Porventura lavra todo dia o lavrador, para semear? (Is 28.24)
Certo dia, no começo do verão, eu ia passando por uma linda campina. A
relva aveludada parecia um imenso tapete oriental. Em um canto,
erguia-se uma bela árvore, já velha, abrigo de inúmeros pássaros que
enchiam de gorgeios o ar leve e revigorante. A sombra da ramagem, duas
vacas repousavam, imagem de sossego e contentamento.
Ao longo da estrada misturavam-se o roxo e o dourado das violetas silvestres e dentes-de-leão.
Parei, e fiquei ali por longo tempo, encostado à cerca, deixando que
meus olhos famintos se banqueteassem. Pensei comigo mesmo que Deus
jamais havia feito um lugar tão aprazível.
No dia seguinte passei por lá outra vez. Ah! a mão demolidora já havia
estado ali. Lá estava um arado, cravado ainda no sulco. Em um dia um
homem fizera no local uma terrível devastação. Em vez da relva verde,
estava à mostra a terra escura, feia e nua; em vez de pássaros cantando,
algumas galinhas ciscavam. E nem violetas, nem dentes-de-leão. E com
pesar, pensei: "Como poderia alguém estragar uma coisa tão linda?!"
Então meus olhos foram abertos como por mão invisível e tive uma visão:
vi um milharal, com as espigas maduras, prontas para a colheita. Via os
longos pés de milho, todos carregados, iluminados pelo sol do outono.
Quase me parecia ouvir a música do vento ao passar, agitando os cabelos
das espigas. E de repente, a terra escura revestiu-se, para mim, de um
esplendor que não possuía na véspera.
Possamos nós sempre ter a visão da abundante colheita que se segue,
quando o Grande Agricultor vem — como faz tantas vezes — e sulca as
nossas almas, deixando diante de nosso olhar torturado só o vazio sem
beleza.
Por que me retrair ante o arado do meu Senhor, que faz sulcos profundos
em minha alma? Eu sei que Ele não é um agricultor inconsequente. Ele tem
em vista uma boa colheita. — Samuel Rutherford
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