Santificação é a obra da graça divina através da qual o crente é separado do ego e da pecaminosidade interior e, pela concepção do Espírito Santo, separado para o servi-lo de Deus. É um marco subseqüente à experiência da conversão, quando o pecador é levado a ver sua necessidade e a se aproximar da provisão que o Senhor preparou para ele.
I. OS OBJETIVOS DA SANTIFICAÇÃO
Santificação literalmente quer dizer "tornar santo". Conseqüentemente, o Espírito Santo é o agente necessário à santificação, e Cristo é a adequada provisão: Jesus "foi feito para nós ...santificação" (1 Co 1.30). Não há santificação alguma, moralmente, no sentido bíblico, sem o contato e a união com Cristo.
1. A santificação não é para o mundo. Uma vez que o incrédulo não pode ver e nem conhece o Espírito santificador (Jo 14.16,17), de igual modo não poderá experimentar a santificação. De acordo com o ensino de Paulo em Efésios 4.17-19, os "gentios" (tipo do pecador que ainda não é convertido) acham-se presos "na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração; os quais, havendo perdido o sentido, se entregaram à dissolução, para com avidez cometerem toda impureza".
2. A santificação é para a Igreja. A Igreja, a noiva e futuramente esposa de Cristo, é o recipiente dessa obra do Espírito Santo. Quanto a isso, diz o apóstolo Paulo que "Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa e sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível" (Ef 5.25-27). É, pois, apropriado e necessário que a esposa de Cristo, o Cordeiro, seja santa em toda a sua maneira de viver, pois "a si mesma já se ataviou" (Ap 19.7).
3. A santificação é para o membro da Igreja de Cristo. Um membro enfermo poderá afetar todo o corpo, o qual só goza de saúde quando todos os seus órgãos são sadios. Cristo orou para que, como indivíduos, nós, os seus discípulos, fôssemos santificados: "Santifica-os na verdade..." (Jo 17.17). De igual modo orou o apóstolo Paulo para que o crente fosse santificado na totalidade do seu ser (1Ts 5.23).
Paulo discute a santificação individual do cristão como: despojar do velho homem, renovar no espírito do entendimento, revestir do novo homem, deixar a mentira, trabalhar e viver honestamente, só falar o que edifica, e não entristecer o Espírito Santo (Ef 4.22-30).
II. PROPÓSITOS DA SANTIFICAÇÃO
Dentre os principais propósitos da santificação cristã, destacam-se os seguintes:
1. A santificação tem por finalidade atender a necessidade mais profunda da criatura humana. Esta necessidade está graficamente registrada em Romanos 7. De acordo com este texto existe um inimigo no interior do homem, chamado de "lei do pecado" (v.23); por isso há necessidade da obra regeneradora do Espírito para que o pecador "tenha prazer na lei de Deus" (v.22). Também é preciso que o Espírito Santo revele a pecaminosidade de cada um de nós, de sorte que individualmente possamos dizer a respeito de nós mesmos: "em mim... não habita bem nenhum" (v.18).
2. A santificação é uma provisão feita por Deus. Mas, como podemos experimentar a apropriação dessa provisão? Pela identificação com Cristo em sua morte. Devemos consentir em morrer com Jesus em sua morte. Precisamos subir à cruz com Ele, e de toda a nossa vontade renunciar o ego, que nos tem causado os maiores distúrbios. A nossa crucificação com Cristo é o único meio de libertação. Só assim podemos dizer como se expressou o apóstolo Paulo: "Estou crucificado com Cristo" (Gl 2.20).
3. A santificação capacita e aparelha o crente para o serviço cristão. Neste particular a santificação identifica-se com a obra do Espírito Santo, a fim de capacitar o crente para testemunhar do Evangelho. Conquanto Jesus soubesse muito bem que a seara era grande, e chegasse a seus ouvidos o clamor da necessidade de mais obreiros, ordenou a seus discípulos que permanecessem em Jerusalém, até que do alto fossem revestidos do poder do Espírito para testemunhar de Cristo (Lc 24.49; At 1.8).
III. ASPECTOS DA SANTIFICAÇÃO
Quanto à sua natureza doutrinária, devemos estudar a santificação sob os seguintes aspectos:
1. Aspectos ritualísticos e morais. O lugar em que Moisés esteve junto à sarça era ritualisticamente santo porque Deus estava lá. Da mesma forma o tabernáculo e os artigos e objetos que o ornamentavam, e posteriormente o templo, eram santos. Também certos dias eram santos, por terem sido separados para ritos e cerimônias especiais.
2. Aspectos negativos e positivos. Negativamente analisada, santificação é separação de, ao colocar-se o recipiente à parte. Isso se relaciona intimamente com o lado positivo da santificação, que é dedicação a, ou para algo. O propósito da separação de é fazer com que a dedicação tenha lugar. Na santificação de pessoas, essa separação é do pecado e do ego, para a dedicação ou consagração a Deus.
3. Aspectos objetivos e subjetivos. O não perceber esta distinção de aspectos, muitas vezes confunde certas pessoas que deixam de compreender a obra da santificação. Objetivamente, toda essa obra é em Cristo. É um obra completa. "Cristo foi feito santificação para nós" (1Co 1.30). Mas subjetivamente essa obra completa torna-se real para nós mediante nossa apropriação pessoal. Objetivamente, vemos o que Cristo fez por nós (Hb 10.10). Mas, subjetivamente isso deve tornar-se experiência em nós; daí a necessidade constante de nos rendermos a Ele.
IV. MEIOS DA SANTIFICAÇÃO
Deus mesmo estabeleceu os meios próprios através dos quais Ele opera a nossa santificação. Entre tantos outros, destacaríamos apenas os seguintes:
1. Pela Palavra de Deus. Jesus assim orou: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17.17). A Palavra de Deus tem efeito purificador, e lava (Ef 5.26). A Palavra de Deus tem efeito penetrante (Hb 4.14). Desse modo nenhuma parte do crente (espírito, alma e corpo) foge ao alcance e ação da Palavra sondadora de Deus.
2. Pelo sangue de Jesus. "E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta" (Hb 13.12). O sangue de Jesus é a base de toda a nossa pureza e vitória. Sempre que o Espírito Santo lida conosco, seja por causa dos nossos atos pecaminosos ou devido à nossa natureza transgressora, Ele nos faz voltar à cruz donde o sangue purificador jorra para todos quantos buscam a purificação.
3. Pela Santíssima Trindade. Somos santificados por Deus, o Pai: "E o mesmo Deus de paz vos santifica em tudo..." (2 Ts 5.23). Somos santificados por Jesus Cristo: "Porque, assim o que santifica [o contexto refere-se a Jesus], como os que santificados, são todos um" (Hb 2.11). Somos santificados pelo Espírito Santo: "Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade" (2 Ts 2.13).
CONCLUSÃO
A santidade é uma realidade religiosa que transcende o "eu" em seus termos de referência " Richard Shelley Taylor.
Santidade é ouvirmos as desgraças de alguém, e não respondermos contando as nossas " Dr. Andrew V. Mason.
O ouro jamais fica totalmente isento de escória: a luz nunca brilhará sem a presença de alguma sombra, enquanto não chegarmos à Jerusalém celestial. O próprio Sol tem manchas em seu disco. Os homens mais santificados mostram máculas e defeitos, quando pesados na balança do santuário. A vida deles é uma contínua luta contra o pecado, o mundo e o diabo. E, algumas vezes, podemos vê-los não vencedores, mas vencidos. A carne não cessa de lutar contra o espírito e o espírito contra a carne, e "... todos tropeçamos em muitas coisas" (Gl 5.17; Tg 3.2) " J. C. Ryle.
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