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terça-feira, 7 de agosto de 2018

ARGUMENTO SOBRE DEUS (10)

Argumento da origem da ideia sobre Deus

Esse argumento se tornou famoso com René Descartes, e possui certa semelhança com o argumento ontológico. Ele começa com a ideia sobre Deus, e procura demonstrar que apenas o próprio Deus poderia ter feito essa ideia surgir em nossa mente. Seria impossível reproduzirmos todo o contexto que Descartes apresenta a favor dessa argumentação, e seria inútil adotar seu vocabulário erudito. Apresentamos a seguir um resumo sucinto de seu argumento e uma discussão a respeito:

1. Temos ideias sobre muitas coisas.

2. Essas ideias necessariamente têm de surgir de nós mesmos ou a partir de coisas externas a nós.

3. Uma das ideias que temos é sobre Deus – um Ser infinito e totalmente perfeito.

4. Essa ideia não poder ter sido produzida por nós mesmos, pois temos ciência de que somos limitados e imperfeitos, e nenhum efeito pode ser maior do que sua causa.

5. Portanto, a ideia sobre Deus tem de ser produzida por algo externo a nós, que possua as mesmas qualidades de Deus.

6. Mas apenas o próprio Deus tem essas qualidades.

7. Portanto, o próprio Deus tem de ser a Causa da ideia que temos a respeito dele.

8. Logo, Deus existe.

Analisemos a seguir uma objeção a este argumento bastante comum. A teoria de que a ideia sobre Deus poderia surgir facilmente ao notarmos os graus de aperfeiçoamento entre os seres finitos – alguns são mais (ou menos) complexos do que outros. Logo, para alcançarmos a idéia sobre Deus, poderíamos simplesmente projetar esta escala de perfeição ao infinito. Sendo assim, não haveria necessidade de que Deus realmente existisse para provarmos a existência dessa ideia; tudo o que necessitaríamos seria uma experiência com seres e fenômenos em vários graus de complexidade e uma mente capaz de avaliar as limitações perceptíveis de cada um. Todavia, será que isto bastaria? Como poderíamos avaliar tais limitações e imperfeições a menos que primeiro as “reconhecêssemos”? E como seria possível reconhecê-las desta maneira, a menos que já tivéssemos alguma noção de perfeição infinita? - Para reconhecermos algo como sendo imperfeito e finito, precisaríamos possuir um padrão de pensamento que tornasse esse reconhecimento possível. Isso não significa que crianças já poderiam pensar sobre Deus, (pois estas, estão incapacitadas de pensar sobre qualquer coisa que não conhecem ou não aprenderam ainda). Entretanto, significa que, a qualquer momento da vida que aplicássemos esse padrão, independente de quanto tempo levasse para que isso se tornasse explícito em nossa consciência, ainda assim, esse padrão precisaria existir para que pudéssemos aperceber-nos dele. Todavia, de onde teria vindo esse padrão? Certamente não de nossa experiência com nós mesmos ou com o mundo que existe fora de nós, porque a ideia de uma perfeição infinita já está presente em nosso pensamento a respeito de todas as coisas quando as consideramos imperfeitas. Portanto, nenhuma delas poderia ter originado a ideia sobre Deus; apenas o próprio Deus pode ser o responsável por esta ideia em nossa mente.

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