O livro de provérbios constitui uma espécie de chave que permite interpretar os outros livros que compõe as Escrituras. Através dos provérbios é possível encontrar a ideia base de alguns termos que permitirá compreender uma verdade contida em outros livros. Em outras palavras, o livro de provérbios é um 'catalisador' que permite a compreensão de enigmas e parábolas que são apresentados em outros livros. Constitui-se uma chave mestra.
“1 PROVÉRBIOS de Salomão, filho de Davi, rei de Israel; 2 Para se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem, as palavras da prudência. 3 Para se receber a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a equidade; 4 Para dar aos simples, prudência, e aos moços, conhecimento e bom siso; 5 O sábio ouvirá e crescerá em conhecimento, e o entendido adquirirá sábios conselhos; 6 Para entender os provérbios e sua interpretação; as palavras dos sábios e as suas proposições” (Pv 1.1 -6)
O livro de Provérbios é classificado como um dos livros sapienciais do Antigo Testamento, e está inserido entre o Livro de Salmos e Eclesiastes na Bíblia. Mas, qual o objetivo dos muitos provérbios elencados neste maravilhoso livro? Seria um convite aos judeus para aguçar, manter e valorizar a cultura popular e religiosa do povo? Seria ensino de cunho moral e ético? Segundo o que se abstrai da introdução do livro, o seu objetivo é muito maior que estabelecer uma cultura, fortalecer a religiosidade e difundir ensinamentos éticos e morais. Vejamos!
PROVÉRBIOS de Salomão, filho de Davi, rei de Israel
Na sua maioria os provérbios contidos no livro são atribuídos ao rei Salomão, filho de Davi, que foi um dos reis em Israel. Porém, no livro também há provérbios de outros autores.
Para se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem, as palavras da prudência.
Para se receber a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a equidade;
Para dar aos simples, prudência, e aos moços, conhecimento e bom siso;
À semelhança da poesia hebraica, os provérbios possuem um quê poético, um ritmo forte de idéias, porém, difere dos salmos, que na sua maioria são cânticos proféticos compostos para serem entoados com instrumentos musicais de corda (Mizmor) ou sem instrumento (Shir).
A semelhança fica somente por conta do valor das idéias, como se dava com o cântico satírico (Mashal – termo derivado de uma raiz que significa "ser como"), que geralmente se dá por estabelecer comparações e equivalências entre as idéias.
A poesia hebraica valoriza a ideia em detrimento do ritmo e da rima, diferença significativa com relação à poesia ocidental.
A poesia hebraica é composta na essência de paralelismo, que é uma espécie de rima e ritmo de pensamentos, o que, consequentemente, estabelece um tipo de trava lógica entre a ideia antecedente e a consequente.
Há vários tipos de paralelismo na poesia hebraica e, construção similar ocorre nos provérbios, o que permite analisar as proposições através da lógica.
Qual a natureza dos provérbios de Salomão? É sabedoria humana ou sabedoria espiritual?
É sabedoria espiritual! Apresenta aos homens a sabedoria que é de cima (Tg 3.17), visto que o ‘temor’ do SENHOR é o princípio da sabedoria.
O livro de provérbio constitui uma espécie de chave que permite interpretar os outros livros que compõe as Escrituras. Através dos provérbios é possível encontrar a ideia base de alguns termos que permitirá compreender uma verdade contida em outros livros.
Em outras palavras, o livro de provérbios é um catalisador que permite a compreensão de enigmas e parábolas que são apresentados em outros livros. Constitui-se uma chave mestra que permite abrir outros livros à compreensão.
Na introdução do livro tem-se o seu objetivo: “Para se conhecer a sabedoria e a instrução”, ou seja, o livro foi escrito com o propósito de tornar ‘conhecida’ a sabedoria e a instrução. Ele permite ao homem ‘entender’ as palavras da prudência (Lc 11.31).
Quais são as palavras da ‘prudência’? Refere-se à palavra de Deus, que é Cristo, o Verbo encarnado.
O livro tem por objetivo capacitar o leitor a ‘entender’ os provérbios e sua interpretação. Por que é necessário entender os provérbios? Por que é necessário interpretá-los se eles são construídos com proposições simples?
É importante notar que o livro de provérbios tem o objetivo de dar entendimento ao ‘sábio’, e não ao tolo, o que parece ser um contra senso (v. 5). É o sábio que precisa de entendimento? Não seria o tolo? Ora, com relação às escrituras, sábio é aquele que se aplica ao temor do Senhor, ou seja, conhecimento da palavra de Deus. Sábio não tem relação a quem é letrado ou versado no conhecimento humano.
Observe: “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11.25). O Senhor Jesus demonstrou que há um conhecimento que não é próprio aos sábios e entendidos deste mundo, e nesta descrição encaixa-se os religiosos judeus e as várias correntes filosóficas. A Sabedoria que vem de Deus consiste em ‘revelação’ reservada aos seus ‘pequeninos’, que é descrição própria de todos que O aceitam pela fé, não importando se rico ou pobre, leigo ou sábio.
Ou seja, o livro de provérbio tem o objetivo de ensinar a alcançar a sabedoria que vem do alto, diferente de outras disciplinas humanas que visa uma vida prudente baseada em fazer o que é correto, justo e digno segundo a moral e a ética.
Por ser uma frase curta, bem construída, que expressa uma ideia simples vincada na experiência humana, muitos só conseguem visualizar que os provérbios consistem em ensinamentos deduzidos da experiência que o povo tem da vida com o fito de orientá-los com relação às coisas deste mudo. É daí que surge o equívoco.
Não consegue ver a importância do livro no contexto geral das Escrituras. O livro de provérbios foi escrito especificamente para se compreender os provérbios, os adágios, os enigmas e as parábolas, pois esta seria a forma que Cristo utilizaria para falar com o povo de Israel (Pv 1.6).
Para entender os provérbios e parábolas; os adágios e os enigmas dos sábios
O que entender com o seguinte provérbio:
“Livrar-te-á também da mulher adultera e da estrangeira, que lisonjeia com suas palavras, a qual deixou o companheiro da sua mocidade e se esqueceu da aliança do seu Deus” (Pv 2.16 -17)
Um leitor culto ou leigo, somente verá neste provérbio um alerta de cunho moral, para que o homem não se deixe enlaçar por uma mulher adultera e, para os judeus, que não se envolvessem com mulheres estrangeiras.
Mas, quem tem o ‘conhecimento’ do Santo, vai olhar o provérbio e observar que o problema da ‘mulher adúltera’ está na sua palavra, e não no apelo de ordem sexual, assim como o mau caminho dos versos anteriores está relacionado com as palavras de perversidade proferidas pelos judeus (Pv 2.12). Observará que o provérbio faz referência a uma ‘mulher adultera’ específica, a que deixou a aliança com o seu Deus: Israel (Pv 2.17). A ‘mulher adúltera’ é uma figura para falar da condição de Israel, que deixou a aliança com Deus, ou seja, representa a nação (homens) que segue após os seus caminhos e proferem palavras perversas, palavras estas que se equiparam com as ‘lisonjas’ de uma mulher adúltera .
Se observarmos os profetas, verificamos a verdade real que há no provérbio: "Foste como a mulher adúltera que, em lugar de seu marido, recebe os estranhos" (Ez 16.32 ; Jr 3.20).
Jesus nada falava ao povo a não ser por parábolas, ou seja, quando Ele disse: "Mas ele lhes respondeu, e disse: Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará outro sinal senão o do profeta Jonas" (Mt 12:39), não estava acusando os fariseus de serem promíscuos, antes de terem deixado a aliança de Deus (Mc 4:34).
Se os judeus soubessem interpretar os provérbios, saberiam que Cristo haveria em ensiná-los utilizando adágios da antiguidade, como profetizou o salmista Davi (Sl 78.2).
Prova de que o provérbio não faz referência ao comportamento reprovável de uma mulher adultera reside no fato de Jesus oferecer a mulher samaritana água viva, embora ela estivesse com um marido que não lhe pertencia, sendo que já tivera cinco maridos (Jo 4.18).
Com o auxilio dos provérbios é possível compreender porque Tiago chama alguns dos seus leitores, que estavam distorcendo a verdade bíblica de adúlteros "Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" (Tg 4.4).
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