompensa e a glória deles. Portanto, precisamos correr e nos esforçar. Se estaremos aptos para reinar com Jesus, o nazareno, no futuro, dependerá de como nos esforçamos hoje.

ENTRAR NO REINO PARA PARTICIPAR DA GLÓRIA DE CRISTO

Gostaria de saber se vocês, alguma vez, pensaram com que tipo de glória Deus recompensará Cristo no milênio, por aquilo que Ele sofreu há mil e novecentos anos. Uma recompensa deve equiparar-se ao sofrimento. Se um homem for rebaixado à mais inferior posição, sua recompensa deverá ser a maior. Suponha que sua casa pegue fogo ou que você se encontre em sério perigo, e um empregado seu arrisque-se e quase perca e a vida tentando salvá-lo. Como você o recompensaria? Você diria: “Eu o recompenso com vinte centavos”? Ninguém faria isso. A recompensa tem de equiparar-se ao sofrimento. Cristo glorificou a Deus de tal maneira e sofreu tal morte na cruz. Como Deus recompensará Cristo no futuro? E como Ele glorificará Cristo?
O reino será o tempo no qual Cristo e os cristãos receberão glória juntos. O reino será o tempo no qual Deus recompensará Cristo. Naquele tempo, nós também teremos uma porção. Se vamos ser achados dignos de receber a glória do Senhor, dependerá totalmente do resultado de nosso andar e trabalho pessoais. Não existe a questão de mérito no novo céu e nova terra. Mas no reino, somente os que tiverem mérito receberão glória. O Senhor sofreu perseguição, dificuldades e humilhação. Se hoje sofrermos perseguição, dificuldades e humilhação, da mesma forma, nós partilharemos uma porção com Ele no reino vindouro.

A maneira de deus lidar com os pecados dos cristãos — A Disciplina no
Reino (1)
A DISCIPLINA DE DEUS NA ERA VINDOURA

A Bíblia diz que o Senhor nos disciplina porque nos ama (Hb 12.6). O homem quando ama, é tolerante. Mas Deus quando ama, disciplina. Quando o homem ama, ele é negligente. Mas quando Deus ama, Ele é sério. Se Deus não nos tivesse amado, Ele não teria enviado Seu Filho para morrer pelos nossos pecados na cruz. Da mesma forma, se Deus não nos amasse, Ele não nos disciplinaria. O amor disciplinador de Deus é semelhante ao Seu amor salvador, o qual fez com que Ele enviasse Seu Filho para morrer por nós na cruz. Foi Seu amor que fez Seu Filho morrer em nosso favor. Da mesma forma é Seu amor que nos disciplina. Todo cristão deveria saber que não há contradição entre a disciplina de Deus e a graça de Deus. Pelo contrário, a disciplina de Deus manifesta a graça de Deus. Apesar de termos visto que uma pessoa não pode perecer após ser salva, jamais podemos dizer que essa pessoa nunca sofrerá a disciplina de Deus. Agora, a questão é se a disciplina de Deus restringe-se a esta era ou se ela se estende à era vindoura também. Essa é uma questão que muitos jamais consideraram. Então vamos examiná-la.
A Bíblia nos mostra que a disciplina de Deus não se restringe somente a esta era. Ela também pode ser vista na próxima era. Muitos restringiram a disciplina de Deus a esta era. Entretanto, você não consegue encontrar na Bíblia nenhuma base para tal ensinamento. Em se tratando de experiência cristã, certamente existe a possibilidade de disciplina na era vindoura. Muitos não têm sido disciplinados nesta era. Embora sejam filhos de Deus, eles não têm um viver consagrado nesta era. Fazem o que querem e em muitas coisas são desobedientes por toda a vida, até à morte. Embora alguns sejam zelosos e trabalhem pelo Senhor, e exteriormente até experimentem, muitos milagres e obras de poder, todas essas coisas são feitas segundo sua vontade pessoal e são contrárias ao propósito de Deus. Alguns têm até mesmo pecados evidentes e transgressões específicas. Não vemos muita disciplina neles. Pelo contrário, vivem tranquilamente em paz partem deste mundo. Entretanto, além de perderem a recompensa, essas pessoas serão disciplinadas no reino. Elas experimentarão uma disciplina específica de Deus. Portanto, de acordo com a experiência, se um cristão viver na terra, hoje, sem controlar suas paixões, amando o mundo e andando nos seus próprios caminhos, ele será disciplinado na era vindoura. Temos ampla evidência disso na Bíblia.

A DISCIPLINA É PARA PURIFICAÇÃO

Segundo a Palavra de Deus, a disciplina é para purificação. O homem está sujo, portanto, precisa ser limpo. Na Bíblia não há somente um tipo de purificação. A primeira purificação é a do sangue, isto é, a purificação pelo sangue do Senhor Jesus. A Bíblia menciona-a mais de trezentas vezes, mas aqui nós citaremos somente dois versículos do livro de Hebreus: “Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão” (9.22). Esse versículo fala sobre a purificação pelo sangue. E: “Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas” (1.3). Aqui podemos traduzir “depois de ter feito a purificação dos pecados” por “depois de ter feito a limpeza dos pecados”. Na Bíblia vemos que a purificação de nossos pecados é feita pelo sangue do Senhor Jesus. Após haver purificado nossos pecados, Ele ascendeu às alturas e assentou-se à direita da Majestade. Esse é o primeiro tipo de purificação na Bíblia. Entretanto, apesar de muitas pessoas terem recebido a purificação pelo sangue do Senhor Jesus, elas ainda têm muitos pensamentos imundos, ainda estão muito corrompidas pelo mundo e têm muitos pecados carnais. Por ainda haver esse tipo de coisas, Deus utiliza outros meios para nos purificar. Esses meios de purificação são a disciplina e a punição, sobre as quais trataremos agora.
Em João 15.2 o Senhor diz: “Todo ramo em Mim que não dá fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto, Ele o limpa, para que produza mais fruto”. O limpar aqui é uma purificação. Deus poda os elementos desnecessários, supérfluos e obstáculos, para que os ramos produzam mais fruto. Isso é a disciplina de Deus. Portanto, o propósito da disciplina de Deus não é destruir-nos, mas aperfeiçoar-nos a fim de que nos tornemos mais dignos da glória de Deus, da santidade de Deus, e da justiça que é posta diante de nós. Portanto, na Palavra de Deus existem dois tipos de purificação: Uma é a purificação pelo sangue do Senhor Jesus; a outra é a purificação que Deus faz por meio do nosso ambiente, família, saúde ou trabalho. Se formos indulgentes naquilo que não devemos ser, ou se nos recusarmos a eliminar o que for preciso, a mão disciplinadora de Deus recairá sobre nós em nosso ambiente.

A PURIFICAÇÃO NA ERA VINDOURA

Tal disciplina purificadora de Deus está restrita somente a esta era, ou ela também é encontrada na era vindoura? Pela Bíblia sabemos que a morte jamais muda alguém. Nenhuma passagem da Bíblia mostra o caso de uma pessoa que tenha sido mudada pela morte. Sabemos que no futuro estaremos com Deus eternamente. Na eternidade seremos como o Senhor; seremos santos, assim como o Senhor é santo. Mas será que podemos dizer que hoje somos tão santos como o Senhor é? que somos dignos de estar com o Senhor pela eternidade? É verdade que o sangue do Senhor Jesus nos limpou e o registro de nossos pecados foi apagado. Isso é um fato. Mas falando de modo subjetivo, temos Cristo vivendo em nós praticamente? Temos permitido o Cristo ressurreto expressar-se em nós? Nosso andar hoje ainda é muito diferente daquele que deverá ser na eternidade; os dois estão por demais distantes. Hoje estamos muito aquém da santidade, justiça e glória de Deus. Muitos cristãos ainda estão cheios de pecados e imundícies. Sendo assim, aqui temos um problema. Se as coisas hoje estão tão ruins, mas serão tão boas no futuro, se são tão imperfeitas hoje, mas serão tão perfeitas no futuro, quando ocorrerá a mudança? Deve haver uma mudança em algum lugar ao longo do caminho. Se você não é perfeito hoje, mas o será no futuro, quando ocorrerá a mudança? Na eternidade, quando estivermos com Deus e o Cordeiro na Nova Jerusalém, estaremos na luz assim como Deus está na luz. Mas quando nos tornaremos esses tais? O conceito humano é que ao morrer mudaremos, mas a Bíblia nunca afirma que a morte física fará uma pessoa ser santa. Essa é uma doutrina que foi pregada há quinhentos ou seiscentos anos, porém a Bíblia nunca diz que a morte pode mudar uma pessoa. Se a morte pudesse mudar um cristão, então ela também poderia mudar uma pessoa não-salva. Contudo, a morte jamais muda alguém. O servo indolente ainda será indolente ao ser ressuscitado. As virgens néscias ainda eram néscias quando acordaram. Ao acordarem, a indolência e a insensatez delas não haviam sumido. Se uma pessoa não muda nesta era, mas estará diferente no novo céu e nova terra, e se a morte não muda as pessoas, então, quando ocorrerá a mudança? A Bíblia nos mostra claramente que na era vindoura haverá disciplina, e essa disciplina nos podará e purificará.

ALGUNS SERVOS DE DEUS SERÃO JULGADOS NA ERA VINDOURA

Precisamos ver alguns versículos que falam dessa disciplina futura. Lucas 12.45-48 diz: “Mas se aquele servo disser no seu coração: Meu senhor tarda em vir, e começar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera, e em hora que não sabe, e cortá-lo-á pelo meio e designará a sua parte com os incrédulos. Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, receberá muitos açoites. Aquele, porém, que não a conheceu e fez coisas dignas de açoites, receberá poucos açoites. Mas a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito foi confiado, muito mais lhe pedirão”.
Nesses versículos a primeira coisa que precisamos decidir é se o servo, aqui, pertence ou não ao Senhor. Ele é cristão? Ele é salvo? Sem dúvidas o servo aqui é salvo. Como posso dizer isso? Primeiro, porque no Novo Testamento, Deus nunca considera como Seus servos os que não lhe pertencem. Indo do Antigo Testamento para a era do Novo Testamento, o homem, primeiro, é um servo e a seguir torna-se um filho. Assim, no Antigo Testamento existem muitos servos não-salvos. Mas no Novo Testamento a ordem é invertida. Se um homem não é filho de Deus, ele não está qualificado para ser um servo de Deus. No Novo Testamento todos os servos de Deus são filhos. Portanto, o servo aqui referido, certamente é alguém salvo.
Há uma segunda prova de que o servo em Lucas 12.45-48 é salvo. A prova está nos versículos anteriores. Os versículos 42-44 dizem: “Disse o Senhor: Quem é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor constituirá sobre os seus servos para dar-lhes a razão a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim. Verdadeiramente vos digo que o constituirá sobre todos os seus bens”. Será o servo nesses versículos o mesmo servo dos versículos 45 e 46? ou será que existem dois servos? Há somente um servo aqui. O servo nos versículos 43 e 44 é o mesmo servo do versículo 45. Uma mesma pessoa pode ser um servo bom, assim como pode ser um servo mau. Esse servo pode ter dois pensamentos diferentes. Se ele for fiel ao encargo do senhor da casa e der aos conservos o sustento a seu tempo, o senhor o recompensará bem e confiar-lhe-á todos os seus bens. Mas se o servo disser em seu coração: “Meu senhor tarda; posso agir da maneira que quiser”, e começar a espancar os criados e as criadas, o senhor virá e julgará seus pecados. Isso prova que uma pessoa salva pode tanto ser um servo bom como um servo mau.
Se, infelizmente, uma pessoa salva tornar-se um servo mau, qual será o seu fim? O versículo 46 diz: “Virá o senhor daquele servo em dia em que não o espera, e em hora que não sabe, e cortá-lo-á pelo meio e, designará a sua parte com os incrédulos”. Esse castigo ocorrerá nesta era ou na era vindoura? Aqui, qual é a hora e o dia que ele não sabe? A hora e o dia que ele não sabe devem referir-se ao tempo da volta do Senhor. Isso é algo no futuro. O Senhor diz que um servo pode ser fiel ou infiel, e um servo infiel não somente perderá a recompensa, como também será condenado e receberá uma punição precisa. Os versículos 47 e 48 baseiam-se nas palavras do versículo 46, e dizem respeito ao futuro daqueles que pertencem ao Senhor e trabalham para Ele. “Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, receberá muitos açoites. Aquele, porém, que não a conheceu e fez coisas dignas de açoites, receberá poucos açoites. Mas a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito foi confiado, muito mais lhe pedirão”. Esses versículos não dizem que aquele que não conheceu não receberá nenhum açoite; dizem apenas que receberá poucos açoites. Ainda assim receberá os açoites. Deus não deixa que passem despercebidos os que não conhecem a Sua vontade, porque Sua Palavra está aqui. Aqueles que a conhecem devem ficar responsáveis diante Dele; aqueles que não a conhecem, mas fizeram coisas dignas de açoites, receberão os açoites, contudo receberão poucos açoites. Pois para todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e para aquele a quem muito foi confiado, muito mais lhe pedirão. Essa é a regra da punição futura de Deus. Lucas 12.47-48 estabelece para nós a questão da punição futura dos cristãos diante de Deus. Meus amigos, estou aqui pregando o evangelho da graça. Quando um homem é salvo, ele é salvo para sempre. Isso é um fato imutável. Entretanto, após sermos salvos, se a nossa conduta é imprópria a cristãos, seremos punidos no futuro. Sou apenas um pregador da Palavra de Deus. Responsabilizo-me por falar apenas o que a Bíblia diz. Não me responsabilizo pelo que a Bíblia deveria dizer. Hoje, alguns podem perguntar por que os cristãos precisam ser castigados no futuro. Eu não sei. Você mesmo deve perguntar ao Senhor. Estou apenas dizendo o que a Bíblia diz. Essa é a palavra do Senhor.
Leiamos Colossenses 3.23-25: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo; pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas”. O contexto dessa passagem deixa claro que esses versículos referem-se a cristãos, não a incrédulos. Os versículos que vêm antes dessa passagem dizem como um cristão deve ser uma esposa, um marido, um pai ou uma mãe, um filho ou uma filha, um senhor ou um escravo. Em seguida Paulo diz que se um cristão comete injustiça, receberá o que fez injustamente, pois não há acepção de pessoas. Isso nos mostra claramente que um cristão receberá a recompensa no trono de julgamento de Cristo. Se ele cometer injustiça hoje, receberá recompensa segundo o que tiver feito injustamente. Se agir justamente, ele receberá recompensa segundo a sua justiça. Portanto, não podemos dizer que os cristãos não receberão certa porção de disciplina e punição.

RECEBER AS COISAS FEITAS POR MEIO DO CORPO

Agora leiamos 2 Coríntios 5.10: “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo”. Todos os leitores da Bíblia devem saber que o trono de julgamento de Cristo estará nos ares. Portanto, aqueles que estarão diante do trono de julgamento serão os que foram arrebatados. E quem pode ser arrebatado? A Bíblia nos diz que somente os cristãos podem ser arrebatados. Os que não são cristãos não podem ser arrebatados. Se um homem não é salvo, ele não é um filho de Deus e ainda não está qualificado para ser julgado naquele julgamento, pois aquele será o julgamento de Deus dentro da Sua própria família. A Segunda Epístola aos Coríntios 5.10 nos diz com que nos defrontaremos no futuro trono de julgamento de Cristo: Seremos recompensados pelas coisas feitas por meio do corpo. Em outras palavras, seremos recompensados pelas coisas que tivermos feito enquanto vivemos na terra, sejam elas boas ou más. Se fizer o bem por meio do corpo, você receberá uma boa recompensa. Se fizer o mal por meio do corpo, você receberá uma má recompensa. A Palavra de Deus nos mostra claramente que no trono de julgamento os que fazem o bem receberão um galardão e os que não fazem o bem perderão o galardão e serão recompensados segundo o mal que fizeram.
Por existir julgamento futuro, o apóstolo Paulo orou por misericórdia no futuro. A Segunda Epístola a Timóteo 1.18 diz: “O Senhor lhe conceda, naquele Dia, achar misericórdia da parte do Senhor. E tu sabes, melhor do que eu, quantos serviços me prestou ele em Éfeso”. Aqui, Paulo expressa o desejo de que Onesíforo possa achar misericórdia da parte do Senhor naquele dia. Se, no futuro, quando estiver diante do trono do julgamento, um cristão, no máximo, perder sua recompensa, e não for punido ou disciplinado, então essa palavra não tem significado. Paulo esperava que o Senhor fosse misericordioso com Onesíforo no Seu julgamento, pois ele havia ajudado muito a Paulo e tinha propagado o evangelho juntamente com ele. Se existissem quaisquer falhas que Onesíforo houvesse cometido, Paulo esperava que o Senhor fosse misericordioso com ele. Portanto, vemos que os cristãos não só precisam do perdão, mas também da misericórdia de Deus na época do julgamento no início do milênio; caso contrário, eles estarão sujeitos à punição de Deus.
No capítulo quatro da Segunda Epístola a Timóteo há outro versículo que devemos ler. O versículo 16 diz: “Na minha primeira defesa ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em conta!”. Essa é outra oração. Quando Paulo estava na Ásia, todos ali o abandonaram. Quando ele estava diante do rei sendo julgado, muitos cristãos ocultaram-se com medo da morte. Apesar de o haverem abandonado, Paulo orou para que tal pecado não fosse levado em conta contra eles. Portanto, vemos que no futuro Deus ainda julgará nossos pecados. Paulo orou aqui para que esse pecado não fosse contado contra eles. Há luz suficiente na Bíblia mostrando-nos que se uma pessoa salva não for disciplinada pela sua conduta desleixada nesta era, ou não se arrepender após a disciplina, ela não apenas perderá sua recompensa, como também será punida de um modo específico.
Em Mateus 12, o Senhor Jesus menciona especificamente a blasfêmia contra o Espírito Santo. Todos os pecados podem ser perdoados, todas as palavras faladas contra o Filho do Homem podem ser perdoadas; contudo, o pecado da blasfêmia contra o Espírito Santo não pode ser perdoado. Para esse pecado não haverá perdão nesta era, e não haverá perdão na era vindoura (v. 32). Na Bíblia, a era vindoura sempre se refere ao reino. Na língua original, a palavra “era” é aion, e não cosmos. Se a palavra fosse cosmos, estaria se referindo à organização do mundo. Mas, uma vez que é aion, ela se refere a um intervalo de tempo. Por isso, ela foi traduzida para era. Hoje a era é a era da graça. A próxima era será a era na qual o Senhor virá para reinar por mil anos. Ao ler Mateus 12, você percebe que o perdão de pecados está dividido em dois períodos. Alguns pecados são perdoados nesta era, e outros serão perdoados na era vindoura. Algumas pessoas, por meio de disciplina, são perdoadas nesta era. Algumas pessoas podem não ter agido bem hoje, mas elas serão perdoadas no reino. Algumas pessoas são perdoadas ao serem salvas, mas seus pecados subsequentes não serão perdoados no reino; pelo contrário, elas serão severamente castigadas. Este é o ensinamento bíblico acerca da punição. A punição para o cristão nesta era está suficientemente clara. Alguns cristãos que pecam, cujos problemas não forem solucionados diante de Deus hoje, receberão punição no futuro.

O REINO É O TEMPO DA PUNIÇÃO FUTURA

Exatamente quando ocorrerá a punição futura? Está claro que haverá punição no futuro após o Senhor voltar; mas em que momento após a volta do Senhor isso ocorrerá? Consideremos três eras na Bíblia. A era presente pode ser chamada de era da graça. Ela pode também ser chamada de era do evangelho ou era da igreja. A era vindoura pode ser chamada de era do reino ou era do milênio, pois tal era durará somente mil anos (Ap 20.6). Após aquela era, ainda há outra era, que é uma era eterna. É a era do novo céu e nova terra.
A Bíblia apresenta-nos essas três eras. A era da igreja é a era da graça, porque a graça e o amor de Deus são manifestados nela. Nesta era Deus salva os injustos e leva o homem a receber a graça do Senhor Jesus. Tudo nesta era é proveniente da graça, mas a era vindoura será a era de justiça. A era eterna também será uma era de graça. Hoje a era é uma era de graça, e a era do novo céu e nova terra também será uma era de graça. Contudo, o reino é todo de justiça. Se você não tiver clareza sobre essas eras, sua leitura da Bíblia, sua teologia e sua compreensão bíblica estarão todas incorretas. Tanto a era da igreja quanto a era do novo céu e nova terra são eras da graça. Mas, a era do milênio é uma era parentética, especialmente preparada por Deus, para recompensar os fiéis e punir os pecaminosos. Aquele período será um período especial.
Tanto o Novo como o Antigo Testamento nos dizem que, neste período, Deus lida com o homem em justiça (Sl 72.2; 85.10-13; 96.13; 97.2; Is 11.5; 26.9; 33.5; 62.1; Jr 33.15; Dn 7.27). Podemos citar pelo menos duzentos versículos do Antigo e do Novo Testamento acerca do julgamento justo no reino.
Qual é a diferença entre o reino e o novo céu e nova terra? A Bíblia faz uma nítida distinção entre ambos. Consideremos Apocalipse 19.6-8: “Então, ouvi uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes trovões, dizendo: Aleluia! Pois reina o Senhor nosso Deus, o Todo-poderoso”. Por favor, note que aqui é o início do reino. “Alegremo-nos, exultemos, e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos”. Aqui lemos que o linho finíssimo foi dado à noiva. Embora tenha sido dado, ele é de justiça. O linho finíssimo é a justiça nos atos dos que creem. Na língua original, a justiça mencionada aqui se refere à justiça nas ações. A palavra justiça tem o sentido de ações. Portanto, refere-se aos nossos próprios atos justos.
Agora leiamos Apocalipse 20.4-6: “Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos”. Esses versículos nos dizem quem serão os reis que reinarão com Cristo por mil anos. O reino não é para todos. O reino é apenas para os mártires. É somente para os que rejeitam Satanás e o anticristo. Unicamente esses podem reinar por mil anos. Portanto, apenas os mártires podem reinar; somente aqueles que rejeitam Satanás e o anticristo serão reis. Isso nos prova que o reino milenar não é dado como um dom gratuito, mas é obtido por meio de boas obras diante de Deus. Apesar de vermos em outras passagens outros tipos de pessoas reinando, em Apocalipse vemos que deve haver justiça específica antes que possa haver participação nas bodas do Cordeiro. Somente os que são mártires podem ser reis. Sem ter a justiça específica e sem ser martirizado, nem um sequer pode ter parte no reinado. Assim é o milênio.

A ERA DO NOVO CÉU E NOVA TERRA

Consideremos agora Apocalipse 21.1-7: “Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as cousas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus e ele me será filho”.
A descrição do reino em Apocalipse 19 e 20 é totalmente diferente da descrição do novo céu e nova terra no capítulo 21. Ao descrever o reino, a Bíblia fala acerca daquilo que o homem fez. Entretanto, ao descrever o novo céu e nova terra, não há mais menção daquilo que o homem fez. A partir do capítulo vinte e um, a Bíblia simplesmente fala acerca daquilo que Deus faz. Deus disse que faz novas todas as coisas. Deus disse que o primeiro céu e a primeira terra passaram e o mar já não existe. Todas estas coisas serão realizadas por Deus. O tabernáculo de Deus estará com os homens. Ele habitará com os homens. Somos o Seu povo; Deus mesmo habitará conosco e será nosso Deus. Ele enxugará todas as nossas lágrimas, de maneira que não teremos mais morte, tristeza, pranto ou dor, pois todas as coisas anteriores terão passado, e todas as coisas serão novas. Deus disse que todas essas palavras são fiéis. Ele disse que Ele é o Alfa e o Ômega. O homem não tem parte aqui. Esses versículos prosseguem, dizendo-nos o que Deus tem feito. Não existe condição ou exigência. Se você deseja saber como obter tal maravilhoso novo céu e nova terra, apenas ouça esta palavra: “Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim” (v. 6a). Em outras palavras, tudo é feito por Deus. “Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida” (v. 6b). Após todas estas coisas terem sido ditas, tudo é resumido em uma sentença: “Eu, a quem tem sede darei de graça da fonte da água da vida”. Desde que haja sede, desde que haja a necessidade, Deus dará gratuitamente da fonte da água da vida. Isso é graça. Graça é dar da fonte da água da vida gratuitamente. O novo céu e nova terra são provenientes da graça. Deus é o Alfa e o Ômega, o início e o fim. O novo céu e a nova terra são totalmente da parte Dele.
O versículo seguinte diz: “O vencedor herdará estas coisas”. Quem são os vencedores a que João se refere? Os vencedores aqui diferem daqueles nas cartas às sete igrejas no início de Apocalipse. Aqui, por meio do uso do termo vencedores, uma distinção é feita entre as pessoas do mundo e os cristãos. A distinção aqui não é entre um tipo de cristão e outro tipo de cristão. Nos três primeiros capítulos de Apocalipse, vencer está relacionado com cristãos em meio a outros cristãos. Mas, no capítulo vinte e um, vencer relaciona-se a cristãos entre as pessoas do mundo. Como podemos beber da água da vida? Por meio da fé. Aqueles que crêem podem beber. Para que possamos beber de graça da água da vida, precisamos crer. É a fé que nos capacita a vencer o mundo. Comparado às pessoas do mundo, cada cristão é um vencedor. Entretanto, comparado a outros cristãos, muitos cristãos são falhos. Com relação às pessoas do mundo, todos somos vencedores, pois temos uma fé diante de Deus que elas não têm. Os que vencem e os que bebem da água da vida herdarão essas coisas, e Deus será o Deus deles, e eles serão filhos para Deus.
O capítulo vinte e dois também menciona o novo céu e nova terra. Os versículos 1 a 5 dizem: “Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos. Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão, contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele. Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos”. A principal coisa na Nova Jerusalém é o rio da água da vida. Esse rio procede do trono de Deus e do Cordeiro. Por ser o rio da vida, há a árvore da vida, com seu fruto da vida crescendo. Em Apocalipse 22, após tudo ter sido dito, uma coisa é proeminente, o rio da vida. Esse rio da água da vida flui por toda a cidade. Como podemos desfrutar o rio da água da vida? No final de Apocalipse, após o era do reino e a era da igreja terminarem, o versículo 17 diz: “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”. Em outras palavras, todos são bem-vindos no novo céu e nova terra. No novo céu e nova terra há um trono, e do trono sai um rio. O rio provém de Deus e tem o trono como sua fonte. O trono é o centro do novo céu e nova terra.
Além disso, a palavra Cordeiro nunca é mencionada com relação ao reino. Mas no novo céu e nova terra, o Cordeiro certamente é mencionado. O trono é de Deus e do Cordeiro (22.1); o Senhor Deus Todo-poderoso e o Cordeiro são o templo da cidade (21.22); e o Cordeiro é a lâmpada da cidade (21.23). O fato de o Cordeiro ser mencionado com relação ao novo céu e nova terra indica que aquela será uma era da graça. Quando chegamos ao final de Apocalipse, a igreja, o reino, e a tribulação não são mais mencionados. Em vez disso, descobrimos apenas que todos os que estão sedentos podem vir e tomar de graça da água da vida. Isso significa que você é convidado para o novo céu e nova terra. Tudo é gratuito. E, ser gratuito significa que provém da graça. Portanto, o novo céu e nova terra são totalmente distintos do reino. O novo céu e nova terra são gratuitamente dados a nós. Segundo o ensinamento de Apocalipse, podemos dizer que no novo céu e nova terra Deus lida com o homem baseado na graça. No reino, entretanto, Ele lida com os cristãos com base na justiça. Portanto, devemos admitir que é no reino que Deus nos disciplina. No novo céu e nova terra tudo é recebido gratuitamente.
Nisso vemos a relação entre o presente e o futuro. Se hoje amarmos o mundo, andarmos segundo a carne, e tivermos um viver desleixado, na era por vir seremos disciplinados por Deus. Mas, se amarmos o Senhor hoje e abandonarmos tudo por causa do Senhor, receberemos a graça de Deus e o Seu galardão. Esse é o ensinamento bíblico acerca destas três eras. Eu não sou responsável pelo que estou falando aqui. Estou falando apenas a Palavra de Deus. A Palavra de Deus diz que na era vindoura haverá essas coisas.
Deus mesmo se responsabiliza pelas Suas próprias palavras. Eu apenas sei que o Filho de Deus disse essas palavras. É verdade que o homem pode desfrutar a vida eterna hoje. Mas o reino é o tempo no qual Deus lidará com Seus filhos. Se você tiver um viver desleixado hoje, será disciplinado no futuro. Portanto, temos uma segurança eterna, mas também temos um perigo temporário. Temos a garantia do novo céu e nova terra. Temos, entretanto, o perigo do reino. No reino poderemos sofrer severa punição e disciplina. Embora a salvação tenha sido estabelecida pela obra do Senhor Jesus, a recompensa será decidida pela obra de cada um. A salvação vem pela obra do Senhor Jesus. A recompensa vem pela nossa própria obra. Somos recompensados por obedecer à vontade de Deus e por não andar segundo a nossa própria vontade. Que possamos valorizar a graça que temos recebido, receber a advertência de Deus e perseguir a recompensa do reino.

A MANEIRA DE DEUS LIDAR COM OS PECADOS DOS CRISTÃOS — A
Disciplina no Reino (2)
RECEBER VIDA NO REINO NA ERA VINDOURA

Ao pregarmos o evangelho, dizemos às pessoas que recebemos a vida eterna, crendo em Jesus Cristo. Se uma pessoa crer Nele, ela terá a vida eterna. Todo aquele que compreende a Palavra de Deus sabe que na era da igreja hoje, assim que uma pessoa crê, ela tem a vida  eterna. Essa é a nossa mensagem. Mas a questão agora é: Quando é que esta vida eterna é manifestada, revelada e desfrutada? Hoje, nossa mente e espírito estão sendo constantemente perseguidos pela morte. Satanás ainda é muito forte. Sendo assim, quando a vida eterna será plenamente manifestada? Será no novo céu e nova terra? ou isso ocorrerá no reino? Leiamos João 5.24-29: “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a Minha palavra e crê Naquele que Me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão. Porque assim como o Pai tem vida em Si mesmo, assim também concedeu ao Filho ter vida em Si mesmo. E Lhe deu autoridade para exercer o julgamento, porque é o Filho do Homem. Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a Sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo”. Aqui, o versículo 24 diz que desde que uma pessoa creia, ela tem a vida eterna e não entra em juízo. Aquele que ouve a palavra do Senhor e crê no Pai que enviou o Senhor tem a vida eterna. Contudo, o versículo 29 diz que os que tiverem feito o bem sairão para a ressurreição da vida, enquanto os que tiverem praticado o mal sairão para a ressurreição do juízo. A palavra vida (zoe, no grego) no versículo 29 é a mesma palavra do versículo 24. Aqueles que tiverem praticado o bem sairão para a ressurreição da zoe, e aqueles que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo. O versículo 24 diz claramente que já temos a vida eterna. Mas o versículo 29 diz que alguns não terão a vida eterna, senão após a ressurreição. Você consegue ver a diferença aqui?
O versículo 25 ocorre na era da igreja. Diz que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus. Nós todos somos esses mortos. Ouvimos a voz do Filho de Deus e, como resultado, vivemos. O versículo 28 diz: “Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a Sua voz e sairão”. O versículo 25 diz que vem a hora e já chegou. O versículo 28, entretanto, omite a frase “e já chegou”, dizendo apenas que vem a hora. Portanto, refere-se ao futuro, e não ao presente. Além disso, aqui o Senhor Jesus diz que no futuro todos os que se acham nos túmulos sairão. No versículo 25, Ele refere-se “aos mortos”. Aqui Ele refere-se aos mortos que se acham nos túmulos. O versículo 25 fala sobre os mortos, referindo-se àqueles mortos em ofensas e pecados. Quando o Senhor fala no versículo 28 dos mortos nos túmulos, Ele não está referindo-se à morte da alma em pecado; pelo contrário, Ele está referindo-se aos mortos no corpo. Todos os que estão mortos em seus corpos, isto é, os que estão nos túmulos, ouvirão a voz do Filho de Deus pela segunda vez. Os que tiverem feito o bem sairão para a ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o mal sairão para a ressurreição do juízo. Esta segunda vez é o tempo em que todos os que estiverem nos túmulos ressuscitarão.
Leiamos Marcos 10.30: “Que não receba cem vezes mais agora, neste tempo, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e no século vindouro a vida eterna”. Aqui o Senhor Jesus menciona novamente a vida eterna. Devemos perceber que tipo de vida eterna é essa. A vida eterna em Marcos 10.30 não é a vida eterna da era da igreja referida no Evangelho de João ou a vida eterna no novo céu e nova terra. Por favor, perceba que essa vida eterna será na era vindoura. A frase “no século vindouro” na língua original significa a era seguinte ou a era subsequente. Hoje estamos na era da graça. A próxima era será a era do reino, isto é, a era do milênio. Aqui, o Senhor diz que uma pessoa pode receber a vida eterna na era vindoura. Isso não se refere à vida eterna que recebemos quando cremos no Senhor. Antes que o Senhor falasse essa palavra, um homem veio a Jesus, perguntando o que deveria fazer para herdar a vida eterna. Essa questão estava relacionada com as obras. Assim sendo, o Senhor Jesus lhe disse acerca da vida eterna que é ganha por meio das obras. Ele disse ao jovem que antes que pudesse herdar essa vida eterna, ele deveria guardar a lei e vender tudo o que tinha. No Evangelho de João, o Senhor Jesus nos mostra claramente que a vida eterna provém da graça e não das obras. Então, por que Ele diz aqui que devemos guardar a lei e vender tudo o que temos, antes de poder herdar a vida eterna? É porque a vida eterna descrita aqui em Marcos 10 é diferente daquela descrita em João. A vida eterna em Marcos 10 é recebida por meio de obras. A vida eterna em João é recebida pela fé.Após o jovem partir, o Senhor Jesus olhou ao Seu redor e disse aos discípulos: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” (v. 23). Ao dizer isso, o Senhor colocou a vida eterna e o reino juntos. Após o Senhor Jesus dizer isso, os discípulos quiseram saber qual o significado da Sua palavra. O Senhor disse: “Filhos, quão difícil é para os que confiam nas riquezas entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus”. Os discípulos ficaram maravilhados e perguntaram quem então poderia ser salvo. O Senhor disse que “para os homens é impossível; mas, não para Deus, porque para Deus tudo é possível”. Pedro, então, perguntou-Lhe o que ganharia por ter deixado tudo para segui-Lo, e o Senhor falou sobre as coisas que estavam por vir. “Jesus respondeu: Em verdade vos digo: Ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por causa de Mim e por causa do evangelho, que não receba cem vezes mais agora, neste tempo, casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e no século vindouro a vida eterna”. Eles receberão a vida eterna no reino.
Portanto, a vida eterna de que se fala aqui é a vida eterna no reino. A vida eterna no reino é obtida por meio de obras. Ela é obtida através de consagração, de sofrimento e por suportar injúrias pelo Senhor. Para o cristão, a questão da vida eterna nesta era está resolvida. A questão da vida eterna na eternidade também está resolvida. Contudo, se ele terá ou não vida eterna no reino depende de: se ele ama ou não o Senhor; se abandona tudo por causa do evangelho; se nega a si mesmo em todas as coisas e se rejeita o mundo. Depende se ele está ou não vivendo para o dinheiro, para o ganho material, para sua família, ou para as pessoas do mundo. Se ele ama ao Senhor e abandona todas as coisas por causa do evangelho, o Senhor prometeu que ele não perderá essas coisas mesmo nesta era, mas pelo contrário, ganhará centenas de vezes mais. Se alguém desistir de algo apenas um pouco, por causa do Senhor, ele colherá o cêntuplo de volta no banco celestial. Quem consegue obter um juro tão alto? O depósito de um dólar renderá cem dólares. Você não consegue encontrar nenhum banco como esse no mundo. Somando-se a isso, há a vida eterna na era vindoura.
Em muitas porções de Mateus, a frase “vida eterna” é usada como sinônimo da palavra “reino”. Nessas porções, os vivos são os que entram no reino. Por exemplo, Mateus 7.14 diz que a porta é estreita e apertado é o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que a encontram. Hoje, muitos pregam o evangelho usando essa passagem, e exortam as pessoas a entrar pela porta estreita e tomar o caminho apertado. Todavia, se alguém fosse salvo por entrar pela porta estreita e por tomar o caminho apertado, a salvação não seria pela graça, mas por obras, e se tornaria uma recompensa por entrar pela porta estreita e por se tomar o caminho apertado. A vida eterna, como é revelada no livro de Mateus, não se refere à vida eterna de hoje, mas sim, à vida no reino milenar. Para poder reinar com Cristo no reino, uma pessoa deve entrar pela porta estreita e tomar o caminho apertado. Se alguém não obedecer aos mandamentos de Deus e à Sua vontade, perderá a vida eterna. Entretanto, isso não significa que ele irá perecer, mas perderá a vida eterna no reino. Se esse problema estiver resolvido, então o problema das eras na Bíblia estará claramente solucionado. Na era da igreja, todas as coisas são pela graça. Ao final da era da igreja, Deus estabelecerá Seu reino por meio do Seu Filho. No reino, somente os servos fiéis reinarão com Cristo ao serem ressuscitados de entre os mortos. A Bíblia nos mostra isso muito claramente.

A PUNIÇÃO NO REINO MILENAR

A Bíblia diz que muitos filhos de Deus terão uma punição específica. Muitos cristãos têm um andar inadequado. Eles não vivem de maneira piedosa. Amam o mundo e andam conforme a própria vontade. Adoram a Deus segundo a maneira do homem. Não obedecem à Palavra de Deus ao cuidar da obra de Deus, mas em vez disso fazem o que eles mesmos gostam de fazer. Eles tentam agradar a homens. Buscam a glória do homem em vez da glória de Deus e não querem ocupar o mesmo lugar de vergonha que o Senhor ocupou. Eles cometeram muitos erros e pecados e não foram disciplinados pelo Senhor nesta era. Após morrer e ser ressuscitados naquele dia, poderão eles reinar com o Senhor? A Bíblia diz que primeiro devemos sofrer e suportar injúrias com Ele, antes que possamos reinar e ser glorificados com Ele (2 Tm 2.12). Muitos cristãos, não apenas nunca sofreram, como têm muitos pecados. Eles amam o mundo e andam segundo a carne. Quando deixarem o mundo, eles ainda terão muita injustiça e muitos pecados que não foram tratados. A Bíblia nos mostra que tais cristãos terão uma punição específica e definida.
Mateus 18.23-35 fala de um servo sendo perdoado de suas dívidas pelo seu senhor. Outro conservo tinha uma dívida com o primeiro servo. Mas o servo que foi perdoado de sua dívida não queria perdoar seu conservo. O primeiro servo definitivamente representa uma pessoa salva, pois ele rogou pelo perdão do seu senhor, e o senhor, movido pela compaixão, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Todos somos pessoas desamparadas vindo ao Senhor buscar graça. O Senhor perdoou nossa dívida e deixou-nos ir. Se o primeiro servo representa um cristão, então o que quer que ele expresse, representa aquilo que iremos expressar. A maneira como o senhor lida com seu servo será a maneira como o Senhor lidará conosco. Os versículos 28-30 dizem: “Saindo, porém, aquele servo”. Ele saiu porque agora era um homem livre. “Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu conservo, prostrando-se, implorava-lhe dizendo: Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que pagasse a dívida”. Essa passagem é sobre um cristão que não perdoa o pecado de outro. Você é alguém que foi perdoado, mas não deseja perdoar. O Senhor perdoou-lhe dez mil talentos. Agora seu irmão lhe deve apenas cem denários, mas você diz em seu coração que ele deve restituir-lhe. Ele deve devolver-lhe até o último centavo. Qual será, então, o resultado? Os versículos 31-33 continuam: “Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se grandemente, e foram e relataram minuciosamente ao seu senhor tudo o que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o a si, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, ter misericórdia do teu conservo, como também eu tive misericórdia de ti?” Que aquela pessoa representa uma pessoa salva é novamente provado pelo fato de que o Senhor teve misericórdia dele. O Senhor disse: Não devias tu, igualmente, ter misericórdia do teu conservo, como também eu tive misericórdia de ti? Não devias perdoar teu conservo como eu te perdoei? Isso prova que essa pessoa representa alguém que recebeu a misericórdia e o perdão de Deus. Ele deve ser alguém que já tem a vida, contudo, não perdoa outros cristãos. “E, irando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse toda a dívida”. Essa pessoa a quem fora concedida misericórdia e fora perdoada foi entregue aos verdugos até que pagasse toda a dívida ao Senhor. Se ele podia devolver tudo o que devia é outra questão. O fato é que ele teria de sofrer. Isso nos mostra que se um cristão não perdoar a outro, naquele dia o Senhor lidará com ele da mesma forma como ele lidou com os outros. Se você não perdoar seu irmão, o Senhor lidará com você segundo a sua atitude implacável.

MISERICÓRDIA E JULGAMENTO

Sabemos que nosso Deus é um Deus justo. No futuro, no trono de julgamento, Ele nos julgará segundo a justiça. Entretanto, apesar de haver justiça no trono de julgamento, também haverá misericórdia. Se você mostra misericórdia para com os outros, o Senhor será misericordioso para com você. Se você é implacável para com os outros, e se você é tão justo e intransigente com as falhas e fraquezas dos outros, o Senhor lidará com você apenas com justiça naquele dia. Se você é misericordioso para com os outros, o Senhor mostrará misericórdia para com você. Lucas 6.37 diz que se você não julgar, não será julgado; se você não condenar, não será condenado, e se você perdoar, será perdoado. Alguns cristãos são mesquinhos demais hoje. Ao criticarem os outros, eles apontam cada erro cometido. Quando dão o melhor de si para criticar e julgar os outros, eles devem ser cuidadosos. No futuro, Deus lidará com eles da mesma maneira com que eles lidam com os outros. Com a medida com que medir, você será medido. Se você dá boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, o Senhor lhe dará da mesma forma. Aquele que perdoa, será perdoado, e àquele que mostra misericórdia, misericórdia será mostrada. Portanto, a Bíblia diz que a misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2.13). Há uma coisa sobre a qual o juízo não pode triunfar — sobre o fato de uma pessoa mostrar misericórdia para com os outros por toda sua vida. Não estamos livres de erros. Contudo, se mostrarmos misericórdia para com os outros hoje, Deus será incapaz de lidar conosco. Muitos cristãos são incapazes de perder quando lidam com os outros. Eles discutem o tempo todo com os outros, dão pouca razão aos outros e concedem a si mesmos toda a razão. Mas hoje, pelo contrário, deveríamos mostrar misericórdia para com os outros. Quando chegar o tempo do julgamento, haverá alguns contra os quais nem mesmo o Senhor do juízo será capaz de levantar coisa alguma. Isso não significa que o homem possa propositadamente alterar o mandamento de Deus. Significa apenas que, se você é misericordioso com os outros enquanto viver na terra, Deus será misericordioso com você. Sua misericórdia hoje triunfará sobre seu juízo amanhã. A maneira como você julga os outros será a maneira como será julgado. Esta graça é justa. A forma como você trata os outros será a mesma forma como o Senhor o tratará. A sua maneira de lidar com os outros moldará um vaso, com o qual Deus medirá o julgamento para você. Tiago 2.13 diz: “Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo”. Aqueles que não usam de misericórdia para com os outros serão julgados sem misericórdia. Mas, para aqueles que usam de misericórdia para com os outros, a misericórdia triunfará sobre o juízo. A sua misericórdia excederá o juízo. Isso é um fato maravilhoso.
Mateus 18 nos mostra com clareza que os filhos de Deus ainda podem cair nas mãos dos verdugos. Se isso ocorrer, eles terão de permanecer ali até pagar toda a dívida. É claro que não há como quitar toda a dívida. Mas pelo menos chegará o dia em que eles aprenderão a ser misericordiosos e a perdoar aos outros assim como o Senhor usou de misericórdia para com eles e lhes perdoou. Naquele tempo eles terão de usar de misericórdia para com outros. Por isso, no versículo 35 o Senhor diz: “Assim também Meu Pai celeste vos fará, se de coração não perdoardes cada um a seu irmão”. Essa porção da Palavra não é falada aos incrédulos, mas aos cristãos, e mostra a relação que existe entre o Pai celeste e Seus filhos, e entre os irmãos. Antes dessa porção da Palavra, Pedro perguntou ao Senhor: “Até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe ei de perdoar? Até sete vezes?” (Mt 18.21). O Senhor lhe disse que deveria perdoar até setenta vezes sete. Em seguida o Senhor falou sobre os dois servos. Se não perdoar a seu irmão, Pedro deparará com punição. A palavra do Senhor mostrou a Pedro que existe a possibilidade de ser entregue aos verdugos; existe a possibilidade de ser lançado em prisão. Se para Pedro existe a possibilidade de ser entregue aos verdugos e atirado na prisão, para nós também há a possibilidade de ser tratados da mesma forma. Essa é a razão de o Senhor usar o plural “vos” no versículo 35. Sua palavra não é apenas para Pedro, é para cada um de nós. Se não perdoarmos de coração a cada um de nossos irmãos, o Pai celeste fará a mesma coisa conosco. Por favor, lembre-se de que a nossa salvação eterna no novo céu e nova terra é inabalável. Somos gratos ao Senhor pois isso é pela graça. Mas se hoje nossos problemas não forem tratados especificamente, ainda sofreremos punição específica no reino futuro.

A Maneira de Deus Lidar com os Pecados dos Cristãos — A GEENA DE
 FOGO NO REINO

Há muitas passagens na Bíblia que mencionam a punição de Deus para os cristãos derrotados, no reino milenar. Examinaremos agora essas passagens e, posteriormente, chegaremos a uma conclusão sobre elas.

A ENTRADA E A POSIÇÃO NO REINO

Consideremos primeiramente Mateus 18.1-3: “Naquela hora, aproximaram-se de Jesus os discípulos, perguntando: Quem é o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando a Si uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: Em verdade vos digo que, se não vos  converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”. Aqui os discípulos fizeram uma pergunta sobre o reino dos céus, uma pergunta acerca da posição no reino. Não se trata de uma pergunta envolvendo salvação e perdição, mas diz respeito a ser grande ou pequeno, superior ou inferior, no reino. O Senhor Jesus mostra-nos que, a menos que nos convertamos e nos tornemos como crianças, não poderemos entrar no reino dos céus. A seguir, o versículo 4 diz: “Portanto, aquele que a si mesmo se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus”. O versículo 3 nos dá a condição para entrar no reino, enquanto o versículo 4 nos dá a maneira de ser grande no reino. O versículo 3 diz que devemos converter-nos e tornar-nos como crianças antes de poder entrar no reino, e o versículo 4 diz que se continuarmos a ser crianças e nos humilharmos, seremos os maiores no reino dos céus. Isso nos mostra que no reino devemos continuar da mesma maneira que começamos. A direção que tomamos para entrar no reino deve ser a mesma para continuar nele. Para entrarmos no reino dos céus, temos de converter-nos e tornar-nos como crianças; e para sermos grandes no reino dos céus, temos de continuar a ser humildes como crianças. Aqui o Senhor continua a ressaltar a questão de sermos como crianças.
Em seguida, o Senhor diz: “E qualquer que acolher uma criança, tal como esta, por causa de Meu nome, a Mim Me acolhe” (v. 5). Quem quer que acolha alguém como esta criança por causa do nome de Cristo, isto é, alguém que se converte e se torna como uma criança e continua a ser humilde como esta criança, recebe a Cristo. “Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar” (v. 6). Essa palavra indica que fazer alguém tropeçar é um problema maior do que sofrer e ser morto. Suponha que alguém o matasse e atirasse seu corpo ao mar. Você nem mesmo seria enterrado adequadamente, o que sem dúvida seria uma tragédia. No entanto, se você fizer alguém tropeçar, seu destino será pior do que esse. O versículo 7 diz: “Ai do mundo por causa dos tropeços; porque é necessário que venham tropeços, mas ai do homem por quem vem o tropeço.”

A GEENA DE FOGO NO REINO

Os versículos 1 a 7 de Mateus 18 são palavras gerais do Senhor, e podemos mencioná-las de maneira breve. Queremos dar maior atenção às palavras que iniciam o versículo 8. Aqui o Senhor Jesus estende o assunto para dar ênfase que não apenas é errado fazer os outros tropeçarem, mas até mesmo fazer tropeçar a si mesmo é questão séria e grave. O versículo 8 diz: “Se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o, e lança-o de ti”. A quem se refere o “ti” aqui? Nos versículos 3 a 7, “vos” refere-se aos discípulos que fizeram a pergunta no versículo 1. Após o Senhor Jesus responder-lhes, Ele lhes disse para serem vigilantes e não serem tropeço para os outros. As palavras do Senhor o versículo 8 são dirigidas às mesmas pessoas. Se sua mão ou seu pé faz com que você tropece, é melhor cortá-los e lançá-los fora. É claro que isso não deve ser tomado literalmente. Se as suas mãos roubam e seus pés andam por caminhos indevidos, isto é, se existe pecado e lascívia em você, você deve lidar com eles. “Melhor te é entrar na vida aleijado ou coxo do que, tendo duas mãos ou dois pés, ser lançado no fogo eterno” (v. 8).
O Senhor mostra-nos aqui que se os cristãos cometerem pecados e os tolerarem, eles sofrerão: ou serão lançados no fogo eterno com as duas mãos e os dois pés, ou entrarão na vida com uma mão ou um pé. Há também os que não controlarão suas concupiscências e serão lançados no fogo eterno. O fogo é um fogo eterno, mas aqui não diz que eles permanecerão no fogo eterno para sempre. O que o Senhor Jesus não disse é tão significativo quanto o que Ele disse. Se uma pessoa tornou-se cristã, mas suas mãos ou pés pecam o tempo todo, ela sofrerá a punição do fogo eterno na época do reino dos céus; ela não sofrerá essa punição eternamente, mas apenas na era do reino. Que significa cortar uma mão ou um pé? Quando um homem corta sua mão ou pé, ele ainda pode pecar. Se não tiver pé, ele pode andar de carro. Se uma de suas mãos é cortada, ele ainda pode pecar com a outra mão. A intenção do Senhor não é que cortemos a mão ou o pé, pois mesmo que cortemos uma mão, ainda podemos não remover nossa lascívia. Portanto, esta palavra não deve referir-se ao corpo exterior, mas à concupiscência interior. O que temos de arrancar é aquilo que nos força a pecar. Outra coisa que temos de perceber é que a pessoa da qual se fala aqui é um cristão, pois somente um cristão já tem todo o corpo limpo e pode assim entrar na vida após lidar com a lascívia em um único membro do seu corpo. Para os incrédulos não seria suficiente cortar uma mão ou um pé, porque mesmo que eles cortassem ambas as mãos e ambos os pés, ainda assim iriam para o inferno. A fim de entrar no reino dos céus, é melhor um cristão ter o corpo incompleto do que ir para o fogo eterno por causa de um tratamento incompleto. A seguir, o versículo 9 diz: “Se o teu olho te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora de ti; melhor te é entrar na vida com um só olho do que, tendo dois olhos ser lançado na Geena de fogo”. Isso nos mostra que se uma pessoa salva não lida com sua lascívia, ela não será capaz de entrar na vida, mas irá para o fogo eterno. O fogo eterno aqui é a Geena de fogo. A Bíblia nos mostra que um cristão tem a possibilidade de sofrer a Geena de fogo. Evidentemente, embora possa sofrer a Geena de fogo, ele não sofrerá para sempre, mas sofrerá somente durante a era do reino. Mateus 18 não é a única porção das Escrituras que diz isso. Em outras porções da Bíblia também há o mesmo ensinamento. Por exemplo, no Sermão do Monte em Mateus 5— 7 há palavras claras do mesmo tipo. Mateus 5.21-22 diz: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem disser a seu irmão: Raca, estará sujeito ao julgamento do Sinédrio; e quem lhe disser: Moré, estará sujeito à Geena de fogo”. No início do capítulo cinco, lemos que o Senhor Jesus viu a multidão, contudo Ele não ensinou à multidão. Pelo contrário, Ele ensinou aos discípulos (v. 1). O Sermão no Monte é para os discípulos. Portanto, aquele que insulta a outro, no versículo 22, é um irmão. Ele chama outro irmão de “Raca”, que quer dizer “imprestável” ou tolo. Quando chama seu irmão dessa forma, ele fica sujeito à Geena de fogo. Isso não se refere a uma pessoa não-salva, pois um não-salvo irá ao inferno mesmo que não chame ninguém de tolo. Toda vez que a Bíblia fala sobre obras, ela se refere a alguém que pertence a Deus. Se uma pessoa não pertence a Deus, não há necessidade de mencionar tais coisas. Aqui, se trata de uma pessoa salva, um irmão, mas por ter ofendido a seu irmão ele está sujeito à Geena de fogo.O versículo 23 diz: “Se estiveres apresentando a tua oferta no altar e, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti”. Muitas vezes as pessoas guardam coisas contra nós de propósito, e não há nada que possamos fazer sobre isso; mas se alguém se queixar por causa do nosso insulto, devemos ser cuidadosos ao trazer a oferta ao altar. Se pensar mal de um irmão e falar algo contra ele, você deve ir a ele e lidar com essa questão. “Deixa ali perante o altar a tua oferta e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, vem apresentar a tua oferta” (v. 24). O importante é reconciliar-se com seu irmão. O versículo 25 diz: “Entra em acordo sem demora com o teu adversário enquanto estás com ele a caminho”. Seu irmão é quem se queixa, e você é o réu. Agora ele o está levando ao tribunal: “Para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas lançado à prisão” (v. 25). Tal fato ocorrerá no reino. O reino será muito rigoroso. Agora direi algumas palavras francas e sérias. Dois irmãos ou duas irmãs que estejam em discórdia não podem estar juntas no reino. No reino vindouro, haverá somente amor e misericórdia; apenas os que amam e têm misericórdia dos outros poderão estar no reino dos céus. Se estou envolvido em uma discussão com um irmão, e se a questão não for resolvida nesta era, então, no futuro, ou ambos seremos excluídos do reino, ou somente um de nós entrará. Não será possível ambos entrarmos. É impossível termos problemas uns com os outros e ainda reinar ao mesmo tempo no milênio futuramente. No reino todos os cristãos serão unânimes. Não haverá absolutamente quaisquer barreiras entre duas pessoas. Se hoje enquanto estamos na terra, tivermos algum atrito com qualquer irmão ou irmã, se tivermos obstáculos com qualquer irmão ou irmã, temos de ser cuidadosos. Poderá ocorrer de nós entrarmos e o outro ser excluído, ou de o outro entrar e de nós sermos excluídos, ou de ambos sermos excluídos. O Senhor diz que enquanto estiver com seu irmão a caminho, você deve reconciliar-se com ele. Isso significa que enquanto você e ele estiverem vivos e antes que o Senhor Jesus volte, você tem de reconciliar-se com seu irmão. O Senhor não irá tolerar que dois inimigos fiquem queixando-se um do outro no reino. Hoje podemos fazer queixas sobre os outros com muita facilidade; mas tais queixas vão manter a nós, ou a outros, ou a ambos, do lado de fora do reino. Parece que hoje a igreja é muito livre, mas não será assim naquele dia. “Enquanto estás com ele a caminho”, diz o Senhor. Se você morrer, se ele morrer ou se o Senhor Jesus voltar, esse caminho terá acabado. Portanto, você deve resolver a questão rapidamente, antes que o Senhor volte e enquanto você e ele estão a caminho. “Para que o adversário não te entregue ao juiz”, o juiz é o Senhor Jesus; “o juiz ao oficial de justiça”, o oficial de justiça é o anjo; “e sejas recolhido à prisão”. Isso nos mostra claramente que um irmão que tenha ofendido a outro irmão sofrerá uma punição muito severa.Se estudar esta passagem cuidadosamente, você verá que a prisão aqui é a Geena de fogo no versículo 22, porque o versículo 23 começa com “portanto”. As palavras do versículo 23 em diante são uma explicação das palavras do versículo 22. O versículo 22 diz que qualquer um que chame seu irmão de Moré estará sujeito à Geena de fogo. Os versículos 23 a 25 seguem dizendo que aqueles que não se reconciliarem com seus irmãos serão lançados na prisão. Portanto, a prisão no versículo 25 é evidentemente a Geena de fogo do versículo 22. Está claro que não existe possibilidade de um cristão perecer eternamente; contudo, se um cristão tiver qualquer pecado de que não tenha se arrependido e confessado, o qual não foi perdoado, ele estará sujeito à Geena de fogo. Note quão severas são as palavras do Senhor no versículo 26: “Em verdade te digo: De modo algum sairás dali, enquanto não pagares o último centavo”. Existe a possibilidade de sair, se a pessoa pagar tudo. Na era vindoura, ainda há a possibilidade de perdão, mas a pessoa não poderá sair até que pague o último centavo e ponha tudo em ordem com seu irmão. Os versículos 27 a 30 formam outra seção. Essa seção é semelhante à anterior. “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para cobiçar, no coração já adulterou com ela”. O mandamento no Antigo Testamento diz que não devemos cometer adultério, mas o mandamento do Novo Testamento diz que não podemos sequer ter pensamentos adúlteros. Aqui, a palavra “mulher”, na língua original, refere-se à esposa de outro homem. Se a mulher não fosse esposa de outro homem, não haveria possibilidade de adultério, pois adultério é a infidelidade no casamento. Se não for a esposa de outro homem, não pode ser considerado como adultério; é fornicação. A Bíblia julga a fornicação, mas não tanto quanto ela julga o adultério. Aqui se diz que um pensamento adúltero é produzido com relação à esposa de outro.
Segundo, o significado da palavra “olhar”, na língua original, não é tão amplo quanto o da nossa palavra “olhar”. A palavra “olhar” na língua original coloca muitas pessoas nesta categoria de pecado, pois ela não implica um olhar casual, mas um olhar intencional. Olhar pode ser simplesmente olhar de relance, de modo acidental para algo na rua. “Observar” é uma palavra melhor, pois observar é um olhar intencional. Além disso, na língua original o observar aqui é realizado com um propósito específico. Podemos traduzir assim: “qualquer que observar uma mulher com intenção impura”. O que o Senhor condena não são os pensamentos repentinos que entram na mente. Ele está lidando é com continuar observando com intenção impura, depois que um pensamento repentino entra. Em outras palavras, nossos pecados não residem na incitação da carne por Satanás dando-nos pensamentos sujos. Nossos pecados consistem no observar adicional, após Satanás ter-nos dado um pensamento repentino. Isso é adultério. Os pensamentos repentinos vêm de Satanás. O observar vem de você mesmo. Os pensamentos repentinos são tentações. O seu observar é a sua aceitação das tentações. Devemos saber como distinguir essas duas coisas. O versículo 29 diz: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti”. Se o seu olho direito leva-o a observar, arranque-o e jogue-o fora. “Pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado na Geena”. Se a lascívia não for removida, se o pecado não for tratado, a pessoa será “lançada na Geena”. Em seguida o versículo 30 diz: “E se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros e não vá todo o teu corpo para a Geena”. O Senhor Jesus falou essas palavras aos discípulos. Cristo disse àqueles que Lhe pertenciam, cuja justiça deveria exceder à dos fariseus e escribas (v. 20), que eles tinham de tratar com seus pecados. Se permitissem que o pecado se desenvolvesse neles, embora não fossem perecer eternamente, havia a possibilidade de que fossem para a Geena. Isso é o que o Senhor nos mostra no livro de Mateus.

TEMER AQUELE QUE TEM AUTORIDADE PARA LANÇAR NA GEENA

Agora vejamos o que dizem outras passagens da Bíblia acerca desta questão. Lucas 12.1 diz: “Aglomerando-se, entrementes, as miríades da multidão, a ponto de se atropelarem uns aos outros, pôs-se Jesus a dizer primeiro aos Seus discípulos”. Ele não falou a todos, mas aos discípulos primeiramente. “Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia”. A palavra do Senhor aqui prova que os discípulos não são os hipócritas; eles são o povo de Deus. A seguir, nos versículos 4 e 5, o Senhor disse: “Digo-vos, amigos Meus: Não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei Aquele que, depois de matar, tem autoridade para lançar na Geena”. A palavra de Deus é suficientemente clara. Ela nos diz, não uma vez, mas muitas vezes, que é possível um cristão ser “lançado na Geena”. Isso está dito claramente aqui. O Senhor disse aos discípulos para não temerem aqueles que matam o corpo, mas depois disso nada mais podem fazer. Eles não deveriam temer o que alguns poderiam fazer ao corpo deles, uma vez que isso é tudo o que conseguiriam fazer. No entanto, eles deveriam temer Aquele que pode lançá-los na Geena.
Os versículos seguintes também provam que aqui o Senhor está se referindo aos discípulos, isto é, aos cristãos. Os versículos 6 e 7 dizem: “Não se vendem cinco pardais por dois asses? E nenhum deles é esquecido diante de Deus. Mas até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais; mais valeis do que muitos pardais”. Apenas os cristãos são pardais. Os não-salvos não são pardais; eles são corvos. Em Mateus, os lírios do campo e também os pardais referem-se aos cristãos. Os pardais não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros (Mt 6.26). Isso se refere aos cristãos e não aos incrédulos. Aqui se diz claramente que é possível os “pardais” de Deus serem “lançados na Geena”. Note também que é dito que os cabelos dessas pessoas foram todos contados. Deus não teria tamanho cuidado com incrédulos. Portanto, o que se quer mostrar aqui é que os que pertencem ao Senhor não precisam temer o que possam fazer a seus corpos. O único a quem eles devem temer é Deus, pois Ele tem autoridade para lançá-los “na Geena”. Devemos temer a Deus que possui a autoridade para lidar com nossa alma, e não os que apenas podem matar nosso corpo.
Os dois versículos seguintes, 8 e 9, são muito preciosos. “Digo-vos ainda: Todo aquele que, em Mim, Me confessar diante dos homens, também o Filho do Homem, nele, o confessará diante dos anjos de Deus; mas aquele que Me negar diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus”. Os cristãos podem ser divididos em duas classes: os que confessam e os que não confessam o Seu nome. Alguns confessam Seu nome, enquanto outros não. Alguns estão preparados para ser perseguidos, enquanto outros não estão. Alguns só serão cristãos secretamente; são os que desejam a glória do homem. Outros confessam o Senhor abertamente e estão prontos a ser mártires. Portanto, vocês podem ver a quem o Senhor se refere nesses versículos de Lucas 12. Não devemos temer qualquer sofrimento que venha por confessar Seu nome. Se não confessamos o Seu nome, nosso pecado é mais sério que todos os outros pecados. Consequentemente, Ele não confessará nossos nomes diante dos anjos de Deus. Quando você considerar os versículos 1 a 9 como um todo, verá que o “lançar na Geena” no versículo 5 é equivalente ao Senhor não confessar o nome deles diante dos anjos no versículo 9. A confissão diante dos anjos pode ser ilustrada com um exemplo. Suponha que um jovem tenha feito algo errado e termine numa cadeia. Seus pais ou outros membros da família podem pagar a fiança e livrá-lo do problema. Mas suponha que o jovem seja realmente mau, e seus pais sintam que ele precisa de algum sofrimento. Como resultado, seus pais não pagam a fiança. O mesmo ocorre com os cristãos. A não ser que o Senhor confesse nossos nomes, seremos punidos. Há uma palavra maravilhosa em Apocalipse 3.5: “O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos”. No início do reino, antes do trono de julgamento, os anjos de Deus levarão os cristãos até Deus. O livro da vida estará ali. No livro da vida estão registrados todos os nomes dos cristãos. Haverá muitos anjos e muitos cristãos. O Senhor Jesus também estará ali. Um ou mais anjos, então, lerão em voz alta os nomes do livro da vida, e o Senhor Jesus confessará alguns dos nomes. Aqueles cujos nomes Ele confessar, por conseguinte, entrarão no reino. Quando outros nomes forem lidos, o Senhor não dirá nada. Em outras palavras, Ele não confessará seus nomes. Os anjos, então, colocarão um sinal negativo nesses nomes. Portanto, os nomes dos vencedores estarão sem marca no livro da vida, enquanto os nomes dos derrotados estarão marcados. Quanto aos não-salvos, seus nomes nem sequer aparecem no livro da vida. Um grupo de pessoas não terá seus nomes no livro; outro grupo terá seus nomes ali, mas os nomes estarão marcados; e um terceiro grupo, à época do reino, terá seus nomes preservados tal qual quando inicialmente foram escritos no livro.
Se o seu nome estiver marcado no trono de julgamento, isso não significa que você estará acabado e não mais será salvo. Apocalipse 20.15 diz: “E, se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro do lago do fogo”. Isso nos mostra que aqueles cujos nomes não estiverem registrados no livro da vida estarão eternamente no lago do fogo. Aqueles cujos nomes não aparecerem no livro da vida serão lançados no lago do fogo. Isso ocorrerá no início do novo céu e nova terra. Não podemos dizer que os que são citados em Apocalipse 3 não têm seus nomes escritos no livro da vida. Podemos dizer apenas que seus nomes foram marcados. Por conseguinte, eles não serão lançados no lago do fogo, pois seus nomes já estão no livro da vida. A salvação eterna é muito segura; ela jamais pode ser abalada. Por outro lado, porém, há um perigo. Se formos tolerantes com o pecado, se não perdoarmos aos outros, se cometermos adultério, se insultarmos os irmãos, se temermos sofrer, ser envergonhados, perseguidos e se temermos confessar o Senhor, temos de ser cuidadosos, pois Deus nos lançará “na Geena” para sermos punidos temporariamente.

O DANO DA SEGUNDA MORTE

Na Bíblia existem outras passagens similares que também falam destas questões. Apocalipse 2.11 nos diz que os que vencerem não sofrerão o dano da segunda morte, e Apocalipse 20.6 diz que um grupo de pessoas não morrerá novamente e a segunda morte não terá autoridade sobre elas. A segunda morte é o lago de fogo citado no final de Apocalipse 20. Isso significa que os derrotados sofrerão o dano da segunda morte. Ainda que não sofram a segunda morte, irão sofrer o dano da segunda morte. Uma vez que uma pessoa seja salva, ela não sofrerá a segunda morte. Contudo isso não garante que ela não sofrerá o dano da segunda morte.
Sabemos que o tempo do lago do fogo e enxofre será o tempo no qual terá início o novo céu e nova terra. Naquela época, Satanás, o mundo e a morte serão todos lançados no lago do fogo (Ap 20.10, 14). Também naquele tempo quem não tiver seu nome registrado no livro da vida será lançado no lago do fogo. Aquele será o tempo em que os incrédulos serão oficialmente postos no lago do fogo. Entretanto, durante o milênio, os cristãos derrotados sofrerão o dano da segunda morte. Obviamente tal tratamento não será igual ao que os incrédulos terão, pois não será para a eternidade. Se um cristão estiver unido ao mundo e se ele amar o mundo e as coisas do mundo, o Senhor permitirá que ele participe da corrupção, para sofrer um pouco daquilo que os incrédulos sofrerão. Este é o significado de sofrer o dano da segunda morte em Apocalipse 2, e esta palavra é dita aos cristãos. A palavra “dano” na língua original significa machucar alguém e prejudicá-lo. A segunda morte causará sofrimento em alguns. A partir do grande trono branco, haverá a própria segunda morte, que é o sofrimento eterno no lago do fogo e enxofre. No milênio, porém, haverá somente o dano da segunda morte. Se alguns cristãos não tiverem lidado com seus pecados, eles ainda sofrerão o dano e a dor da segunda morte.

O FIM É SER QUEIMADO

Leiamos agora duas passagens do livro de Hebreus. Hebreus 6.4-6 diz: “É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento”. Esses versículos descrevem uma pessoa que possui muitas qualificações. É impossível que ela seja uma pessoa não-salva. Ela viu a luz, e viu o Deus revelado, o Unigênito do Pai; conheceu o amor de Deus e provou o dom celestial, o único dom, Jesus Cristo. Na Bíblia, dons, como um substantivo plural, refere-se aos dons do Espírito Santo, e dom, como um substantivo singular refere-se ao único dom, o unigênito Filho de Deus, como está em João 3.16. Esse dom é diferente dos dons do Espírito Santo. Essa pessoa não apenas tem Deus e o Senhor Jesus, mas também tornou-se participante do Espírito Santo. Ela conhece a Deus, provou do Senhor Jesus e tem o Espírito Santo vivendo dentro de si. Além disso, ela provou a boa palavra de Deus e os poderes da era vindoura. Os poderes da era vindoura são os poderes do reino milenar. Os dons e os poderes do Espírito Santo são particularmente abundantes no reino milenar. O reino milenar será repleto de obras de poder, milagres, maravilhas e outras coisas semelhantes. Dizer que alguém provou os poderes da era vindoura significa dizer que ele provou as coisas do reino milenar. Portanto, esta pessoa é definitivamente uma pessoa salva. Se tal pessoa deixa hoje a palavra de Cristo, que ela recebeu quando creu, e escorrega e cai, não há arrependimento para ela. Ela não pode começar tudo de novo para crer no Senhor Jesus, pois já tem uma longa história com o Senhor. Ela recebeu muita chuva, porém caiu, não produz mais coisas boas para Deus, mas tem produzido cardos e abrolhos. Tal pessoa é como “a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela, e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada, recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada” (vs. 7-8).
Perceba três coisas acerca desta pessoa e seu fim. Primeira coisa, ela é “rejeitada”. A palavra “rejeitada” aqui é a mesma usada em 1 Coríntios 9.27, onde Paulo disse que temia que embora tivesse pregado o evangelho a outros, ele mesmo fosse desqualificado e não fosse mais usado por Deus nesta era e no reino. Ser rejeitado, ser desqualificado, significa que Deus rejeitará tal pessoa e não a usará mais no reino. Segunda coisa, esta pessoa “perto está da maldição”. O versículo não diz que ela receberá maldição, mas a punição que receberá é semelhante a uma maldição. Ela não perecerá eternamente, mas sofrerá o dano da segunda morte e padecerá a Geena de fogo no reino. Terceira coisa, “seu fim é ser queimada”. Que é isso? Por exemplo, há algumas semanas eu quis fazer uma queimada em algumas terras em Jen-ru. Poderia eu queimar a terra eternamente? Poderia queimar a terra pelo menos por cinco anos? O queimar aqui se refere a algo temporário.
Aqui se fala sobre queimar, enquanto Mateus 5 diz que alguns estarão sujeitos à Geena de fogo. Se você puser essas duas passagens juntas, elas se combinarão. Se um cristão recebe todas essas coisas maravilhosas, mas não produz bom fruto para Deus, e sim, cardos e abrolhos, ele será queimado. Entretanto, esse queimar será apenas por breve tempo. Até mesmo um aluno do primário sabe que se você atear fogo em um terreno, o fogo irá parar após todo o mato ser queimado. A queimada no reino durará no máximo mil anos. Quanto tempo vai durar a queimada, na verdade, dependerá de você. Se você tiver produzido muitos cardos e abrolhos, então haverá mais queima. Se tiver produzido poucos cardos e abrolhos, então haverá menos queima.
Quantas coisas há em nós que ainda não foram tratadas? Quantas coisas não foram limpas pelo sangue do Senhor, e quantas coisas ainda não foram confessadas, tratadas e resolvidas com os irmãos e as irmãs? São esses os cardos e abrolhos a que o Senhor se refere. Mateus 5 diz que ninguém poderá sair dali enquanto não pagar o último centavo. Toda dívida terá de ser paga. Quando tudo houver sido queimado, toda dívida terá sido paga.
Um cristão é semelhante a um campo, e seu comportamento indevido é comparado a cardos e abrolhos. Suponha que eu possua um terreno de cinco alqueires. Seria possível, depois da queimada, que somente dois alqueires tenham sido deixados intactos e três tenham sido queimados? Isso é impossível. O que é queimado são os cardos e abrolhos. O terreno em si não pode ser queimado. Em outras palavras, somente aquelas coisas que foram amaldiçoadas em Adão e deveriam ser removidas, mas não foram, é que serão queimadas. Elas serão o material que será queimado na Geena de fogo. A vida que Deus nos concedeu não pode ser tocada pelo fogo. Portanto, depois que os cardos e abrolhos forem queimados, o terreno ainda permanecerá. Nenhuma parte dele será tirada. Não há absolutamente nenhum problema com a nossa salvação, mas sim com o que vier a crescer sobre ela, com o que for proveniente da carne. Se tais coisas não forem tratadas com o sangue de Jesus, deveremos sofrer algum tratamento.
Agora vejamos Hebreus 10.26-29: “Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança”. Esses versículos referem-se a alguém que rejeitou a Cristo e voltou ao judaísmo.
Ele acha que gastando alguns dólares pode comprar um touro ou um bode como oferta pelo pecado. Se, porém, alguém conheceu a Cristo e voltou ao judaísmo, ele calcou aos pés o Filho de Deus e considerou Seu sangue como algo comum. Ele está tratando o Senhor como um touro ou um bode. Para ele não existe diferença entre o Senhor e um touro ou um bode. O versículo conclui: “E ultrajou o Espírito da graça”. Enquanto o Espírito Santo está lhe dando graça, ele O está insultando por voltar ao judaísmo. Esses versículos nos mostram o caminho de um apóstata. Eu não diria que tal pessoa seja salva; somente diria que pode ser que ela seja salva; talvez nem seja salva. O apóstolo não nos diz se tal pessoa é salva ou não. Ele diz apenas que, se uma pessoa veio a Cristo e depois voltou ao judaísmo, ela sofrerá pior punição. Seu fim é uma expectação de juízo e fogo vingador. Aqui vemos uma espécie de fogo.
Juntamente com todas essas passagens, temos também as próprias palavras do Senhor em João 15. O versículo 2 diz: “Todo ramo em Mim que não der fruto, Ele o corta; e todo o que dá fruto Ele o limpa”. Esses não são ramos que nada têm que ver com Ele; são ramos que estão Nele. O que é mostrado aqui, pode não referir-se à punição temporária, mas à disciplina nesta era. Mas atente para o versículo 6: “Se alguém não permanece em Mim, é lançado fora, como o ramo, e seca; e os apanham, lançam no fogo, e são queimados”. Alguns ramos serão lançados no fogo e queimados. Alguns ramos cresceram e produziram folhas verdes, mas não têm fruto. Embora tenham vida interiormente, eles não têm fruto exteriormente. O Senhor Jesus disse que eles serão lançados fora, secarão, e queimarão no fogo. Aqui vemos claramente que os cristãos podem ter de passar pelo fogo. Tendo lido todas essas passagens, podemos concluir que se um cristão não lidar adequadamente com seus pecados, haverá punição à sua espera. A Bíblia nos mostra nitidamente que tipo de punição será. Não será uma punição comum, mas a punição da “Geena de fogo”. Contudo será o fogo no reino, não o fogo na eternidade.
A questão agora é esta: Que tipo de pecado levará a essa condição? Desde que uma pessoa seja salva, é importante que ela lide com seus pecados. Nenhum dos pecados que ela tenha confessado, se arrependido, tratado e feito remissão pelo sangue do Senhor Jesus, voltará a ela no trono de julgamento. Tais pecados terão passado. Até mesmo o maior dos pecados terá passado. Mas existem muitos pecados que não serão omitidos; são os pecados que alguém contempla em seu coração. O Salmo 66.18 diz: “Se eu no coração contemplara a vaidade, o Senhor não me teria ouvido”. Quais são os pecados que o coração contempla? O coração é o lugar onde residem nosso amor e nossos desejos. O coração representa nossa emoção. Ele representa o homem psicológico. Se o coração contemplar a vaidade, o Senhor não nos ouvirá. Muitas confissões são feitas só porque a pessoa sabe que pecou, não há aversão pelo pecado, tampouco condenação do pecado. Tal pessoa o Senhor não ouvirá. Além disso, se temos com alguém um problema que não foi resolvido, ou se há coisas que precisam ser perdoadas e não foram, ou se procedemos mal com as pessoas ou com o Senhor, temos de tratar com estas coisas de modo específico. Ao mesmo tempo, temos de colocá-las debaixo do sangue do Senhor. Só então tais coisas estarão tratadas, e estaremos livres do julgamento vindouro.

RESUMO

Vamos agora resumir o que vimos. O futuro dos cristãos é muito simples. Para uma pessoa salva o assunto do novo céu e nova terra, incluindo toda a eternidade, está resolvido. No entanto, a era do reino é duvidosa. Ninguém ousa dizer algo sobre o que ocorrerá. O que  temos de resolver hoje é o problema do reino. No reino há muitas posições de cristãos.
Muitos reinarão com Cristo por ter trabalhado fielmente e por ter sofrido perseguição, vergonha e sofrimento. Alguns podem não ter sofrido perseguição, vergonha e sofrimento, contudo eles também não têm pecados. Eles viveram uma vida limpa. Apesar de não terem feito nada que mereça um mérito especial, eles pelo menos deram um copo de água para um pequenino por causa do nome do Senhor (Mt 10.42). Eles também receberão uma recompensa; entretanto, sua recompensa será bem pequena.
Na era do reino, alguns cristãos receberão recompensa no reino. Alguns receberão uma grande recompensa; outros receberão uma recompensa pequena. Os que não receberão recompensa também estão divididos em algumas categorias. Um grupo não entrará no reino de modo algum. A Bíblia não nos diz para onde eles irão; diz apenas que serão mantidos fora do reino, nas trevas exteriores (Mt 8.12; 22.13; 25.30; Lc 13.28). Eles serão deixados fora da glória de Deus. Haverá também muitos que, além de não terem trabalhado bem, têm pecados específicos que ainda não foram tratados. Eles são salvos, mas ao morrer, ainda têm pecados com os quais não trataram e dos quais não se arrependeram; eles ainda têm o problema do pecado. Esses tais serão temporariamente submetidos ao fogo, e sairão somente depois de terem pago todo seu débito. Eu não sei, na verdade, de quanto tempo esse período será, mas durará no máximo até o final do reino. Ainda há muitas coisas das quais não estamos esclarecidos acerca do futuro, mas a Bíblia mostrou-nos o suficiente. Embora haja detalhes que ainda não vimos, nós de fato sabemos o que os filhos de Deus enfrentarão. Alguns receberão uma recompensa; alguns experimentarão corrupção. Alguns serão aprisionados, e outros serão lançados no fogo e serão queimados.
A questão da nossa salvação está muito clara. Quando um homem crê no Senhor Jesus, tanto a salvação como a vida eterna estão determinadas para ele. Mas, da salvação até sua morte, as obras de uma pessoa, isto é, seus fracassos ou suas vitórias, determinarão seu destino no reino. Nosso Deus é um Deus justo. Por um lado, nossa salvação é livre, e os que crêem terão vida eterna. Ninguém pode contrariar esse fato. Por outro lado, não podemos pecar à vontade, simplesmente porque recebemos a vida eterna. Se produzirmos cardos e abrolhos, seremos queimados. Se o Senhor Jesus não pode desligar-nos de nossos pecados e se não resolvermos todas as coisas em nossa vida, Deus não terá escolha a não ser castigar-nos no futuro; Ele não terá escolha, senão purificar-nos com punições específicas, de maneira que possamos estar juntos com Ele no novo céu e nova terra. Deus é um Deus justo. O que Ele preparou também é justo. Desde que tenhamos visto estas coisas, devemos aprender a lição e acatar as advertências de Deus.

A ATITUDE ADEQUADA AO LER A BÍBLIA

Com relação à maneira de estudar a Bíblia, eu gostaria de mencionar algumas coisas. Primeiro, há um grupo de pessoas que acredita apenas na graça. Sempre que leem alguma coisa sobre o reino na Bíblia, eles a aplicam aos judeus. Se ouvir seus sermões e ler seus livros, perceberá que, invariavelmente, eles empurram para os judeus tudo o que se refere ao reino. Tudo o que se refere à graça é para a igreja, e todas as coisas terríveis são para os judeus. Para eles, todas as coisas penosas e difíceis e as exigências são para os judeus, não para nós. Isso é tolice. A Palavra de Deus é para Seus filhos, quer sejam judeus quer sejam gentios. Alguns dizem que Paulo nunca disse especificamente que suas epístolas foram escritas a gentios e, portanto, elas não são para os gentios. Contudo, esse tipo de explanação nada explica e mutila a Palavra de Deus. Outros dizem que as porções das Escrituras citadas anteriormente referem-se somente aos incrédulos. Mas como pode existir distinção entre vencedores e não-vencedores dentre os pecadores? Isso é conversa tola. A Palavra de Deus nos mostra essas questões de forma clara e definida. Devemos comer aquilo que Deus nos tem dado, quer seja doce quer seja amargo. Quando as pessoas ouvem sobre graça, elas ficam alegres; quando ouvem sobre o reino, ficam tristes. A Palavra, porém, é equilibrada. Por um lado, vemos graça; por outro lado, vemos justiça. Existe a fábula da águia e o gato. Certa vez um gato encontrou uma águia. A águia disse ao gato: “O céu é realmente vasto. Ele tem isso e aquilo. Você quer que eu o leve para o céu?” O gato disse: “Não, eu não tenho interesse em ir para lá”. Quando a águia perguntou por que não, o gato disse: “Não há camundongos no céu. Se houvesse camundongos lá, eu iria. Mas uma vez que não há, eu não irei”. O céu é tão santo; o pecado, o mundo e Satanás não estão ali. Se Deus levá-lo ao céu, você será capaz de viver ali? Se não mudarmos hoje, nós teremos de esperar até que sejamos dignos de entrar nele. É verdade que o Senhor Jesus nos salvou, mas subjetivamente falando, se não permitirmos que o Espírito Santo trabalhe o Senhor Jesus em nosso interior, Deus terá de nos castigar para que possamos receber benefício e ser considerados dignos de estar com Ele. Se apenas pregarmos a graça sem pregar o reino, a igreja sofrerá e os filhos de Deus sofrerão; e quando o reino vier, haverá sofrimento ainda maior. Eu devo falar, porquanto tenho o dever de falar. Admito que depois do meu falar nestes poucos dias, alguns aumentarão sua oposição contra mim. Se estas palavras são minhas, estou disposto a vê-los se oporem. Eu mesmo me oporia a elas. Contudo, se estas coisas são a Palavra de Deus e se Deus as tem dito, que posso eu fazer? Como desejaria não ter de falar sobre essas coisas. Como desejaria poder pregar algo que todos gostassem de ouvir. Eu não sou Mateus, não sou Marcos, não sou Paulo. Não escrevi o livro de Hebreus, e não escrevi Apocalipse. Se eu fosse o escritor, poderia mudar as coisas. Mas essas coisas são a Palavra de Deus. Deus tem-nas falado e tem determinado que elas sejam assim. Meus amigos, ao ler a Bíblia, vocês têm de ler aquilo que Deus disse. Vocês não devem considerar aquilo que o homem diz. Vocês devem cuidar somente do que Deus disse.
A maior dificuldade hoje ao estudar a Bíblia reside no preconceito na mente dos filhos de Deus. Eles têm aquilo que consideram como verdade e aquilo que consideram como heresia. Eles acham que tudo o que combina com eles é verdade, e tudo o que não combina com eles e difere deles é heresia. Não obstante o quanto a base seja bíblica, qualquer pensamento ou conceito contrário ao deles é considerado heresia. Mas se alguém tem tal atitude, tal pessoa está acabada. O que está em questão hoje é aquilo que Deus disse. Estou alegre em meu coração porque posso pregar a “heresia” da Palavra de Deus e posso opor-me à “verdade” do ensinamento do homem. Hoje temos de estar esclarecidos diante do Senhor. Não podemos estar sob nenhuma outra autoridade que não seja a Palavra de Deus. Não conheço nenhuma outra autoridade. Não sei o que é teologia; não sei o que é a palavra do homem; não sei o que é a tradição da igreja. Eu sei apenas o que a Bíblia diz, e somente o que ela diz é que interessa. Devemos sujeitar-nos somente a ela. Não podemos mudar a Palavra de Deus. A Palavra de Deus relata-nos o destino de Seus filhos. Ela nos conta o que experimentaremos no reino. Devemos prestar atenção a estas questões, pois cedo ou tarde nos depararemos com elas novamente. Se dermos atenção a elas, seremos cuidadosos na maneira de viver na terra hoje. A segunda coisa que devemos perceber é que somente os que compreendem a verdade podem opor-se à heresia. Uma heresia não pode opor-se a outra heresia. Mas todas as heresias não são heresia pura; elas são a verdade acrescentada de um pequeno erro. Heresia é acrescentar coisas erradas a coisas certas. Adicione um pouco do pensamento do homem ao pensamento de Deus e você terá uma heresia.
Por não conhecer plenamente a verdade na Bíblia, o catolicismo prega a doutrina do purgatório. Se você não conhece a verdade que temos liberado nas últimas reuniões, você não será capaz de dizer se a doutrina do purgatório está certa ou errada. Agora que você ouviu essas palavras, perceberá que a doutrina do purgatório está absolutamente errada. Você pode dizer que é heresia. Na Bíblia vemos que a disciplina de Deus sobre os cristãos ocorre no milênio, mas os católicos dizem que há um purgar ocorrendo hoje. Eles dizem que se um cristão não viver à altura do padrão na terra hoje, ele não será capaz de ir para o céu. Por conseguinte, ele terá de ser purgado. Portanto, eles dizem que tão logo um cristão morra, ele começa a ser purgado e é purgado até que a obra seja completada. Entretanto, não existe absolutamente tal ensinamento na Bíblia. A Bíblia nunca diz que assim que um cristão morre, ele será purgado no Hades. A Bíblia nos mostra que haverá a disciplina no reino no futuro, mas não há o purgar no Hades hoje.
Em segundo lugar, os católicos cometem outro grave engano. Eles pensam que se assegurarem para si mesmos indulgências enquanto estiverem vivos ou se após morrerem os padres orarem por eles, eles serão aliviados de alguma purificação do purgatório. Contudo, a Bíblia nunca diz algo semelhante a isso. A Bíblia diz somente que aquele que tem misericórdia dos outros obterá misericórdia. A oração dos padres não fará nada pelos mortos. A Bíblia nunca nos ensina a orar pelos mortos.
Em terceiro lugar, os católicos dizem às pessoas que um homem não será salvo até que tenha sido completamente purificado no purgatório. Isso é uma completa reviravolta do ensino da Bíblia. A Bíblia nos mostra que não há outro nome no céu ou na terra além do nome do Senhor Jesus pelo qual devamos ser salvos (At 4.12). Somente Ele pode salvar-nos.
Fora do Senhor Jesus, não há salvação. Disciplina e punição não são para salvação, mas para santificação. A questão da nossa salvação está determinada bem antes de Deus disciplinar-nos, mas ainda há coisas em nós que não combinam com Ele. Ainda existem imperfeições e áreas que não estão à altura do padrão. Portanto, existe disciplina nesta era e disciplina no reino vindouro.
Uma vez que uma pessoa esteja clara sobre a verdade bíblica, ela verá heresia no catolicismo romano. A Igreja Católica Romana toma uns poucos versículos e os utiliza para seu próprio proveito. No entanto, se conhecermos a verdade bíblica, perceberemos que a doutrina do purgatório anula a graça. Agradeço a Deus que, embora eu seja um pecador imundo, por meio do Senhor Jesus agora estou salvo. Quando eu morrer, não tenho mais de ser purgado, pois a salvação não depende de mim, mas do Senhor Jesus. Certamente estou salvo. Agora sabemos o que é disciplina. A disciplina é o meio de Deus fazer-nos perfeitos como Ele é perfeito. Ele nos castiga a fim de sermos como Ele, até mesmo para sermos o que Ele é. Isso nada tem a ver com nossa salvação. É um assunto dentro de Sua família. Finalmente, somente depois de conhecermos isso seremos capazes de lidar com a heresia no protestantismo. Hoje, entre os protestantes, estão sendo difundidos dois tipos de erros. Primeiro, um grupo de teólogos protestantes propõe que desde que um homem é “salvo, salvo para sempre”, e pode fazer qualquer coisa em sua conduta. Uma vez que um cristão é salvo eternamente, eles dizem, ele pode ser mau até morrer e ainda estará no reino. Ele, entretanto, ocuparia uma posição bem inferior no reino. Sua maior perda consiste em ocupar uma posição mais baixa no reino. Esse tipo de ensinamento fará com que o homem seja desleixado e irresponsável. Então, que é graça para eles? Para eles a graça é uma desculpa para desleixo e licenciosidade.
Há outro grupo de protestantes que diz que depois que uma pessoa crê, ainda existe a possibilidade de ela não vir a ser salva. Talvez ela esteja salva e não-salva três ou quatro vezes ao dia. Se esse fosse o caso, o livro da vida seria sem dúvida muito confuso. Um irmão certa vez disse que se não estamos eternamente salvos assim que cremos, então o livro da vida seria extremamente volumoso. O meu nome sozinho poderia ser apagado e inserido muitas e muitas vezes. Se um homem é condenado tão logo peque e se vai para o inferno tão logo transgrida, devemos questionar se a salvação é pela graça ou pelas obras. Ambos os grupos são extremistas demais, muito embora ambos tenham sua base bíblica. A Bíblia claramente nos mostra que quando um homem é salvo, ele está eternamente salvo. A Bíblia também nos revela com clareza que é possível um cristão ser “lançado na Geena” temporariamente. Mas o problema é que alguns irmãos, por um lado, insistem que a salvação é eterna e não há tal coisa de disciplina no reino, enquanto outros irmãos, por outro lado, insistem que se podemos ser “lançados na Geena”, então a vida eterna é incerta e, portanto, podemos ir para a perdição eterna. Contudo, se virmos a diferença entre a era do reino e a eternidade, e a diferença entre a punição temporária do milênio e a punição eterna, nós estaremos esclarecidos de que um cristão pode receber punição no futuro, mas ao mesmo tempo, Deus tem dado a vida eterna às Suas ovelhas, e elas jamais poderão perdê-la. Esse conhecimento dá-nos a ousadia de dizer que uma vez que fomos salvos, estamos eternamente salvos. Depois que uma pessoa é salva pela graça, ela jamais perecerá novamente. Dessa forma, nós não somente resolvemos adequadamente o problema do purgatório do catolicismo, como também fizemos uma clara distinção entre salvação eterna e disciplina. Que o Senhor nos conceda graça e nos mostre que a questão da salvação eterna está resolvida devido à obra de Jesus de Nazaré, mas a situação de alguém no reino é determinada pela própria pessoa.



A Maneira de Deus Lidar com os Pecados dos Cristãos — Purificação E
Confissão

Depois que uma pessoa crê no Senhor Jesus, todos os seus pecados passados são perdoados pela obra redentora do Senhor. Mas que deve ela fazer, se pecar novamente depois de crer e ter sido salva? Não é correto pecar, mas pecar é um fato que ocorre na vida. É uma vergonha um cristão pecar, mas também é um fato inegável que os cristãos pecam. Sabemos que não devemos falhar nem cometer erros. Mas devemos admitir que realmente temos momentos de fracasso e de fato cometemos erros. Então, que faremos com esses pecados? Para sermos mais específicos, o que Deus fará com esses pecados? Já mencionamos a punição temporária. Deus nos adverte que, se nos tornarmos apóstatas, seremos punidos no reino milenar. Mas se quisermos lidar com nossos pecados e ser purificados deles, que devemos fazer? Como podem nossos pecados ser lavados e perdoados? Embora em toda a Bíblia haja somente três ou quatro lugares que mencionam esse problema, eles nos proporcionam uma clara luz. A fim de sabermos como lidar com esse problema, tudo o que temos de fazer é ler essas poucas passagens.

UMA ÚNICA PURIFICAÇÃO POR MEIO DO SANGUE

Comecemos pelo princípio. Sabemos que quando o Senhor Jesus foi crucificado na cruz, Ele verteu Seu sangue para lavar todos os nossos pecados. Depois de lavar nossos pecados, Ele assentou-se à direita de Deus (Hb 1.3). Se, depois de sermos salvos e purificados de nossos pecados, nós pecarmos e nos corrompermos de novo, o sangue do Senhor Jesus lavará nossos pecados novamente? O homem pensa que se pecar, o sangue do Senhor Jesus terá de purificar os seus pecados novamente. Mas não há tal verdade na Bíblia. O sangue purifica os nossos pecados somente uma vez; nunca purifica duas vezes. Não há repurificação dos pecados do homem.
O livro de Hebreus mostra-nos claramente que há somente uma purificação de pecados. Hebreus 10.1-14 diz: “Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem. Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados? Entretanto, nesses sacrifícios faz-se recordação de pecados todos os anos, porque é impossível que sangue de touros e bodes remova pecados. Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, corpo me formaste; não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade. Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste (coisas que se oferecem segundo a lei), então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. Porque, com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”.
Vemos que o Senhor Jesus ofereceu a Si próprio uma vez como oferta pelo pecado por nossos pecados. Ele efetuou a redenção eterna uma vez por todas. Pela Sua obra única estamos eternamente aperfeiçoados. O versículo 2 mostra que os que foram purificados, não mais têm consciência dos pecados. Por isso, há somente uma oferta do Senhor Jesus. Não há uma segunda oferta. Se alguém rejeitar esta oferta pelo pecado, não haverá outra oferta pelo pecado para ele. Este é o motivo de o versículo 26 dizer que, se pecarmos deliberadamente, já não restam mais sacrifícios pelos pecados. Os pecados de um pecador são perdoados por meio da cruz de Cristo. Depois que um cristão é salvo, mesmo que ele peque, o Senhor Jesus não pode morrer por seus pecados novamente. A Sua realização passada consumou tudo eternamente. Tudo está incluído Nele.
Leiamos agora alguns versículos do capítulo 9. Os versículos 25, 26 e 28 dizem: “Nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado (...) assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação”. Sua vinda pela segunda vez não terá nada que ver com seus pecados; antes, será para a salvação deles. Os versículos 12 a 14 dizem: “Não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas para servirmos ao Deus vivo!” O versículo 9, falando do primeiro tabernáculo, diz que ele é “uma alegoria para o tempo presente” (VRC). Nesse tabernáculo “se oferecem assim dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto”.
Lendo os capítulos 9 e 10 vemos que os sacrifícios do Antigo Testamento diferem do sacrifício do Novo. Se eu estivesse no Antigo Testamento e cometesse um pecado, haveria somente uma maneira de lidar com ele. Se eu tivesse bastante dinheiro, compraria um touro; se não tivesse o suficiente, compraria um bode e se não tivesse recursos para nenhum deles, compraria uma rola. Depois eu pediria a um sacerdote que ofertasse o sacrifício por mim para expiação do meu pecado. Quando visse o touro ou o bode, meu coração se alegraria, porque saberia que a oferta servira como substituto para minha punição. Por ser o sangue de touro ou bode semelhante ao meu, Deus me perdoaria. Eu iria para casa satisfeito e com júbilo no coração, e seria a pessoa mais feliz da terra, porque os meus pecados teriam sido perdoados; eu não teria mais meus pecados. As trevas em minha consciência seriam removidas, e eu não mais sofreria. Mas, dois dias depois, eu poderia começar a pensar: “E se não valer aquele sacrifício oferecido outro dia? E se o sacerdote não houver feito o serviço corretamente?” Por causa desses pensamentos, eu ficaria preocupado e sofreria novamente. Finalmente, eu decidiria comprar outro touro ou bode, levá-lo-ia ao sacerdote e diria a ele que a oferta de pecado do outro dia não fora bem feita, e pediria para refazer a oferta. O sacerdote, então, sacrificaria o touro ou o bode, e oferecê-lo-ia mais uma vez a Deus, e eu me certificaria de que o touro ou o bode havia sido oferecido pelos meus pecados.
No Antigo Testamento, quando a consciência incomodava, podia-se sempre trazer outro touro ou bode como oferta pelos pecados por intermédio do sacerdote. Isso é o que Hebreus 9 nos mostra. Ele diz que o sangue de touros e bode não faz uma obra completa. O capítulo 10 diz que, se uma obra completa tivesse sido feita, não haveria mais consciência de pecados. Deus considerava incompleta a obra de animais no tocante à consciência, porque cada vez que uma pessoa perdesse a paz em sua consciência, ela sentiria que seus pecados ainda não haviam sido plenamente tratados, e haveria necessidade de mais ofertas.
Entretanto, o apóstolo mostra-nos que um cristão não deve agir da mesma forma. O sacrifício propiciatório que Deus estabeleceu no Novo Testamento não é um touro ou um bode, mas o Seu próprio Filho. Quando Seu Filho veio à terra, Ele disse claramente que Deus não desejava touros e bodes nem se agradava deles. Em vez disso, Deus preparou um corpo para Ele, a fim de que Ele pudesse morrer para completar a obra da eterna redenção. O Senhor cumpriu na cruz o sacrifício pela redenção eterna. Agora podemos obter essa redenção eterna. Ele ofereceu um sacrifício pela redenção eterna, consumando assim a eterna redenção. Por causa desta redenção eterna, estamos eternamente aperfeiçoados. Ele é o Filho de Deus. Por causa de Sua obra eterna uma vez consumada, não precisamos mais fazer ofertas pelo pecado. Não mais podemos fazer oferta pelo pecado para o mesmo pecado, porque o Senhor Jesus consumou toda a obra.
O Filho de Deus não pode novamente ser crucificado pelos nossos pecados. Ninguém pode pisar o sangue do Filho de Deus e torná-lo algo comum. E se algo é o único do gênero, é precioso. Mas se houver duas coisas do mesmo gênero, elas são comuns. Tratar o sangue do Filho como algo comum significa considerá-lo igual ao sangue de touros e bodes. Mas se honrar Seu sangue e considerá-lo como algo único, ele lhe será precioso. A oferta pelo pecado, consumada por Ele, está aqui. Depois que o Senhor realizou Sua obra, Deus disse que não pode haver nenhuma outra obra. O Filho de Deus não pode morrer novamente. Sua obra está consumada. Se você a quiser, terá de crer Nele. Você não pode acrescentar nada a ela. Ou você depende Dele ou nada tem. Depois que alguém recebe a luz por meio da verdade, para ele não há mais sacrifício pelos pecados. Há somente uma oferta pelo pecado. Isso é o que pregamos. Aqueles que vêm adorar por meio desse único sacrifício terão sua consciência purificada; eles não mais terão consciência dos pecados. Todos os pecados deles foram lavados e eles não terão mais consciência dos pecados. Além disso, não há necessidade de outra purificação. A Bíblia nunca ensina a doutrina de uma segunda purificação. O sangue do Senhor Jesus não pode purificar-nos novamente. Uma vez purificados, estamos purificados para sempre.

RECEBER A PURIFICAÇÃO ININTERRUPTA DEPOIS DE CRER

A questão agora é esta: Que devemos fazer, se pecarmos novamente? Que faremos, se ficarmos imundos novamente? Todos os pecados que cometemos antes de sermos salvos foram lavados pelo sangue do Senhor Jesus. Mas, que fazer com os pecados que cometemos depois de salvos? Não queremos ser punidos. Não queremos perder o reino. Não queremos sofrer o dano da segunda morte. Que fazer diante de Deus? Consideremos 1 João 2.1: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis”. Um dos objetivos do cristão é não pecar. João escreveu-nos essas palavras para que não pecássemos. Segundo a posição, é possível um cristão não pecar. Infelizmente, segundo sua história real, ele peca com frequência. Posicionalmente falando, não deveríamos pecar. Mas, falando da experiência, de fato pecamos com frequência. Não há necessidade de pecar. O pecado, contudo, é um fato inabalável.
João continua: “Se, todavia, alguém pecar”. Aqui estamos tratando do problema de um cristão que peca. Ele é um pequenino de Deus; pertence ao Senhor. Se ele pecar, que deve fazer? “Temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”. Não diz que temos Advogado junto a Deus; antes, é-nos dito que temos Advogado junto ao Pai. Portanto, esse versículo refere-se aos filhos de Deus. Refere-se aos que foram salvos. Se alguém entre os salvos, os filhos de Deus, pecar, ele tem um Advogado junto ao Pai. Isso não é um debate num tribunal de justiça, mas é um assunto de família.
A palavra advogado na língua original é paracletos. Para significa ao lado de; estar ao lado quer dizer que você está em algum lugar e outra pessoa também está ali. Você está em Xangai e essa pessoa também está em Xangai. Quando você vai para Cantão, ela também vai para Cantão. É semelhante aos trilhos de um trem. Você não pode ter um trilho em São Paulo e outro em Maceió. Cletos significa auxiliador. Um paracletos, portanto, é alguém que está ao lado, auxiliando. Você pode fugir, mas para onde quer que corra, o paracletos também estará lá. Os que ajudam são muito bons, mas muitas vezes eles chegam tarde demais. Pode haver bastante arroz no Sul, mas os famintos no Norte não poderão obtê-lo, porque o arroz não está ao lado. Os gregos usavam a palavra paracletos para referir-se ao advogado de defesa no tribunal. Suponha que você não entenda a lei, e alguns o acusem; eles podem processá-lo ou tirar vantagem de você, mas você não tem como defender-se. Agora há um paracletos para responder por você. As pessoas acusam-no de ter pecado. Mas o seu paracletos dirá que você não possui pecado. Ele o defenderá como um advogado de defesa. O significado aqui é ter alguém próximo de si para falar por você. Se um cristão pecar, há Alguém junto ao Pai falando por ele.
Satanás não desiste de fazer acusações contra os cristãos. Apocalipse 12.10 nos diz que ele acusa os irmãos dia e noite. Dia e noite somos os réus e ele é o acusador. Mas temos um Advogado que é Jesus, o Justo. Aqui diz que Ele é o Advogado; não o que tem a graça, mas o justo. Por que não diz que Ele é o que tem a graça? Porque no tribunal de justiça celestial não se fala a respeito da graça, da mesma forma que não se fala a respeito da graça nos tribunais terrenos. Qualquer juiz que queira perdoar aos outros é um juiz injusto. Somente os que são a favor da justiça podem ser juízes. Deus é a favor da justiça. Ele não perdoa nossos pecados injustamente. Ele não faz pouco caso de nossos pecados, não encobre nossos pecados, nem nos deixa passar despercebidos com nossos pecados. Pelo contrário, Ele julgou nossos pecados com justiça.
O Senhor não nos defende dizendo que a tentação foi muito forte, que, como criancinhas, não poderíamos lidar com ela, e, portanto, Deus tem de nos conceder graça. O Senhor Jesus não diz que os cristãos são pequenos demais, que o conhecimento deles é pequeno demais, que a carne é fraca demais e a atração do mundo é forte demais. Ele não diz que as artimanhas de Satanás são astutas demais e não há como rejeitar Satanás. Não é dessa maneira que o Senhor Jesus nos defende. Ele não apela para a graça, nem está ali como despenseiro da graça. João diz que Jesus Cristo é o justo. Ele diz a Deus que, por causa Dele e do que Ele fez, Deus tem de nos perdoar.
Como esse Advogado nos defende? É-nos dito no versículo seguinte: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 Jo 2.2). O Senhor Jesus faz Sua defesa por nós baseado em Sua obra consumada, ou seja, em Sua propiciação na cruz por nós. Como resultado, podemos achegar-nos a Deus. Esse é um sacrifício propiciatório completo. Inclui todos os pecados de todos os cristãos no tempo e no espaço. Quando esse sacrifício propiciatório é mostrado a Deus, Ele não tem mais razão para punir os cristãos. O sacrifício propiciatório do Senhor não é apenas para os pecados do passado, mas também para todos os pecados do presente e do futuro. O verbo em 1 João 2.2 está no presente e não no pretérito. Deus não pode condenar-nos baseado nas acusações de Satanás, porque a obra redentora de Cristo, consumada na cruz, inclui todos os pecados de hoje e todos os que serão cometidos até o dia de Sua volta. Todos os nossos pecados foram incluídos em Sua obra. Deus tem de nos perdoar. Ele não pode agir de outra forma, porque esse perdão tem uma base.

O SENHOR JESUS COMO ADVOGADO DOS CRISTÃOS

A obra do Senhor Jesus como Salvador é para os pecadores. A obra do Senhor Jesus como Advogado é para os cristãos. Como Salvador, o Senhor Jesus consumou a obra da cruz. Como Advogado, o Senhor Jesus aplica a obra da cruz. Os pecados dos pecadores são perdoados por meio da redenção da cruz. Os pecados dos cristãos são perdoados por meio da defesa que é baseada na redenção da cruz. Essa defesa apresenta a obra da cruz a Deus. Ela mostra a Deus o que o Senhor Jesus fez, para que Ele não castigue o homem por seus pecados. Nós temos um Advogado diante de Deus. A morte do Senhor Jesus é a prova apresentada a Deus. O Senhor Jesus tornou-se Advogado para todo cristão que peque, da mesma forma como se tornou Salvador para todo pecador. Não é que primeiro nos arrependemos, cremos, somos regenerados e depois o Senhor morre por nós; antes, foi enquanto ainda éramos pecadores que Cristo se tornou nosso Salvador (Rm 5.8). Da mesma forma, não é que primeiramente nos arrependemos, e depois Ele se torna nosso Advogado. Pelo contrário, mesmo enquanto estamos pecando, Ele se torna nosso Advogado. Não é que Ele se torna nosso Advogado quando confessamos nossos pecados diante de Deus; mas, mesmo enquanto estamos pecando, Ele se torna nosso Advogado. Essa é a razão de João dizer que, se algum homem pecar, temos um Advogado junto ao Pai. Ele não diz para primeiro nos arrepender, confessar os pecados e pedir perdão, para que, então, Ele se torne nosso Advogado diante de Deus. Em vez disso, João diz que, se alguém pecar, já temos Advogado junto ao Pai. Sempre que pecar, naquele momento o Senhor Jesus já é seu Advogado diante de Deus. Naquele exato momento, o Senhor Jesus mostrará a Deus Sua obra na cruz, e Deus terá de deixar passar nossos pecados. Um cristão pode confessar e arrepender-se, porque Jesus é seu Advogado. Por termos o Senhor Jesus como nosso Advogado, defendendo e falando por nós enquanto pecamos, nós, por fim, nos arrependemos, confessamos os nossos pecados e pedimos perdão. A obra de defesa do Senhor não acontece no momento em que nos arrependemos; antes, ela acontece enquanto estamos pecando. Quando pecamos, o Senhor Jesus já é nosso Advogado. Posteriormente somos levados ao arrependimento e à confissão. Ele cumpriu toda a obra em um dia e tudo está incluído naquela obra. Hoje, o Senhor pode apresentar essa obra a Deus. Deus não pode mais castigar-nos, porque todo o débito foi pago. Todos os débitos, passados e futuros, foram pagos. Todos os nossos pecados foram lavados pelo sangue de Jesus.

ANDAR NA LUZ COMO ELE ESTÁ NA LUZ

Ele é o Advogado. Mas, de nossa parte, que devemos fazer? Leiamos 1 João 1.7: “Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado”. Que significa estar na luz? O homem acha que estar sem pecado e ser santo é estar na luz. Mas não é este o significado aqui. João não diz que devemos andar na luz como Deus anda na luz. Não é dito aqui que Deus anda. Se assim fosse, o significado seria totalmente diferente. Diz aqui que devemos andar na luz como Ele está na luz.
Que significa essa diferença? Por exemplo, neste salão de reunião há muitas lâmpadas, mas nós as chamamos de luz. Estamos agora sentados na luz. Por outro lado, quase sempre, enquanto estamos reunidos, muitas pessoas sentam-se nas escadas junto à porta. Elas estão no escuro. Elas podem não ter pecado; podem não ter roubado os outros lá fora; talvez sejam até melhores e mais santas que nós. Mas os que estão sentados na luz conseguem ver, enquanto os que estão sentados no escuro não conseguem ver. Para Deus, estar na luz significa que Deus agora pode ser visto.
No Antigo Testamento, no Santo dos Santos, Deus estava no escuro e o homem não
podia vê-Lo. No Lugar Santo havia uma lâmpada e no átrio exterior havia o sol, mas no Santo dos Santos não havia nenhuma luz. Deus, ali, era um Deus desconhecido. O homem podia somente fazer suposições sobre Ele. Mas graças ao Senhor, pois hoje Deus foi manifestado em Jesus de Nazaré. Deus agora está na luz; Ele não está mais na escuridão. Hoje, Deus é um Deus conhecido, um Deus revelado. Quando você vê Deus hoje, você sabe que Ele é Deus. O evangelho sobre Jesus de Nazaré é a revelação de Deus. O resplandecer da luz do evangelho é o resplendor de Deus. Quando a luz do evangelho resplandece, nós vemos Deus. Não estou dizendo que não devamos ser santos ou que não devamos rejeitar o pecado. Estou dizendo que esse versículo nos diz que por Deus estar na luz, devemos, portanto, andar na luz. Já que Deus se manifestou na luz do evangelho, por isso mesmo devemos ver Deus na luz do evangelho. Não mais buscamos a Deus no Antigo Testamento. Hoje Deus manifestou a Si mesmo. Se Ele não tivesse se manifestado, estaríamos sem esperança, desnorteados, sem saber que tipo de Deus Ele é. Ainda teríamos que fazer suposições sobre Ele. Graças a Deus que Ele foi manifestado. Hoje nosso Deus não é mais um Deus de “bastidores”. Ele agora está no “palco”, é o Deus revelado. A palavra revelação, em grego, é apocalypsis. Apo significa fora, e calypsis, significa véu. Assim apocalypsis significa tirar o véu. Eu costumava assistir apresentações teatrais. No palco havia sempre uma cortina grossa. Você não sabe o que está atrás da cortina. O apocalypsis é o abrir da cortina.Hoje Deus está na luz. Ele é um Deus exposto. Que devemos fazer então? Devemos andar na luz. Isso significa que veremos Deus e conheceremos Deus na luz. Não conhecemos Deus por suposição como faziam os que viviam no Antigo Testamento. Hoje Deus tem falado. Não há mais necessidade de fazer suposições. Hoje Deus já está na luz. Ele já se revelou no evangelho. Se andarmos nessa revelação, o resultado é a comunhão. Haverá comunhão entre os cristãos e comunhão com Deus.
Desde que Deus e nós sejamos participantes no evangelho, o sangue de Seu Filho Jesus nos limpa de todo pecado. Se você verdadeiramente conhece a Deus no evangelho, verá que o sangue de Seu Filho Jesus está contínua e eternamente nos purificando de todo pecado (1 Jo 1.9). Na língua original, esse versículo nos diz que o sangue de Jesus, Seu Filho, está continuamente purificando-nos de todo pecado. A Bíblia jamais nos mostra que o sangue do Senhor Jesus faz uma segunda obra de purificação. Ela nos mostra que o sangue de Jesus purifica-nos o tempo todo. Não há múltiplas purificações. Há somente uma purificação contínua. A Bíblia nunca traz a ideia de múltiplas purificações. A verdade bíblica é a purificação contínua.
O sangue do Filho de Deus continuamente nos purificando de nossos pecados é a obra do Advogado. A obra da cruz é uma vez por todas. Mas a obra de Seu sangue e da purificação é contínua. A cruz lidou com os nossos pecados e purifica-nos de nossos pecados uma única vez. Contudo, ela é eficaz para sempre. Por que ela é eficaz para sempre e nos purifica continuamente? É porque o Filho está continuamente apresentando a Deus a obra consumada. Não é uma repurificação, mas uma demonstração contínua a Deus de que Ele já morreu e todos os pecados foram tratados. Hoje Ele está continuamente nos purificando de todos os nossos pecados. Todos os nossos pecados estão incluídos aqui. A eficácia de Seu sangue dura para sempre, porque o Senhor Jesus é nosso Advogado no céu continuamente. Sua obra como Advogado é uma continuação e extensão de Sua obra como Salvador. A obra do Salvador aconteceu somente uma vez, mas ela tem prosseguimento na obra do Advogado. Essa é a parte de Deus na obra.

O PERDÃO POR MEIO DA CONFISSÃO

Nunca devemos negligenciar a parte de Deus. Entretanto, nós também jamais devemos esquecer a nossa parte. É verdade que o Senhor Jesus está apresentando Seu sangue e Sua obra diante de Deus continuamente. Mas se pecarmos deliberada e continuadamente e sem arrependimento, repúdio ou disposição para lidar com os nossos pecados, a obra do sangue do Senhor perderá seu efeito e sua eficácia em nós. A obra da crucificação não é apenas para nós, mas também para o mundo inteiro. A obra do Senhor Jesus incluiu a todos. Mas essa obra do Senhor pode ser realizada somente naqueles que crêem Nele. A obra de defesa de Cristo em princípio é a mesma coisa; ela é contínua. Quer um cristão confesse e se arrependa de seus pecados, quer não, a obra de Cristo de purificação é continuamente eficaz. Mas como tal obra pode ser realizada nos cristãos é outra questão.
A Primeira Epístola de João (1.7) nos diz que um cristão tem seus pecados perdoados diante de Deus por causa da obra de Cristo. Por outro lado, o versículo 9 nos mostra o que devemos fazer de nossa parte. “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. Em 1 João 2.1 é-nos dito que o Senhor Jesus é nosso Advogado, mas 1 João 1.9 nos diz que de nossa parte temos de confessar nossos pecados. Isso não significa que é a nossa confissão que nos concede o perdão. Se a confissão por si só pudesse obter perdão, o perdão seria injusto. Suponha que eu roube cem dólares de um irmão, vá a ele e confesse meu pecado. Se ele me perdoar por causa da confissão, ele seria justo? Se esse fosse o caso, eu roubaria outros cem dólares e confessaria novamente. Se a confissão sozinha pudesse conceder-nos perdão, essa seria a coisa mais injusta que existe. Se esse fosse o caso, nós não poderíamos dizer que Deus é fiel e justo. Teríamos que dizer que Deus é um Deus injusto e desleixado, que não leva em conta nossos pecados.
Por que João diz que Deus é justo para perdoar? Porque o Senhor Jesus se tornou nosso Advogado. Seu sangue purificou-nos de todos os nossos pecados. Nossos pecados foram julgados e condenados em Cristo. Portanto, quando confessamos nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar. Se eu tivesse roubado dinheiro de um irmão e alguém o tivesse devolvido por mim, então a confissão, certamente me traria perdão. Sem o sangue do Filho de Deus, o perdão de Deus seria injusto. O sangue do Filho de Deus foi derramado. O Filho de Deus tornou-se o Advogado diante de Deus. Deus agora tem de nos perdoar. Se não perdoar, Ele será injusto. Hoje quando confesso meus pecados, Deus é fiel e justo para me perdoar os pecados. A Palavra de Deus nos diz que o Senhor Jesus morreu. Deus tem de ser fiel à Sua própria Palavra. Ele também tem de ser justo com relação à obra do Senhor Jesus. É por essa razão que Ele tem de perdoar nossos pecados e nos purificar de toda injustiça.
O perdão de nossos pecados por Deus está totalmente baseado no sangue do Senhor Jesus. Os pecados dos pecadores são perdoados por meio do sangue do Senhor. Os pecados dos cristãos também são perdoados por intermédio do sangue do Senhor Jesus. Por ser o Senhor Jesus o Salvador, Deus pode perdoar os pecados dos pecadores. E por ser o Senhor Jesus o Advogado, Deus pode perdoar os pecados dos cristãos. Pelo fato de o Senhor Jesus ser tanto o Advogado quanto o Salvador é que Seu sangue nos concede perdão de nossos pecados e justificação.

CONFISSÃO

Então, que é confissão? O apóstolo não disse que confissão é orar para que Deus perdoe os nossos pecados. Muitas orações e súplicas a Deus por perdão não são confissões. Tampouco disse o apóstolo que confissão é apenas falar algo com a nossa boca. O que o apóstolo disse foi que temos de reconhecer o pecado e tratá-lo como pecado.
Confissão significa colocar-mo-nos no mesmo lugar que Deus está, admitindo diante de Deus que o que fizemos é, sem dúvida, um pecado. No momento em que você confessar o seu pecado, você será perdoado. Confessar não é suplicar por perdão. O perdão é tarefa do Senhor Jesus. O que você deve fazer é julgar o pecado como pecado. Você deve julgá-lo, reconhecê-lo e confessar que ele é errado. Você tem de tomar o pecado como pecado e tratá-lo como pecado. O que você deve confessar diante de Deus é que um pecado é, sem dúvida, um pecado. Se você confessar, Deus é fiel e justo para perdoar todos os seus pecados e injustiças. Assim como um pecador recebe o perdão de pecados por meio da obra do Senhor Jesus, um cristão recebe da parte de Deus o perdão dos pecados, por intermédio da obra de Cristo e por julgar seu pecado como pecado. Resumindo: confissão é nossa declaração de que alguma coisa é pecado, porque Deus diz que isso é pecado. Por exemplo, suponha que o filho de um irmão saia à rua para brincar com algumas crianças más. Por ele adquirir linguagem suja e fazer travessuras, o irmão reúne as crianças que levaram seu filho a fazer essas coisas e diz a elas que estão erradas e não devem mais brincar com seu filho. Ele também diz ao seu filho para não mais brincar com elas. A criança diz que ela quer confessar que está errada e pede perdão. Mas, embora ela diga isso com sua boca, em seu coração ela está pensando em uma forma de fugir pela porta dos fundos e brincar novamente. Ela não se posiciona junto com seu pai. A questão aqui não é o perdão, mas se reconhecemos ou não algo como pecado.
Confissão significa que tudo o que Deus considera como pecado, eu também considero como pecado. Significa que eu digo a mesma coisa que Deus disse. Se Deus diz que isso está errado, eu também digo que está errado. A confissão é o nosso reconhecimento e declaração do pecado. Quando você confessa, Deus perdoa seus pecados e o purifica de toda injustiça. Ele não está perdoando você por causa de sua confissão; Ele o está perdoando por causa da obra do Senhor Jesus. Seu sangue é a base de tudo nesta questão. Mas por meio da confissão, o sangue produz o perdão. A salvação é pelo sangue por meio da fé. Mas o perdão é pelo sangue por intermédio da confissão. É como se dissesse que a água da torneira vem pelo depósito de água através dos encanamentos. Da mesma forma, o perdão vem pelo sangue por meio da confissão.

A FIGURA DA NOVILHA VERMELHA NO ANTIGO TESTAMENTO

Há um tipo de purificação no Antigo Testamento que é um tipo do perdão dos cristãos no Novo Testamento. As palavras em 1 João 1 e 2 estão tipificadas no Antigo Testamento. Leiamos aquela que pode ser considerada como a única parte no Antigo Testamento que trata com o perdão dos pecados dos cristãos.
Números 19.1-13 diz: “Disse mais o Senhor a Moisés e a Arão: Esta é uma prescrição da lei que o Senhor ordenou, dizendo: Dize aos filhos de Israel que vos tragam uma novilha vermelha, perfeita, sem defeito, que não tenha ainda levado jugo. Entregá-la-eis a Eleazar, o sacerdote; este a tirará para fora do arraial, e será imolada diante dele. Eleazar, o sacerdote, tomará do sangue com o dedo e dele espargirá para a frente da tenda da congregação sete vezes. À vista dele será queimada a novilha; o couro, a carne, o sangue e o excremento, tudo se queimará. E o sacerdote, tomando pau de cedro, hissopo, e estofo carmesim, os lançará no meio do fogo que queima a novilha. Então, o sacerdote lavará as vestes, e banhará o seu corpo em água, e, depois entrará no arraial, e imundo será até à tarde. Também o que a queimou lavará as suas vestes com água, e em água banhará o seu corpo, e imundo será até à tarde. Um homem limpo ajuntará a cinza da novilha, e a depositará fora do arraial, num lugar limpo, e será ela guardada para a congregação dos filhos de Israel para a água purificadora; é oferta pelo pecado. O que apanhou a cinza da novilha, lavará as vestes, e será imundo até à tarde: isto será por estatuto perpétuo aos filhos de Israel e ao estrangeiro que habita no meio deles. Aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, imundo será sete dias. Ao terceiro dia e ao sétimo dia, se purificará com esta água, e será limpo; mas, se ao terceiro dia e ao sétimo não se purificar, não será limpo. Todo aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, e não se purificar, contamina o tabernáculo do Senhor; essa pessoa será eliminada de Israel; porque a água purificadora não foi espargida sobre ele, imundo será: está nele ainda a sua imundícia”. Em Números 19 um sacrifício é descrito. Esse sacrifício é único no Antigo Testamento. O livro de Números não é um livro sobre ofertas. O livro sobre ofertas é Levítico. Mas esse sacrifício não é mencionado em Levítico, e sim, em Números. Sabemos que o cordeiro pascal foi morto no Egito. Isso tipifica a morte do Senhor Jesus pelos nossos pecados. No monte Sinai, Deus mostrou-nos novamente o que é o cordeiro pascal. As cinco ofertas em Levítico são o cordeiro pascal examinado e partido. Elas nos mostram os diferentes aspectos do Senhor Jesus e como Ele satisfaz as exigências de Deus ao redimir os pecados do homem. Todas elas são para os pecadores e foram citadas no monte Sinai.  O livro de Números, entretanto, é um livro sobre o deserto; é a história dos filhos de Israel, vagueando no deserto de Parã, onde os filhos de Israel viviam como peregrinos. Eles eram uma nação, peregrinando no mundo. Ali, Deus lhes deu outro sacrifício, que é o sacrifício da novilha vermelha.
Todas as ofertas são para Deus, e assim sendo o sangue delas devia ser vertido. Este é o único sacrifício cujo sangue é primeiramente espargido diretamente diante do tabernáculo, e em seguida queimado. A maioria das ofertas é composta de touros e bodes, mas apenas este sacrifício é uma novilha, uma fêmea. A maioria dos sacrifícios não tem especificação de cor. Mas este sacrifício tem de ser de uma cor específica; ele deve ser uma novilha vermelha. A maioria dos sacrifícios é oferecida no altar; somente este sacrifício é queimado fora do arraial. Outros sacrifícios são para o perdão de pecados; todavia, a segunda metade deste sacrifício é para purificação. As cinco ofertas de Levítico descrevem o cordeiro pascal. Elas são preparadas para os pecadores. É por isso que elas estão registradas em Êxodo e Levítico. Esse sacrifício, entretanto, é preparado para o povo de Deus. Essa é a razão de estar registrado em Números. É um sacrifício para a experiência do povo de Deus no caminho do deserto. Os outros sacrifícios são para pecado. Somente este sacrifício é para a impureza no deserto. Os outros sacrifícios são de animais machos; este sacrifício é de fêmea. Tudo o que está relacionado com os pecadores é macho, e tudo o que está relacionado com o povo de Deus é fêmea (Dt 21:3-9). Levítico 5.6 diz que uma cabra pode ser oferecida como oferta pela transgressão. A oferta pela transgressão não é apenas para pecadores, mas frequentemente é para cristãos. Não é como a oferta pelo pecado, que é estritamente para pecadores. A oferta pela transgressão é tanto para pecadores como para cristãos. Quando alguma coisa é oferecida pelo povo de Deus, pode ser fêmea. Essa é a ordenança no Antigo Testamento.
Esse sacrifício, embora lide com as ofensas do homem para com Deus, é, na verdade, oferecido pelos cristãos. A cor vermelha significa redenção diante de Deus. Esse sacrifício não é oferecido no altar, porque não é por pecadores; um pecador tem de passar pelo altar antes de poder vir a Deus. Esse sacrifício é queimado fora do arraial, que é o lugar onde o povo de Deus está. Por isso, o arraial é um tipo da igreja. Estar fora do arraial é ser cortado da comunhão. Entretanto, se você está cortado da comunhão, há um sacrifício esperando por você. Esse sacrifício é para tratar com os pecados dos cristãos. É para a restauração da comunhão.
Vamos agora considerar o sacrifício em si. Esse sacrifício é composto de duas partes. Na primeira parte, o sangue do sacrifício é oferecido; na segunda, o sacrifício é queimado. A primeira parte começa na segunda metade de Números 19.2: “Dize aos filhos de Israel que te tragam uma novilha vermelha sem defeito, que não tenha mancha, e sobre a qual não se tenha posto jugo” (IBB - Rev.). Todos os que conhecem a Bíblia sabem que isso se refere ao Senhor Jesus. Hebreus 10 indica que essa novilha vermelha refere-se ao Senhor Jesus. Quais são as qualificações do Senhor Jesus para tornar-se esse sacrifício? Números 19.2 diz que esse sacrifício devia ser sem mancha e sem defeito, e que não tivesse levado jugo. O ser sem mancha e sem defeito refere-se à Sua vida. Nunca ter estado sob jugo refere-se à Sua obra. Quanto à Sua vida, Ele é sem mancha; quanto à obra, Ele nunca esteve sob jugo. Com relação à Sua vida e pessoa, o Senhor é sem mancha e sem defeito. Não somente é sem mancha, mas também em Sua experiência Ele é puro, isto é, Ele nunca esteve sob jugo. Ele é um homem puro, e tem uma experiência pura. Muitas pessoas não têm mancha, mas têm estado sob jugo. Em Sua experiência, contudo, o Senhor nunca foi subjugado. Ele nunca tocou as coisas pecaminosas, e nunca foi oprimido ou dominado pelo pecado. Ele nunca foi induzido a pecar. Ele era completamente livre do jugo. Hoje, não podemos dizer o mesmo de nós, pois não somos pessoas livres. Temos sido oprimidos e dominados pelo pecado, temos sido induzidos pelo pecado e não somos senhores de nós mesmos. O Senhor Jesus não tem defeito. Somente o Senhor Jesus nunca esteve sob o jugo de pecado.
Isto é a novilha, a vitela, indicando que esse sacrifício foi oferecido pelos cristãos. Ela é vermelha. Isso significa que ela é oferecida pela redenção de pecado. Na Bíblia, o vermelho indica a redenção de pecado. Toda vez que a Bíblia menciona o escarlate ou o vermelho, isso significa pecado. A mulher em Apocalipse 18 monta um animal escarlate e usa uma vestidura escarlate, os quais se referem aos seus pecados.
Números 19.4 diz-nos o que acontece depois que a novilha é imolada. “Eleazar, o sacerdote, tomará do sangue com o dedo e dele espargirá para a frente da tenda da congregação sete vezes”. O sacerdote não fazia muitas coisas; ele somente espargia um pouco de sangue diante de Deus, no tabernáculo. Isso nos indica que a morte do Senhor Jesus satisfez as exigências de Deus. O sangue não era espargido nos filhos de Israel, mas diretamente diante da tenda da congregação. O tabernáculo é o lugar onde Deus se encontrava com os israelitas; ele é um tipo da comunhão entre Deus e o homem. Onde o tabernáculo de Deus está, aí Deus também está. Cristo é o tabernáculo; Ele é Deus vivendo entre os homens. Ele está cheio da graça e da verdade de Deus. Ele tabernaculou entre nós (Jo 1.14). Isso é a comunhão. Como podemos ter comunhão? Deve haver o sangue, ou seja, o pecado deve ser julgado. Se não houver sangue, o homem não poderá achegar-se a Deus.
Há somente duas maneiras de o homem achegar-se a Deus. Ou ele vem sem pecado, ou ele vem com o sangue. Se estiver sem pecado, você pode ir a Deus com passos corajosos, pois Ele nada pode fazer a você. Mas se você tiver pecado, deve haver o derramamento de sangue (Hb 9.22), porque Deus deve julgar o pecado. Se o pecado não for julgado, o homem não pode ter comunhão com Deus. Deus não pode ignorar os pecados do homem. Deus não pode deixar passar os pecados do homem. Se o homem tiver pecado, ele deve ir a Deus com o sangue. Deus é um Deus que julga. Sem passar pelo julgamento, o pecado não pode ser removido. O julgamento exige o sangue, portanto, deve haver o derramamento de sangue antes que a comunhão seja restaurada. O sangue foi espargido sete vezes; sete significa perfeição. A morte do Senhor Jesus satisfez a Deus; Seu sangue é suficiente para lavar os nossos pecados. Aqui, todos os problemas são completamente resolvidos; as justas exigências de Deus são satisfeitas. Deus disse que a obra está consumada. E tal obra é a obra do Senhor Jesus na cruz. Ela foi realizada uma única vez e está consumada para sempre. Não há necessidade de outra novilha vermelha. A morte de uma novilha vermelha é suficiente. Na primeira parte desta oferta vemos que a aspersão do sangue significa que o problema do pecado está resolvido. Esta parte da oferta é igual a todas as outras ofertas no Antigo Testamento. Todas elas são o cordeiro pascal. Agora temos de considerar a segunda parte da oferta, a qual nos mostra o que deve ser feito com relação aos pecados dos cristãos. Números 19.5 diz: “À vista dele será queimada a novilha”. Esse sacrifício é único, porque a novilha não era simplesmente queimada, mas “o couro, a carne, o sangue e o excremento, tudo se queimará. E o sacerdote, tomando pau de cedro, hissopo, e estofo carmesim, os lançará no meio do fogo que queima a novilha”. Deus julgou o pecado. Pouco depois de o sangue ser espargido, o resto do sangue era despejado no fogo. Então, a novilha inteira também era lançada no fogo. O sacerdote queimava a novilha inteira — couro, carne, sangue, excremento, tudo. Além disso, pau de cedro, hissopo e estofo carmesim eram todos lançados no meio da fogueira. No versículo 9 é-nos dito o que acontecia depois que a novilha era queimada: “Um homem limpo ajuntará a cinza da novilha, e a depositará fora do arraial, num lugar limpo, e será ela guardada para a congregação dos filhos de Israel, para a água purificadora: é oferta pelo pecado”. Depois que a novilha era imolada, o sangue era aplicado. Mas depois que a novilha era queimada e tornava-se cinzas, as cinzas deviam ser aplicadas.
Que são cinzas? Cinzas são o estado final de tudo no mundo. Não estou me referindo às evidências da química, mas à nossa experiência diária. As cinzas são o último estado de todas as coisas. Se uma mesa passar seguidas vezes pela destruição, seu último estado será cinzas. Portanto, as cinzas representam o estado final. Quando alguma coisa chega ao seu fim máximo e não pode ser transformada em nada mais; ela é cinzas.
Tudo da novilha é queimado. Note particularmente aqui o sangue. Nessas cinzas estão o couro, a carne e o sangue. Isso significa que nessas cinzas estão a redenção de Cristo e a eterna eficácia de Sua redenção. Cristo é eternamente eficaz diante de Deus. Ele tornou-se as cinzas. O derramamento de Seu sangue é eternamente eficaz. Até mesmo o sangue tornou-se cinzas. A obra de redenção está consumada. A novilha vermelha retrata a obra redentora do Senhor, e essa obra agora tornou-se cinzas.
Há três outras coisas adicionadas à oferta: o pau de cedro, o hissopo e o estofo carmesim. Na Bíblia, quando o pau de cedro e o hissopo são colocados juntos denota todo o universo criado. O primeiro livro dos Reis 4.33 diz que Salomão tinha grande sabedoria; ele discorreu sobre todas as plantas, desde o cedro até ao hissopo; ele foi do alfa ao ômega. Ele esgotou todo o assunto. A Bíblia usa o cedro e o hissopo para representar o mundo todo. O cedro e o hissopo colocados no fogo indicam que, quando o Senhor Jesus foi julgado pelo pecado, Ele não somente foi queimado, mas todos nós também fomos. Deus julgou todos os homens na pessoa de Jesus de Nazaré. Quando o fogo passou sobre Ele, você e eu, o pau de cedro e o hissopo, tudo passou através do mesmo fogo. Tudo no mundo, seja grande ou pequeno, doce ou amargo, rico ou pobre, foi colocado sobre Ele e julgado por Deus. Aqui, o estofo carmesim também foi colocado no fogo. Isaías 1.18 diz que os nossos pecados são vermelhos como o carmesim. Por isso, carmesim significa pecado. Deus não somente nos julgou, como também julgou os nossos pecados; todos os pecados foram incluídos no Senhor Jesus. Quando Ele foi julgado por Deus, os pecados também o foram. Todos os problemas relacionados com o pecado também foram julgados. Portanto, o pau de cedro, o hissopo e o carmesim serem lançados ao fogo indicam que o mundo inteiro e todos os pecados do mundo conjuntamente passaram pelo fogo com o Senhor Jesus e tornaram-se cinzas. As cinzas incluem toda a obra do Senhor. Elas também incluem a nós e nossos pecados. Essas cinzas são eternamente eficazes. Portanto, essa obra tem uma eficácia que satisfaz todas as exigências de Deus perante Ele. Essas cinzas foram mantidas fora do arraial, num lugar limpo.
Números 19.11 em diante diz-nos sobre a função das cinzas. “Aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, imundo será sete dias. Ao terceiro dia e ao sétimo dia se purificará com esta água”. O versículo 9 diz-nos sobre essa água purificadora. “Um homem limpo ajuntará a cinza da novilha, e a depositará fora do arraial, num lugar limpo, e será ela guardada para a congregação dos filhos de Israel, para a água purificadora; é oferta pelo pecado”. A purificação aqui se refere à purificação por tocar num cadáver. Por que o fato de tocar num cadáver é considerado impuro? Porque a morte é a evidência do pecado. Sem pecado não haveria morte. Portanto, onde a morte estiver, o pecado também estará. Um cadáver indica que o pecado realizou sua obra. O resultado da obra do pecado é a morte. Por essa razão, o Antigo Testamento usa a lepra como um símbolo de pecado curável e um cadáver como um símbolo de pecado incurável. Quando um homem está morto em pecado e transgressões e está, portanto, morto em sua carne, ele é um cadáver. O Senhor Jesus fala sobre esses mortos. Ele nos disse para deixarmos os mortos enterrarem os mortos (Mt 8.22). Se você tocar nesses mortos, se tiver relacionamento com o mundo, se fizer amizade com ele e viver no meio dele, você estará tocando cadáveres. Se tocar em cadáveres, você certamente será contaminado, ficará manchado com impurezas. Quando os cristãos pecam e fracassam contatando o mundo, as cinzas são necessárias. As cinzas são a obra da cruz. Elas são colocadas em água viva (Nm 19.17 - IBB - Rev.), e tornam-se a água purificadora. A água viva tipifica o Espírito Santo. Certa vez, enquanto os filhos de Israel viajavam, eles feriram a rocha, e dela saiu água (Êx 17.6). A Primeira Epístola aos Coríntios 10.4 diz que a rocha era Cristo. Portanto, a água corrente refere-se ao que flui de Cristo, que é o Espírito Santo. Tomar água e fazer dela a água purificadora significa que há necessidade de que o Espírito esteja sobre nós. Sem a obra do Espírito Santo, a obra do Senhor Jesus será em vão. Se houver somente as cinzas da novilha vermelha, sem água viva, elas não serão muito úteis. Juntamente com a obra do Senhor Jesus, ainda há a necessidade do Espírito Santo. Seremos purificados e lavados somente pela união dos dois. O Senhor Jesus não tem de morrer novamente. Para nossa purificação simplesmente aplicamos a eficácia da obra única do Senhor. As cinzas da novilha vermelha representam a eficácia eterna e imutável da obra do Senhor na cruz. É esta eficácia que está nos purificando. Por causa da morte do Senhor Jesus, a eficácia de Suas cinzas tornou-se eterna, e por meio do Espírito Santo Ele agora está aplicando essa eficácia a nós.
Toda vez que pecamos, não precisamos novamente trazer um touro a Deus. A eficácia da obra do Senhor há dois mil anos continua até hoje. Por meio destas cinzas somos purificados.
Que acontece se um homem não for purificado? Números 19.12 diz: “Ao terceiro dia o mesmo se purificará com aquela água [a água purificadora], e ao sétimo dia se tornará limpo: mas, se ao terceiro dia não se purificar, não se tornará limpo ao sétimo dia” (IBB - Rev.). Por que tal pessoa fica impura até ao sétimo dia? O homem purifica-se ao terceiro dia, mas não fica puro até ao sétimo dia. Ele não fica puro até ao sétimo dia, porque a meta é o sétimo dia, não o terceiro. O terceiro dia é o dia da ressurreição do Senhor Jesus. Depois que o Senhor ressuscitou, Ele nos deu a palavra do perdão de pecado. Então, que é o sétimo dia? Na Bíblia, o sétimo dia é o sábado. Hebreus 4.9 nos diz que há outro sábado. É o grande e universal sábado que ocorrerá no milênio. Isso significa que, se uma pessoa não for purificada na era da ressurreição do Senhor, ela não será limpa na era do reino. Se ela for purificada hoje, estará limpa ao sétimo dia, a era do reino. O terceiro dia é para o sétimo dia. O problema é com o sétimo dia. A eternidade foi estabelecida. O fato de sermos filhos de Deus nesta era também foi estabelecido. Todas as outras questões foram estabelecidas. O único problema hoje é se estaremos puros no reino.
No final desta parte, Números 19.13 diz: “Todo aquele que tocar em algum morto, cadáver de algum homem, e não se purificar, contamina o tabernáculo do Senhor”. Que é o tabernáculo do Senhor? O tabernáculo do Senhor, hoje, não é um salão de reuniões nem alguma capela; é o nosso corpo. Se um homem destruir o seu corpo, Deus o destruirá (1 Co 3.17). Se um homem contaminar o seu corpo, Deus dirá: “Essa pessoa será eliminada de Israel” (Nm 19.13b). Tal pessoa será eliminada de Israel. Não diz que ela será eliminada do Egito, mas de Israel. Isso significa que na época em que os filhos de Deus reinarem no milênio, essa pessoa será mantida fora. Se uma pessoa não for purificada hoje, ela será mantida fora do reino no futuro.
Em seguida lemos: “Porque a água purificadora não foi espargida sobre ele, imundo será: está nele ainda a sua imundícia”. Todos os pecados não confessados e todos os pecados que não passaram pelo sangue do Senhor Jesus deixam suas imundícias na pessoa. Essa imundícia levará tal pessoa a perder sua parte no reino vindouro. Por outro lado, aqueles que tiverem sido limpos pela água purificadora estarão puros no reino. Deixe-me dizer-lhe uma coisa: Nenhum pecado de que se tenha arrependido, confessado e posto debaixo do sangue do Senhor Jesus, e sobre o qual as cinzas tenham sido aplicadas, poderá manifestar-se no trono de julgamento. A água purificadora é capaz de remover as impurezas, porque o poder do sangue está nela. É o poder da redenção nessa água que a capacita a remover a impureza. Todo pecado que não tiver a eficácia da redenção do Senhor aplicada a ele, deixará a pessoa impura até ao “sétimo dia”. Portanto, não deixe que seus pecados permaneçam em você. As impurezas devem ser removidas com as cinzas do Senhor Jesus. Agradeço ao Senhor que o Filho de Deus não precisa mais morrer por mim. Por Suas cinzas estou purificado. Contudo, é tolice, e também é perigoso, permitir que qualquer impureza permaneça.
A Maneira de Deus Lidar com os Pecados dos Cristãos — LAVAR-OS-PÉS
AS CINZAS DA NOVILHA VERMELHA NO ANTIGO TESTAMENTO

Em Números 19, Deus nos mostra que se alguém tocar num cadáver fica imundo e precisa purificar-se com as cinzas de uma novilha vermelha. Para se usar as cinzas deve-se colocá-las em água corrente (Nm 19.17). Se alguém tiver qualquer impureza, a água com as cinzas pode ser espargida sobre ele, e ele ficará limpo. A obra de Cristo está completa. Não é necessário Cristo ser crucificado novamente. Nossa necessidade atual é aplicar as cinzas a nós, ou seja, é aplicar a nós a eficácia da obra de Cristo. A maneira de aplicá-la é misturá-la com o Espírito Santo. Somente a obra do Espírito Santo pode transferir-nos a eficácia da obra de Cristo.
Portanto, a questão hoje não é a obra do Senhor Jesus. A questão hoje é a obra do Espírito Santo. Não há dúvidas sobre o fato de que o Senhor morreu por nós. A dúvida é se essa obra tem produzido ou não algum efeito em nós, se o Espírito Santo tem aplicado ou não a obra do Senhor Jesus a nós. Ao confessarmos nossos pecados, o Espírito Santo aplica a nós a obra da redenção do Senhor. Ele nos fará lembrar do Senhor e perceber como Sua obra é completa. O Espírito Santo faz-nos recordar em nosso coração a obra redentora do Senhor. Ele nos faz lembrar e entrar nessa verdade. Por isso nosso coração tem paz e alegria. O Espírito Santo vem e aplica a obra das cinzas, isto é, a eterna obra do Senhor Jesus, a nós. O Senhor cumpriu toda a obra. Não há necessidade de pedir nada nem de fazer nada. Agora, quando confessamos nossos pecados, o Espírito Santo vem e faz-nos considerar essa verdade, para que recebamos os benefícios da redenção do Senhor.

O LAVAR-OS-PÉS NO NOVO TESTAMENTO

Não somente o Antigo Testamento nos mostra a purificação por meio da morte do Senhor Jesus, mas o próprio Senhor Jesus, no Novo Testamento, também fez algo para mostrar-nos a mesma coisa. João 13 mostra-nos um quadro do que um cristão deve fazer quando peca. João 13.1 diz: “Ora, antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Após essa palavra, o Senhor Jesus fez algo que mostra não apenas o Seu amor, mas o Seu amor ao extremo. João 13 é diferente de João 3. João 3 é sobre o amor inicial de Deus. João 13 refere-se ao amor de Deus no ápice. Uma vez que Deus ama a Seus filhos, Ele os ama ao extremo.
João 13.3 a 10 diz: “Jesus, sabendo que o Pai tudo entregara nas Suas mãos, e que Ele saíra de Deus e ia para Deus, levantou-se da ceia, tirou as vestes de cima e, tomando uma toalha, cingiu-Se. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Chegou, então, Simão Pedro. Este Lhe disse: Senhor, Tu me lavas os pés? Respondeu-lhe Jesus: O que Eu faço, tu não o sabes agora, mas compreendê-lo-ás depois. Disse-Lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se Eu não te lavar, não tens parte Comigo. Simão Pedro Lhe disse: Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça. Declarou-lhe Jesus: Quem já se banhou não tem necessidade de lavar senão os pés, mas está todo limpo”. O lavar-os-pés possui dois significados na Bíblia. Jesus lavando os pés aos discípulos tem um significado, e os discípulos lavando os pés uns aos outros tem outro significado. Lavar os pés uns aos outros é restaurar uns aos outros e reavivar uns aos outros. Jesus lavar os pés aos discípulos possui outro significado. Todos nós temos sapatos e meias; portanto, lavar os pés não é algo tão necessário
para nós. Contudo, alguns de nós vêm de países do sudeste asiático. Ali, o lavar-os-pés é necessário, porque muitos usam só sandálias; eles não usam meias. Os judeus eram como os asiáticos do sudeste; eles calçavam sandálias e não usavam meias. Frequentemente andavam por regiões desertas e seus pés estavam sempre sujos. Seus pés não apenas se sujavam quando viajavam, mas às vezes sujavam-se ao caminhar pela casa logo após o banho. Mesmo que o corpo já estivesse limpo, os pés ainda precisavam ser lavados para que eles ficassem de fato completamente limpos. Que deseja o Senhor Jesus mostrar-nos nesse quadro? O versículo 10 diz: “Declarou-lhes Jesus: Quem já se banhou não tem necessidade de lavar senão os pés, mas está todo limpo”. Quem são os que já se banharam? Ananias disse a Paulo que se levantasse, recebesse o batismo e lavasse os seus pecados (At 22.16). Lavar-se, na Bíblia, significa a limpeza total dos pecados de uma pessoa, quando ela crê no Senhor Jesus. No início desse livro vimos o sacrifício e a queima da novilha. O sacrifício é para nossa redenção, e o queimar é para nossa purificação. Hoje, também temos de considerar estes dois tipos de purificação: um deles é o lavar-os-pés; o outro é o banhar-se. Há dois lados na obra do Senhor: o imolar e o queimar; e ao aplicarmos os efeitos dessa obra em nós, também há dois lados: o lavar-os-pés e o banhar-se. Ele nos lavou com Seu próprio sangue. A obra de redenção foi cumprida uma vez por todas. Quando cremos Nele e O recebemos, somos lavados na poça de Seu sangue e ficamos totalmente limpos. Graças ao Senhor que todos tomamos esse banho. Todos os nossos pecados foram lavados pelo Senhor Jesus. Mas agora que cremos no Senhor e fomos lavados, enquanto estamos em nossa jornada pelo deserto, não podemos evitar o contato com o mundo. Não conseguimos evitar certas impurezas. Em nossa jornada no deserto, espontaneamente entramos em contato com o mundo, e espontaneamente o pó da terra suja nossos pés.

BANHAR-SE E LAVAR OS PÉS

Apesar de nós, os cristãos, sermos banhados somente uma vez, a Bíblia nos mostra que lavar os pés ocorre muitas vezes. Há somente um banho, mas há muitos lavar-os-pés. É semelhante à purificação: Há somente uma purificação pelo sangue, mas há muitas purificações pela água das cinzas. O cumprimento da redenção de Cristo ocorreu somente uma vez. No entanto, há muitas aplicações que o Espírito Santo faz a nós desta obra consumada. Somos banhados somente uma vez, e todos os nossos pecados são lavados. Mas requer-se muitos lavar-os-pés para limpar toda a sujeira que se acumula na jornada pelo deserto. Somente um banho é necessário. Contudo, o lavar-os-pés é uma tarefa diária diante do Senhor. O lavar-os-pés ocorre por meio da Palavra de Deus, através da obra do Espírito Santo, tendo por base a obra do Senhor Jesus. Se fomos limpos uma vez pelo Seu sangue, devemos também continuar a ser lavados por ele diariamente. O Senhor Jesus não precisa vir e realizar outra obra. Somos limpos continuamente tendo como base aquela única obra. Não são as cinzas que estão nos limpando, mas a água das cinzas. As cinzas da novilha vermelha são o sinal do nosso julgamento. Deus não substituiu nosso julgamento pelo do Senhor Jesus. Pelo contrário, Ele nos julgou em Cristo Jesus. Hoje as pessoas acham que o Senhor Jesus morreu no lugar do homem; mas na verdade, nós morremos no Senhor Jesus e com Ele. Em outras palavras, somos julgados em Cristo. Somente isso nos purifica. Minha purificação diária está baseada na morte do Senhor Jesus.
Sabemos que já nos banhamos, isto é, nossos pecados foram purificados. Uma vez salvos, estamos salvos eternamente. Todos os problemas estão resolvidos. Então, que devemos fazer quando tocamos coisas imundas, enquanto vivemos na terra e contatamos o mundo todos os dias? Nem todos podemos ser como o ladrão na cruz que, depois de limpo pelo sangue, foi direto ao paraíso sem que seus pés tocassem a terra. A maioria das pessoas não é salva em seu leito de morte. A maioria ainda tem de seguir jornada pelo deserto. E cada um de nós sabe que nessa jornada não deveríamos pecar. Contudo, pecar é um fato que ocorre com todos nós. Como resultado, nossos pés ficam sujos. Muitas vezes somos precipitados e falamos coisas que não deveríamos falar. Muitas vezes temos pensamentos impróprios. Portanto admitimos que fomos contaminados. No entanto, Deus preparou-nos o lavar-os-pés do Senhor Jesus. Isso não é apenas um sinal do Seu amor por nós, mas é um sinal do Seu amor ao máximo. Ele nos amou; por isso, Ele foi crucificado por nós. Agora Ele nos ama ao máximo; por isso, Ele lava os nossos pés. Falando de modo figurado, o lavar-os-pés não é o amor antes do casamento. O lavar-os-pés é o amor após o casamento. O Senhor nos faz estar continuamente limpos diante Dele. Essa é a razão de o Senhor ter dito que quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais está todo limpo. Agradecemos ao Senhor, pois Seu Filho já nos deu um banho. O Senhor permitiu que a insensatez de Pedro fosse manifestada como uma lição para nós. Quando Ele se aproximou de Pedro, este lhe disse: “Senhor, Tu me lavas os pés?”  Pedro achava que aquilo era uma questão de educação e cortesia. O Senhor lhe disse que o que Ele fazia Pedro não entenderia no momento, mas compreenderia depois. Há muita verdade espiritual aqui. Quando o Espírito Santo vem, nós enxergamos. Agora não temos clareza. Tudo o que vemos é uma bacia de água e o lavar do Senhor. Não vemos o que significam. No futuro, entretanto, compreenderemos. Mas Pedro sempre tinha suas opiniões. Ele exclamou que o Senhor jamais lavaria seus pés. O Senhor lhe disse que o lavar-os-pés era muito importante. Se o Senhor não lavasse os pés de Pedro naquela noite, ele não teria parte com Ele. Não pense que seja suficiente tomar um banho uma vez e ser purificado pelo sangue do Senhor uma vez. Não pense que podemos continuar vivendo relaxadamente, quando somos contaminados pela sujeira em nosso caminho pelo mundo. O Senhor disse que, se nossos pés não forem lavados, não teremos parte com Ele. Isso significa que hoje Sua comunhão conosco terminaria, e Sua comunhão conosco no reino vindouro também estaria perdida. Quão importante é a limpeza diária! Devemos permitir que o Senhor lave nossos pés todos os dias. Temos de nos voltar ao Senhor cada dia, para ser restaurados e receber a aplicação do poder da redenção de Cristo. Não precisamos do sangue do Senhor Jesus para lavar-nos novamente diante de Deus. A obra do Senhor perante Deus já foi finalizada uma vez por todas. Contudo, podemos experimentar o lavar muitas vezes. O sangue de Seu Filho lava nossos pecados seguidas vezes, continuamente. Portanto, repetidamente nossos pés devem ser lavados todos os dias. Temos de zelar pela limpeza de nossos pés todos os dias.
Pedro era como nós somos. Ele sempre ia aos extremos. Primeiro ele foi a um extremo, e em seguida foi ao outro extremo. Num instante ele disse que o Senhor jamais lavaria seus pés. Então, ao ouvir o Senhor dizer que ele não teria parte com Ele, se não tivesse os pés lavados, ele pediu que sua cabeça e suas mãos também fossem lavadas. O Senhor Jesus mostrou-lhe que o outro extremo também está errado. O Senhor disse que quem se banhou não necessita lavar senão os pés. Ninguém pode arrepender-se e crer no Senhor duas vezes. Ninguém pode ser regenerado duas vezes. Ninguém pode receber o Salvador duas vezes. Desde que você venha ao Senhor Jesus e O aceite como Salvador, isso é suficiente. Talvez você duvide por alguns dias. Talvez você ache que ao aceitá-Lo como Salvador, não o fez direito, e talvez comece a ter dúvidas depois de alguns dias; você quer aceitá-Lo novamente. Mas o Senhor disse que não há necessidade disso. A cabeça não precisa ser lavada outra vez, tampouco as mãos. O Senhor Jesus disse que os que já se banharam precisam apenas lavar os pés para estar totalmente limpos. Precisamos de apenas um banho para o corpo todo. Apesar de tocarmos o mundo e sujar nossos pés frequentemente, isso não afeta a limpeza de nosso corpo inteiro. A necessidade é de apenas um banho para o corpo todo. O banho não precisa ser repetido. Aleluia! Mesmo que ande na lama e seus pés fiquem imundos, isso não prejudicará a limpeza de todo o corpo. Seu corpo não precisa ser limpo novamente. Desde que tenha recebido o Senhor Jesus como Salvador, seu corpo está limpo. A partir de então, você não precisa lavar seu corpo de novo. Quando uma pessoa é limpa uma vez, ela está limpa eternamente. Ninguém pode negar isso. Ela pode sujar os pés e ser cortada da comunhão do Senhor. Ela pode não ter parte no reino, mas todo o seu corpo ainda está limpo. Todos os que são banhados precisam lavar somente os pés, e estarão totalmente limpos. O que estamos fazendo dia após dia é relembrar do nosso Salvador. O Senhor Jesus completou uma obra eterna. Dia após dia, enquanto vivemos na terra, só precisamos manter nossos pés limpos e livres da sujeira. Se por acaso ficarmos sujos, ainda poderemos receber um lavar diário, a fim de podermos desfrutar uma comunhão ininterrupta com o Senhor hoje e reinar com Ele amanhã. Esse é o nosso caminho. Que o Senhor mantenha nossos pés limpos dia após dia, para que glorifiquemos Seu nome aqui na terra.





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