A EPÍSTOLA
AOS ROMANOS
Pr. Adaylton de Almeida Conceição
A IMPORTÂNCIA DA EPÍSTOLA
A
epístola de Paulo aos romanos, segundo Martinho Lutero, é a principal
composição do Novo Testamento e a mais pura descrição dos ensinos contidos nos
Evangelhos. Romanos é a maior, mais rica e mais abrangente declaração do
apóstolo Paulo sobre o Evangelho. Calvino escreveu “que entre as muitas e
notáveis virtudes, a Epístola possui uma em particular, a qual nunca é
suficientemente apreciada, a saber: se porventura conseguirmos atingir a
genuína compreensão desta Epístola, teremos aberto uma amplíssima porta de
acesso aos mais profundos tesouros da Escritura”.
João
Crisóstomo, o maior pregador do século V, pedia que Romanos fosse lido em alta
voz uma vez por semana. Agostinho, Lutero e Wesley, três figuras extremamente
importantes para a nossa herança cristã, viveram a firmeza da fé através do
impacto da carta aos Romanos em suas vidas. Todos os reformadores da igreja
viam Romanos como sendo a chave divina para o entendimento de toda a Escritura,
já que aqui Paulo une todos os grandes temas da Bíblia: Pecado, Lei,
julgamento, destino humano, fé, obras, graça de Deus, justificação, eleição, o
plano de salvação, a obra de Cristo e do Espírito Santo, a esperança cristã, a
natureza e vida da igreja, o lugar do judeu e do gentio nos propósitos de Deus,
a filosofia da igreja e a história do mundo, a mensagem do Antigo Testamento,
os deveres da cidadania cristã e os princípios de retidão e moralidade pessoal.
Romanos nos abre uma perspectiva através da qual a paisagem completa da Bíblia
pode ser vista e a revelação de como as partes se encaixam no todo se torna
clara.
Foi
lendo esta carta que Martinho Lutero foi tocado pela mensagem da salvação
gratuita, fazendo-o insurgir-se contra a venda de indulgências que se
disseminava entre a classe eclesiástica de então. Em Romanos 1.17 lê-se: "Porque nele se descobre a justiça de
Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o Justo viverá da fé'".
Segundo esta epístola, a salvação que Deus proporciona à humanidade é dada
gratuitamente através do sacrifício de seu Filho Jesus Cristo, na cruz do
Calvário.
Apresentação pessoal e saudação
Na
antiguidade, toda carta grega seguia uma metodologia padrão de construção. A
primeira parte deveria identificar o remetente e sua saudação. Paulo se vale
dessa formalidade para apresentar-se de forma mais clara e ampla possível a uma
comunidade de irmãos que até aquele momento ele não conhecia pessoalmente, mas
esperava conhecê-los em breve. O apóstolo se apresenta como servo de Cristo. A
palavra original ‘doulos’, derivada
do verbo ‘deo’ (algemar,
aprisionar), significa também escravo. Para um grego dessa época essa era uma
expressão de vergonha e rebaixamento. Para os judeus, entretanto, era a mais
expressiva forma de se posicionar em adoração ao Senhor Deus. Todo cristão é um
servo do Senhor Jesus. O termo “servo” exprime total entrega à vontade de
Cristo.
Paulo
apresenta a relação entre a história, a humanidade e a divindade. O elemento
histórico é o rei Davi. A questão humana é a descendência carnal de Cristo. O
elemento divino é a declaração a sua filiação divina. Isso nos mostra que o
evangelho está cravado no contexto humano de forma historicamente comprovada.
Interessante
é que Paulo sempre justifica suas afirmações com respostas doutrinárias, nunca
com o costume da época. Quando ele afirma que não se envergonha ele responde o por
quê: “pois ele é o poder de Deus para
salvar todos os que creem”. Se nós cremos nesse poder, então NÃO podemos
ter vergonha de anunciar o evangelho!
No
versículo 17, ele complementa: “Porque
no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim
é pela fé, como está escrito: "O justo viverá pela fé".” (faz
referência a Habacuque 2.4). Só podemos ser salvos através da fé.
A FÉ E A LEI
No
primeiro século, nem todos concordavam que a justiça era creditada à base da
fé. Uma minoria vociferante insistia em que algo mais era necessário. Não dera
Javé a Lei mosaica? Como poderia alguém que não se submetesse àquela inspirada
provisão ser justo? (Veja Gálatas 4.9-11, 21; 5.2.) Em 49 d.C, o corpo
governante em Jerusalém analisou a questão de se aderir à Lei, e a conclusão
foi que os gentios que aceitassem as boas novas não precisavam ser
circuncidados e submeter-se aos regulamentos da Lei judaica. — Atos 15.1, 2,
28, 29.
Cerca
de sete anos depois, Paulo escreveu a carta aos romanos corroborando aquela momentosa
decisão. Deveras, ele foi ainda mais longe. Não só era a Lei desnecessária para
os cristãos gentios, mas os judeus que fiavam-se na obediência a ela não seriam
declarados justos para a vida.
O CONTEXTO DA IGREJA DOS ROMANOS
De
quem era formada a comunidade romana cristã nos seus primórdios? Já havia uma
comunidade judaica em Roma: prova disto é a própria epístola aos romanos
acompanhada por At 28.15.
Rm
15.22s: mostra que antes de 50 d.C., já
existia cristãos em Roma, pois “há muito tempo” o apóstolo pretendia ir
visitá-los.
Era
formada por Judeus e gentios. A estrutura da carta dá a entender tanto que
havia judeus como gentios na sua formação (Rm 1:5, 12-16; 3.27-30, 4.6; 6.19;
11.13, 25, 28, 30; 15.1, 8, 15; a lista de nomes no cap 16 tanto existem nomes
judaicos (16.7,11) como gentílicos), tendo, portanto, as mesmas
responsabilidades diante de Deus (Rm 1.16; 2.9ss; 3.29; 10.12); além disto, por
exemplo, grande parte das discussões paulinas nesta carta tem a ver com o
conhecimento da lei judaica (Rm 9-11 é um exemplo disto), que seriam
incompreensíveis se não houvesse cristãos judeus na igreja romana.
ÉPOCA E LUGAR DA ESCRITA
Provavelmente
entre 54 - 57 d.C., na cidade de Corinto (Rm 15.25, At 20.2), quando do fim de
sua 3ª viagem missionária, ao voltar para Jerusalém, já estando em posse da
coleta de mantimentos para os irmãos pobres da Judéia.
Achamos em
Romanos 16.23 que Gaio e Erasto estava com Paulo. Estes dois eram membros da igreja de Corinto (I Cor.1.14, II
Tim. 4.20).
A carta foi levada por Febe (Rom.16.1)
que morava em Cancréia, perto de Corinto (Atos.18.18).
Os amigos de Paulo: Priscila e Áquila,
já estavam em Roma, (Rom.16:3) onde eles nasceram (Atos 18.2).
Produção da escrita
Paulo
passou os dez anos que vão de 47 a 57 A. D. realizando intensa evangelização
dos territórios que margeiam o Mar Egeu. Durante aqueles anos, concentrou-se
sucessivamente nas províncias romanas da Galácia, da Macedônia, da Acaia e da Ásia. O Evangelho fora pregado e igrejas tinham sido fundadas ao longo das
principais estradas dessas províncias e em suas cidades principais. Paulo
recebeu com justa seriedade a responsabilidade que lhe foi dada como apóstolo
de Cristo entre os gentios.
Mas
a missão de Paulo não estava de forma alguma terminada. Durante o inverno de
56-57 A. D., que ele passou em Corinto, na casa de Gaio seu amigo que se
convertera, ficou ansioso (com alguma apreensão) para fazer uma visita a
Jerusalém no futuro imediato — pois tinha de cuidar da entrega de uma oferta em
dinheiro aos presbíteros da igreja de lá, por cuja arrecadação estivera
trabalhando alguns anos entre os gentios convertidos pelo seu intermédio.
Esperava que essa oferta fortalecesse os laços entre a igreja-mãe, na Judéia, e
as igrejas gentílicas.
A
excursão à Espanha lhe daria a oportunidade de satisfazer uma velha ambição — a
ambição de ver Roma. Embora cidadão romano por direito de nascimento, nunca
tinha visto a cidade da qual era cidadão. Quão esplêndido seria visitar Roma e
passar algum tempo lá! Seria deveras esplêndido porque havia uma florescente
igreja em Roma, e muitos cristãos que Paulo tinha encontrado aqui e ali em suas
viagens, residiam agora em Roma e eram membros daquela Igreja. O próprio fato de
que o Evangelho tinha chegado a Roma bem antes de Paulo, excluía Roma como
lugar onde ele poderia estabelecer-se para fazer evangelização pioneira. Mas
sabia que continuaria sua viagem para a Espanha com muito mais gosto se pudesse
primeiro renovar seu espírito com algumas semanas de companheirismo com os
cristãos de Roma
Portanto,
durante os primeiros dias do ano 57 A. D., ele ditou a seu amigo Tércio —
cristão posto às suas ordens talvez por seu hospedeiro Gaio, para servir-lhe de
secretário — uma carta destinada aos cristãos romanos. Esta carta visava
prepará-los para a sua visita à cidade e explicar a finalidade da mesma. E
julgou de bom alvitre, ao escrevê-la, oferecer-lhes uma completa exposição do
Evangelho como ele o compreendia e o proclamava.
Aproximadamente
cinco anos depois de escrita a carta, o apóstolo chega à Roma. Mais tarde do
que planejado e em condições (transporte de prisioneiros) que não imaginava na
época da escrita.
Autoria
Paulo
a ditou para Tércio (cf. Rm 16.22). As evidências internas desta afirmação são
basicamente duas:
a)
a reivindicação da autoria pelo apóstolo na introdução da Epístola (Rm 1.1),
como é comum em suas epístolas;
b)
o conteúdo, estilo literário e vocabulário são próprios de Paulo.
Já
as evidências externas são muitas:
a)
Irineu citou Romanos 4.10 num dos seus escritos, atribuindo a autoria ao
apóstolo Paulo;
b)
Policarpo, bispo de Esmirna, citou a Epístola aos Romanos como de autoria
paulina;
c)
No manuscrito mais antigo das epístolas paulinas, o papiro 46, proveniente do
Egito, consistindo de dez epístolas, a carta aos Romanos vem em primeiro lugar.
Objetivo da Carta.
Fica
claro, pela leitura da carta, que ela foi escrita a uma Igreja cristã composta
tanto de judeus como de gentios. Havia muitos judeus em Roma naquela época;
eles retornaram depois da morte do Imperador Cláudio, que os banira de lá algum
tempo antes. Embora Paulo não tivesse estado em Roma, para sentir pessoalmente
os problemas que a igreja enfrentava, é possível que tenha sido informado da
condição e dos assuntos da Igreja por seus bons amigos e colaboradores,
Priscila e Áquila, e possivelmente também por outros a quem Paulo encontrara.
Seus cumprimentos no capítulo 16 indicam que conhecia pessoalmente um bom
número de membros daquela igreja.
Em
suas cartas, Paulo atacava problemas específicos e lidava com questões que
considerava muito vitais para aqueles a quem escrevia. Quanto à oposição
judaica, Paulo já havia escrito às congregações da Galácia, refutando-a, mas
essa carta tratava mais especificamente dos esforços feitos pelos judeus que
professavam o cristianismo, mas que eram “judaizantes” e insistiam que os
conversos gentios fossem circuncidados e que em outros sentidos se exigisse
deles observarem certos regulamentos da Lei mosaica. Na igreja romana não
parecia haver um esforço sério neste sentido, mas, pelo que parece, havia
inveja e sentimentos de superioridade da parte tanto dos judeus como dos
gentios.
A Igreja de Roma
Roma,
capital do império Romano, era maior que Atenas, Alexandria e Antioquia.
Exercia domínio em todas as questões imperiais: políticas, sociais, militares,
comerciais e religiosas. O calendário romano data a origem da cidade em 753
a.C. envolta em grande mistério. Foi edificada como resultado de conquistas
militares e sustentadas pela capacidade de sua força bélica, competência
administrativa e rapidez nas comunicações. Durante o primeiro século da era
cristã, Roma tinha mais de 1.500.000 habitantes, dos quais 800.000 eram
escravos. Através de a sua força militar, conservava as estradas relativamente
livre da ação dos salteadores, ao ponto do primeiro século d.C. ter sido
considerado a época da Pax Romana, o que facilitou a propagação do Evangelho
nas regiões do Império.
A fundação da Igreja
Não
há dados históricos sobre a origem da Igreja em Roma. O NT não traz nenhuma
referência. Para Irineu, os fundadores foram Paulo e Pedro, mas não há nenhum
registro que apoie essa tradição. A tradição mais aceitável é a de
Ambrosiastas, um escritor que viveu no século IV d.C. e que era membro da
Igreja em Roma. Segundo ele, essa comunidade eclesiástica havia aceitado a fé
de acordo com o tipo judaico, sem ter a participação de qualquer apóstolo mais
conhecido da época.
Portanto,
a suposição histórica mais provável é a de que os que estiveram em Jerusalém,
no dia do Pentecostes e também fizeram parte dos três mil convertidos,
retornaram a Roma e formaram a primeira Igreja dos seguidores de Jesus Cristo.
Tema central
A
justiça de Deus revelada (1.16,17) – Além desse tema central, os principais
temas apresentados pelo apóstolo nesta epístola são:
a)
Condenação – a falta de justiça da
parte do homem (judeus e gentios): não há nenhum justo (1.18 - 3.20);
b)
Justificação – a justiça de Deus em
Cristo tornada a justiça do homem: todos podem ser justos (3:21 - 5.21);
c)
Verdadeiro sentido da circuncisão;
d)
O conflito entre as duas natureza –
pecaminosa (antiga) e a santa (nova);
e)
A lei e a graça;
f)
Santificação – vida através do
Espírito Santo: nossa identificação com Cristo;
g)
A soberania de Deus; h) O propósito de Deus para Israel.
O PECADO DO HOMOSSEXUALISMO (1.26-32)
O
apóstolo não poupa palavras para mostrar o quanto Deus odeia as relações
sexuais anormais. O homem foi feito para a mulher e a mulher para o homem, para
Deus não há meio termo. Todos que cometem homossexualismo terão a punição de
Deus, se não se arrependerem. Quem age de maneira devassa sexualmente, despreza
o conhecimento de Deus, e estão propensos a cometerem todos os tipos de pecado.
Conclusão. A carta,
portanto, não é uma simples carta geral, escrita à igreja romana, sem nenhum
objetivo específico, como alguns supõem, mas tratava, evidentemente, das coisas
de que eles precisavam, nas circunstâncias existentes. A igreja romana conseguiria
captar o pleno significado e a plena força do conselho do apóstolo, pois sem
dúvida enfrentava exatamente os problemas de que ele, Paulo, estava tratando. É
óbvio que o objetivo dele era solucionar as diferenças de ponto de vista
existentes entre os cristãos judeus e os cristãos gentios e conduzi-los em
direção à completa união, como um só homem, em Cristo Jesus. No entanto, ao
escrever da maneira como o fez, Paulo ilumina e enriquece nossa mente no
conhecimento de Deus e exalta a justiça e a benignidade imerecida de Deus, bem
como a posição de Cristo com respeito à igreja cristã e a toda a humanidade.
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(O Pr. Dr.
Adaylton de Almeida Conceição, foi Missionário no Amazonas e por mais de 20
anos exerceu seu ministério na Republica Argentina; foi Licenciado, Bacharel,
Mestre e Doutor em Teologia, Doutor em Psicologia e em Humanidade, Escritor,
Professor Universitário, Pós-graduado em Psicanálise e em Ciências Políticas,
Juiz Arbitral do Tribunal de Justiça Arbitral-RJ, membro da Academia de Letras
Machado de Assis de Brasília e Diretor da Faculdade Teológica Manancial).
Meu orientador no Bacharelado em Teologia.
Meu orientador no Bacharelado em Teologia.
BIBLIOGRAFIA
F.
F. Bruce I Introdução e Comentário aos Romanos
Nelson
Salviano – Análise Bíblica da Epistola aos Romanos
Eduardo
Galvão - Carta aos Romanos
Paulo
Corrêa – Estudo da Carta aos Romanos
J.
Dias – Estudo da Carta aos Romanos
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