Texto: Tiago
1.5; 3.13-18.
O QUE É SABEDORIA?
A palavra
sabedoria provém do termo grego sophia, com 71 ocorrências no
NT, 44 só nas epístolas paulinas. Ela possui muitos equivalentes, tanto no
hebraico, como no grego, que podem ser compreendidos como: entendimento,
discernimento, inteligência, capacidade de entender e pensar, percepção,
instrução para formar hábitos adequados de comportamento, disciplina,
prudência, conselhos, entre tantos outros.
Tiago enxerga a sabedoria como sendo
uma necessidade para as pessoas, mas faz questão de mostrar os tipos de
sabedoria que podemos encontrar à nossa volta. E para o apóstolo, mais do que
ter, ou não, sabedoria, é imprescindível saber a quem pedir, é preciso
utilizá-la.
Tiago 1.5 "Ora, se algum de
vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não
censura, e ser-lhe-á dada".
"... tem falta de sabedoria (leipetai sophias). Aqui há uma
combinação que podemos transliterar como:
“Se alguém não chega á estatura ou medida da sabedoria”. Peça (aiteitö). Aqui temos o presente do imperativo
ativo de aiteö, “que persista em
pedir”. A Deus (para tou theou).
Para Tiago, o mestre cristão com um
quadro de fundo judeu, a sabedoria é uma coisa praticas. Não é a especulação
filosófica ou o conhecimento intelectual; sua esfera são coisas da vida. Os
estoicos definiam a sabedoria como “o conhecimento do humano e o divino”. A sabedoria cristã é um conhecimento tal que
passa que passa à ação nas decisões e relações pessoais da vida cotidiana.
Tiago propõe que os cristãos busquem a
sabedoria vinda da parte de Deus: “Se
algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá
livremente, de boa vontade; e lhe será concedida.” (v.5). Esta sabedoria
não é conhecimento científico ou teológico. É possível que Tiago tenha em mente
a visão do Antigo Testamento sobre a sabedoria, em que a fonte dela é o
conhecimento do Senhor.
A sabedoria
perfeita de Deus
A sabedoria de
Deus, de modo geral, pode ser definida como “um entendimento adquirido sobre Deus e as suas verdades reveladas, que
como consequência nos traz uma aplicação prática na nossa vida em todas as suas
esferas (Jó 10.4; 26.6; Pv 5.21; 15.3), revelando a .sabedoria de Deus ao mundo
através do nosso testemunho, cuja base é, antes de tudo, o temor a Deus, que
envolve obediência à Sua Palavra.” Essa sabedoria em tudo contrasta com a
sabedoria do mundo. A sua essência e a sua fonte estão somente em Deus (Jó 12.13ss;
Is 13.2; Dn 2.20-23). Em Jesus temos o seu modelo perfeito. Essa sabedoria está
ao nosso alcance e deve ser buscada.
A sabedoria de
Deus não é subjetiva, mas objetiva e presente na criação do universo (Pv 3.19ss;
8.22-31; Jr 10.12), no homem (Jó 10.8ss; Sl 104.24; Pv 14.31; 22.2). Ele
governa através da Sua sabedoria os processos naturais (Is 28.23-29) e
históricos (Is 31.2). Tal sabedoria não pode ser apreendida pelo homem de forma
natural (Jó 28.12-21), mas Deus a revela para ele (Jó 28.23,28). Isto é, toda
sabedoria desprovida da revelação de Deus torna-se empobrecida, mesmo nos seus
melhores aspectos (cf. 1 Co 1.17; 2.4; 2 Co 1.12 – O Novo dicionário da Bíblia,
Edições Vida Nova, SP, 1999).
O homem só é
realmente sábio quando Deus graciosamente lhes outorga a sua sabedoria, daí a
exortação de Tiago para que busquemos essa sabedoria (Tg 1.5-8). Ela esteve
presente na vida de Salomão (1 Rs cap. 3ss; Mt 12.42; Lc 11.31), Estevão (At 6.10),
Paulo (2 Pe 3.15), José (At 7.10). Essa sabedoria divina é necessária ao ser
humano, para que ele possa compreender os oráculos de Deus (Ap 13.18; 17.9),
liderar a igreja do Senhor (At 6.3), perceber os propósitos de Deus na redenção
(Ef 1.8,9), andar de maneira digna diante de Deus (Cl 1.9; Tg 1.5; 3.13-17).
Muitas pessoas
buscam a sabedoria de Deus, esquecendo-se do seu princípio áureo: o temor do
Senhor (Sl 111.10; Pv 9.10). É interessante notar, porém, que não tememos a
Deus para ter sabedoria, mas o temor do Senhor transforma e guia os nossos
pensamentos e ações, tornando-nos justos e retos, e dessa forma se revela a
sabedoria de Deus em nós. Nossas ações, quando praticadas no temor do Senhor,
são ações dignas e sábias.
“O
temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é
prudência.” (Provérbios 9.10).
“O
temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o
ensino.” (Provérbios 1.7).
“Porque
o SENHOR dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento. Ele
reserva a verdadeira sabedoria para os retos; é escudo para os que caminham na
sinceridade...” (Provérbios 2.6,7).
Além destes versículos existem muitos
outros no Antigo Testamento que refletem a fonte da sabedoria: Deus. Tiago
explica que se pedirmos a Deus sabedoria, Ele nos dará livremente. Aqui a
palavra “haplos”, significa também “simplesmente,
incondicionalmente, sem barganha”. A ideia é de franqueza, de coração
aberto. Deus está pronto para nos ajudar a viver uma vida cristã mais firme e
constante. Esta sabedoria representa também o discernimento que o Senhor nos dá
para vivermos mais na dimensão espiritual do que na dimensão deste tempo
presente.
Deve lembrar como Deus dá liberalmente,
generosamente e sem humilhar a ninguém. Os sábios judeus sabiam perfeitamente
que o melhor presente do mundo pode perder-se pela forma de ser dado.
Filemon, o poeta grego, chamava a Deus
de “aquele que ama os presentes”,
não no sentido de que Ele goste de receber presentes, mas de que adorava
dá-los. E Deus não lança em cara nada que dá, ou seja, não censura. Dá com todo
o esplendor de Seu amor. É interessante a palavra “sem censura” (me
oneidizontos). Havia o mal hábito de lançar palavras ferinas junto com
o dinheiro, como é ilustrado em Sirac 41.22. Diz mais: “E lhe será dado” (kai
dothesetai autöi), aqui
significando, não só sabedoria, mas todos os bons dons, incluindo o Espírito
Santo.
E finalmente dos versos 6 a 8, Tiago nos
dá a principal exigência para termos sabedoria: Fé. “Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é
semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não pense tal pessoa que
receberá coisa alguma do Senhor, pois tem mente dividida e é instável em tudo o
que faz.”.
A fé consiste na confiança em Deus numa
entrega total e plena nas mãos de Cristo. Porém, no relacionamento com Deus às
vezes passaremos por momentos de dúvida. Porém o oposto da fé não é a dúvida,
mas o medo. Por quê? Porque o medo paralisa, tira a perspectiva do alvo. A
dúvida nos mostra o risco, e sem o elemento risco não há fé.
Quando Tiago fala em dúvida aqui no
texto, a palavra grega é diakrinomenos e significa “dividir,
duvidar, vacilar, estar em dúvida consigo mesmo”.
Tiago 3.13-18 "Ninguém,
sendo tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado
pelo mal e ele a ninguém tenta. Cada um, porém, é tentado, quando atraído e
engodado pela sua própria concupiscência;
então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o
pecado, sendo consumado, gera a morte.
Não vos enganeis, meus amados irmãos. Toda boa dádiva e todo dom
perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem
sombra de variação. Segundo a sua própria vontade, ele nos gerou pela palavra
da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas".
A SABEDORIA
HUMILDE E A FALSA SABEDORIA
“O temor do SENHOR é a instrução da
sabedoria, e a humildade precede a honra.”
Provérbios
15.33.
Uzias tinha somente 16
anos quando seu pai foi assassinado e ele subitamente se tornou rei de Judá, no
oitavo século antes de Cristo. A história de seu reinado, que é registrada em 2
Crônicas 26, ensina uma lição poderosa sobre a importância da humildade. Uzias
começou bem. Ele respeitava o Senhor e sua palavra; e Deus o abençoou
abundantemente. O reino se expandiu e o rei fiel conseguiu dominar seus
inimigos de todos os lados. Sua reputação se espalhou a outros países. Uzias se
fortaleceu.
Então, tudo mudou. "Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração
para a sua própria ruína, e cometeu transgressões contra o Senhor, seu Deus,
porque entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar do incenso" (2 Crônicas 26.16). Uzias era um homem
especialmente escolhido por Deus para conduzir seu povo. Durante muitos anos,
Uzias serviu o Senhor fielmente. Porém não estava autorizado a entrar no templo
para queimar incenso. Esse papel estava reservado para outros homens escolhidos
por Deus, os sacerdotes, que serviam no templo. Uzias, não estando mais
contente com o desempenho do papel que Deus lhe havia dado, tentou assumir uma
função extra e foi fortemente repreendido por seu erro.
O sacerdote Azarias e
80 outros sacerdotes seguiram Uzias até o templo e desafiaram seu ato
presunçoso. Uzias enraiveceu-se e Deus respondeu imediatamente ao seu erro. O
rei ficou leproso ali mesmo no templo diante dos olhos dos sacerdotes. Eles
imediatamente o atiraram fora do templo, e Uzias correu da casa de Deus,
percebendo que o Senhor tinha punido sua arrogância. Seu filho assumiu os
negócios do Estado e deixou o leproso Uzias isolado em sua casa pelo resto de
sua vida. A vida abençoada de um grande homem foi arruinada por um ato de
desobediência, pela falta de humildade.
A HUMILDADE É FUNDAMENTAL PARA NOSSA COMUNHÃO COM DEUS
Quando Jesus pregou o
sermão que define o caráter do verdadeiro discípulo, suas palavras iniciais
foram diretas ao coração: "Bem aventurados os humildes de
espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mateus 5.3). Ele continuou a pregar
durante mais três capítulos, mas muitos ouvintes não o ouviram porque nunca
passaram da linha de partida. Mesmo hoje, a maior parte da mensagem do
evangelho cai em ouvidos surdos de homens e mulheres arrogantes que não querem
mesmo reconhecer a posição de Jesus como Senhor.
Mas Jesus não reduziu
os padrões. Ele não abriu uma porta extra para entrarem os arrogantes ou os
"quase" humildes. Ele manteve intacto o seu requisito fundamental
porque ele reflete a exigência eterna de Deus. Deus nunca aceitou o homem cheio
de orgulho que pensava fazer as coisas a seu próprio modo. Ao contrário de toda
a sabedoria dos homens carnais, tendentes a adquirir poder e posição, Deus
aceita exclusivamente os humildes. Uma geração depois de Uzias, o profeta
Miquéias pegou perfeitamente a ideia quando ele citou as palavras de Deus: "Ele te declarou, ó homem, o que é bom e o que é que o Senhor pede
de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com
o teu Deus" (Miquéias
6.8). As Escrituras deixam perfeitamente claro que não há outra maneira
de caminhar com Deus. Ou andamos humildemente com nosso Deus, ou não andamos de
modo nenhum com ele!
Jesus andou no meio de
homens carnais e enfrentou tremendo desafio. Como poderia ele capturar seus
corações para moldá-los como os servos humildes que o Pai quer? Não foi uma
tarefa fácil. Ele falava frequentemente de humildade, e mostrava em sua vida de
serviço o que significa elevar os outros acima de nós mesmos. Quem poderia
exemplificar melhor a humildade voluntária do que o próprio Deus, que deixou
sua habitação celestial para servir e mesmo morrer pelos homens pecadores?
(Esta é a essência do apelo irresistível de Paulo em Filipenses 2.3-8).
Há exemplos que mostram
claramente como Jesus ressaltava a humildade para seus apóstolos. O um deles
está em Mateus 18.1-4. Os apóstolos frequentemente disputavam entre si
sobre a grandeza. Dois deles uma vez foram tão ousados a ponto de pedir que
fossem colocados acima de seus colegas no reino. Jesus respondeu à atitude
deles chamando uma criança. Enquanto estes homens crescidos olhavam, Jesus
começou a pregar um sermão memorável: "Em verdade vos digo que, se não vos
converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no
reino dos céus. Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o
maior no reino dos céus" (Mateus
18.3-4).
COMO A ARROGÂNCIA IMPEDE AS BENÇÃOS DE DEUS.
Podemos tirar algumas
conclusões claras e importantes do ensinamento da Bíblia, mostrando o porquê a
falta de humildade impede as bênçãos de Deus. Considere como o orgulho é
absolutamente oposto às qualidades e comportamentos que Deus quer que
demonstremos.
Sem humildade, não serviremos a outros como deveríamos,
porque aqueles que são arrogantes e egoístas querem ser servidos, e não servir.
Sem humildade, não seremos seguidores. Os orgulhosos querem ser chefes e cobiçam a posição e a
influência de outros. Este foi o problema que Arão e Miriã tiveram em Números
12, e o mesmo pecado que custou as vidas de quase 15.000 pessoas, em Números
16.
Sem humildade não buscaremos realmente a verdade. O homem orgulhoso pensa que já conhece as respostas, e
não quer depender de quem quer que seja, nem mesmo do próprio Deus. A
arrogância também impede nosso entendimento da verdade. Se não queremos admitir
a necessidade de mudança, ou não queremos aceitar o fato que alguma outra
pessoa sabe mais do que nós, nosso orgulho será um bloqueio fatal para o estudo
eficaz da Bíblia.
Sem humildade, não reconheceremos nossos próprios defeitos. Somos até capazes de enganar nossos próprios corações
para não vermos nosso próprio pecado. Saul fez isto quando defendeu sua
desobediência na batalha contra os amalequitas. Ele argumentou que tinha
obedecido o Senhor e que o povo tinha errado (1 Samuel 15.20-21). Deus não
aceitou esta desculpa esfarrapada, e não aceita a nossa.
Um outro problema
relacionado com a arrogância e a falta
de humildade é a dificuldade em aceitar a correção. Provérbios 15.31-33 mostra
a consequência de tal orgulho: "Os ouvidos que atendem à repreensão
salutar no meio dos sábios têm a sua morada. O que rejeita a disciplina
menospreza a sua alma, porém o que atende à repreensão adquire entendimento. O
temor do Senhor é a instrução da sabedoria, e a humildade precede a honra." Provérbios 12.1 é mais direto: "Quem ama a disciplina ama o conhecimento, mas o que aborrece a
repreensão é estúpido."
O MODELO DE JESUS
"Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos
tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto,
aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus" (Mateus 18.3-4).
Outro exemplo dado por Jesus, ainda mais tocante, é
registrado em João 13.1-17. Quando se preparavam para partilhar a refeição da
Páscoa, Jesus aproveitou o momento para ensinar uma lição necessária. Os
apóstolos jamais esqueceriam esta noite, e Jesus não perdeu a oportunidade para
ensinar. Ele tomou uma toalha e água e foi, de discípulo em discípulo,
lavando seus pés. Isto era, por costume, serviço dos servos mais humildes, mas
aqui o Criador do universo estava se humilhando diante de simples galileus.
Quando terminou, ele voltou-se para os apóstolos e perguntou? "Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o
Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o
Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque
eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade,
em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado,
maior do que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados
sois se as praticardes" (João 13.12-17).
Não é de se admirar
que outros homens inspirados falassem da importância da humildade. Tiago
disse: "Deus resiste aos
soberbos, mas dá graça aos humildes. Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas
resisti ao diabo, e ele fugirá de vós... Humilhai-vos na presença do
Senhor, e ele vos exaltará" (Tiago 4.6)
“Quem
dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em
mansidão de sabedoria.” Tiago 3.13.
A pergunta — "Quem entre vós é sábio e entendido?" — é de fato um desafio:
se você diz ser sábio, demonstre sua sabedoria pelas obras que a verdadeira
sabedoria produz. Muitos comentaristas acham que a pergunta de Tiago dirige-se
especialmente aos mestres mencionados no versículo 1. Mas nem sophos
(sábio, “pessoa sábia”) nem epistêmõn (“instruído”, “cheio de
entendimento”) são aplicados como títulos ao mestre. Eles aparecem juntos
várias vezes na Septuaginta, uma vez em referência às qualidades que os líderes
devem possuir (Dt 1.13,15), mas também é aplicado a todo o Israel (Dt 4.6; Dn
5.12 aplica-os ao profeta). Está claro que Tiago considera a “sabedoria” uma
virtude à disposição de todos (1.5), e mesmo 3.1 realmente não se dirige a
mestres, mas àqueles que queriam se tomar mestres. Portanto, a exortação de
Tiago é melhor compreendida como se fosse dirigida a todos os crentes em geral,
mas especialmente àqueles que se orgulhavam de seu conhecimento superior.
É necessário observar os três elementos
que compõe o versículo: "Mostre
pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria".
Mostre
pelo seu bom trato
– (trato: tratamento; ajuste, pacto, tratado; convivência; passadio,
alimentação; procedimento, modos, etc). Aquele que se sentisse sábio e
entendido deveria ter uma boa convivência, bons modos e procedimento;
As
suas obras
– ‘as obras’ constituem o motivo pela qual alguém se gaba; observe que ‘bom
trato’ não é ‘boas obras’ (aquelas que são feitas em Deus), e que ‘boas obras’
também não é ‘as suas obras’, que o versículo faz referência; a pessoa que
estivesse se gloriando deveria mostrar a sua realização (suas obras);
•Em
mansidão de
sabedoria – Porém, deveria demonstrar as suas obras segundo a sabedoria
descrita no versículo dezessete: em mansidão de sabedoria que do alto vem.
“...sábio
e entendido...”.
(sophos kai epistemön). ‘Sophos’ se
usa para definir o mestre prático (v.1), e ‘epistemön’
de um experto, uma pessoas destra e cientifica com um tom de superioridade.
Sabedoria é um assunto típico da
literatura hebraica. Há três livros no Antigo Testamento que se enquadram na
categoria de “livros de sabedoria”.
Ao contrário do que acontecia com os
gregos, a sabedoria para os judeus era sempre prática, vivencial e se
focalizava em como aplicar ä vida as verdades de Deus. Por isso Tiago desafia
seus leitores a mostrarem pelas suas obras que tipo de sabedoria eles têm.
UM
NOVO CONCEITO DE SABEORIA
Sabedoria em Tiago tem mais que ver com
uma conduta que reflete a natureza e a vontade de Deus do que com um intelecto
aguçado. Tiago lança um desfio: “Quem é sábio e tem entendimento entre vocês?”
Tanto sabedoria como entendimento andam bem juntos. Sabedoria direciona os
passos, e entendimento informa o destino das decisões. Segundo Tiago, ela é
demonstrada pelo bom procedimento. A questão não é o quanto sabemos na nossa
mente, mas quanto esse conhecimento é refletido no nosso procedimento.
Conforme Dibelius destaca, a exortação
de Tiago à “pessoa sábia” parece desajeitada, pelo fato de ele combinar duas ideias
nela: a sabedoria deve produzir obras e a sabedoria deve ser caracterizada pela
humildade. A primeira ideia dá-nos uma forte lembrança da exigência anterior de
Tiago, no sentido de que a fé se manifesta em obras. A verdadeira sabedoria,
assim como a fé real, é uma qualidade prática e vital que tem a ver tanto (ou
mais) com o modo pelo qual vivemos como com aquilo que pensamos ou dizemos.
Neste sentido, Tiago é fiel ao conceito veterotestamentário da sabedoria como
um modo de vida, a atitude e conduta típicas de uma pessoa piedosa. Mas Tiago
está muito mais interessado na segunda ideia mencionada acima, as qualidades
que devem ser manifestadas pela sabedoria. Em mansidão de sabedoria deve ser
entendido como um qualificativo de obras. Estas devem ser praticadas “em
mansidão” que caracteriza a “sabedoria” ou nasce dela (vendo o genitivo como
descritivo ou indicador de origem). Mansidão (praütês), na mente da
maioria dos gregos, dificilmente era uma virtude a ser buscada: ela sugeria um
rebaixamento servil e ignóbil. Mas Jesus, que pessoalmente foi “manso” (Mt
11.29), pronunciou uma bênção sobre aqueles que fossem mansos (Mt 5.5). Tal
mansidão cristã envolve uma compreensão sadia acerca de nossa falta de méritos
diante de Deus e uma respectiva humildade e falta de orgulho no trato com
nossos semelhantes.
“Mas,
se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos
glorieis, nem mintais contra a verdade.” 3.14.
O problema encontra-se no coração do
homem e a língua torna evidente este mal “...sentimento
faccioso em vosso coração...”.
Este versículo demanda um exercício de
interpretação de texto para uma melhor compreensão. Observe:
Uma pergunta – “Quem entre vós é sábio e entendido?”. O contexto nos mostra que só
quem quer ser mestre se considera sábio e entendido;
Uma determinação a quem respondesse
afirmativamente que é sábio e entendido – “Mostre
pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria”. A determinação
do apóstolo só é cabível a quem presume ser sábio e entendido; porém, a
determinação é impossível de ser cumprida por quem se arroga na condição de
sábio e entendido;
Uma conclusão – “Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso
coração...”. Este versículo é uma conclusão do apóstolo, e aponta os
elementos que consta do coração daqueles que se acham sábios e entendidos.
Observe que o argumento fica inconsistente quando se tenta combinar a primeira
e a segunda parte do versículo ao se enfatizar a partícula ‘se’: “Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento
faccioso...”, e; “...não vos
glorieis, nem mintais contra a verdade”. O indivíduo pode se gloriar de uma
alta posição, porém, jamais alguém vai querer se gloriar de ser invejoso e
faccioso. A Bíblia Vida Nova da Editora Vida Nova reza o seguinte: “Se, pelo contrário, tendes em vosso coração
inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais
contra a verdade”. Para enfatizar a partícula ‘se’, trocam o ‘não’ pelo
‘nem’, o que dá a entender que alguém se gloria em ser invejo e faccioso
(‘glorieis disso’, disso o quê?).
A pergunta persiste: quem é sábio e
entendido? Um sábio e entendido deve mostrar através do seu bom comportamento
suas obras em mansidão de sabedoria. Quando alguém que se diz sábio e entendido
não consegue cumprir com a determinação anterior, só pode estar acometido de
amarga inveja e um sentimento faccioso no coração.
A determinação é clara e precisa:
“...não vos glorieis nem mintais contra a verdade”.
Não vos glorieis – Com relação a
gloriar-se, a primeira determinação do apóstolo é oposta: “Glorie-se o irmão de condição humilde (...) o rico, porém, glorie-se na
sua insignificância...”; O apóstolo Tiago dá um bom motivo para os irmãos
se gloriarem (Tg 1.9-10), e reitera que todos devem estar prontos a ouvir,
tardios em falar (Tg 1.19). Se alguém estava procurando a posição de mestre com
a intenção de gloriar-se, a determinação é clara: não vos glorieis; pois os
mestres receberão maior juízo (Tg 3.1); a língua se gaba de grandes coisas (Tg
3.5); e, quem entre eles era sábio e entendido, a ponto de gloriar-se? (Tg 3.13);
Muitos dentre os cristãos se sentiam
mestres, sábios e entendidos, porém a sabedoria que neles estava não vinha de
Deus (Tg 3.1 e 13).
A pretensa sabedoria que alguns possuíam
não era a sabedoria que vem do alto.
A sabedoria terrena, animal e diabólica
é a que está vinculada à velha natureza. Eles ainda eram carnais (1Co 3.3).
v.16 "Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a
obra perversa".
A partir do v. 17, surge a descrição da
sabedoria que vem do alto.
Vejamos rapidamente o que significa cada
uma dessas características:
Pura
é
uma sabedoria que não está contaminada pelas imundícias que desagradam a Deus.
Pura, em grego, hágnos e o sentido desta raiz contem a ideia de suficientemente puro para acercar-se aos
deuses.
Pacífica porque onde o
Senhor está, há paz. A sabedoria diabólica, por outro lado, produz confusão e
toda má obra. Moderada: o termo sugere moderação, equilíbrio, gentileza. É uma
forma de autêntico cavalheirismo, é fazer aquilo que é justo, mesmo que isso
implique em abrir mão de seus direitos.
A sabedoria divina é ainda cheia de
misericórdia. A palavra aqui usada significa “compaixão pelos desgraçados”.
Uma pessoa que tenha sabedoria que vem do alto terá profundo interesse pelas
pessoas e irá se condoer com os que sofrem. Cheia de misericórdia e de bons
frutos tem sido interpretado por alguns como uma redundância: os frutos que a
misericórdia produz. No entanto, pode ser mais amplo. Não basta a misericórdia.
Além dela, bons frutos devem ser apresentados. Sem parcialidade: a questão da
acepção de pessoas tratada no capítulo 2 é aqui retomada. Quando na igreja há
atitudes de favoritismo está havendo pecado.
Por
tudo isso a sabedoria do alto é sem hipocrisia. A palavra
“hipócrita” tem uma origem bem interessante: ela vem das peças teatrais gregas
onde o ator representava uma personagem. O hipócrita é aquele que não age com
sinceridade, mas toma suas atitudes de acordo com os seus próprios interesses
do momento.
“Ora,
o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz”. V. 18
Ao concluir este capitulo Tiago mostra
através deste versículo um vínculo de conexão entre o que temos estado
analisando e o que virá nos capítulos finais.
Mais uma vez Tiago tem que colocar nossa
fé a prova, esta vez concernente à classe de sabedoria que manifestamos em
nossa vida cotidiana.
O apóstolo Tiago chega a uma conclusão:
o fruto da justiça semeia-se na paz! O que ele quis dizer?
Não
se semeia o fruto, e sim a semente, pois devemos ter em mente que a semente
dará o seu fruto no devido tempo. Ou seja, para se obter o fruto da justiça
devemos lançar a semente na paz. Mas, qual é a semente que produz o fruto da
justiça? Para se obter o fruto da justiça faz-se necessário semear a semente
apropriada, que é a palavra de Deus (1Pe 1.23).
Nada bom pode crescer em um ambiente no
qual as pessoas estão em constante rivalidade e desacordo.
CONCLUSÃO
Entendemos, que a
sabedoria do alto é muito mais que um conhecimento profundo de Deus. Ela se
desdobra em ações praticadas pela justiça, mediante um santo proceder, fruto de
uma mente renovada pela graça de Deus. É uma sabedoria que não permanece
estática diante da revelação de Cristo, mas que reage a essa revelação de
maneira positiva, com o intuito de aprender dele para servi-lo. Ela às vezes
pode confundir os que se deparam com ela (Mc 6.2), mas a ela ninguém pode
resistir (Lc 21.15; At 6.10). Ela deve estar presente nos servos de Deus (At 6.3),
como sabedoria dada por Ele (1 Co 1.17), porque somente o poder de Deus ode
produzir em nós a verdadeira fé (1 Co 2.1-13). A sabedoria de Deus nos impede
de cometer erros terríveis (1 Co 2.8) e nos traz pleno conhecimento dele (Ef 1.17).
A humildade, a
pouca solvência faz parte do plasmar da
verdadeira sabedoria oriunda de Deus.
Que sejamos
sábios, que sejamos humildes, que sejamos SERVOS DO DEUS ALTÍSSIMO.
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Pr. Adaylton de Almeida Conceição (Th.B.Th.M.Th.D.)
(R.I.P.)
foi meu amigo