VIDAS

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS. A VIDA ETERNA, DE RENÚNCIAS!

terça-feira, 23 de maio de 2017

DEVOCIONAL - 23 de maio de 2017

Sara ... deu a Abraão um filho na sua velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe tinha dito. (Gn 21.2)

"O conselho do Senhor dura para sempre, os desígnios do seu coração por todas as gerações" (Sl 33.11). Mas nós precisamos estar preparados para esperar o tempo de Deus. Deus tem Seus tempos determinados. Não cabe a nós conhecê-los; na verdade, não podemos conhecê-los; precisamos esperar por eles.
Se Deus tivesse dito a Abraão em Harã que ele precisaria esperar trinta anos até poder abraçar a criança prometida, seu ânimo teria desfalecido. Assim, com o desvelo do amor, Deus ocultou-lhe a longura dos anos exaustivos, e só quando já estavam prestes a acabar-se e havia apenas alguns meses a esperar, é que Deus lhe falou": "Ao tempo determinado tornarei a ti por este tempo da vida, e Sara terá um filho" (Gn 18.14).
Finalmente chegou o tempo determinado; e então o riso que encheu o lar do patriarca fez o idoso casal esquecer-se da longa vigília. Aquele que espera no Senhor, anime-se, pois espera por Alguém que não o pode desapontar; e que não Se atrasará cinco minutos do momento determinado; mais um pouco, e a sua tristeza será transformada em regozijo. Como seremos felizes quando Deus nos fizer sorrir! Então a tristeza e o pranto fugirão para sempre, como as trevas diante da aurora.
Não compete a nós, passageiros, nos preocuparmos com o mapa e a bússola. Deixemos o hábil Piloto cuidar do Seu próprio trabalho. — Haal
"Há coisas que não podem ser feitas num dia. Deus não faz a glória de um pôr-do-sol num momento, mas pode levar vários dias ajuntando as névoas com que formará os belos palácios do ocaso."

domingo, 21 de maio de 2017

DEVOCIONAL - 22 de Maio de 2017

Ele trabalha. (Sl 37.5) (Tradução de Young)

A tradução de Young, do versículo: "Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará", diz: "Deixa rolar sobre Jeová o teu caminho, confia nele, e ele trabalha."
 
A tradução chama a nossa atenção para a imediata ação de Deus quando verdadeiramente entregamos, ou fazemos rolar das nossas mãos para as dEle, o fardo, seja ele qual for: o sofrimento, a dificuldade, as necessidades materiais, ou a ansiedade pela conversão de algum ente querido.
 
"Ele trabalha." Quando? Agora. É tão fácil adiarmos o momento de crer que Ele toma nas mãos imediatamente o que Lhe confiamos, e que Ele toma para Si executar aquilo que Lhe entregamos — em vez de afirmarmos no ato da entrega: "Ele trabalha", "Ele trabalha" agora mesmo; e o louvarmos por ser assim.
 
A nossa atitude de expectativa e confiança libera a operação do Espírito Santo no problema que Lhe entregamos. A questão fica fora do nosso alcance. Deixamos de tentar resolvê-la. "Ele trabalha!"
 
Este fato deve confortar-nos; não precisamos mais nos preocupar, quando a questão já foi entregue em Suas mãos. Oh, que alívio isso nos traz! Ele está realmente operando naquela dificuldade.
 
Mas, talvez alguém diga: "Eu não vejo os resultados." Não faz mal. Se entregamos o assunto a Ele e olhamos para Jesus esperando que Ele opere, "Ele trabalha". A fé pode ser provada, mas "Ele trabalha"; a Palavra é segura. — V. H. F.

"Clamarei ao Deus altíssimo, ao Deus que por mim tudo executa." (Sl 57.2)

Uma tradução antiga diz: "Ele executará o que eu tenho pela frente." Esta expressão torna o verso bem significativo para nós. Exatamente aquilo que "eu tenho pela frente" — as dificuldades que encontro no meu dia de trabalho: aquele assunto que não sou capaz de resolver, ou a responsabilidade que assumi sem avaliar bem as minhas limitações — isto é o que posso pedir que Ele faça "para mim", e então descansar, seguro de que Ele o fará. "Os sábios, e os seus feitos estão nas mãos de Deus." — Havergal
 
O Senhor cumprirá até o fim os compromissos assumidos nas promessas que nos faz. O que quer que Ele tome nas mãos, Ele executará; assim, as misericórdias passadas são garantias para o futuro, e são razões verdadeiras para continuarmos a clamar a Ele. — C. H. Spurgeon

quinta-feira, 18 de maio de 2017

ABIGAIL: UM CARÁTER CONCILIADOR

ABIGAIL: UM CARÁTER CONCILIADOR

Há pessoas que são especialistas em construir muros: vivem erguendo barreiras entre aqueles com os quais convivem, trabalham, estudam, congregam. Fazem isto promovendo discórdias, semeando contendas, espalhando fofocas, denegrindo a imagem de outro, inventando histórias. Não é sem razão que, de um modo geral, tantas crises façam parte das relações humanas. Mas hoje vamos ler sobre uma mulher que era especialista em construir pontes. O seu nome? Abigail. Além de linda, ela era sábia e usou essa sabedoria para construir uma ponte entre Davi e Nabal, o seu marido.

“E havia um homem em Maom, que tinha as suas possessões no Carmelo; e era este homem muito poderoso, e tinha três mil ovelhas e mil cabras; e estava tosquiando as suas ovelhas no Carmelo. E era o nome deste homem Nabal, e o nome de sua mulher Abigail; e era a mulher de bom entendimento e formosa; porém o homem era duro, e maligno nas obras, e era da casa de Calebe.” (I Samuel 25.2,3)

A Bíblia retrata Abigail como uma mulher de bom entendimento e formosa, ou seja, dotada de sabedoria e beleza. Ela casou com um homem que apesar de ser da geração de Calebe, era duro e maligno nas coisas que fazia. Com certeza, por causa da sabedoria, conseguia conviver com Nabal, um marido tolo, que não levava em consideração preservar o legado de Calebe, homem honrado em Israel.

Logo depois do sepultamento de Samuel, Davi partiu e desceu de Parã, região desértica e inóspita. Desse lugar, soube que Nabal estava cortando a lã das suas ovelhas, num vilarejo chamado Carmelo. Esse pecuarista, extremamente poderoso e próspero, descendente do famoso Calebe, era casado com Abigail, uma mulher muito linda e muito gentil. O tempo da tosquia era um tempo de mostrar hospitalidade e generosidade, quando os envolvidos eram servidos com muita comida e bebida. Sendo assim, esta era a ocasião certa para Davi pedir uma ajuda a Nabal. Foi o que fez. Enviou a Nabal dez homens, com o objetivo de solicitar-lhe ajuda material para suprir as necessidades daqueles que o acompanhavam.

I Samuel 25.5 "Enviou dez moços e lhes disse [Ele esperava trazer muito de volta], Subi ao Carmelo, ide a Nabal, perguntai-lhe, em meu nome, como está. Davi era um herói de Israel, mesmo que estivesse fugindo naqueles dias, e foram os seus homens que guardaram os rebanhos de Nabal, então David disse, 'Eu quero que vocês lhes digam que é Davi quem os está enviando’ Isto certamente abrirá portas.

A recusa estúpida:

Ao chegarem à presença de Nabal, os homens enviados fizeram uma abordagem altamente diplomática, civilizada e conveniente. Fizeram exatamente conforme a orientação de Davi. Não se utilizaram, em tempo algum, de mecanismos chantagistas ou ameaçadores para extorquir dinheiro e favores de Nabal. Eles simplesmente disseram: "dá, pois, a teus servos e a Davi, teu filho, qualquer coisa que tiveres à mão" (I Sm 25.8b). Assim que deram este recado, sentaram-se e aguardaram a resposta. Eles devem ter imaginado uma resposta igualmente educada e bondosa. Nabal, porém, respondeu aos polidos mensageiros de Davi de maneira altamente grosseria e insultuosa. Apesar de possuir um nome com significado negativo – Nabal significa estupidez e insensatez –, aquele homem poderia ter reagido de maneira positiva e agradecida, oferecendo sua bebida e sua comida àqueles homens.

Vejamos o que ocorre quando chegamos ao verso 9: Chegando, pois, os moços de Davi e tendo falado a Nabal todas essas palavras em nome de Davi, aguardaram. [Para ver se as portas se abririam por causa do nome de Davi] Respondeu Nabal aos moços de Davi e disse: Quem é Davi, e quem é o filho de Jessé? Muitos são hoje em dia, os servos que fogem ao seu senhor. Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água, e a carne das minhas reses que degolei para os meus tosquiadores e o daria a homens que eu não sei donde vêm?

Sem nada mais a fazer, diante do pedido negado por Nabal, os homens voltaram a Davi. “Então os moços de Davi puseram-se a caminho e voltaram, e chegando, lhe anunciaram tudo conforme a todas estas palavras. Por isso disse Davi aos seus homens: Cada um cinja a sua espada. E cada um cingiu a sua espada, e cingiu também Davi a sua; e subiram após Davi uns quatrocentos homens, e duzentos ficaram com a bagagem.” (I Samuel 25.12,13)

Assim Nabal faz alusão a este tipo de gente que está no bando de Davi andando de um lado para o outro. Por que? Porque fazendo qualquer favor para Davi, Nabal estaria em grandes apuros com Saul. E Nabal escolheu o lado mais favorável aos seus olhos espertos. Mas ele escolheu a quem Deus rejeitou e rejeitou a quem Deus escolheu, e esta é uma péssima decisão.

Tomando conhecimento dos fatos

Chegou ao ouvido de Abigail os maus tratos de Nabal e a forma infeliz como se dirigiu aos servos de Davi. “Porém um dentre os moços o anunciou a Abigail, mulher de Nabal, dizendo: Eis que Davi enviou mensageiros desde o deserto a saudar o nosso amo; porém ele os destratou. Todavia, aqueles homens têm-nos sido muito bons, e nunca fomos agravados por eles, e nada nos faltou em todos os dias que convivemos com eles quando estavam no campo. De muro em redor nos serviram, assim de dia como de noite, todos os dias que andamos com eles apascentando as ovelhas. Considera, pois, agora, e vê o que hás de fazer, porque o mal já está de todo determinado contra o nosso amo e contra toda a sua casa, e ele é um homem vil, que não há quem lhe possa falar.” (I Samuel 25.14-17)

Abigail, quando tomou conhecimento dos fatos, ficou preocupada com a sua casa e com os seus. Ela sabia que dessa vez Nabal havia ido longe demais e colocado em risco a vida dele, a vida dela, da família e de todos os criados que os serviam.

Avisada por um servo que sabia o quanto o momento que viviam era delicado e que sabia também o quanto sua senhora era equilibrada e dotada de sabedoria, Abigail precisava tomar uma providência que resultasse em livramento para todos e que beneficiasse ambas as partes.

Conhecendo muito bem o marido que tinha, Abigail sabia de toda a sua impetuosidade e intolerância. Então, decidiu ter uma atitude contrária à insensatez de Nabal e imediatamente agiu com sabedoria, tolerância e sensatez.

O momento inspirava cuidado, pois a sua missão era salvar vidas e não destruí-las. Qualquer gesto ou qualquer fala fora de lugar poria tudo a perder. Mas, além de bela, Abigail era muito sábia. O seu gesto de enviar a sua frente algo para Davi e sua gente comerem e beberem serviria para apaziguar aqueles homens dominados pela cólera e pela amargura. Assim que os servos dela foram, Abigail partiu, em cima do seu animal. "De repente, numa curva, na descida, encontrou Davi e os seus homens, que vinham na sua direção" (I Sm 25.20). 

De novo, Abigail se mostrou sábia. Tão logo viu Davi, desceu do animal, prostrou-se com o rosto em terra e pediu uma chance para lhe falar. Primeiramente, Abigail pediu perdão a Davi: "Ah! Senhor meu, caia a culpa sobre mim (...) eu, porém, tua serva, não vi os moços de meu senhor, que enviaste" (I Sm 25.24a, 25b). A seguir, Abigail pediu a Davi que deixasse seus inimigos com o Senhor, que os jogaria longe, "como um homem que atira pedras com a sua funda" (I Sm 25:29b). Depois, após afirmar que, no tempo certo, o Senhor poria Davi no trono de Israel, Abigail frisou: "E, quando isso acontecer, o senhor não terá motivo para se arrepender, ou sentir remorso por haver matado sem razão, ou por ter se vingado por si mesmo" (I Sm 25.31a).

Agindo em favor da sua casa

Algumas guerras vencemos pela força do braço, outras não precisamos de força, apenas de sabedoria e de uma direção em Deus. Abigail sabia que estava enfrentando uma crise, e toda crise precisa da intervenção divina e da ação do homem.

Há pessoas que recriminam a atitude de Abigail e julgam que o fato dela ter agido sem o conhecimento de Nabal revela uma mulher que não era submissa ao marido. Eu discordo! Afinal, que mulher sensata não tomaria providências diante de um grande erro cometido pelo marido?

Abigail saiu em busca de livramento para evitar uma catástrofe, como podemos ler no texto de I Samuel 25.20-22. “E sucedeu que, andando ela montada num jumento, desceu pelo encoberto do monte, e eis que Davi e os seus homens lhe vinham ao encontro, e ela encontrou-se com eles. E disse Davi: Na verdade que em vão tenho guardado tudo quanto este tem no deserto, e nada lhe faltou de tudo quanto tem, e ele me pagou mal por bem. Assim faça Deus aos inimigos de Davi, e outro tanto, se eu deixar até amanhã de tudo o que tem, até mesmo um menino.”

Davi estava decidido a destruir totalmente Nabal e tudo o que ele tinha. Podemos ver nas entrelinhas toda a ira de Davi. Mas uma mulher sensata e sábia, quando tem oportunidade para agir em favor da sua casa, não medirá esforços para evitar que o mal alcance a sua casa, sua família e todos os que ama.

Encontrando favor diante de Davi

“Então Davi disse a Abigail: Bendito o Senhor Deus de Israel, que hoje te enviou ao meu encontro. E bendito o teu conselho, e bendita tu, que hoje me impediste de derramar sangue, e de vingar-me pela minha própria mão. Porque, na verdade, vive o Senhor Deus de Israel, que me impediu de que te fizesse mal, que se tu não te apressaras, e não me

vieras ao encontro, não ficaria a Nabal até a luz da manhã nem mesmo um menino. Então Davi tomou da sua mão o que tinha trazido, e lhe disse: Sobe em paz à tua casa; vês aqui que tenho dado ouvidos à tua voz, e tenho aceitado a tua face.” (I Samuel 25.32-35)

Davi reconheceu que a atitude de sabedoria de Abigail aplacou a ira dele e disse que o Senhor Deus de Israel era quem havia enviado aquela mulher ao seu encontro. É lindo vê-lo dizer que por Abigail ser uma mulher abençoada, seu conselho também era abençoado.

A atitude de intercessão de Abigail evitou o derramamento de sangue. E a Bíblia diz que Davi recebeu das mãos dela tudo que tinha trazido, como confirmação de que ela poderia voltar em paz à sua casa, porque o seu pedido fora aceito.

A morte de Nabal e a restituição de Abigail

“E aconteceu que, passados quase dez dias, feriu o Senhor a Nabal, e este morreu. E, ouvindo Davi que Nabal morrera, disse: Bendito seja o Senhor, que julgou a causa de minha afronta recebida da mão de Nabal, e deteve a seu servo do mal, fazendo o Senhor tornar o mal de Nabal sobre a sua cabeça. E mandou Davi falar a Abigail, para tomá-la por sua mulher. Vindo, pois, os criados de Davi a Abigail, no Carmelo, lhe falaram, dizendo: Davi nos tem mandado a ti, para te tomar por sua mulher. Então ela se levantou, e se inclinou com o rosto em terra, e disse: Eis que a tua serva servirá de criada para lavar os pés dos criados de meu senhor.

E Abigail se apressou, e se levantou, e montou num jumento com as suas cinco moças que seguiam as suas pisadas; e ela seguiu os mensageiros de Davi, e foi sua mulher.”

Conclusão

Deus quer que você seja um pacificador, ou seja, alguém que atua restaurando e fortalecendo relacionamentos. Antes, porém, de agir numa situação conflituosa, ore a Deus, pedindo a sabedoria do alto, que é pacífica (Tg 3.17). Peça-lhe autocontrole para neutralizar a gritaria, com palavras suaves; para responder às ameaças, com tranquilidade; para falar claramente, sem usar de sarcasmo; para não utilizar intrigas; para não ser um permanente alimentador de fofocas e não fomentar contendas; para ser um melhor ouvinte e um melhor observador. Seja um pacificador ativo; construa pontes de aproximação.

A recompensa pelo seu esforço, com certeza, será boa. No caso de Abigail, ela acabou se casando com o Rei Davi! Da mesma maneira, Deus tem tesouros para você. Creia nisso, e viva em Paz! Amém!

 
-o=0=o- 

Pr. Adaylton Conceição de Almeida (Th.B.;Th.M.;Th.D.) - RIP

BIBLIOGRAFIA

PC Amaral - Abigail Uma mulher pacificadora - "Série Homens e Mulheres da Bíblia" .
Marita Terra Nova - Abigail, uma mulher sábia.
Rosana Salabai - A pacificadora
Ludgero Bonilha Morais - Davi e Abigail I

sábado, 13 de maio de 2017

O IMPIEDOSO MUNDO DE LAMEQUE

O IMPIEDOSO MUNDO DE LAMEQUE



Pr. Adaylton de Almeida Conceição

         


Caim representa não somente a origem daquilo que virá a ser a expressão do mundo com as suas concupiscências más. Ele é, antes, a representação de um sistema falso de adoração a Deus.  Caim tinha fé em Deus (ao menos de que Ele existia e devia ser adorado) e trouxe suas ofertas ao Senhor, mas não com inteireza de coração.  Caim possuía fé, mas não a fé salvífica que dá crédito somente a Deus pela redenção. Uma fé não salvífica leva a buscar formas de adoração espúrias.


O fato é que Caim teve olhos maus sobre a adoração legítima de Abel. Sua indisposição contra seu irmão foi apenas um reflexo de sua indisposição para com o próprio Deus. Tem sido assim na história desse mundo desde o início e o será até o fim. Os cristãos fiéis devem esperar por sofrimento e reprovação do mundo mas há uma promessa de recompensa (Hb. 11.4, Mt. 5.10-11). Fora do relato de Gênesis 4 Caim é citado como nome de cidade uma vez (Js. 15.57) e como exemplo de impiedade em três outros textos (Hb. 11.4 – em oposição a Abel, I Jo. 3.12 – onde é dito que ele era do maligno devido seu caráter mau, e em Jd.11 – como exemplo da corrupção e brutalidade irracional que a iniquidade dá origem.

O MUNDO DE LAMEQUE

Depois da história da primeira família, encontramos em Gênesis 4 e 5 duas genealogias. Uma é a descendência de Caim, a outra a de Sete. Ambas terminam com a breve descrição de uma família.

A primeira é a casa de Lameque. “Lameque tomou para si duas esposas: o nome de uma era Ada, a outra se chamava Zilá. Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e possuem gado. O nome de seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta. Zilá, por sua vez, deu à luz a Tubalcaim, artífice de todo instrumento cortante, de bronze e de ferro; a irmã de Tubalcaim foi Naamá. E disse Lameque às suas esposas: Ada e Zilá, ouvi-me; vós, mulheres de Lameque, escutai o que passo a dizer-vos: Matei um homem porque ele me feriu; e um rapaz porque me pisou. Porque sete vezes Caim será castigado; mas Lameque setenta vezes sete.” (Gênesis 4.19-24).

O relato bíblico termina o capítulo 4 com a descendência a partir de Caim. Tomando-se Adão como o primeiro tem-se: 1-Adão, 2-Caim, 3-Enoque, 4-Irade, 5-Meujael, 6- Metusael, 7-Lameque. O relato das genealogias tem uma pausa para expor algo a respeito de Lameque. Dele se narra o primeiro canto na Bíblia, e é um canto de orgulho pelo fato de ter matado um homem e um rapaz.

Além desse fato nota-se o primeiro relato de bigamia, pois ele tomou duas mulheres para serem suas esposas. Lameque representa o processo de endurecimento que o pecado causa, progressivamente, naqueles que rejeitam a Deus e vivem de acordo com seus próprios desígnios.

O maior de todos os bens que possui um ser humano é a vida. Em defesa da qual há contingente crescente de pessoas, embora, represente uma minúscula gota no mar. De outro lado, o desprezo pela vida vem num crescente geométrico. 

Matar alguém é crime, assegura o Código Penal Brasileiro, há, porém, atenuantes e agravantes nesse ato humano. Em defesa de sua própria vida matar passa a não ser crime; de sorte que também não o é quando em pleno exercício do dever profissional, ou ainda em face de estado de necessidade. Já os motivos banais, a intenção deliberada, por vezes planejada, de matar afirma a posição de agravante – consuma-se o dolo.

Lameque, o precursor da poligamia.

Lameque tomou para si duas mulheres: o nome duma era Ada, e o nome da outra Zilá.” (Gn 4.19)

Lameque mencionado no livro de Gênesis como filho de Metusael e um dos descendentes de Caim da quinta geração (Gn 4.18-19), foi o primeiro homem a praticar a poligamia (Gn. 4.19) e também era um assassino que matou um homem e um jovem (Gn. 4.23). Lameque e os seus filhos foram muito influentes na história da humanidade. Infelizmente, como Caim, a sua influência não foi para o bem. Esta família fez grandes progressos, mas nenhum deles foi de âmbito espiritual.

A Bíblia diz que Lameque teve duas esposas. O nome da primeira era Ada que teria sido mãe de Jabal, que foi o pai dos que habitam em tendas e possuem gado e de Jubal, pai dos músicos (Gn. 4.20-21). A segunda esposa chamava-se Zilá que foi mãe de Tubal-Caim, o primeiro ferreiro e de sua irmã Naamá (Gn. 4.22).

Os descendentes de Caim deixaram um legado de iniquidade e maldade. Tornaram-se autossuficientes e a violência cada vez mais se multiplicava gerando uma sociedade hostil e competitiva. Começava o olho por olho, dente por dente. Esta era uma geração assassina e sábia.

NÃO PISE NO MEU CALO

E disse Lameque [...] escutai o que passo a dizer-vos: Matei um homem porque ele me feriu; e um rapaz porque me pisou” (Gênesis 4.23).

Você já ouviu ou pronunciou a frase: “não pise no meu calo”. Quem pronuncia essa expressão está mandando um recado: “não me ofenda, pois do contrário você sofrerá as consequências”. No texto acima um homem chamado Lameque se vangloria por ter matado um rapaz só porque ele pisou no seu pé. Lameque era adepto da filosofia “Pisa. Mas quando eu levantar, corre”. Lameque é o segundo assassino mencionado na Bíblia. O primeiro foi Caim.

Lameque é um exemplo a não ser seguido por algumas razões. Vejamos:

Primeira, Lameque se vangloria de ser um homem violento. Lameque tem prazer em alardear sua violência. Leia novamente suas palavras: “escutai o que passo a dizer-vos: Matei

Segunda, Lameque banaliza a vida humana. Para Lameque as pessoas não valiam nada. A violência é a demonstração mais vil de que a vida humana não tem valor. Matar um jovem por causa de uma pisada no pé é não ter nenhum respeito à vida humana.

Terceira, Lameque não gosta de sentir dor, mas fere as pessoas. Lameque não gosta de ser pisado, mas pisa as pessoas. Lameque tipifica aquelas pessoas que não gostam de ser machucadas, mas têm prazer em machucar os outros.

Quarta, Lameque é avesso ao perdão. Lameque não conhece a palavra perdão. Perdão é uma palavra desconhecida no vocabulário de Lameque. Infelizmente, muitos à semelhança de Lameque, preferem retribuir a ofensa na mesma intensidade ou em grau superior do que liberar perdão.

Lameque matou porque lhe pisaram. Imaginem quantos pisam e são mortos pelo ato de pisar. Ou quantos haverão de perder a vida diante de lameques dispersos mundo a fora, pelo que há desproporção como resposta à fúria descabida da gana por matar!

Lameque banalizou o bem maior: a vida! Tornou-a uma mera passagem. Gerou lameques que, em nossos dias, tiram a vida do seu próximo por motivos fúteis.

Lameque, o compositor

Lameque é, também, como já nos referimos, o primeiro compositor de hinos, a expressão “ouvi a minha voz” em Gênesis 4.23, refere-se a um poema ou hino. As palavras deste hino revelam quão ímpio Lameque era. Neste hino, explica às suas esposas que matou um rapaz em legítima defesa. Seu crime não foi premeditado. Ele não se orgulha somente de sua vingança, mas diz que faria mais para se vingar do que Deus poderia ter feito para vingar Caim se ele tivesse sido morto. O orgulho de Lameque e sua confiança foram inflamados pelo fato de seu filho Tubalcaim ter feito a primeira espada ou lança.

A canção de Lameque tem um tom de auto justiça. No versículo 24, ele parece justificar suas ações. Este pensamento parece estar implícito: "Eu sou mais justo do que Caim, pois eu matei quem merecia morrer, portanto, quem me ferir, deve ser duramente vingado". “Se Caim há de ser vingado sete vezes, com certeza Lameque o será setenta e sete vezes”. A proporção não é em função do castigo dado a quem matasse Caim, mas em relação ao número de assassinatos. Lameque matou duas pessoas, enquanto Caim matou uma.

Esse breve relato deixa evidente que Lameque tinha todas as características de seu antepassado Caim. Suas palavras e seus atos demonstram que se havia distanciado ainda mais de Deus e de Sua Palavra que Caim. Em conformidade com os pensamentos de Deus, Caim havia tomado para si uma esposa. Frequentemente se pergunta onde ele conseguiu essa mulher. Só há uma clara resposta bíblica. Adão “gerou filhos e filhas” (Gênesis 5.4). Deus “de um só (ou seja, de Adão) fez toda a raça humana” (Atos 17.26). Portanto, Caim se casou com uma de suas irmãs.

Lameque, por sua vez, agiu em claro desacordo com as intenções de Deus e tomou para si duas esposas. A poligamia é uma prática contrária à ordem estabelecida por Deus na criação (Gênesis 2.24). Quem conhece a Bíblia, sabe que Deus tolerou a poligamia, mas nunca a aprovou. Consequentemente, verificamos que esse mal sempre teve o seu devido castigo.


Lições que nos deixa a história de Lameque

A história de Lameque e de sua família deixa uma séria advertência para nós e nossas famílias. Não é pecado almejar que nossos filhos recebam uma boa educação. Evidentemente também não é pecado exercer uma boa profissão ou um ofício neste mundo. Se trabalhamos na agricultura, na cultura ou na indústria, isso não tem muita relevância — desde que possamos exercer nossa profissão em comunhão com Deus e que Ele seja honrado.

Nós, os cristãos, não pertencemos mais a este mundo. Deus “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1.13). Por graça, fazemos parte daqueles que o Pai tirou do mundo e deu a Seu Filho (veja João 17.6). Mas ainda estamos neste mundo. Por isso, temos que cumprir um papel que implica muitas responsabilidades.

Lameque nos leva ao ponto da história do homem onde o pecado não é apenas cometido descaradamente, mas com prepotência. Ele se vangloriou de seu assassinato para as suas mulheres. Mais que isso, ele se gabou de que seu pecado foi cometido contra um rapaz que simplesmente o ferira. Este assassinato foi brutal, ousado e vão. Pior de tudo, Lameque mostra desdém e desrespeito para com a Palavra de Deus: “Se Sete vezes se tomará vingança de Caim; de Lameque, porém, setenta vezes sete.” (Gn. 4.24).

Deus tinha pronunciado estas palavras para garantir a Caim que ele não seria morto pelas mãos de um homem. Ele também preveniu aos homens sobre a gravidade de tal ato. Estas palavras foram pronunciadas para mostrar o fato de que Deus valorizava a vida humana. Lameque as torceu e distorceu como ostentação de sua violenta e agressiva hostilidade para com os homens e para com Deus.

O pior e o mais trágico: ecoa também nos púlpitos pragmáticos pós-modernos, com escusas de amor pelo mundo (ver I João 2.15-17).

Toda geração que toma para si o cântico de Lameque, vangloriando-se de suas maldades, também sofrerá juízo, pois não encontrará lugar no plano de DEUS, pois nem O aceitam, nem O honram, nem O desejam (ver Romanos 1.18-32).


O plano do diabo era o de claramente impedir o cumprimento da promessa do Redentor (Gen. 3.15), para isso buscou corromper de tal forma a humanidade a ponto de ser impossível haver uma “linhagem messiânica” para que o Verbo pudesse se fazer carne.

Os homens anteriores ao dilúvio, com exceção dos descendentes de Sete; não se preocupavam com outras coisas, a não ser: comer, beber, casar, separa-se e tornar-se a casar. Será que isto é diferente dos dias atuais? Será que a sociedade amadureceu e agora está com seus olhares voltados para Deus o SENHOR? A resposta é não, estamos em dias iguais aos anteriores ao dilúvio, onde os homens, só pensam em comer, banquetear, beber e fazer festas onde existam o maior número possível de beberrões, onde os homens perderam o respeito e o temor a Deus. Não é demais dizer que reeditamos e vivemos num mundo de Lameque, onde nossos olhos estão voltados única e exclusivamente para nós mesmos.

Que Deus tenha misericórdia de nós e que nos despertemos e comecemos a viver uma vida dentro do Reino de Deus.

Pr. Dr. Adaylton Conceição de Almeida (Th.B.;Th.M.Th.D.;D.Hu.) (R.I.P.)

Blog: www.adayltonalm.spaceblog.com.br


 (O Pr. Dr. Adaylton de Almeida Conceição foi Missionário no Amazonas e por mais de 20 anos exerceu seu ministério na Republica Argentina, é Bacharel, Mestre e Doutor em Teologia, Escritor, Professor Universitário, Psicanalista e Pós Graduado em Ciências Políticas e em Psicanálise, Doutor HC em Psicologia e em Humanidade, Diretor da Faculdade Teológica Manancial e Professor do Seminário Teológico Kerigma). 

BIBLIOGRAFIA

Carlos Ribeiro – Lameque e sua família
Francisco Ramos de Brito - A Cultura de Lameque
H. C. Leupold - Exposition of Genesis (Grand Rapids: Baker-Book House, 1942)
Manoel Neto – Não pise no meu calo
Ricardo Reis – Sobre o Perdão

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Como Vemos a Justiça Social

Quando fazemos a pergunta: “qual é nosso papel como cristãos na sociedade à nossa volta”, surgem dois extremos:

Um deles é apenas pregar o evangelho e orar, sem ter nenhuma influência prática real na sociedade em geral.
O outro extremo diz que devemos assumir o controle sobre todas as esferas da sociedade hoje.

Nossa visão está no meio; entre esses dois extremos:

    1. Somos chamados primeiro a orar, pregar, discipular e formar congregações
   2. Não somos chamados como organizações eclesiásticas para ter domínio sobre instituições governamentais
    3. Temos o chamado de influenciar a sociedade à nossa volta com valores bíblicos morais

Nas palavras de Yeshua, devemos ser o “sal” e a “luz”. Temos que “buscar a justiça e a retidão”. Na 7ª trombeta, encontramos a revelação final de que “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo…” (Apocalipse 11.15). Não haverá domínio total até que Yeshua retorne; contudo, devemos exercer o máximo de influência positiva até lá.

O exemplo moral é mais pessoal e individual, enquanto a justiça social deve vir da influência da congregação local.
O que seria exemplo moral?

Coisas como:

    1.  O chefe no trabalho saber que você não pegará dinheiro que não é seu
     2. Seus amigos saberem que você não mentirá
    3. A esposa do seu vizinho saber que você não tentará cometer adultério
    4. No geral, ser um exemplo vivo da vida de Yeshua e não apenas falar sobre ele

O que seriam questões de justiça social?

Coisas como:

    Ajudar os pobres e necessitados, por meio de instituições educacionais, médicas e de caridade
    Apoiar legislação, líderes e candidatos a cargos do governo que sejam justos
   Proteger a sociedade de pornografia, abuso infantil, tráfico humano, etc.
    Dar apoio à polícia, aos juízes e soldados para combaterem o crime, o terrorismo e a corrupção
    No geral, trazer valores do reino de Deus para a nossa sociedade

Como cristãos, somos chamados a fazer ambos: dar exemplo moral e praticar justiça social, buscando ter o máximo de impacto possível em nossa sociedade para a glória de Yeshua antes que ele volte.

Asher Intrater

terça-feira, 9 de maio de 2017

Paixão pelo Reino

Temos uma paixão pelo Reino de Deus. Oramos para que o seu reino venha. Desejamos que seja feita a sua vontade na terra como no céu — que o céu venha e mude o nosso mundo (Mateus 6.10). 

Deus tem um plano para um mundo perfeito com pessoas perfeitas — o Reino de Deus. Não pode haver um mundo perfeito se as pessoas não mudarem primeiro. O evangelho é o poder para transformar as pessoas na imagem de Deus (Romanos 1.16). Não existirá dor ou morte (Apocalipse 21.4). Haverá paz na terra (Lucas 2.14), até mesmo no Oriente Médio (Isaías 2.4), e também prosperidade (Miquéias 4.4).

Deus traçou o seu plano antes da criação (Efésios 1.9-10). Ele deu início ao mundo com um paraíso no Éden. Nosso pecado estragou esse paraíso, mas Deus não desistiu do seu plano. Ele sabia que iríamos pecar e providenciou uma cura para o pecado antecipadamente – a expiação do Messias. Deus restaurará o paraíso e o aumentará. O paraíso restaurado será melhor que o primeiro. 

Comissão Apostólica 

Toda a história está caminhando em direção ao estabelecimento desse Reino – um mundo perfeito com uma sociedade perfeita. Haverá um governo justo com justiça perfeita: os ímpios serão punidos e os justos recompensados. (É por isso que devemos nos arrepender agora enquanto o perdão ainda está disponível.)

Todo reino tem um rei. O rei do Reino de Deus é Yeshua (João 18.36-37; 19.19). Todo reino possui uma capital. A capital do Reino de Deus é Jerusalém (Isaías 2.3). O rei é a pessoa que carrega a autoridade de Deus; a capital é o lugar da sua autoridade. Jesus é a pessoa; Jerusalém é o lugar (Salmo 2.5).

Toda a história está caminhando em direção a um conflito. O conflito vem da oposição à autoridade de Deus. Antes de o reino de paz ser estabelecido na terra, haverá um tempo de grande tribulação seguido de uma grande guerra (Joel 2.2-3; Jeremias 30.7). Todas as nações e potências que forem contra a autoridade de Deus se unirão para atacar a capital Jerusalém (Zacarias 14.2-3; Apocalipse 19.19). Os ímpios atacarão os santos em todas as nações. 

Tudo isso era central à visão e mensagem dos apóstolos. O movimento deles era para mudar o mundo, restaurar Israel, preparar o povo de Deus para o fim dos tempos e para a volta de Yeshua. O que eles começaram, nós queremos terminar. A visão deles é a nossa. Desejamos renovar, restaurar e completar a comissão apostólica original.

Vamos receber a mesma paixão e o mesmo fogo pelo Reino de Deus e mudar o mundo juntos (Atos 1.8).

Asher Intrater

sexta-feira, 5 de maio de 2017

HERÓIS DA FÉ

William Carey
Pai das missões modernas
(1761-1834)

O menino William Carey, era apaixonado pelo estudo da natureza. Enchia seu quarto de coleções de insetos, flores, pássaros, ovos, ninhos, etc. Certo dia, ao tentar alcançar um ninho de passarinhos, caiu de uma árvore alta. Ao experimentar a segunda vez, caiu novamente. Insistiu a terceira vez: caiu e quebrou uma perna. Algumas semanas depois, antes de a perna sarar, William entrou em casa com o ninho na mão. - "Subiste à árvore novamente?!" -exclamou sua mãe. - "Não pude evitar, tinha de possuir o ninho, mamãe" - respondeu o menino.

Diz-se que William Carey, fundador das missões atuais, não era dotado de inteligência superior e nem de qualquer dom que deslumbrasse os homens. Entretanto, foi essa característica de persistir, com espírito indômito e inconquistável, até completar tudo quanto iniciara, que fez o segredo do maravilhoso êxito da sua vida.

Quando Deus o chamava a iniciar qualquer tarefa, permanecia firme, dia após dia, mês após mês e ano após ano, até acabá-la. Deixou o Senhor utilizar-se de sua vida, não somente para evangelizar durante um período de quarenta e um anos no estrangeiro, mas também para executar a façanha por incrível que pareça, de traduzir as Sagradas Escrituras em mais que trinta línguas.

O avô e o pai do pequeno William eram sucessivamente professor e sacristão (Igreja Anglicana) da Paróquia. Assim o filho aprendeu o pouco que o pai podia ensinar-lhe. Mas não satisfeito com isso, William continuou seus estudos sem mestre.

Aos doze anos adquiriu um exemplar do Vocabulário Latino, por Dyche, o qual decorou. Aos quatorze anos iniciou a carreira como aprendiz de sapateiro. Na loja encontrou alguns livros, dos quais se aproveitou para estudar. Assim iniciou o estudo do grego. Foi nesse tempo que chegou a reconhecer que era um pecador perdido, e começou a examinar cuidadosamente as Escrituras.

Não muito depois da sua conversão, com 18 anos de idade, pregou o seu primeiro sermão. Ao reconhecer que o batismo por imersão é bíblico e apostólico, deixou a denominação a que pertencia. Tomava emprestados livros para estudar e, apesar de viver em pobreza, adquiria alguns livros usados. Um de seus métodos para aumentar o conhecimento de outras línguas, consistia em ler diariamente a Bíblia em latim, em grego e em hebraico.

Com a idade de vinte anos, casou-se. Porém os membros da igreja onde pregava eram pobres e Carey teve de continuar seu ofício de sapateiro para ganhar o pão cotidiano. O fato de o senhor Old, seu patrão, exibir na loja um par de sapatos fabricados por William, como amostra, era prova da habilidade do rapaz.

Foi durante o tempo que ensinava geografia em Moulton, que Carey leu o livro "As Viagens do Capitão Cook" e Deus falou à sua alma acerca do estado abjeto dos pagãos sem o Evangelho. Na sua tenda de sapateiro afixou na parede um grande mapa-múndi, que ele mesmo desenhara cuidadosamente. Incluíra neste mapa todos os dizeres disponíveis: o número exato da população, a flora e a fauna, as características dos indígenas, etc., de todos os países.Enquanto consertava sapatos, levantava os olhos, de vez em quando, para o mapa e meditava sobre as condições dos vários povos e a maneira de os evangelizar. Foi assim que sentiu mais e mais a chamada de Deus para preparar a Bíblia, para os muitos milhões de indus, na própria língua deles.

A denominação a que William pertencia, depois de aceitar o batismo por imersão, achava-se em grande decadência espiritual. Isto foi reconhecido por alguns dos ministros, os quais concordaram em passar "uma hora em oração na primeira segunda-feira de todos os meses" pedindo de Deus um grande avivamento da denominação. De fato esperavam um despertamento, mas, como acontece muitas vezes, não pensaram na maneira em que Deus lhes responderia.

As igrejas de então não aceitavam a ideia, que consideravam absurda, de levar o Evangelho aos pagãos. Certa vez, numa reunião do ministério, Carey levantou-se e sugeriu que ventilassem este assunto: O dever dos crentes em promulgar o Evangelho às nações pagãs. O venerável presidente da reunião, surpreendido, pôs-se em pé e gritou: "Jovem, sente-se! Quando agradar a Deus converter os pagãos, ele o fará sem o seu auxílio, nem o meu."

Porém o fogo continuou a arder na alma de William Carey. Durante os anos que se seguiram esforçou-se ininterruptamente, orando, escrevendo e falando sobre o assunto de levar Cristo a todas as nações. Em maio de 1792, pregou seu memorável sermão sobre Isaías 54.2, 3: "Amplia o lugar da tua tenda, e as cortinas das tuas habitações se estendam; não o impeças; alonga as tuas cordas, e firma bem as tuas estacas. Porque transbordarás à mão direita e à esquerda; e a tua posteridade possuirá as nações e fará que sejam habitadas as cidades assoladas."

Discursou sobre a importância de esperar grandes coisas de Deus e, em seguida, enfatizou a necessidade de tentar grandes coisas para Deus.

O auditório sentiu-se culpado de negar o Evangelho aos países pagãos, a ponto de "levantar as vozes em choro." Foi então organizada a primeira sociedade missionária na história das igrejas de Cristo para a pregação do Evangelho entre os povos nunca evangelizados. Alguns como Brainerd, Eliot e Schwartz já tinham ido pregar em lugares distantes, mas sem que as igrejas se unissem para sustentá-los.

Apesar de a sociedade ser o resultado da persistência e esforços de Carey, ele mesmo não tomou parte na sua formação. O seguinte, porém, foi escrito acerca dele nesse tempo:

"Aí está Carey, de estatura pequena, humilde de espírito, quieto e constante; tem transmitido o espírito missionário aos corações dos irmãos, e agora quer que saibam da sua prontidão em ir onde quer que eles desejem, e está bem contente que formulem todos os planos".

Nem mesmo com esta vitória, foi fácil para William Carey concretizar o sonho de levar Cristo aos países que jaziam nas trevas. Dedicava o seu espírito indômito a alcançar o alvo que Deus lhe marcara.

A igreja onde pregava não consentia que deixasse o pastorado: somente com a visita dos membros da sociedade a ela é que este problema foi resolvido. No relatório da igreja escreveram: "Apesar de concordar com ele, não achamos bom que nos deixe aquele a quem amamos mais que a nossa própria alma."

Entretanto, o que mais sentiu foi quando a sua esposa recusou terminantemente deixar a Inglaterra com os filhos. Carey estava tão certo de que Deus o chamava para trabalhar na Índia que nem por isso vacilou.

Havia outro problema que parecia insolúvel: Era proibida a entrada de qualquer missionário na Índia. Sob tais circunstâncias era inútil pedir licença para entrar. Nestas condições, conseguiram embarcar sem esse documento. Infelizmente o navio demorou algumas semanas e, pouco antes de partir, os missionários receberam ordem de desembarcar.

A sociedade missionária, apesar de tantos contratempos, continuou a confiar em Deus; conseguiram granjear dinheiro e compraram passagem para a Índia em um navio dinamarquês. Uma vez mais Carey rogou à sua querida esposa que o acompanhasse. Ela ainda persistia na recusa e nosso herói, ao despedir-se dela, disse: "Se eu possuísse o mundo inteiro, daria alegremente tudo pelo privilégio de levar-te e os nossos queridos filhos comigo; mas o sentido do meu dever sobrepuja todas as outras considerações. Não posso voltar para trás sem incorrer em culpa a minha alma."

Porém, antes de o navio partir, um dos missionários foi à casa de Carey. Grande foi a surpresa e o regozijo de todos ao saberem que esse missionário conseguiu induzir a esposa de Carey a acompanhar o seu marido. Deus comoveu o coração do comandante do navio a levá-la em companhia dos filhos, sem pagar passagem.

Certamente a viagem a vela não era tão cômoda como nos vapores modernos. Apesar dos temporais, Carey aproveitou-se do ensejo para estudar o bengali e ajudar um dos missionários na obra de verter o livro de Gênesis para a língua bengaleza.

William  Carey aprendeu suficiente o bengali, durante a viagem, para conversar com o povo. Pouco depois de desembarcar, começou a pregar e os ouvintes vinham para ouvir em número sempre crescente.

Carey percebeu a necessidade imperiosa de o povo possuir a Bíblia na própria língua e, sem demora, entregou-se à tarefa de traduzi-la. A rapidez com que aprendeu as línguas da Índia é uma admiração para os maiores linguistas.

Ninguém sabe quantas vezes o nosso herói se mostrou desanimadíssimo na Índia. A esposa não tinha interesse nos esforços de seu marido e enlouqueceu. A maior parte dos ingleses com quem Carey teve contato, o tinham como louco; durante quase dois anos nenhuma carta da Inglaterra lhe chegou às mãos. Muitas vezes faltava aos seus dinheiro e alimento. Para sustentar a família, o missionário tornou-se lavrador da terra e empregou-se em uma fábrica de anil.

Durante mais de trinta anos Carey foi professor de línguas orientais no colégio de Fort Williams. Fundou também, o Serampore College para ensinar os obreiros. Sob a sua direção, o colégio prosperou, preenchendo um grande vácuo na evangelização do país.

Ao chegar à Índia, Carey continuou os estudos que começara quando menino. Não somente fundou a Sociedade de Agricultura e Horticultura, mas criou um dos melhores jardins botânicos, redigiu e publicou o "Hortus Bengalensis". O livro "Flora Índica", outra de suas obras, foi considerada obra-prima por muitos anos.

Não se deve concluir, contudo, que para William Carey a horticultura fosse mais do que um passatempo. Passou, também, muito tempo ensinando nas escolas de crianças pobres. Mas, acima de tudo, sempre lhe ardia no coração o desejo de se esforçar na obra de ganhar almas.

Quando um de seus filhos começou a pregar, Carey escreveu: "Meu filho, Félix, respondeu à chamada para pregar o Evangelho". Anos depois, quando esse filho aceitou o cargo de embaixador da Grã Bretanha no Sião, o pai, desapontado e angustiado, escreveu para um amigo: "Félix encolheu-se até tornar-se um embaixador!"

Durante o período de quarenta e um anos, que passou na Índia, não visitou a Inglaterra. Falava, embora com dificuldade, mais de trinta línguas da Índia, dirigia a tradução das Escrituras em todas elas e foi apontado ao serviço árduo de tradutor oficial do governo. Escreveu várias gramáticas indianas e compilou notáveis dicionários dos idiomas bengali, marati e sânscrito. O dicionário do idioma bengali consta de três volumes e inclui todas as palavras da língua, traçadas até a sua origem e definidas em todos os seus sentidos.

Tudo isto era possível porque sempre economizava o tempo, segundo se deduz do que escreveu seu biógrafo:

"Desempenhava estas tarefas hercúleas sem pôr em risco a sua saúde, aplicando-se metódica e rigorosamente ao seu programa de trabalho, ano após ano. Divertia-se, passando de uma tarefa para outra. Dizia que se perde mais tempo, trabalhando inconstante e indolentemente do que nas interrupções de visitas. Observava, portanto, a norma de entrar, sem vacilar, na obra marcada e de não deixar coisa alguma desviar a sua atenção para qualquer outra coisa durante aquele período." O seguinte escrito pedindo desculpas a um amigo pela demora em responder-lhe a carta, mostra como muitas das suas obras avançavam juntas:

"Levantei-me hoje às seis, li um capítulo da Bíblia hebraica; passei o resto do tempo, até às sete, em oração. Então assisti ao culto doméstico em bangali, com os criados. Enquanto esperava o chá, li um pouco em persa com um munchi que me esperava; li também, antes de comer, uma porção das Escrituras em industani. Logo depois de comer sentei-me, com um pundite que me esperava, para continuar a tradução do sânscrito para o ramayuma. Trabalhamos até as dez horas, quando então fui ao colégio para ensinar até quase as duas horas. Ao voltar para casa, li as provas da tradução de Jeremias em bengali, só findando em tempo para jantar. Depois do jantar, traduzi, ajudado pelo pundite chefe do colégio, a maior parte do capítulo oito de Mateus em sânscrito. Nisto fiquei ocupado até as seis. Depois das seis assentei-me com um pundite de Telinga, para traduzir do sânscrito para a língua dele. Às sete comecei a meditar sobre a mensagem para um sermão e preguei em inglês, às sete e meia. Cerca de quarenta pessoas assistiram ao culto, entre as quais, um juiz do Sudder Dewany'dawlut. Depois do culto, o juiz contribuiu com 500 rupias para a construção de um novo templo. Todos os que assistiram ao culto tinham saído às nove horas; sentei-me para traduzir o capítulo onze de Ezequiel para o bengali. Findei às onze, e agora estou escrevendo esta carta. Depois, encerrei o dia com oração. Não há dia em que disponha de mais tempo do que isto, mas o programa varia."

Com o avançar da idade, seus amigos insistiam em que diminuísse os seus esforços, mas a sua aversão à inatividade era tal, que continuava trabalhando mesmo quando a força física não dava para a necessária energia mental. Por fim, viu-se obrigado a ficar de cama, onde continuava a corrigir as provas das traduções.

Finalmente, em 9 de junho de 1834, com a idade de 73 anos, William Carey dormiu em Cristo.

A humildade era uma das características mais destacadas da sua vida. Conta-se que, no zênite da fama, ouviu certo oficial inglês perguntar cinicamente: - "O grande doutor Carey não era sapateiro?" Carey, ao ouvir casualmente a pergunta, respondeu: "-Não, meu amigo, era apenas um remendão."

Quando William Carey chegou à Índia, os ingleses negaram-lhe permissão para desembarcar. Ao morrer, porém, o governo mandou içar as bandeiras a meia haste em honra de um herói que fizera mais para a Índia do que todos os generais britânicos.

Calcula-se que traduziu a Bíblia para a terça parte dos habitantes do mundo. Assim escreveu um de seus sucessores, o missionário Wenger: "Não sei como Carey conseguiu fazer nem a quarta parte das suas traduções. Faz cerca de vinte anos (em 1855), que alguns missionários, ao apresentarem o Evangelho no Afeganistão (país da Ásia central), acharam que a única versão que esse povo entendia era o Pushtoo, feita em Sarampore por Carey."

O corpo de William Carey descansa, mas a sua obra continua a servir de bênção a uma grande parte do mundo.