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VIDAS

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS. A VIDA ETERNA, DE RENÚNCIAS!

APOLOGÉTICA

Manual de Defesa da Fé apologética Cristã” 

Peter Kreeft/Ronald K. Tacelli.

Peter Kreeft é professor de Filosofia da Religião no Boston College – EUA, e é autor de várias outras obras.

Segue em anexo o capítulo 4 do livro: “vinte argumentos a favor da existência de Deus”. É claro que, muitos de nós não temos essa dúvida, pois temos vivido experiências reais com o Senhor; mas muitas pessoas que conhecemos as possuem. Várias pessoas têm passado por isso, talvez em silêncio, e muitas, perdem a fé. Essas argumentações ajudarão a sanar a dúvida de muitos e a abrir suas mentes. Além disso, não devemos pensar egoisticamente apenas em nosso próprio benefício, pois este livro pode nos tornar mais equipados para que possamos fornecer este tipo de ajuda para quem precisa, ou está perdendo a fé. Quem é missionário, missionária ou estudante de teologia, sabe que, com certeza, precisamos da Apologética, (e este é o manual ideal).

Argumentos filosóficos pela existência de Deus

Percebemos que muitas pessoas, tanto teístas como não-teístas, duvidam de que seja possível provar racionalmente a existência de Deus ou sequer debater a respeito disso. Um argumento racional e eficiente talvez seja o primeiro passo para abrir a mente para a possibilidade da fé, e retirar alguns dos obstáculos que impedem as pessoas de aceitar a possibilidade da revelação divina. Se os nossos argumentos forem bem-sucedidos nessa tarefa, teremos obtido êxito em nosso objetivo: demonstrar racionalmente a realidade do Criador, que não somos “acidentes cósmicos”. O cético deveria ser mais cético em relação a si mesmo, e menos cético em relação ao Criador.

Não temos o desejo de fazer declarações exageradas nessas demonstrações nem confundir a boa razão com provas científicas. Entretanto, acreditamos que há muitos que desejam e precisam do tipo de ajuda que essas argumentações proporcionam, mais do que eles possam estar dispostos a admitir de início.

Alguns argumentos não são conclusivos, mas cabe ao leitor sincero e honesto consigo mesmo, refletir ao analisá-los, e dizer-nos se eles fazem sentido ou não, de fato.

VINTE ARGUMENTOS A FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS

Argumento da mudança 

O mundo material que experimentamos à nossa volta está em constante mudança. Podemos conhecer uma mulher que chegou a ter uma estatura de 1.75 m, mas ela nem sempre foi desse tamanho. O grande carvalho que vemos na floresta cresceu a partir de uma pequena semente. Quando algo chega a determinado estado, esse não pode produzir sua própria existência. Isso porque, até que algo venha a existir, não pode ser considerado; e se ainda não existe, não pode causar nada.

Quanto ao ser que sofre a mudança, embora tenha a capacidade de ser aquilo que se tornará um dia, isso ainda não aconteceu, ou seja, ele ainda não se tornou o que um dia virá a ser. Uma semente de Carvalho, ainda não se encontra no seu último estado, que atingirá no futuro (o de uma grande árvore formada).

Nada pode dar a si próprio aquilo que não possui, e o objeto que sofre mudança não pode ter agora mesmo aquilo que possuirá apenas no futuro. O resultado da mudança não pode existir realmente antes que a mudança ocorra. O objeto que sofre a mudança começa apenas com o potencial para mudar, mas precisa receber a atuação de coisas fora de si para que esse potencial se torne realidade. Do contrário, ele nunca poderá mudar. Nada pode mudar a si próprio. Objetos que aparentemente têm movimento próprio, como corpos vivos, são movidos pelo desejo e pela vontade – algo diferente de meras moléculas. E quando o animal ou o ser humano morre, as moléculas permanecem, mas o corpo não mais se move, porque o desejo e a vontade [a alma] não está mais presente para produzir o movimento nas moléculas.

Agora, vejamos outra questão. As coisas fora do objeto que sofre mudança também mudam? E os objetos que fazem estas coisas se moverem também estão se movendo? Se isso for verdade, todos esses elementos permanecem, a cada instante, com a necessidade de receber uma atuação de outras coisas, caso contrário não poderão mudar. Não importa quantos itens existam na série, cada um deles precisa de algo fora de si para tornar realidade seu potencial de mudança.

O universo é a soma total de todos esses objetos móveis, independente de quantos sejam. O universo como um todo está em processo de mudança. Entretanto, já percebemos que essa mudança em qualquer ser exige uma força externa para torná-la real. Portanto, existe alguma força do lado de fora (que se acrescenta) ao universo, algum Ser real que transcende o universo. Essa é uma das coisas que consideramos quando pensamos em Deus. Em poucas palavras, se não há nada fora do universo material, então não existe nada que possa causar mudança no universo. Entretanto, este está sofrendo mudança. Portanto, tem de haver algo além de mera matéria, além do universo material, que é a soma total de toda matéria, do espaço e do tempo. Essas três grandezas dependem uma das outras. Portanto, tal ser externo está “fora da matéria, do espaço e do tempo”. Ele não sofre mudança. Ele é a Fonte imutável da mudança. Ele é Deus.

Argumentos a favor da existência de Deus (II): Argumento da “Causalidade Eficiente” ..?

Argumento da causalidade eficiente

Este argumento tenta provar que, todas as coisas não poderiam simplesmente “surgir do nada” sem uma causa inicial, mas que necessitam de uma causa eficiente para existirem. Podemos notar que, algumas coisas causam outras coisas (fazem com que elas tenham início, que continuem a existir, ou ambos os efeitos). Um homem tocando piano, por exemplo, está “causando” a música que ouvimos. Se ele parar, o mesmo acontece com a melodia.

Agora faça a si mesmo a seguinte pergunta: Todas as coisas que existem neste exato momento estão sendo causadas à existência? Suponhamos que sim. Suponhamos que NÃO exista um Ser não-causado, nenhum Deus. Então, NADA poderia existir agora mesmo. Lembremos que todas as coisas precisam de uma causa presente fora de si mesmas para que possam existir. Portanto, agora mesmo, todas as coisas, incluindo todas aquelas que estão causando outras, precisam de uma causa. Elas podem gerar algo apenas se estiverem sendo trazidas à existência. Tudo o que existe, portanto, tem necessidade de ser causado à existência. Afirmar que Deus não existe é equivalente a dizer que toda a realidade seria dependente do 'nada'. A existência é como um presente dado pela causa ao seu efeito. Se não há ninguém que possua o presente (existência), este não pode ser passado adiante na cadeia de receptores, não importando o quanto seja curta. Se todas as pessoas precisarem tomar emprestado determinado livro, mas ninguém tiver a obra, nenhuma delas irá consegui-la. Se não existisse um Deus que possui auto-existência e cuja natureza é eterna, então o dom da existência não poderia ser passado adiante às criaturas, e nós nunca poderíamos recebê-lo. Entretanto, nós existimos. Portanto, tem de existir um Deus, um Ser não-causado, que não precisa receber a existência como nós ou como qualquer outro elo da cadeia de receptores.

Agora vejamos a seguinte questão: Por que necessitamos de uma Causa “não-causada”?

Por que não poderia haver uma série infinita de causas, sem uma causa inicial para tudo o que existe? A hipótese de que tudo o que existe tem uma causa, mas que não há um ser não-causado é Ridícula! Tem de haver, obrigatoriamente, algo não-causado, algo do qual todas as coisas que precisam de causa eficiente para existirem sejam dependentes. Do contrário, haveria uma sucessão de causas infinitas, sem que houvesse uma causa inicial (primária). Tudo o que existe teve um começo: portanto, tem de haver uma causa primeira para que tudo existisse. Entretanto, a causa primária só seria a “Primeira Causa” não sendo causada por nenhuma outra; se houvesse algo que a causasse, haveria Causas anteriores a ela (este 'algo'), e ela não seria a “primeira”. Portanto:

• a “Primeira Causa” não pode ter nenhuma causa anterior a si; não poderia haver algo que a causasse.

Somente assim, ela pode ser a causa inicial: tendo sido uma causa 'não-causada'. Assim, necessitamos de uma Causa não-causada, e não poderia haver uma série infinita de causas, sem uma causa inicial para tudo o que existe.

Uma causa que foi capaz de gerar - além de coisas e seres inanimados, - seres animados, racionais e inteligentes, não poderia ser simplesmente “uma coisa” (como se pode pensar), mas tem de ser necessariamente, “um Ser” racional e inteligente, visto que nenhum efeito é maior que sua causa. Por que então, uma causa que gera seres racionais e inteligentes, seria irracional e não-inteligente?

Observe que, mesmo enquanto lê esse texto, você depende de outras coisas para existir. Você não poderia existir nesse instante sem elas. Suponhamos que haja várias dessas coisas (como água, ar, calor, alimento, por exemplo). Se elas não existissem, você também não existiria. E considere que todas essas coisas dependem de outras para existirem. Sem estas outras, estas “coisas” das quais você depende para existir não existiriam, e você também não. Agora pense no universo inteiro. Se não houvesse nada além desse universo de coisas mutáveis e dependentes, então o universo – e você como parte dele – não poderia existir. Isso porque tudo o que existe agora mesmo tem a necessidade de receber existência; e, neste caso, não haveria nada capaz de fornecê-la: tudo o que existe necessitaria, ao mesmo tempo de ser trazido à existência, mas não poderia existir nada para produzir tal existência; não haveria nada capaz de fornecê-la. No entanto, você existe, bem como tudo o mais à sua volta. Portanto, tem de haver algo existente além do universo de coisas interdependentes – Algo que não possua essa dependência como nós.

Enquanto imaginamos um número, talvez inimaginável, de coisas que necessitam de receber existência, essa necessidade – de existir, de ser algo – não pode ser produzida a partir de dentro desse grupo. Mas é óbvio que tal necessidade foi satisfeita, uma vez que existem seres contingentes. Portanto, existe uma Fonte de existência da qual nosso universo material depende nesse instante, e que está fora dele.

Vocês conhecem o “Argumento da Contingência”, um argumento a favor da existência de Deus?

Argumento da contingência

A fórmula básica desse argumento é simples.

1. Se algo existe, tem de existir também aquilo que foi necessário para que esse algo surgisse.

2. O universo – o grupo de seres no espaço e no tempo – existe.

3. Portanto, tem de existir o que foi necessário para trazer o universo à existência.

4. O que foi necessário para que o universo existisse não pode estar dentro do universo nem limitado por espaço e tempo.

5. Portanto, o que foi necessário para que o universo viesse à existência tem de transcender tanto o espaço como o tempo.

Se alguém negasse a primeira premissa, insistindo que X não necessita que sua causa geradora exista, lembraríamos que algo foi necessário para trazer X à existência, logo há uma condição ou várias condições para a existência de X. Então, é correto afirmar que X existe apenas se sua causa geradora (Y) existir; que sem Y, não pode haver X. É indispensável que subsista o que foi necessário para trazer o universo à existência!

Mas o que foi necessário para que isso acontecesse? Dissemos que o universo é o grupo de seres no espaço e no tempo. Consideremos um ser semelhante a esse: nós mesmos. Existimos e somos, pelo menos em parte, materiais. Isso significa que somos finitos, limitados e passíveis de mudança, porque a matéria está sujeita à mudança e à limitação. Pelo fato de sermos limitados e estarmos em transformação, sabemos que, neste exato momento, somos dependentes de seres [e fatores] externos a nós para termos nossa existência. Não nos referimos aos nossos pais e avós. Eles podem não estarem mais vivos. Neste instante, dependemos de muitas coisas para que possamos existir – por exemplo, do ar que respiramos. Ser dependente dessa maneira é ser contingente: existimos apenas se algo mais existir agora mesmo. Entretanto, nem tudo pode ser assim porque, do contrário, tudo precisaria receber existência, mas não haveria nada capaz de fornecê-la. Não haveria aquilo que é necessário para que tudo, qualquer coisa existisse. Portanto, tem de haver algo que não exista condicionalmente; algo que não exista apenas se algo mais também existir; algo que exista por si mesmo. O que é necessário para esse algo existir tem de estar em seu próprio Ser. Diferente de uma realidade material mutável, não há distância por assim dizer, entre o que este Ser é e o fato de que ele existe. Obviamente, o grupo de seres mutáveis no espaço e no tempo não poderia ser esse tipo de ser. Portanto, o que é necessário para que o universo exista não pode ser idêntico ao próprio ou a alguma parte dele.

Questão: Mas por que deveríamos chamar essa Causa de Deus? Talvez exista algo desconhecido de nós que dê base para o universo mutável no qual vivemos.

Resposta: O que nós humanos conhecemos diretamente, pelos nossos sentidos, é o mundo mutável em que habitamos. Também sabemos que é necessário existir algo para que o universo exista. Portanto, sabemos que esse universo mutável (o todo ou qualquer parte dele) não pode ter em si próprio o que é necessário para promover sua existência. A causa das coisas mutáveis não poderia ser uma outra coisa mutável ou natural, como por exemplo, um átomo primordial, pois outra coisa mutável, natural e finita exigiria uma causa anterior a si e, consequentemente, uma sequência sem fim de causas, e não haveria uma que as precedesse.


Pense: Como Algo poderia estar fora do universo se fosse igual a tudo que existe no espaço, no tempo e na matéria?


Não temos um conhecimento direto sobre a Causa das coisas mutáveis; sabemos apenas que é necessário existir uma Causa e que essa Causa não pode ser finita nem material — que ela tem de transcender tais limitações, e consequentemente, ser sobrenatural. Logo, o que essa Causa é em si permanece, até então, um mistério. Entretanto, as evidências investigadas também contribuíram para o conhecimento real de que o universo foi criado e é mantido por uma Causa que não possui os limites da matéria e do tempo, que transcende o tipo de existência que nós humanos conhecemos diretamente.

Através da investigação ou observação, por exemplo, podemos chegar à conclusão de que a morte de alguém teve uma causa, foi por assassinato, e não por acidente, sem saber exatamente quem a cometeu e por quê. Isso pode nos deixar frustrados e insatisfeitos, mas pelo menos sabemos que linha de investigação seguir; e sabemos que alguém cometeu um ato, não foi um acidente. O mesmo acontece com as evidências que nos permitem saber que a existência do universo é um ato criativo de um Doador que transcende todos os limites da matéria. Essas evidências não nos dizem muito a respeito de quem é esse Doador, mas apontam numa direção bem definida. Sabemos que o Doador da existência não pode ser material. Sabemos que é pessoal, inteligente, tem vontade e sua essência transcende a matéria, está fora da matéria criada. Sabemos que a Causa das coisas a transcende e não pode ser menor do que elas; pelo contrário, tem de ser infinitamente maior do que as mesmas. O quanto, e de que maneira não sabemos. Até certo ponto esse Doador permanece desconhecido à razão humana. E não deveríamos esperar que fosse diferente [uma vez que somos limitados, e ele ilimitado, infinito]. Contudo, a razão pode, pelo menos cooperar para que saibamos que Alguém realizou o ato. E isso já é de grande valor!

Podemos investigar a Causa usando a razão, mas há muito mais que Deus revelou sobre si, pois somente Ele seria capaz de se autodescrever e revelar-se corretamente para nós. Somente uma pessoa é capaz de autodescrever corretamente, pois ninguém a conhece melhor que ela mesma. Por isso, para um conhecimento do Criador, fora exigida uma revelação, uma descrição pessoal; uma versão, um testemunho do próprio.

Argumento sobre o mundo ser um todo que interage

Este argumento é semelhante a uma nova versão do argumento do desígnio, apresentado por alguns filósofos cultos. Nós o apresentamos da seguinte forma, resumida e revisada, para reflexão do leitor arguto, ávido pelo conhecimento que conduz à verdade:

PONTO DE PARTIDA. Esse mundo nos foi entregue como um sistema dinâmico e ordenado com muitos elementos ativos. A natureza desses elementos (propriedades naturais) são ordenadas para interagir com outros em relacionamentos estáveis e recíprocos, que nós chamamos de leis da Física. Por exemplo, cada átomo de hidrogênio em nosso universo está ordenado para combinar com átomos de oxigênio na proporção de 2:1 (o que implica que cada átomo de oxigênio está ordenado para combinar com átomos de hidrogênio numa proporção de 1:2). O mesmo acontece com as valências químicas de todos os elementos básicos. E todas as partículas que possuem massa são ordenadas para se moverem em direção uma das outras, de acordo com as proporções fixas da lei da gravidade.

Em um sistema dinâmico, interconectado e interligado como esse, a natureza ativa de cada elemento é definida por sua relação com os demais. Isso pressupõe a existência de vários elementos para que haja inteligibilidade e capacidade de agir de algum outro.

A ciência contemporânea nos revela que nosso sistema mundial não é meramente um conjunto de leis distintas, separadas e não-relacionadas, mas um todo rigorosamente interligado, onde o relacionamento com o todo gera estrutura e determina as partes. Estas não podem mais ser compreendidas em separado do todo; a influência dele permeia todas elas.

ARGUMENTO. Em um sistema como o mencionado anteriormente (o nosso mundo) nenhum componente ou elemento ativo pode ser autossuficiente ou autoexplicativo. Isso porque cada parte pressupõe todas as outras; e todo o sistema já existe para combinar-se com suas próprias propriedades racionais. Nenhum elemento pode agir a menos que as outras partes estejam presentes para interagir reciprocamente com ele. Qualquer outra parte poderia ser autossuficiente apenas se fosse a causa do restante do sistema – o que é impossível, uma vez que nenhuma parte pode agir exceto em colaboração com as demais. Tampouco o sistema como um todo explica sua própria existência, pois ele é feito de partes componentes, e não é algo separado, existente em si próprio, independente do restante. Além disso, nem as partes nem o todo são auto-suficientes; e nenhuma parte pode ser tomada para explicarmos a existência atual de tal sistema de interação dinâmica.

TRÊS CONCLUSÕES:

1. Uma vez que as partes só têm sentido dentro do todo, e nem mesmo o todo nem as partes podem explicar sua própria existência, então um sistema como nosso mundo exige uma Causa eficiente unificadora que gere a existência de um todo unificado.

2. Uma Causa desse tipo – que traga o sistema à existência de acordo com uma ideia unificadora – tem de ser uma Causa inteligente. A unidade do todo – e de cada uma das leis físicas cósmicas e globais, que fazem com que os elementos interajam entre si – é o que determina e correlaciona as partes. Portanto, esta unidade deve estar de alguma maneira presente como um fator efetivo e organizador. Entretanto, a unidade, a integridade do todo, transcende qualquer uma das partes; logo, não pode estar contida em nenhuma destas. Para estar realmente presente de uma vez só como um todo, essa unidade pode ser apenas uma ideia unificadora e organizadora. Isso porque apenas uma ideia poderia manter juntos muitos elementos de uma única vez sem destruir ou mesclar os aspectos distintos de cada um. Isso é quase a definição de uma ideia. Uma ideia real não pode existir de modo operante e eficiente a não ser em uma “Mente” verdadeira, que tenha o poder criativo de trazer tal sistema à existência. Portanto, para que haja um sistema universal ordenado (como o nosso) precisa haver, em última instância, uma “Mente coordenadora e criativa”. A ordem cósmica exige um Ordenador cósmico, que só pode ser uma Mente.

3. Tal Mente ordenadora precisa ser independente do próprio sistema, ou seja, transcendente a ele, e não pode depender do sistema para existir e operar. Se dependesse do sistema ou de parte dele, teríamos de pressupor este sistema como préexistente para poder operar; ele teria simultaneamente que preceder a si mesmo e causar-se. Isso é absurdo – e a modernidade fracassa filosoficamente, ao pressupor que nosso sistema ordenado tenha surgido de parte primordial de si; nosso universo material exige necessariamente como razão suficiente para a sua existência como um todo operante, uma Mente Criativa e Transcendente, que já existia e era capaz de operar antes e independe do sistema criado.

Argumento do milagre

Esse argumento não funciona como prova, mas como um indício poderoso da existência de Deus.

1. Um milagre é um evento cuja única explicação adequada é a intervenção direta e extraordinária de Deus.

2. Existem inúmeros milagres bem testificados.

3. Portanto, existem inúmeros eventos cuja única explicação adequada é a intervenção direta e extraordinária de Deus.

4. Portanto, Deus existe.

Obviamente, se acreditamos que algum evento extraordinário é um milagre, então acreditamos na atuação divina e acreditamos que tal atuação estava operando para que o evento acontecesse. Mas a questão é: esse evento foi realmente um milagre? Se os milagres existem, então Deus tem de existir. Mas será que milagres realmente existem? Que eventos escolhemos para caracterizar como milagres?

Em primeiro lugar, milagres precisam ser feitos sobrenaturais ou acontecimentos extraordinários. Existem muitos acontecimentos extraordinários (como as chuvas de granito ou de meteoros) que não se qualificam como milagres. Por que não? Primeiro, porque eles podem ser causados por algum fenômeno natural; em segundo lugar, porque o contexto em que ocorreram não era religioso. Esses eventos podem ser qualificados como singulares, estranhos, mas para serem considerados um milagre, precisam ter conotação religiosa, estar relacionado à fé que alguém depositou em Deus.

Agora, suponha que um homem santo se dirija para o centro de uma cidade, e comece a exortar seus habitantes ao arrependimento, e como sinal de sua mensagem, ele declara que Deus fará chover pedras do céu. Então, momentos depois, - tum, tum, tum! - pedras começam a cair do céu.

A palavra “milagre” pode vir facilmente à nossa mente, pelo acontecimento estar relacionado à mensagem (e à fé) religiosa. Isso não significa que todos precisam acreditar em Deus para testemunhar um evento como esse; mas se aquele homem pareceu um profeta genuíno e sua mensagem tocara as pessoas, fazendo-as pensar que ele estava falando a verdade, seria muito difícil considerar o que aconteceu como um mero engano ou uma coincidência extraordinária.

As circunstâncias de um suposto milagre, o caráter e a mensagem da pessoa com quem o evento está relacionado, também são extremamente importantes. Existe um caminho mental desde o acontecimento de um milagre até sua interpretação como tal. E o que estimula esse raciocínio não é apenas o evento em si, mas os muitos fatores que o circundam e que estimulam tal interpretação.

Os milagres acontecem. E realmente existem vários testemunhos confiáveis a respeito deles em muitas épocas, muitos lugares e muitas culturas. Portanto, a Causa dos milagres também existe. E a única Causa admissível para eles é Deus. Portanto, Deus existe.

Argumento do desígnio divino

Esse argumento tem um apelo amplo e perene. Praticamente todas as pessoas admitem que uma reflexão acerca da ordem e da beleza da natureza estimula algo em nosso íntimo. Entretanto, será que a ordem e a beleza são produtos de um desígnio inteligente e um propósito consciente?
Para os teístas, a resposta é afirmativa. Os argumentos a favor do desígnio divino são tentativas de defender essa resposta; de demonstrar por que ela é a mais razoável a ser oferecida. Tais argumentos foram formulados de maneiras tão ricamente variadas quanto a experiência na qual estão arraigados.

As declarações a seguir, demonstram seu âmago, sua ideia central.

1. O universo revela uma quantidade surpreendente de inteligibilidade tanto no interior das coisas que observamos como na maneira como essas coisas se relacionam com outras externas. Podemos, então, dizer que a maneira como elas existem e coexistem demonstram uma ordem bela e intricada e uma regularidade que pode deixar perplexo até mesmo o observador mais casual. É a norma natural que muitos seres diferentes trabalhem em conjunto para produzir o mesmo fim valoroso — por exemplo, os órgãos em nosso corpo trabalham para manter nossa vida e nossa saúde.

2. Essa ordem inteligível é produto de um desígnio inteligente, não de mero acaso.

3. Nada acontece por mero acaso.

4. Portanto, o universo é produto de um desígnio inteligente.

5. O desígnio surge da mente de alguém que o estabelece.

6. Portanto, o universo é produto de um Projetista inteligente.

A premissa 1 é verdadeira. Até mesmo os que discordam do argumento concordam com ela. Só uma pessoa extremamente patética e obtusa não concordaria. Uma molécula de proteína possui uma ordem impressionante, e mais ainda uma célula. E muito mais ainda um órgão como o olho, em que as partes ordenadas de enorme e delicada complexidade trabalham juntas com inúmeras outras para alcançar um único fim. Até mesmo os elementos químicos são ordenados para combinar com outros elementos de determinada maneira e sob certas condições. A aparente desordem encontrada em certas situações na natureza é um problema exatamente por causa da imensa abrangência da ordem e da regularidade. Portanto, a premissa 1 se sustenta. Se toda esta ordem, não é de alguma maneira o produto de um desígnio inteligente, então o que seria? Obviamente, ela teria simplesmente acontecido; e as coisas alcançado o estágio em que se encontram por mero acaso. Mas, se toda essa ordem não é produto de forças sem propósito e ocasionais, ela resulta de algum tipo de propósito; que só pode ser um desígnio inteligente. A inteligência não surge da não-inteligência. Portanto, a segunda premissa também se sustenta. Obviamente é a premissa 3 que se mostra crucial. Em última instância, os não-crentes afirmam que é realmente pelo acaso, e não por desígnio divino, que o universo de nossa experiência existe, da maneira como o conhecemos. Para estes, ele simplesmente passou a ter essa ordem, e fica a nosso cargo o dever de provar como isso não poderia ter acontecido apenas por mero acaso. Entretanto, a afirmação dos incrédulos é incorreta. Logo, são eles que deveriam produzir uma alternativa mais crível que a ideia do desígnio divino.
Um computador não seria confiável se fosse programado pelo acaso, e não por um ser racional. O cérebro e o sistema
nervoso humano, apesar de muito mais complexos e superiores que um computador, igualmente não seriam confiáveis se fossem programados pelo acaso. A teoria do acaso é simplesmente insatisfatória. Não podemos compreender o acaso apenas analisando-o sobre um pano de fundo ordenado. Dizer que algo aconteceu por acaso é irracional e ilógico. É afirmar que algo aconteceu de maneira diferente do que havíamos esperado, de um modo que não tínhamos imaginado. Em vez de pensarmos no acaso, analisando-o sobre um pano de fundo ordenado, somos convidados a pensar sobre a ordem – que se mostra intricada e presente – sobre o pano de fundo sem propósito e aleatório do acaso. Francamente, isso não é crível! Portanto, é perfeitamente razoável validar a terceira premissa: nada acontece por acaso. Assim, a única conclusão lógica é que o universo é produto de um desígnio inteligente. O que deseja o questionador que pensemos? Que não é necessário existir algo que traga todas as coisas à existência? Que o efeito precederia a causa?

Objeção: Talvez apenas em nossa região no universo passamos encontrar a ordem. Talvez haja outras partes deste totalmente caóticas, e desconhecidas por nós. Como então, ficaria o argumento?

Resposta: O nosso mundo de experiência comum apresenta uma ordem abrangente e inteligível. Não temos como negar este fato. Mas antes de especular a respeito do que pode existir, precisamos lidar sinceramente com o que temos diante de nossos olhos; precisamos reconhecer de maneira resoluta a extensão surpreendente da ordem e inteligibilidade que há em nosso universo.

Podemos perguntar: É possível supor que habitamos uma pequena ilha de ordem, cercada por um oceano de caos? Consideremos como através da ciência temos alcançado um conhecimento fantástico sobre o universo nas últimas décadas; atentemos para os diversos elementos microscópicos – todos eles, complexos – que o compõem. O que essa expansão de nossos horizontes revelou? Sempre a mesma coisa: mais, e não menos inteligibilidade; mais, e não menos ordem complexa e intrincada. Não existe razão para crermos em um caos que nos rodeie; e ao mesmo tempo, há muitas razões para não fazer isso.

Argumento dos graus de perfeição

Ao observarmos o mundo, notamos que as coisas variam de diversas maneiras. Uma cor, por exemplo, pode ser mais clara ou mais escura do que outra; uma torta de maçã que acabou de sair do forno está mais quente que outra que foi retirada horas antes; a vida de uma pessoa que oferece e recebe amor é melhor do que a de outra que não age assim. Então, designamos as coisas com base em elas terem um grau maior ou menor de determinada característica. Quando o fazemos, naturalmente pensamos nelas com base numa escala, que varia de um valor menor até outro maior. Pensamos, por exemplo, que um objeto mais claro aproxima-se do branco puro, e outro mais escuro está mais próximo da opacidade do preto. Isso significa que pensamos com base em várias “distâncias” a partir dos extremos, no grau (maior ou menor) em relação aos extremos. Às vezes, a distância é literal a partir de um extremo que faz toda a diferença entre ter ou ser mais ou menos. Os objetos, por exemplo, são mais quentes quando estão mais próximos de uma fonte de calor. Essa fonte comunica aos objetos o calor que estes possuem. Isso significa que a quantidade de calor é causada por uma fonte externa.

Agora, pensando na bondade dos seres, parte do que queremos dizer está relacionado simplesmente àquilo que eles são. Cremos por exemplo, que uma existência relativamente estável e permanente é melhor do que uma que se mostre precária e efêmera. Todos reconhecemos que um ser inteligente é melhor que um não-inteligente; que um ser capaz de dar e receber amor é melhor do que um que não pode fazer isso; que nossa existência é melhor, mais rica e mais completa do que a de uma pedra, uma flor, uma minhoca, uma formiga, etc. Entretanto, se esses graus de perfeição estão relacionados ao ato de existir e se esse ato é causado em criaturas finitas, então é necessário que exista um Ser melhor, uma fonte e um padrão verdadeiros de toda a perfeição que reconhecemos. Este Ser absolutamente perfeito — a “Existência de todos os seres”, a “Perfeição de todas as perfeições” — é Deus.

Questão: O argumento pressupõe a existência de algo melhor e verdadeiro. Entretanto, todos os nossos julgamentos de valor comparativo não são meramente subjetivos?

Resposta: A própria formulação dessa pergunta já serve para respondê-la. O questionador não teria feito a pergunta a menos que pensasse ser melhor fazê-la do que não fazê-la; e realmente é melhor tentar encontrar a “verdadeira” resposta do que não procurá-la. Ora, se todos os nossos julgamentos de valor comparativos fossem “meramente subjetivos”, não seria subjetivo, apenas uma opinião pessoal, julgar que não existe algo melhor e verdadeiro? Como o questionador busca a “verdadeira” resposta, se supõe que todos nossos julgamentos e avaliações não passam de opiniões subjetivas, e que não há “verdades” universais? Os nossos julgamentos de valores comparativos não são meramente subjetivos, nem dependem da opinião de cada um, porque, de fato, existem diferentes níveis (graus) de valores de ética e moralidade.

Argumento contra a ideia de um universo eterno

Este é um argumento de origem árabe, (também conhecido como “Kalam”), contém argumentos de que o mundo não pode ser infinitamente antigo, e portanto, tem de ter sido criado por Deus. Ele contesta a teoria que a maioria dos ateus deseja manter: a de que o universo surgiu a partir de um todo de matéria auto-sustentada em mudança infinita, em um tempo eterno. Este tipo de argumento tem tido um apelo amplo e duradouro entre muçulmanos e cristãos. Sua forma é simples e direta:

1. Seja o que for que venha a existir, precisa de uma causa para que possa existir.

2. O universo começou a existir.

3. Portanto, o universo tem uma causa.

Vejamos a primeira premissa. A maioria das pessoas considera a primeira premissa não apenas como provavelmente verdadeira, mas como certa e obviamente verdadeira.

E a segunda premissa? É verdadeira? O universo – a coleção de todas as coisas restritas ao espaço e ao tempo – teria começado a existir num determinado momento? Essa premissa nos últimos séculos recebeu um forte apoio da ciência natural, principalmente com a cosmologia do Big Bang. Mas há também argumentos filosóficos a favor dela. Vejamos.

Se o universo não começou a existir, teríamos um passado infinito. Surgem algumas questões para pensarmos: Por que algo (o universo) que não tivera início, teria um fim? Por que algo que tivera um “passado infinito”, teria um “futuro finito”?

Será que uma tarefa infinita poderia ser realizada ou completada? Se, para alcançar determinado fim, etapas infinitas tivessem de antecedê-lo, será que algum dia poderemos alcançar o fim? É claro que não – nem mesmo em um tempo infinito. Isso porque o “tempo infinito” não teria fim, assim como as etapas. Em outras palavras, nunca alcançaríamos o fim da sequência. A tarefa infinita nunca poderia e nunca seria completada.

Se o universo nunca teve início, ele sempre teria existido. Então, seria infinitamente antigo. Mas, para isso ser verdade, uma quantidade infinita de tempo teria de ter passado antes do dia de hoje, por exemplo. E um número infinito de dias deveriam ter sido completados para que o dia atual pudesse acontecer. Entretanto, isso cria um paralelo idêntico ao problema da tarefa infinita, pois, se o dia de hoje foi alcançado, então uma sequência infinita de eventos históricos o teria levado a este ponto no presente. Isto significa que se a tarefa foi completada até este ponto do presente, o todo do passado precisa ter acontecido. Contudo, uma sequência “infinita” de etapas nunca poderia ter alcançado esse momento presente. Logo, ou o dia atual não foi alcançado, ou o processo para que isso acontecesse não foi infinito. É muito óbvio que o dia de hoje está acontecendo, portanto, o processo para alcançá-lo não foi infinito. Em outras palavras, o universo teve início, portanto ele tem de ter uma causa para que viesse a existir, ou seja, um Criador.

Primeira questão: Como podemos saber que a Causa geradora do universo ainda existe? Talvez, ela tenha dado início ao universo e deixado de existir.

Resposta:
Lembremos que buscamos uma Causa para a existência espaço-temporal. Essa Causa criou todo o universo de espaço e de tempo, e estes, em si mesmos, têm de ser parte dessa criação. Portanto, a Causa não pode ser outro ser espaço-temporal; ela tem de estar, de alguma maneira, fora dos limites e das limitações do espaço e do tempo. É difícil compreender a um Ser assim. Mas sabemos que um ser que pertence ao nosso universo, certamente deixará de existir um dia; chega um instante no tempo em que este é fatalmente afetado por algum agente externo. Contudo, essa realidade é apropriada para nós e para os seres que estão limitados ao espaço e ao tempo. Um Ser que não esteja limitado não pode deixar de ser, mas tem de existir eternamente.

Segunda questão: Mas essa Causa seria Deus, um Ser, e não simplesmente uma coisa?

Resposta: Suponhamos que a causa do universo tenha existido eternamente e que NÃO fosse pessoal; que ela teria dado origem ao universo não por escolha própria (visto não poder escolher), mas simplesmente por existir (ou por acaso). Nesse caso, seria difícil imaginar um universo que não fosse infinitamente antigo, uma vez que todas as condições necessárias para a existência dele (contidas nessa coisa) existiriam por toda a eternidade. Mas de acordo com o argumento que estamos estudando, o universo não pode ser infinitamente antigo. Portanto, a hipótese de uma causa eterna impessoal parece levar a uma contradição. Então, qual a solução para a questão? Um universo que tenha surgido como resultado de uma escolha pessoal. Uma causa eterna poderia ter dado início a um efeito temporalmente limitado. Como já dito, uma causa que gera seres inteligentes e capazes de raciocinar, não poderia ser algo irracional e não-inteligente; e sendo algo racional e inteligente (em maior escala que o seu efeito), não seria simplesmente uma coisa, mas um Ser.

Terceira questão: Os cristãos crêem que irão viver para sempre com Deus. Logo, eles crêem num futuro infinito. Por que então o passado não pode ser sem fim?

Resposta: É diferente. Os cristãos acreditam que sua vida com Deus nunca irá terminar. Entretanto, isso só pode ser verdade se toda a realidade criada teve início num determinado momento. O futuro infinito que aguarda os cristãos será operado pelo Ser que está fora das limitações do espaço e do tempo, pela mesma causa que gerou o espaço e o tempo. O que se encontra limitado ao espaço e ao tempo é a matéria, não Deus. A matéria não é capaz de ser autossuficiente, nem de por si mesma possuir uma existência infinita, (sendo que sua eternidade seria causada pelo ACASO). Nada existe eternamente pelo acaso! Somente Deus é capaz de ser autossustentável e existir eternamente. Ele pode sim, nos levar para uma nova dimensão criada, que não esteja limitada ao espaço e ao tempo, no futuro. Os cristãos não estarão na eternidade na mesma dimensão criada que conhecemos hoje, e que está limitada a tais condições.

Argumento da percepção

Quando nos damos conta da tremenda ordem e inteligibilidade presente no universo, travamos contato que nossa inteligência pode apreender. A inteligência é parte do que encontramos no mundo. Entretanto, o universo não é, por si mesmo, intelectualmente consciente. Por maiores que sejam as possibilidades da natureza, ela não sabe avaliar sua própria existência. No entanto, nós seres humanos temos a capacidade intelectual de conhecer as possibilidades da natureza e a nós mesmos. O fato de o universo ser organizado de forma tão inteligente e harmônica, e de nós, seres humanos, sermos dotados de inteligência racional ratifica o “Argumento do desígnio divino”. Existem similaridades entre estes ambos argumentos.

1. De acordo com nossa experiência, percebemos que o universo é inteligível. Esta inteligibilidade significa que o universo pode ser assimilado pela nossa inteligência.

2. O universo inteligível e a nossa mente finita adequada para assimilá-lo são produtos de uma inteligência superior.

3. Tudo isso não veio a existir por mero acaso.

4. Portanto, o universo finito e nossa mente adequada para assimilá-lo são produtos de uma inteligência superior; de Deus.

Queremos focar agora nossa atenção na terceira premissa, a de que tudo o que existe não surgiu por mero acaso. Na obra “Milagres”, de C.S. Lewis, o autor apresenta no terceiro capítulo, um forte argumento contra o naturalismo (a filosofia naturalista) e sua visão de que tudo – incluindo nosso pensamento e nosso julgamento – pertence a um sistema vasto e interligado de causas e efeitos meramente naturais. Lewis mostra que o  naturalismo não oferece um bom motivo para acreditarmos que sua concepção do mundo seja verdadeira, porque todos os julgamentos seriam igualmente e em última instância, resultados de forças naturais não-racionais. Se a doutrina naturalista fosse verdadeira, o que chamamos de mero acaso seria a maneira como a natureza física operaria em última instância – isenta de qualquer plano racional e propósito. Portanto, o argumento de C.S. Lewis é coerente, e a terceira premissa de nosso argumento se sustenta, pois o mero acaso não pode ser a fonte de nossa inteligência; não pode ter produzido-a.

Argumento do desejo

1. Todo desejo inato e natural em nós corresponde a um objeto real que pode satisfazer esse desejo.

2. Entretanto, existe em nós um desejo que nada ao longo do tempo, nada nesta terra e nenhuma criatura pode satisfazer.

3. Portanto, tem de existir algo mais ‒ do que o tempo, esta terra e as criaturas ‒ que possa satisfazer tal desejo.

4. Isso é algo que as pessoas chamam de Deus e de vida eterna com Deus.

I → A primeira premissa implica uma distinção entre dois tipos de desejo: o inato (natural) e o externamente condicionado (artificial). Naturalmente desejamos coisas como alimento, bebida, sexo, descanso, conhecimento, amizade e beleza; e evitamos coisas como a fome, a solidão, a ignorância e a feiura. Também desejamos – de uma forma não natural – coisas como um carro, um ótimo cargo, poder voar, ver nosso time ser campeão, desejarmos ir à Londres, à terra de Oz, etc.

Existem diferenças cruciais entre esses dois tipos de desejos. A maioria de nós não sente a privação dos desejos artificiais. Não sentimos a falta de Oz, mas sentimos muito a falta de descanso. Além de serem mais importantes, os 'desejos naturais' vêm de dentro, de nossa natureza; enquanto os 'artificiais' vêm de fora, sugeridos pela sociedade, pela época, propagandas ou pela ficção. Assim sendo, isto gera uma terceira diferença entre esses dois tipos de desejos: os desejos naturais estão presentes em todos nós, mas os artificiais variam de acordo com o indivíduo.

A existência dos desejos artificiais não significa necessariamente que os objetos por eles desejados existam. Alguns sim, outros não. Existem carros e Londres, mas não a terra de Os. Entretanto, a existência dos desejos naturais significa, em cada caso, que os objetos de desejo existem. Todo desejo natural corresponde a um objeto real, (e este tipo de desejo está naturalmente em todo ser humano). Ninguém nunca ouviu falar de um desejo inato para com um objeto inexistente.

II → A segunda premissa exige apenas uma introspecção sincera. Alguém poderia dizer que, nem todos sentem o desejo por Deus (visto que a crença em Deus varia de acordo com o indivíduo), e que, portanto, o desejo por Deus seria algo “artificial”. Esta porém, é uma interpretação equivocada, pois de fato, este desejo inato que todos possuímos e que nada neste mundo pode satisfazer, em última instância, é o desejo por Deus, como veremos. Por isso, esta premissa exige honestidade para consigo mesmo da parte do leitor. Alguém pode dizer que é uma pessoa perfeitamente feliz, em todos os momentos da vida, e em todas as possíveis e diversas situações. É possível encontrar indivíduos assim na história humana. Neste caso, podemos apenas perguntar: Isso é verdade mesmo? Ou podemos apenas fazer um apelo à pessoa para pensar, refletir melhor, mas nunca criticá-la. Até mesmo o ateu Jean-Paul Sartre admitiu que “chega uma hora em que a pessoa mais satisfeita com a sua vida, se pergunta: Há algo mais? Isso é tudo o que há?” E esta é uma realidade: por mais bens que possuamos, por mais objetivos que conquistemos, chega um momento em que nos cansamos daquilo, e nos perguntamos se isto é tudo o que há, se não existe algo mais, - pois sentimos a falta desse “algo mais”.

Todos (de Aristóteles a Freud) que já observaram amplamente o comportamento humano e pensaram profundamente sobre ele notaram que agimos por fins, metas e propósitos e também que o único fim, objetivo e propósito que motiva todos o tempo inteiro é a felicidade. “Todos sentimos falta de uma felicidade maior, como se a felicidade não pudesse ser completamente satisfeita apenas neste mundo”, disseram alguns pensadores. O Argumento do Desejo defende apenas que haja um Algo mais que possa satisfazer em nós o desejo que nada ao longo do tempo, nada nesta terra e nenhuma criatura pode satisfazer. Existe em nós um desejo que nada nesta vida pode satisfazer, - seu objeto é inatingível, inalcançável nesta vida; e a mera presença desse desejo na alma é sentido como mais prazeroso do que qualquer outra satisfação. Por mais inadequada que seja nossa maneira de entender o que queremos, nós todos queremos o paraíso, o céu, a eternidade, uma vida eterna; algo profundo em nossa alma não fica satisfeito com esse mundo inteiro de tempo e mortalidade.

Também reclamamos do tempo. Nunca parece haver tempo suficiente – mesmo agora, muito menos quando estivermos morrendo; portanto, deve haver mais tempo: deve haver a eternidade. Nós nos queixamos desse mundo. Ele não é suficientemente bom. Portanto, deve haver outro mundo que seja “suficientemente bom”.

Argumento da origem da ideia sobre Deus

Esse argumento se tornou famoso com René Descartes, e possui certa semelhança com o argumento ontológico. Ele começa com a ideia sobre Deus, e procura demonstrar que apenas o próprio Deus poderia ter feito essa ideia surgir em nossa mente. Seria impossível reproduzirmos todo o contexto que Descartes apresenta a favor dessa argumentação, e seria inútil adotar seu vocabulário erudito. Apresentamos a seguir um resumo sucinto de seu argumento e uma discussão a respeito:

1. Temos ideias sobre muitas coisas.

2. Essas ideias necessariamente têm de surgir de nós mesmos ou a partir de coisas externas a nós.

3. Uma das ideias que temos é sobre Deus – um Ser infinito e totalmente perfeito.

4. Essa ideia não poder ter sido produzida por nós mesmos, pois temos ciência de que somos limitados e imperfeitos, e nenhum efeito pode ser maior do que sua causa.

5. Portanto, a ideia sobre Deus tem de ser produzida por algo externo a nós, que possua as mesmas qualidades de Deus.

6. Mas apenas o próprio Deus tem essas qualidades.

7. Portanto, o próprio Deus tem de ser a Causa da ideia que temos a respeito dele.

8. Logo, Deus existe.

Analisemos a seguir uma objeção a este argumento bastante comum. A teoria de que a ideia sobre Deus poderia surgir facilmente ao notarmos os graus de aperfeiçoamento entre os seres finitos – alguns são mais (ou menos) complexos do que outros. Logo, para alcançarmos a ideia sobre Deus, poderíamos simplesmente projetar esta escala de perfeição ao infinito. Sendo assim, não haveria necessidade de que Deus realmente existisse para provarmos a existência dessa ideia; tudo o que necessitaríamos seria uma experiência com seres e fenômenos em vários graus de complexidade e uma mente capaz de avaliar as limitações perceptíveis de cada um. Todavia, será que isto bastaria? Como poderíamos avaliar tais limitações e imperfeições a menos que primeiro as “reconhecêssemos”? E como seria possível reconhecê-las desta maneira, a menos que já tivéssemos alguma noção de perfeição infinita? - Para reconhecermos algo como sendo imperfeito e finito, precisaríamos possuir um padrão de pensamento que tornasse esse reconhecimento possível. Isso não significa que crianças já poderiam pensar sobre Deus, (pois estas, estão incapacitadas de pensar sobre qualquer coisa que não conhecem ou não aprenderam ainda). Entretanto, significa que, a qualquer momento da vida que aplicássemos esse padrão, independente de quanto tempo levasse para que isso se tornasse explícito em nossa consciência, ainda assim, esse padrão precisaria existir para que pudéssemos aperceber-nos dele. Todavia, de onde teria vindo esse padrão? Certamente não de nossa experiência com nós mesmos ou com o mundo que existe fora de nós, porque a ideia de uma perfeição infinita já está presente em nosso pensamento a respeito de todas as coisas quando as consideramos imperfeitas. Portanto, nenhuma delas poderia ter originado a ideia sobre Deus; apenas o próprio Deus pode ser o responsável por esta ideia em nossa mente.

Argumento da experiência religiosa

A maioria das pessoas que afirma ter algum tipo de fé religiosa teve algum tipo de experiência marcante. Essa realização, no entanto, não é em si um argumento a favor da existência de Deus; mas este argumento parte do amplo fato da experiência religiosa, levando à afirmação de que apenas uma realidade divina pode explicá-la adequadamente.

Podemos apresentá-lo de forma satisfatória como a seguir:

1. Pessoas em diferentes épocas da história e de culturas bastante distintas afirmam ter tido uma experiência com o divino.

2. É inconcebível que tantas pessoas estivessem totalmente erradas a respeito da natureza e do conteúdo de sua própria experiência.

3. Portanto, existe uma realidade divina que muitas pessoas de diferentes épocas e de culturas bastante distintas experimentaram.

Por acaso essa experiência prova que existe um Deus Criador Inteligente? Parece impossível, porque tal Deus não parece ser o objeto de todas as experiências que chamamos de religiosas. E ainda assim, Ele é o objeto de muitas delas. Ou seja, muitas pessoas compreendem sua experiência pessoal dessa maneira. Elas se sentem unidas, ou são levadas a ter contato com um Conhecimento e Amor ilimitados sem precedentes; um Amor que as preenche com si próprio, mas que excede infinitamente a capacidade de cada indivíduo de recebê-lo. (É assim que elas descrevem).

A pergunta é: “Devemos acreditar nessas pessoas?”

Existem muitas afirmações semelhantes. Ou elas são verdadeiras ou são falsas. Ao avaliá-las, devemos levar em consideração: (1) a “consistência” das afirmações [elas são consistentes em si mesmas e de acordo com o que sabemos ser verdadeiro?]; (2) o “caráter” das pessoas que fazem as afirmações [as pessoas parecem ser sinceras, decentes e confiáveis?]; e (3) o “efeito” da experiência na vida delas e de outros [essas pessoas se tornaram mais amorosas como resultado do que experimentaram? Ou tornaram-se ainda mais egoístas?].

Argumento moral

1. A obrigação moral é um fato. Nós somos verdadeira, real e objetivamente obrigados a fazer o bem e a evitar o mal.

2. Só uma visão pode estar correta: ou a visão ateísta da vida ou a visão “religiosa”.

3. Todavia, a visão ateísta é incompatível com a existência de uma obrigação moral.

4. Portanto, a visão religiosa da realidade é a correta.

Temos de falar com bastante clareza a respeito da primeira premissa. Ela não diz meramente que é possível encontrarmos pessoas ao nosso redor que afirmam ter certos deveres. Tampouco afirma que já houve muitas pessoas que se consideravam obrigadas a cumprir certos “deveres”, fazendo certas coisas e evitando determinadas atitudes: o que a primeira premissa almeja afirmar, é que nós seres humanos, realmente temos essa obrigação. Nós seres humanos reagimos a certas coisas boas, a valores reais que descobrimos – como o valor da vida, do amor, da honestidade -, embora não tenhamos criado esses valores. Se Deus criou tanto as coisas como a 'natureza humana' que reage a essas boas coisas, é razoável pensar em Deus como um Projetista Inteligente, que gera congruência ente o que somos e o bem que necessitamos para nos sentir plenos.

Argumento do senso comum

Este argumento é comparável ao da experiência religiosa. O argumento do senso comum afirma que:

1. A crença em Deus é comum a praticamente todas as pessoas de todas as épocas.

2. Ou a vasta maioria das pessoas está errada a respeito desse elemento mais profundo de sua vida, de suas experiências e convicções ou está certa.

3. É mais plausível acreditar que a maioria esteja certa.

4. Logo, é mais correto acreditar que Deus existe.

Todos admitem que a crença religiosa está presente ao longo de toda a história da humanidade. Entretanto, há uma questão: esse fato incontestável serve como evidência a favor da verdade das afirmações religiosas? Até mesmo um cético admite que o testemunho que temos é bastante impressionante: a grande maioria dos seres humanos acredita em um Ser derradeiro, para quem nossa reação apropriada só pode ser a de reverência e adoração. Ninguém questiona a realidade de nossos sentimentos de reverência, das atitudes de adoração e dos atos de louvor. Se Deus não existisse, essas atitudes nunca teriam tido um objeto real uma vez sequer. Seria realmente plausível acreditar nisso?

Pesquisadores já fizeram pesquisas tentando descobrir se o ser humano é religioso por natureza ou não: se a religiosidade está contida nos genes humanos ou não. A capacidade humana para reverenciar e adorar [algo ou alguém] aparenta ser inata. Sendo assim, é difícil acreditar que o desejo natural de adorar a Deus nunca poderia ser satisfeito, principalmente quando muitos testificam que isso já aconteceu. Com certeza, é concebível achar que esse desejo natural possa ser frustrado, mas não é plausível afirmar que milhões e milhões que declaram ter encontrado o Santo digno de reverência possam ter se iludido. Parece muito mais provável que aqueles que se recusam a acreditar nisso são os que sofrem privação e ilusão – como uma pessoa surda, que nega a existência da música.

Interessantes reflexões filosóficas sobre Deus (Primeira Causa) e sua Natureza

Além de vários argumentos, a 'Filosofia Teísta' ainda pode nos levar a uma reflexão mais a fundo sobre as características de Deus, Daquele Ser que fora a “causa” das coisas existentes. Os argumentos a favor da existência de Deus despertam nossa atenção para certas características, a respeito das quais devemos fazer questionamentos. Percebemos que a resposta para essas questões não é Algo que se encontre dentro do mundo das coisas conhecidas e finitas. Em outras palavras, a resposta para tantas indagações na verdade, não é Algo, é um Ser totalmente desconhecido a nós.

As características mais familiares e naturais das coisas em nosso mundo nos instigaram a fazer vários questionamentos. Mas se a resposta [sobre a Origem das Coisas] fosse algo familiar, não seria realmente uma resposta confiável; e outras questões surgiriam (como o que teria causado tal coisa, familiar para nós). Por isso, insistimos: a resposta para todo o nosso questionamento sobre a Causa de tudo é Deus – um Ser que nunca poderemos compreender completamente, devido à nossa limitação natural. Ele é a Causa de tudo, inclusive dos fenômenos; logo, ao meditarmos sobre estes, podemos conhecer algo a respeito de sua Causa, e assim, termos um pouco de compreensão sobre Deus. Os atributos de Deus são as mesmas características necessárias à Primeira Causa.

I. Os atributos de Deus

→ DEUS TEM EXISTÊNCIA ABSOLUTA. Observando o universo, percebemos que, em cada criatura, existe uma distinção entre o que as coisas são e o fato de que elas são algo. É por isso que, como vimos, coisas limitadas têm a necessidade de existir, que elas próprias não podem suprir. Se Deus é a resposta para essa questão a respeito da existência infinita, então ele não pode ter a mesma necessidade de existir. Em outras palavras, em Deus não pode haver distância entre o que Ele é e o fato de que Ele existe, pois o fato de Ele existir não é um mero acidente e não se deve a outro Ser. A existência de Deus tem de ser inseparável do que Ele é, tem de pertencer a Ele por natureza. Deus não pode deixar de existir. Não há possibilidades Dele deixar de existir.

→ DEUS É INFINITO. Já vimos que toda existência finita ou limitada exige uma condição, ou uma causa, para sua existência. Já vimos que Deus não pode ser limitado ou finito. Em outras palavras, Deus tem de ser infinito, totalmente sem limites (de espaço, tempo), e não necessita de causas ou condições para sua existência. Ele tem de ser auto-sustentável e autoexistente. A infinitude de Deus não significa tamanho ou idade sem fim – como se ele fosse mais velho ou maior que alguém. Ao dizer que Deus é infinito, temos que negar a Ele qualquer tipo de limitação (como idade ou tamanho). Lembremos que Ele está fora do tempo e da matéria. Se um ser é limitado, ele é limitado com base em algo mais; ele não é o mesmo que outro ser, e não está onde outro ser está. Portanto, esta limitação envolve a não-existência. Entretanto, se Deus existe, Ele é a plenitude total da existência. Logo, não pode haver limitações em Deus. Ele tem de ser sem limites, ou seja, Deus tem de ser infinito.

→ DEUS É ÚNICO (apenas um). NÃO PODEM HAVER (EXISTIR) VÁRIOS DEUSES. Se Deus é infinito, e é a causa do universo e de todas as coisas existentes, poderia haver vários deuses? A resposta é NÃO. Por exemplo: já vimos que Deus existe, e tem de existir, sem limites. Contudo, se Ele não tem limites, não pode haver mais do que um Deus. Se houvesse, teria de existir diferença entre eles, e isso envolveria a não-existência, pois outro Deus não poderia ser o que o primeiro é nem estar onde este estivesse. Em suma, se houvesse mais de um Deus, nenhum deles poderia ser ilimitado com a plenitude da existência. Isso significa que aquilo que chamamos de Deus não seria a resposta derradeira para nossas perguntas a respeito da existência finita. Entretanto, se Deus é a resposta para esta questão, então Ele tem de ser a “plenitude ilimitada da existência”, e não pode ser limitado por outro Deus fora de si próprio. Portanto, Deus tem de ser um só. Existem no mundo histórias de vários deuses e deusas, derivadas do politeísmo antigo. Mas uma coisa em comum que todas estas histórias compartilham, é que todas elas falam de um Deus Supremo, maior e mais poderoso entre os demais.

Quando o monoteísmo e o politeísmo são combinados, como no hinduísmo, os muitos deuses são apenas manifestações inferiores, aparentes, projetadas ou mitológicas de um único Deus real e supremo. Por isso, tanto o monoteísmo quanto o politeísmo são chamados de “TEÍSMO”. Os muitos deuses das religiões antigas (babilônicas, cananitas, gregas, romanas e das antigas religiões da África) eram considerados apenas manifestações inferiores ou mitológicas de um único Deus Real e Supremo. Ainda hoje, no hinduísmo, crê-se em um Deus Supremo e Superior aos demais (deuses menores).

FONTE: (Relatado em: “Manual de Apologética e Defesa da Fé”, de Peter Kreeft e Ronald K. Taceli, - Editora Central Gospel – página 540).

DETALHE: O Cristianismo não ensina a existência de vários deuses, mas a existência de um único Deus (monoteísmo) que subsiste e se revela em três pessoas. O Pai e o Filho não são dois deuses distintos, mas são apenas “um Deus”, compartilham a mesma essência (natureza).

→ DEUS É ESPIRITUAL. Ao dizermos que Deus é espiritual, afirmamos que ele não é um ser material. Ser material significa ter algum tipo de corpo. Contudo, como um corpo é sempre limitado e sujeito a mudanças, isto implica não ser aquilo que irá tornar-se. Portanto, ter um corpo e estar sujeito a mudanças implica a 'não-existência'. Mas Deus é a plenitude ilimitada da existência, logo não pode ter um corpo. Na verdade, Deus não pode ser material de forma alguma – pelo menos, não da maneira que nós compreendemos o significado de matéria. Utilizamos o termo “espiritual” para caracterizar a imaterialidade completa, porque usamos essa palavra para nos referir àquela parte de nós que está distanciada daquilo que assumimos como sendo a existência material. Deus, como o Criador da matéria, não poderia ser material, pois teria que ter criado a si mesmo. Deus tem de ser imaterial e espiritual.

→ DEUS É ETERNO. Como Deus não é material, Ele não é limitado pelo espaço. Isso tem de ser verdade, porque Deus é o Criador do espaço e de todas as coisas que ocupam o espaço e estão limitadas pelo tempo. Deus estaria incluído no tempo? Ele poderia ser limitado temporalmente?
Por nossa experiência, percebemos que somos limitados temporalmente. É necessário tempo para pensar, bem como para existir (em nosso caso). Mas Deus não pode estar sujeito ao tempo, porque Ele é o Criador de tudo, inclusive de nós e do tempo. Como um Ser temporal poderia criar (ou dar início, fazer começar a existir) o tempo? Portanto, somente um ser atemporal (fora do tempo) poderia trazer o tempo à existência. Este “estar acima do tempo” é o que chamamos de eternidade, que foi definida por um famoso filósofo teísta como, “a vida sem limites, tomada perfeitamente e como um todo simultâneo”.
As palavras dele são bastante sugestivas, mas transmitem claramente uma ideia essencial: Deus não está preso ao tipo de existência mutável que medimos com o tempo. Isso é o que queremos dizer quando afirmamos que Deus é eterno (não temporal).

A encarnação de Jesus não contradiz essa ideia, ao contrário, ela a pressupõe. A encarnação significa que, Deus experimentou a natureza humana, que inclui o tempo, o espaço e a matéria. Isso demonstra que a natureza divina é diferente da humana. Parte dessa diferença tem sido vista tradicionalmente como o fato de Deus não estar limitado pelo tempo, pelo espaço e pela matéria. Deus, por ser atemporal, pôde tornar-se “temporal” na encarnação de Cristo.

→ DEUS NÃO É PARTE DO UNIVERSO (panteísmo). DEUS É TRANSCENDENTE E IMANENTE. Deus (assim como a Primeira Causa), não ser parte do universo, nem nada que há neste. Se fosse assim, Deus (assim como a Primeira Causa) estaria limitado pelas outras partes que o compõem. Entretanto, Deus é o Criador de todas as coisas, conferindo a elas existência total. Ele não pode ser uma dessas coisas ou a totalidade delas, porque cada uma das partes e também a totalidade delas, deve receber existência, e tem de recebê-la de Deus. Portanto, Deus, como o Criador e Sustentador, tem de ser “distinto” de sua criação. Isso é o que queremos afirmar quando dizemos que Deus é transcendente. Ao mesmo tempo, Deus tem de fornecer existência à todas as coisas, fazer com que continuem existindo. Deus é o Criador, o Doador da existência a todas as coisas. E como tal, Ele tem de estar ativo, fornecendo a elas o que necessitam para ser a agir.

DEUS É INTELIGENTE

Deus é o Criador e Sustentador de todas as coisas. Por exemplo, Ele é o Criador e Sustentador de todos os elementos químicos dos organismos vivos. Cada um desses elementos tem uma estrutura inteligível e enquadra-se num sistema de estrutura inteligível, no qual as partes agem e reagem uma com as outras de maneiras específicas, determinadas pelo sistema. Essa correlação inteligível de cada parte é algo estabelecido por Deus. Uma correlação inteligível de partes é o tipo de sistema que consideramos “um ato de inteligência”. Então é razoável afirmar que toda a vasta inteligibilidade que o mundo recebe de seu Criador é uma obra de inteligência, e que então, o seu Criador é inteligente. A inteligência

NÃO surge da NÃO-INTELIGÊNCIA.

Existe um segundo argumento a favor da inteligência de Deus. Algo que distingue as pessoas das “não-pessoas” é a auto-consciência. A inteligência pessoal pode unificar uma diversidade de coisas e mantê-la coesa. E esse centro único que une muitas coisas a si mesmo nos permite escapar da total externalidade e do “vazio” da matéria e utilizar, trabalhar e controlar todas essas coisas que não têm inteligência.

Um argumento muito simples que prova que Deus (ou a Primeira Causa) é um Ser inteligente, é que, nós seres humanos somos seres inteligentes. Deus é inteligente, porque suas criaturas são inteligentes. Uma coisa que distingue o ser humano dos demais animais é que o homem quer saber, deseja averiguar como é a realidade pelo simples fato de conhecer. Nós admiramos a inteligência e a capacidade intelectual de nossos semelhantes. Admiramo-nos com pessoas inteligentes. Mas não devemos nossa inteligência a um Ser (ou uma Causa) que não a contivesse numa escala maior, para que nos pudesse “doar inteligência”. Se nós (o resultado) somos inteligentes, quanto o mais não será a nossa Causa? Quanto mais não será inteligente

Aquele de quem advém a Fonte de nossa inteligência?

Deus, porém, que é totalmente imaterial e controla e unifica o todo da criação, certamente tem de ser inteligente (e superinteligente; a Inteligência Suprema). Sua inteligência não pode ser como a nossa, porque estamos de certo modo ligados à matéria, e possuímos limitação, não possuímos nenhuma característica dotada de perfeição.

DEUS É ONISCIENTE E ONIPOTENTE. Afirmar que Deus é onisciente e onipotente significa que não pode haver uma barreira real ao conhecimento e/ou à ação de Deus. Este Ser auto-existente criou tudo o que existe, NÃO POSSUI LIMITAÇÕES e sustenta a existência de todas as coisas, conhecendo-as bem. Portanto, seria concebível haver algo que Ele não conhecesse ou sobre o qual não tivesse influência? É impossível pensar em algo que atrapalhe a vontade de Deus, a menos que o próprio Deus queira ou permita que isso aconteça – como, por exemplo, o livre-arbítrio humano. Se Deus sabe de antemão todas as coisas, tem 'presciência' e 'onisciência”. Se Ele permite que algo atrapalhe Sua vontade, é porque não perdeu o controle da situação. E se Ele tem o domínio absoluto sobre tudo e todos, isso exige que Ele tenha 'onipotência'.

→ CONCLUSÃO: DEUS, UM MISTÉRIO. O leitor pode ficar insatisfeito com algumas ideias sobre a natureza de Deus que foram apresentadas. Alguns podem achar que estamos afirmando demais. Nós nos esforçamos bastante para declarar o que o Criador é e o que não pode ser. Contudo, nós, como meros filósofos, não podemos e não devemos ter a pretensão de entender a maneira como Deus vive. Tudo o que sabemos é que ele não está preso à matéria. E, se aquilo que chamamos de espírito é o que escapa das limitações materiais, então Deus é espírito – embora infinitamente mais liberto dessa limitação do que nós, com uma intensidade incalculavelmente mais rica do que a nossa.

Podemos garantir que essas afirmações são verdadeiras. Entretanto, não podemos saber como, pois nunca experimentamos o tipo de existência e de natureza absoluta que Deus possui. A vida de Deus permanece um mistério para nós, cuja existência e natureza é limitada e dependente. Há também quem possa achar que nossas assertivas não foram profundas o suficiente. Eles percebem uma grande distância entre o Pai amoroso revelado nas escrituras e o Criador infinitamente misterioso mostrado na especulação filosófica.

É verdade que a filosofia não demonstra o nível de amor presente em Deus, a Bondade Suprema. Mas o que a filosofia nos fornece tem grande valor. Ela deixa o caminho aberto para que conheçamos o Criador através da razão, e combate várias ideias erradas sobre Ele, e sobre a origem de todas as coisas. Também, desencoraja a idolatria – e a ideia de que Deus é do tamanho humano, limitado a uma distância mensurável. Deus não pode ser maior do que nós com base em nenhuma medida finita. Ele não está em competição com nenhuma de suas criaturas. E a filosofia teísta pode nos ajudar a perceber tudo isso; e coopera para que nos sintamos gratos por algo que muitas vezes menosprezamos: nossa Causa, e nossa própria existência.

Conheço uma teoria [FILOSÓFICA], muito interessante que nos mostra que o homem não é apenas matéria ATRAVÉS DA LÓGICA. Vejamos.

╬ ARGUMENTO DO HOMEM ANTIGO E DA VACA MORTA ╬

Este argumento refere-se ao homem da antiguidade; a um simples homem a viver nas primeiras civilizações humana, na Idade Antiga. Usaremos para ele o termo "primitivo".

• DADOS: O homem primitivo tem duas vacas. Uma delas morre.

• QUESTÃO: Qual é a diferença entre a vaca morta e a vaca viva? A diferença é tão grande que o homem primitivo precisa de duas palavras para designar essas duas vacas diferentes: “viva” e “morta”. Morta, naturalmente, significa que ela carece do que a viva tem. Mas o que é? O que faz a vaca viva, ser viva?

• MÉTODO: O homem primitivo conhece um método simples para descobrir uma resposta que provavelmente não tenha ocorrido a um filósofo: ele olha para seus dados! Parece não haver diferença material (tamanho, peso ou cor) entre as vacas. Contudo, algo está claramente faltando. O que é? O que é a vida?

* ASPECTO EMPÍRICO DA RESPOSTA: a resposta óbvia para qualquer observador, cuja cabeça ainda não esteja nas nuvens das teorias competitivas, é que a vida é o que faz a vaca respirar [a palavra para vida ou alma é a mesma para sopro e respiração em muitas línguas antigas]. Não significa que a vida seja o ar, mas sim, O PODER PARA MOVÊ-LO PELOS PULMÕES; ainda existe ar no pulmão da vaca morta, mas não “respiração”, força para movê-lo.

** ESCLARECIMENTO DOS TERMOS: o termo “alma” pode significar no mínimo três coisas diferentes, mas relacionadas: (1) o princípio ou a fonte de vida para um corpo vivo; (2) o princípio da consciência, ou (3) o princípio da autoconsciência ou da personalidade. Neste argumento, usamos “alma” no sentido 1. Neste sentido, humanos, animais e até plantas têm uma espécie de alma – um princípio de vida.

→ DEDUÇÃO DO HOMEM PRIMITIVO: O homem primitivo descobriu que “a vida não é uma coisa material”, tal como um órgão. É a vida dos órgãos, a vida do corpo. Não é algo que vive, mas algo pelo qual os órgãos (e nós) vivemos.

• INFERÊNCIA: Se a vida (alma) não é algo que vive, mas algo pelo qual nós vivemos, então ela também não pode morrer, - pelo menos, da forma que os corpos morrem. Estes morrem pela remoção da vida (alma), mas a alma não pode morrer pela remoção da alma. A alma não pode perder a alma. Os corpos morrem porque eles têm a vida emprestada. A alma não tem a vida emprestada. A alma NÃO TEM vida, a alma É a vida, ou pelo menos DÁ vida enquanto o corpo a GANHA.

╬ CONCLUSÃO FINAL ╬

Se o corpo tem a vida emprestada da alma, esta pode, por sua vez, ter um empréstimo de outra fonte superior – a Fonte da Vida.

Existe em nós uma alma imaterial que, como não é feita de matéria, não precisa ser sujeita às leis da matéria, incluindo a mortalidade. Se não houvesse mente ou vontade controlando meus braços e pernas, meus músculos e nervos, eu não seria capaz de saltar nem de levantar as coisas. Quando meu corpo morrer, meus membros já não poderão mais se mover, embora os músculos e os nervos permaneçam. Quando eu morrer, meu corpo reverterá sua obediência às meras leis físicas. Se existe um poder da alma que não pode vir do corpo, isso indica que a alma não é uma parte ou função do corpo. Por outro lado, isso indica que ela não está sujeita às leis do corpo, incluindo a mortalidade. Tal poder da alma existe, e não poderia proceder do corpo. É o poder de DAR SIGNIFICADO ao corpo. O corpo não pode dar significado a si mesmo, nem mesmo conhecer-se. O que faz de mim uma pessoa? É o meu corpo físico? Penso que não. Estou certo que você já foi a um enterro e viu um corpo morto deitado no caixão. Você está olhando para uma pessoa? Não! Está vendo um corpo morto. É preciso compreender que o que faz a pessoa não é o corpo. Em lugar disso, a pessoa é o que sai do corpo. Emoções. Vontade. Intelecto. Sentimentos. Essas são algumas características que tornam você uma pessoa e que lhe dão uma personalidade.


O famoso ateu Jean-Paul Sartre, após refletir por longo tempo sobre a vida, admitiu que chega um tempo na vida em que nós, e até o mais feliz dos homens pergunta a si mesmo: Há algo mais? "Isso é tudo o que há?” 'Isso é tudo o que existe'?

A INSATISFAÇÃO EM RELAÇÃO A TUDO QUE NOS É TANGÍVEL MOSTRA QUE DEVE HAVER ALGO MAIOR E MELHOR.

A eternidade é um tempo sem fim. Querendo ou não, todos nós temos anseio pela eternidade. Também reclamamos do tempo. Nunca parece haver tempo suficiente - mesmo agora, muito menos quando estivermos morrendo. Portanto, DEVE HAVER MAIS TEMPO, deve haver a eternidade. Nós nos queixamos deste mundo. Ele não é suficientemente bom. Portanto, deve haver outro mundo, que seja "suficientemente bom".
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1. O naturalismo ateísta não consegue demonstrar empiricamente como o universo surgiu pela simples atuação de leis naturais (cientistas constantemente, por falta de evidências, se apóiam na crença no naturalismo filosófico, a qual requer tanta fé quanto o Cristianismo);

2. O naturalismo ateísta reduz o homem a uma máquina, sujeito ao determinismo biológico de genes egoístas.

3. O naturalismo ateísta conduz ao desespero, porque não fornece base para tornar significativas as decisões pessoais (tudo veio do acaso, logo, não há um propósito para a existência humana, muito menos, recompensa para além da vida);

4. O naturalismo ateísta destrói a moralidade, porque, se todo comportamento é uma herança genética preservado pela seleção natural (inclusive a traição, o estupro, o roubo, etc), segue-se que não há distinção clara entre o bem e o mal;

5. Ao contrário da convicção popular de que só o criacionismo se apoia no sobrenatural, o naturalismo também deve apoiar-se, porque as probabilidades de formação de vida ao acaso são tão pequenas, que "exigem um milagre de Geração Espontânea", equivalente ao Argumento Teológico.

6. Finalmente, o naturalismo ateísta reduz o homem à mera matéria, o que nos faz perder o valor como indivíduos.


FRASES:

Aquele que afirma ser cético em relação a um conjunto específico de crenças é, na verdade, um verdadeiro 'crente' em "outro conjunto de crenças". (Phillip E. Johnson)

“Os ateus têm um deus em que nem eles acreditam.” (Millôr Fernandes)

“Um homem sem um país é um exilado no mundo; um homem sem Deus é um órfão na eternidade.” (Henry van Dyke)

“É inútil falar sempre da alternativa de razão e fé. A PRÓPRIA RAZÃO É UMA QUESTÃO DE FÉ”.

“A ciência nos dá o conhecimento do mundo e a religião nos dá o significado.” (Michael Keller)

“Um pouco de filosofia inclina a mente do homem para o ateísmo, mas a profundidade em filosofia o avizinha da religião.” (Francis Bacon)


ARGUMENTOS DIVERSOS QUE COMPROVAM A REALIDADE DA EXISTÊNCIA DE DEUS – (não pertencem ao livro)

1. Há a ideia do quinque viae (cinco vias) exposta por Tomás de Aquino.

Tomás de Aquino
Antes de tudo destaca-se o princípio do impulsionador primário, isto é, aquela força que desencadeou o movimento que agora sustenta o mesmo. O mundo seria, essencialmente, "matéria em movimento". Precisamos explicar a existência tanto do movimento como da causa primária. Pois não é lógico entrarmos em um regresso infinito, afirmando que um movimento foi causado por um antecedente, e este por um outro, anterior a ele, e assim indefinidamente. Precisamos finalmente chegar à declaração da origem do movimento. Em Col. 1.17 vemos que esse poder é atribuído a Cristo (o Logos), ao passo que no trecho de Atos 17.28 essa força é atribuída a Deus Pai. Estes dois trechos foram declarações do Apóstolo Paulo. Por conseguinte, esse argumento de Tomás de Aquino já existe nas Escrituras, ainda que não na forma rigorosa de um argumento, porém meramente como uma afirmação sobre a origem do movimento e como o mesmo tem prosseguimento. O movimento assume muitas formas diversas, e, segundo o conhecimento mais avançado do que dispomos, sobre a particularidade, o movimento mais elementar é aquele que se verifica no interior do átomo, e que envolve os elementos constitutivos do átomo. Existe igualmente movimentos na formação das coisas, no desenvolvimento de qualquer coisa a que chamamos de crescimento. Tais movimentos são governados por uma inteligência qualquer, porque, de outro modo, tudo não passaria do mais absoluto caos. Os movimentos são dirigidos na direção de alvos fixos, levados a efeito com propósito definido. Somente uma inteligência elevada poderia assim ordenar e dirigir tais movimentos.

2. O argumento cosmológico.

Temos a necessidade de explicar a origem da matéria. Poderíamos encetar uma série infindável de retrocessos, supondo que há uma fileira interminável de causas, sem jamais chegarmos a uma causa primária - mas isso é simplesmente contrário à razão. Assim sendo, precisamos supor que existe uma causa, maior do que qualquer dos seus efeitos, causa essa que originou a matéria. Com base na grandiosidade da criação, podemos averiguar algo da grandiosidade da inteligência de Deus, bem como de seu extraordinário poder. A única alternativa possível a essa posição é aquela que afirma que a matéria é eterna; essa ideia entretanto, é muito menos satisfatória do que aquela que fala de uma Causa inteligente de todas as coisas. Causa essa que é eterna, mas que produziu a criação dentro do tempo. Coisa alguma, de tudo quanto existe, pode ser declarado como sua própria causa, por quanto sempre podemos encontrar uma causa para qualquer coisa, e outra causa para essa causa, e assim por diante. Finalmente, porém, somos forçados a pôr ponto final nesse retrocesso, supondo a existência de uma causa primária. Essa é a solução mais razoável, para o problema da origem, dentre todas as soluções que têm sido apresentadas pelos homens.

Myer Pearlman nomenclatura esse argumento como sendo "Argumento da Criação". Esse teólogo sustenta que a razão argumenta que o universo deve ter tido um princípio. Todo efeito deve ter uma causa suficiente. O universo, sendo o efeito, por conseguinte deve ter uma causa. Consideremos a extensão do universo. Nas palavras de Jorge W. Grey: "O universo, como o imaginamos, é um sistema de milhares e milhões de galáxias. Cada uma delas se compõe de milhares e milhões de estrelas. Perto da circunferência de uma dessas galáxias - a Via Láctea - existe uma estrela de tamanho médio e temperatura moderada, já amarelada pela velhice - que é o nosso Sol." E imaginem que o Sol é milhões de vezes maior que a nossa pequena Terra! Prossegue o mesmo escritor: "O Sol está girando numa órbita vertiginosa em direção à circunferência da Via Láctea a 19.300 metros por segundo, levando consigo a Terra e todos os planetas, e ao mesmo tempo todo o sistema solar está girando num gigantesco circuito à velocidade incrível de 321 quilômetros por segundo, enquanto a própria galáxia gira, qual colossal roda gigante estelar. Fotografando-se algumas seções dos céus, é possível fazer a contagem das estrelas. No observatório de Harvard College eu vi uma fotografia que inclui as imagens de mais de 200 Vias Lácteas todas registradas numa chapa fotográfica de 35 x 42 cm. Calcula-se que o número de galáxias de que se compõe o universo é da ordem de 500 milhões de milhões." Consideremos nosso pequeno planeta e nele as várias formas de vida existentes, as quais revelam inteligência e desígnio divinos. Naturalmente surge a questão: "Como se originou tudo isso?" A pergunta é natural, pois as nossas mentes são constituídas de tal forma que esperam que todo efeito tenha uma causa. Logo, concluímos que o universo deve ter tido uma Primeira Causa, ou um Criador. "No princípio - Deus" (Gên. 1.1).

Dum modo singelo este argumento é exposto no seguinte incidente: Disse um jovem cético a uma idosa senhora: "Outrora eu cria em Deus, mas agora, desde que estudei filosofia e matemática, estou convencido de que Deus não é mais do que uma palavra oca". Disse a senhora "Bem, é verdade que eu não aprendi essas coisas, mas desde que você já aprendeu, pode me dizer donde veio este ovo?" "Naturalmente duma galinha", foi a resposta. "E donde veio a galinha?" "Naturalmente dum ovo". Então, indagou a senhora: "Permita-me perguntar: qual existiu primeiro, a galinha ou o ovo?" "A galinha, por certo", respondeu o jovem. "Oh, então, a galinha existia antes o ovo? Oh, não, devia dizer que o ovo existia primeiro. Então, eu suponho que você quer dizer que o ovo existia antes da galinha". O moço vacilou: "Bem, a senhora vê, isto é, naturalmente, bem, a galinha existiu primeiro". "Muito bem" — disse ela — , "quem criou a primeira galinha de que vieram todos os sucessivos ovos e galinhas?" "Que é que a senhora quer dizer com tudo isto?" — perguntou ele. "Simplesmente isto" — replicou ela: — "Digo que aquele que criou o primeiro ovo ou a primeira galinha é aquele que criou o mundo. Você nem pode explicar, sem Deus, a existência dum ovo ou duma galinha, e ainda quer que eu creia que você pode explicar, sem Deus, a existência do mundo inteiro!"

3. O argumento alicerçado da contingência ou da possibilidade.

Esse argumento tem por fundamento a verdade empírica que mostra que tudo quanto conhecemos, através de nossa experiência, é "contingente". Em outras palavras, depende de alguma outra coisa para explicar a sua existência. Isso subentende que a menos que exista alguma coisa "necessária", que "não possa deixar de existir", todas as coisas, finalmente cessariam de existir, porquanto dependem ou são contingentes dessa coisa necessária. Uma vez mais poderíamos iniciar um retrocesso infinito, supondo que todas as coisas realmente dependem de alguma coisa, sem jamais chegarmos a um "ser necessário", independente, que não depende do que quer que seja para sua existência. Porém, essa ideia é muito menos razoável do que supormos que ao longo do caminho de retrocesso, em algum lugar, se encontra aquela vida necessária, que não depende de qualquer outra coisa para a sua existência, mas antes, é sua própria causadora e existe independentemente de tudo o mais. A esse ser independente é que denominamos "Deus". O evangelho de João encerra esse conceito em trechos como João 5.25,26 e 6: 57, onde se lê que esse tipo de vida independe, imortal e necessária foi conferida ao Filho de Deus (através das ressurreição), pelo poder de Deus Pai, e então, por intermédio do Filho, a todos quantos nele creem. Esse é um dos conceitos mais elevados da religião, revelada ou não. O homem, através da doação, vem participar da "vida independente" de Deus, e assim virá a participar do mesmo tipo de imortalidade que Deus Pai possui. Essa é a autêntica vida eterna.

4. Argumento axiológico

Em outras palavras, há uma forma ou graus de perfeição? Sempre que examinamos a bondade, a justiça, a beleza, a nobreza, ou qualquer outra das qualidades morais, observamos neste mundo muitos graus de perfeição. Ora, a própria ideia de "grau" subentende a necessidade de um grau máximo, ou seja, da perfeição – um "maxime ens" ou "ens realissimus". Esse ente mais real chama-se "Deus" que é o ápice de todos os graus de perfeição.

5. O argumento teleológico.

O argumento teleológico também é chamado pelos pensadores cristãos como "Argumento do Desígnio". Esses estudiosos argumentam que o desígnio e a formosura evidenciam-se no universo; mas o desígnio e a formosura implicam um arquiteto; portanto, o universo é a obra dum Arquiteto dotado de inteligência suficiente para explicar sua obra. O grande relógio de Estrasburgo tem, além das funções normais dum relógio, uma combinação de luas e planetas que se movem, mostrando dias e meses com a exatidão dos corpos celestes, com seus grupos de figuras que aparecem e desaparecem com regularidade igual ao soarem as horas no grande cronômetro. Declarar não ter havido um engenheiro que construiu o relógio e que este objeto "aconteceu", seria insultar a inteligência e a razão humana. É insensatez presumir que o universo "aconteceu", ou, em linguagem científica, que procedeu "do concurso fortuito dos átomos"!

Suponhamos que o livro "O Peregrino" fosse descrito da seguinte maneira: o autor tomou um vagão de tipos de imprensa e com pá os atirou ao ar. Ao caírem no chão, natural e gradualmente se ajuntaram de maneira a formar a famosa história de Bunyan. O homem mais incrédulo diria: que absurdo! E a mesma coisa dizemos nós das suposições do ateísmo em relação à criação do universo.

O exame dum relógio revela que ele leva os sinais de desígnio porque as diversas peças são reunidas com um propósito prévio. Elas são colocadas de tal modo que produzem movimentos e esses movimentos são regulados de tal maneira que marcam as horas. Disso inferimos duas coisas: primeiramente, que o relógio teve alguém que o fez, e em segundo lugar, que o seu fabricante compreendeu a sua construção, e o projetou com o propósito de marcar as horas. Da mesma maneira, observamos o desígnio e a operação dum plano no mundo e, naturalmente, concluímos que houve alguém que o fez e que sabiamente o preparou para o propósito ao qual está servindo. O fato de nunca termos observado a fabricação dum relógio não afetaria essas conclusões, mesmo que nunca conhecêssemos um relojoeiro, ou que jamais tivéssemos ideia do processo desse trabalho. Igualmente, a nossa convicção de que o universo teve um arquiteto, de forma nenhuma sofre alteração pelo fato de nunca termos observado a sua construção, ou de nunca termos visto o arquiteto.

Do mesmo modo a nossa conclusão não se alteraria se alguém nos informasse que "o relógio é resultado da operação das leis da mecânica e explica-se pelas propriedades da matéria". Ainda assim teremos que considerá-lo como obra dum hábil relojoeiro que soube aproveitar essas leis da física e suas propriedades para fazer funcionar o relógio. Da mesma forma, quando alguém nos informa que o universo é simplesmente o resultado da operação das leis da natureza, nós nos vemos constrangidos a perguntar: "Quem projetou, estabeleceu e usou essas leis?" Isso, em razão de ser implícita a presença de um legislador uma vez que existem leis.

Tomemos para ilustrar a vida dos insetos. Há uma espécie de escaravelho chamado "Staghorn" ou "Chifrudo". O macho tem magníficos chifres, duas vezes mais compridos do que o seu corpo; a fêmea não tem chifres. No estágio larval, eles enterram-se a si mesmos na terra e, silenciosamente, esperam na escuridão pela sua metamorfose. São naturalmente meros insetos, sem nenhuma diferença aparente e, no entanto, um deles escava para si um buraco duas vezes mais profundo do que o outro. Por quê? Para que haja espaço para os chifres do macho se desenvolverem com perfeição. Por que essas larvas, aparentemente iguais, diferem assim em seus hábitos? Quem ensinou o macho a cavar seu buraco duas vezes mais profundo do que o faz a fêmea? É o resultado dum processo racional? Não, foi Deus, o Criador, quem pôs naquelas criaturas a percepção instintiva que lhes seria útil. De onde recebeu esse inseto a sua sabedoria? Alguém talvez pense que a herdara de seus pais. Mas um cão ensinado, por exemplo, transmite à sua descendência sua astúcia e agilidade? Não. Mesmo que admitamos que o instinto fosse herdado, ainda deparamos com o fato de que alguém havia instruído o primeiro escaravelho chifrudo. A explicação do maravilhoso instinto dos animais acha-se nas palavras do primeiro capítulo de Gênesis: "E disse Deus" - isto é: a vontade de Deus. Quem observa o funcionamento dum relógio sabe que a inteligência não está no relógio mas sim no relojoeiro. E quem observa o instinto maravilhoso das menores criaturas, concluirá que a primeira inteligência não era a delas, mas sim do seu Criador, e que existe uma Mente controladora dos menores detalhes da vida.

O Dr. Whitney, ex-presidente da Sociedade Americana e membro da Academia Americana de Artes e Ciências, certa vez disse que "um ímã repele o outro pela vontade de Deus e ninguém pode dar razão melhor." "Que quer o senhor dizer com a expressão: a vontade de Deus?" alguém lhe perguntou. O Dr. Whitney replicou: "Como o senhor define a luz?. . . Existe a teoria corpuscular, a teoria de ondas, e agora a teoria do quantum; e nenhuma das teorias passa duma conjetura educada. Com uma explicação tão boa como essas, podemos dizer que a luz caminha pela vontade de Deus. . . A vontade de Deus, essa lei que descobrimos, sem a podermos explicar - é a única palavra final."

O Sr. A J. Pace, desenhista do periódico evangélico "Sunday School Times", fala de sua entrevista com o finado Wilson J. Bentley, perito em microfotografia (fotografar o que se vê através do microscópio). Por mais de um terço de século esse senhor fotografou cristais de neve. Depois de haver fotografado milhares desses cristais ele observou três fatos principais: primeiro, que não havia dois flocos iguais; segundo: todos eram de um padrão formoso; terceiro: todos eram invariavelmente de forma sextavada. Quando lhe perguntaram como se explicava essa simetria sextavada, ele respondeu: "Decerto, ninguém sabe senão Deus, mas a minha teoria é a seguinte: Como todos sabem, os cristais de neve são formados de vapor de água a temperaturas abaixo de zero, e a água se compõe de três moléculas, duas de hidrogênio que se combinam com uma de oxigênio. Cada molécula tem uma carga de eletricidade positiva e negativa, a qual tem a tendência de polarizar-se nos lados opostos. O algarismo três, portanto, figura no assunto desde o começo". "Como podemos explicar estes pontinhos tão interessantes, as voltas e as curvas graciosas, estas quinas chanfradas tão delicadamente cinzeladas, todas elas dispostas com perfeita simetria ao redor do ponto central?" perguntou o Sr. Pace. Encolheu os ombros e disse: "Somente o Artista que os desenhou e os modelou conhece o processo." Sua declaração acerca do "algarismo três que figura no assunto" me pôs a pensar. Não seria então que o trino Deus, que modela toda a formosura da criação, rubrica a própria trindade nestas frágeis estrelas de cristal de gelo como quem assina seu nome em sua obra-prima? Ao examinar os flocos de neve ao microscópio, vê-se instantaneamente que o princípio básico da estrutura do floco de neve é o hexágono ou a figura de seis lados, o único exemplo disso a todo o reino da geometria a este respeito. O raio do círculo cirncunscrevente é exatamente igual ao comprimento de cada um dos seis lados do hexágono. Portanto, resultam seis triângulos equilátero reunidos ao núcleo central, sendo todos os ângulos de sessenta graus, a terça parte de toda a área num lado duma linha reta. Que símbolo sugestivo do trino Deus é o triângulo! Aqui temos unidade: um triângulo, formado de três linhas, cada: parte indispensável à integridade do conjunto.

A curiosidade agora me impeliu a examinar as referências bíblicas sobre a palavra "neve", e descobri, com grande prazer, este mesmo "triângulo" inerente na Bíblia. Por exemplo, há 21 (3 x 7) referências contendo o substantivo "neve" no Antigo Testamento, e 3 no Novo Testamento, 24 ao todo. Então achei 3 referências que falam da "lepra tão branca como a neve". Três vezes a purificação do pecado é comparada à neve. Achei mais três que falam de roupas "tão brancas como a neve". Três vezes a aparência do Filho de Deus compara-se à neve. Mas a maior surpresa foi ao descobrir que a palavra hebraica, "neve", é composta inteiramente de algarismos "três"! É fato, embora não seja geralmente conhecido que, não tendo algarismos, tanto os hebreus como os gregos usavam as letras do seu alfabeto como algarismos. Bastava um olhar casual de um hebreu à palavra SHELEG (palavra hebraica que quer dizer "neve") para ver que ela significa o algarismo 333. No hebraico a primeira letra, que corresponde à nossa "SH", vale 300; a segunda consoante "L" vale 30; e a consoante final, o nosso "G", vale 3. Somando-as, temos 333, três algarismos de três. Curioso, não é verdade? Mas por que não esperar exatidão matemática dum livro plenamente inspirado, tão maravilhoso quanto o mundo que Deus criou?

Acerca de Deus disse Jó: "Faz grandes coisas que não podemos compreender. Pois diz à neve: Cai sobre a terra" (Jó 37.5, 6). Eu já gastei dois dias inteiros para copiar com pena e tinta o desenho de Deus de seis cristais de neve e fiquei muito fatigado. E como é fácil para ele fazê-lo! "Ele diz à neve" - e com uma palavra está feito. Imaginem quantos são os milhões de bilhões de cristais de neve que caem sobre um hectare de terra durante uma hora, e imaginem, se puder, o fato surpreendente de que cada cristal tem sua individualidade própria, um desenho e modelo sem duplicata nesta ou em qualquer outra tempestade. "Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado é, não o posso atingir"

(Sal. 139.6). Como pode uma pessoa ajuizada, diante de tal evidência de desígnios, multiplicados por um sem-número de variedades, duvidar da existência e da obra do Desenhista, cuja capacidade é imensurável?! Um Deus capaz de fazer tantas belezas é capaz de tudo, até mesmo de moldar as nossas vidas dando-lhes beleza e simetria.

Champlin declara que todos os aspectos da vida e do ser demonstram um desígnio extremamente completo. Tudo quanto é vida possui propósito em seu ser, além de um esquema muito complexo de funções físicas, o que demonstra o mais estupendo desígnio. A complexidade de desígnios existente, por exemplo, no olho humano, é a demonstração suficiente da existência de uma inteligência cheia de propósito para confundir um milhão de ateus. A ordem que impera no universo físico é exata e maravilhosa para nossa apreciação. Ora, por detrás de todo esse propósito e desígnio deve haver um grande Planejador, ou seja, a mais elevada inteligência que se pode imaginar, – que foi capaz de pôr em movimento uma criação magnífica que sempre desperta a nossa observação. O Planejador é Deus e sua inteligência é atualmente demonstrada no mundo por ele criado. Por exemplo, há uma vaidade de mariposa que possui dez tipos diferentes de antenas, e que São receptores de luz. Por meio do seu uso, esse inseto é capaz de dirigir o seu voo e a sua vida em geral. A ciência dos homens ainda não foi capaz de descobrir a utilidade específica de cada uma dessas variedades de antenas, mas os cientistas se maravilham extasiados ante o fenômeno. O engenho humano jamais foi capaz de desenvolver antenas com essa sensibilidade. No entanto, alguns animais possuem receptores de luz ainda mais complicados e prefeitos, aos quais chamamos de olhos. Por detrás de desígnios tão inteligentes, deve haver um Intelecto Supremo. E essa inteligência extraordinária se chama Deus. Até mesmo as coisas inanimadas têm desígnio, e essas coisas, juntamente com outras coisas de desígnio mais complexo, adicionam o seu testemunho em favor do grande Planejador.

6. O argumento da eficácia da razão.

A razão humana, com sua extraordinária complexidade e com muitíssimas sutilezas e seus poderes abstratos, comprova a necessidade de admitirmos, em nossa ontologia, o Criador e Planejador desses poderes, sendo, ele mesmo, o intelecto supremo. A razão humana é apenas uma pequena demonstração da razão divina. Até mesmo as tentativas racionais do homem, par provar que Deus não existe, não passam de demonstrações que Deus verdadeiramente existe, porquanto essas tentativas são um uso e uma exibição da razão, o que, quando devidamente examinado, inevitavelmente nos conduz de volta a Deus. Esse argumento é uma faceta do argumento teológico, discutido acima, no ponto anterior. Alguns teólogos dividem esse argumento didaticamente em fases. A primeira fase deste argumento é de "causa e efeito". Ao nosso redor existem efeitos tais como matéria e movimento. Há três alternativas para a sua explicação: (1) eles existem eternamente; (2) surgiram do nada ou (3) foram causados.

Vamos examinar essas alternativas em ordem. Primeiro, não é provável que o universo tenha existido eternamente, pois toda evidência indica um universo que está se desgastando. De acordo com a segunda lei da termodinâmica, o sol e as estrelas estão perdendo energia em considerável proporção. Se tivessem existido desde a eternidade, já estariam esgotados. Os materiais radioativos estão perdendo a sua radiação. Os estudos espectográficos das estrelas mostram que todos os corpos estão viajando para fora a partir do centro, indicando um começo. Segundo, dizer que a matéria e o movimento emergiram do nada é uma contradição: "Do nada, nada surge." Terceiro, a explicação mais razoável é que a matéria e o movimento foram criados num ponto do tempo. Atualmente, a maioria dos cientistas data o universo de maneira variada, entre cinco e vinte bilhões de anos de antiguidade. Alguns propõem uma série de emergências ou um criador impessoal, mas, considerando a existência de inteligências e a grande complexidade da criação, é mais provável que o universo seja obra de um Criador inteligente, como exposto na Bíblia. Não é provável que uma fonte suba mais alto que seu manancial, ou que seres racionais surjam de uma fonte irracional.

Outra fase do argumento a partir da razão é que o homem possui um conhecimento inato de Deus. Isto se evidencia pela crença universal num ser supremo de algum tipo. É difícil encontrar uma tribo que não acredite num ser ou força superior. "O homem é incuravelmente religioso". Isto não significa que todos os homens tenham uma crença completamente firmada em Deus, mas parece indicar que a crença religiosa e a tendência para adorar uma divindade são naturais ao homem. Até mesmo o ateu, que nega a existência de Deus, demonstra que é confrontado com a ideia de Deus e deve de algum modo dispor do conceito.

7. O argumento moral.

Em sua forma original, esse argumento assevera que o elevado senso de moralidade que algumas pessoas possuem pode ser melhor explicado se supormos que esse senso se assemelha ao do grande Ser moral. Essa explicação é melhorada que atribuímos tal moralidade a fatores meramente biológicos ou físicos. De conformidade com esse ponto de vista, aceitamos que elevado senso moral se deriva da influência exercida por um Deus santo. Em suas formas mais complexas, compreendemos que esse argumento mostra que até mesmo o vocabulário da moralidade, que se refere a conceitos como "bondade", "justiça", e "conduta ideal" subentende um elevadíssimo Padrão de moralidade, o qual inspira a moralidade no homem, o que por sua vez, é refletido na própria natureza da linguagem humana. Outrossim, o argumento moral, em suas formas mais complexas, afirma que existe na mente humana a intuição de que deve haver uma retribuição apropriada às ações morais dos homens, subentendem que deve haver um juiz capaz de dispensar retribuições na forma de bênção ou punição. Além disso a experiência e a observação humanas demonstram que, nesta existência terrena, a injustiça pode prevalecer e frequentemente o faz, pelo que a injustiça, neste lado terreno da vida, não se cumpre. A razão também nos diz, por conseguinte, que deve forçosamente haver a imortalidade, pois é no "outro lado" da existência que a justiça terá de ser satisfeita. Ora somente o Juiz absoluto pode fazer os ajustamentos necessários para que a justiça repouse sobre todos, através da bênção ou através do castigo. A este Juiz nós chamamos "Deus". O raciocínio da pura moral humana requer a existência de Deus. Outrossim, alicerçados em bases bíblicas, como vemos em Rm. 1.19, 20, ou como se vê em João 16.8-11, percebemos que esse Juiz transmite pessoalmente aos homens quais sejam as exigências morais deste mundo.

Reiterando toda essa ideia, o homem dispõe de natureza moral, isto é, a sua vida é regulada por conceitos do bem e do mal. Ele reconhece que há um caminho reto de ação que deve seguir e um caminho errado que deve evitar. Esse conhecimento chama-se "consciência". Ao fazer ele o bem, a consciência o aprova; ao fazer ele o mal, ela o condena. A consciência, seja obedecida ou não, fala com autoridade. Assim disse Butler acerca da consciência: "Se ela tivesse poder na mesma proporção de sua autoridade manifesta, governaria o mundo, isto é, se a consciência tivesse a força de por em ação o que ordena, ela revolucionaria o mundo. "Mas acontece que o homem é dotado de livre arbítrio e, portanto, pode desobedecer àquela voz íntima. Mesmo estando mal orientada, sem esclarecimento, a consciência ainda fala com autoridade, e faz o homem sentir sua responsabilidade. "Duas coisas me impressionam", declarou Kant, o grande filósofo alemão, "o alto céu estrelado e a lei moral em meu interior."

Qual a conclusão que se tira deste conhecimento universal do bem e do mal? Que há um Legislador que idealizou uma norma de conduta para o homem e fez a natureza humana capaz de compreender esse ideal. A consciência não cria o ideal; ela simplesmente testifica acerca dele, registrando a sua conformidade ou não-conformidade. Quem originalmente criou esses dois poderosos conceitos do bem e do mal? Deus, o Justo Legislador! O pecado ofuscou a consciência e quase anulou a lei do ser humano; mas no Monte Sinai Deus gravou essa lei em pedras para que o homem tivesse a lei perfeita para dirigir a sua vida. O fato de que o homem compreende esta lei, e sente a sua responsabilidade para com ela, manifesta a existência dum Legislador que criou o homem com essa capacidade.

Qual é a conclusão que podemos tirar desse sentimento de responsabilidade? Que o Legislador é também um Juiz que recompensará os bons e castigará os maus. Aquele que impôs a lei finalmente defenderá essa lei. Não somente a natureza moral do homem, como também todos os aspectos da sua natureza testificam da existência de Deus. Até as religiões mais degradadas demonstram o fato de que o homem, qual cego, tateando, procura algo que sua alma anela. A fome física indica a existência de algo que a possa satisfazer. Quando o homem tem fome, essa fome indica que há alguém ou algo que o possa satisfazer. A exclamação, "a minha alma tem sede de Deus" (Sal. 42.2), é um argumento a favor da existência de Deus, pois a alma não enganaria o homem com sede daquilo que não existisse. Assim disse certa vez um erudito da igreja primitiva: "Para ti nos fizeste, e nosso coração estará inquieto enquanto não encontrar descanso em ti."

8. O argumento axiológico, em sua forma mais complexa.

Todas as sensibilidades humanas, no que diz respeito às perfeições da realidade, das qualidades morais, das qualidades estéticas, das qualidades políticas e da busca pela perfeição, em qualquer campo de conhecimento humano, requerem que exista o Valor supremo na direção do qual todos os demais valores apontam, e cujo padrão esses valores seguem como linha diretriz. Há uma subcategoria desse argumento, denominado "argumento henológico", o qual afirma que há uma espécie de unidade em todos os conceitos de valor, isto é, o Grande Padrão de valor, que age como o alvo e o unificador de todos os valores, a despeito do que essa disciplina porventura envolva. Essa unidade dos valores exige a aceitação da existência do Unificador de todos os valores, que é Deus.

9. O argumento derivado da autoridade.

Os livros sagrados, as experiências místicas que dão conteúdo que dão conteúdo as esses livros sagrados, a tradição histórica da igreja cristã, os escritos e predições orais dos profetas, o cumprimento dessas suas profecias, etc., mostram-nos que existem "autoridades" de natureza religiosa, o que comprova a existência de um Deus que nos transmitiu a autoridade apropriada para representar a sua própria pessoa.

10. O argumento baseado na experiência religiosa.

A experiência religiosa, como regeneração, e as demais experiências místicas, como as curas, diversas experiências psíquicas, ou milagres, etc., provam que deve haver uma realidade na fé religiosa, cujo ponto mais elevado é o Ser supremo que denominamos "Deus", o qual, também, é a fonte originária válida de toda a experiência religiosa autêntica.

11. O argumento baseado na esperança religiosa.

Existe uma crença universal dos homens na existência de Deus, que os leva a terem "esperança". A remoção da esperança deste mundo deixaria a raça humana em estado de miséria íntima. Essa esperança é justificada porque é outorgada por Deus, sendo comprovada pelo consenso humano universal. Os homens esperam em Deus, a não ser quando ensinamos ao contrário, por algum sistema perverso, que os condicione a isso.

12. O argumento baseado na realidade dos milagres.

A ciência não conta com qualquer explicação e nem com qualquer teoria geral que explane as muitas maravilhas extraordinárias que se verificam neste mundo. Somente a verdade religiosa pode explicar tais fenômenos. O princípio religioso afirma a existência de Deus como o grande poder que há por detrás dos milagres. Existem leis mais elevadas do que aquelas que são explicadas pela ciência humana, e que podem ultrapassar as supostas limitações, impostas pela ciência natural. Deus é controlador das leis cósmicas, e, se assim quiser fazer; pode agir contrariamente a elas, fazendo intervenção, ultrapassando-as ou utilizando-se de leis superiores a elas, a fim de produzir acontecimentos que desafiam qualquer explicação "lógica", de conformidade com a lógica científica.

13. O argumento do consensus gentium.

Essas palavras latinas significam "opinião popular". Sempre fez parte da opinião de todas as culturas humanas que existe algum Ser supremo, ou existem alguns seres divinos. O ateísmo, em contraste com isso, precisa ser aprendido; não ocorre naturalmente a quem quer que seja. Não existe um único ser humano, à face da terra que seja ateu de nascimento. Usualmente os indivíduos aceitam o ateísmo nas escolas seculares e profanas, onde os mestres, inchados de orgulho intelectual, pensam ser suficientes para si mesmos, sem necessitarem de qualquer Poder Supremo. Todavia, em todas as culturas onde a sofisticação do ceticismo ainda não penetrou, à a crença na existência de Deus, ou pelo menos, de vários deuses. A opinião geral da humanidade, entretanto, não nos pode conduzir à natureza exata de Deus, mas, pelo menos pode conduzir-nos à "ideia de existência da divindade" – Deus existe.

Alguns teólogos chamam esse argumento de "argumento da crença universal". A crença na existência de Deus é praticamente tão difundida quanto a própria raça humana, embora muitas vezes se manifeste em forma pervertida ou grotesca e revestida de ideias supersticiosas. Esta opinião tem sido contestada por alguns que argumentam existirem raças que não têm a menor concepção de Deus. Mas o Sr. Jevons, autoridade no assunto de raças e religiões comparadas, diz que esta opinião, "Como é do conhecimento de todos os antropólogos, já foi para o limbo das controvérsias mortas. . . todos concordam que não existem raças, por mais primitivas que sejam, totalmente destituídas de concepção religiosa! Embora alguém cite exceções, sabemos que a exceção não inutiliza a regra. Por exemplo, se fossem encontrados alguns seres humanos inteiramente destituídos de todo sentimento humano e compaixão, isso não serviria de base para dizer que o homem é essencialmente uma criatura destituída de sentimentos. A presença de cegos no mundo não prova que todos os homens são cegos." Como disse William Evans: "o fato de certas nações não conhecerem a tabuada de multiplicação não afeta a aritmética."

Como se originou esta crença universal? A maior parte dos ateus parece imaginar que um grupo de teólogos se tenha reunido em sessão secreta na qual inventaram a ideia de Deus, a qual depois apresentaram ao povo. Mas os teólogos não inventaram Deus como também os astrônomos não inventaram as estrelas, nem os botânicos as flores. É certo que os antigos mantinham ideias erradas acerca dos corpos celestes, mas esse fato não nega a existência dos corpos celestes. E visto que a humanidade já teve ideias defeituosas acerca de Deus, isso implica que existe um Deus acerca do qual podiam ter noções errôneas.

14. O argumento baseado na revelação e no misticismo.

Deus tem achado por bem revelar-se a si mesmo aos homens: e isso ele tem feito por intermédio de visões e sonhos. Essa revelação aparece em forma mais concreta nas Santas Escrituras. O senhor Deus simplesmente dá conhecimento de si mesmo como um dom aos homens, porque sabe que precisam desse conhecimento. Essa revelação se origina em sua graça e sua bondade. Que o misticismo é uma realidade é fato que se pode provar facilmente, através de pesquisas e da mera observação. O impulso que há por detrás de todas as experiências místicas, quer se trate de milagres ou de visões, é a Mente divina. E formas falsas de misticismo não eliminam o que é verdadeiro: e, além disso, qualquer grau de misticismo já serve de prova sobre a existência de Deus. As experiências místicas conseguem descrever Deus, em certo sentido, não sendo meramente uma afirmação de sua existência.

15. O argumento baseado na felicidade do crente.

A profunda felicidade e senso de confiança que têm os crentes em Deus, a alegria e a segurança que a fé teísta confere aos possuidores, servem de provas da validade da crença na existência de Deus.

16. O argumento baseado na melhor crença.

Sendo inquiridores sérios da verdade, sentimos a necessidade de escolher entre as muitas ideias que existem, e, ao sermos defrontados por tal necessidade de escolha, a "melhor fé", obviamente é a teísta. Essa crença explica melhor a existência da criação, de seu desígnio, das experiências místicas e dos milagres. Isso é uma explicação melhor do que a ideia da mera "chance", da "evolução" ou da "seleção natural", ou mesmo da coincidência sem desígnio, das "forças naturais e cósmicas", que são suas alternativas, a crença em Deus fica melhor fundada, psicologicamente falando, na realidade das coisas, do que o ateísmo, e é muitíssimo mais satisfatória. O ateísmo perde a sua utilidade quando o indivíduo morre.

17. O argumento da aposta, apresentado por Blaise Pascal.

Blaise Pascal
Pascal ensinava que é impossível provar ou negar a existência de Deus, mas dizia que, sob bases pragmáticas, a crença em Deus é superior à descrença, porquanto essa crença agrada a Deus, ao passo que o ateísmo lhe é desagradável. De acordo com essa ideia, quando um homem morre, se porventura descobrir que Deus não existe, ou se ele mesmo simplesmente deixa de existir, nada terá perdido. Por outro lado se um homem, ao morrer, descobrir que Deus realmente existe, então só terá a ganhar com a sua crença teísta. Essa ideia entretanto, não é válida, pois é extremamente imperfeita. Pois Deus existe, e, segundo podemos estar plenamente certos, não é nenhum tolo, o que significa que não ficará satisfeito com alguém que se aferra à crença teísta somente por motivo de vantagens egoísticas. De fato, talvez Deus se sinta mais agradado com um ateu sincero e honesto do e não com um teísta jogador com a sorte. Essa forma de crença é uma hipocrisia, e jamais poderá agradar a Deus. Outrossim, do ponto de vista teológico, a mera crença na existência de Deus não é mais vantajosa do que a crença que têm os poderes demoníacos na existência de Deus, pois os demônios creem e estremecem.

18. O argumento do teismo pragmático.

Paralelamente ao argumento anterior, alguns pensam que é pragmaticamente melhor ser alguém religioso, não somente no que tange à questão da crença na existência de Deus, mas também no que diz respeito à questão da prática religiosa. O ateísmo não oferece qualquer futuro a quem quer que seja, e nem mesmo reivindica oferecer isso. É melhor, portanto, do ponto de vista do pragmatismo prático, lançarmos nossa sorte à religião, com a existência de Deus e da alma, fazendo profissão geral e prática da religiosidade. Se, ao descobrirmos que estávamos equivocados em nossas crenças, nada poderemos com isso. Por outro lado, se alguma parte ou a totalidade das crenças religiosas estiverem de conformidade com a realidade, descobrirmos que fizemos uma acertada decisão, ao seguirmos a fé teísta e as práticas religiosas, porquanto, presumivelmente, obteremos algum mérito com isso. Do ponto de vista evangélico, entretanto, essa "fé pragmática" não se reveste de valor algum, porquanto somente uma fé verdadeira em Jesus Cristo pode transformar os remidos segundo a sua própria imagem. Seja como for, o teísmo pragmático é melhor do que o ateísmo, com o expressão para a existência terrena presente.

19. Deus é a melhor explicação possível para a conjuntura.

A existência de Deus é a melhor explicação possível para tudo quanto está envolvido em todos esses argumentos, considerados como um conjunto. Ao examinarmos a gama inteira das possibilidades, dos argumentos, das teses e das contra-teses, o teísmo mostra-se mais convincente do que o ateísmo. Isso é verdade, ainda que não possamos chegar a uma conclusão racional definitiva. A melhor ideia é a teísta, e esse é o resultado líquido de todos os argumentos, considerados em sua totalidade.

20. Argumento alicerçado na fé pura.

Alguns cristãos especialmente nas igrejas evangélicas, têm chegado à conclusão de que nenhum argumento "racional" ou "físico" verdadeiramente demonstra a existência de Deus, mas antes, que essa certeza só ocorre através da fé bíblica. Nas igrejas evangélicas, que seguem o ensinamento bíblico, acredita-se que essa fé é conferida pelo próprio Deus, o qual dá, dessa maneira, certeza de sua existência, inteiramente à parte de evidências externas. Alguns crentes chegam mesmo a alegrar-se nessa ideia, rejeitando totalmente quaisquer outras ideias, como se estivessem próximas da blasfêmia, as quais dizem ser necessário ser comprovada a existência de Deus para que nela possamos acreditar. Porém, apesar das escrituras Sagradas em parte alguma se lançarem à tarefa de tentarem provar que Deus existe, contudo, passagens bíblicas como aquela de Rm. 1.20 dão a entender que verdadeiramente existem provas, físicas e racionais, acerca dessa existência. Portanto, não é crime procurarmos delinear a validade de tais provas, pois, para os incrédulos, esse delineamento pode ser muito útil e valioso. Um dos primeiros passos que uma alma pode dar na direção de Cristo, pode ser a crença firme na existência de Deus. Ninguém poderá jamais avizinhar-se de Cristo, segundo um sério ponto de vista evangélico, se for um ateu convicto. (Esse argumento baseado na "fé pura" na realidade é uma variedade do argumento "místico", que aparece no décimo quarto lugar nesta lista de argumentos sobre a existência de Deus. Para fortalecer a fé daqueles que já creem. Eles estudam as provas, não para crer, mas sim porque já creem. Esta fé lhes é tão preciosa que aceitarão com alegria qualquer fato que a faça aumentar ou enriquecer.

21. O argumento da história.

A marcha dos eventos da história universal fornece evidência de um poder e duma providência dominante. Toda a história bíblica foi escrita para revelar Deus na história, isto é, para ilustrar a obra de Deus nos negócios humanos.

"Os princípios do divino governo moral encontram-se na história das nações tanto quanto na experiência dos homens", escreve D.S. Clarke. (Sal. 75.7; Dn. 2.21; 5.21.)

"O protestantismo inglês vê a derrota da Armada Espanhola como uma intervenção divina. A colonização dos Estados Unidos por imigrantes protestantes salvou-os da sorte da América do Sul, e desta maneira salvou a democracia. Quem negaria que a mão de Deus estivesse nesses acontecimentos?" A história da humanidade, o surgimento e declínio de nações, como Babilônia e Roma, mostram que o progresso acompanha o uso das faculdades dadas por Deus e a obediência à sua lei, e que o declínio nacional e a podridão moral seguem a desobediência" (D.L. Pierson). A.T.

Pierson, em seu livro, "Os Novos Atos dos Apóstolos" expõe as evidências da dominante providência de Deus nas missões evangélicas modernas. Especialmente o modo de Deus tratar com os indivíduos fornece provas de sua ativa presença nos negócios humanos. Charles Bradlaugh, que foi em certo tempo o ateu mais notável na Inglaterra, desafiou o pastor, Charles Hugh

Price, para um debate. Foi aceito o desafio e o pregador, por sua vez, desafiou o ateu da seguinte maneira: como todos sabemos, Sr. Bradlaugh, "o homem convencido contra a própria vontade mantém sempre seu ponto de vista", e, visto que o debate, como ginástica mental que é, provavelmente não converterá a ninguém, proponho-lhe que apresentemos algumas evidências concretas da validade das reivindicações do cristianismo na forma de homens e mulheres redimidos da vida mundana e vergonhosa pela influência do cristianismo e pela do ateísmo. Eu trarei cem desses homens e mulheres, e desafio-o a fazer o mesmo.

Se o Sr. Bradlaugh não puder apresentar cem, contra os meus cem, Ficarei satisfeito se trouxer cinquenta homens e mulheres que se levantem e testifiquem que foram transformados duma vida vergonhosa pela influência dos seus ensinos ateus. Se não puder apresentar cinquenta, desafio-o a apresentar vinte pessoas que testifiquem com rostos radiantes, como o farão os meus cem, que tenham um grande e novo gozo na sua vida elevada, em resultado dos ensinos ateus. Se não puder apresentar vinte, ficarei satisfeito se apresentar dez. Não, Sr. Bradlaugh, desafio-o a trazer um só homem ou uma só mulher que dê tal testemunho acerca da influência enobrecedora dos seus ensinos. Minhas pessoas redimidas trarão prova irrefutável quanto ao poder salvador de Jesus Cristo sobre as suas vidas redimidas da escravidão do pecado e da vergonha. Talvez, senhor Bradlaugh, essa será a verdadeira demonstração da validade das reivindicações do cristianismo. O Sr. Bradlaugh retirou o seu desafio!

Para Guy P. Duffield e Nathaniel M. Van Cleave o argumento da história se apoia sobre o alicerce da divina providência. Os estudantes de história, a não ser que sejam cegos ou parciais, irão descobrir a obra da divina providência. Isto não significa que um propósito sábio é visível em todos os eventos. Deve-se ter em conta que o homem é pecador e rebelde e, ate certo ponto, um agente moral livre. Deus não causa cada evento individual, mas está no controle do fluir dos eventos, executando seus propósitos. Ele cumpre suas profecias inspiradas que se acham registradas na sua Palavra. Se alguém estudar a Bíblia junto com a história, irá perceber um modelo divino enfocando Jesus Cristo, o Filho de Deus. Este enfoque não é apenas sobre a vida terrena de Jesus. O propósito de Deus em Cristo é visto na história de Israel e na sua esperança de um redentor (Gn 12.13; Is 52.10 - 53.12); na encarnação, vida, morte e ressurreição de Cristo; no triunfo da igreja através de múltiplas oposições; e na indestrutibilidade de Israel através dos séculos.

A originalidade de Cristo foi bem expressa por Napoleão em uma carta ao General Bertrand: "Efeitos divinos me obrigam a crer numa causa divina. É verdade, existe uma causa das causas… existe um ser infinito, comparado com o qual você, general, não passa de um átomo; comparado com o qual eu, Napoleão, com todo o meu gênio, nada sou realmente; puramente nada. Eu o percebo - Deus. Eu o vejo, tenho necessidade dele, creio nele, pior para você. Mas você, general, crerá um dia em Deus. Posso perdoar muitas coisas, mas sinto horror diante de alguém ateu e materialista… os deuses, os legisladores da Índia e da China, de Roma e de Atenas, nada possuem que possa espantar-me sobremaneira…mas isso não acontece com Cristo. Tudo nele me assombra. Seu espírito me faz ficar maravilhado e sua vontade me contunde. Não existe termo de comparação entre Ele e qualquer pessoa no mundo. Ele, em si mesmo, é verdadeiro. Suas ideias e seus sentimentos, as verdades que anuncia, sua maneira de convencer não são explicadas por organização humana, nem pela natureza das coisas. Seu nascimento e a história da sua vida; a profundidade da sua doutrina, que luta com as maiores dificuldades, a mais admirável solução; seu evangelho… sua marcha através das idades e dos reinos, tudo para mim e um prodígio, um mistério insolúvel, que me faz mergulhar num devaneio do qual não posso escapar, diante de meus olhos está um mistério, o qual não posso negar nem explicar… procuro encontrar em vão na história alguém igual a Jesus Cristo."

22. O argumento que apresenta o homem como imagem e semelhança de Deus:

A Palavra de Deus declara que o homem foi criado à imagem de Deus. "Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou" (Gn 1
.26-27). Não devemos buscar a imagem de Deus no homem físico, pois Deus é Espírito (Jo 4.24). Em lugar disso, devemos procurar a imagem de Deus no homem espiritual: "...e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou..." (Cl 3.10).

A imagem de Deus no homem é vista no fato de ele ter domínio sobre as criaturas inferiores e especialmente em sua capacidade e desejo ardente de comunhão com Deus. A outra marca da imagem divina é vista na natureza moral do homem, seu senso de dever e responsabilidade, e na posse de uma consciência: "Estes mostram a norma da lei gravada nos seus corações, testemunhando-lhes também a consciência, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se..." (Rm 2.15). C.S. Lewis diz: "Estes são, portanto, os dois pontos que eu queria ressaltar. Primeiro, que os seres humanos, em toda a terra, têm esta ideia curiosa de que devem comportar-se de certa maneira, e não conseguem livrar-se dela. Segundo, eles na verdade não se comportam deste modo. Eles conhecem a lei da natureza e a quebram. Esses dois fatos são a base de todo pensamento claro a respeito de nós mesmos e do universo em que vivemos."

Um Deus pessoal nos faz responsáveis por nossa conduta e atitude. Devemos render-nos à vontade dele ou viver com a consciência pesada. É possível cauterizar a consciência ou silencia-la, enganando-nos a nós mesmos. Mas, desse modo, o indivíduo irá então invariavelmente criar seu próprio sistema de valores. A experiência mostrou que o sistema bíblico de ética, afinal de contas, e o mais adequado à natureza moral do homem, criado por Deus.

23. O argumento da Escritura

Esse argumento se apoia sobre as declarações e na exatidão das Sagradas escrituras. A Bíblia afirma ser a Palavra inspirada de Deus (2 Tm 3.16-17; 2 Pe 1.20, 21; 1 Co 2.12, 13; Tt 1.1-13). Nenhum livro na terra foi tão amplamente aceito como uma mensagem de Deus. Seus oponentes e os céticos lançaram todo tipo de ataque concebível contra ele, mas sua popularidade permanece. Sua exatidão tem sido repetidamente impugnada, mas a pá dos arqueólogos confirma a cada instante a exatidão de alguma passagem posta em dúvida. O Dr. W.F. Albright, reconhecido arqueólogo, escreve: "Nada que tenda a perturbar a fé religiosa do judeu ou do cristão foi descoberto... Descoberta após descoberta têm estabelecido a exatidão de inúmeros detalhes e trazido maior reconhecimento do valor da Bíblia como um livro fonte da história." Nenhum outro livro se compara com a Bíblia no que diz respeito aos seus ensinos morais e espirituais; escrita há centenas de anos, ela é mais moderna que os jornais de hoje. Nunca deixa de falar com poder, sanando os problemas mais profundos da alma e do espírito.